K [Música]. Muito boa noite a todos vocês! Sejam muito bem-vindos à nossa conversa semanal. No dia de hoje, falaremos sobre os jubileus: o que são os jubileus, qual é a origem destas celebrações, como começaram, como se desenvolveram e por que o ano de 2025 é o ano jubilar e por que temos esta nomenclatura de "Jubileu da Esperança", especificamente para este ano que está começando. Eu sou o professor Rafael Tonom, professor de História, de Filosofia, e aqui neste canal trato de História, de Filosofia, de Educação, de religião e outros temas que podem nos ajudar a
crescer cada vez mais no nosso conhecimento e na nossa fé. É um prazer tê-los aqui comigo. Aproveito para acolher todos aqueles que estão chegando agora; sejam muito bem-vindos! E também aqueles que depois irão assistir a esse conteúdo. Bom, a respeito deste tema do Jubileu, eu preferi tratá-lo já agora, no comecinho do ano, justamente para que possamos viver bem esse período do ano jubilar, que é o ano todo de 2025, e também para que possamos tirar todos os frutos espirituais deste tempo que a Igreja nos propõe. Então, para começar aqui a nossa conversa, eu acredito que
vocês já devem ter ouvido falar bastante do Jubileu nas redes sociais, nos vídeos por aí, nas dioceses, capelas, paróquias e comunidades que vocês frequentam. Certamente, vocês já devem ter visto aí o logotipo do Jubileu deste ano e devem ter ouvido falar alguma coisa. Mas, afinal de contas, quando, como e por que esta tradição começou? Então, nós vamos voltar aqui o nosso olhar, em primeiro lugar, para a Palavra de Deus. Os jubileus eram um costume do povo judeu e, antes mesmo do povo judeu, nós encontramos algumas celebrações semelhantes, inclusive em culturas e povos que eram pagãos,
que não partiam da fé no Deus único, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Então, até mesmo entre pagãos, encontravam-se celebrações parecidas com Jubileu. Bom, para o povo judeu, o Jubileu era um tempo de graça, era um ano extraordinário, era uma espécie de pausa para a vida corrida, a vida no dia a dia que eles tinham, e esta pausa tinha dois grandes objetivos: o primeiro deles, o descanso; e a ação de graças a Deus por tudo aquilo que Deus havia dado ao povo. Então, os judeus pensavam nisso. Mas, além disso, o Jubileu tinha também um caráter
prático: era um tempo de perdão, de renovação; era um tempo de mudar aquelas situações que, ordinariamente, não encontrariam uma mudança tão fácil, como por exemplo a situação de escravidão. Então, os jubileus entre os judeus eram celebrados em intervalos de 50 anos, de 50 em 50 anos, e nesses anos de Jubileu, entre os judeus, havia o costume de que os escravos fossem libertos. Então, naquela época, se pensarmos ali no ano 3000, 4000 antes de Cristo, ou até antes disso, era muito comum entre os povos a escravidão por guerra e a escravidão por dívida. Então, quando você
guerreava com um povo inimigo, você poderia tomar os sobreviventes como escravos ou, se uma pessoa lhe devesse dinheiro e não tivesse como pagar na data prevista, você podia tomar a pessoa e todos os seus familiares e bens como garantia de pagamento daquela dívida contraída anteriormente. Então, o tempo do Jubileu era um tempo de libertação dos escravos. Quem era escravo no Jubileu era liberto, era mandado de volta para sua cidade, para sua terra; era perdoado de sua dívida. Essa ideia do Jubileu como um tempo de misericórdia para honrar a Deus e mais; era um tempo de
recordar que, se Deus é misericordioso conosco, nós devemos ser misericordiosos com os nossos próximos. Então, essa ideia do perdão das dívidas também estava presente. Então, é tempo de libertar os escravos, de perdoar as dívidas. Alguém me pediu emprestado aqui alguma coisa, mas a pessoa não tem como pagar; eu posso dar o perdão. É ano jubilar, é ano de perdão, e, dando perdão ao meu próximo, eu atraio sobre mim o perdão de Deus. Essa era a lógica, a mentalidade. Tanto que, quando nós olhamos para a oração do Pai Nosso, nós vemos justamente isso: qual é a
expressão que Jesus usa no Pai Nosso? "Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores." Por que Jesus usa essa expressão? Na nossa tradução, que costumeiramente a gente usa aqui no Brasil, a gente até reza o Pai Nosso dizendo "perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos". Mas, no original, está "perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores." Ou seja, nós temos uma dívida com Deus. Deus é bom o tempo todo conosco, enquanto nós não somos bons o tempo todo com os outros. Nós temos uma dívida com Deus; Deus nos
deu tanto, nós retribuímos tão pouco. Temos uma dívida e pedimos a Deus Pai: "Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores." É a lógica do Jubileu: eu estou perdoando aos outros, que o Senhor me perdoe também. Agora, com um detalhe: os judeus celebravam Jubileu a cada 50 anos. As pessoas naquela época não tinham as mesmas condições de vida, de saúde, de tratamento médico que nós temos. Então, 50 anos era muito tempo; nem todo mundo chegava aos 50 anos, nem todos tinham a graça de ver um ano jubilar entre os judeus. Então, era
algo raro. Mas acontece que, quando Jesus vem para inaugurar o seu reino, o seu reinado, através da sua missão, o que Jesus faz? Ele estabelece um tempo que é um tempo de graça, que é o tempo em que nós vivemos. Então, nós temos um privilégio, uma graça única: nós vivemos. Nesse tempo da Graça, então, Jesus não só veio dar um tempinho de graça, como os judeus tinham a cada 50 anos, mas Ele veio para dizer que, depois da vinda d'Ele e da Igreja, que é o Seu Corpo Místico, nós estamos vivendo num tempo constante de
graça. É como se fosse um grande Jubileu. A história da salvação se torna um grande Jubileu. Jesus, quando começa a Sua missão, Ele entra na sinagoga de Nazaré, que é a cidade onde Jesus tinha se criado. Ele não nasceu em Nazaré, nasceu em Belém, mas viveu grande parte da Sua vida ali, em Nazaré, até aos 30 anos de idade. Depois, sai para a Sua missão. Então, Jesus entra na sinagoga da Sua cidade, Nazaré, e Ele toma o livro do profeta Isaías. A gente lê essa história no capítulo 4 do Evangelho de São Lucas e entregam
a Jesus o rolo para que Ele lesse; era o rolo do profeta Isaías, ali, com uma escritura do profeta Isaías. E Jesus começa a ler e acontece que aquela escritura, em específico, dizia o quê? O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu e me enviou para anunciar a boa nova aos pobres, para restituir a vista aos cegos, para devolver aos coxos a possibilidade de andar e para estabelecer o ano da Graça do Senhor, um ano jubilar. Olha que interessante: Jesus leu justamente uma profecia que falava de um tempo de Jubileu. Entre outras
possibilidades de origem da palavra, tem a ver com a palavra júbilo, alegria, mas tem a ver também com chifre, né? O yovel, que é o chifre de carneiro, que se tocava para anunciar o ano jubilar. Daí que vem o Jubileu. Jesus fala justamente isso: que Ele veio para instalar e implantar o ano da Graça do Senhor. É claro que Jesus aqui está falando metaforicamente; Ele não está dizendo que é um ano como é o ano jubilar. Não, é um tempo de graça. Este tempo já tem mais de 2000 anos; é o tempo da Graça, ou
seja, aquilo que os profetas desejaram, aquilo que os justos do Antigo Testamento esperaram e não viram, mas esperavam nessa fé. Aqueles que viveram no tempo de Jesus viram, e nós que viemos depois temos a graça não só de ver, mas de viver na família de Cristo, na família de Deus, que é a Igreja, o Corpo Místico de Cristo. Muito bem. Então, essa referência do Jubileu está muito presente na Escritura. A palavra Jubileu, como eu acabei de dizer, e aqui, aliás, para quem quiser depois se aprofundar, eu cito aqui — eu tô até ousando aqui, né?
