Dizem que esta é a foto mais inteligente de todos os tempos. Ela foi tirada em 1927, durante a Conferência Solvay, que reuniu pesquisadores de diversas áreas. E realmente, a imagem mostra alguns dos maiores nomes da história da ciência. Estão lá: Max Planck, um dos pais da física quântica. Erwin Schrödinger, um dos maiores nomes da mecânica quântica e dono do gato mais famoso da ciência. Niels Bohr, que revolucionou a compreensão da estrutura atômica. Albert Einstein, criador da teoria da Relatividade Geral. Mas olhe a foto novamente. Você vê algo de estranho nela? Sim, apenas uma mulher. O
fato dela estar ali, entre outros grandes gênios da ciência, que ainda por cima a admiravam, diz muito sobre sua importância. Vale lembrar que o ano era 1927, uma época em que cientistas mulheres eram algo extremamente raro. E ainda assim ela foi capaz de revolucionar a ciência de tal forma que até hoje é a única pessoa a ganhar dois prêmios Nobel em áreas científicas diferentes. Estamos falando de uma das pessoas que descobriu a radioatividade, ninguém menos que Marie Curie. Mas não foi apenas sua genialidade que garantiu o seu lugar nessa foto. Exemplo de coragem e resiliência,
Marie Curie passou sua vida inteira desafiando preconceitos e superando tragédias pessoais para mostrar que, ao contrário do que se pensava no início do século XX, ciência não é coisa de homem. A Madame Curie foi mais do que uma das pioneiras da radioatividade. Ela mudou a forma como nós olhamos para a ciência. Um dos pilares para a presença de mulheres na ciência hoje está na coragem de Marie Curie. Ela enfrentou muito preconceito para alcançar reconhecimento em seu campo, pavimentando o caminho para as futuras gerações de cientistas mulheres. E quem poderia imaginar que, mesmo atuando próximo ao
fronte de grandes batalhas da Primeira Guerra Mundial, a sua vida chegaria ao fim justamente por causa de algo que ela estudou durante décadas. Fique comigo até o final deste documentário para entender como isso aconteceu. Olá meus queridos amigos, tudo bem com vocês? Meu nome é Felipe Castanhari e esse vídeo é muito especial para mim. Se você assistiu a minha série na Netflix, Mundo Mistério, você sabe que os episódios se passam dentro do Complexo Curie. Sim, eu sou fã da Marie Curie e faz muito tempo que eu quero contar a história dela para vocês. Então clique
no logo do Nostalgia aqui embaixo para se inscrever no canal, me siga lá no Instagram que é @fecastanhari, para a gente poder conversar e se possível, me ajude tornando-se membro do clube nostálgico, seu nome vai aparecer aqui na tela junto com esses daqui. O link para você virar membro está aqui na descrição. E agora sim, seja bem vindo ao Nostalgia: Personalidades da nossa primeira cientista mulher, Marie Curie. Nossa história começa na Polônia, mas num momento bastante complicado para o povo polonês. Durante o século XVIII, partes da Polônia são ocupadas por outras nações e o país
é dividido em três regiões: uma controlada pela Prússia, outra pelo Império Austríaco e a terceira, onde fica a capital polonesa Varsóvia, nas mãos do Império Russo. O domínio russo é muito opressor e tem o objetivo de apagar totalmente a identidade do povo polonês. Isso nos leva ao século XIX, quando o clima em Varsóvia é muito tenso. Afinal, quanto maior a opressão russa, maior o patriotismo dos poloneses. É nesse cenário que o casal Wladyslaw e Bronislawa Sklodowski criam seus quatro filhos. Eles são professores e lutam para manter a identidade polonesa viva entre seus alunos. Para o
Wladyslaw isso é bem difícil, porque ele dá aulas de física e matemática num colégio do governo que é controlado pelos russos. Já Bronislawa é a diretora de uma escola particular para garotas. Mas os russos ficam toda hora querendo saber o que é ensinado na sala de aula. Então ela passa o tempo todo driblando e às vezes enfrentando as autoridade de russas. E é nesse lar que respira patriotismo e educação que em 7 de novembro de 1867, nasce a quinta filha do casal, uma garotinha chamada Mariea Salomea e Skłodowska. Eita nome difícil! Sim, o nome verdadeiro
de Marie Curie não é Marie e sim Mariea. Isso porque o seu nome é uma homenagem à Nossa Senhora de Częstochowa, ou Virgem Mariea de Częstochowa, a santa padroeira da Polônia. Uma palavra que pode descrever a rotina da casa da Mariea é "conhecimento". Os filhos mais velhos têm aulas particulares com a mãe e o pai está sempre inventando jogos com uma pegada educacional. Então a Mariea cresce no meio de uma família bastante unida, sendo sempre estimulada a estudar e aprender coisas novas. Mas a rotina dessa família começa a mudar quando a Mariea tem três anos
e sua mãe pega tuberculose, uma doença causada por uma bactéria que afeta principalmente os pulmões. Como Varsóvia e muito fria, os médicos sugerem que ela passe temporadas em locais mais quentes, então ela começa a fazer essas viagens junto com sua filha mais velha, Zofia. Dois anos depois, o pai dela é demitido, deixando a família em uma situação muito difícil. A saída é transformar a casa, que é bem grande, em um internato, que é uma escola onde alunos podem morar. Assim, a pequena Mariea, que tem apenas cinco anos, passa a conviver com cerca de 20 estudantes
todos os dias. E as más notícias não acabam. No começo do ano seguinte, a mãe da Mariea visita a família e ela e a Zofia pegam tifo, uma doença grave transmitida por piolhos. A mãe da Mariea se recupera, mas sua irmã mais velha morre com 14 anos, deixando a família devastada. Isso tem um impacto terrível na saúde da sua mãe, que piora cada vez mais e acaba falecendo em 1878. Isso cai como uma bomba na cabeça da pequena Mariea, que estava apenas com dez anos de idade. "Esta catástrofe foi a primeira grande tristeza da minha
vida." "Durante muitos anos, todos nós sentimos o peso de perder aquela que tinha sido a alma da nossa casa." A Mariea tem dois grandes talentos: uma memória incrível e a capacidade de aprender tudo com facilidade. Mas justamente no momento em que ela precisa lidar com a morte da mãe, começa a cursar o ginásio numa escola do governo, ou seja, controlada pelos russos. Ela logo percebe que o conteúdo dado nas aulas é inútil e os professores russos tratam os alunos como inimigos. Ela passa cinco anos nesse lugar e mesmo sendo a aluna mais jovem da sala,
