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Boa noite Boa noite a todos que nos assistem nós começamos a nossa oitava jornada filosófica com o tema para que e para quem serve a filosofia e nessa noite de abertura nós estamos com a presença do professor Dr Silvio galo gostaríamos de falar um pouquinho sobre quem o professor Silvio galo antes de passarmos a palavra para ele o professor Dr Silvio galo ele possui graduação em filosofia pela pontífice Universidade Católica de Campinas mestrado em educação doutorado em educação e livre docência em filosofia da educação todos pela Universidade Estadual de Campinas atualmente é professor titular da
universidade Estadual de Campinas ele também é bolsista produtividade do CNPQ ele é membro de diversas associações científicas do campo da filosofia da educação no Brasil e no exterior ele foi presidente da sof sociedade da sof Sociedade Brasileira de filosofia da educação e presidente da sou felp sociedade de filosofia da educação dos Países de Língua Portuguesa entre 2019 e 2022 sendo atualmente seu vice-presidente ele atuou como membro do comitê científico do College internacional de filosofia com sede em Paris exerceu diversas atividades editoriais tendo sido membro do comitê editorial da revista educação sociedade sedes foi coeditor da
revista ário publicada pela ffyh da Universidade de república Uruguai e pela fé Unicamp e foi editor associado E editor chefe da revista Pop posições da faculdade de educação da Unicamp foi também editor responsável pela Editora fé Unicamp tem experiência na área de educação com ênfase em filosofia da educação atuando Principalmente nos seguintes temas filos filosofia francesa cont e educação ensino de Filosofia e transversalidade anarquismo e educação Esse é um pouco do currículo do professor Silvio galo e nós queremos agradecer a todos aqueles que nos T nos T eh ajudado para a realização desse evento a
Universidade Federal do tocantin a coordenação e o colegiado do curso de Filosofia da faculdade da Universidade Federal do Tocantins o PIP filo programa de inovação pedagógica do curso de Filosofia e o centro acadêmico de filosofia da da Universidade Federal do Tocantins nossa gratidão e nosso reconhecimento sem vocês esse evento não seria possível e agora com muita alegria com muito prazer e com muita satisfação nós passamos a palavra pro senhor Professor Silvio galo seja muito bem-vindo à Universidade Federal do Cans ao curso de Filosofia da UFT nós estamos felizes e a palavra é sua fique à
vontade A casa é do [Música] Senhor muito obrigado clemson me ouvem bem tranquilo eh é uma alegria para mim estar aqui com vocês nessa noite bom muito boa noite para todos e todas e todes que nos acompanham aqueles que estão presencialmente aí na UFT aqueles que acompanham pelo YouTube eh eu dizia então que é uma alegria estar aqui com vocês eh que bom que deu tudo certo que podemos passar algum tempinho aqui conversando nessa noite eu agradeço ao convite através do clemson que foi quem fez eh contato comigo eh tanto já no ano passado infelizmente
no ano passado eu estava com uma uma carga de atividades já maior do que eu dava conta não pude aceitar e aí quando ele voltou a fazer contato esse ano não pude dizer não né porque já tinha dito não uma vez e eu me esforço sempre para na medida do possível atender aos convites eh sobretudo quando vem de estudantes de filosofia porque eu já fui estudante de filosofia faz tempo né Eh talvez mais tempo do que eu gostaria que fizesse mas eh há 40 anos at atrás em 1983 eu comecei meu curso de graduação em
filosofia e também fui uma pessoa ativa no curso de de graduação realizamos uma série de atividades e procurávamos as pessoas para poderem colaborar conosco realizando Essas atividades então como eu sou grato a todo mundo que nos auxiliou naquele momento eu procuro também eh retribuir agora atendendo aos convites que são feitos então muito obrigado pelo convite agradeço eh na pessoa do clemson a toda a comissão organizadora e a todo o o curso de Filosofia da UFT por essa possibilidade de conversarmos na noite de hoje ah bom isso dito eu vou pedir o Adriano que coloque na
tela paraa gente eh os slides que eu preparei para que a gente possa ir conversando sobre a possamos ir conversando sobre o o tema que foi proposto que é o tema dessa oitava jornada filosófica para quem e para que serve a filosofia eh é um tema difícil eu diria ele ele pode parecer muito simples né são duas perguntas em uma duas perguntas muito simples para que serve a filosofia e para quem serve a filosofia mas ao mesmo tempo que ele parece muito simples é um tema extremamente complexo né um tema extremamente complicado eh e eu
acho que a comissão organizadora foi muito feliz em escolher esse tema especialmente para esse momento que nós vivemos no Brasil então eu vou tentar abordá-lo na medida das minhas possibilidades fazendo uma apresentação aqui para vocês eh em torno de algumas coisas que eu penso em relação à filosofia e como a filosofia se coloca no mundo eh então não tenho a menor pretensão de dar uma resposta definitiva para Nenhuma dessas perguntas não é não é a melhor resposta não é a resposta definitiva não é uma resposta que váha para todo e para qualquer um mas é
o tipo de resposta que eu gostaria de dar para essas perguntas né Eh já aviso a vocês que eh Talvez eu seja um pouco polêmico talvez eu provoque um pouco vocês com algumas coisas que eu vou dizer aqui mas eh eu acho que a filosofia serve também para isso né para nos colocar provocações então não me preocupo com isso porque se vocês se sentirem incomodados Isso é muito bom e eu espero que vocês reajam eh façam questões façam contraposições é o que eu vou dizer fiquem absolutamente à vontade né porque eu vou de fato apresentar
para vocês algumas coisas que eu tenho pensado eh algumas já há muito tempo outras mais recentemente em torno desse desse tema dessa questão né que é o o exercício da filosofia eh começaria então Eh com um alguns rápidos comentários às duas perguntas né então começando pelo Para que serve a filosofia eh vocês sabem né que na antiguidade grega na época eh da daquilo que a gente convencionou chamar de Período Clássico grego eh os filósofos gregos gostavam de dizer que a filosofia não serve para nada né que a filosofia é inútil né que a filosofia não
tem utilidade ela não tem uma utilidade prática né a filosofia eh é uma pura dedicação ao pensamento né Eu queria começar fazendo uma crítica a essa pretensão da eh antiguidade grega dos filósofos gregos bom aí vocês vão achar que é muita pretensão minha fazer a crítica A pretensão dos filósofos gregos né porque quando falamos dos filósofos clássicos gregos estamos falando de ninguém mais ninguém menos do que Platão Aristóteles por exemplo né para ficar nos dois eh mais reconhecidos desse Campo desse período eh mas a gente precisa entender que a sociedade grega antiga era uma sociedade
escravagista uma sociedade na qual a produção eh a produção material produção da vida a a produção de tudo aquilo que a gente precisa para sobreviver era feita pelas pessoas escravizadas né E aí os filósofos evidentemente eh não precisavam cuidar da produção das coisas necessárias para sobrevivência E como eles não precisavam fazer isso eles podiam dedicar o seu tempo à filosofia Eles podiam gastar o seu tempo filosofando gastar o seu tempo pensando se dedicando ao pensamento e Que bom que eles fizeram isso né Que bom que eles fizeram isso e nos forneceram uma série de coisas
mas ao mesmo tempo que a gente eh considera interessante e importante que eles tenham feito isso a gente também precisa compreender qual era o sentido da filosofia naquela sociedade que era uma sociedade altamente excludente em que a filosofia era para muitos muito poucos não é eh a gente pensa aí em uma sociedade eh grega antiga na qual segundo o os historiadores ou algumas cifras estimadas por historiadores quando a gente fala das pessoas livres dos cidadãos Livres eh nas cidades Gregas por exemplo na cidade de Atenas né o de algum modo uma espécie de centro da
cultura grega na época eh a gente tá falando em 10% da população mais ou menos não é então era dentre esses 10% da população Que nós tínhamos algumas pessoas que se dedicavam à filosofia Então se a gente pensa que eh não eram os 10% mais ou menos de cidadãos livres que se dedicavam a filosofar era uma fração deles né e se a gente compara essa fração daqueles que se dedicavam à filosofia com a totalidade da sociedade da época a gente vê que eram muito poucos né muito poucas as pessoas que se dedicavam a filosofia e
por isso uma pessoa como o Aristóteles por exemplo e outros filósofos da época concordavam com ele nesse aspecto eh era importante afirmar a a inutilidade da filosofia dizer que a filosofia não serve para nada a filosofia é uma espécie de diletantismo né Eh para eles isso era algo Nobre da filosofia né o fato da filosofia não servir para colocar comida na nossa mesa por exemplo era algo que deveria ser louvado algo que deveria ser importante para eles né No entanto eu penso que nós que vivemos hoje eh no Brasil no século de XX não apenas
no Brasil né mas nesse mundo contemporâneo que é um mundo atravessado pelo capitalismo atravessado pelas relações do Capital eh seria uma Coquetel uma coquetelaria da nossa parte ou uma eh um coquetismo da nossa parte dizer que a filosofia é inútil que a filosofia não serve para nada né Eh dizer que a filosofia não serve para nada hoje nos nossos tempos seria condenar a filosofia à morte absoluta né então eu acho que sim é é preciso que a gente eh consiga convencer os nossos amigos os nossos colegas os nossos companheiros a sociedade de forma geral de
que a filosofia sim é útil ela tem uma utilidade eh intrínseca uma utilidade eh nela mesma né Eh se a gente toma dois filósofos que são eh dois dois pensadores franceses do final do século XX que eu estudo há muito tempo que continuo estudando e que leio eh com frequência um livro que foi muito importante na minha na minha formação intitulado justamente o que é a filosofia eh publicado pelo Gil dez e pelo Félix gatari no começo dos anos 90 em 1991 na França em 92 já a tradução aparecendo aqui no Brasil eh nesse livro
eles dizem que a filosofia Tem sim uma utilidade e a utilidade da Filosofia consiste no fato de que ela é uma atividade de criação conceitual né Eh bom eu tenho adotado essa perspectiva de filosofia proposta por esses dois autores desde então né Concordo com eles que a filosofia é uma atividade de criação conceitual e como eles definem que só a filosofia produz conceitos Ou pelo menos aquilo que eles eles chamam de conceito só a filosofia produz as diferentes ciências não produzem conceitos na visão desses autores eh apenas a filosofia faz isso portanto há uma utilidade
intrínseca na filosofia que é a de produzir conceitos porque nós precisamos dos conceitos não é mas eh aí a gente poderia perguntar para eles eles para eles essa resposta basta né a utilidade da filosofia reside no fato de que a filosofia cria conceitos e só ela cria conceitos mas a gente poderia continuar prando para eles mas qual a utilidade de criar conceitos né e eu diria para vocês pelo menos do meu ponto de vista que a os conceitos são fundamentais para que nós cada um de nós eh ser humano seja capaz de experimentar o mundo
e experimentar a si mesmo como sujeito né então eu diria eu diria que a filosofia é uma uma das formas ela não é a única mas ela é uma das formas que nós temos de experimentarmos o mundo e experimentarmos a nós mesmos né existe eu diria um modo filosófico de ser no mundo de estar no mundo e isso tem uma utilidade em si mesma né Eh eu comentava com vocês antes que há há 40 anos atrás eu estava na situação de vocês estudantes de filosofia né estudando filosofia com muita vontade de aprender filosofia ainda no
começo do curso não tinha Claro para mim que eu ia me dedicar a a filosofia em princípio eu comecei e os meus estudos de filosofia por puro prazer e alegria né de de estudar a a filosofia eu tinha uma outra atividade profissional mas eh à medida em que eu fui aprofundando os meus estudos na filosofia eu fui sendo capturado pela filosofia e e acabei então eh eh tendo a vontade de me dedicar à filosofia e dedicar-se à filosofia no Brasil hoje significa fundamentalmente ser professor de Filosofia né a forma que a gente tem de eh
conseguir sobreviver eh praticando filosofia pelo menos para para para aqueles que como eu eh dependem de produzir eh de conquistar o seu próprio dinheiro para sobreviver eu não tinha E continuo não tendo eh outros recursos que não que não aqueles que vêm do meu trabalho eh a forma forma da gente trabalhar com filosofia ou a principal forma que a gente tem no Brasil de trabalhar com Filosofia é sendo professor de Filosofia a gente consegue frequentar a filosofia estar na filosofia e ao mesmo tempo ter uma atividade produtiva que significa um salário e significa a nossa
