Schopenhauer: Por Que Você Está Sempre Insatisfeito

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Fortaleza do Conhecimento
Por que você nunca se sente completo? Por que, mesmo depois de conquistar o que queria, surge outra ...
Video Transcript:
Existe um desconforto que nos acompanha desde sempre, uma sensação de que, por mais que tentemos, algo está sempre faltando. Desejamos, conquistamos, mas a satisfação escapa pelos dedos, dando lugar a novos anseios, novas inquietações. Porque viver parece ser essencialmente um esforço constante e exaustivo?
Arthur Schopenhauer foi um dos poucos filósofos a encarar essa pergunta. sem rodeios, propondo que o sofrimento não é um acidente da vida, mas sua essência. Neste vídeo vamos falar sobre essa visão implacável da existência, sobre como o desejo nos aprisiona em um ciclo de frustração e dor, e quais caminhos, ainda que difíceis, podem nos libertar, mesmo que temporariamente desse fluxo interminável de querer.
É uma jornada por uma filosofia que, ao invés de prometer consolo, oferece lucidez. Mas antes de continuar, já deixa o like e se inscreve no canal. Isso ajuda muito a manter esse conteúdo no ar.
Existe uma forma particular de lucidez que nasce quando se encara o mundo, não com entusiasmo, mas com uma dose de desconfiança. Vê-lo como um lugar hostil, onde a maior conquista talvez seja encontrar um pequeno abrigo longe das maiores dores exige coragem. Foi com esse espírito que, aos vinte e poucos anos, Friedrich Nietzs teve um encontro marcante.
Em uma visita despretenciosa a uma livraria, depou-se com um volume que mudaria completamente o rumo de sua vida. O mundo como vontade e representação de Arthur Schopenhauer. Como se algo invisível o impulsionasse, levou o livro para casa e ali sozinho, começou a ser consumido por uma filosofia.
que não oferecia promessas, mas que paradoxalmente parecia mais verdadeira, justamente por não prometer nada. Nietzsche descreveu esse primeiro contato como um impacto silencioso, quase sombrio. Era como se tivesse encontrado um espelho que não suavizava os contornos da dor, da contradição e da violência presentes na vida.
E ele não foi o único. K. Jung, ainda em sua juventude, também sentiu esse chamado.
Procurava pensadores que não se esquivassem das questões mais incômodas. Foi então que, entre tantas vozes filosóficas, encontrou em Schopenhauer alguém que ousava dizer o que poucos admitiam. O sofrimento é parte estrutural da existência, não um acidente de percurso.
Diferente dos filósofos que pintam a realidade com cores harmônicas e palavras reconfortantes, Schopenhauer confrontava diretamente aquilo que muitos preferem ignorar. Recusava-se a suavizar os aspectos mais duros da vida com ideias de ordem divina ou de evolução moral contínua. Em vez disso, apontava para uma falha inata, uma ruptura que não poderia ser corrigida por vontade, fé ou progresso.
Sua proposta era audaciosa, compreender o que está por trás da cortina do mundo visível. Não bastava olhar para o que se mostra. Era preciso sondar o que sustenta esse cenário, mesmo que isso significasse encontrar uma origem cega, irracional e impassível.
Ele acreditava que essa realidade última, situada fora das categorias de tempo e espaço, era o ponto de partida para qualquer tentativa honesta de compreender o sofrimento. Mas sua curiosidade não era apenas teórica. Havia uma urgência em sua busca entender porque tudo parece tão saturado de dor, de insatisfação e de frustrações repetidas.
O verdadeiro enigma, segundo ele, não era simplesmente o fato de o mundo existir, e sim o fato de ele ser assim, como é marcado por conflitos incessantes, por desejos que se devoram, por vidas que se repetem na mesma angústia fundamental. Contudo, esbarramos em um limite inevitável. Aquilo que acessamos através dos sentidos, o que vemos, ouvimos, tocamos, é apenas a casca das coisas.
A realidade que nos cerca espetáculo, como superfície. Vemos rostos, formas, movimentos, mas não tocamos a essência. Somos como espectadores que observam um palco sem nunca terem acesso aos bastidores.