— como referência para esta live de hoje, um livro chamado "A Porta Santa da Basílica de São Pedro", no Vaticano. É um livreto que foi escrito pelo Cardeal Virgílio Noé e foi publicado pelas Edições Vaticanas no ano de 1999. Esse livreto que eu tenho foi um PDF que eu achei há muito tempo, foi disponibilizado. Eu nem sei se existe ainda esse PDF disponível na internet, mas pode ser que vocês achem. Eu achei em português e em espanhol, chamado "A Porta Santa da Basílica de São Pedro", no Vaticano, Cardeal Virgílio Noé e a editora vaticana. Então,
o Cardeal faz aqui uma contextualização sobre o ano jubilar. Ele vai dizer o seguinte: a palavra Jubileu vem do hebraico yovel e refere-se ao carneiro cujo chifre era utilizado pelos judeus para anunciar um ano festivo. Porém, diversos estudiosos, historiadores e filólogos acreditam que há também outras possibilidades de explicação para a palavra Jubileu. Supõe-se que a palavra yovel venha do verbo hebraico que, traduzido para a nossa língua, quer dizer "trazer de volta", pois, no ano jubilar, os escravos voltavam ao seu antigo estado de liberdade, fazendo assim uma referência de que os homens, apesar de pecarem, podem
se voltar para o seu Criador. Assim como o escravo volta ao seu estado de liberdade, o homem pecador pode voltar à sua amizade com Deus. Essa é a analogia que faziam. Então, os judeus faziam uma contagem do tempo, e essa contagem do tempo era feita com intervalos de sete em sete. A cada sete anos, eles tinham lá o ano que chamavam de shemitá. Essa contagem era chamada yovel, ou seja, um Jubileu, como se fosse um pequeno Jubileu a cada sete anos. Agora, o grande Jubileu acontecia a cada 50 anos. Então, você conta lá uma sequência
de sete anos sabáticos; ou seja, a cada sete anos, um ano era considerado um ano sabático, um ano para refletir mais, rezar mais, pensar mais. Então havia essa questão de uma certa pausa nas atividades normais que as pessoas faziam, justamente para rezar, para se voltar mais para Deus. Quando eles completavam esse ciclo de 7 vezes 7 anos, 7 x 7 = 49, então você entrava no ano jubilar. Quando completavam esses 49 anos, era proclamado o ano jubilar, que era aberto no fim de um ano, seguindo até o fim de outro ano. Isso é mais ou
menos o que nós vemos hoje na prática da Igreja. Já já eu vou explicar como a Igreja Católica herdou esta herança judaica, a adaptou e ressignificou a partir de Cristo, que é o centro, modelo e o objetivo de tudo, é o centro da história, o começo e o fim de tudo. Ele é o nosso único e necessário Salvador. Então, a Igreja vai dar um outro sentido, mas é interessante ver como os judeus faziam essa celebração na época do templo. Né, o Grande Templo de Jerusalém, construído por Salomão, era exatamente o que os judeus faziam a
cada 50 anos. Eles faziam uma grande cerimônia, uma cerimônia solene no Templo de Jerusalém, e era um tempo de peregrinação. Então, os judeus deveriam sair das suas localidades, das suas cidades, e peregrinar até a cidade santa de Jerusalém para adorar a Deus no Templo de Jerusalém. Os judeus tinham algumas obrigações: a primeira era a abstenção de qualquer trabalho agrícola, exatamente como acontecia nos anos chamados de shemitá. Então, a cada 7 anos, eles suspendiam, deixavam a terra descansar, que é o ano sabático. Nesse ano sabático, não se plantava; eles viviam dos grãos das sementes colhidas no
ano anterior. Portanto, já era uma tradição dos judeus. Quando entravam no ano jubilar, também não se cultivava a terra; os escravos eram libertos, as dívidas eram perdoadas. Era tempo de peregrinação, era tempo de voltar-se para Deus. Então, havia a abstenção de qualquer trabalho agrícola. Esse é o primeiro ponto do ano jubilar para os judeus. O segundo ponto é a liberdade incondicional para todo escravo hebreu. Por exemplo, é aquilo que eu expliquei inicialmente: havia muita escravidão por dívida. O sujeito vem, empresta dinheiro; eu dou a ele o prazo, sei lá, de 1 ano, 2 anos para
que ele me pague. Vencido o período estabelecido e, não tendo eu recebido de volta o que é meu, eu posso tomar esse sujeito como meu escravo. Só que um escravo hebreu é do mesmo povo que eu e é do povo eleito, é do Povo de Deus. Então, nos anos jubilares, deveriam ser libertos os escravos em geral, mas nenhum escravo hebreu poderia ficar prisioneiro. Agora, os outros dependeriam da boa vontade ou não do dono desses escravos; o escravo estrangeiro não havia a obrigação de libertá-lo, isso não existia. Agora, o escravo hebreu, sim, deveria ser liberto. Depois,
o terceiro ponto é a devolução de todos os campos aos seus proprietários originais. Uma pessoa que se endividou comigo perde não só a liberdade, mas também os bens. Então, as terras que são dela passam a ser minhas. No ano jubilar, eu deveria devolver a liberdade à pessoa, mas também as terras e os bens que eram dela. Então, isso também é interessante. Como o Jubileu era anunciado? Ele era anunciado solenemente através do toque do shofar. O shofar é uma espécie de corneta, de pequena trombeta, feita com chifre de carneiro, que tem um som bonito. Depois, vocês
podem procurar aí no YouTube; vão conseguir encontrar o toque do shofar. Inclusive, tem até alguns acampamentos que eu cheguei a ver na Canção Nova, onde o pessoal levou e tocou o shofar, dando todo um sentido naquele momento de oração. Então, era tocado o shofar; depois que era tocado no Templo de Jerusalém e em todo o território de Israel, as pessoas tocavam o shofar e o som era ouvido em todo o território. Quando as pessoas ouviam isso, elas já sabiam que era hora de libertar os escravos. O povo judeu era um povo que tinha sido escravo
no Egito, então havia toda uma simbologia por detrás disso. O povo que foi escravo foi liberto por Deus e agora este mesmo povo liberta os seus escravos para recordar a bondade de Deus para com eles. Assim como Deus os libertou da escravidão, eles libertam seus escravos no ano jubilar. Então, tem essa conotação também. Depois, se o escravo acabava de começar a servir o seu senhor, se entrasse o ano jubilar, ele era liberto. Suponhamos: eu emprestei dinheiro para um sujeito, venceu o prazo para me pagar, só que vai entrar o ano jubilar daqui a um mês.
Esse sujeito vai ser escravo por um mês, entendeu? Porque, entrando no ano jubilar, ele já é perdoado e deve ser liberto de imediato. E também havia uma norma, uma lei entre os judeus, de que uma pessoa deveria servir como escrava pelo menos por 6 anos. Depois de 6 anos, se o dono do escravo, se o credor quisesse, ele poderia, na sua bondade, na sua misericórdia, dar o indulto. O que é o indulto? É a liberdade que você poderia dar ao seu escravo da pena, porque ele deveria, por justiça, servir a você, mas você poderia dar
um indulto. O indulto era chamado de indulgência, você me deve, mas eu te perdoo, entendeu? Daí vem as indulgências da Igreja Católica, que, daqui a pouco, a gente vai falar disso também. Então, quer dizer, nós devemos alguma coisa à justiça de Deus, mas Deus, na sua bondade, na sua liberalidade, nos perdoa. Indulgência! E quem é que administra a indulgência? A Igreja. A Igreja é a fiel depositária das indulgências. Cristo deu à Igreja este poder: “Tudo que ligares na terra será ligado no céu; tudo que desligares na terra será desligado no céu”. Então, o poder de
ligar e desligar, o céu e a terra, está nas mãos de quem? De Pedro e dos seus legítimos sucessores, os Papas. Então, somente o Papa tem esse poder de ligar e desligar. Mas a gente já vai chegar lá. Vamos ainda olhar aqui para os judeus. O toque do shofar era um lembrete para obedecer à lei de Deus e para conceder a indulgência e para participar desse tempo de Jubileu. Muito bem! Depois de possuir um escravo por um tempo muito longo... Às vezes, acabava acontecendo; acontecia muito comumente que, se o dono do escravo às vezes tratava
o escravo bem, eles se acostumavam e seafeiçoavam um ao outro. Então, muitas vezes, chegava o tempo do jubileu. O dono do escravo liberava o escravo e falava: "Não, você está livre, você pode voltar para a sua terra". E, às vezes, acontecia de o escravo não querer; ele dizia: "Não, mas eu estou bem aqui, eu quero ficar aqui". E, às vezes, o próprio amo, o dono do escravo, também não queria; falava: "Puxa vida, né? É ano jubilar, eu tenho que te liberar, mas eu queria tanto que você ficasse aqui". E, às vezes, o escravo queria também.
Aí, a lei judaica previa que ele poderia permanecer, só que tinha um porém: ele não poderia ser tratado como escravo. Então, naquele ano, que era o ano jubilar, o escravo comeria na mesa do seu amo, na mesa do seu dono. Ele teria que ser acolhido dentro da casa do dono, teria que conviver com o dono e não faria trabalhos muito pesados, muito difíceis; tudo seria mais facilitado, um pouco mais aliviado para o escravo. Por quê? Porque é ano jubilar. Então, ele não poderia, né? Isso no caso de o escravo não querer ir e o dono
também desejar a sua presença. Então, ele poderia permanecer, mas ele não seria escravo; não poderia se comportar como escravo. Então, olha que coisa interessante, né? Na tradição judaica, existem alguns textos bíblicos que nos dão essa noção mais exata do jubileu entre os judeus. Eu deixo aqui para vocês, não vai dar tempo de a gente ler cada uma delas e falar de cada uma, mas deixo aqui as citações para que depois vocês leiam, confiram, né? Quem é catequista, pregador, então aproveitem aqui essas citações, esse conteúdo, e depois você pode utilizar isso na sua paróquia, na catequese
que você dá. Enfim, onde nós temos essas referências? Nós temos essas referências no livro do Êxodo, capítulo 23, versículos 10 a 11. Então, Êxodo 23 de 10 a 11 fala do jubileu. Depois, em Levítico, capítulo 25, versículos de 1 a 28, fala-se do jubileu. Essa citação de Levítico é bem completa, envolve todo o sentido do jubileu, o que deveria ser feito, como deveria ser celebrado; vale muito a pena depois dar uma olhada lá neste texto bíblico, Levítico 25, capítulo 25, versículos de 1 a 28. E depois temos o livro do Deuteronômio, capítulo 15, versículos de
1 a 6. Os judeus estabeleceram, então, que o jubileu seria celebrado a cada 50 anos. Em Levítico 25,10, capítulo 25, versículo 10, Deus mesmo vai dizer: "Sanctificareis o quinto ano, proclamando na vossa terra a liberdade de todos os que a habitam. Este ano será para vós jubileu. Cada um de vós voltará à sua propriedade e à sua família". É Deus mesmo falando, né? Então, em resumo, como os judeus entendiam o jubileu? Como a Sagrada Escritura, que é a Palavra de Deus, a revelação divina, entendia o jubileu? Entendia a partir de algumas palavras, algumas ideias-chave. Então,
jubileu é um tempo de paz. No ano jubilar, as guerras eram suspensas. Se houvesse um território em guerra com outro, eles decretavam uma trégua. Olha que interessante, é um tempo de paz! Paz é um tempo de deixar as coisas se acalmarem. Depois, é um tempo de reconciliação. Quem precisa de perdão será perdoado. Então, entre os judeus, havia essa prática: irmãos que não falavam com irmãos é tempo de pedir perdão; pais que não falam com os filhos é tempo de pedir perdão; súditos que não falam, né? Às vezes, com seus superiores ou não prestam aos seus
superiores a devida reverência, é tempo de reconciliar. Então, paz, reconciliação e perdão são as três palavras-chave da ideia de jubileu no Antigo Testamento. Paz porque Deus deseja paz; reconciliação porque Deus está sempre pronto a nos perdoar. Então, nós também devemos estar prontos a perdoar os outros. Lembra lá do que Jesus vai nos ensinar no Pai Nosso: "Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos aos nossos devedores." A gente pede isso para Deus, que o Senhor nos perdoe como nós perdoamos. Então, a paz, a reconciliação e o perdão: dar o perdão a quem pede e oferecer
o perdão até mesmo àquele que não pede – isso é ainda mais heroico. Então, essa é a ideia. Até agora, eu falei do Antigo Testamento. Agora, no Novo Testamento, essa ideia do jubileu aparece lá no capítulo quarto do Evangelho de São Lucas, que eu já citei aqui. Então, Lucas narra que Jesus, num dia de sábado, o dia do Senhor, é um dia santo de guarda, o dia que o próprio Deus havia estabelecido para o descanso; era o dia dele. Depois, com a ressurreição de Jesus, o dia do Senhor se torna o domingo. Mas, até então,
