[Música] k [Música] [Risadas] [Música] melancolia é uma forma de Sofrimento conhecida desde a antiguidade pela teoria dos humores como doença da billes [Música] negra é um estado físico e psíquico que torna a pessoa Abatida apática sem vontade de nada mergulhada numa grande tristeza um desequilíbrio mais preocupante ainda quando extrapola os limites do individual e se torna coletivo ampliar o olhar sobre a melancolia e refletir sobre como ela vem ocorrendo em grande medida também na infância nas grandes cidades e na nossa relação com o poder é a proposta desta série do Café Filosófico que teve a
curadoria da analista Maria Rita k Qual o sabor da infância o poeta Guilherme de Almeida escreveu que a infância tem um gosto de amora comida com sol é o sabor das brincadeiras da fantasia mas a melancolia que parecia restrita ao mundo adulto tornou-se realidade nesse tempo do faz de conta era uma vez uma criança triste eu só queria começar Julieta dizendo que toda vez que eu penso em infância eu me lembro de uma frase de uma escritora é uma Pernambucana que mora em São Paulo Marilene Filinto não sei se você a conhece o primeiro livro
dela que é um livro em que ela conta da sua infância começa a começa tem uma frase que diz uma infância são ânsias que além da da Bela Forma sonora infância e ânsias né Eh falando de uma cidade do interior o livro se chama as mulheres de Tijuco Paco papo mas papo é uma cidade inventada mas a ideia de Infância cheia de ânsias deve ser muito familiar a todos aqui pelo menos que tem mais de50 anos ou mais de 40 porque a infância já foi um período de desejar muita coisa que não se podia ainda
né muita coisa que estava fora do nosso alcance e isso já era antes das Crianças terem televisão porque esse essa frase vem de uma infância de uma mulher que hoje é um pouquinho mais jovem que eu mas numa região que não tinha nada então as ânsias da infância não tem não tem necessariamente a ver com a estimulação que hoje nós estamos muito acostumados cinema TV eh computadores sites é simplesmente o fato de que é da Criança e é o que nos põe paraa frente não é querer desejar sonhar coisas que ainda não dá então se
não dá a gente fantasia a gente brinca de tudo aquilo que a gente ainda não pode ser desde casinha mamãe papai e essas brincadeiras mais domésticas até brincadeiras de ir pra lua de foguete de descobrir a Amazônia dentro de uma pracinha que tem cinco árvores de andar pelo Deserto numa praia que tem um pedacinho de areia que ninguém tá lá enfim a criança brinca porque ela anseia coisas e ela domina o mundo em parte domina simbolicamente o mundo brincando infância são ânsias uma infância não preenche espaço algum ela não cabe ela se espalha no que
eu sou até hoje no que vou ser sempre para começar a falar desse assunto e é preciso que a gente situe um pouquinho inicialmente do contexto em que essa conversa ocorre ele é um assunto dos mais relevantes na atualidade dado que a gente pode pensar que a melancolia ela em certa medida faz parte das três grandes epidemias diagnósticas da atualidade a gente tem uma epidemia diagnóstica de transtorno do espectro autista uma epidemia diagnóstica do Transtorno do Déficit de Atenção e hiperatividade Essas são duas patologias que tangem fundamentalmente as crianças uma delas a crianças pequenas outra
delas a crianças em idade escolar mas também aí entra uma terceira que é o que tem sido denominado como transtorno bipolar e esse transtorno bipolar na sua bipolaridade tem uma faceta maníaca e uma faceta depressiva eh e não que isso seja equivalente à melancolia mas é um modo como na atualidade tem se nomeado uma tristeza exema a gente vai ver que melancolia e depressão não são equivalentes mas sim são nomes que se dá paraa tristeza por que que não são equivalentes Porque como elas se justificam eh que efeito Elas têm no discurso social não são
plenamente equivalentes então vejam que eh a gente tá falando aqui de uma grande epidemia também que tem assolado a infância vejam que eu disse epidemia diagnóstica eh e não necessariamente de mais patologia em si isso tem a ver porque com o fato de que cada um desses Quadros na psiquiatria atual se tornou muito maior muito mais abrangente passou a incluir muito mais sintomatologias diversas e isso faz então com que tenha mudado a régua com a qual se mede o fenômeno um fenômeno que antes era mais estreito ele se amplia quando muda a régua com a