sobrevivência né então eu diria que nesses 40 anos de frequentação eh da filosofia primeiro como estudante depois como professor de de filosofia eh eh a filosofia me constitui como sujeito né Eu não sou capaz de pensar a mim mesmo hoje sem esse meu percurso pela filosofia né e tendo ensinado filosofia ao longo de muitos anos eh eu também vejo isso em muitos dos meus ex-alunos muitas pessoas que foram meus alunos de Filosofia e com os quais eu continuo tendo relações até hoje eh também dizem a mesma coisa né não não se veem e a si
mesmos como pessoas como seres humanos eh que não tivesse se não tivessem passado por essa constituição eh da filosofia ou pela filosofia com isso eu não estou dizendo para vocês que eu não existiria se não fosse a filosofia Óbvio que não né mas o que eu estou dizendo é que não fosse essa minha passagem pela filosofia essa minha frequentação da filosofia esse atravessamento de mim mesmo pela filosofia eu seria outra pessoa né eu faria outras coisas eu seria outra pessoa né então Eh desse ponto de vista me parece que a filosofia tem uma tremenda de
uma utilidade a filosofia serve para quê a filosofia serve para que nós sejamos nós mesmos no Exercício da filosofia enfrentando o mundo nos relacionando com o mundo nos relacionando com nós mesmos e nos relacionando com os outros n é eh todo mundo precisa ser filósofo Todo mundo precisa eh ser atravessado pela filosofia é evidente que não né mas a filosofia é uma das formas de que eh que a gente tem para que a gente possa então estar no mundo experimentar o mundo e se constituir como Sujeito como pessoa então eu responderia em princípio né Eh
essa questão dessa maneira e passo paraa questão seguinte né A a quem serve a filosofia né E aí essa questão é talvez eu ia dizer é mais complicada mas talvez não seja né talvez eh o o grau de complexidade seja parecido elas são muito diferentes mas o grau de complexidade Talvez seja eh parecido Ah eu diria né que ao longo da história da filosofia quando a gente observa a a história da filosofia eh a filosofia tem servido aos poderes instituídos então quando a gente se pergunta a quem serve a filosofia a filosofia serve para legitimar
os poderes instituídos não é muitos filósofos ao longo da história fizeram Filosofia para legitimar os poderes instituídos né o nosso eh caro Aristóteles que eu já citei aqui e eu vou relembrá-lo só porque eu já já o citei foi alguém né que serviu aos poderes instituídos na na antiguidade grega eh vocês sabem que eh Aristóteles foi um dos preceptores de Alexandre o Grande eh que assumiu depois o o trono da Macedônia e que conquistou a Grécia e assim por diante né então Aristóteles sempre foi alguém que esteve próximo do Poder né Platão foi alguém que
esteve próximo do Poder foi um crítico da Democracia justamente porque ele era membro da aristocracia ateniense e assim por diante poderíamos citar inúmeros eh pensadores ao longo da história poderíamos pensar em Maquiavel por exemplo que prestou seus serviços paraa família medit eh durante o o renascimento eh italiano poderíamos pensar eh em inúmeros exemplos de filósofos atuando então servindo aos poderes instituídos mas ao mesmo tempo que isso fica evidente na história da filosofia a gente também vê com muita clareza na história da filosofia que a filosofia serviu também os filósofos e a filosofia serviram também a
para produzir críticas desestabilizadoras e revoltas instituintes em muitos tempos então da mesma forma que eu dei aqui eh uma série de exemplos sobre filósofos que estiveram do lado do Poder a gente também pode pensar uma série de filósofos que estão do lado oposto ao poder instituído e que estão lutando por uma filosofia ou por uma outra filosofia por uma outra sociedade por uma revolta em relação à aquilo que está instituído e que a gente pode pensar Então como uma revolta instituinte de uma outra situação eh social só vou citar dois também eh pra gente não
se alongar demais nesse ponto eh eu citaria por exemplo jean-jacques Rousseau eh na França pré-revolucionária na França ainda do chamado antigo regime né Rousseau era Sem dúvida alguma um dos grandes críticos do Poder instituído na França da sua época e Rousseau foi um filósofo instituinte no sentido de que muitas das suas ideias alimentaram a chamada Revolução Francesa e a sociedade burguesa que se instalou eh depois com a Revolução Francesa né evidentemente Rousseau não foi o único mas foi um dos importantes pensadores daquela época poderia citar outros como volta como de derot né mas eh Rousseau
me parece ter tido um papel significativo e um papel de destaque eh como um crítico do Poder instituído na França da sua época e eh alguém que defende a instituição de uma outra eh sociedade de um outro tipo de poder e o mesmo a gente poderia eh dizer por exemplo sobre Carl Marx isso já na Alemanha no século XIX Marx como sendo o grande crítico da sociedade capitalista o grande crítico do Capital não é o único também eh Sem dúvida alguma mas é aquele que talvez tenha produzido né no século XIX a filosofia mais eh
poderosa de crítica ao ao aos poderes instituídos né ao capital como poder instituído eh então eu diria né respondendo também de forma breve a essa pergunta para quem serve a filos fia a quem serve a filosofia né ela serve a esses dois tipos de os né Nós temos filosofias que servem o poder que tá aí que tá posto e nós temos filosofias que estão contra o poder que está instituído E aí dependendo do ponto de vista que a gente assume a gente vai responder de uma maneira distinta Para que serve a filosofia e para quem
serve a filosofia né se eu me coloco do lado desses filósofos que eh serviram os poderes instituídos a gente vai dizer que a filosofia serve para legitimar a manutenção das coisas como estão mas se eu me coloco do outro lado eh ao lado daqueles que eh questionam os poderes instituídos a gente vai dizer que a filosofia serve para fazer a crítica desses poderes instituídos e para instituir uma outra sociedade uma nova sociedade né então vocês vejam que a a a as duas questões são bastante complexas merecem uma série de análises uma série de eh explorações
e possibilitam uma série de respostas né o que eu vou apresentar para vocês isso era só um preâmbulo eh vocês já perceberam que eu falo demais né então por favor eh pessoal da organização se eu começar a me estender demasiado eu vou tentar me controlar aqui no no tempo da fala mas se eu começar a me estender demasiado me avisem mandem aqui um um um um um aviso Zinho pelo chat ou me interrompam não tem problema nenhum eh porque senão a gente corre o risco de ficar aqui mais tempo do que a gente tá preparado
para ficar eh mas eh Então o que eu queria trabalhar com vocês a partir eh dessa questão eh colocada aqui de modo mais geral dessa primeira exploração é me colocar do lado né Deixa eu voltar aqui um pouquinho me colocar desse lado aqui né da filosofia que faz as críticas da filosofia que procura desestabilizar o que tá instituído e pensar a possibilidade de produzir coisas novas né É nesse lugar que eu gostaria de me colocar e me colocando nesse lugar o que eu quero então é conversar um pouco com vocês em torno do que eu
chamei aqui uma Filosofia de combate né uma filosofia que é combativa cuja utilidade está em combater a as coisas que estão instituídas mas uma Filosofia de combate para nós brasileiros pro Brasil e pro pro momento que a gente vive para esse momento que a gente vive que é a esse começo ainda começo né de certo modo do do Século XXI né para quem viveu a maior parte é o meu caso né Vivi a maior parte da minha vida até aqui no século XX né Eh eh para mim o século XX ainda está no começo né
eu espero ainda viver um bom tempo no Século XX e quem sabe mais tempo no século XX do que vivi no 20 mas né Por enquanto eu ainda sou mais uma pessoa do século XX do que do do século XX então mas é é é isso que eu quero exercitar um pouco com vocês o que seria uma Filosofia de combate uma filosofia crítica uma filosofia que se coloca contra os poderes instituídos no nosso país nesse momento eh que nós vivemos E aí eu vou eh tentar eh explorar essas questões com vocês eh partindo de uma
citação aqui de uma canção do Caetano Veloso eh que é uma uma canção do Caetano que vocês devem conhecer Caso vocês sejam jovem jovens demais e não conheçam eu convido que que conheçam que escutem esse disco né bom a gente não escuta mais disco hoje né mas eh Ainda temos aí os álbuns disponíveis no no streaming eh esse álbum do do Caetano que é o álbum velô de 1984 né que saiu justamente quando eu estava no segundo ano da minha graduação em filosofia e numa música fantástica que é a música língua o Caetano eh tem
esse esses versos que eu coloquei aí no slide né se você tem uma ideia incrível é melhor fazer uma canção porque está provado que só é possível filos ofar em alemão claro que o Caetano tá tirando um sarro né dessa dessa situação eh a partir né da dimensão né que o os alemães os pensadores alemães do século XVI do século XIX eh costumavam dizer que eh O Alemão é a língua verdadeiramente filosófica né se a gente tem uma língua filosófica na antiguidade grega na modernidade a língua propriamente filosófica é a língua alemã né A língua
que permite que se filosofe seja a língua alemã por isso né Caetano Veloso brinca para nós brasileiros resta o quê né se a gente tem uma bela ideia e se mete a fazer filosofia não vai dar em nada porque nós não falamos alemão né então vamos fazer música né Vamos fazer uma canção bom eu tô trazendo o Caetano aqui para brincar com vocês um pouco em relação a isso mas não é Para Dizer para vocês abandonem a filosofia e vão fazer música né Muito pelo contrário é para dizer vamos sim insistir em fazer uma filosofia
em português né Eh vamos insistir em produzir um pensamento filosófico em português ou em brasileiro né na língua brasileira nessa língua que nós falamos aqui eh essa língua na qual nós pensamos essa língua na qual nós nos expressamos que já é muito diferente da língua portuguesa tal como falam os portugueses lá em Portugal por conta das inúmeras misturas né que a gente foi produzindo nessa língua e que o Caetano brinca com elas justamente nessa canção de 1984 né Eh Então a partir dessa provocação do Caetano eh eu queria trabalhar com vocês esse problema que para
mim é um problema eh Talvez um dos problemas centrais do pensamento hoje para nós no Brasil que é a necessidade de descolonizar a filosofia né então uma Filosofia de combate para mim hoje no Brasil do começo do século XXI é uma filosofia que explore uma descolonização do pensamento né Nós somos colonizados sabemos disso n é eh e nós somos colonizados na vida somos colonizados na economia e somos colonizados também no pensamento Então me parece que a filosofia hoje pode ser um instrumento importante de descolonização do pensamento de produzir um pensamento não colonizado mas para que
a gente Produza um pensamento não colonizado a gente precisa começar descolonizando a própria filosofia e é sobre isso que eu vou eh tentar eh explorar um pouquinho mais a as coisas com vocês nessa noite né bom para isso né Eh eu queria trabalhar esses três pontos que eu coloquei aqui no no slide né ou começar com esses três pontos e tentar desenvolver um pouco as coisas a partir daí né ah o primeiro é a gente reconhecer que a filosofia possui um traço centralizador né que a filosofia desde as suas origens é Colonial E é colonialista
né era isso que eu disse que eu ia provocar vocês e que ia talvez eh desenvolver alguns ódios em vocês né Eh e eu diria que a filosofia é colonial e é colonialista na sua própria Essência se é que a gente pode falar assim eu não gosto muito de falar em essência da Filosofia mas eh eu acho que desde a origem da Filosofia daqui a pouco eu vou dizer para vocês que eu eu particularmente não abro mão de considerar a filosofia uma invenção grega eh depois eu daqui a pouco eu explico para vocês por ah
mas desde essas origens gregas então da filosofia eu diria que a gente consegue perceber esse tratos colonial e colonialista da própria filosofia e se a gente quer descolonizar o pensamento e se a gente quer descolonizar a filosofia a gente precisa começar reconhecendo isso porque se nós não reconhecermos isso a luta tá perdida perdida de antemão a filosofia vai continuar sendo colonizadora e colonialista bom reconhecer que a filosofia tem um traço Colonial eh talvez muito mais forte do que a gente gostaria de admitir não significa que ao longo da história da filosofia a gente também não
encontre filosofias anticolonialistas não é eh então como eu disse para vocês que há uma filosofia que se coloca do lado dos poderes instituídos mas também há uma filosofia ou filosofias que se colocam contra os poderes instituídos quando a gente pensa em colonização certamente a gente vai encontrar eu vou dar alguns exemplos daqui a pouco a gente vai encontrar filosofias que se colocam na Perspectiva da colonização do colonizador mas nós também vamos encontrar outras filosofias que se definem como anticoloniais que não querem nem ser a favor eh quer dizer não são a favor São contrárias à