ainda era o sábado. A obra de Jesus estava começando ali. Jesus entra num dia de sábado na sinagoga, toma o livro do profeta Isaías. Em Lucas, capítulo 4, versículos de 18 a 20, nós lemos que Jesus, tomando o rolo, abriu e leu: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu e me mandou anunciar aos pobres uma mensagem, proclamar aos prisioneiros a libertação, aos cegos a recuperação da vista, para colocar em liberdade os oprimidos e proclamar o ano da Graça do Senhor." Jesus lê essa profecia e logo em seguida faz o quê? Ele
vai dizer para aqueles que estavam ali: "Hoje, essa profecia se cumpriu." E o que o pessoal de Nazaré, os conterrâneos de Jesus? Jesus não tinha nascido ali, mas foi... Criado ali, então, o que que os seus compatriotas ali quiseram fazer? Quiseram arrastá-lo para fora da sinagoga e queriam Jesus num despenhadeiro; queriam matá-lo, acreditando que ele estava blasfemando, e ele estava, na verdade, anunciando que a grande obra do seu reino estava começando ali: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu." Ele é o Ungido, ele é o Messias, e a palavra "Messias" significa
"Ungido". Jesus leu uma profecia que fala do que? Do Messias. E ele simplesmente está se revelando, se mostrando ali. Por isso, como os judeus entenderam perfeitamente o que ele queria dizer, mas não quiseram acreditar, não quiseram acolher, então queriam matá-lo. E Jesus vem, então, para instaurar e começar um tempo novo. Este tempo novo, né, que é o tempo da plenitude da revelação, ou seja, tudo que Deus precisava nos dizer, ele nos disse em Cristo, porque Cristo é a palavra de Deus. Cristo é a palavra eterna. Deus Pai pronunciou, na eternidade, de uma vez por todas,
uma única palavra, e esta palavra é Jesus. Por isso que nós dizemos que Jesus é o verbo encarnado. Jesus é uma pessoa, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Jesus é a palavra eterna, é a palavra que não muda. Deus não pronuncia várias palavras; ele pronuncia uma única palavra, e todas as coisas existem, se movem e são nesta única palavra que é Cristo. Por isso que, na liturgia, nós dizemos: "Palavra do Senhor, palavra da salvação." Quem é a palavra do Senhor? É Cristo. Quem é a palavra da salvação? É Cristo. É uma única palavra; não existem
palavras da salvação, existe a única palavra, que é uma palavra feita pessoa e feita pessoa no seio da Trindade. Esta pessoa encarnou-se e entrou no tempo, sendo gerada no seio da Virgem Maria, que é Jesus. Jesus é a palavra definitiva de Deus. Então, tudo que Deus tinha para nos dizer, para dizer à humanidade, para dizer aos homens, ele disse em Jesus. Por isso que toda a revelação da salvação se deu até a morte do último apóstolo de Cristo, que foi São João Evangelista. Então, por isso que as aparições, fenômenos místicos, tudo isso a Igreja pode
até provar, pode estudar, pode nos ajudar muito a melhorar a nossa fé, a crescer na nossa fé, mas a Igreja é muito clara ao dizer que a revelação, com "R" maiúsculo, acabou quando morreu o último apóstolo. O que vem depois são chamados de revelações privadas, porque são revelações menores e que, portanto, não nos obrigam a crer nelas. Uma pessoa pode duvidar ou pode até mesmo não dar assim tanta importância; uma revelação privada não tem problema. Agora, o que uma pessoa não pode fazer é desprezar a tradição da Igreja, a Sagrada Escritura e o magistério da
Igreja. Disso depende a nossa salvação. Das outras coisas podem nos ajudar, como podem também não nos ajudar tanto assim, né? Porque muita gente, às vezes, se apega tanto a revelações privadas que se esquece da revelação de fato, a grande revelação. Então, aqui temos essa questão. Em Cristo, nós temos um tempo novo; é o tempo da Igreja, é o tempo do seu corpo místico. Se queremos encontrar Cristo, nós só encontraremos Cristo onde está ele, que é a Cabeça. Onde está o Cristo todo? Acontece que Cristo é cabeça e corpo; não tem como querer encontrar a Cristo
sem encontrar a Igreja. E, quando eu falo "Igreja", estou falando da Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, sob a rocha de Pedro. A Igreja que é uma, porque Deus é uno; santa, porque Deus é santo; católica, porque ela é universal, a Igreja aberta a todos, é para todos. Ela é apostólica, porque firmou-se na fé dos Apóstolos, e ela é romana porque foi sob o comando da sede romana que os apóstolos, em comunhão com Pedro, o príncipe dos apóstolos, governaram a Igreja e deram testemunho de Cristo. E os seus sucessores mantiveram aquilo que receberam, conservaram
o que receberam e transmitiram o que receberam. Então, não tem como encontrar Cristo sem encontrar-se com a Igreja Católica. Então, a Igreja, no tempo, foi realizando a obra de Cristo, inspirando-se nessa antiga tradição judaica, lá do Antigo Testamento. No ano de 1300, o Papa Bonifácio VIII, e, depois, daqui a pouco, eu vou comentar o porquê ele fez isso, ele convoca o grande Jubileu do ano de 1300. Agora, por que que o Papa instituiu este tempo do Jubileu? Pelas circunstâncias políticas, econômicas, históricas e culturais daquele tempo, o Papa, que tem o poder das chaves na mão,
ele pode ligar e desligar. E a promessa de Cristo, no capítulo 16 do evangelho de Mateus: “Tudo o que ligares na terra será ligado no céu; tudo o que desligares na terra será desligado no céu” é o poder das chaves. Então, o Papa Bonifácio VIII, usando da sua atribuição, do seu poder dado por Cristo, ele então resolve abrir as portas da misericórdia divina para que, dentro das circunstâncias históricas da sua época, ele pudesse pregar, incentivar e abrir caminho para uma prática da paz, da reconciliação e do perdão, como no Antigo Testamento. Então, esse foi o
primeiro Jubileu da história da Igreja Católica. Ele foi instituído por Bonifácio VIII, no dia 22 de fevereiro de 1300, através da bula "Antiquorum Fide". Então, vejam que o ano santo foi aberto no dia 22 de fevereiro, o dia da cátedra de São Pedro, do ano de 1300. E o que que, como que o Papa instituiu este Jubileu, né? Ele instituiu o seguinte: os fiéis católicos que peregrinassem a Roma até os túmulos dos apóstolos São Pedro e São Paulo poderiam receber a indulgência plenária. Além disso, em Roma, guarda-se uma relíquia muito venerada desde o século IV,
que é um lenço que tem gravado nele a face de Cristo. E acredita-se ser o lenço utilizado por Verônica para enxugar o rosto de Cristo. Aliás, Verônica, né? Que nós veneramos esta figura, chamamos até de Santa Verônica, mas, na verdade, nós não sabemos o nome dela, né? E aí muita gente fala assim: "mas não é Santa Verônica?" Não, nós não sabemos o nome desta mulher que enxugou a face de Cristo. A palavra "Verônica" é um termo grego, uma junção de duas palavras: a palavra "vero", que significa verdadeiro, e "icon". O "vero" é do latim e
o "icon" é do grego. Então, juntaram aí duas palavrinhas: uma palavra latina e uma palavra grega: "vero" (verdadeiro) e "icon" (imagem). A verdadeira imagem, o verdadeiro rosto de Cristo, de fato. E neste pequeno Sudário da Verônica trata-se de um pano de linho, tecido de linho, que tem a face de Cristo, muito semelhante à face que nós vemos no Sudário de Turim. Essa relíquia ficava guardada no tesouro da Basílica de São Pedro em Roma e era uma relíquia que atraía também muitos peregrinos. Então, o Papa Bonifácio VI instituiu que os fiéis que visitassem Roma, no ano
de 1300, rezassem nos túmulos dos apóstolos São Pedro e São Paulo e venerassem o lenço de Verônica. Receberiam a indulgência plenária. E aí é interessante que o afluxo de fiéis a Roma, né, que Bonifácio IV imaginava que seria grande, mas certamente o Papa não imaginava que seria tão grande como de fato foi. Então, acabou atraindo tanta gente para a cidade de Roma que o Papa instituiu, né, acabou instituindo que o Jubileu deveria ser celebrado a cada 100 anos e que seria um tempo em que a Igreja concederia a indulgência plenária. Então, como funcionaria? Durante o
período de um ano, os fiéis poderiam ganhar a indulgência plenária uma única vez por dia. Uma única vez por dia a indulgência plenária. A Igreja sempre teve esse entendimento, né, de que não se deveria dar a indulgência plenária mais de uma vez por dia. Neste ano, no Jubileu de 2025, o Papa Francisco fez uma concessão e é uma coisa inédita, é para esse ano, onde nós podemos obter mais de uma indulgência plenária por dia. Ah, mas a Igreja não fazia isso. Como que o Papa fez? O poder das chaves: tudo que ligares será ligado, tudo
que desligares será desligado. O poder das chaves está na mão do Papa. O Papa pode fazer isso. Pode! Só que o Papa Francisco estabeleceu uma norma muito específica: neste ano, todos os fiéis poderão ganhar duas indulgências no mesmo dia, contanto que pelo menos uma dessas indulgências seja aplicada a alguma alma do purgatório. Aí, pode? Entendeu? Porque a indulgência você pode aplicar para você mesmo ou para uma alma do purgatório, né? Essa é a lógica da Igreja. E então, o que acontece? Essa indulgência, desse ano específico de 2025, ela pode ser obtida, então, uma primeira vez
para nós mesmos, para o perdão das nossas penas temporais, e depois a gente pode de novo, no mesmo dia, obter para uma alma do purgatório. Ou nós podemos obter uma única vez e já oferecer pelas almas do purgatório, né? Então, Bonifácio IV estabeleceu um ano onde as pessoas poderiam obter a indulgência plenária uma vez por dia durante o tempo em que permanecessem em Roma. A indulgência poderia ser obtida para você, mas você poderia obter para outros. Então, o que muita gente fazia? Muita gente foi para Roma nesse Jubileu de 1300 e permaneceu vários dias, porque
a cada dia a pessoa fazia ali as orações e visitava os túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, todos os dias, cada dia, na intenção de um falecido diferente da família, para que essa indulgência fosse aplicada a esses falecidos, né? E é exatamente assim que a Igreja pensa até hoje. Nós já falamos aqui em outros momentos, eu vou só refrescar aqui a memória: nós já falamos aqui a respeito da indulgência. O que é indulgência? Indulgência não é perdão de pecado, não é, né? Então, a gente vê aí os jornais, os noticiários falando muita besteira a respeito
das indulgências. Eu vi até uma notícia que dizia: "Papa Francisco abrirá quatro portais." Entenda, né? Meu Deus do céu, é de uma ignorância gigantesca! Sim, e muitos desses artigos que a mídia em geral está produzindo sobre o ano santo é de uma balela assim lamentável, né? Porque são pessoas que não entendem o mínimo básico de doutrina católica e estão escrevendo besteira por aí. Então, o que acontece? A doutrina da Igreja é muito clara. Qual é a maneira ordinária para pagar o pecado original? Batismo. Todos nós temos pecado original e precisamos do batismo para pagar o
pecado original. Apagou o pecado original, nós continuamos com uma tendência para o mal e nós pecamos. Então, o pecado original acabou-se, ele foi apagado. Né? O pecado original foi apagado, mas o pecado atual, habitual, que nós vamos cometendo, ele existe, é uma realidade. E como nós apagamos esses pecados? Pela confissão. Então, eu devo procurar o sacerdote, acusar os meus pecados diante do sacerdote. O sacerdote vai me instruir, vai me dar uma penitência e vai me dar absolvição. Pronto. Feito isso, o pecado já não existe mais, ele foi apagado. Agora, o dano, o mal que este
pecado causou na minha alma, ele permanece. Então, quer dizer, eu ainda devo alguma coisa à justiça divina. A justiça divina. Então, quer dizer, se a gente, se Deus fosse levar a ferro e fogo a sua justiça, Deus estaria, inclusive, no seu direito, nós seríamos condenados ao inferno, todos nós. Mas, no entanto, Deus quer o nosso bem, a nossa salvação. Ele nos ama e mandou o seu filho para morrer no... Nosso lugar, então, é Jesus, que não devia absolutamente nada à justiça de Deus. Ele pagou por nós; ele pagou, e pagou de uma vez por todas.