qual se mede o fenômeno muito mais gente passa a caber dentro dessas categorias e portanto correspondem a esses quadros números cada vez maiores até epidemiológicamente alarmantes e passa a ser considerado como uma doença antes o que antes muitas vezes era um estado Hum uma forma de ser uma situação transitória da vida então então isso não são só os psicanalistas que dizemos o próprio revisor do dsm4 Alan Francis disse de que essa categoria essa nova classificação tinha produzido três epidemias diagnósticas isso vai junto em relação a como se justificam esses quadros Ou seja que que se
diz das causas dessas patologias No que diz respeito a certeza eh fundamentalmente é muito frequente que se imponha no discurso social já escutei isso várias vezes estou triste porque me falta serotonina aqui a gente tem uma frase que é um exemplo de um reducionismo organicista e claro Sem dúvida aquilo que nos Acontece aquilo que nós sentimos o que nos afeta na vida o que nos impacta a nossa memória sem dúvidas se registra eh com alterações químicas no nosso cérebro Sem dúvida há um registro orgânico é o ponto o que é complicado é quando isso vira
um discurso reducionista de causa e efeito em que alguém vira um apanhado mal engendrado de uma série de neurotransmissores isso é bastante grave porque vejam isso expropria o sujeito de poder se interrogar por que que eu tô triste que é uma pergunta muito importante e não que a resposta dela seja fácil é ou seja justamente é se perguntar isso que muitas vezes faz com que uma pessoa busque análise estou triste e não consigo encontrar solução disso não consigo sair disso e não sei por que eu tô triste porque nada me falta por exemplo a gente
tem uma série de conflitos que vem da própria divisão do sujeito eh vem entre O que é as demandas do mundo e os seus desejos as suas vontades conscientes e os seus desejos inconscientes Ou seja a partir dessa pergunta sem dúvida a gente tem um longo trabalho mas o que que acontece se de cara é alguém se objetal alguém vira o resto de um apanhado de neurotransmissores essa pergunta se silencia porque aí já não tem mais chance de alguém dizer me cabe fazer algo com isso quando a gente nasce o nosso cérebro não tá pronto
A maioria dos neurônios estão lá mas não tá feita interconexão entre eles e que essa interconexão ela vai depender das experiências de vida pesquisas revelam que o nosso organismo é extremamente plástico e permeável e que as experiências de vida são capaz de modificá-lo então bom esse é um ponto importante porque eh nos tira simplesmente da a lógica de que a gente deveria consumir em cápsulas substâncias para compensar eh nossas sinapses encharcadas de uma maneira anormal de neurotransmissores Ou seja a maneira como a gente organiza a nossa vida como a gente vive também altera os nossos
registros químicos Pelo menos é uma via de Mão Dupla então vejam que aqui a gente não tá numa discussão eh de orgânico versus psíquico qualquer saída nessa direção ela é profundamente reducionista ou seja há um organismo há um psiquismo mas também é preciso entender que as respostas que alguém produz não são produzidas de de uma forma individual ou solitária ou seja o sintomas dos nossos pacientes e aqui a gente tá tomando a palavra sintoma não como se signo de uma doença mas estamos tomando a palavra sintoma e no viés de a resposta que alguém consegue
produzir essa resposta ela é produzida num certo contexto ela é produzida para um outro para um outro familiar para um outro escolar e para um outro eh social eh e portanto é preciso que a gente considere que as formas de Sofrimento tem os ares do seu tempo e Freud é 100 ou 100 10 anos atrás nos falava de uma criança que ela era muito inibida nas suas investigações nos seus desejos na sua vontade de saber ou seja uma criança que era muito cerceada por uma educação extremamente autoritária e por isso que 1905 ele nos diz
quem sabe uma educação menos repressora possa produzir crianças menos inibidas e portanto adultos menos neuróticos essa é a esperança que o Freud tem nesse momento né nesse mesmo texto tem uma frase que costuma ser mais esquecida e que é interessante que a gente possa lembrá-la no momento atual que ele diz que as crianças excessivamente atendidas em suas vontades também são crianças muito frágeis desde o ponto de vista pico essa é uma frase que a gente precisa ter presente hoje em dia já que o que tem sido predominante nos formas de Sofrimento da infância não é