se forma aos 15 anos como primeira da turma. Mas o pai da Mariea está preocupado com a saúde da filha, que vive reclamando de cansaço. Seria a tuberculose atingindo a família mais uma vez? Não. Nessa época, as pessoas não entendem a depressão como uma doença e usam termos como exaustão e fadiga quando sofrem disso. Este é o caso da Mariea, que não conseguia superar as mortes da irmã e da mãe. Então seu pai sugere que ela viaje para descansar um pouco. Assim, ela vai para o interior visitar os seus tios e descobre uma Polônia bem
diferente de Varsóvia. No campo, as pessoas falam polonês e cantam canções polonesas sem medo de serem presas. Além disso, o mundo dos seus tios é cheio de livros, músicas e festas. Isso ajuda a jovem Mariea a encontrar ânimo para tocar a sua vida. Depois desse período sabático, ela volta para casa mais animada. Agora ela precisa enfrentar um problema sem solução. Garotas não podem estudar na Universidade de Varsóvia. Sim, Além do domínio implacável dos russos, as mulheres polonesas precisam também lidar com uma sociedade machista. E a resposta a esse machismo é uma iniciativa incrível. A Universidade
Voadora! Parece nome de colégio do Harry Potter, né? O que acontece é que, como muitas garotas polonesas querem ter educação superior, surge essa universidade clandestina, com aulas para mulheres, acontecendo secretamentes em vários lugares de Varsóvia. A Mariea e sua irmã Bronia assistem essas aulas, afinal, a única maneira de estudar sem ter que fazer isso escondido é em outro país, mas e a grana para isso? Então eles bolam um plano. A Bronia vai estudar na França enquanto a Mariea ganha dinheiro para ajudá-la. Aí, quando a Bronia começar a trabalhar, ela irá ajudar a Mariea a ir
para Paris. E assim é feito. Bronia vai estudar medicina na Universidade de Sorbonne e enquanto isso, a Mariea, que já é maior de idade, passa a trabalhar como governanta na casa de uma família de fazendeiros. Assim, sua rotina se divide entre supervisionar os empregados da casa e cuidar da educação dos filhos mais jovens dos seus patrões. Mesmo ocupada o dia todo, ela continua estudando por conta própria e acaba descobrindo algumas paixões. "Eu tinha tanto interesse por literatura e sociologia como por ciência." "Porém, durante estes anos de trabalho solitário, tentando pouco a pouco encontrar minhas verdadeiras
preferências, finalmente me voltei para matemática e física." Mas as ciências exatas não são as únicas paixões que entram na sua vida nesse momento. Outra é o jovem Cajímiés, o filho mais velho de seus patrões. Os dois começaram a namorar e chegam a fazer planos de se casar, mas os pais dele não gostam nada disso. 'Como assim nosso filho vai se casar com uma 'pé rapada', sem um tostão furado?" No fim, o rapaz segue a vontade dos pais, colocando um ponto final no namoro e a Mariea, sem escolha, continua no emprego, mesmo sabendo que seus patrões
acham que ela sequer é digna do filho deles. Mas e o lance de ir para a França? Em 1879, depois de quatro anos trabalhando como governanta, Mariea recebe a carta que tanto queria da irmã. A Bronia está feliz da vida em Paris e é noiva de um colega polonês. E o mais importante: é a hora da Mariea arrumar as malas e ir para a França. Mas aí ela ameaça desistir. Isso pode ser porque ela ainda pensava no caso de Cajímiés, mas também porque a Mariea sentia sempre muita dificuldade para se adaptar a mudanças para novos
lugares. Então ela passa um ano com o pai e aos poucos percebe que suas angústias e medos não podem impedir sua busca por conhecimento. Assim, em novembro de 1891, um trem parte rumo à Paris. Dentro dele está uma jovem de 23 anos chamada Mariea Salomea Skłodowska. A sociedade francesa dessa época é mais progressista que a polonesa. Mas, que fique claro, a França é um país tão machista quanto qualquer outro. É a Sorbonne, uma das universidades mais antigas da Europa, é um mundo masculino dentro da capital francesa. Em 1892, quando a Mariea entra na Faculdade de
Ciências, a universidade tem nove mil alunos. Apenas 210 são mulheres. Um dos motivos é que garotas francesas não podem estudar ali. Porém, a Sorbonne aceita alunas de outros países, como a Mariea e sua irmã Bronia. Aliás, aposto que vocês devem estar se perguntando quando a Mariea vira Marie, não é na verdade? Bem, é justamente quando faz sua matrícula na Sorbonne que ela resolve deixar o seu nome mais "afrancesado", passando a usar Marie. Então, a partir de agora vamos usar Marie. Na Sorbonne, a Marie percebe que seu conhecimento de ciências e matemática está abaixo dos colegas
franceses. Então passa o ano de 1892 estudando de maneira incansável para alcançá-los. "No fim do dia eu estudava em meu quarto, as vezes até tarde da noite." "Todas as novidades que eu via e aprendia me encantavam." "Era como se um novo mundo tivesse se aberto para mim, o mundo da ciência que eu finalmente podia explorar com liberdade." Apesar de estudar muito, no final do seu primeiro ano, a Marie se recusa a fazer os exames porque acha que não está preparada. E olha, a estratégia dá certo, porque um ano depois ela se forma em física como
a primeira da turma de novo! Mesmo formada, ela continua em Paris estudando matemática, pois o seu plano é pegar esse segundo diploma e voltar para a Polônia como professora. Nessa época, a Marie arruma um trabalho estudando propriedades magnéticas do aço e comenta com um amigo que o laboratório que ela usa é pequeno demais para ela fazer sua pesquisa. Esse amigo responde: "Eu conheço um cara que faz estudos com magnetismo." "Talvez ele possa te ajudar com isso." Assim, a Marie vai se encontrar com esse sujeito para conversar sobre o seu laboratório. E o nome desse cara
é Pierre Curie. O Pierre é respeitado pelo seu estudo com cristais e magnetismo, mas não é famoso no meio científico. Primeiro porque ele não tem doutorado e alguns cientistas olham torto para ele por causa disso. Segundo, ele nunca aparece em eventos ou premiações científicas. É um cara meio recluso. A verdade é que ele é totalmente focado no trabalho, igualzinho a Marie. A conversa, que era para ser somente sobre laboratório, vira uma conversa sobre ciência e depois sobre a vida, o universo e tudo mais. E os dois combinam de se encontrar de novo e mais uma
vez, e' quanto mais se encontram, mais percebem que são parecidos no amor pela ciência e na forma de ver o mundo. Não demora muito para todas essas conversas virarem um romance. "Nossos trabalhos nos aproximaram mais e mais, até que ambos tivemos certeza de que nenhum de nós encontraria um companheiro melhor para a vida." Mas a Mariea ainda tem planos de voltar para a Polônia. Então, quando ela se forme em matemática e vai passar férias em Varsóvia, o Pierre fica desesperado com medo de ela não voltar para Paris. Durante a viagem, eles continuam se correspondendo, com
