História do Carnaval: do Carro Naval às Máscaras de Veneza

a história do carnaval é tão antiga que já nem se sabe mais exatamente de onde vem a própria palavra carnaval atualmente existem quatro hipóteses principais sobre a origem desse termo e cada uma delas aponta para um elemento diferente da história dessa festa segundo os historiadores o termo carnaval pode vir de carnala de carros navales de Carnevale ou de carne levare em todos os casos o termo seria originário do latim sendo que as duas primeiras alternativas carnala e carros Nav tem relação com festas tradicionais Gregas e romanas e as outras duas Carnevale e carne levare tem

relação com uma festa propriamente Cristã então para começar a falar dessa longa e complexa história de carnaval vale a pena a gente dar uma olhada em cada uma dessas possibilidades começando lá pela carnala e o carros navales carnala era o nome de uma festa de camponeses que acontecia no território romano e era marcada por um grande consumo de carne já carros navais literalmente carro naval em latim podia est ligado a duas outras festas a navigium ides que era uma festa Romana dedicada à deusa Originalmente egípcia Isis na qual um modelo de navio era levado do

templo da deusa até o mar para proteger os Navegantes ou carros navales também pode fazer referência às antestreias que eram ritos do culto de dioniso nos quais uma imagem desse Deus grego era colocada em um barco Sobre Rodas quase que pés de carro alegórico e levada em procissão pelas ruas da cidade de Atenas tanto a carnala quanto as festas de Isis e dioniso aconteceu no final de Fevereiro ou no início de Março e batem portanto com o carnaval atual mas essa Coincidência não significa lá tanta coisa porque esse período era repleto de outras festas da

antiguidade até em outras regiões para além do território Romano porque ele marcava os últimos dias de inverno no hemisfério norte e consequentemente a expectativa da Primavera ou seja ele marcava a transição da Fome do frio e da morte associadas ao Inverno paraa fertilidade a fartura e a vida associadas à primavera e ao verão então assim é difícil cravar que o carnaval seja uma sobrevivência de alguma festa específica desse período mas é perfeitamente possível sim que algumas delas né algumas dessas festas ou várias delas até tenham contribuído parcialmente no desenvolvimento do que a gente conhece hoje

como carnaval Mas é isso né parcialmente é importante não reduzir a história do carnaval atual a uma mera sobrevivência de qualquer uma dessas festas pra gente encontrar outras partes muito importantes da história Inicial dessa festa a gente tem que sair desse contexto antigo greco-romano e avançar pra idade média e pra Europa Cristã que é justamente o contexto pro qual apontam as outras duas possibilidades de origem da palavra que são o Carnevale e o carne levare no latim Carnevale Seria algo como Adeus a carne e carne levare significa suspender a carne ambas essas expressões fazem referência

a uma prática especialmente importante no cristianismo medieval que era a observação da Quaresma a quaresma nada mais era né e ainda é o período de 40 dias aproximadamente que antecedem a Páscoa e enquanto a Páscoa Celebra a ressurreição de Jesus a quaresma se baseia em uma história contada nos Evangelhos na qual Jesus passa 40 dias no Deserto em jejum e enfrentando uma série de tentações desde pelo menos o quto século depois de Cristo já existem registros do costume Cristão de imitar esse jejum de 40 dias pelo menos se abstendo de carne e de outras coisas

associadas ao Luxo e aos prazeres carnais por isso o tempo da Quaresma era um tempo marcado principalmente pela Penitência pela restrição pela supressão do forto E por aí vai né era um tempo realmente de suspender a carne carne levare e de dar adeus a carne Carnevale e é justamente associado a esse contexto pré quaresmal que o carnaval aparece nos documentos históricos medievais ele nada mais era do que uma grande festa de despedida da Carne né uma espécie de última dança com a carne antes dela ir embora em geral essa festa Durava de três a se