uma inibição por uma educação excessivamente repressora isso era 110 anos atrás essa história agora mudou ao se procurar evitar todo e qualquer sofrimento para uma criança por exemplo querendo facilitar-lhe todas as satisfações e evitar-lhe ao máximo o encontro com as frustrações ou por exemplo ao poupá-la da transmissão de certos acontecimentos tristes relativos à sua vida seja a sua história familiar em relação à sua própria história ou em relação ao mundo que a rodeia Ou seja quando se tenta poupar uma criança dessas duas maneir de experimentar tristezas que fazem parte da vida justamente é aí que
mais a gente pode est empurrando uma criança na direção da [Música] melancolia Quando eu for grande eu quero ser aeromoça astronauta domadora de leões o desejo de crescer e de se imaginar em Mundos diferentes revela aspectos fundamentais da infância quais são eles e o que acontece quando a criança desiste e até mesmo de sonhar ao invés do mundo do Faz de Conta ela mergulha no mundo do tanto faz eu tô diferenciando O que são as tristezas que é preciso atravessar para viver de uma situação que é a situação melancólica que mais do que se caracterizar
por uma tristeza se caracteriza por uma indiferença ou seja há uma situação de suspensão do desejo em que tudo se equivale tudo é uma bela porcaria tudo é igualmente sem graça e aqui não é tão difícil da gente evocar uma criança que é bastante paradigmática dos nossos tempos essa criança que tem de tudo mas não quer nada que na hora de dizer para ela escolhe ela diz tanto faz ou que na hora de partir para uma ação ela às vezes até tem um ensejo e depois diz Deixa para lá seria o contrário da uma infância
são ânsias né uma criança que não anseia nada exatamente que tem uma suspensão de desejo um desinteresse generalizado bom se a gente se encontra com essa questão de eh de crianças que T de tudo e nada querem é preciso que a gente considere o fato de que muito frequentemente os pais na atualidade se vê impelidos a satisfazer o tanto quanto puderem os seus rebentos nem sempre conseguem mas quando não conseguem muitas vezes se sentem culpados Por isso os pais eles mesmos estão permeados pelos ideais da nossa época e quando a gente pensa os ideais do
nosso tempo certamente o primeiro que tá acima da lista de tudo é a ideia de que a infância seria uma época feliz da vida por Excelência e que portanto não deveríamos dar lugar nenhum à tristeza e isso não é verdade isso é uma pura idealização é uma pura ilusão porque a infância como qualquer época da vida tem a suas alegrias e tem as suas tristezas a criança é alguém que tá num fundo trabalho psíquico a criança trabalha tanto psiquicamente para se situar que ela precisa ser liberada do trabalho do mercado ou seja ela tem que
ser liberada de trabalhar no mercado para poder fazer esse intenso trabalho que é a sua constituição psíquica Hum isso u o mundo né entender o mundo ã o que querem dela quem ela é ao que que ela tem direito a o que que não quando uma criança tá mais ou menos bem ela é confrontada a uma série de ideais só que ao mesmo tempo em que a criança tá confrontada aos ideais ela se encontra com o fato de que ela tá imatura desde o ponto de vista orgânico há uma defasagem entre ela e a realização
do ideal e como é que a criança responde a isso com o desejo de crescer o desejo de virar adulto Esse é um desejo muito presente na vida das crianças é e e as crianças têm uma maneira muito bonita de dizer isso as crianças falam Quando eu for grande uhum Quando eu for grande é uma frase que nos revela como paraa criança hum a a ilusão de que bastaria virar adulto para virar um grande homem ou uma grande mulher ou seja aqui e poder muitas coisas né muitas coisas que agora ela não pode porque é
a criança essa é uma ilusão necessária a infância vejam que essa ilusão de futuro que a criança projeta é uma ilusão muito importante é porque a faz ser desejosa é de um porv de um porv que em última instância se a gente for esticar muito a corda lá no final tem a morte que que no separa da morte no futuro o desejo todo o desejo daquilo que a gente quer realizar então isso faz com que a criança eh seja desejosa de um porv e que considere que nesse futuro ela vai poder eh fazer realizações desse
vira S esses ideais eles são centrais para imaginar um futuro para imaginar um futuro todos nós nos apoiamos um bom De onde viemos o que desejamos Isso é o que nos faz imaginar um futuro é imaginar D esse futuro que nos permite viver e que permite que a gente possa atravessar esse momento presente alinhavado a referências simbólicas que se eu não tenho essas referências eu não sei desde onde tecer o meu fio do desejo e a memória também né claro a memória que me diz quem eu sou né claro vai vai trazendo né É que