o Pierre tentando convencê-la a voltar para a França, onde eles podem ficar juntos. Ele até se prontifica a começar a planejar melhor sua carreira e defender sua tese de doutorado, além de procurar um emprego como professor para garantir o sustento do casal. E o destino também dá uma mãozinha, porque a Marie não encontra trabalho como professora na Polônia. Então ela começa considerar cada vez mais a ideia de voltar para Paris. Resumo da história: Em março de 1895, o Pierre defende sua tese sobre magnetismo na Sorbonne, equem está na platéia é a Marie, que seguiu o
seu coração e voltou para Paris. Poucos meses depois, em 26 de julho, os dois se casam. Aliás, no casamento surge uma das anedotas mais famosas na vida da Marie. Na cerimônia, ela usa uma roupa nova, toda azul escuro. E um dos motivos dela ter escolhido essa roupa é porque ela poderia desfarçar as manchas de produtos químicos. Sim, é isso mesmo que você está pensando. A Mariea escolheu a sua roupa já pensando em usá la depois como uniforme de trabalho! O Pierre começa a dar aulas e a Marie adia seus planos de doutorado fazendo um curso
para lecionar numa escola para meninas e os dois ficam o tempo todo conversando sobre suas pesquisas. Uma coisa legal é que um se interessa de verdade pelo trabalho do outro. Com todo esse respeito e amor, o casamento deles é muito feliz e em 1897 nasce a primeira filha, uma garotinha chamada Irène. O fim do século XIX é uma época de grandes novidades científicas. A eletricidade é um dos pontos centrais disso. Mas existem outros inventos famosos, como o telefone e o cinema. Nessa época, o alemão Wilhelm Röntgen faz experimentos com tubos de raios catódicos. Isso são
tubos de vidro com um condutor metálico, que ao ser aquecido, emite um feixe de elétrons chamado raio catódico. Ele nota que esses tubos emitem outro tipo de raio que atravessa a madeira, vidro e borracha. Então ele pede que sua esposa coloque a mão entre o tubo e uma chapa fotográfica por 15 minutos. Ao final do processo, tem uma imagem perfeita dos ossos da mão da sua esposa. Esta é a primeira radiografia da história feita em 22 de dezembro de 1895. A descoberta dos raios-X ganha muito espaço na mídia. Quem fica fascinado com isso é o
francês Henri Becquerel, que estuda luminescência, um fenômeno em que uma substância emite luz sem emitir calor, ele decide investigar se substâncias luminescentes também emitem os famosos raios-X. Para isso, ele decide usar o urânio porque ele sabe que esse elemento emite luz depois de absorver a energia solar. Então ele pega chapas fotográficas e as guarda bem protegidas do Sol. Mas junto com essas chapas coloca o urânio que absorveu luz solar. Alguns dias depois, o Becquerel descobre que as chapas estão escurecidas. Então ele conclui que o urânio emite alguma energia que interferiu com as chapas fotográficas. Mas
o que será que é essa energia misteriosa? Sim, o Becquerel está observando a radioatividade do urânio, mas como o foco dele está em luminescência, ele conclui apenas que o urânio, depois de absorver luz solar, não emite apenas luz, mas também alguma espécie de energia e dá o assunto por encerrado. A Marie lê sobre essas pesquisas e fica intrigada, escolhendo esse assunto para sua tese. Assim, ela começa a usar o laboratório da escola onde o Pierre dá aulas para fazer suas pesquisas com o Mariedo. E eles logo fazem algumas descobertas sobre o urânio. A emissão dessa
energia misteriosa do urânio é constante, independente do urânio ser sólido ou pulverizado, puro ou não, exposto à luz ou não. Ao constatar que isso é uma propriedade do urânio. Marie faz um questionamento que muda a ciência. "Será que a causa disso não está dentro dos átomos do urânio?" Marie está certa! A radioatividade acontece quando o núcleo de um átomo fica instável. Isso faz o átomo liberar energia na forma de partículas alfa ou beta, ou de raios gama. Ao criar essa hipótese, a Marie está à frente do seu tempo, porque no final do século XIX, os
átomos ainda são vistos como partículas indivisíveis, sem nenhuma espécie de núcleo, como prótons e nêutrons. Outra descoberta de Marie e Pierre é que um metal chamado tório também emite essa energia misteriosa. Então a Marie conclui que isso não é uma característica somente do urânio, mas sim um fenômeno físico. Ao enxergar que essa energia é emitida na forma de raios, ela pensa na palavra "radius", que é o termo em latim para "raio", e batiza esse fenômeno de "radioatividade". A Marie também percebe que alguns minérios de urânio que está analisando emitem energia mais intensa, até mesmo que
a do urânio puro. Então, esses minérios devem ter outros elementos radioativos. Aí começa um trabalho de eliminação. O casal vai dividindo esses minérios em pedaços cada vez menores, observando quais emitem radiação mais intensa. Isso dá um trabalhão, mas finalmente chegam a dois fragmentos pequenos e muito radioativos. Um deles é composto por um elemento que já é conhecido na época chamado bismuto. Então vamos pensar junto com a Marie. O bismuto não é radioativo, então se esse fragmento de minério cheio de bismuto emite radiação, então o que tem dentro dele não é bismuto. É um elemento parecido
com o bismuto, mas que a ciência ainda não conhece. É assim que a Marie descobre um novo elemento químico, 400 vezes mais radioativo que o urânio. E para homenagear o seu país, ela batizou esse elemento de "polônio", Mas lembra que eles tinham conseguido dois fragmentos que emitem muita radiação? Esse foi o primeiro e as coisas são um pouco mais complicadas no segundo. Isso porque ele é composto basicamente por bário, que pode emitir radiação. Mas a Marie não está convencida que toda essa radiação vem do bário e continua analisando o minério. O resultado é que ela
descobre mais um novo elemento, esse 900 vezes mais radioativo que o urânio. Ela dá a ele o nome de "rádio". O passo seguinte é isolar esses novos elementos. Mas o laboratório não é equipado para isso. Bom, mas eles acabaram de descobrir dois elementos químicos novos, então, é claro que conseguiram um laboratório cheio de equipamentos modernos e até com internet com fibra ótica que nem existia naquela época, né? Não! Tudo que a escola consegue dar para eles é uma cabana abandonada, com pouca ventilação e goteiras. Sim, goteiras! Então eles mudam seu trabalho para essa modesta cabana.