O filósofo Kant argumentou que é impossível conhecermos a realidade como ela é em si mesma. Tudo aquilo que percebemos é filtrado pelos nossos sentidos e pelas estruturas mentais que moldam nossa experiência. Nunca temos acesso direto ao que ele chamou de coisa em si.
apenas as aparências que essas coisas nos apresentam. Podemos falar sobre o mundo como ele nos parece, mas isso é, no fundo, apenas uma descrição do nosso próprio ponto de vista. A pergunta inevitável que surge é: seria possível escapar dessa prisão perceptiva?
Poderíamos, de algum modo, alcançar um conhecimento que não esteja limitado por nossos próprios olhos? Schopenhauer concordava com Kant nesse limite, mas via uma falha importante na conclusão. Enquanto Kant sustentava que não há meio de atravessar o véu das aparências, Schopenhauer apontava para uma exceção crucial.
Há sim um objeto no mundo cuja essência nós não apenas percebemos de fora, mas também vivenciamos por dentro, nós mesmos. Quando olhamos para o espelho, vemos o corpo como mais uma imagem entre tantas. No entanto, ao mesmo tempo, experimentamos esse corpo e essa mente a partir de dentro.
Temos consciência de impulsos, vontades, dores e desejos sem a mediação dos sentidos externos. Essa vivência interna, segundo ele, é a chave que pode nos conduzir ao que há de mais real. Por esse motivo, ao invés de buscar uma verdade objetiva no mundo lá fora, Schopenhauer propôs um movimento inverso, voltar-se para dentro, não para encontrar consolo, mas para sondar a estrutura fundamental do nosso próprio ser.
Ele reconhecia que enquanto nos mantivermos na esfera do conhecimento voltado para os objetos externos, estaremos inevitavelmente limitados à aparência das coisas. Mas como nós mesmos somos parte dessa realidade profunda, existe um caminho subterrâneo, um acesso direto à essência, não pelos sentidos, mas pela introspecção. A metáfora é clara.
Não se trata de tomar de assalto a fortaleza do real, mas de encontrar uma passagem escondida que nos leve direto ao seu interior. E o que encontramos quando atravessamos essa passagem? Segundo Schopenhauer, aquilo que pulsa no centro do nosso ser é um impulso constante, um movimento sem descanso.
Não há paz nem estabilidade. Existe apenas uma sucessão interminável de desejos. Queremos, ansiamos, buscamos algo e quando alcançamos, logo passamos a querer outra coisa.
Essa força que nos move não depende da razão, nem de uma vontade consciente. Ela está ali antes mesmo do pensamento, estruturando tudo o que fazemos. Nossa essência não é contemplativa, mas desejante.
Vivemos em função de satisfazer impulsos que, em última instância, servem a dois propósitos fundamentais: manter-nos vivos e garantir a continuidade da espécie. O impulso pela sobrevivência se manifesta de formas variadas. O desejo por segurança, conforto, prazer e saúde.
A vontade que nos move não é racional, mas vital. E justamente por isso é insaciável. Nenhuma conquista nos satisfaz por completo.
Nenhuma realização encerra o ciclo. Há sempre algo a ser buscado, algo que falta, algo que ainda não foi alcançado. Essa condição de permanente carência que, segundo Schopenhauer, define a nossa existência e, por extensão, revela o verdadeiro caráter da realidade.
Mas o desejo humano não se limita à autopreservação. Ele também se expressa na ânsia de deixar descendência, de ser notado, de acumular poder, riqueza e reconhecimento. A partir dessa raiz, brota a busca por status, pelo desejo sexual, pela aprovação dos outros.
Schopenhauer observou que o ser humano quer existir a todo custo, quer existir sem dor, quer obter o máximo de prazer possível e satisfazer cada impulso que surgir. Essa vontade é a absoluta, cega e indiferente a qualquer idealismo. Não se trata de querer viver bem, mas de querer viver ponto final.
Mesmo quando isso implica sofrimento, desgaste ou frustração, a vida insiste em si mesma. Ao observar outros seres vivos, Schopenhauer percebeu que essa compulsão não é exclusiva do ser humano. Animais, insetos e plantas, todos revelam uma mesma estrutura básica, sobreviver e se reproduzir.
A natureza, quando vista sem romantismo, age com o mesmo objetivo em todas as formas de vida. A diferença entre o homem e os outros animais não está no conteúdo dessa vontade, mas apenas no modo como ela se manifesta. Onde o ser humano racionaliza, o animal simplesmente segue o impulso.