você falou das referências simbólicas mas tem as imaginárias também né claro que e que são eh as da própria vida e daqueles do daquilo que os outros nos transmitiram o que os outros nos disseram das suas experiências então isso situa uma criança numa numa linhagem numa cadeia simbólica que não é necessariamente a linhagem biológica é uma linhagem das série de pessoas com as quais uma criança se identificou aí entra desde um vizinho importante até um professor ou seja um apanhado de referências que são fundamentais para que alguém possa eh imaginar isar um futuro então isso
é um dos grandes trabalhos da infância só que Vejam o futuro demora paraa criança enquanto esse futuro não vem elas produzem outro sintoma outra resposta constituinte e central da infância que é brincar as crianças quando brincam elas el boram respostas paraa sua existência hum elas vão eh produzindo elas vão relançando e dizendo e se isso e se aquilo is se o outro e eh o brincar ele é muito importante porque uma maneira de produzir respostas na qual a gente não precisa se responsabilizar pelo ato hum por isso que quando a gente eh Brinca a gente
mata morre casa descasa tem cinco filhos e depois não precisa pagar pensão alimentícia para ninguém né ou seja isso não tem um valor de ato na vida mas sim tem um efeito muito importante de elaboração da criança as brincadeiras que se prezem elas são trágicas elas são cheias de privações Elas têm mortes têm conflitos éticos extremamente importantes ou seja as crianças de fato elas vão ali Produzindo um tecido em torno a essas elaborações que é preciso fazer na vida entorno da morte das perdas das separações criança brincando produz eh eh respostas muito importantes e também
com isso dá lugar a novas perguntas que direciona os adultos Hum ainda é preciso aí considerar o brinquedo A criança precisa apoiar sua fantasia em objetos concretos podem ser Pedrinhas palitos de de picolé se ela tá bem situada psiquicamente se ela tem uma vida interna e um fantasiar ela simplesmente precisa de um apoio mínimo para desenrolar a sua brincadeira não é o brinquedo que faz o brincar é o contrário é a fantasia o que desencadeia o fazer com o objeto Esse é um ponto importante porque como a gente vive em épocas em que a gente
super valoriza os objetos às vezes se acha que os bons brinquedos são aqueles estrondosos né que rim sozinhos que acend brinca sozinho né que se brinca sozinho que torna a criança espectadora e aí esses brinquedos eles muitas vezes estão mais no lugar de fazer um obstáculo ao fantasiar da criança ao desenrolar da narrativa da Criança em que a criança ela coloca ali os elementos que a angustiam ou que a interessam eh em vez de então isso propiciar ser um apoio simplesmente muitas vezes esses objetos tão fascinantes deixam a criança no lugar da espectadora em vez
de justamente no lugar da autora daquele [Música] fazer Muitos pais acreditam que a infância precisa ser como uma ilha de felicidade um mundo cor de-rosa sem qualquer contato com os tons cinzentos do mundo real pensando dessa maneira quer prover os filhos ao máximo e poupá-los de qualquer frustração mas uma criança que tem tudo pode não ter o que ela realmente precisa como ela vai aprender a lidar com os obstáculos e as perdas que fazem parte da vida que que acontece se a criança em vez de se encontrar com um adulto que permite esse desdobramento e
essa eh construção essa interrogação do lado da infância esse espaço para brincar se encontra com adultos que estão preocupados em serci cercá-la de felicidade propiciar-lhe todas as satisfações a gente disse há dois caminhos hum pelo menos hum dominantes para eh cercear hum o encontro com a tristeza uma é não dizer para as crianças não contar de passagens tristes que dizem respeito à Vida isso pode acontecer por várias vias por exemplo crianças adotivas paraas quais não se fala da sua adoção eh pode ser situações como contingências da vida né um casal se separa e eh os
adultos dizem não a gente resolveu o que é melhor assim vai ser muito melhor você vai ter duas casas dois quartos e a criança diz não eu não tô feliz para mim não é melhor não mas é melhor Hum bom essa é uma uma questão bastante frequente na atualidade com as novas configurações familiares Mas até mesmo isso pode dizer respeito à maneira que a criança tem de circular pela cidade ou seja a criança que vai no carro de vidro fechado olhando para seu tablet e que nem sequer ver a outra criança que tá ali pedindo