E acontece que aquilo que Jesus pagou está pago, está feito. Agora, o problema não está em Jesus, não está em Deus; naquilo que depende de Deus, está feito. A minha salvação está feita. O problema está em mim. Deus já alcançou a salvação para mim. Jesus, que é Deus, mereceu para mim aquilo que eu não mereço. Então, no que depende de Cristo, está feita a obra da nossa salvação, mas no que depende de nós, a coisa ainda está incompleta, pois precisamos demonstrar a Deus a nossa adesão, o nosso amor. Precisamos, uma vez que Ele nos ama,
amar de volta. Acontece que nós não amamos de volta a Deus o tempo todo; nós pecamos, nós erramos. Então, a confissão nos dá a chance de recuperar, de restaurar essa amizade com Deus, mas fica um dano, uma pena temporal. A pena temporal tem que ser apagada, porque a justiça divina o exige. Deus já fez tudo, tudo, tudo, tudo; eu preciso fazer alguma coisa. Eu preciso fazer alguma coisa. Por isso, que São Tiago vai dizer que a fé sem obras é morta. E aqui entra o grande questionamento do protestantismo. O protestantismo vai dizer não acreditar nas
indulgências. O católico que diz isso não está acreditando que a salvação de Cristo é suficiente. Não é engano, pois nós acreditamos. Nós, católicos, professamos que a salvação de Cristo é suficiente; ela está feita. Cremos nisso, mas precisamos aderir; precisamos querer. Deus não nos obriga à salvação; não nos obriga. Por isso que, na última ceia, Jesus disse que o seu sangue era derramado por vós e por muitos, mas não por todos. E por que Jesus não diz "por todos"? Ele diz "por muitos", porque Deus não interfere na liberdade que Ele mesmo nos deu. Por isso, Tiago
2:17: a fé sem obras é morta. Eu creio na salvação que Jesus alcançou para mim. Muito bem, ótimo! Então, eu tenho que viver de acordo com aquilo que eu creio. Então, eu vou tentar me corrigir, eu vou tentar me emendar, eu farei penitência, eu vou me confessar, tentarei ser santo, vou empregar todos os meios para responder bem a Deus. É uma questão de justiça. E se acontecer de eu morrer e ainda não ter apagado esses danos que estão em mim? O que acontece? Eu vou me perder? Não! Deus me dará a salvação, mas eu precisarei
me purificar, porque a justiça divina o exige. E aí nós chamamos a isso de purgatório, a purificação necessária. Jesus, no Capítulo 24 de São Mateus, vai dizer, né, quando Ele fala do pecado contra o Espírito Santo, que esse pecado não tem perdão neste mundo e nem no outro. O que Jesus está dizendo? Há certos tipos de pecado que têm perdão no outro mundo, na outra vida. O que é isso? Purgatório! Devo à justiça divina. Meu coração estava unido a Deus, mas ainda faltou alguma coisa, então vou me purificar depois da minha morte. Só que aí
eu já não posso merecer nada por mim; eu vou ter que contar com a ajuda dos meus irmãos que estão no céu e daqueles que estão na terra, vivos, e que vão rezar por mim no purgatório, para que eu seja aliviado, para que eu seja sufragado. Por isso que os vivos podem obter indulgência pelos difuntos. É o ano da misericórdia, é o ano da graça, é o ano da reconciliação e da paz. Então, nós podemos fazer isso por aqueles que já não podem mais, entendeu? Então, aqui entra um ponto. Todo pecado deixa um dano em
nós. Como apagamos esse dano? É o velho exemplo que eu dou do prego na parede. O prego é o pecado. Bati um prego na parede: o prego é o pecado, a parede é a minha alma. Bati um prego, eu quero me desfazer desse pecado. Eu me confesso, eu me arrependo, me coloco diante de Deus e vou até o sacerdote, acuso os meus pecados, recebo a absolvição, arranco o prego, mas o buraco está na parede. O dano continua ali. O pecado já não está mais lá; o prego não está mais lá, mas eu preciso agora tapar
o buraco, emassar, lixar, pintar para ficar zeradinho, bonitinho, tudo certinho. Então, o que eu faço? Tem dois caminhos: o da caridade. A caridade apaga uma multidão de pecados. A caridade apaga esses danos que o pecado causou em nós. É a melhor e a mais agradável das formas de apagar as penas temporais, é fazer a caridade. Sem a caridade, sem o amor ao próximo, sem fazer as coisas pelo outro, nós não conseguiremos. A maioria dos santos são mestres de caridade. Mestres de caridade. Então, nós temos que buscar exatamente isso: a caridade, a prática da caridade. Então,
se eu visito um doente, se eu escuto uma pessoa que está precisando desabafar, se eu ofereço alguma ajuda material ou espiritual a alguém, isso é caridade. Se eu ensino alguém que não sabe, eu instruo alguém que não tem instrução, isso é caridade. A prática da caridade vai apagando essas penas temporais no meu coração, na minha alma. E tem também a indulgência. Nos anos santos, a partir de Bonifácio, a Igreja estabelece o que? Um ano para alcançar indulgência plenária. O que é indulgência plenária? É a indulgência que apaga plenamente todas as penas temporais da sua alma.
E o que a Igreja estabelece? Uma ação para alcançar indulgência. Eu tenho que fazer a ação. Quem estabelece esta ação? O Papa. É aquele que tem o poder de ligar e desligar: "tudo que ligares, eu vou ligar; tudo que desligares, eu vou desligar." Quem estabelece? O Papa. Então, a Igreja sempre vai estabelecer uma prática. Uma ação e algumas orações que devem ser feitas e quais são as condições ordinárias para se obter indulgência sempre foi assim na Igreja, né? Segue sendo assim até hoje. Quais são as condições ordinárias? Primeira coisa: eu tenho que cumprir a ação
prescrita pela autoridade da Igreja. No Jubileu do ano de 1300, que foi o primeiro da história da Igreja, o que o Papa estabeleceu? Estabeleceu que as pessoas deveriam visitar os túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo. Então, é a ação. Quem visitou os túmulos de São Pedro e São Paulo cumpriu a ação. Além disso, era preciso rezar algumas orações, uma certa quantidade de Pais Nossos e Ave Marias. A oração e depois o que era preciso? Estar confessado. Para ganhar indulgência plenária, você precisa estar confessado 8 dias antes ou 8 dias depois de fazer aquela ação que
vai te dar a indulgência. Você tem que estar confessado dentro do prazo desses dias e precisa ter o coração desapegado do pecado. É preciso fazer isso. E aí você vai me dizer assim, né? Ah, mas como que eu faço, né, para desapegar o meu coração do pecado? Primeira coisa: tendo consciência da gravidade do pecado. Puxa vida, eu cometo determinado pecado, muito bem. Você vai pegar o Catecismo da Igreja, um livro de formação, um livro espiritual e vai procurar se formar, entender melhor esse seu pecado. Por quê? Porque você vai aumentar o seu nível de consciência
do seu pecado e você vai começar a ter o quê? A ter horror ao seu pecado. E quando eu digo horror, é horror mesmo. É bom que a gente lide com o pecado assim, olhando para ele e entendendo o que ele é: é algo que me afasta de Deus. Então, eu tenho que entender a gravidade do pecado. Quanto mais eu vou entendendo, mais eu vou me desapegando. Porque alguns pecados viram hábitos, são coisas que são erradas. Nós sabemos que são erradas, e nós repetimos, repetimos uma, duas, três, dez vezes, vamos repetindo sem parar, sem pensar.
Então, devemos confessar, comungar, manter o coração desapegado do pecado e realizar a prática prescrita pela Igreja. Certo? Nesse Jubileu do ano de 1300, tem um cronista que acompanhou as celebrações em Roma. Olha o que esse homem escreveu: “Não houve desde os tempos mais antigos tão grande devoção e manifestação de fé do povo cristão nesta cidade de Roma.” Então, é interessante que o próprio Papa se impressionou com a reação à convocação do Jubileu, e é interessante que na Europa toda, nós estamos falando de uma Europa medieval. No Jubileu do ano de 1300, muitas pessoas, muitos donos
de terras, muitos senhores feudais deram aos seus servos permissão para peregrinar a Roma. Deram uma espécie de ano sabático para que as pessoas não trabalhassem tanto assim, para que pudessem rezar mais, fazer penitência, peregrinar. Muitos perdoaram dívidas. Muitos que tinham servos e até escravos. E é um engano a gente pensar que a escravidão desapareceu totalmente da Europa. A escravidão diminuiu muito do que era no mundo antigo quando veio a Idade Média, sobretudo pelo triunfo do cristianismo. A escravidão diminuiu, mas nunca deixou de existir. Existia escravidão na Europa. Então, nós vemos muita gente libertando seus escravos,
dando permissão aos seus servos para peregrinar, dívidas sendo perdoadas, cessar fogo entre senhores feudais que disputavam poder nas suas regiões. Então, as pessoas abraçaram o ano Santo. Em 1350, 50 anos depois, foi celebrado o próximo Jubileu. Então, eles pegaram essa datação lá do Antigo Testamento, de 50 em 50 anos. Então, 1350 foi um novo Jubileu. Em 1349, uma delegação de cidadãos romanos foi até a cidade de Avignon, na França, onde o Papa Clemente VI se encontrava em exílio desde 1309, a fim de pedir um Jubileu extraordinário em 1350. Então, a ideia era seguir o texto
bíblico. O Papa Fá VIII tinha estabelecido que seria um Jubileu por século, um único a cada 100 anos, mas os romanos solicitaram um Jubileu de 50 anos. No ano de 1350, seria um Jubileu extraordinário, justamente com a intenção de fazer esse paralelo com o livro do Levítico, lá no Antigo Testamento. Os romanos pediram esse Jubileu porque perceberam que a ausência do Papa — o Papa havia sido forçado a sair de Roma na época em que Felipe IV da França, o "Felipe o Belo", que era o Rei da França, começou a querer exercer uma influência muito
grande sobre a Igreja e, de certa forma, instrumentalizar a Igreja Católica para atender os seus interesses. Então, ele levou os Papas, levou o Papa Clemente V para Avignon e estabeleceu a sede da Igreja em Avignon, na França, para ficar sob a influência do governo francês. Isso foi o chamado "cativeiro dos Papas de Avignon", que durou 70 anos, e a ausência do Papa, que era o governante civil e político de Roma, estava causando um caos nos Estados Pontifícios, os territórios que eram do Papa. Então, muitas guerras, disputas e tudo. Mas então, os próprios cidadãos romanos pediram
esse Jubileu na intenção de que houvesse uma anistia para presos, de que houvesse um perdão de dívidas e que fosse possível sossegar um pouco ali a situação. Esse ano jubilar, na cabeça dos romanos, também seria um ano de paz na Igreja toda e seria o momento mais adequado para que o Papa retornasse para Roma. Pelo menos essa era a esperança. O Papa, acontece que não voltou para Roma nesse Jubileu de 1350. Ele voltará um pouco depois. Então, o Papa concedeu indulgência plenária a todos aqueles que fossem aos túmulos dos Apóstolos São Pedro e São Paulo.