colonização e portanto exprimem exprimem esse traço anticolonial né Eh portanto a gente pode encontrar né se a nossa se a gente toma para si essa tarefa se a gente encara esse problema filosófico de procurar construir uma filosofia anticolonialista nós encontramos Aliados na história da filosofia é possível encontrar Aliados na história da filosofia em geral naqueles filósofos que foram marginais na sua época é né que estiveram à margem dos sistemas instituídos na sua época justamente porque ao lutar contra a a filosofia colonialista Eles foram deixados de lado foram colocados para escanteio né e a gente também
poderia citar uma série deles ao longo da história né alguns deles que foram marginalizados nas suas épocas hoje são filósofos que estão na moda por exemplo né então isso o fato de ter sido marginalizado na sua época também não significa que ele permaneça Marginal eh em toda a história né mas é isso que eu queria destacar para vocês né Eh precisamos reconhecer eh que há um caráter Colonial na filosofia admitindo que há um caráter Colonial na filosofia reconhecer que também encontramos na filosofia eh alguns potenciais anticoloniais ou descolonizadores se a gente quiser chamar assim e
aí eu vou dar dois exemplos para vocês não mais do que dois eh que são muito significativos n é de como a filosofia desenvolve um pensamento Colonial O primeiro exemplo eu retiro de Aristóteles né acho vocês perceberam que eu peguei o Aristóteles hoje para bater nele né mas não não é bem essa questão mas eh como exemplo aqui eu vou eh trazer um pequeno trecho que está na política do Aristóteles Eu dividi aqui em vários slides né é um é um um parágrafo mas que Eu dividi em vários slides para que a gente possa eh
para que vocês possam acompanhar aí o o o texto tal como o o Aristóteles constrói essa argumentação então vou passar aqui rapidinho por essa citação do Aristóteles quando lá na política a gente encontra o seguinte né ele afirma cada povo recebeu da natureza certas disposições e a diferença dos caráteres é facilmente reconhecível se observarmos os mais famosos estados da Grécia e as diversas partes do mundo inteiro os povos que habitam as regiões frias principalmente da Europa São pessoas corajosas mas de pouca inteligência e poucos talentos vivem melhor em liberdade pouco civilizados de resto e incapazes
de governar os seus vizinhos né então vejam a visão do Aristóteles grego macedônico em relação aos povos do norte da Europa né que vivem nos climas mais frios e que para eles então são pessoas corajosas fortes mas pouco inteligentes e ele continua os asiáticos são mais inteligentes e mais próprios para as artes mas nem um pouco corajosos e por isso mesmo são sujeitados por quase todos e estão sempre sob o domínio de algum senhor né então vejam como ele separa duas categorias identificando os europeus do Norte com a dos fortes e Corajosos mais pouco inteligentes
e os asiáticos com os inteligentes mais de pouca coragem e segue o nosso amigo Aristóteles situados entre as duas regiões os gregos também participam de ambas em sua maioria os gregos têm espírito e coragem consequentemente conservam sua verdade e são muito civilizados poderiam mandar no mundo inteiro se formassem um só povo e tivessem um só governo no entanto eles têm entre si as mesmas diferenças acima mencionadas não tendo alguns senão uma das duas qualidades e possuindo os outros as a ambas numa justa proporção e conclui esse parágrafo do Aristóteles é da inteligência e da Coragem
que depende aptidão para a vida civil certamente elas são necessárias para a instituição de um legislador que queira estabelecer o reinado da virtude bom eu estou citando aqui uma das muitas traduções que a gente tem para política do Aristóteles que certamente vocês conhecem um dos nossos textos fundadores da filosofia ocidental e a gente percebe aí nesse texto do eh nesse trecho do texto do Aristóteles o seu caráter absolutamente colonialista né para eles para ele Aristóteles o os gregos são o centro do mundo e são o melhor povo o melhor povo por quê Porque eles são
ao mesmo tempo eh corajosos e inteligentes né então os gregos eram grandes guerreiros por conta da sua coragem mas eram também muito inteligentes Então os gregos tinham todas as características para dominar os europeus do Norte que é eram Corajosos mas não eram inteligentes e para dominar também os asiáticos que eram inteligentes mas não eram Corajosos né os gregos reunindo as duas virtudes eram o o suprassumo da civilização humana né então isso o Aristóteles está nos dizendo sem nenhuma vergonha para ele isso é absolutamente Evidente absolutamente tranquilo não tem nada de eh de eh absurdo para
o próprio Aristóteles nisso que ele está nos dizendo nesse nesse trecho não é eh bom Não vamos não vou ficar discutindo com vocês eh examinando os meandros desse trecho do Aristóteles mas para mim me parece que ele é uma uma explicitação desse perfil colonialista da da filosofia né o Aristóteles Deixa claro que para ele o mundo seria perfeito o mundo seria ótimo se os gregos dominassem o mundo né os os gregos acabam não conseguindo dominar o mundo porque eles também têm essas diferenças entre eles e eles não conseguem se juntar né mas parece que o
o o Alexandre que foi aluno do Aristóteles entendeu bem a mensagem do seu mestre né porque o que eh Alexandre fez foi justamente tentar unificar a cultura grega com o império macedônio né então eh a gente vê que a semente aí do do do pensamento de Aristóteles foi bem plantada no seu no seu aluno eh para além do opa eh para além do Aristóteles o outro exemplo que eu queria trazer para vocês é Hegel né então o grande filósofo da antiguidade grega o grande filósofo da modernidade alemã nas lições sobre a história da sobre a
filosofia da história desculpem de Hegel a gente encontra a afirmação de que a África não tem um interesse histórico próprio por por ser um lugar em que os seres humanos e aí eu cito textualmente Hegel os seres humanos vivem na barbar e na selvageria sem se ministrar nenhum ingrediente da civilização então isso Hegel nos escreve lá no século X olhando pra África e dizendo que os africanos vivem na barbárie e na selvageria sem se ministrar nenhum ingrediente da civilização para Hegel não havia civilização na África Africa né os africanos eram puramente selvagens e isso ele
tá pensando no século XIX né na primeira metade do século XIX e ele continua os africanos são crianças Desculpem os africanos são crianças eternas envoltos na negrura da noite sem a luz da história consciente ou seja pros africanos não há história né não há consciência da história por isso eles são sempre crianças eles não avançam eles não se tornam adultos né né e eu poderia eh colecionar algumas outras pérolas do Hegel eh nas suas lições sobre a filosofia da história alguns comentários que ele faz sobre os sul-americanos e que são muito próximos desses que ele
faz eh sobre os africanos né Eh pra gente perceber que pro Hegel então Eh o pensamento a filosofia a razão só se produzia na Europa né os europeus eram o centro do mundo por por isso se justificava que os europeus conquistassem todo o mundo que os europeus colonizem o mundo né Eh e claro que o o Hegel tá dizendo isso de uma maneira diferente daquela que disse o Aristóteles eh 2000 e tantos anos antes mas eh no fundo eles estão dizendo a mesma coisa né o Aristóteles está afirmando a centralidade do pensamento grego o eh
heg está afirmando a centralidade do pensamento europeu explicitamente do pensamento alemão né Eh eu trouxe esses trechos para vocês para chamar a atenção para eh esse traço Colonial da filosofia né para que a gente reconheça que há uma um veio Colonial na própria filosofia e nos autores que nós estudamos em filosofia e que é importante que nós estudemos né quero deixar isso claro para vocês quando eu venho aqui e denuncio Aristóteles como colonizador eu não estou dizendo que a gente não deva ler que a gente não deva estudar Aristóteles muito pelo contrário é justamente porque
ele foi um colonizador que nós precisamos estudá-lo que nós precisamos conhecer o seu pensamento para que a gente possa construir se for o caso o que nós quisermos um pensamento anti aristotélico né mesma coisa em relação a Hegel né precisamos estudar Hegel precisamos compreender o pensamento do Hegel porque se nós discordamos dele e se nós queremos produzir um pensamento antire regelo nós precisamos saber quais são os argumentos dele pra gente poder combater os argumentos dele né Eh Então esse é o o o sentido do que eu tô querendo aqui comentar com vocês mas deixa eu
avançar para poder eh podermos chegar em algum lugar né Eh tendo colocado esse esse eh perfil colonizador eh inerente da à própria filosofia né Eh como eu disse para vocês eu compreendo a filosofia como algo que foi inventado pelos gregos eu não compartilho Não concordo com as hipóteses que TM sido bastante trabalhadas hoje em dia eh pelo pela eh crítica decolonial que afirma que que eh Há ou houve Filosofia na África antes dos gregos né aí a gente tem uma série de eh de pensadores de de filósofos contemporâneos que defendem uma primazia da filosofia africana
sobre a filosofia grega uma uma anterioridade da filosofia africana sobre a filosofia grega e nós também temos eh autores que defendem uma a prática filosófica aqui nas terras eh Americanas o que hoje nós chamamos de América antes da chegada dos colonizadores eh europeus e que eh eles também produziam as suas próprias filosofias eh e que essas filosofias eh em alguns casos podem ser inclusive anteriores à à filosofia grega né Eu discordo desse desse perfil né Eh por que que Eu discordo desse perfil porque me parece que eh bom é evidente que a palavra filosofia isso
vocês sabem desde aqueles que estão eh começando o curso agora né a palavra filosofia é uma palavra grega né Eh os gregos inventaram a palavra filosofia né E quando nós Assumimos a palavra filosofia como uma palavra Universal né que diz coisas que são coisas que não apenas os gregos fizeram nós estamos colocando essas outras coisas esses outros saberes esses outros conhecimentos produzidos pelos outros povos nós estamos colocando esses conhecimentos sob o guarda-chuva da filosofia né quando nós dizemos que tudo é filosofia que aquilo que os africanos produziam antes mesmo dos gregos já era filosofia nós
estamos colocando o pensamento africano a cultura africana eh abaixo da cultura grega a gente ao defender a primazia dos africanos sobre os gregos a gente tá na verdade subsumindo os africanos aos Gregos né então tem vários autores que estudam a o pensamento africano hoje eh e Que se esforçam por mostrar que muito do muito daquilo que os gregos pensaram eh eles na verdade roubaram ou se influenciaram do pensamento africano e eu acho que isso é é correto n historicamente é correto né muitos filósofos da antiguidade grega do Período Clássico grego viajaram pro Egito por exemplo
né viajaram pra África aprenderam coisas na África e trouxeram isso pro mundo grego né eh mas eh eu acho que aquilo que os gregos fizeram com o pensamento eh na eh na sua na sua terra no seu eh na sua língua no seu modo de pensar Foi algo absolutamente original por mais que eles tenham se influenciado eh pelos outros eles fizeram algo absolutamente original e com isso eu não tô defendendo nenhum milagre grego né como a as pessoas gostam de de dizer né que dizer que a filosofia surgiu na Grécia e só surgiu na Grécia
é dizer que aconteceu um milagre nas terras gregas que não aconteceu em nenhum outro lugar do mundo eu não acho que seja isso né porque o que eu compreendo por filosofia como invenção grega é a invenção de um determinado estilo de pensamento né E isso os gregos inventaram né a a diferença dos africanos a diferença dos sul-americanos a diferença dos persas a diferença dos chineses a diferença dos Japoneses os gregos podem ter se influenciado pelos conhecimentos produzidos por Esses povos Mas eles Inventaram um modo próprio de lidar com esses conhecimentos e foi esse modo próprio
que eles inventaram que eles chamaram de filosofia né E que nós chamamos de filosofia ainda hoje então eu também não me canso de dizer que se nós no Brasil no século XX no século XX estudamos filosofia produzimos filosofia pensamos Filosofia é porque nós fomos colonizados pelos europeus tá isso também eh Considero que seja absolutamente polêmico e que pode eh é deixar alguns de vocês com raiva né e podem reagir à vontade né Essa é a parte boa da gente fazer uma palestra online né Vocês podem reagir ficar nervosos ficar bravos e eu nem vou saber
que vocês estão reagindo né a não ser quando vocês colocarem alguma questão mas eu não corro o risco de ser agredido por ninguém pelas besteiras que eu estou falando aqui né Eh mas vejam brincadeiras a parte eh eh eu penso é isso que eu tô defendendo aqui a minha própria posição né de que sim os gregos inventaram a a filosofia essa filosofia que os gregos inventaram atravessou a Europa primeiro se expandindo com o império macedônico depois se expandindo com o império romano depois se expandindo com a igreja eh Cristã eh durante a idade média né