esmola no sinal ou vendendo uma balinha hum ou seja isso fica cerceado algum tempo atrás me Aconteceu uma situação que foi aqui e num dos meus paciente zinhos eh morreu um dos professores da escola e um dia então o professor não foi na vez seguinte bem-vindo novo professor e as Crianças perguntaram mas e cadê o Fulano que era o nosso professor onde ele tá ele foi embora porque não se queria ter que dizer pras crianças de uma morte bom o que acontece é que então as crianças vivem algo muito pior que é mas como assim
ele foi embora sem se despedir da gente ele não nos disse tchau mas a gente tava aqui fazendo um trabalho que Ele nos disse que era importante então que que que sensação isso dá pras crianças de que a relação Não Vale Nada Hum de que o outro não se importa e de que elas Não Contam para esse outro quantas vezes isso acontece com os animais de estimação Vejam a série de problemáticas que ali se abrem para uma criança justamente onde se pensa que ao não dizer-lhe o que está em jogo se está poupando ela de
alguma coisa e a consequência disso muitas vezes é que morreu o peixinho tá bom joga na privada Puxa a descarga mamãe compra outro porque se o que importa é substituir o objeto para que nada falte mas a relação nada vale bom é nessa direção que a criança caminha HUM H algum tempo atrás também falando disso uma colega me contava uma situação que era que havia uma adolescente de 15 anos que estava se separando do namorado no aeroporto porque esse namorado ia fazer um intercâmbio de 6 meses e claro que ela tava aos prantos encolada né
porque se meses quando a gente tem 15 anos é nunca mais né ou seja ela tinha toda a razão de tá completamente triste em todo caso que me deixa bastante mais inconsolável é a resposta que a mãe deu a mãe disse para uma amiga olha só como ela tá sofrendo acho que eu vou levar ela num psiquiatra para dar-lhe antes antidepressivos E assim se não dá para chorar de amor aos 15 anos eu não sei o que dá mais para esperar da vida aí vai deprimir de vez né se não pode chorar de amor se
não dá para chorar de amor aqui eu não tô fazendo uma apologia a tristeza não é que se trata só de chorar se trata também de se divertir um pouquinho mas se trata de eh viver essa experiência ou seja fazer dessa dessa vivência uma experiência poder produzir com ela algum saber sobre o amor sobre a separação sobre as relações sobre a saudade sobre ela mesma né capade MMA enfim ou seja poder produzir algo com isso e não extirpar a possibilidade de sentir né e de produzir algo subjetivamente com isso se alguém não tem desde onde
se sustentar o que dizer ou o que produzir eh de uma tristeza quem se perde é o sujeito ou seja ele se perde junto com o acontecimento ele fica sem referências e é aqui que eu pensando e nessa conversa com vocês eu evoquei muito dois personagens que eu gosto muito o Calvin tem uma passagem que eh justamente nos revela que a infância não é só alegria é é toda uma série em que ele encontrou um quati no quintal que tá machucado e ele leva para que a mãe o salve porque se alguém pode salvar no
mundo é a mãe né então ele leva o quati pra mamãe e eles tentam bom proteger esse bichinho E aí uma manhã ele se levanta e diz pai Você checou o o quatizinho esta manhã e aí o pai responde sim Calvin temo que ele tenha morrido u ele chora desesperado e o pai diz muito compungido também sinto muito também ele não tinha muitas chances pelo menos morreu aquecido e seguro fizemos tudo que podíamos Calvin mas ele se foi e no último quadrinho Calvin Diz pro pai eu sei eu sei estou chorando porque aqui fora ele
se foi mas ainda continua dentro de mim é o momento sim onde o que é possível fazer é compartilhar uma experiência a gente pode suavisar algumas verdades Mas isso não é o mesmo do que produzir um engodo senão a gente lhe produz um dano muito pior hum a deixa sem ferramentas psíquicas e isso é o que empurra alguém depois para uma condição melancólica porque fica impossibilitada de ter com que elaborar a dor eh essa é uma via bem importante pra gente poder considerar a outra é o acesso ilimitado à satisfações e aos bens ou seja