A mesma coisa que Bonifácio VI tinha feito, essa foi a recomendação, né, do Papa Clemente VI. A única novidade é que, além da Basílica de São Pedro e da Basílica de São Paulo, que deveriam ser visitadas pelos peregrinos no Ano Santo de 1350, foi incluída também a Basílica de São João do Latrão. Então, os fiéis deveriam visitar as três basílicas patriarcais, as basílicas papais de Roma: São Pedro, São Paulo e o Latrão. Santa Maria Maior ainda não tinha sido inclusa aqui nessa visitação pelas questões políticas da época, pela turbulência política da época. Este Jubileu de
1350 foi celebrado em Roma através de um Vigário do Papa. O Papa nomeou um Vigário, um Cardeal, que em seu nome presidiu a cerimônia de abertura do Jubileu em Roma, mas foi um Jubileu em que o Papa não estava em Roma. Depois, no ano de 1390, foi convocado um Jubileu extraordinário, e o Papa na época estabeleceu uma nova periodicidade, né, para os jubileus. Então, em 1350 foi celebrado um Jubileu, mas em 1378 acontece o chamado Grande Cisma do Ocidente. O que foi o Grande Cisma do Ocidente? Eu teria que fazer uma live só para explicar
o que foi, né, o Cisma do Ocidente, que é bem complexa a coisa. Mas, resumindo aqui a ópera para vocês, esse Cisma do Ocidente foi um período conturbado na história da Igreja Católica, porque os Papas tinham sido raptados pelo Rei da França e estavam lá em Avinhão, e as eleições dos Papas sofriam muita interferência do Rei da França. E aí, para tentar coibir essa influência do Rei da França, em 1378, foram corrigir um problema e criaram vários outros, né, porque a Igreja entrou numa crise tamanha que cardeais franceses elegeram um Papa, e espanhóis napolitanos se
juntaram e elegeram outro. Então, os cardeais foram se dividindo, chegando ao cúmulo de elegerem cardeais de países diferentes, de lugares diferentes. Eles elegeram três Papas, então a Igreja tinha um Papa legítimo e dois Papas ilegítimos, dois antipapas. Só que a confusão na Igreja foi tão grande que santos católicos que viveram nessa época e eram pessoas iluminadíssimas, como Vicente Ferrer, Grande Santo dominicano, era um homem de dons e carismas extraordinários. Ele vivia nessa época, assim como Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja, que falava com Jesus. Mas olha que interessante: Deus permitiu essa confusão na sua
Igreja para mostrar que a Igreja é dele mesmo, porque uma confusão dessas, ao acontecer, se a Igreja Católica não fosse realmente uma instituição divina, ela teria acabado ali. Porque virou uma confusão, eram três Papas governando e até os santos que tinham dons extraordinários. Para eles, Jesus ocultou. Jesus falava com Santa Catarina de Sena; ela via Jesus. Jesus poderia ter facilitado a coisa e ter dito para ela: "Não, olha, o Papa verdadeiro é fulano de tal." Jesus não fez isso. São Vicente Ferrer era um homem que tinha um dom de profecias extraordinário. Ele defendia que um
era o Papa autêntico; Santa Catarina de Sena defendia outro. Os dois são santos, mas cada um estava achando que um cardeal eleito era o Papa verdadeiro. Então, imaginem a confusão que se instalou no seio da Igreja: três Papas ao mesmo tempo, um legítimo e dois ilegítimos. A situação só foi resolvida algum tempo depois, no começo do século XV, com a eleição do Papa Martinho V. Quando o Papa Martinho V foi eleito, foi feito um conclave. Este conclave reuniu a maioria dos cardeais e decidiu o seguinte: seria necessário depor os três Papas, o legítimo e os
dois ilegítimos. O legítimo aceitou renunciar, os ilegítimos foram forçados a renunciar. E aí foi convocado um concílio, e, através desse concílio, veio um conclave e este conclave elegeu Martinho V. E aí o problema acabou. Mas isso aqui eu estou resumindo bem a história só para vocês terem uma ideia. O Jubileu de 1390 aconteceu no meio dessa confusão toda, né, e foi convocado pelo Papa legítimo, claro. Então, o Jubileu foi estabelecido numa data diferente. O Papa Urbano VI, que era o Papa legítimo, promulgou o Jubileu para o ano de 1390. A sua intenção era introduzir uma
nova periodicidade para o Jubileu: nem 50 anos, como era no Antigo Testamento, nem 100 anos, porque seria muito tempo, como o Papa Bonifácio VIII havia estabelecido. No começo, ele pensou em estabelecer um Jubileu a cada 33 anos para lembrar a idade de Cristo, mas vários motivos de ordem política e até de ordem teológica levaram a uma opção diferente. O Jubileu foi feito em 1390, mas essa ideia dos 33 anos não prosperou. O Jubileu foi convocado por Urbano VI, mas só foi celebrado por Bonifácio IX, que foi o seu sucessor. Neste Jubileu do ano de 1390,
que é o terceiro Jubileu da história da Igreja, além da visitação à Basílica de São Pedro, à Basílica de São Paulo e à Basílica do Latrão, o Papa Bonifácio IX incluiu a visitação à Basílica de Santa Maria Maior. Então, quem visitasse as quatro basílicas, se confessasse, comungasse e mantivesse o seu coração desapegado do pecado, alcançaria a indulgência plenária. Muito bem, então isso em 1390. No ano de 1400, foi convocado um novo Jubileu na Igreja, né? Uma grande peregrinação penitencial. O Papa Bonifácio VI, que tinha celebrado o Jubileu de 1390, quis que se celebrasse um Jubileu
também no ano de 1400 para regular as datas dos jubileus na Igreja Católica. A ideia dele era zerar a celebração, ou seja, vamos celebrar em 1400, depois em 1450 um outro, 1500 um outro e assim sucessivamente. Essa era a ideia de Bonifácio IX, né? A Igreja, nessa época, em 1400, ainda estava dividida. Entre Roma e Avignon, em Avignon reinava um antipapa; em Roma, reinava o Papa legítimo. Os cristãos franceses, espanhóis e uma parte dos italianos do Norte, quando Bonifácio VI convocou esse Jubileu do ano de 1400, não tomaram parte nas celebrações do Jubileu, julgando que
o Papa legítimo era ilegítimo. Então a confusão ainda permanecia. Bonifácio IX, neste Jubileu de 1400, estendeu a peregrinação em busca de indulgência a outras basílicas: a Basílica de São Lourenço fora dos muros, a Basílica de Santa Maria em Trastevere e a Basílica de Santa Maria Rotonda. Então, foram algumas basílicas inclusas aqui nesse roteiro penitencial. Nessa época é que surgem as chamadas "sete igrejas", né? Ou as estações. As Sete Estações penitenciais de Roma, então, eram as igrejas por onde os peregrinos iam andando para rezar, fazer penitência e receber a indulgência plenária. Então, essa peregrinação penitencial teve
como lema: "Olha que interessante! Então é um Jubileu que teve um lema." O lema era "paz e misericórdia" no Jubileu de 1400. Então, olha que coisa interessante! Depois, em 1423, veio um Jubileu extraordinário, né? Depois desse cismo, essa divisão toda da Igreja, no ano de 1417 foi eleito Papa Martinho V, que pôs fim ao cisma do Ocidente, que eu acabei de explicar. E esse Papa recuperou a unidade da Igreja; já não tinha mais antipapa, estava tudo unido em torno de um só Papa. Então, o Papa Martinho V retomou a ideia dos 33 anos, e considerando
que tinha tido um Jubileu em 1390, em 1423 ele resolveu fazer um Jubileu pensando nesses 33 anos da vida de Cristo. E foi convocado um Jubileu. Para este Jubileu extraordinário de 1423, o Papa Martinho V nomeou como pregador pontifício um franciscano chamado Frei Bernardino de Siena, que é São Bernardino de Siena, que era inclusive devoto e grande difusor da devoção ao Santíssimo Nome de Jesus, que a gente celebra hoje; hoje é a festa do Santíssimo Nome de Jesus. Então, São Bernardino de Siena foi o grande pregador deste Jubileu. Depois, em 1450, como tinha sido convocado
um Jubileu em 1400, em vista do Jubileu de 1450, o Papa, em 1450, convoca então o Jubileu de 1450. Era o Papa Nicolau V, que ele é considerado como o primeiro Papa do período renascentista na Itália, né? O primeiro Papa do Renascimento, né? O primeiro Papa humanista, né, vamos dizer assim. Então, ele convoca esse Jubileu e abre este Jubileu na Basílica de São João do Latrão, que é a Catedral de Roma. Só que é muito interessante este Jubileu do ano de 1450; ele entrou para a história da Igreja porque foi um Jubileu extraordinário, com a
quantidade de peregrinos que ele atraiu para a cidade de Roma. Então, foi uma peregrinação de proporções gigantescas. Inclusive, havia um grande medo de epidemia de peste na cidade de Roma, tamanha era a quantidade de peregrinos que circulavam nesse Jubileu. Esse Jubileu é considerado, por alguns historiadores, como Agostino Borromeu, que é um historiador italiano que fala muito sobre a história da Igreja; é o professor Agostino Borromeu, inclusive amigo pessoal de João Paulo I e estudou muito sobre Inquisição. Agostino Borromeu e outros historiadores falam que esse Jubileu de 1450 foi a última grande manifestação medieval de fé