tudo isso foi sendo retrabalhada a partir da herança grega A partir dessa invenção grega isso chega na modernidade eh europeia e eh os europeus modernos quando colonizam outras terras Como é o nosso caso por exemplo do Brasil levam para essas terras essa cultura e impõe essa Cultura né então se nós eh produzimos filosofia no Brasil hoje Se nós estudamos filosofia no Brasil hoje É porque fomos colonizados pelos europeus Ah isso não significa dizer que os povos que já habitavam essa terra antes dos europeus eh São menores do que os europeus são menos evoluídos do que
os europeus são menos eh menos eh inteligentes do que os europeus eu não tô dizendo nada disso por favor tá a única coisa que eu estou dizendo é que nós produzimos filosofia porque somos colonizados pelos europeus não tivéssemos sido colonizados pelos europeus estaríamos fazendo qualquer outra coisa eh hoje mas não estaríamos fazendo filosofia né Eh se fôssemos africanos não estaríamos fazendo filosofia né Eh e a crítica que eu quero fazer aqui né É que quando nós chamamos todos esses conhecimentos todos esses pensamentos todas essas culturas não europeias como filosofia nós estamos dando o ouro pro
bandido né Por que que a gente tem que chamar de filosofia os africanos tinham uma palavra pro seu tipo de conhecimento pro tipo de pensamento que eles desenvolviam que os gregos foram lá aprenderam com eles e transformaram em Filosofia na Grécia os africanos tinham um nome para isso por que que a gente não chama pelo nome africano Por que que a gente insiste em dizer que os africanos fizeram filosofia antes dos gregos isso engrandece os africanos eu acho que não né Eu acho que isso empobrece aquilo que os africanos fizeram né se a gente disser
que os povos quichua aqui da América do Sul e que habitaram os Andes eh produziam filosofia a gente não tá engrandecendo o povo quichua a gente tá justamente subsumindo o povo quitta ao povo europeu que veio para cá e impôs a filosofia né Essa palavra grega não é que não é uma palavra da língua quichua então se nós queremos engrandecer a cultura quichua aprendamos com a cultura qua como é que eles chamavam o seu próprio pensamento o seu próprio conhecimento e o tratemos pelo nome que eles davam né se a gente quiser eh chamar a
atenção para pra cultura e pro pensamento de determinados povos originários da terra que nós habitamos e que hoje chamamos de Brasil aprendamos com eles na língua deles como é que eles denominam esse conhecimento né e digamos olha Eles produzem produziam produziram e seguem Produzindo um conhecimento tão importante quanto esse conhecimento que os gregos chamaram de Filosofia e que é diferente né E que nós podemos aprender com os gregos com a filosofia e também podemos aprender com os povos originários da América com os povos originários do continente africano com os povos originários do continente Asiático e
assim por diante né Eh chamar então né a ou negar as origens gregas da filosofia e dizer que a filosofia é universal né Eh mas continuar chamando de filosofia me parece que é entregar o ouro aos bandidos né Eh do meu ponto de vista né Eu concordo eu já citei aqui o livro O que é a filosofia do The do guatarri vou citar de novo porque eu acho muito interessante a perspectiva que eles colocam quando eles afirmam que a Filosofia é grega a filosofia lá nas suas origens ela é grega mas os filósofos eram estrangeiros
porque eles diziam que os filósofos aqueles que praticavam a filosofia n e o delus gatari dizem né que o nome filósofo surge antes do nome filosofia né a palavra filosofia é criada depois para explicar o que que algumas pessoas faziam e se autodenominavam de filósofos né então o filósofo faz o quê o filósofo faz filosofia né então a filosofia vem depois do filósofo eles dizem os filósofos eram estrangeiros os filósofos vinham das bordas do mundo grego das fronteiras do mundo grego né se a gente pensa nos primeiros filósofos gregos a maioria deles vinha da Magna
Grécia da região que hoje é a Itália a sicília e etc né E isso era a a a periferia do mundo grego ou Vinham da Jônia né da da Ásia menor da região que hoje é a Turquia e eh eh e aquelas Ilhas ali eh em torno não era o centro eh da da península grega que tá ali Atenas Esparta etc né então os filósofos eram esses caras que vinham de fora do Centro do Mundo grego mas foi ali em Atenas especialmente no centro do mundo grego que a filosofia floresceu como prática né mas vindo
de fora né vindo do estrangeiro os filósofos sendo estrangeiros né mas produzindo na eh Terra grega né uma um estilo de pensamento uma forma de de pensamento e isso me parece eh interessante né pelo menos pra gente trabalhar como como hipótese né então é nessa direção que eu queria eh pensar um um pouco com vocês e me permitam avançar um pouco aqui pra gente eh poder então agora ir para para essa parte que é a que me interessa mais eh que é o que que a gente faz né frente a isso se a gente se
vocês minimamente concordarem comigo com essas eh premissas que eu coloquei com essas hipóteses que eu levantei o que que a gente faz para descolonizar a filosofia né se a gente reconhece que a filosofia é colonial e é colonialista o que que a gente pode fazer para descolonizar a filosofia eu chamaria a atenção de vocês em primeiro lugar eh para esse filósofo que eu já citei aqui algumas vezes o The eh na sua obra publicada em 1968 que é diferença e repetição na qual o o theus faz a crítica daquilo que ele chama de imagem do
pensamento né Ele diz que quando Nós pensamos Nós pensamos segundo uma imagem do pensamento e essa imagem do pensamento define de antemão O que é pensar né [Música] eh deixa eu ver se eu consigo explicar minimamente isso para vocês né Eh quando nós eh dizemos O que é pensar a gente pode dizer por exemplo segundo Platão pensar é tal coisa né então esse pensar segundo Platão é tal coisa é o que o theus chama de uma imagem do pensamento né então o pensamento segundo Platão o pensamento Segundo Aristóteles o pensamento segundo descart o pensamento segundo
o próprio the né então Eh quando a gente pensa dentro das Fronteiras definidas por um determinado Pensador por um determinado filósofo nós estamos no âmbito daquilo que ele chama uma imagem do pensamento né Eh alguém que pensa produz uma imagem do que significa pensar e quando Nós pensamos dentro de uma determin determinada imagem do pensamento é aí que entra a a questão importante nós não pensamos diz o o the nós repetimos o que já foi pensado então quando Nós pensamos platonicamente nós repetimos o que Platão pensou quando Nós pensamos cartesian nós repetimos o que descart
pensou quando Nós pensamos nitian nós repetimos o que niet pensou quando nós Pensamos delusi a gente repete o que o pensou e pro isso não é pensar repetir o que já foi pensado não é pensar para ele pelo menos nesse livro eh diferença e repetição pensar é criar um pensamento novo é pensar algo que ainda não foi pensado pensar o que ainda não foi pensado e isso ele chama de pensamento sem imagem produzir um pensamento sem imagem é produzir um pensamento que ainda não foi pensado né vejam para mim aqui tá o cerne de uma
descolonização da filosofia né porque essas imagens do pensamento nos colonizam n então a gente pensa segundo determinados autores e esses autores colonizam o nosso modo de pensar e quando Nós pensamos colonizados Seja lá quem for eh nós não não pensamos nós repetimos o que já foi pensado né então repetir o que já foi pensado é justamente a fonte de um pensamento colonizado um pensamento descolonizado é um pensamento que pensa aquilo que ainda não foi pensado é um pensamento criativo é um pensamento novo tá então vejam Eu tô aqui pensando junto com o The mas tentando
não ser colonizado por ele né então eu tô dizendo que o que ele chama de imagem do pensamento se aproxima do que eu tô propondo chamar de um pensamento colonizado né uma filosofia colonizadora e o que ele chama de pensamento sem imagem se aproxima do que eu tô propondo chamar de um pensamento descolonizado ou de um pensamento não colonizado tá então me parece que esse aí é um um dos primeiros elementos que a gente poderia pensar para tentar produzir uma uma filosofia não colonizada para tentar descolonizar os nossos próprios pensamentos eh Se vocês me permitem
só voltando um pouquinho aqui bom vou deixar isso eu ia fazer um comentário aqui mas eu vou deixar pro final porque senão talvez eu entre num desvio aqui num desvio que complique mais as coisas e mais um trechinho aqui que eu eh trago Eh agora de novo do The do guatarri não do livro que eu já citei O que é a filosofia mas do livro mil platôs então vejam citei o que é a filosofia que é um livro de 91 citei diferen repetição que é um livro Só do theus de 1968 e cito agora mil
platôs que é um livro também escrito pelos dois e publicado em 1980 eh esse trechinho no qual eles escrevem o seguinte ao longo de uma grande história o estado foi o modelo do livro e do pensamento o Logos o filósofo rei a transcendência da ideia a interioridade do conceito a República dos Espíritos o tribunal da Razão os funcionários do pensamento o homem legislador e sujeito e aqui eles estão citando né uma série de imagens de filósofos eh e de filosofias que a gente tem ao longo da história né é pretensão do Estado ser imagem interiorizada
de uma ordem do mundo e enraizar o homem mas a relação de uma máquina de guerra com o fora não é um outro modelo é um agenciamento que torna o próprio pensamento nômade bom para quem não conhece esses autores Talvez esse trecho seja eh um pouco duro né de de de de compreender mas eu digo para vocês porque que eu tô trazendo aqui pelo menos o que que eu tô querendo tirar eh desse trecho né primeiro porque eles vão dizer que o estado isso que a gente chama de de estado né a sociedade instituída na
forma do Estado produz um modelo do pensamento né produz o Logos né aquilo que os gregos chamaram de Logos é um modelo do pensamento proposto ou produzido a partir de uma forma estado né E essa forma estado vai se transformando ao longo da história né então o Logos né ele vai assumir diferentes facetas ele é o filósofo Rei com Platão né ele é a transcendência da ideia com Platão né mas ele é a República dos espíritos na modernidade ele é o tribunal da Razão eh no século das luzes não é eh E por aí vai
né a gente poderia tomar aí os vários eh exemplos né mas o que que eles estão nos dizendo que o estado procura se encarnar em cada um de nós em cada um de nós inclusive no pensamento né Portanto o estado é sempre colonizador o estado procura nos colonizar através do pensamento não só através do pensamento mas fundamentalmente também através do pensamento o que que eles contrapõem a essa forma do Estado algo que eles chamam de máquina de guerra né que diz respeito à sociedades que não têm estado e que não querem ter estado Como foi
o caso por exemplo segundo um antropólogo francês o o Pierre clastres de uma série de comunidades eh de povos originários aqui da América do Sul especialmente eh os povos Guarani e os povos guaiaqui que eram sociedad sem estado e não queriam ter estado né um livro que o o pi clastres escreve depois de passar eh anos estudando essas comunidades aqui na América do Sul tem por título Justamente a sociedade contra o estado né eh então há também sociedades que não t estado que não tiveram estado e que não t estado essas sociedades operam segundo o
delz e o gatari eh como uma máquina de guerra né E a máquina de guerra não produz modelos né porque o modelo é algo para ser reproduzido né Você tem um modelo e você reproduz esse modelo a máquina de guerra opera por aquilo que eles chamam de agenciamentos que são acoplamentos são junções que vão se produzindo com as coisas que a gente encontra né então a gente vai encontrando elementos a gente vai juntando esses elementos vai produzindo agenciamentos e produz com isso o que eles chamam de um pensamento nômade Então a gente tem um pensamento
sedentário que é o pensamento do estado do estado que eh é sedentário porque está parado porque se torna algo muito grande e muito pesado para se mover e um pensamento nômade um pensamento que se desloca que é o pensamento da máquina de guerra que é um pensamento leve né então também voltando a esse trecho do Del gatari a gente poderia dizer que o modelo de Filosofia é um modelo colonizador né é um modelo de um pensamento de estado colonizador e que uma filosofia como Máquina de Guerra é uma filosofia leve é uma filosofia que foge
é uma filosofia que escapa é uma filosofia que é capaz de criar coisas novas né não vou eh desenvolver mais isso com vocês porque senão eu passaria o resto da noite falando disso porque é um um tema que para mim é apaixonante né mas eu queria pelo menos deixar esses pontos aqui eh pra gente poder seguir a a argumentação né Eh caminhando eh aqui pro final da nossa dessa exposição pelo menos né Eh eu queria trazer para vocês um autor brasileiro que é o Osvaldo de Andrade que certamente vocês eh conhecem não é eh osvald