dias e terminava na famosa terça-feira gorda que antecede a quarta-feira de cinzas que por sua vez marca o início da Quaresma e ao longo desses dias toda a carnalidade por assim dizer que seria suprimida nos próximos dias era trazida à tona com força total né E era até personificada por uma figura carnavalesca que comandava as festas geralmente esse papel era assumido por um homem gordo que comia e bebia à vontade durante o evento representando Claro o deleite e o excesso e no final da festa na transi ção já paraa Quaresma esse homem era simbolicamente atacado

e eliminado pela comunidade às vezes um boneco desse homem né um boneco representando esse homem era queimado como que representando a purificação da comunidade em relação a esses vícios expostos durante o carnaval Esse ato final inclusive Deixa claro como que essa festa absolutamente caótica podia servir também como uma forma de preservar a ordem social é o que se chama na antropologia de festas ou ritos de inversão Esses são momentos limitados abertos à fantasia a experiência do que é proibido a expressão de sentimentos e de ressentimentos socialmente coibidos que servem né esses momentos como uma espécie

de válvula de escape uma medida para prevenir que o sistema social aplicado durante o resto do ano não colapse né não exploda não por acaso parece até haver uma correlação histórica entre a intensidade dos atos de Penitência e a intensidade das festas de carnaval no mesmo local segundo um Historiador chamado John bos nas regiões da Itália Espanha Portugal e na maior parte da França Suíça e da Alemanha onde o pecado e a culpa eram tratados de forma mais rigorosa e mais pública no período medieval as festas de carnaval eram muito maiores mais elaboradas e até

mais violentas do que em lugares como as Ilhas britânicas o norte da França e os países baixos onde tradicionalmente a penitência era tratada de forma mais Branda e mais privada então assim quanto maior a pressão moral ao longo do ano maior e mais intensa costumava ser a festa no período do carnaval bom e falando dessas diferenças entre carnavais em diferentes regiões vale a pena a gente D uma olhada agora em duas festas de carnaval específicas muito interessantes que são o famoso carnaval de Veneza e o próprio carnaval brasileiro mas antes né Deixa eu só agradecer

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os carnavais né de Veneza e o carnaval brasileiro o carnaval de Veneza é um dos carnavais mais antigos que a gente tem notícia a primeira menção a essa festa é do ano 1094 e o uso de máscaras durante esse evento remonta ao século XI ou ao século X essas máscaras hoje são Provavelmente o elemento mais marcante inclusive do carnaval de Veneza e existem vários tipos delas a balta por exemplo que vocês estão vendo aí na tela é uma máscara bem neutra né branca e com essa boca mais Projetada pra frente para perm permitir que a

pessoa fale e até se alimente sem ter que tirar a máscara já a moreta que é essa cobertura preta pequena só com abertura PR os olhos era também muito utilizada mas ela não permitia que a pessoa se alimentasse e nem que falasse direito usando a máscara por isso ela era chamada também de muta porque a pessoa que usava ficava realmente muda além dessas duas tem essa máscara também chamada tsani que tem uma testa mais curta e um nariz comprido e tem várias outras mais estilizadas também como Medical de la p que remete aos surtos de

peste negra do século X e que é inclusive o nosso símbolo aqui do canal e O interessante é que muitas dessas máscaras venezianas eram utilizadas não só no carnaval mas também em dois outros contextos importantes primeiro elas eram utilizadas nas comédias teatrais típicas ali da região que é o contexto original inclusive em que muitas dessas máscaras surgiram e outro contexto em que essas máscaras também eram utilizadas fora do carnaval era nas ruas mesmo por pessoas comuns E aí você pode se perguntar né Por que que as pessoas usavam máscaras em situações assim triviais fora do

carnaval o que acontece é que a sociedade da República de Veneza era uma das mais rígidas e mais hierarquizadas da Europa e consequentemente ela tinha uma infinidade de regras de etiqueta e de cerimônias sociais que deveriam ser cumpridas a risca e isso fazia com que os nobres principalmente tivessem que se vigiar o tempo todo para acabar não prejudicando a sua honra pública isso significava por exemplo não ser visto com pessoas das classes consideradas inferiores não frequentar ambientes como cafés bordéis teatros populares casas de jogos e coisas do tipo então para contornar essas regras né para