Mas ambos são movidos por uma necessidade que não pede permissão, nem oferece escolha. Em suas palavras, o que a natureza realiza por meio do homem é o mesmo que realiza por meio do bruto, alimentação e procriação. Essa ideia é levada a um nível ainda mais radical quando Schopenhauer propõe que mesmo no mundo inorgânico, existem indícios de uma vontade primitiva.
nos minerais, nas forças físicas, nos elementos que compõem a matéria aparentemente passiva, ele identifica uma forma embrionária de impulso. Os movimentos da gravidade, o comportamento dos campos magnéticos, a formação de cristais, tudo isso, segundo ele, revela uma espécie de esforço mudo, uma tendência a se organizar, a se unir, a se mover em direção a algo. É como se a matéria, mesmo sem consciência, estivesse animada por uma tensão interior.
Para ilustrar essa ideia, ele convida o leitor a observar como a água corre com insistência para baixo, como o imã gira obstinadamente em direção ao norte, como o ferro se atira ao encontro do magneto. Em cada uma dessas manifestações, por mais rudimentares que pareçam, é possível reconhecer um reflexo distante da mesma energia que sentimos em nós. A vontade.
A diferença está na forma. No ser humano, esse movimento é filtrado pela consciência. Na matéria, manifesta-se de maneira cega, repetitiva e rígida.
Mas a origem é comum. A essência que nos move está de algum modo presente também naquilo que julgamos inanimado. Assim, ao concluir que tudo no mundo, vivo ou não, é movido por esse princípio, Schopenhauer propôs que a realidade fundamental, o que ele chamou de fundamento do ser, é uma força metafísica cujo núcleo é o querer.
Não se trata de uma vontade consciente direcionada ou ética. É uma pulsação sem propósito, um impulso sem fim. A isso, ele deu o nome de vontade de viver ou simplesmente vontade.
Essa vontade, escreveu ele, é o que existe de mais profundo em todas as coisas. O que permanece quando se tira toda a aparência em cada fenômeno, em cada forma, em cada instante da existência, essa vontade se projeta, se impõe, se espalha com uma exuberância quase cruel. Para ele, a prova está em toda parte.
Basta olhar ao redor e notar a multiplicidade das formas, a urgência com que cada ser, cada partícula, cada célula parece disputar um lugar no palco da existência. Em cada um desses atos silenciosos, a vontade se revela como aquilo que não pode ser explicado por nada anterior, porque é justamente ela que está na origem de qualquer explicação possível, é o ponto final. e, ao mesmo tempo o ponto de partida.
Enquanto muitos filósofos imaginaram que a origem de tudo fosse dotada de consciência ou inteligência, Schopenhauer seguiu uma direção oposta, mais sombria, porém, em seu ver, mais honesta. Para ele, o fundamento de tudo o que existe não é uma mente onisciente, nem uma razão suprema, mas um impulso cego, sem direção, que apenas deseja continuar existindo. Essa força, que ele chamou de vontade, não possui objetivos elevados, nem um propósito final a cumprir.
Ela apenas se expressa incessante e desprovida de sentido, dando origem a formas de vida que, por sua vez, repetem o mesmo ciclo de busca, desejo e esforço, sem saber exatamente porquê. Não há razão para que a planta cresça, para que o cristal se forme ou para que os corpos sejam atraídos pela gravidade. Esses fenômenos não se dão em nome de um bem maior, mas simplesmente porque essa força subterrânea assim se manifesta.
Essa característica cega e irracional não se limita à natureza ao nosso redor, ela também está presente em nós. O que nos move não é a consciência, mas uma raiz mais profunda anterior ao pensamento que se revela nas pulsões e nos desejos. Nossa identidade consciente, o eu que pensa e age, não passa de uma camada superficial.
A verdadeira base do ser humano, segundo Schopenhauer, não é o sujeito racional, mas a vontade surda, incontrolável, alheia ao conhecimento. Vivemos, desejamos, lutamos para manter a vida e gerar mais vida, mesmo sem saber por fazemos isso. A existência individual é uma faísca lançada por essa força que nos impele a seguir adiante em direção a fins que desconhecemos.
Para Schopenhauer, tudo o que existe é apenas uma expressão temporária dessa vontade universal. A individualidade é uma aparência, uma ilusão que nos faz acreditar que somos entidades separadas, com histórias próprias e vontades independentes. Influenciado pelo pensamento oriental, especialmente pelas upanixades, ele via a multiplicidade como uma espécie de véu, uma ilusão chamada Maia.