de antrade o escritor eh romancista poeta eh brasileiro que eh na Semana de Arte Moderna de 1922 eh produziu O Manifesto da poesia Pau Brasil e depois em 1928 produziu o manifesto antropófago né Manifesto antropófago justamente porque bom e atrás de mim aqui tem um melzinho ali vocês não vão ver eh mas eu tenho ali no móvel uma uma etiqueta preta que diz tem uma frase né do Manifesto antropófago do Osvaldo de Andrade só a antropofagia nos une né Eh eh e osvald Andrade vai justamente se basear em determinadas comunidades originárias aqui do Brasil que
praticavam a antropofagia né eles eh venciam os inimigos e devoravam o corpo dos inimigos porque para eles isso era uma forma de queria a força do inimigo né se você vence um inimigo que é fraco você não come aquele inimigo porque você vai se enfraquecer se você comer o que é fraco você se enfraquece mas quando você vence um inimigo forte que te deu muito trabalho você devora eh o corpo do inimigo por quê Porque com isso você tá eh devorando você tá incorporando a força do inimigo né então é uma forma de você reconhecer
a força do inimigo e é uma forma de você incorporar a força do do inimigo né bom isso que o o essas comunidades originárias praticavam né Eh culturalmente e materialmente ah o osvald de Andrade leva pro campo da cultura n e ele vai propor que a gente Produza uma uma cultura antropofágica né Essa antropofagia do osvald de Andrade que ele vai produzir outros autores na sua época vão produzir também vai ser a a base né paraa origem do do movimento da Tropicália no final dos anos 60 no Brasil né a música tropicalista Foi profundamente influenciada
eh Pelo Osvaldo de Andrade e pela eh Perspectiva da antropofagia do Osvaldo de Andrade Mas por que que eu tô trazendo o Osvaldo paraa conversa aqui porque isso nem todo mundo sabe mas em 1950 O Osvaldo de Andrade já velhinho nem tão velhinho mas já perto da M ele morreu alguns poucos anos depois em 1950 o ento de filosofia da Universidade de São Paulo abriu um concurso para professor titular e o Osvaldo de Andrade eh prestou Esse concurso se inscreveu nesse concurso e para se inscrever no concurso ele tinha que apresentar uma tese né Assim
como hoje né se a gente quer Eh concorrer a um concurso de professor titular nas nossas nas nossas universidades é necessário eh criar uma tese propor uma tese né e o osval de Andrade escreve uma tese que ele intitula a crise da filosofia Messiânica e se candidata a esse concurso na Universidade de São Paulo que obviamente ele não foi aprovado né Eh eh os doutores de filosofia da USP não consideravam osvald de Andrade um filósofo né então não fazia sentido ele ser aprovado num para uma vaga para uma cadeira do curso de Filosofia da USP
mas o osval de Andrade escreve uma tese de filosofia eh que ele intitula Justamente a crise da filosofia Messiânica para ele a filosofia Messiânica é a filosofia europeia e ele tenta nessa tese mostrar que a filosofia europeia está em crise né para ele o existencialismo ele tá escrevendo em 1950 O existencialismo é a grande perspectiva filosófica europeia daquele momento eh O existencialismo é o sintoma da crise da filosofia Messiânica e na contramão dessa filosofia Messiânica o osvald propõe o que ele chama de uma filosofia antropofágica Tá então por isso eu tô trazendo Osvaldo de Andrade
aqui como eh não um modelo mas uma máquina de guerra que a gente pode se agenciar com ela para pensar a a produção de uma filosofia descolonizadora nos nossos dias porque o que que dizia fundamentalmente o O Osvaldo de Andrade com a sua perspectiva antropofágica né Ele diz o seguinte bom se os colonizadores são os nossos inimigos se nós estamos lutando contra eles nós precisamos devorar os nossos inimigos Assim como as comunidades originárias devoravam os seus inimigos né se nós estamos falando do âmbito da cultura nós precisamos devorar a cultura do colonizador para transformá-la em
nossa cultura então do mesmo jeito que um eh uma comunidade originária devorava um europeu que tentava conquistá-los e com isso eles incorporavam o corpo do europeu diz o osval de Andrade nós brasileiros podemos devorar a cultura europeia incorporar a cultura europeia Não Para sermos colonizados por ela mas para produzir a nossa própria Cultura a partir de elementos que são também da cultura europeia E é isso que ele vai fazer nessa tese de Filosofia de 1950 n é nós podemos ver as forças e as fraquezas da filosofia europeia podemos devorar a filosofia europeia e produzir uma
filosofia Nossa que é essa filosofia que o Osvaldo de Andrade denomina eh como filosofia antropofágica né então me parece que aqui com Osvaldo de Andrade a gente tem um caminho eh próximo eh disso que eu estou propondo para vocês hoje como uma necessidade de descolonizar a a filosofia né Eh eu tenho escrito algumas coisas e feito algumas falas sobre isso hoje que do meu ponto de vista o grande problema que nós enfrentamos na filosofia hoje são os fundamentalismos de todos os tipos religiosos políticos sociais pedagógicos E também fundamentalismos filosóficos porque nós também temos fundamentalismos filosóficos
vocês vejam dois dois exemplos que nós estamos vivendo hoje a a guerra lá no Oriente Médio n é uma guerra entre dois fundamentalismos Israel é um país fundamentalista judeu um país fundamentalista hebraico e é a partir da do fundamentalismo religioso que Israel ataca os palestinos né o grupo Ramis que eh provocou Israel também é um grupo de fundamentalismo islâmico Então são dois fundamentalismos religiosos combatendo não é no caso de Israel o fundamentalismo é religioso e é político né porque Israel é um estado instituído no caso eh dos palestinos no caso do ramaz é Um fundamento
religioso mas que é também político mas que não tem um um estado instituído né mas essa guerra é uma guerra entre fundamentalismos o outro exemplo né a guerra que acontece eh por conta da invasão da Rússia a Ucrânia também é uma guerra fundamentalista no caso aí não necessariamente de um fundamentalismo religioso ainda que tenha um certo atravessamento nesse sentido mas eh ah é um fund são dois fundamentalismos políticos né é o fundamentalismo político Russo combatendo o fundamentalismo político ucraniano e vice-versa né então vejam os grandes problemas da humanidade hoje do meu ponto de vista são
atravessados pelos fundamentalismos o grande problema da sociedade Brasileira hoje é o crescimento dos fundamentalismos entre nós religiosos sociais políticos e etc né por isso eh eu penso que falar em descolonização da filosofia hoje é enfrentar também o problema do fundamentalismo e é enfrentar o problema de um fundamentalismo filosófico Então vou tocar aqui de forma rápida nisso com vocês mas me parece que a a filosofia europeia a filosofia que começa com os gregos e se estende eh pela história do ocidente europeu [Música] eh essa filosofia foi marcada desde as suas origens por uma noção que é
a noção de arqué né Se vocês quando vocês estudam especialmente os filósofos pré-socráticos vocês vão ver que todos eles procuravam a arqu né arqu entendida como o princípio como a origem né Eh e também como o fundamento né A arqu Era justamente o fundamento da natureza segundo esses pensadores gregos esse pensamento da arqu ele passa paraa política a gente também vai pensar na arqu política no fundamento do exercício da política e é e essa noção de arqu eh inventada pelos gregos ela atravessa todo o pensamento europeu Então eu penso não ser eh uma torção muito
forte dizer que a tradição filosófica ocidental é uma Filosofia fundamentalista é uma filosofia que depende de Um fundamento e que sempre se coloca com base em Um fundamento né então a gente pode tanto chamá-la de uma filosofia fundamentalista ou de uma filosofia ár quica né ár quica Pode parecer estranho para vocês né ár Quica Em relação à arqu né Vocês já vão entender porque que eu tô falando de filosofia ár quica né mas o que eu queria então Dizer para vocês é que me parece que a gente pode falar em uma filosofia fundamentalista ou uma
filosofia ár quica né e é essa filosofia que a gente precisa combater né quando eu comecei Há muitos minutos lá atrás a falar do combate filosófico contemporâneo no Brasil do Século XXI é É disso que eu queria falar para vocês né então toda essa volta que eu dei foi para chegar aqui né precisamos combater essa filosofia ár quica essa filosofia fundamental alista porque ela é uma filosofia colonizadora para lutar contra essa tradição filosófica nós precisamos então produzir uma filosofia que seja A negação da filosofia ár quica Qual é a negação da filosofia ár quica é
uma filosofia anárquica né por isso eu usei a expressão ár quica para contra ela chamar a atenção de vocês para uma filosofia anárquica ou anarquista né uma filosofia que nega a arqu uma filosofia que nega o fundamento né então se temos uma Filosofia fundamentalista também podemos ter uma filosofia antif fundamentalista né Essa filosofia antif fundamentalista ou essa filosofia anárquica ela seria justamente um exercício de ignorância e de dúvida e eu tô usando essas duas palavras aqui porque vocês conhecem bem essas duas palavras no âmbito da filosofia né quando falamos da filosofia como como exercício da
ignorância evidentemente Estamos nos remetendo a Sócrates né considerados por muitos né como o patrono da filosofia né a filosofia como um exercício de ignorância e como quando falamos da filosofia como um exercício da dúvida estamos falando de descart de outros filósofos também mas principalmente de descart considerado por muitos como um eh um o iniciador da filosofia moderna né então resguardar na filosofia esse exercício de ignorância e de dúvida desde que nós não transformemos a ignorância e a dúvida em novos fundamentos né porque a ignorância ela é justamente um antídoto um antídoto desculpem contra os fundamentos
Mas se nós transformarmos a ignorância num novo fundamento dançou né transformamos a ignorância em fundamento caímos de novo no fundamentalismo a dúvida o exercício da dúvida é justamente duvidar de todos os fundamentos né mas se ao duvidar de todos os fundamentos nós transformarmos a dúvida num novo fundamento perdemos de novo o o movimento né então eu diria para vocês que isso que eu estou chamando aqui de uma Filosofia anárquica de uma filosofia antif fundamentalista que é descolonizadora eh ela pode se valer desses instrumentos da ignorância e da dúvida desde que não os transforme em novos
fundamentos e concluindo definitivamente queria eh deixar vocês aqui na companhia eh desse verso do Osvaldo de Andrade é um verso que ele repete inúmeras vezes eh no Manifesto antropófago a alegria é a prova dos nove né uma filosofia anárquica uma Filosofia antif fundamentalista é necessariamente uma filosofia Alegre é um exercício da alegria né é um exercício da produção eh dessa potência que nos faz ser mais do que nós somos né E quando nós aumentamos a nossa potência de ser como como dizia o Espinoza lá no século X nós sentimos alegria né nós sentimos alegria justamente
porque nos tornamos mais do que nós somos né uma filosofia que descolonize o pensamento é uma filosofia que nos provoca alegria bom muito obrigado pela paciência de vocês por terem acompanhado eh essa tentativa de eh reflexão que eu trago para vocês aqui nessa noite eh obrigado pela eh atenção e pela paciência de vocês peço desculpa se me exaltei demais mais em alguns momentos se me animei demais se se me fiz Alegre demais em alguns momentos mas eu acho que isso é importante porque a a a filosofia não é um exercício só de seriedade ela é
séria mas ela é também um exercício de alegria eu não sei como é que nós estamos de tempo mas eu fico à disposição de vocês se quiserem fazer perguntas comentários Se quiserem brigar comigo fiquem absolutamente à vontade como a gente tá longe podemos à vontade sem maiores problemas obrigado [Aplausos] gente Professor auditório professor professor o auditório tá aqui batendo palmas a gente parabeniza o senhor pela pela palavra pela exposição pela pela condição de se colocar no nosso lugar e poder ser bem claro para que a gente possa possa entender né com clareza e a gente
quer aproveitar esse momento para perguntas a gente tem algumas perguntas aqui e se o Adriano também quiser colocar aí uma das perguntas é da Rosana Silva descolonizar a filosofia seria criar um novo conceito onde o novo se apoiaria não poderíamos mais chamar de Filosofia para descolonizar eh bom posso responder sim agradeço a Rosana pela pela pergunta eh eh Rosana o o movimento que eu estou fazendo é justamente chamar de filosofia dizer que da mesma forma que a gente tem uma filosofia colonizadora a gente pode produzir uma filosofia descolonizadora que continua sendo Filosofia mas que em
lugar de colonizar opta por descolonizar né mas quando a gente continua chamando de filosofia a gente também tá assumindo que a gente está se utilizando desse referencial europeu que foi trazido para nós como colonização né então é é uma é uma forma de você eh tentar inverter o movimento os caras nos colonizaram né e nos botaram a filosofia guela abaixo como colonização Mas a gente pode pegar essa ferramenta que eles nos deram nos colonizando ou nos impuseram nos colonizando e usar a ferramenta como arma contra eles né descolonizando né Então nesse sentido eu acho que