na cidade de Roma. Então, foi um Jubileu de proporções gigantescas e causou vários problemas, né? Como falta de alimentos, falta de água. Esse Jubileu recebeu o apelido de "o Jubileu dos Santos", porque nesse Jubileu vários santos canonizados estiveram em Roma no ano jubilar. Nesse Jubileu de 1450, esteve visitando as basílicas romanas nada mais nada menos que Santa Rita de Cássia. Santa Rita esteve em Roma neste Jubileu de 1450. É quando se dá aquele famosíssimo milagre. Santa Rita já havia recebido a sua chaga na testa, era uma chaga purulenta, com um cheiro pestilencial. Santa Rita teve
de viver isolada das outras religiosas por conta do mau cheiro. Nessa ocasião do Jubileu de 1450, as religiosas do mosteiro das Agostinianas de Cássia receberam permissão para peregrinar. Santa Rita não poderia ir, justamente pela sua condição de saúde e sua condição física, e suplicando a Jesus a graça de poder peregrinar e de poder ver o Papa. Santa Rita pediu essa graça, e a sua ferida se fechou, e ela pôde peregrinar. Foi até as basílicas romanas, encontrou-se com o Papa na época, recebeu a bênção papal e, depois, retornando a Cássia, a sua ferida abriu-se novamente. Nesse
mesmo Jubileu esteve em Roma Santo Antonino de Florença, o Santo Bispo de Florença, também um santo bispo, um homem de uma vida penitencial extraordinária, esteve em Roma e vários outros santos também estiveram. Então, por isso que era chamado de "o Jubileu dos Santos". Nesse Jubileu de 1450, passou-se a falar do Jubileu como o "Ano de Ouro". Então, eles passam a se referir, depois, ao Jubileu como "Ano Santo". Em 1475, a periodicidade dos jubileus foi alterada pelo Papa Sisto IV. O Papa Sisto IV, em 1475, convocou um Jubileu extraordinário e alterou a regra; ele passou as
celebrações jubilares para períodos de 25 anos, que é o que nós temos hoje. Então, de 1475 até hoje, nós celebramos os jubileus a cada 25 anos, né? Essa é uma obra do Papa Sisto IV. Nessa época, o Papa Sisto IV estabeleceu o seguinte: para tentar centralizar a concessão de indulgências na cidade de Roma, na sede do governo da Igreja, ele baixou um decreto e emitiu um decreto pontifício que suspendia, durante o ano jubilar, qualquer indulgência plenária fora da cidade de Roma. Poderia obter urgência plenária naquele ano dentro da cidade de Roma, né? Isso foi estabelecido
ali. Nesse Jubileu de 1475, foi utilizada pela primeira vez a nova tecnologia que tinha sido descoberta em 1440 pelo, eh, pelo alemão Johannes Gutenberg. Aliás, em 1444, né? O Gutenberg inventou a imprensa. Então, esse Jubileu de 1475 foi o primeiro Jubileu onde a bula papal convocando o Jubileu foi impressa pelos tipos móveis. Além da bula papal, foram impressas as orações que deveriam ser rezadas nas igrejas pelo ano jubilar. Então, foi uma inovação, eh, né? Foi uma inovação assim muito curiosa, né? Eh, que foi utilizada aqui nesse Jubileu. A partir desse Jubileu, o ano jubilar passou
a ser chamado de maneira mais simples de "ano Santo", né? E o Papa, cisto, neste ano Santo de 1475, para acomodar melhor os peregrinos, ele fez uma porção de obras públicas na cidade de Roma. Então, ele mandou construir fontes, mandou construir ruas, estradas, pontes e tudo para tentar facilitar o acesso às basílicas romanas. Muito bem, depois vem o grande Jubileu do ano de 1500. Então, o Brasil foi descoberto no ano jubilar, né? É o ano do descobrimento do Brasil. Aí, esse foi o grande ano Santo, né? Convocado pelo Papa Alexandre VI. A América tinha sido
descoberta há 8 anos; o Brasil seria descoberto naquele ano de 1500. Então, é interessante que era uma época para a Igreja onde as fronteiras do mundo estavam se alargando e a evangelização de novos povos pagãos estava começando. Então, foi um ano eh jubilar especial. No dia 24 de dezembro, a véspera de Natal do ano de 1499, Alexandre VI inaugurou solenemente o Jubileu e ele instituiu um novo rito: a abertura da porta Santa. Então, a abertura da porta Santa, que nós assistimos o Papa Francisco realizando no último dia de Natal, 25 de dezembro, é uma cerimônia
instituída há 524 anos. Foi instituída pelo Papa, 525, aliás, né? 525 anos instituída pelo Papa Alexandre VI: abertura da porta eh da porta Santa na Basílica de São Pedro, que a partir desta data passou a exercer a função que era desempenhada antigamente pela chamada porta Áurea da Basílica do Latrão, que é a porta principal da Basílica do Latrão. Eh, o Papa quis, além disso, que a abertura das portas santas fosse prevista em cada uma das quatro basílicas maiores fixadas para a visita jubilar. Aqui, o Papa introduz não só a visitação às basílicas, mas a passagem
pela porta Santa; não pelas outras portas, mas pela porta Santa, é a porta principal das basílicas papais: Basílica de São Pedro, do Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo fora dos muros. Então, eh, a partir daí a porta Santa ganha o significado que nós conhecemos hoje. Nesse ano de 1500, foi aberta uma grande rua, que é a chamada Rua Alexandrina, que ligava o castelo de Santo Ângelo em Roma à Basílica de São Pedro. Então, por que que Alexandre VI instituiu essa ideia da porta Santa? Porque Jesus, no Evangelho, usa essa expressão. Jesus diz assim: "Eu
sou a porta das ovelhas; quem for do meu rebanho passará por mim." Jesus se compara a uma porta. No tempo de Jesus, eles faziam ali, né, um cercadinho de pedra e, geralmente, o pastor das ovelhas deitava na porta, porque as ovelhas reconhecem não só a voz, mas até o cheiro, né, do pastor. E o pastor, quando recolhia o rebanho, ele vinha, recolhia o rebanho e o rebanho passava por aquela portinha, e depois ele ficava como porta; ele mesmo, o próprio pastor, deitava ali, e as ovelhas não saíam daquele redil. Então, Jesus usa essa comparação, essa
imagem: "Eu sou a porta das ovelhas." Então, o Papa Alexandre VI falou que a porta da Basílica, a porta principal, seja tomada agora como um símbolo de Cristo. Cristo é a porta pela qual nós entramos na salvação, na vida divina. Cristo é a porta. Então, o Papa revestiu de toda uma solenidade o ano de 1500, onde a porta principal da Basílica de São Pedro seria aberta, né, com o toque ali da férula. A férula é o bastão, a cruz que o Papa traz nas mãos. O Bispo traz um báculo que é encurvado, significando o quê?
O cajado do pastor. Mas significando também que a autoridade do bispo é limitada àquela diocese. Por isso que o Bispo, quando ele celebra na diocese dele, ele carrega o báculo, cajado, com a ponta para fora. Quando um bispo celebra em um território que não é o dele, ele vira o báculo para o lado dele, para dentro, porque ele não está celebrando em um local onde ele tem autoridade de pastor. Entendeu? Então, tudo na Igreja, eh, os símbolos, os objetos litúrgicos, tudo é carregado de um simbolismo. Agora, o Papa não carrega um báculo que é curvado;
tem a ponta curvada. Por quê? Esta curva representa o quê? Um território limitado sobre o qual o bispo tem autoridade. Agora, o Papa é sucessor do Príncipe dos Apóstolos, a jurisdição do Papa é universal. Por isso que o Papa carrega um bastão; antigamente geralmente era um bastão comprido ou uma cruz de braços abertos, significando que a jurisdição do Papa é universal. Por isso que um bispo não pode carregar uma férula. O que é a férula? É a cruz como báculo. Isso compete a quem? Ao Papa, porque a jurisdição do Papa é universal; a do bispo
é local. O bispo responde pela diocese dele. Então, o Papa Alexandre VI instituiu o rito em que o Papa batia com a férula na porta da Basílica de São Pedro. Então, as portas se abriam, significando o quê? Que é Cristo quem passa por esta porta, que dá acesso à Igreja onde está sepultado o primeiro chefe da Igreja. que é Pedro? Isso é um símbolo fortíssimo da comunhão com Pedro, debaixo da autoridade de Pedro. Então, por isso que os peregrinos, quando entravam, beijavam os batentes ou até mesmo as folhas da porta e ingressavam na Basílica para
visitar o túmulo de São Pedro. E recebiam urgência, entendeu? Então, isso foi instituído em 1500. Em 1525, vem o Jubileu da crise religiosa na Europa. Em 1517, Martinho Lutero tinha começado a revolução protestante, né? E, além da revolução protestante, era uma época em que muitas crises políticas estavam acontecendo na Europa. De um lado, o imperador Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico; do outro, o rei Francisco I da França, que estavam disputando território, disputando poder. No meio dessa briga, a Igreja perdeu muito, porque eram dois monarcas católicos se degladiando no momento em que o protestantismo começava