O mundo dos fenômenos, com sua diversidade e separações, não passa de uma superfície ondulante sobre uma única realidade subjacente, a vontade una, a verdadeira substância de todas as coisas. Por trás da diversidade, tudo é um só. Entretanto, presos nesse vé de ilusão, os seres vivos não percebem sua unidade, ao contrário, agem como se fossem o centro do universo.
Cada organismo, desde o mais simples até o mais complexo, se comporta como se sua existência fosse a mais importante. O ser humano, em particular, é mestre nessa egocentralidade. Ele se coloca no foco de tudo e julga que sua dor, seu prazer e sua sobrevivência valem mais do que a de qualquer outro ser.
Schopenhauer afirmou que essa disposição egoísta não é um defeito moral, mas uma consequência inevitável da forma como a vontade se manifesta no mundo fenomênico. Cada indivíduo, tomado por sua ilusão de separação, está pronto para destruir tudo à sua volta, se isso significar a continuação de sua própria existência por mais um instante. Essa ilusão egóica, combinada à escassez dos recursos necessários à vida, leva inevitavelmente ao conflito.
Como a sobrevivência exige matéria, espaço e tempo. E como essas condições são limitadas, todos os organismos competem entre si. A existência se transforma em um campo de disputa, onde cada ser precisa destruir outro para continuar vivo, comer, defender território, buscar parceiros.
Tudo isso implica confronto. Heráclito, filósofo pré-socrático, já dizia que o conflito é o pai de todas as coisas. Schopenhauer escrevendo décadas antes de Darwin, antecipou uma noção semelhante, a de que a luta pela existência e a competição são as forças motoras do mundo vivo.
Nesse cenário, a violência, a mentira e a dominação não são desvios éticos, mas mecanismos naturais. A vontade quer viver e viver muitas vezes significa matar. Carl Jung, ao refletir sobre o impacto que a filosofia de Schopenhauer teve sobre ele, reconheceu que não foi apenas nos livros que encontrou confirmação para aquelas ideias.
Sua observação do mundo natural, peixes doentes e agonizantes, raposas com sarna, aves congeladas ou famintas, insetos despedaçando-se mutuamente num campo florido, já revelava uma realidade brutal, indiferente à ideia de uma natureza bondosa. Mas a confirmação mais contundente vinha da convivência com os próprios seres humanos. Para ele, como para Schopenhauer, a experiência cotidiana ensinava menos sobre qualquer suposta bondade inata e mais sobre um egoísmo enraizado que atravessa toda a forma de vida.
O ser humano, em sua busca por bem-estar, age com uma prioridade absoluta por si mesmo, frequentemente às custas dos outros. Do ponto de vista egoísta, toda essa violência parece ser resultado da competição entre indivíduos separados. Cada organismo parece agir em nome próprio, tentando sobreviver enquanto neutraliza ameaças ou elimina concorrentes.
No entanto, quando se adota a perspectiva proposta por Schopenhauer, essa explicação se desfaz. A multiplicidade dos seres é apenas uma aparência. Na realidade, tudo é expressão de uma única força, a vontade.
É ela que, ao se manifestar nas mais variadas formas de vida, acaba por se enfrentar, se destruir, se devorar. A vontade, por não encontrar nada fora de si, precisa alimentar-se de si mesma. Ela é, ao mesmo tempo, caçadora e presa, algoz e vítima, enganadora e enganada.
A tragédia do mundo, então, não está na maldade de seres isolados, mas no fato de que tudo o que sofre e tudo o que faz sofrer são expressões de uma mesma origem. A vontade se dilacera em suas próprias manifestações, como se mordesse a própria carne. Julian Young observou que, por essa razão, o mundo pode ser descrito como responsável por todo o horror que contém.
e ao mesmo tempo, como aquele que o suporta. Quando um predador rasga a carne de sua presa, é a própria vontade rasgando a si mesma. Não há separação real, apenas formas variadas de uma mesma essência em conflito permanente.
Diante disso, a ideia de um criador bondoso, responsável por arquitetar esse universo, soua absurda para Schopenhauer. Não há traço de intenção moral no tecido da existência. Se a vontade fosse uma divindade, o que ele rejeita, ela estaria mais próxima do demônio do que de qualquer ser benevolente.
Em suas palavras, qualquer Deus que ousasse se transformar neste mundo deveria necessariamente ser um espírito atormentado. O inferno descrito por Dante não precisou ser inventado. Bastou olhar à sua volta.