"Foi nessa cabana velha e miserável que passamos os melhores e mais felizes anos de nossas vidas, devotando dias inteiros ao nosso trabalho." "Frequentemente eu tinha que preparar nosso almoço na cabana para não interromper uma operação particularmente importante." Com essa falta de recursos, o trabalho da Marie se torna bem difícil. Mas depois de três anos ela finalmente consegue isolar, ou seja, extrair daquele minério uma pitadinha de cloreto de rádio. Isso não é rádio puro, mas é o suficiente para provar sua descoberta. Então, em 1900, o casal apresenta a substância no primeiro Congresso Internacional de Física, em
Paris, e a platéia fica chocada ao ver que o cloreto de rádio emite luz própria. A descoberta do rádio não mexeu só com o mundo acadêmico. Uma das pesquisas do Pierre mostra que o elemento pode destruir tecido biológico doente. Isso causa uma revolução na indústria farmacêutica, que enxerga aí um possível tratamento para o câncer. Essa é a base da radioterapia, que usa a radiação para eliminar células cancerígenas e é usada até hoje. Vários empresários querem falar com a Marie e o Pierre. Mesmo assim, eles não ganham nada com suas descobertas e eles não se importam
com isso. Ambos acham que a ciência é um instrumento para beneficiar a humanidade e não para obter lucro pessoal. Bem, eles não ganham dinheiro nenhum com suas descobertas, mas pelo menos ficam bem conhecidos. Tanto que a Universidade de Genebra, na Suíça, convida o Pierre para trabalhar lá. Só que, como muitos cientistas franceses não querem que o casal vá embora da França, a Sorbonne decide contratar o Pierre para ensinar física no curso de medicina. Porém, a vida do casal está longe de ser fácil. O Pierre mantém seu trabalho na escola onde eles usam o laboratório e
agora dá aulas na Sorbonne. Então, agora Marie pode falar que o seu marido tem dois empregos, mas isso não impede ela de trabalhar. A Marie vai dar aula numa escola que forma professoras. Aliás, ela é a primeira mulher a dar aula nesse lugar. Sim, é isso mesmo que você ouviu. Ela é a primeira mulher professora a dar aulas em uma escola para mulheres professoras. Agora vem cá, vocês estão ouvindo eu falar que eles passaram anos mexendo com elementos radioativos, inclusive comendo em uma cabana fechada com esses elementos. Isso não é perigoso não? Extremamente perigoso! Mexer
com elementos radioativos sem proteção é absurdamente nocivo. E essa falta de conhecimento começa a afetar o casal. Pierre começa a sentir fortes dores no corpo e Marie perde dez quilos durante sua pesquisa. Além disso, os dois têm dedos bem machucados pelo contato direto com os materiais radioativos. A questão é que eles não fazem ideia da relação entre sua saúde e os elementos que manipulam. Por isso, eles continuam trabalhando sem grandes preocupações. Lembram que a Marie fez pesquisa com os elementos radioativos para sua tese? Ela defende essa tese na Sorbonne em 1903, e se torna a
primeira mulher a receber um diploma de doutorado na história da França. E logo chega a notícia de que a descoberta da radioatividade seria indicada para o Prêmio Nobel. Mas o prêmio só vai contemplar o Pierre e o Henri Becquerel! Peraí, e a Marie? Bem, a Marie é mulher e na sociedade da época, muita gente sequer considera que uma pesquisa científica desse porte possa ser feita por uma mulher. Nisso, um dos membros do comitê que define os indicados ao Nobel escreve uma carta para o Pierre alertando que querem deixar a Marie de fora dessa história. O
Pierre não perde tempo e escreve para o comitê, insistindo que a Marie também seja considerada para a premiação. Com isso, o pessoal do Nobel tem o bom senso de pensar melhor sobre o assunto. O resultado é que em 1903, o Becquerel, o Pierre e a Marie recebem o Nobel de Física pela descoberta da radioatividade. Vale lembrar que o Nobel nessa época é um prêmio bem recente, mas já é muito importante. E a Marie Curie é a primeira mulher desta área a conquistar essa premiação. Aí sim, a vida do casal começa a melhorar de verdade. O
Pierre recebe um upgrade na Sorbonne, passando a dar aulas na Faculdade de Ciências e com direito a um laboratório que é comandado pela Marie. Mas a grande mudança é a fama, porque o Nobel transforma o casal em grandes celebridades. "Esse acontecimento aumentou muito a publicidade sobre nosso trabalho." "Durante um tempo, não havia mais paz." "Visitantes e pedidos para palestras e artigos nos interrompiam todos os dias." É nessa época que nasce a segunda filha do casal, Ève, no final de 1904. Então está tudo muito bem, mas aí a tragédia volta a cruzar o caminho da Marie,
que está com 37 anos. A agenda de Pierre Curie para o dia 19 de abril de 1906 está cheia. Ele começa o dia no laboratório e, no final da manhã, parte para uma série de compromissos. Chove forte. Pierre apressa o passo rumo a um almoço na Associação dos Professores da Faculdade de Ciências. Depois, ainda deve se encontrar com o seu editor e visitar uma livraria. Após o almoço, a tempestade continua. Pierre chega à Rua Dauphine, vai direto para o escritório do seu editor e encontra as portas trancadas, Para escapar da chuva, Pierre corre para atravessar
a rua. No meio do caminho, escorrega e cai bem na frente de uma carroça. O veículo carrega seis toneladas de uniformes militares e não pára a tempo. Sua roda passa por cima da cabeça de Pierre, que morre instantaneamente. Os parisienses que assistem a cena sequer imaginam que a vítima, deitada na rua e com seu sangue se misturando à água da chuva, é um dos cientistas mais respeitados do mundo. O Pierre morre no começo da tarde, mas Marie Curie só é avisada disso no final do dia. A notícia cai como uma bomba na cabeça da Marie,
mas ela sequer tem tempo de entrar em choque porque precisa providenciar para que o corpo do Mariedo seja levado para casa. Ela só chora no dia seguinte, quando encontra o irmão de Pierre, mas as lágrimas caem por apenas alguns minutos, porque ela precisa cuidar dos preparativos para o enterro. Uma curiosidade é que dentro do caixão, Marie deixa a foto dela que o Pierre mais gostava para que eles continue juntos por toda a eternidade. A tragédia da morte de Pierre é assunto em jornais do mundo inteiro. "Devastada pelo golpe, eu não me sentia capaz de encarar