sim nós precis podemos eh continuar chamando de filosofia nós podemos fazer uma filosofia que seja descolonizadora o que eu comentei que me parece um equívoco é a gente chamar de filosofia os conhecimentos produzidos por outros povos antigos que não eram gregos né Isso me parece um equívoco né Eu acho que a gente devia chamar o pensamento dos povos africanos pelos nomes que nas diversas línguas africanas eles deram para esse pensamento isso é respeitar o pensamento africano né Eh não é dizer olha eles estão fazendo filosofia né eles são tão bons quanto os gregos Ou eles
são melhores do que os gregos porque eles fizeram antes dos gregos filosofia né Eu acho que com isso a gente tá desrespeitando o o pensamento que eles produziram na suas próprias línguas e os sentidos que eles deram nas suas línguas para aquilo que eles pensaram né os africanos os sul-americanos os asiáticos e assim por diante né Eu não acho que eles são nem piores nem melhores do que os gregos eu acho que cada povo na sua época na sua eh no seu local produziu eh o pensamento que precisou produzir para sobreviver né Eu só acho
que a gente chamar tudo isso de filosofia hoje a gente olhar para pro passado e chamar tudo isso de Filosofia é uma forma de colocar tudo num grande Caldeirão eh que a gente quer tirar a importância dos gregos mas a gente acaba dando mais importância eh pros gregos né e por fim né a primeira parte da sua da sua pergunta ah primeira parte da sua pergunta fala sobre o novo a criação do novo Eh e onde é que o novo se apoiaria né Então aí é que eu acho que tá Justamente a questão o novo
não se apoia em nada né porque se o novo se apoiar em alguma coisa ele já deixou de ser noivo noivo né Já tô aqui me me traindo com as palavras Desculpe é o mal de falar demais mas se o novo se apoia em alguma coisa ele já não é novo né É por isso que aquela ideia de imagem do pensamento do The me parece uma uma um convite interessante ou uma provocação interessante que ele nos faz né quer dizer em vez de uma imagem do pensamento pensemos sem nenhuma imagem né então pensar sem nenhuma
imagem é pensar sem apoio é pensar sem suporte né é pensar sem fundamento né então pensar o novo é justamente não se apoiar em nada né Eh claro que o tempo todo a gente não tá pensando no vazio a gente não está produzindo o nosso pensamento No Vazio né Eh eu citei aqui diversos autores ao longo da minha da minha exposição então não tô dizendo para vocês olha fechemos os olhos e os ouvidos para tudo que já foi foi dito e escrito até hoje e pensemos sozinhos né Não não é disso que se trata né
Mas a questão é não fiquemos apenas repetindo aquilo que já foi dito e que já foi escrito aquilo que já foi pensado né tentemos pensar o novo em diálogo com tudo isso que já foi pensado mas não tomando isso que já foi pensado como fundamento como base como apoio para o nosso próprio pensamento né a gente pode tomá-lo como diálogo não como alicer sen não como fundamento né pelo menos é assim que eu tenho que eu tenho visto a as coisas e aí eu te agradeço pela pela pergunta porque ajuda a esclarecer um pouco melhor
essas questões beleza Professor beleza Professor Muito obrigado a gente tá com uma pergunta aqui Do Gustavo e ele diz assim eh gostaria que comentasse seu texto sobre o ensino de filosofia no Bras onde aborda o conceito deid sou seu leitor desde o ensino médio no Liv a experi do pensamento Desculpe clemon deu uma uma cortada na sua fala e eu perdi um pouco você poderia repetir Com certeza o Gustavo a pergunta dele é gostaria que comentasse seu texto sobre o ensino de filosofia No Brasil onde aborda o conceito de governamentabilidade sou seu leitor desde o
ensino médio no livro A experiência do pensamento Obrigado Gustavo obrigado obrigado clon obrigado Gustavo pela pergunta uma honra você dizer que me lê desde que está no ensino médio eh paraa gente que escreve não tem retorno melhor do que saber que as pessoas leem né Eh e se dispõe a est junto com a gente pensando com a gente pensando para além da gente pensando contra a gente né Eh bom então você pergunta disso acho que isso nos nos tira um pouquinho do do do eixo que eu tava conversando aqui mas eh acho que é bem
interessante né a o que sei lá uns 10 anos atrás mais uns uns 15 anos atrás acho eu escrevi esse texto eh pensando H 15 anos né Um pouquinho a partir de 2008 né como a gente sabe a a filosofia foi colocada como disciplina obrigatória no ensino médio né Depois da gente ter lutado por isso desde a década de 1970 né com o regime militar que se inicia uma luta pela eh introdução da filosofia como disciplina no ensino médio eh lá com a LDB em 1996 a gente tem uma certa Conquista nesse aspecto né a
filosofia aparece como um dos um dos componentes né Eh na na LDB dizendo que a filosofia é tão importante que ela deve atravessar todos os conteúdos do ensino médio né os conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da Cidadania é assim que a lei dizia né E aí a gente entendeu a gente professor de Filosofia naquele momento que a lei tava determinando que a gente tivesse aulas de filosofia só que o governo na época não entendeu assim né Eh devia ter filosofia nas escolas mas eh não precisava ter aula de filosofia para ter filosofia
porque a filosofia é tão interessante que ela está em todas as disciplinas bom e a gente sabe que não é assim né né e a gente sabe que Especialmente na eh no Brasil eh os professores são contratados para trabalhar com determinadas disciplinas se não tem uma disciplina de filosofia no currículo a a escola não tem como contratar um professor de Filosofia né ela não tem como contratar um professor de Filosofia que vai est lá atravessando transversalmente todos os conteúdos e se a gente não tem o professor de Filosofia a gente não tem presença da Filosofia
na escola né porque os professores das outras disciplinas não são preparados para trabalhar com conteúdos filosóficos né Então a nossa luta continuou né Para para que a gente tivesse um espaço paraa disciplina filosofia e isso só se consolida em 2008 né Eh bom logo depois disso então entre 2008 e 2010 mais ou menos por isso que eu falei mais ou menos uns 15 anos atrás Um pouco menos talvez eu acabei escrevendo esse texto que seria publicado depois acho que em 2012 se não me Me falha a memória eh pensando né a o ensino da filosofia
no Brasil a partir eh de uma ideia de um conceito que foi desenvolvido pelo Michel Foucault que é o conceito de governamentalidade que é o uma eh tentar compreender a forma como o poder se exerce em uma determinada sociedade né então Eh lendo o o Foucault eu coloquei a hipótese de que aqui no Brasil depois de 88 com o o processo de redemocratização do país especialmente com a Constituição de 88 a gente eh estaria desenvolvendo o que eu propus chamar de uma governamentalidade democrática né um uma forma de ação dos poderes instituídos uma forma de
ação dos governos que transcende o próprio governo transcende o partido político que tá no governo transcende a pessoa que exerce o o governo n mas que eh se instala naquilo que a gente poderia chamar de máquina governamental como um todo um processo de governamentalidade democrática e pra gente entender porque que a filosofia foi introduzida no currículo em 2008 a gente precisava compreender esse processo de governamentalização democrática do do do Brasil né bom eu eu gostei de ter escrito esse Tex eu não sei o que que as pessoas pensam dele não sei o que você próprio
eh pensa do texto mas eu gostei achei que era uma uma hipótese analítica que fazia sentido e desde aquele momento eu tenho tentado desenvolver melhor esse eh essa ideia de uma governamentalidade democrática aqui no Brasil e escrevi vários outros textos eh sobre esse assunto para além do do ensino da filosofia estudando outras políticas educativas do Brasil nos nas últimas décadas para tentar compreender como é que essa possível governamentalidade democrática gera determinadas políticas públicas de Educação no no Brasil né mas esse texto sobre o ensino da filosofia foi o texto que originou essa essa hipótese de
trabalho que eu venho desenvolvendo desde então então obrigado pela pergunta e pela oportunidade de falar um pouquinho sobre isso obrigado pela resposta Professor muito bom a gente tem mais uma pergunta aqui do professor professor José Soares ele é nosso coordenador do do programa de inovação pedagógica programa institucional de inovação pedagógica uma um dos nossos apoiadores para que essa jornada acontecesse e nós a pergunta dele é para que e para quem a filosofia no novo ensino médio vai melhorar com as emendas do novo governo Obrigado José Professor José pela pergunta eu gostaria muito de poder dar
uma resposta otimista Mas infelizmente não consigo eu acho que o grande problema não é nem sem trocadilho né o grande problema não é nem o novo ensino médio não é nem o nem o grande problema que a gente tem hoje é a bncc né Eh vocês vão se Recordar que o chamado novo ensino médio eh quando aprovado lá no governo do Michel Temer ficou justamente aguardando a aprovação da bncc ensino médio porque eles não tinham como implementar o novo ensino médio sem a aprovação da bncc ensino médio né então a coisa só começou a ser
colocada eh em prática a partir de 2018 quando o o Congresso Nacional a a aprovou o novo ensino médio e depois a se aprovou a a bncc a base Nacional comum curricular né que do meu ponto de vista é o o grande problema né porque é na bncc que se articula a a o currículo por área de conhecimento e não por disciplina que eu acho que para nós da filosofia é o o grande problema eh colocado né Por quê porque eh eu sou alguém que há muito tempo defende um pensamento não disciplinar e um currículo
não disciplinar tá então eu deveria ser alguém que que veria com eh otimismo a bncc na medida em que a bncc desd disciplinarização Mas isso é um problema porque quando a gente eh fica nas áreas de conhecimento a gente está tomando as áreas de conhecimento também de forma disciplinar E aí qual que é a tendência na na na lógica curricular eh eh que a gente tem no país a tendência é que sejam privilegiadas as disciplinas tradicionais e sejam escante adas as disciplinas que não são tradicionais ou para usar uma expressão que um orientando meu usou
anos atrás e que eu achei muito interessante eh não privilegiam as disciplinas que não t cidadania curricular né O que que eu tô querendo dizer com isso ninguém precisa dizer no Brasil que é preciso ter aula de matemática concordam comigo nenhuma escola vai propor um currículo na qual não não tem aula de matemática Né nenhuma escola vai propor um currículo que não tenha aula de português e vejam de novo tá o fato de eu afirmar algumas coisas não significa que eu esteja eh defendendo outras né Eu não estou defendendo que a gente não deva ter
aulas de matemática e aulas de português por favor não tô falando isso tá eh mas o que eu tô dizendo é a gente pode dizer que o currículo se compõe por áreas e vai continuar tendo matemática no currículo vai continuar tendo português no currículo Mas se a gente não disser que tem que ter filosofia no currículo não vai ter filosofia no currículo por quê Porque a gente não tem tradição de ensino de filosofia no Brasil né a gente resposta que eu dei antes né a gente começou a trabalhar eh em 2008 com o ensino da
filosofia como disciplina obrigatória quando foi em 2018 com o novo ensino médio e bncc isso Caiu né durou 10 anos né entre nós um exercício de todo mundo no ensino médio ter aula de filosof filosofia nas três séries do ensino médio isso durou 10 anos durou uma década né E foi eh novamente eh retirado por quê Porque a gente não repito a gente não tem tradição de filosofia no currículo se a gente tivesse e a mesma tradição que a matemática tem no currículo tranquilamente a gente poderia falar por área de conhecimento ciências humanas a gente
é garantido que a gente vai ter lá nas ciências humanas na escola um professor de Filosofia um professor Prof de sociologia um professor de história um professor de Geografia mas infelizmente não é assim que acontece Brasil a fora talvez acontece em um ou outro lugar mas não acontece no Brasil como um todo né Eh a gente vai dizer ciências humanas vai ter história porque a história tem tradição vai ter Geografia porque a geografia tem tradição mas a filosofia e a sociologia não estão de forma alguma garantidas né Eh então eu acho que o grande problema
tá aí né nessa nesse tipo de estruturação por área que é é feita pela bncc e Ah e ao fato de que a bncc atende Pode parecer lugar comum que eu vou dizer mas eu acho que tá correto né atende aos interesses neoliberais né Eh e aqui eu não tô achando que isso é linguajar vazio Não né são os grupos que defendem a neoliberalização da Educação brasileira que se comprometeram com a produção da bncc com a produção do novo ensino médio né E que aprovaram a bncc e aprovaram o novo ensino médio né então eu
penso que pra gente conseguir trazer com força um debate filosófico pra escola brasileira garantir uma presença da Filosofia na escola brasileira a gente teria que desmontar eh teria primeiro fazer resistência e depois desmontar o novo ensino médio e a blcc não apenas o novo Ensino Médio Mas também a a bncc e aí quando Professor José pergunta eh se a gente vai avançar com aquilo que o o o novo governo eh fez agora né ontem né foi a proposta do do novo ensino médio reformulada eu vi muito por alto de ontem para hoje isso eh acho