Para Schopenhauer, o mundo já é o inferno. Os homens são simultaneamente as almas em suplício e os demônios que perpetuam o sofrimento. Mas a crueldade não se limita às batalhas sangrentas por território ou sobrevivência.
Ela também está no cotidiano silencioso de cada ser humano. A essência de nossa condição, esse impulso incessante por algo que ainda não temos já nos condena. O querer é, por definição, uma expressão de falta.
Desejamos aquilo que nos falta e, por isso, todo desejo é uma forma de sofrimento. Quando não conseguimos o que queremos, a dor se prolonga. Quando conseguimos, o alívio dura pouco.
Logo surge outro desejo, ocupando o vazio deixado pelo anterior. A vida então se torna uma sequência de pequenas insatisfações, uma inquietação permanente. Mesmo quando conseguimos escapar temporariamente da cadeia de desejos, em raros instantes nos quais nenhuma vontade específica nos domina, a tranquilidade não nos acolhe como se esperássemos.
Em vez de paz, é comum emergirem o tédio, a inquietação ou uma ansiedade difusa. Isso porque, em sua essência, o ser humano não é um sereno, mas um ser que deseja incessantemente. O movimento interior que nos anima conhece repouso.
A satisfação plena não apenas é improvável, ela é estruturalmente impossível. Segundo Schopenhauer, a ausência é o motor de toda vontade. Queremos aquilo que nos falta e essa falta é fonte de sofrimento.
Mesmo quando conseguimos algo, a sensação de realização é breve, quase ilusória. A vontade apenas muda de forma, apontando para outro objeto, outra carência. Para cada desejo satisfeito, outros tantos surgem insatisfeitos.
A vontade é infindável. Ela se estende por todas as direções da consciência. Exige sempre mais, sem jamais conhecer saciedade.
O prazer que experimentamos ao alcançar um objetivo é passageiro e logo se desfaz diante da próxima urgência. Nenhum objeto ou conquista detém o poder de nos ancorar. A felicidade duradoura, quando colocada sob essa ótica não passa de um engano conceitual.
Enquanto estivermos entregues a esse fluxo de vontades entre esperanças e temores, a paz será apenas uma exceção tênue, um intervalo entre dois vazios. E o mais cruel, como observa Schopenhauer, é que tudo isso nos conduz inevitavelmente a um fim que não se pode contornar, a morte. Seja pelo desgaste lento da carne e da mente, seja por eventos súbitos e imprevisíveis, o desfecho está sempre à espreita.
Quando se observa a vida como um todo, mesmo aquela que parece bem-sucedida, não é difícil perceber sua estrutura trágica. Ela começa entre lágrimas, segue marcada por privações e termina, em muitos casos, de forma ainda mais brutal. A tragédia aqui não é acidental.
Ela é o pano de fundo da existência. Para aqueles que sentem o peso dessa visão e não conseguem mais sustentar ilusões reconfortantes, Schopenhauer oferece um único caminho, recusar o ciclo. Essa recusa não é feita por negação violenta, mas por um afastamento interior, por uma suspensão voluntária da participação nesse jogo.
Um dos caminhos possíveis, segundo ele, é a experiência estética. Quando nos entregamos à contemplação de algo belo, uma obra de arte, uma paisagem, uma música ou até mesmo uma ideia filosófica profunda, há uma ruptura momentânea. Por um instante, deixamos de ser sujeitos desejantes.
Esquecemos o que queremos, o que nos falta, quem somos no registro das exigências cotidianas. O belo nos transporta para fora de nós, suspendendo a tirania da vontade. Esses momentos são raros, mas intensos.
Neles estamos como que libertos da gravidade interior que nos arrasta. A mente respira um ar mais leve. E é justamente por isso que para Schopenhauer esses breves instantes de libertação são os mais próximos que podemos chegar da verdadeira bem-aventurança.
Eles não apenas aliviam o sofrimento, eles apontam para uma possibilidade radical, a de uma existência na qual a vontade tenha sido enfim silenciada. Se em momentos de beleza já experimentamos certo alívio, imaginemos então a condição daquele que conseguiu extinguir totalmente essa chama, restando apenas o último sopro vital que desaparecerá junto com o corpo. Se estiver gostando do vídeo, deixe seu like e se inscreva no canal.