o futuro." "Porém, não podia esquecer aquilo que meu Mariedo dizia às vezes:" "mesmo sem ele, eu deveria continuar meu trabalho." Logo depois do enterro, a Marie fica sabendo que o governo francês quer pagar uma pensão para ela e as filhas. E a Marie responde que "Não, muito obrigada", "Eu tenho condições de sustentar a minha família." Pouco depois, ela recebe outra proposta: A Sorbonne quer que a Marie assuma a cadeira do Pierre na universidade. Assim, ela se torna a primeira mulher a dar aula na prestigiada Sorbonne. Mais uma vez, a Marie Curie é pioneira e abre
caminho para outras mulheres. Ela faz isso pensando na sua carreira, mas também na memória do Pierre. A Marie quer criar um laboratório moderno para homenagear o Marido e sabe que dar aulas na Sorbonne é um bom caminho para isso. Mas esse sonho ganha corpo mesmo graças ao prestígio adquirido pelo trabalho de Marie. Muitos de seus amigos cientistas são próximos de políticos influentes e eles acabam mexendo alguns pauzinhos para isso acontecer. Como vocês viram, a virada do século XIX para o XX é repleta de avanços científicos e tecnológicos. Isso contagia muitas pessoas na França, incluindo políticos,
especialmente aqueles com pensamentos mais progressistas, que passam a valorizar muito a pesquisa científica. Essa mistura de ciência e política muda a vida da Marie na forma de uma parceria. De um lado, a Sorbonne, financiada pelo governo. Do outro, o Instituto Pasteur, uma instituição privada criada pelo famoso químico e biólogo Louis Pasteur, inventor da vacina contra a raiva. Desse encontro surge a ideia de construir o Instituto do Rádio, um complexo de pesquisa com dois laboratórios modernos para estudar a radioatividade. Um será o Laboratório Pasteur, coordenado por um médico e o outro, o laboratório Curie, liderado pela
Marie. Esse complexo enorme ainda precisa ser construído. Então, enquanto isso é feito, vamos continuar a nossa história. A Marie não abandona as suas pesquisas e volta para o seu laboratório para continuar os estudos sobre o rádio. Dessa vez, com a ajuda do químico André-Louis Debierne, amigo dela e de Pierre. E em 1910, os dois conseguem finalmente isolar um pouco de rádio puro, comprovando definitivamente que ele é um elemento químico. Nessa época, a Marie também cria uma unidade de medida padrão para emissões radioativas. Com o tempo, essa unidade internacional passa a ser chamada de Curie. Então,
mesmo com a morte do Pierre, suas pesquisas continuam a todo vapor e ela se firma cada vez mais como um dos maiores nomes da ciência da época. É aí que uma parte da sociedade francesa resolve declarar guerra à Marie Curie. No século XVI, a França é uma das nações mais poderosas da Europa e um dos maiores tesouros da nação é a Academia Francesa de Ciências. Criada em 1666 pelo rei Luís XIV, a instituição está à frente de diversos avanços científicos europeus da Idade Moderna. Em 1910, uma vaga é aberta na Academia. Marie Curie, uma das
maiores cientistas da França, se lança como candidata, esperando ser aprovada pelos membros da instituição. Mal sabe ela que isso dá início a um verdadeiro embate político na França. Em 1910, para surpresa de zero pessoas, a Academia Francesa de Ciências não aceita mulheres. Mas o maior problema da candidatura da Marie é seu adversário na disputa pela vaga, o físico francês Eduárd Branlí. Se você assistiu o meu documentário sobre o Tesla, você sabe que o italiano Guilherme Marconi é visto como o pai do telégrafo sem fio, mesmo com vários experimentos do Teslanes sa área. O Branlí também
fez vários estudos nesse campo. Então alguns franceses ficaram ofendidos quando Marconi ganhou o Nobel sozinho. Mas a grande questão é que o Branlí é católico fervoroso, inclusive foi até mesmo elogiado pelo Papa. Mas o que ele ser católico tem a ver com ciência? Nada. Mas tem a ver com política. Nessa época, a política francesa vivia um racha. De um lado, políticos progressistas que valorizam a ciência. Do outro, conservadores, católicos. Esses dois grupos brigam sobre absolutamente tudo, completamente diferente de hoje em dia não é verdade? A disputa pela vaga da Academia Francesa cai nessa polarização. Afinal,
o Branlí é homem, francês e católico. E a Marie não é francesa e, acima de tudo, é mulher. Vale dizer que a Marie é agnóstica, então ela não descarta a possibilidade da existência de Deus, mas, por outro lado, entende que não existe uma evidência de que alguma divindade realmente exista. A mãe da Marie era católica, mas a Marie deixou a fé de lado quando era criança. Depois das mortes da mãe e da irmã. É claro que os conservadores católicos também não gostam nada da visão de mundo dela. A partir desse contexto, começa uma batalha vergonhosa
na imprensa, com jornais conservadores atacando a Marie de forma selvagem. Como o antissemitismo na época é muito forte, alguns jornais dizem que ela é judia e esconde isso das pessoas. Isso sem falar nos ataques que ela sofre por não ser francesa. O resultado, claro, é que a Marie perde a vaga para a academia, mas olha, ela perdeu só por dois votos. Aí fica a pergunta será que se o adversário do Branlí fosse um homem estrangeiro, essa imprensa teria feito ataques desse nível? É, fica aí a pergunta, né? Pouco tempo depois, essa mesma imprensa volta a
atacar a Marie, dessa vez usando a sua vida pessoal. Mas para contar isso eu preciso falar das Conferências Solvey. Lembra da foto mais inteligente do mundo, do começo do vídeo? Como vocês viram, a foto é de 1927. Essa é a quinta vez que cientistas desse calibre se encontraram. Esses eventos foram criados pelo industrial belga Ernest Solvay, e acontecem até hoje. A primeira conferência Solvay só acontece em 1911, na Bélgica. A Marie é a única mulher do encontro que conta com o Max Planck, um dos pais da teoria quântica, e Ernest Rutherford, que também pesquisa radiação.