a ganhar muitos adeptos, a seduzir muita gente. Depois, a cidade de Roma acabou sendo saqueada no ano de 1527, e em 1525, ainda se recuperando desta invasão, Roma abriu ano Santo. E foi um Jubileu que não foi pacífico, mas que aconteceu. Houve a abertura da porta santa, tudo normal. Em 1550, aí nós temos um Jubileu já numa situação um pouco melhor; é um Jubileu que veio cinco anos depois do término do Concílio de Trento. O Concílio de Trento, aliás, perdão, não foi do término do Concílio de Trento, estava ainda em curso, né? O Concílio de
Trento, né? Dois Papas presidiram esse Jubileu: Paulo III, que abriu a convocatória do Jubileu, e Júlio III, que fechou até o ano de 1549. Paulo III preparou o Jubileu. Roma foi invadida em 1527, e foi saqueada várias vezes. Depois, Paulo III foi o Papa que tentou colocar as coisas em ordem. Ele é o Papa do Concílio de Trento. Paulo III convocou o Concílio de Trento, que foi convocado em 1545; ele morreu em 1549. E aí então veio o Papa Júlio III, e aí veio o ano Santo de 1550, no meio de diversas disputas políticas e
vários problemas, mas o ano Santo aconteceu. Depois, em 1575, vem o Jubileu, celebrado já depois do Concílio de Trento, né? Depois que o Concílio já tinha acabado. Roma preparou-se com muito cuidado para esse Jubileu. Em 1573, dois anos antes do Jubileu, o próprio Papa emitiu algumas normas. O Papa era o governante político de Roma, então ele emitiu algumas normas, como, por exemplo, a proibição de que os donos de albergues aumentassem demais os preços. Para quê? Para poder acolher os peregrinos que viriam, né, para esse grande Jubileu. Também nesse Jubileu de 1575, a Igreja mandou abrir
a Via Merulana. Foi um melhoramento público, né, que foi feito; a Via Merulana é a rua que sai da lateral da Basílica do Latrão. Quem já foi a Roma ou quem for um dia à Basílica do Latrão, né, está aqui do lado direito da Basílica do Latrão. Sai uma grande avenida que, se você pegar essa avenida em linha reta, ela sai lá na Basílica de Santa Maria Maior. A obra de construção dessa via foi exatamente no Jubileu de 1575, para ligar uma Basílica à outra. O Papa nessa época era Gregório XIII, e na vigília do
ano Santo ele pediu aos cardeais um novo estilo de vida. Pediu aos cardeais que evitassem uma vida muito luxuosa, festas, jantares, mas que tivessem um estilo de vida que edificasse os fiéis. Quando o Papa fez essa convocatória aos cardeais e esse pedido aos cardeais, estava presente no colégio cardinalício nada mais, nada menos que o Cardeal Carlo Borromeu, São Carlos Borromeu, que era o Cardeal Arcebispo de Milão. Ele estava presente neste Jubileu. Quem trabalhou muito para que esse Jubileu transcorresse bem, inclusive ajudou muito a hospedar os peregrinos que chegavam à cidade de Roma, foi São Felipe
Neri. São Felipe Neri encarregou-se, assim, né, de um modo muito especial da hospedagem de muitos e muitos peregrinos que acorreram a cidade de Roma. Em 1600, vem o novo Jubileu. Esse talvez tenha sido um dos mais bem-sucedidos da história da Igreja. Teve o Jubileu do ano de 1450, que foi o Jubileu dos Santos; depois de 1450, o Jubileu que mais brilhou foi o de 1600, porque era um Jubileu que já estava colhendo os frutos da contrarreforma católica no Concílio de Trento. Então, é um Jubileu onde muitas irmandades católicas, muitas instituições leigas, peregrinaram a Roma. Muitas
congregações religiosas chegaram a Roma, e em Roma muitas instituições de hospedagem foram fundadas pelas confrarias e desempenharam um papel determinante para alojar todo mundo, oferecer sustento, higiene e boas condições para que permanecessem na cidade eterna durante o período do Jubileu. Então, foi algo de fato admirável. Em 1625, nós temos o Jubileu que inovou, né, ainda um pouco mais. A Igreja, usando do poder das chaves, procurou estender as graças jubilares para mais gente ainda. Esse Jubileu de 1625 veio, né, depois da Guerra dos Trinta Anos. Ele começou num ambiente de algumas guerras religiosas e já havia
um certo rumor na época desse Jubileu a respeito da Guerra dos Trinta Anos. É uma guerra que tinha começado em 1618. Só que essa guerra, que parecia que ia acabar logo, ela foi se arrastando e, de fato, os danos da Guerra dos Trinta Anos foram assim imensos, né? Mas o Jubileu começou. Quem convocou foi o Papa Urbano VIII e ele proibiu neste Jubileu que as pessoas entrassem na cidade de Roma com armas. Quem quisesse entrar para celebrações jubilares deveria depor as suas armas, e ele foi veemente na pregação contra todo tipo de violência. Papa foi
obedecido. Porém, na época do jubileu, começou uma peste no sul da Itália. O Papa ficou com medo de que a peste chegasse até a cidade de Roma, com a grande afluência dos peregrinos. Então, o Papa substituiu a visita à Basílica de São Paulo fora dos muros pela Basílica de Santa Maria em Trastevere, em Roma. Pela primeira vez na história da Igreja, os efeitos espirituais do jubileu foram estendidos às pessoas que, por motivo de saúde ou de prisão, não pudessem vir a Roma. Isso foi uma inovação espiritual. Inclusive, o Papa Urbano VIII disse: “Todas aquelas pessoas,
todos os doentes que estiverem nos seus leitos e unirem os seus sofrimentos aos de Cristo, conservando o desejo de visitar as basílicas, mesmo sem poder fazê-lo, se essa pessoa se confessar com amor e mantiver o coração desapegado do pecado, a indulgência plenária chega até ela. E aquele que estiver numa prisão e não puder peregrinar também pode ser alcançado pela indulgência”. Então, pela primeira vez, as indulgências foram estendidas para fora de Roma no ano jubilar. Em 1650, foi um jubileu aberto pelo Papa Clemente X, que abriu o jubileu abrindo a porta Santa da Basílica de São
Pedro. Ele, nessa ocasião, mandou restaurar a Basílica de São João do Latrão para este jubileu especial. E o Papa também, nessa época, no jubileu de 1650, conclamou os católicos para que rezassem pela paz e pelo fim das guerras religiosas. No ano de 1675, veio um novo jubileu. O Papa Clemente X convocou esse jubileu. Nesse jubileu, foi inaugurada a colunata de Bernini, aquelas colunas que o grande artista, arquiteto e escultor Gian Lorenzo Bernini projetou. Então existia lá a Basílica de São Pedro, projetada por Michelângelo, e Bernini projetou uma colunata que parece dois braços, justamente com essa
intenção de demonstrar que a Igreja, onde está sepultado o príncipe dos Apóstolos, o primeiro Papa, abraça e acolhe a todos quantos chegam até ali. Então, foi a inauguração da colunata de Bernini nesse jubileu de 1675. Neste jubileu, na véspera da abertura do jubileu, o Papa Clemente X canonizou a primeira santa da América Latina, a primeira santa das Américas, Santa Rosa de Lima. No dia seguinte, na abertura do jubileu, ele também criou a primeira diocese da América do Norte, que foi a diocese de Quebec, no Canadá. Então, é interessante: foi um jubileu em que o continente
americano ganhou esses dois presentes. No ano de 1700, foi celebrado o jubileu pelo Papa Inocêncio XII, que morreu antes do fim do ano santo, e o ano santo acabou sendo perturbado pela morte do Papa. Mas veio em seguida o Papa Clemente XI, que deu sequência às celebrações do jubileu. Muitos peregrinos chegaram a Roma para o jubileu, entre eles a Rainha da Polônia, Maria Cristina, viúva do Rei João Sobieski, que entrou na Basílica de São Pedro descalça e com traje de penitente. Um viajante da Inglaterra, um protestante que estava em Roma no jubileu de 1700, escreveu:
“A multidão a passar de joelhos pela porta Santa de São Pedro, com tal afluência que eu ainda não consegui chegar perto para entrar”. Olha que fantástico isso! Em 1725, vem um novo jubileu, que foi aberto pelo Papa Bento XI. O Papa Bento XI participou ativamente do jubileu; o Papa tomou uma charrete e visitou várias igrejas de Roma, dos arredores e das periferias, rezando nessas igrejas, cantando Salmos, rezando o Rosário, andando descalço, fazendo procissões penitenciais e pregando nas igrejas. O próprio Papa, volta e meia, pregava nas igrejas. Neste ano santo de 1725, o Papa Bento XII,
com o dinheiro do óbulo de São Pedro, comprou a liberdade de 370 escravos, como a libertação do ano santo. Dentro dos territórios papais, existiam pessoas que viviam nos territórios do Papa, e algumas dessas pessoas tinham escravos. O Papa comprou a liberdade desses escravos para celebrar o ano santo de 1725. Nesse jubileu de 1725, foi inaugurada aquela escadaria da Igreja da Santíssima Trindade na Praça de Espanha, em Roma. Então, foi o grande marco dessa época. No jubileu de 1750, o Papa Bento XIV emitiu a bula “Peregrinantes à Domino” e ele falava da necessidade de fazer penitência.