que tem um ponto positivo ali né que é o de garantir a presença das disciplinas porque a gente só pode ter a área de conhecimento se tiver as disciplinas ali presentes né então isso eu vejo como um ponto positivo mas ao mesmo tempo eu acho que a as pressões são tantas e tamanhas né e as pressões eh dos neoliberais são tantas e tamanhas que se a gente não lutar muito se a gente não brigar muito a gente não tem muita esperança paraa filosofia eh Nesse contexto né Eu acho que eles vão continuar afirmando a importância
da filosofia e aí eu lembro né para vocês lá no final da década de 90 bom talvez aí dos alunos de filosofia a maioria nem tivesse nascido naquele momento né é a história e para alguém da minha idade a gente tá falando de anteontem né mas lá no final da década de 90 no governo Fernando Henrique Cardoso em que o Paulo Renato de soua era Ministro da Educação e que os parâmetros curriculares nacionais afirmavam a importância da filosofia né Eh e a gente conseguiu eh Aprovar Na câmara dos deputados e no senado federal a obrigatoria
da do ensino de filosofia quando ela vai pro presidente Fernando Henrique Cardoso que é sociólogo não podemos nos esquecer disso ele veta n ele veta porque o Ministro da Economia dele o Paulo Renato que foi reitor da minha universidade foi reitor da Unicamp foi secretário de educação de Estado de São Paulo era já já tô dizendo era porque já faleceu né era um economista era um economista que lidava com educação e ele orientou o Fernando Henrique sociólogo a vetar a introdução S da sociologia e da filosofia como disciplinas obrigatórias Por quê ele dizia essas disciplinas
são tão importantes que elas não podem ser disciplinas Elas têm que est em tudo né então a filosofia é tão importante mas tão importante que a filosofia tem que est em todo lugar na escola só que dizer que a filosofia está em todo lugar na escola significa dizer que ela está em lugar nenhum significa dizer que ela não está na escola né E são essas mesmas forças né que estavam lá no final da década de 90 representadas no Ministro da Educação no Paulo Renato que seguem atuando no Ministério da Educação e seguem atuando na na
sociedade brasileira então eu particularmente não vejo com muita esperança eh aquilo que foi encaminhado acho que tem alguns avanços que a gente precisa reconhecer mas eu não vejo com muita esperança eh isso que foi encaminhado acho que a gente vai precisar de muita mobilização e muita luta para fazer eh acontecer alguma coisa nesse sentido Professor muito interessante a sua reflexão e a análise que o senhor faz e Adriano você quer colocar mais uma pergunta para pergunta do João Vítor aluno aqui da UFT do curso de Filosofia Ele pergunta para descolonizar a filosofia no Brasil não
deveríamos valorizar mais a tradição oral em detrimento da escrita tendo em vista que a tradição dos povos originários é falar e não escrever Obrigado João Vitor sua questão é fantástica eh eu bom tudo que eu disser agora pode ser usado contra mim né Mas eu eu confesso para vocês que eu tinha pensado em abordar esse ponto na minha exposição mas aí Achei que ia me alongar demais e quando terminar Ava de preparar isso hoje eu resolvi não não entrar nessa Seara porque abriria toda uma outra dimensão né porque nisso que nós chamamos Mas agora você
perguntando você me dá a chance de trazer pelo menos alguns elementos para pensar isso né isso que nós chamamos junto com os gregos de Filosofia é algo que é pensado na tradição da escrita né a filosofia foi inventada junto com a escrita né Tem um um um filósofo francês contemporâneo Pierre Levi eh que tem um livro dos anos 90 também que eu gosto bastante chamado as tecnologias da inteligência e ele diz que cada eh momento histórico né da da humanidade a gente cria determinadas tecnologias da inteligência que eh implicam na nossa forma de pensar e
ele divide né a a história a cultura da humanidade em três polos distintos o que ele chama de polo da oralidade Polo da escrita e polo da informática né todo o toda a a questão do Pr Levi porque ele é um Pensador contemporâneo É a tese de que a o crescimento e o desenvolvimento da informática e isso ele tava escrevendo lá nos anos 90 hein e 30 anos atrás né o desenvolvimento da informática provocaria um impacto tamanho no nosso pensamento que é eh eh similar ao Impacto que foi causado pela invenção da escrita lá na
na antiguidade né E aí ele vai dizer bom a oralidade deu origem a determinados tipos de conhecimento a escrita deu origem a outros tipos de conhecimento e aí ele vai dizer eh nitidamente né a filosofia e a ciência são eh criações da escrita da da da estrutura da tecnologia de inteligência da escrita e com a informática nós vamos ter ferramentas novas não sabemos ainda quais serão né Vamos ter eh ferramentas novas né mas tô chamando a atenção disso pra gente ter essa dimensão de que a filosofia é atravessada pela escrita né um filósofo italiano georgio
Coli que tem um livrinho muito gostoso de lei muito interessante intitulado o o nascimento da filosofia eh nesse livro nascimento da filosofia o georgio Coli defende a ideia de que a filosofia foi criada por Platão né filosofia nem seria anterior ao Platão a gente tem filósofos antes do Platão mas não tem filosofia Essa é a tese dele a filosofia é criada por Platão como um gênero literário Essa é a tese do georgio Coli né então ligada nitidamente à questão da escrita né a filosofia é uma forma de escrita e por que que ele diz que
essa invenção se dá com Platão porque os primeiros filósofos os pros chamados pré-socráticos eles escreviam na forma de poema e o poema é a mesma forma da oralidade do mito né Eh o poema eh que tem uma métrica tem uma rima ele imita Justamente a tecnologia da oralidade né a métrica e a rima são formas dos eh rapsodos dosodos daqueles que saíam declamando cantando os poemas eh na no qual eles contavam os mitos paraas comunidades eh São tecnologias de como você decora a história para você não perder a história né então você cria uma métrica
cria uma rima cria uma melodia eh e aí você se lembra eh da história e os primeiros filósofos escrevem na forma de poemas né Eh usam a escrita mas trazem paraa escrita a forma do poema e o que que o Platão vai fazer o Platão vai inventar eh uma forma diferente de escrita que é o diálogo como a gente sabe né eh E com isso ele cria a filosofia como um gênero literário é uma outra coisa então a filosofia Tá profundamente atravessada pela escrita né E aí o João Traz essa questão fundamental né bom se
a gente vai ou se a gente pretende descolonizar a filosofia eh aqui entre nós no Brasil Será que a gente não tem que olhar com mais cuidado e com mais carinho paraa tradição oral né que que é a tradição são dos povos originários eh aqui do Da Da nossa terra né desses povos que em princípio aparentemente não dominavam a escrita mas tinham toda uma produção de cultura oral e eu acho que sim né Eu acho que isso é fundamental né infelizmente a gente conhece pouco essa tradição Ou pelo menos né eu conheço pouco essa tradição
aqui no Brasil eh gostaria de conhecer muito mais infelizmente não conheço mas para mim foi uma experiência muito significativa quando alguns anos atrás eu estive em um Congresso de filosofia da educação em Moçambique eh e tive lá então contato com os africanos e eh e presenciei assim umas coisas muito interessantes né de um lado estava lá nesse congresso um ex-reitor da da Universidade que era o congresso sediado na universidade Eduardo modl lá de Moçambique e a gente tinha lá um ex-reitor da Universidade que eh tinha sido um revolucionário uma das pessoas que pegou em armas
para libertar Moçambique de Portugal né e e um dos e um dos cargos que ele assumiu depois de feita a revolução de libertação de Moçambique foi o cargo de reitor da da Universidade né Eh e ele era um um africano mas de eh origem portuguesa né com um cruzamento de portugueses com africanos não é é o professor Felipe Couto que é né Não por acaso também tio do escritor Mia Couto que é muito conhecido aqui no no Brasil né e o o professor Felipe coto ficava lá no no no auditório muito bravo com os alunos
de filosofia né Eh porque dizia que os alunos não gostavam de ler os alunos não Liam né E eles tinham feito a revolução eles tinham pegado em armas eles tinham arriscado a vida eles tinham matado pessoas para que aqueles moçambicanos pudessem ter acesso à universidade e os caras estavam na universidade não gostavam de ler né e ele ficava possesso com isso né então isso me marcou muito por um lado mas me marcou mais ainda o fato de que quando os moçambicanos iam fazer perguntas invar el mente todos eles que eu vi em todas as palestras
tanto a palestra que eu fiz quanto as palestras que eu assisti nesse evento eh todos eles quando iam fazer perguntas Ele eles começavam contando uma história eles começavam Contando um caso que tinha a ver com a comunidade deles com a odeia na qual eles viviam né e o que que eu fui percebendo com isso que é justamente o traço da oralidade né o contar a história o narrar uma história é o traço da oralidade e eles vão paraa Universidade como um espaço letrado né o espaço que foi descolonizado porque eles tiveram eh uma luta pela
independência uma luta Sangrenta uma luta armada onde gente matou e morreu né Para que o país se tornasse independente eh Há poucas Décadas atrás eh eh e a universidade queria ser uma universidade europeia uma universidade centrada na escrita e portanto na prática da leitura né né enquanto que o povo que chega na universidade e que vai pra universidade é um povo que vem de uma cultura fundamentalmente oral né E aí a gente via justamente o embate né da oralidade com a com a literalidade se a gente puder fazer falar assim né Eh por isso que
eu acho que a a pergunta do do João Vítor é fundamental né porque eu acho que a gente não pode abrir mão da escrita tá a gente não pode defender a oralidade Abrindo mão da escrita mas a gente também não pode se aferrar na escrita Abrindo mão da oralidade e passando por cima da oralidade eu acho que uma das chaves para essa descolonização está em nós aprendermos a pensar também pela oralidade sem perdermos a dimensão do que significa pensar fazendo uso da escrita é por isso que eu chamei a atenção pro Osvaldo de Andrade que
é alguém que eh traz justamente essa dinâmica desses agenciamentos e desses acoplamentos né O que que nós podemos ganhar se nós não jogarmos fora a cultura do colonizador nesse caso a cultura escrita mas recuperarmos a cultura dos colonizados a cultura oral né O que que nós podemos ganhar se nós não ficarmos nem somente na oralidade nem somente na escrita mas nós sermos capazes de fazermos a a junção o acoplamento eh das Ferramentas da oralidade com a ferramenta da escrita com as ferramentas da escrita eu acho que aí tá uma chave importante pra gente pensar esse
processo de descolonização Obrigado João pela pergunta para me permitir eh colocar esses elementos que eu tinha deixado de lado Muito obrigado Professor excelente resposta reflexão pra gente eh a gente tem uma pergunta aqui do do Clécio Professor eh e ele diz assim o fato de termos uma filosofia colonizadora e colonialista e pouco combativa explicaria o que tem ocorrido com as com a filosofia no novo ensino médio eh eu acho que sim Clésio em em alguma medida sim né eh porque bom isso é uma crítica que eu tenho feito a nós mesmo a nós professores de
filosofia especialmente a nós que eh coloco nós porque eu fui alguém que me envolvi nessa luta né nas décadas passadas né pela eh obrigatoriedade do ensino da filosofia no Brasil eh eu acho que nós lutamos muito né para que a filosofia pudesse estar como disciplina não apenas nós professores de filosofia os professores de sociologia também e foi uma luta que nós fizemos conjuntamente Em alguns momentos a parceria dos professores de sociologia foi fundamental para nós porque eles tinham para nós professores de filosofia porque eles tinham uma uma estrutura e uma organização eh sindical e e
e política muito mais forte do que nós tínhamos na filosofia né mas acho que a gente juntos conseguiu construir eh essa luta que culminou com nós termos eh em 2008 aprovação da filosofia e da sociologia como disciplinas né O problema é que do meu ponto de vista a crítica que eu faço a nós é que depois da aprovação em 2008 a gente eh tranquilizou e falou bom agora tá aprovado né Tá aprovado né mas eu já dizia isso naquela época nós não podemos arrefecer Na luta né a luta continua Porque do mesmo jeito que foi
aprovado com uma canetada do presidente né chegou lá na mesa do Presidente o presidente sancionou a aprovação de Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias do mesmo jeito que uma assinatura fez com que existisse outra assinatura retira né E a gente não pode a gente não tem tradição como eu já disse antes né a gente não tem tradição eh do do ensino da filosofia e da sociologia Então se a gente não mantiver a a a luta não mantiver a organização não mantiver a exigência não mantiver a participação social e não se envolver com dar excelentes aulas