achar que quanto mais a gente suprir a criança melhor será Então se produzem formações da seguinte ordem tá na hora de tirar a chupeta Então você me dá chupeta e eu te dou um carrinho certo e a criança diz o quê certo na hora de dormir a criança diz o quê Cadê a chupeta Hum inevitavelmente ela vai nos dizer isso porque vejam é aqui aparece o quanto s ao longo da infância há uma série de objetos que é preciso deixar para trás se desfazer deles as chupetas as fraldas o desm do peito da mamadeira ou
seja são objetos que vão ficando pelo caminho na Estrada da infância quer dizer desde o ponto de vista real não tem nenhum ganho Mas que que interessa aí um ganho desde o ponto de vista simbólico Ou seja eu já posso eu mando no meu corpo eu já sou grande eu não preciso mais da chupeta ou seja mesmo que me dê um pouco de trabalho eu sinto um pouco de saudade dela na hora de dormir bom mas é maior ainda o meu desejo de crescer não é pela via da Restituição dos objetos eu te tiro isso
mas te dou algo ainda maior e melhor é pela via do você perde de um lado mas tem um ganho que é simbólico você faz algo do qual você pode simplesmente se orgulhar é aí que a coisa anda se não desanda senão na hora de dormir a gente quer a chupeta Ou seja a chupeta e o carrinho Claro um aqui e outro aqui quer não perder nada justamente eh vejam que aí Freud é muito certeiro nessa questão ele nos diz e o amor infantil exige nada menos do que tudo Ou seja que o trilho da
satisfação paraa criança ele é ilimitado ela não vai parar de pedir ela vai pedir mais mais mais mais e mais então Muitas vezes os pais ficam extremamente surpresos que depois de um dia de satisfações satisfações em vez da criança se comportar bem ela termina o dia profundamente irritada insuportável e brigue porque não ganhou aquele último pirulito depois de ter ganhado 10 coisas que importância tinha o pirulito perto do cinema do brinquedo do parquinho bom que importância tinha bom eh o ponto é que a criança vai vai vai muitas vezes até poder escutar ou não e
isso vai absolutamente na contramão da ilusão que muitas vezes os adultos têm na atualidade a infância é felicidade em segundo lugar a infância normal é uma criança bem comportada ainda isso se articula a ideia de que uma criança bem comportada é uma criança satisfeita como ela vai ver que eu tô me esforçando para satisfazê-la ao máximo então ela vai se comportar bem não é por aí que a coisa acontece e a criança vem com mais e mais e mais exigências Eh Ou seja a criança ela quer tudo Hum E cabe ao adulto hum justamente fazê-lo
entender que não pode tudo n a pergunta é a o serviço de do bem de quem tá produzir e dar tudo pra criança essa é uma pergunta que a gente tem que se fazer porque a primeira coisa que os pais dizem é Faço isso pelo bem da criança será será que é só isso porque dizer que não para uma criança dá trabalho porque a criança nos odeia quando a gente diz que não ao mesmo tempo que isso acalma a tranquiliza lhe dá um lugar porque a questão é de onde vem esse não que o adulto
coloca não é simplesmente um adulto que diz que não por um princípio de autoritarismo em que submete a criança esse adulto ele mesmo não faz tudo o que ele quer e esse é o nosso princípio de autoridade para poder dizer que não paraa criança a gente também não faz tudo o que quer a gente faz o que a gente quer dentro do que é certo essa é a negociação que todos nós temos que fazer hum claro que no início da vida quando um bebê é muito pequeno é muito importante dar-lhe uma ilusão de potência o
inicot nos fala disso Ou seja no início da vida uma mãe tem que est muito Atenta às demandas da Criança e acolhê-la porque justamente é o momento em que é Central que a criança possa entrar em relação com outro mas mesmo assim ela tem que ter tempos para poder esperar né claro e aos poucos num tempo de espera né mesmo tendo tudo é no tempo de espera que ela vai criar as as elaborações oic nos diz se a mãe se antecipa se a mãe não deixa uma criança pedir a criança Ela não tem tempo para
produzir as suas imagens as suas Ilusões O seu fantasiar então é há um tempo não é sem tempo não é imediato hum não é se parpando a qualquer pedido da Criança é justamente dando-lhe essa possibilidade vejam é diferente um bebê que tem uma relação com m mãe e que ali entra um paninho um ursinho um cheirinho um travesseirinho Algum objeto que tá na cena prazerosa e que então depois a criança quando se separa brevemente da mãe pode lançar mão desse objeto do que uma série de quinquilharias que são vendidas para poupar o trabalho objeto técnico