ter mais liberdade e não precisar se preocupar tanto com a vigilância social os venezianos acabaram adotando Esse costume de usar máscaras assim eles podiam agir em público sem se preocupar tanto com as consequências sociais dos seus atos e das suas negligências em termos de etiquetas etc tal esse recurso inclusive se tornou tão comum Nesse contexto que ele passou a ser previsto até nas leis da República em determinados períodos do ano era legalmente permitido o uso de máscaras e em outros períodos não o carnaval Claro era o momento máximo do uso dessas máscaras né e da

evasão das regras sociais de forma geral mas no século X por exemplo era permitido que se usasse máscaras em Veneza por um total de se meses ou seja metade do ano era possível ficar de máscara em vene Nesse contexto as pessoas iam ao teatro de máscara iam aos bailes de máscara e até pediam esmola de máscara isso no caso de alguém que não queria ser reconhecido naquela situação uma lei de 1339 inclusive chega a especificar que era ilegal visitar Conventos usando máscara quer dizer né Realmente os venezianos usavam máscaras para tudo nesse período isso só

começou a desaparecer no século XVII depois da Conquista de Veneza por Napoleão a partir daí os títulos de pobreza foram abolidos o uso de máscaras foi progressivamente suprimido e o próprio carnaval isso já nos tempos de Francisco I da Áustria foi totalmente proibido depois disso só em 1979 então bem recentemente é que o carnaval de Veneza foi reabilitado e voltou a ser um evento público importante na cidade bom e a história do carnaval brasileiro né essa é uma história também muito interessante que vem lá do entrudo português que era uma festa medieval que marcava a

entrada pra Quaresma né daí entrudo o entrudo acontecia geralmente nos três dias anteriores à quarta-feira de cinzas e era também um rito de inversão né como qualquer outro carnaval a festa era totalmente caótica com pessoas na rua jogando frutas uma nas outras ou casca de ovos ou moldes de Cera recheados de perfume de tinta ou até de urina que eram os chamados limõezinhos de Cheiro ou laranjinhas de Cheiro as pessoas também lançavam farinha e areia para todo lado e tinha brigas meio que de brincadeirinha com Vassouras e Colher de Pau no meio da rua e

assim né eu tô dizendo que tudo isso acontecia meio de brincadeirinha porque logicamente a coisa podia acabar escalando né para cenas mais violentas e pancadarias generalizadas E essas festas de rua vindas de Portugal foram muito presentes no Brasil até o início do Século XX e foram assimilando ao longo do tempo vários elementos das culturas africanas e indígenas também mas desde o século XVI e principalmente no século XIX essas festas populares passaram a ser muito mal vistas pelas elites que preferiam fazer essas festas de entrudo dentro da própria propriedade né da própria casa ou então comemorar

o carnaval a moda parisiense e veneziana né em bailes à fantasia e bailes de máscara isso em grandes salões numa espécie de carnaval de luxo distante desse carnaval popular no Rio de Janeiro também isso por volta de meado do século XIX final do século XIX era comum que a elite fosse em procissão até o local dos bailes de carnaval e aproveitasse esse esse momento para exibir as suas fantasias ou seja né em vez de ir direto de casa pro pro salão do baile do carnaval as pessoas se concentravam primeiro num local e dali faziam essa

espécie de desfile até o local onde seria feito o baile de carnaval e com o tempo esses desfiles de carnaval foram se tornando cada vez mais organizados e mais elaborados e é neles que aparecem os primeiros carros alegóricos ou carruagens alegóricas e vários outros elementos marcantes ali do Carnaval carioca bom e aos poucos esses carnavais de Elite também em outras regiões e os carnavais populares foram se misturando e produzindo várias novas formas de carnaval com muita variação Regional mesmo e até hoje a gente vê essa longa e complexa história ainda em movimento e se você

se interessa por longas e complexas histórias como essa talvez você também se interesse pela história da Páscoa e a história do Halloween sobre as quais a gente já falou aqui em vídeos anteriores as referências consultadas para esse vídeo como sempre estão na descrição emai muito obrigado por assistir e até o próximo falou