O ano santo deveria ser um ano de edificação e não um ano de escândalo. O Papa falou do valor da peregrinação para superar os egoísmos do dia a dia. Por isso ele incentivou que as pessoas deixassem um pouco seus afazeres e peregrinassem. Esse jubileu contou com a presença de vários pregadores, entre os mais escutados estava o Frei Leonardo de Porto Maurício, franciscano, que pregava na Piazza Navona. E durante suas pregações, não raras vezes, o próprio Papa compareceu pessoalmente para ouvir o Frei franciscano. O próprio Papa São Leonardo de Porto Maurício ergueu na cidade de Roma
572 cruzes espalhadas por toda a cidade, e a mais célebre dessas cruzes é a cruz que foi erguida dentro do Coliseu e que é venerada até os dias de hoje. Quem vai a Roma vê lá uma grande cruz dentro do Coliseu. Em 1775, vem o jubileu mais curto da história da Igreja, convocado pelo Papa Pio VI, que foi eleito e logo em seguida abriu a porta Santa em São Pedro. A preparação desse jubileu tinha sido feita pelo Papa Clemente XI, com um ciclo de pregações, procissões e missões. As missões respondiam a uma exigência: preparar a
cidade para o ano santo. Realizaram-se também obras públicas e foram restaurados dois hospitais. Roma, para o Ano Santo, o Jubileu de 1775, contou com a presença de um grande grupo de patriarcas e bispos católicos de rito oriental, mas foi um Jubileu mais curto; ele durou menos de um ano. A porta Santa fechou antes. Em 1825, vem o único Jubileu, que foi celebrado com muita dificuldade. É o único Jubileu que houve desde o começo do século, porque, ah, na primeira metade do século, deveriam ter celebrado dois jubileus: o Jubileu de 1800 e o Jubileu de 1825,
e depois o de 1850. Então, na verdade, ao invés de três jubileus, houve apenas um: o de 1825. O de 1800 não aconteceu pela crise política em que a Europa estava. O Jubileu de 1800 e 25 foi celebrado; o de 1850 já não foi. Então, o Jubileu de 1800 não foi celebrado por conta das perturbações causadas pela Revolução Francesa, pela subida de Napoleão ao poder e pela morte dos Papas. Assim, não foi possível. Mas, em 1825, veio o Jubileu; ele foi convocado pelo Papa Leão XI e o Papa estabeleceu um Jubileu como os outros, sem
muita novidade. A única novidade, né, deste Jubileu de 1825 é que, durante ele, foi exposto um ícone do século VI, guardado na Basílica de Santa Maria em Trastevere, que é o ícone de Nossa Senhora da Clemência. Quem visitasse a Basílica de Santa Maria em Trastevere e venerasse este ícone receberia também a indulgência plenária. Depois, em 1850, não houve novamente o Jubileu por conta das agitações políticas pelas quais a Itália passava, especialmente os territórios do Papa e tudo mais. Agora, em 1875, vem um Jubileu. Em 1850, Pio IX deveria convocar o Jubileu, mas não convocou porque
estava exilado. Ele acabou fugindo de Roma e foi para Gaeta, no sul da Itália. Então, só em 1875, né. Em 1875, também, no meio de muitas dificuldades, foi celebrado este Jubileu. Em 1900, o Papa Leão XIII, no dia 24 de dezembro de 1899, proclama a abertura do ano e do Ano Santo, né, e vai fechar a porta em 1900. Leão XIII já vai abrir um Ano Santo num clima mais de conciliação. Depois, nós tivemos o Ano Santo de 1925, convocado por Pio XI, depois da Primeira Guerra Mundial. O grande enfoque desse Jubileu foi a questão
da paz, né. Pio XI, em 1925, durante as celebrações do Jubileu, falou muito da tentativa e da necessidade de tentar uma conciliação com o governo italiano. Depois, em 1929, foi assinado o Tratado do Latrão, né, e realmente houve essa conciliação. Depois, veio o Jubileu de 1950, convocado por Pio XII. Durante este Ano Santo de 1950, no dia 1º de novembro de 1950, Pio XII proclamou o Dogma da Assunção de Nossa Senhora. Em 1975, foi convocado pelo Papa Paulo VI o Jubileu da Reconciliação e da Alegria. Paulo VI falou muito disso, da Reconciliação e da Alegria,
né. E então, nós tivemos depois o grande Jubileu do Ano 2000, o Jubileu dos 2000 anos do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esse foi convocado pelo Papa João Paulo II através da Carta Apostólica Tércio Milênio Adveniente, que foi publicada em 1994. O Papa convocava os bispos do mundo inteiro a uma preparação, né, que seria nos anos de 97, 98, 99 para o grande Jubileu dos 2000 anos do nascimento de Jesus. A proclamação do grande Jubileu foi feita por João Paulo II através da bula Incarnationis Mysterium, em 29 de novembro de 1998, e o Jubileu
começou no dia 24 de dezembro de 1999 e deveria encerrar, e encerrou-se, no mesmo dia, 6 de janeiro de 2001. Para o Jubileu do Ano 2000, João Paulo II mandou fazer um sino comemorativo para o Jubileu dos 2000 anos, para instalá-lo nos Jardins do Vaticano. As réplicas desse sino foram espalhadas pelo mundo todo, né. E então fez-se esta celebração. Depois, em 2015, o Papa Francisco convocou um Jubileu extraordinário, o Jubileu da Misericórdia. E agora, neste ano de 2024, que acabou, né, faz pouco tempo, o Papa Francisco anunciou o Jubileu da Esperança. Esse é o nome
que ele deu, né, e esse Jubileu da Esperança, que agora é comemorado durante esse ano de 2025, tem a mesma característica: as pessoas que puderem devem peregrinar até Roma, visitar as Basílicas Papais. Mas com uma concessão que a Igreja já vem fazendo do século XIX para cá, a Igreja foi estendendo essa possibilidade da indulgência para aqueles que não podem peregrinar a Roma. Então, nesta bula de convocação do Jubileu feita pelo Papa Francisco, o que o Papa Francisco fez? Ele autorizou os bispos a abrirem portas santas nas suas catedrais. Então, todas as catedrais de todas as
dioceses do mundo tiveram suas portas abertas após a abertura da porta Santa no Vaticano. Todas as portas santas de todas as catedrais têm a mesma eficácia, né, em termos de concessão de indulgência do que a porta Santa da Basílica de São Pedro, Santa Maria Maior, São Paulo e São João do Latrão. Então, em todas as catedrais, no Brasil mesmo, todos os bispos diocesanos abriram as portas das suas catedrais, e isso foi feito não pela autoridade dos bispos, mas por uma delegação do Papa. O Papa, como ele tem o poder das chaves – tudo que ligares
na terra será ligado no céu – ele pode conceder isso. Então, o Papa concedeu para que todos os católicos do mundo não fiquem privados dos benefícios da indulgência plenária neste Ano Santo. Assim, todas as igrejas catedrais de todas as dioceses, e no Brasil, Portugal, enfim, em qualquer lugar do mundo, têm a sua porta. Santa e cada diocese, a critério do bispo, além da porta Santa da catedral, pode também abrir a porta Santa de outras igrejas da diocese. Por exemplo, as dioceses que possuem basílicas, toda a diocese que tem basílica, automaticamente a porta da basílica também
será aberta como porta Santa. Vou dar aqui o meu exemplo de Campinas, eu falai de Campinas, interior de São Paulo. Em Campinas, nós temos a capela de Nossa Senhora da Conceição, onde o arcebispo abriu a porta Santa. Muito bem, é uma igreja jubilar, mas a alguns metros da catedral nós temos a Basílica de Nossa Senhora do Carmo, que é uma igreja vinculada à Basílica de Santa Maria Maior em Roma. Automaticamente, se o bispo abriu a porta da catedral, ele tende a abrir também a porta Santa da basílica. Então, o nosso arcebispo abriu a porta Santa
da catedral aqui no Natal e abriu a porta Santa da Basílica do Carmo na solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. Entendeu? Então, são as igrejas jubilares. Vou dar outros exemplos aqui de algumas dioceses que eu conheço. Em Recife, por exemplo, em Pernambuco, Recife tem a catedral... aliás, a catedral fica em Olinda, né? Mas você tem lá a igreja antiga, a Sé, e tem a Basílica do Carmo em Recife. A Basílica do Carmo é uma igreja basilical vinculada às basílicas romanas, automaticamente ela também terá a abertura da porta Santa. A diocese de Lorena, interior de
São Paulo, tem a Basílica de São Benedito. Então, tem lá a catedral de Nossa Senhora da Piedade, mas tem também a Basílica de São Benedito. Entendeu? Então, é a mesma coisa em Aparecida. Em Aparecida, nós temos a Basílica nova, mas existe a Basílica velha. São duas basílicas, as duas igrejas têm o título de Basílica: uma é a catedral da diocese e é basílica, e a outra é uma basílica. Salvador, a catedral de Salvador é a catedral basílica de São Salvador. Também a mesma coisa. Vamos pensar lá em Portugal: Leiria é a sede de uma diocese,
a catedral de Leiria é igreja jubilar, mas o Santuário de Fátima, a Basílica de Fátima, por ser basílica, naturalmente tem a porta Santa também. Entendeu? Mesma coisa na França, a cidade de Lourdes pertence à diocese de Tarbes. Então, a catedral de Tarbes terá a sua porta Santa, mas a Basílica de Lourdes também é da mesma diocese. Então, foi uma concessão feita pelo Papa Francisco com a intenção de que todos os fiéis possam lucrar a indulgência plenária durante todo o ano. Tá bom, meus caros? A hora vai avançadíssima aqui, né? Nem pensei que eu fosse avançar
tanto, mas eu fiz aqui um apanhado, uma história de todos os jubileus. Então, vocês aqui nesta live estão recebendo ouro, isso aqui é coisa que geralmente eu dou nos meus cursos fechados. Estou falando aqui abertamente, né? E claro, eu sempre falo isso: isso aqui é fruto de estudo, é fruto de pesquisa, então por isso eu peço a vocês que apoiem o trabalho do canal. Você pode apoiar o trabalho do canal deixando aqui o seu joinha. Se você não é inscrito, inscreva-se aqui no canal. E também você pode apoiar, olhando a descrição deste vídeo, através de
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Aparecida: Sua História, Sua Devoção e Seu Santuário". Adquirindo esse minicurso, você contribui, recebe o minicurso, que é um conteúdo exclusivo, e ao mesmo tempo apoia o trabalho do canal. Então, se você já ajuda o canal periodicamente ou já ajudou o canal periodicamente, fica aqui o meu agradecimento. Mas se você ainda não ajudou, considere fazer isso, tá bom? Deus abençoe cada um de vocês. Espero que esse conteúdo tenha ajudado, tenha esclarecido para que a gente possa viver bem esse Ano Santo. Se você mora em uma cidade que é sede de diocese, você pode ganhar indulgência plenária
todo dia. Faça uma lista dos falecidos da sua família; vai ser o ano para tirar todo mundo do purgatório, né? E é muito simples, basta que você esteja confessado, comungue, que você reze pelo menos um Pai Nosso e uma Ave Maria nas intenções do Papa e mantenha o seu coração desapegado do pecado. Então, se você estiver na sede de uma diocese, você pode visitar a catedral várias vezes. Se você não morar na sede da diocese, mas morar perto, dá para ir várias vezes. Se na sua cidade tiver uma igreja jubilar, você pode ir a essa
igreja várias vezes, e se você visitar santuários aqui no Brasil, os santuários geralmente são igrejas jubilares. É o caso de Aparecida, é o caso do Santuário do Senhor Bom Jesus de Guap, o Santuário de Santa Paulina em Nova Trento. Enfim, né? Santuários pelo Brasil todo, o santuário de Cimbres, em Pernambuco. Então, nós temos muitos santuários, várias dioceses têm santuários diocesanos. Em muitos lugares, nós teremos essa grande oportunidade neste ano. Então, é o ano para alcançarmos a indulgência para nós e, sobretudo, para os falecidos da nossa família. Não se esqueçam, tenham esta misericórdia: fazer isso é
obra de caridade, lembrar-se dos falecidos da sua... Família, obter a indulgência por eles, oferecer por eles essa indulgência que você vai lucrar é uma obra de caridade. E aí você ganha duas vezes, porque você ganha indulgência e oferece para o seu parente falecido, e você ainda ganha para você, porque, como diz São Paulo, a caridade apaga uma multidão de pecados. Enquanto você apaga os pecados dos outros, os seus também são apagados. Certo, meus caros? Deus abençoe vocês. Conto com a ajuda e com o apoio de vocês. Todos os dias eu estou fazendo as meditações a
partir dos textos de Santa Teresa de Jesus. Esse ano a gente mudou; ano passado, Santo Afonso de Ligório nos orientou. Esse ano é Santa Teresa. Tem aqui um livrão de Santa Teresa, né? O livro de Santo Afonso está aqui, ó. Opa, está aqui, ó, já voltou para a prateleira. Agora, o que saiu da prateleira é esse aqui de Santa Teresa de Jesus. Nós faremos estas meditações. Já começamos. Se você perdeu, estamos na meditação de número três. Dá para voltar a assistir todas elas para não perder. Fazemos esse propósito de crescer neste ano de 2025 sob
a orientação desta doutora da Igreja, Santa Teresa de Jesus. Deus abençoe cada um de vocês, meus caros. Até semana que vem, se Deus quiser. Deus nos abençoe em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Tchau tchau, até a semana que vem, se Deus quiser.