E Albert Einstein, que fica bastante amigo da Marie. Mas o que importa para nós é esse cientista, o físico Paul Langevin, que tinha sido aluno do Pierre e era amigo da Marie. Ela e o Langevin se aproximam depois da morte do Pierre e em 1910 essa amizade vira um romance. Essa história chega na imprensa que sabe que Langevinn é casado e tem quatro filhos. A verdade é que ele e a esposa nem moram mais juntos, pois o casamento só existe no papel, mas a imprensa não quer nem saber disso. Aí começa o massacre. A Marie
e o Langevin estão na Bélgica e os tablóides em Paris estão massacrando a Marie. E claro, a misoginia corre solta. Muitas manchetes a colocam como uma estrangeira imoral que destruiu uma família francesa, e alguns jornais ainda chegam a insinuar que o romance começou quando Pierre estava vivo e que ele teria se suicidado por causa disso. O negócio é selvagem. O resultado dessa grande polêmica é o pior possível. A Marie volta para a França e dá de cara com uma multidão enfurecida cercando sua casa. Aí ela pega as filhas que estão dentro de casa aterrorizadas, e
vai se esconder na casa de amigos. Mas não adianta. Durante um bom tempo, esses jornais continuam atacando a Marie de todas as formas possíveis. "Eu considero abominável qualquer invasão da imprensa e do público na vida privada." "Esta invasão é particularmente criminosa quando envolve pessoa as que devotaram abertamente suas vidas para preocupações maiores e de utilidade pública." Agora precisamos pausar a nossa história, porque é justamente quando a Marie está no meio desse furacão que ela consegue uma das conquistas mais importantes da sua vida. Aliás, uma conquista que nenhum outro cientista, seja ele homem ou mulher, conseguiu.
O Nobel de Física de 1903 foi exclusivamente pela descoberta da radioatividade. Na época, ninguém nem pensou em incluir as descobertas do rádio e do polônio no prêmio, porque alguns químicos ainda queriam ver esses elementos com mais cuidado. Por outro lado, vários cientistas falaram que isso poderia sim, até mesmo valer outro Nobel. E foi exatamente isso que aconteceu. Como em 1910 a Marie isola o rádio puro e comprova definitivamente que ele é um elemento químico, sua pesquisa com rádio e polônio voltou a ficar em evidência no meio científico. Assim, em 1913, ela recebe o Nobel de
Química pela descoberta desses elementos. E esse prêmio firma a Marie Curie como um dos maiores nomes da história da ciência de todos os tempos. Veja bem, nenhum outro cientista ganhou o Nobel em áreas científicas diferentes. Sim, existem pesquisadores que ganharam o prêmio duas vezes na mesma área. E tem o caso do Linus Pauling, que ganhou o Nobel de Química e o Nobel da Paz, mas vencer o Nobel em duas áreas científicas diferentes, isso só a Marie Curie conseguiu. Num mundo ideal, seria nesse momento que os tablóides franceses iriam se ajoelhar e pedir perdão para Marie
Curie! Mas no mundo real os ataques continuam e isso começa a cobrar um preço muito alto na saúde dela. Abalada demais, a Marie volta a apresentar sintomas de depressão e também é diagnosticada com problemas nos rins. Em 1912 ela vai tratar esses problemas numa clínica e passa por uma cirurgia. Os médicos são claros, repouso total. Então ela só volta a trabalhar no final do ano. Uma curiosidade: ela e Langevin acabam não ficando juntos, mas uma virada do destino, seus netos se casam décadas depois. Mas, vem cá... E aquele título de rádio ficou só na promessa?
