Ajahn Chah - O Caminho do Meio

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Corvo Seco
Trechos do livro “The Taste of Freedom”, de Ajahn Chah. Ajahn Chah (1918 - 1992), foi um grande mes...
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Quando os vários Budas se iluminaram  e transmitiram os seus primeiros ensinamentos, todos eles falaram acerca  desses dois extremos – entregar-se ao prazer e entregar-se à dor (ou,  entregar-se a felicidade e entregar-se a infelicidade). Esses dois caminhos são  os caminhos das paixões, são os caminhos entre os quais oscilam aqueles que  se entregam aos prazeres, sem nunca alcançar a paz. São os caminhos  que ficam dando voltas no samsara.
O Iluminado observou que todos os seres  que estão presos a esses dois extremos nunca enxergam o Caminho do Meio do  Dharma, portanto, ele os expôs de forma a mostrar porque nós ainda estamos  presos. É porque ainda desejamos. Porque ainda desejamos, vivemos  repetidas vezes sob a ditadura do desejo.
O Buda declarou que esses dois caminhos  são os caminhos da embriaguez, eles não são os caminhos de um meditador,  nem os caminhos para a paz. Esses caminhos, tanto a felicidade quanto a  infelicidade, não são estados de paz. O Buda ensinou a desapegarmos de  ambos.
Essa á a prática correta. Esse é O Caminho do Meio. Ajahn Chah.
Essas palavras, “O Caminho do  Meio” não se referem ao nosso corpo ou a linguagem, elas se referem à mente. Quando uma impressão mental que não  gostamos surge, ela afeta a mente, e surge a confusão. Quando a mente está  confusa, quando ela está agitada, esse não é o caminho correto.
Quando uma  impressão mental da qual gostamos surge, a mente se move para entregar-se ao  prazer – esse tampouco é o caminho correto. Nós não queremos sofrer, queremos a felicidade. Mas na verdade, a felicidade é apenas uma forma refinada de sofrimento.
O sofrimento em si é a forma grosseira. Você pode compará-los a uma cobra. A cabeça da cobra é a infelicidade, a cauda da cobra é a felicidade.
A cabeça da cobra é realmente perigosa, ela possui as presas venenosas. Se você tocá-la, a cobra morderá imediatamente. Mas mesmo se você segurar a cauda, ela irá se voltar e mordê-lo do mesmo jeito, porque ambos a cabeça e a cauda pertencem à mesma cobra.
Da mesma forma, ambas, a felicidade e a  infelicidade, ou o prazer e a dor, surgem do mesmo progenitor – o desejo. O que é o desejo? O desejo lampeja por um  momento e depois desaparece.
Onde está a consistência no desejo,  na raiva ou no ressentimento? Na verdade, não existe uma entidade  com substância, são apenas impressões que se espalham na mente e depois  morrem. Elas nos enganam constantemente, não encontramos garantias em nenhum lugar.
Observe sua infelicidade. Existe nela qualquer substância? A infelicidade é apenas uma sensação que aparece num instante e depois desaparece.
A felicidade é igual. É simplesmente uma sensação que lampeja de repente e desaparece. Nasce e morre.
Tal como disse o Buda, quando a  infelicidade surge ela permanece por algum tempo, depois desaparece. Quando a  infelicidade desaparece, a felicidade surge e permanece por algum tempo, e depois  morre. Quando a felicidade desaparece, a infelicidade surge outra vez.
. .  continuamente dessa forma.
Portanto, quando você está  feliz a mente não está em paz. Por exemplo, quando obtemos as coisas  que queremos, tal como riquezas, prestígio, elogios ou felicidade, como  resultado ficamos satisfeitos. Mas a mente ainda abriga algum desconforto porque  tememos perder algo.
Esse mesmo temor não é um estado pacífico. Mais tarde  poderemos até perder algo e então realmente sofreremos. Dessa forma, se  você não tiver consciência, mesmo que esteja feliz, o sofrimento é iminente. 
É exatamente o mesmo que agarrar a cauda da cobra – se você não soltá-la, ela irá  mordê-lo. Portanto, quer seja a cauda ou a cabeça da cobra, isto é, condições benéficas ou prejudiciais, elas são apenas qualidades da Roda da Existência, mudando interminavelmente. Se investigarmos de perto, veremos que a paz não é a felicidade nem a infelicidade.
Nenhuma delas é a verdade. A essência do Budismo é a paz, e  essa paz surge quando conhecemos verdadeiramente a natureza de todas as  coisas. A paz surge quando conhecemos nossa própria mente em seu estado natural,  nossa verdadeira “mente original”.
A paz não é encontrada na floresta ou  no topo de uma colina, nem é ministrada por um professor. A paz está dentro de  você, ali mesmo onde você vivencia o sofrimento, você também poderá  encontrar a liberdade do sofrimento. Todas as pessoas têm a oportunidade  de praticar o Dharma, de contemplá-lo.
Nós todos contemplamos a mesma coisa.  Se você alcança a paz, é a mesma paz para todos; é o mesmo Caminho. Isso é  o que o Buda constantemente exortava os seus discípulos a conhecer.
Essa é a  prática correta. Se você não alcançá-la, não irá alcançar o Caminho do Meio, e  então, não irá transcender o sofrimento. A mente humana, a mente que o Buda nos  estimulou a conhecer e investigar, é algo que somente podemos conhecer  através da sua atividade.
A verdadeira “mente original” não pode  ser medida, não pode ser conhecida. No seu estado natural ela é inabalável, imóvel. Quando surge a felicidade, o que ocorre é que essa mente se perde em uma impressão mental, existe movimento.
Quando a mente se move dessa forma, o apego e a ligação a essas coisas surgem. Se a mente não se apegar a felicidade ou  infelicidade, ela chegará ao “oceano” de Nirvana. Se você não “ficar preso” nessas  coisas, então estará no caminho de um verdadeiro meditador.
Esse  é o ensinamento do Buda. Mesmo que alguns de vocês possam sentir  um pouco de paz enquanto meditam, não tenham pressa em se parabenizar.  Da mesma forma, se houver alguma confusão, não se culpem.
Se as coisas  parecem boas, não se deleite com elas, e se não forem boas, não seja avesso a  elas. Basta olhar para tudo. Apenas olhe, não se preocupe em julgar.
Se for bom,  não se apegue a isso; se for ruim, não se apegue a isso. O bem e o mal podem  morder, então, não se apegue a eles. Felicidade, infelicidade, cobiça e raiva  simplesmente existem na Natureza de acordo com a invariável lei da  natureza.
A pessoa sábia não as segue ou estimula, ela não se apega a nada. Essa  é a mente que não se entrega ao prazer e não se entrega à dor. Essa é a prática  correta.
Esse é o Caminho do Meio.
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