A sua inscrição ajuda a manter este trabalho vivo. Ainda que a contemplação estética nos ofereça um alívio momentâneo diante do peso da existência, Schopenhauer acreditava que a verdadeira libertação só poderia ser alcançada por um caminho mais radical, a renúncia ética. Esse caminho consiste em rejeitar ativamente a vontade que nos habita, recusando seus apelos e recusando também o mundo que ela perpetua.
Trata-se de uma vida de recuo, de disciplina, de recusa deliberada dos prazeres e desejos. uma assese que não busca méritos ou glória, mas apenas o esvaziamento interior. Ele chamava esse processo de negação da vontade de viver e o descrevia como o gesto de parar de desejar, de não se prender a nada, de cultivar uma indiferença serena diante de tudo o que normalmente nos inquieta.
Dentro dessa proposta, o impulso sexual ocupa a posição central. Não apenas por sua força, mas por ser o mecanismo principal de perpetuação da vida e, portanto, da dor. Schopenhauer sustentava que a castidade voluntária, quando plena e consciente, era o primeiro degrau rumo à superação da vontade.
Assim como o desejo sexual, os bens materiais também deveriam ser recusados. A pobreza escolhida, a simplicidade extrema, a dieta mínima. Tudo isso compõe uma forma de existir que se afasta da compulsão de querer sempre mais.
Quanto mais se corta o vínculo com os desejos, mais próximo se chega da única forma de paz possível neste mundo. A paz que nasce da ausência de querer. Aquele que caminha por essa via torna-se imperturbável.
Nenhum medo o arrasta, nenhum desejo o pressiona. Ele rompeu os mil fios que nos prendem ao mundo, aqueles mesmos que, disfarçados de ambição, medo, inveja e raiva, nos arrastam dia após dia. Segundo Schopenhauer, cada realização, cada conquista arrancada da realidade é como uma esmola dada a um mendigo.
Serve apenas para adiar o sofrimento, jamais para eliminá-lo. Renúncia, por outro lado, é como uma herança que nos livra da preocupação de forma definitiva. Não se trata de idealização, mas de um caminho real trilhado ao longo da história por aqueles que renunciaram ao ciclo incessante do desejo.
Monges, eremitas, santos, cristãos, hindus, budistas, todos, em alguma medida apontaram para esse silêncio da vontade como uma forma de paz duradoura. Se curtiu, deixa o like e se inscreve. Isso ajuda demais o crescimento do canal.
Contudo, é difícil imaginar que esse caminho atraia a maioria. Poucos estão dispostos a abandonar o mundo por completo. K Jung, embora profundamente impactado pela visão sombria de Schopenhauer, declarou que não podia aceitar sua solução.
A renúncia total pode ser coerente com a lógica do sofrimento, mas a maior parte das pessoas ainda deseja viver e não apenas sobreviver, mas mergulhar plenamente, mesmo sabendo das dores envolvidas. Para muitos, a resposta não está em recusar o mundo, mas em encontrar uma forma de afirmá-lo. É preciso coragem para continuar, sabendo de antemão que a vida não oferece garantias.
Apenas a oportunidade de sentir, escolher e tentar. Mesmo sob o peso da tragédia. Diante da visão exposta por Schopenhauer, torna-se impossível encarar a existência com a mesma leveza que muitas filosofias ou discursos contemporâneos propõem.
A vida sob esse prisma não é uma trajetória de progresso, nem uma história de sentido claro. É um movimento incessante de desejos que se sucedem, de conflitos inevitáveis e de uma vontade que nunca se satisfaz. A consciência dessa estrutura não serve para mergulhar o indivíduo em desespero, mas para desmascarar as ilusões que sustentam muitas de nossas angústias.
Ao reconhecer que a dor não é um desvio, mas uma característica essencial do existir, passamos a olhar para nossas experiências com outros olhos. Menos ingenuidade, mais lucidez. Mas a filosofia de Schopenhauer não termina no diagnóstico.
Por mais austero que pareça, ele indica possibilidades reais de alívio, ainda que parciais e temporárias. A arte, a contemplação, e, para os mais radicais, a renúncia ética, surgem como formas de suspender, mesmo que, por instantes, o domínio da vontade. Não se trata de redenção, mas de trégua.
E talvez seja justamente isso que torna sua proposta tão valiosa. Ela não exige fé em promessas distantes, apenas a coragem de olhar a vida como ela é, e ainda assim buscar nela instantes de liberdade e silêncio interior. em meio ao ruído do mundo, talvez isso já seja o suficiente.
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