Nada disso! A construção do Instituto está a todo vapor numa rua chamada Pierre Curie, mas quando a obra termina, todos os funcionários foram convocados para o Exército. Afinal, o Instituto fica pronto em agosto de 1914, poucos dias depois do começo da Primeira Guerra Mundial. "Estou decidida a colocar todas as minhas forças a serviço do meu país adotivo, já que eu não posso fazer nada pelo meu desafortunado país natal neste momento." Em 1914 explode a Primeira Guerra Mundial, o que dá início a batalhas em diversas partes do globo, especialmente na Europa. E dois cenários destes combates
são muito importantes para Marie Curie. Um deles é a Polônia, com seu território ainda dividido e controlado por outras nações, a Polônia é palco de muitos conflitos na chamada Frente Oriental. O outro é a França. Logo nos primeiros meses da guerra, o território francês é invadido pelas tropas alemãs. Tentando defender sua pátria, os soldados franceses começam a participar de algumas das maiores e mais violentas batalhas da Primeira Guerra. Os raios-X podem salvar muitos soldados feridos. A Marie sabe disso. O problema é que as máquinas de radiografias ficam em hospitais, longe dos campos de batalha. Então
ela tem a ideia de adaptar um carro colocando no veículo equipamentos de raio-X ligados a um gerador alimentado pelo motor. Assim, as radiografias podem ser feitas perto do front de batalha. Mas o exército francês não quer bancar essa ideia. Então, a Marie fala com a união das mulheres da França, que dá grana para o primeiro carro. Depois ela pede para mulheres da alta sociedade doarem veículos e treina voluntárias para operar os equipamentos. Não demora muito e a Marie tem 20 carros e uma equipe de 150 mulheres que vão para o front. E esses veículos logo
ficam conhecidos entre os soldados, como os pequenos Curie, ou Curiezinhos. Quando a guerra começa, a Marie fica só ali em Paris? Que nada! Ela corre para estudar anatomia, aprender a dirigir e a trocar pneus e a consertar motores e se manda para o front. Isso mesmo! Ela mesma comanda um pequeno Curie tirando raios-X de soldados no campo de batalha com sua filha de 17 anos, Irène. Um ano depois, Irène está tão craque que assume o seu próprio pequeno Curie. No final da guerra, a Marie relata essa experiência no livro Radiologia na Guerra. Mas sabe o
que é irônico? Quando a guerra termina, o governo francês entrega uma medalha... para Irène! A Marie não é homenageada porque, acredite se quiser, mesmo depois de tudo isso, ainda tem gente na França que olha torto para ela por causa do caso Langevin. Mas ela não tem só haters, não! Muita gente na França admira a importância do trabalho dela. É o caso do milionário Henri de Rothschild, que banca a criação de uma fundação para alavancar as pesquisas da Marie. É assim que em 1920, nasce a Fundação Curie, criada para bancar o Instituto do Rádio. De um
lado, a fundação recebe doações, do outro, o Instituto faz pesquisas com esse dinheiro e o sonho de transformar o Instituto no grande legado do Pierre ganha ainda mais força nesse mesmo ano, quando a Marie dá uma entrevista para uma revista dos Estados Unidos. Na entrevista, Marie diz que possui apenas um grama de rádio para suas pesquisas e adoraria ter mais um grama. A jornalista não perde tempo e cria a campanha do rádio para a Marie Curie, recebendo doações de mulheres de todas as partes dos Estados Unidos. Com isso, em 1921, a Marie arruma as malas
e vai para os Estados Unidos. Na viagem, a Marie tem um evento atrás do outro. Todo mundo quer se encontrar com ela. Toda a universidade quer fazer uma homenagem. Nessa altura, a Marie está com 54 anos e é uma verdadeira lenda da ciência. Basta ela aparecer no evento com sua aparência frágil e sempre vestida de preto, que chovem doações para a Fundação Curie. A viagem é um verdadeiro sucesso! A Marie consegue doações em dinheiro, suprimento de minério radioativo e equipamentos novos e ganha seu segundo grama de rádio das mãos do presidente dos Estados Unidos em
um evento na Casa Branca. A jornalista que cria a campanha também sugere que a Marie escreva uma autobiografia. Ao invés disso, ela escreve a biografia do Pierre, mas incluindo textos em que conta sua própria trajetória. Esse livro, lançado em 1923, é a fonte de algumas frases da Marie que vocês estão vendo neste vídeo. Com tudo isso, o Instituto do Rádio se torna referência mundial no estudo de radioatividade e a Marie se firma como um dos maiores nomes da ciência mundial e também como uma das pessoas mais influentes da época. Uma prova disso acontece em 1922,
quando ela passa a integrar o Comitê Internacional de Cooperação Intelectual da Liga das Nações, uma entidade que é basicamente a ONU, antes da criação da ONU. Esse Comitê reúne vários cientistas de renome, como seu amigo Albert Einstein, e tem a missão de debater e promover assuntos científicos e culturais. No meio disso estão as viagens internacionais, especialmente desde sua visita aos Estados Unidos, a Marie recebe muitos convites para visitar outros países, como Tchecoslováquia, Brasil e Espanha. Sim, você ouviu direito, Brasil! Em 1926, a Marie e sua filha e Irène ficam um mês e meio no nosso
país. A Marie passa pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte dando palestras sobre radioatividade. Também visita o Instituto Butantã, em São Paulo, e o Instituto de Rádio de Belo Horizonte, que hoje pertence à UFMG. Mas claro que a Marie e a Irène também aproveito para turistar conhecendo pontos turísticos mais famosos do Rio. E uma curiosidade legal é que em São Paulo ela dá uma viajada rápida para a cidade de Águas de Lindóia, que é famosa justamente por suas águas radioativas. Entre as pessoas que recebem a Marie por aqui está uma figura muito importante,
a bióloga brasileira Bertha Lutz. A Bertha também é formada na Sorbonne e é muito engajada nas lutas por educação e pelos direitos das mulheres. São duas forças muito grandes da ciência que se encontram aqui no Brasil. Agora, mesmo com todas essas viagens e atividades, a grande paixão da Marie está mesmo em Paris. É o Instituto do Rádio que, como vocês podem imaginar, é muito plural. Entre suas dezenas de pesquisadores estão homens e mulheres, franceses e estrangeiros. Um desses cientistas é um rapaz chamado Frédéric Julio, que se apaixona por outra pesquisadora do local e Irène Curie.