né não é um objeto de a não é um objeto que representa não é um objeto que é é emb buído de uma memória compartilhada his com a criança e com a mãe né que tem uma história e esses objetos eles tanto têm uma história que eles não vêm prontos eles se constituem na relação são objetos que são uma metáfora que representam o outro é preciso passar pela frustração pela tristeza pela raiva que não há um caminho da satisfação a obediência diretamente poupando-os esse trabalho de negociação com a criança no meio do caminho e é
um trabalho do qual a gente não tem que se poupar e não tem que poupá-la porque tem sido muito tarefa dos analistas dizer que não pras crianças vejam que paradoxal muitas vezes as crianças são levadas ao consultório porque os pais esperam de que a gente possa convencê-la a fazer o que é certo do uma maneira inadvertida em que ela não se deu o trabalho de espernear dizer que não pra criança implica justamente atravessar a ilusão de potência com ela uma ilusão de potência dela mesma mas também a ilusão de potência narcísica do adulto Ou seja
a gente não pode tudo nem deve [Música] tudo estamos vivendo uma época em que as agendas estão lotadas inclusive a das crianças não estaríamos sobrecarregando a infância com tantos afazeres e tanto consumo estaria aí um desejo dos Pais em querer compensar a ausência é interessante refletir sobre as consequências desse cenário na relação entre pais e filhos Muitas vezes os adultos eles T que sair para trabalhar os adultos na atualidade trabalhamos muito e Justamente a criança muitas ve vees reclama disso por que que você vai trabalhar fica aqui comigo e os adultos que que os adultos
respondem diante disso uma resposta muito frequente tem sido eu preciso trabalhar para comprar as tuas coisinhas essa é uma resposta bastante complicada porque é bem diferente dizer olha eu gosto muito de você mas eu também gosto de outras coisas mesmo quando isso não é um desejo direto há uma questão de uma dignidade do do trabalho de um valor simbólico do trabalho que muitas vezes é elidido nessa conversa com a criança então nós é como se nós fôssemos escravos do trabalho para comprar coisas pura e simplesmente e quando se diz para uma criança eu vou trabalhar
para comprar as tuas coisinhas é a resposta que a criança lê é eu vou te faltar mas é só para que nada Te falte e ali hum ali a gente encontra uma criança com muitas vezes com um abarrotada de objetos e sem poder brincar com nenhum porque Justamente não são objetos investidos de uma história são objetos que ficam muitas vezes num lugar de fetiche da Ordem do que tem que ter mas que não dá para fazer nada com El dizer não pra criança nos custa Claro nos custa subjetivamente a gente sofre de às vezes dizer
não vai dar não posso ou você não pode então às vezes a gente não diz não pra gente se poupar e não Para poupar a criança e às vezes o gesto de amor mesmo é a gente sofrer ficar com pena e dizer não vai dar e a criança vai chorar ou não vai entender ou então Eh isso eu não permito claro né E às vezes você não tem que explicar porque a explicação seria além isso não permito você vai ter que confiar em mim porque eu sou sua mãe quer dizer a responsabilidade é minha mesmo
que esteja errado né Eu acho que esse lado é muito difícil porque os pais hoje querem o o Calvin e uma quando você mostra o Calvin de vez em quando ele mostra o IBOPE do pai né como tá baixo o IBOPE do pai né porque o pai diz não né e ele faz o IBOPE mas o nosso Ibope cai mas a gente tem que manter porque a gente tá se responsabilizando por aqui essa criança ou seja Muitas vezes os pais dizem castigos terríveis pros filhos que depois não os cumprem porque às vezes cumprir esse castigo
implica cortar o próprio barato e às vezes não se quer cortar o próprio barato e aí a gente tem um problema porque a gente tem que tá disposto também a perder para que a criança perca se isso é importante nesse momento se a gente não tá disposto a perder a atravessar Nossa onipotência narcísica a criança também não vai poder atravessar dela isso é algo que a gente faz junto Hum isso é o mais difícil do educar Hum porque não é simplesmente aos brados enunciar os princípios de autoridade isso não resolve nada e o que eu
gostaria de saber é a respeito da sua experiência em questão de de atividades dadas pelos pais e dadas pelas próprias escolas onde a criança fica acumuladas e vem a melancolia a tristeza o desamparo por estar longe de casa de fato me parece que a gente tá vivendo uma infância muitas vezes sem tempo e sem espaço sem tempo na medida em que como os adultos estão muito ocupados eh as crianças elas são terceirizadas e terceirizado é uma palavra um pouco enganosa porque esse que entra ali até pode ser um terceiro pro adulto mas muitas vezes paraa
criança não é uma extensão de uma relação que ela teve primeiro com um núcleo fundamental de relação e que depois se estende para um lugar terceiro muitas vezes há delegações muito precoces a escola ou AB babás que rompem essa identificação primeira para da criança porque ela ainda não tá pronta Então esse laço ele se esgarça porque se estica cedo demais essa corda e a criança perde essa referência então tem crianças que se entristecem que adoecem que chegam na escolinha e dormem Ou seja que se apagam psiquicamente já com crianças um pouco maiores Vai se vendo
essa questão são da agenda cheia em que as crianças passam a ter a agenda lotada então elas muitas vezes circulam é de uma aula disso para uma aula daquilo de uma aula de arte para uma aula de música para uma aula de esporte para uma aula de línguas e vão indo de um lugar para outro é completamente desvitalizadas ou seja carregadas pela agenda e não autoras dessa produção eh e às vezes são crianças que chegam e você diz ah que que você aprendeu na tua aula de música uma canção eh não me lembro e esse
não me lembro não é com angústia de quem tenta evocar e não consegue é com que importância isso tem apatia é uma apatia Deixa para lá hum ou seja se enche agenda mas se carece do tempo necessário pro alinhavo do sujeito e tem uma frase do Freud que eu gosto muito que ele diz que é o fio do desejo que alinhava passado presente e futuro e é como se esse fio se perde então a criança ela fica desalinhada é qual é a razão dessas passagens ela não vai nelas movida por um desejo ela vai na
na série do fazer de tudo Hum e fazer de tudo se você faz de tudo tanto faz o que você faz isso se equivale termina em nada hum essa criança que tá enjoada sem graça desvitalizada diante dessa série de atividades que ela tem que se fazer para se preparar para um futuro porque resulta que o mundo é um lugar ameaçador que não tem lugar para todos então tem que se preparar Mas cadê o fio que a move que a que a alinhava é preciso tempo para fazer isso E aí essa mesma criança Chega no fim
de semana e onde a gente poderia dizer é bom suspensão das atividades e muitas vezes se encontra com um fim de semana também completamente cerceado em que tem que ver eh o último filme porque agora são vários certo e depois ir comer o lanche que vem com a lembrancinha do momento do filme do momento e PR isso tem que fazer fila tem que estacionar e o fim de semana ele também acaba sendo todo cerceado por um consumo aonde não há tempo para os encontros não há um tempo para desdobrar um fazer com o outro e
quando a criança se encontra com o espaço vazio Hum ela diz não tem nada para fazer porque ela tá esvaziada ela só tá respondendo a demandas externas Mas ela tá esvaziada de um fantasiar fica a bola murcha não tem nada para fazer por quê Porque o espaço não não tá pautado Hum porque a demanda não vem do outro Julieta eu lembro dos livros do Monter Lobato que eu não sei se não são da sua infância porque você não tava no Brasil mas em que os personagens quando não tinham nada para fazer ficavam largados na sala
do sítio da avó brincando de fazer x na almofada de veludo e era Nessas horas de não ter nada para fazer que eles inventavam as grandes travessuras Claro as Caçadas do Pedrinho convidar todos os personagens dos contos de fada para uma festa enfim eram nada para fazer eh povoado de fantasia claro ou seja esse esse vazio esse encontro com a falta que antecede a criação Claro e que aí tem toda a extensão da da terminologia melancolia que que você trabalha muito bem e coloca né sua origem e em toda na Grécia na tradição hipocrática da
Billy Negra e de como o melancólico é aquele que de certa maneira um desajustado aquele que não se conforma com o anteparo social do Estamos todos bem Hum mas que Justamente por isso é dali que pode surgir o gênio criativo a invenção ou seja daquele que não tá que não tá conformado que tá inconformado que diz que as coisas não encaixam e é justamente desse certo encontro com um espaço não cerceado e um tempo não cerceado que pode se dar lugar à invenção mais palestras Acesse no site Facebook do Instituto CPFL e inscreva-se no canal
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