Assim, a Irène repete a história dos pais. Ela e o Frédéric se casam em 1926 e passam a fazer essas pesquisas juntos. Bem, então podemos dizer que a Marie cumpriu a sua missão e criou um instituto que honrasse a memória e o legado do Pierre, certo? Sim. Mas não podemos esquecer que o Pierre foi um dos grandes amores na vida da Marie. Faltava outro. A Polônia! Isso começa a ser resolvido em 1925, com a criação de um segundo Instituto de Rádio em Varsóvia. A arrecadação de fundos para a construção desse instituto rola em duas frentes:
uma na França, comandada pela Marie e outra na Polônia, liderada por sua irmã Bronia. Isso leva Marie de volta aos Estados Unidos em 1929, quando é feita uma nova campanha para financiar mais um grama de rádio. A Marie passa de novo pela Casa Branca, desta vez sendo recebida pelo presidente Herbert Hoover. Esse grama de rádio é enviado para o Instituto do Rádio de Varsóvia, que é inaugurado em 1932, com Bronia como a diretora. E claro que a Marie está na inauguração, afinal, ela está realizando uma das maiores missões da sua vida levar conhecimento científico para
o povo polonês. E ela aproveita a ocasião e passeia por Varsóvia, matando a saudade dos locais por onde caminhava quando criança. Uma coisa que chama a atenção das pessoas é que a saúde da Marie está ficando cada vez mais frágil. Durante os anos 1920, ela sofre de catarata, chegando a um ponto em que mal consegue enxergar. Só recupera a visão depois de quatro cirurgias. Hoje sabemos que a exposição à radiação pode ser uma das causas dessa doença. Mas nos anos 1930 a questão não é a sua visão e sim sua saúde de forma geral. Porém,
mesmo visivelmente mais fraca, ela continua trabalhando. Um dos seus principais focos é escrever seu livro chamado Radioatividade. Ela prefere trabalhar no Instituto, mas alguns dias, escreve em casa, porque se sente cansada demais para sair. Ao mesmo tempo, ela não para de receber homenagens. Em 1931, por exemplo, ela recebe uma medalha do Colégio Americano de Radiologia. E essa ocasião é muito especial, porque o evento é filmado. Vocês vão ver agora o único registro que existe da voz da Madame Curie. Mas sua última grande alegria científica acontece no seu lugar preferido: um laboratório. No começo de 1934,
a Irène e o Frédéric conseguem literalmente criar um elemento radioativo em suas pesquisas. Em outras palavras, eles inventam a radioatividade artificial e a Marie, que está com 66 anos, não poderia ter mais orgulho dos dois. Alguns meses depois, a Marie está no Instituto e se sente indisposta. Percebendo que está com febre, decide ir para casa no meio da tarde. Ao passar pela porta, ela nem imagina que nunca mais voltaria para o Instituto que construiu. Os médicos desconfiam que Marie está com tuberculose e recomendam uma temporada num hospital, numa região montanhosa, mas ela está muito debilitada
e mesmo no hospital, parece apenas piorar. Novos exames são feitos e mostram que a Marie não sofre de tuberculose. Mesmo assim, ela fica cada vez mais doente. Na noite de 3 de julho, sua febre parece baixar um pouco. Será que o tratamento está começando a fazer efeito? Bem, nem a Marie acredita nisso. Ela diz para sua filha Ève, que está se sentindo um pouco melhor por causa do ar puro das montanhas e não por causa dos remédios. Poucas horas depois, nem mesmo esse ar puro parece ajudar mais e a Marie entra em coma. Na manhã
do dia seguinte, 4 de julho de 1934, assim que os primeiros raios de sol iluminam o quarto, o mundo dá adeus à Madame Marie Curie, a maior cientista da história. "Eu estou entre aqueles que acham que a ciência tem enorme beleza." "Um cientista em seu laboratório não é apenas um técnico." "Ele é também uma criança diante de fenômenos naturais que o impressionam como um conto de fadas." Alguns meses depois do mundo perder a maior cientista de todos os tempos, o livro Radioatividade, escrito por ela, foi lançado de maneira póstuma. Ainda em 1935, sua filha e
Irène e o Frédéric recebem o Prêmio Nobel de Química pela criação da radioatividade artificial. Olha só o nível dessa família! Em 1970, a Fundação Curie e o Instituto do Rádio se fundem, formando o Instituto Curie, um dos principais centros de pesquisa, educação e tratamento de câncer no planeta. A Marie é enterrada num pequeno cemitério ao lado do Pierre. Mas em 1995, o governo francês que, verdade seja dita, nunca soube dar o valor que o casal Curie merecia quando eles estavam vivos, finalmente, reconhece a importância dos dois. Assim, os restos mortais do Pierre e da Marie
são exumados e transportados para o Panteão de Paris, um monumento onde grandes nomes da nação francesa estão sepultados. Mais de 60 anos depois de sua morte, Marie Curie quebra outra barreira e se torna a primeira mulher a ser sepultada no Panteão por todo seu trabalho e suas descobertas. O seu caixão é lacrado com chumbo, pois o seu corpo ainda é radioativo. Vários pertences da Marie, como seus diários, também estão contaminados com radiação e permanecerão isolados por mais 1500 anos. A Marie Curie morreu devido à anemia plástica, uma doença que atinge a medula óssea e pode
ser causada por exposição à radiação. Por isso, em 1995, teve gente que ficou surpresa quando o corpo da Marie foi exumado e os médicos descobriram que ele não tinha níveis letais de rádio. O que essas pessoas podem ter esquecido é que a Marie não manuseava apenas rádio. Durante boa parte da sua vida, ela mexeu também com urânio, tório, polônio e outros elementos radioativos. Isso sem falar nas milhares de radiografias que ela tirou na Primeira Guerra. Então, provavelmente a doença da Marie foi causada por toda essa exposição à radiação que ela sofreu durante décadas. Então podemos
dizer que a Marie deu a sua vida pela ciência? Sim, isso ganha ainda mais sentido quando pensamos que desde menina ela enxergava o conhecimento como a chave para um mundo melhor para todos. Então, a verdade é que Madame Curie viveu e morreu em nome daquilo que acreditava. A história da Marie Curie não é apenas a de uma garota que deixa um país oprimido e se torna uma das maiores cientistas do mundo. É a história de uma mulher que enfrenta toda uma sociedade na qual as mulheres não possuem espaço nem voz, muito menos oportunidades. Por isso,
a trajetória da Marie é, antes de tudo, uma história de luta. Ela fez muito mais do que desafiar autoridades russas, que não queriam que ela estudasse. Ela também enfrentou homens que se achavam melhores que ela, instituições que não queriam abrir espaço para ela e governos que relutavam em dar o valor que ela merecia. Sua vida esteve longe de ser fácil, mas o importante é que entre vitórias e derrotas, ela nunca desistiu. Marie Curie nunca abaixou a cabeça para ninguém e nunca deixou de acreditar na ciência e, principalmente, nunca deixou de acreditar em si mesma. Então
ela não é apenas uma das maiores cientistas de todos os tempos. Ela é um exemplo que segue vivo. Basta pensar que sem mulheres como Madame Curie, dificilmente teríamos tantas cientistas e pesquisadoras criando um mundo melhor como temos hoje em dia. Sem Madame Curie, o universo seria um lugar com muito menos conhecimento. E agora que estamos chegando no final desse documentário, eu gostaria de pedir gentilmente para você se inscrever no canal clicando aqui ou na parte de baixo tem um logozinho do Nostalgia e também me seguir lá no Instagram, @fecastanhari. Lembrando que você pode clicar no
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mais para temer menos." Obrigado pela sua audiência. Tchau! Lembrando que toda a pesquisa e revisão do canal é feita pelos especialistas do FTD Sistema de Ensino. Uma parceria que nos ajuda a trazer sempre o melhor conteúdo para vocês.