de Filosofia e de sociologia né no no ensino médio eh outra canetada eh acaba com essa situação rapidinho que infelizmente foi o que aconteceu né a gente teve aí com a aprovação do novo ensino médio a uma mudança radical nessa nessa condição e eu acho que nós professores de Filosofia também professores de sociologia temos o a nossa parcela de responsabilidade n esse processo não é eh eu acho que a gente precisava ter lutado mais e eu acho que agora a gente precisa retomar a luta para tentar eh reconquistar esse espaço que a gente conquistou por
um tempo tão breve né Mas se a gente conquistou uma vez Isso significa que é possível conquistar de novo né mas temos que lutar para isso não vai cair eh do céu nem vai ser dado de mão beijada mais uma vez obrigado professor e uma pergunta que eu gostaria de fazer pro senhor é que no começo da palestra O senhor falou sobre o fato dos gregos terem usado o conhecimento que que estava à volta deles os o conhecimento que de certa forma eles vinham recebido eles tinham recebido e ter criado um modo próprio um estilo
próprio tá teria como o senhor eh descrever um pouco esse esse modo próprio esse estilo próprio porque de certa forma a gente tá vivendo às vezes no automático sem se dar tanta conta disso é uma questão complexa né daria paraa gente passar umas horas aqui falando sobre isso mas eu posso aqui em rápidas palavras tentar eh comentar um pouco isso né Eh bom eu vou tomar para ser mais simples né eu vou eu vou tomar a liberdade de seguir um pouco o caminho que o dolus e o gatari fazem né não para querer imitá-los né
ou para transformá-los em modelo não é essa questão porque isso iria na contramão de tudo que eu falei mas porque eu acho que ele nos eles nos ajudam a pensar um pouco nesse contexto né porque eles dizem o seguinte o que que os gregos inventaram eles inventaram isso que eles chamam de que é o pensar por conceitos n então quando eles dizem que o os filósofos trazem das margens das bordas do mundo grego eh elementos para pensar né eles eh eh eles estão trazendo conteúdos eles estão trazendo ideias mas na Grécia eles juntam essas ideias
de uma maneira diferente que é o que eu chamei aqui de um estilo próprio né E esse estilo próprio tem a ver com o pensar por conceito né por isso que se a gente define a filosofia como sendo a atividade de criação conceitual ela é uma invenção grega né porque os africanos não pensavam por conceito isso não significa que os africanos não tivessem não produziram um conhecimento super importante né porque o conceito não é a verdade o conceito não é o melhor conhecimento o conceito é uma das modalidades de conhecimento né a filosofia é melhor
do que a ciência eu não diria né Há alguns casos que a gente precisa da filosofia e que a ciência não resolve mas há outros casos que é a ciência que resolve a filosofia não resolve né então filosofia e ciência precisam andar eh lado a lado umas auxiliando as outras n é eh e não significa dizer que uma é melhor do que a outra então dizer que a filosofia é um pensamento por conceito não significa dizer que o pensamento por conceito é o melhor tipo de pensamento ele é um tipo de pensamento entre outros tipos
de de pensamento né Eh e o que o o dezu Guari por exemplo analisam na obra deles é a afirma é dizer que o os povos Eles não falam dos povos africanos né eles se eh se referem mais aos povos orientais né E eles dizem os orientais orientais pensando aí a civilização chinesa civilização hindu civilização japonesa os asiáticos de forma geral né eles dizem os orientais pensavam por figura e pensar por figura é diferente de pensar por conceito pensar por figura é melhor ou pior do que pensar por conceito não pensar por conceito é melhor
ou pior do que pensar por figura não são coisas diferentes né então eh eh eu eu acho que somos nós que fazemos da filosofia o suprassumo da realidade A a filosofia como sendo algo melhor do que todos os outros tipos de conhecimento e eu acho que a gente precisa começar por esse esse processo de descolonização da filosofia justamente tentando desenvolver uma humildade da prática filosófica a prática filosófica é importante sim é interessante sim produz coisas eh eh importantes para nós mas ela não é a resposta para tudo não é a única resposta e muitas vezes
como quando ela é uma uma resposta entre as outras ela pode nem ser a melhor das respostas ela é uma das das respostas né Eu não sei se isso eh ajuda clemson a pensar mas é um pouco nesse nesse aspecto né E aí eles vão trabalhar alguns elementos né O que que significa esse estilo próprio né bom é é é pensar de um jeito dialogado que é raciocinado que é conversado com os outros que é debatido com os outros não é um tipo a essa primeira filosofia entre os gregos né não é um um pensamento
que se impõe ou que é colocado como como lei né é um pensamento que é colocado em debate público né em debate Na praça pública né Acho que essa é uma das características interessantes da filosofia entre os gregos né os caras debatiam adoidado gente né e e debatiam de forma Leal né de forma interessante claro que cada um querendo defender a a sua perspectiva de pensamento defender o seu ponto de vista e querendo eh eh desmontar o argumento do outro né mas é justamente nessa tentativa de um desmontar o argumento do outro que o outro
reforçava mais os seus argumentos para não serem desmontados e isso valia eh entre eles como um todo né e no pensar por figura dos orientais a gente não via isso né a gente via a figura do sábio que dizia a verdade e as pessoas aceitavam a verdade do sábio né e na filosofia grega não né A gente vinha chegava um filósofo dizia x aparecia outro filósofo dizendo Y outro dizendo Z o outro dizendo w e virava eh uma discussão generalizada entre eles né E é isso que alimentou né a a a filosofia esse exercício da
filosofia como algo eh diferenciado né Eh entre a os pensamentos de outros povos né Acho que esse é um dos elementos que a gente poderia tentar pensar um pouco eh esse contexto Muito obrigado Professor eh Adriano será que daria pra gente colocar a última questão pra gente estar fechando e depois partir pros agradecimentos a gente tem uma pergunta do Francisco aluno de filosofia aqui da UFT e o Francisco Pergunta o o devorar a filosofia é grega não seria usar um apoio produzindo o novo daí também eh depende Francisco Depende de como a gente faz isso
eu acho que a gente é levado eh a pensar nesse uso do pensamento do outro como um apoio né Eh vejam que a gente aprende na filosofia o uso do argumento de autoridade né Eh e vocês vão escrever um texto e vocês vão se apoiar em alguns autores né me permita para brincar com essa coisa da oralidade Me permita contar um causo aqui né Eh durante muitos anos na universidade que eu trabalho a Universidade de Campinas eu eh eu fui Professor responsável pelos estágios do curso de Filosofia Eu sou Professor na faculdade de educação né
eu acabei formação é filosofia mas eu acabei enveredando pro campo da filosofia da educação e eu ensino filosofia em uma faculdade de educação eu não na Unicamp eu não ensino filosofia no curso de graduação e filosofia fiz isso em outros locais que eu trabalhei mas lá na Unicamp não sempre trabalhei na faculdade eh de educação mas houve uma uma época em que os alunos de filosofia faziam a licenciatura na faculdade de educação e nesse nesse período eh sobretudo ao longo dos anos 2000 Principalmente eu atuei como professor de estágio da da da filosofia né Então
pessoal fazia as disciplinas de filosofia no departamento de filosofia aqueles que iam fazer licenciatura iam fazer disciplinas pedagógicas na faculdade de educação e eu era o o responsável pelos estágios né dos Estudantes de Filosofia e aí quando eu rece todo ano que eu recebi uma turma nova de Estagiários eu começava a discutir com eles o que seg ficava ensinar a filosofia para para depois eles irem para as escolas fazer a a prática nas escolas e etc e eu começava perguntando para eles o que que cada um deles entendia por filosofia né porque eu dizia assim
bom para no no na minha maneira de ver para ensinar filosofia você tem que assumir uma posição na filosofia né a gente fala em Filosofia mas são muitas as filosofias Então a gente tem que ter clareza pra gente o que que a gente entende por filosofia como é é que eu me movo na filosofia para que eu possa ensinar a filosofia né eu não posso simplesmente cair na escola falando de filosofia né eu tenho que saber o que eu entendo por filosofia para que eu possa ensinar filosofia e eu perguntava isso e os alunos ficavam
calados e eu perguntava de novo e eles continuavam calados e eu perguntava uma terceira vez e eles calados aí tanto eu eh eh eh cutucava Os estudantes com essa pergunta que invariavelmente alguém pedia a palavra e dizia Professor a gente passa 4 anos estudando filosofia aprendendo que não interessa o que a gente pensa interessa que a gente entenda o que os outros pensaram o que os autores pensaram né agora a gente chega aqui e o senhor quer que a gente pense né a gente não sabe o que a gente entende por filosofia eu sei dizer
o que o descart entende por filosofia o que o Kant entende por filosofia o que o Marx entende por filosofia filosofia porque é isso que os professores de filosofia me fizeram eh aprender mas eu não sei o que que eu penso por filosofia porque em momento algum no meu curso de Filosofia Me perguntaram o que eu penso por filosofia e alguns diziam que a coisa era pior porque eles diziam assim olha primeira vez né que eh isso eu ouvi diferentes relatos eu tô Resumindo aqui num só mas eu ouvi diferentes relatos dessa natureza numa avaliação
de filosofia numa prova de filosofia eu começava respondendo dizendo o que que eu pensava a respeito daquilo e o professor riscava toda a minha resposta e dizia não me interessa o que você pensa me interessa o que o autor do texto que você leu pensa eu quero saber se você entendeu o que o autor do do do texto pensa não me interessa o que você pensa né Eh el bom a gente é treinado para isso no curso de Filosofia e agora que a gente vem fazer estágio o senhor quer que a gente eh diga como
é que a gente compreende a filosofia a gente não compreende a filosofia filosofia pra gente é repetir o que os outros eh pensaram e para mim isso é um absurdo né para um professor de Filosofia né Eu acho que sim no curso de Filosofia a gente precisa aprender o que os outros pensaram né a gente não pode achar que a gente sabe tudo e que a gente eh sai do curso sabendo tudo e que só interessa o que a gente pensa a gente precisa do do pensamento dos outros porque o nosso próprio pensamento ele é
construído na relação com o pensamento do outro ele é construído em diálogo com o pensamento eh do outro né mas eh é aí que eu volto né desculpem eu fiz aqui um um um um desvio né para voltar a falar da questão do do apoio da base né Eh a gente é treinado então na filosofia para se apoiar no outro o que eu tô propondo para vocês aqui é justamente que a gente jogue isso fora que a gente jogue fora essas muletas que a gente a gente pense sem muletas né que a gente não use
muletas para pensar né mas o fato de eu não usar o pensamento grego como muleta por exemplo não significa que eu esteja jogando fora o pensamento grego eu vou estudar o pensamento grego eu vou dialogar com o pensamento grego eu vou encontrar entre os gregos alguns que me interessam mais outros que me interessam menos eu vou falar contra os que não me interessam eu vou falar a favor dos que me interessam mas aqueles que me interessam e que eu uso a meu favor eu tô usando né não para repetir o que eles disseram não para
me apoiar neles mas para junto com eles pensar em algo que eles não pensaram em algo que é novo porque não é algo que eles pensaram por quê Porque o problema filosófico deles é diferente do meu problema filosófico hoje n então por exemplo eu posso dizer para vocês que me interesso muito pela filosofia atomista grega antiga né agora por que que os gregos pensaram em átomo há 2500 anos atrás é completamente diferente de como a gente pensa em átomo hoje no século XXI mas ainda assim eu acho que eles têm elementos importantes pra gente dialogar
com eles e pensar os nossos problemas hoje mas nisso eu não diria que é um apoio né o apoio é quando a gente usa o argumento de autoridade segundo Demócrito Pensador atomista grego segundo leucipo segundo Epicuro tô aqui citando alguns atomistas né segundo esse autor eu tô enunciando essa verdade não é esse tipo de movimento do pensamento que eu tô propondo para vocês né mas é um movimento do pensamento que a gente dialoga com eles que a gente arranca elementos da filosofia deles muitas vezes para diser dizer o que eles não disseram às vezes para
dizer coisas contrárias a aquelas que eles disseram né mas que a gente eh usa como ferramenta eh elementos do do pensamento deles né Então essa devoração que eu tô chamando aqui junto com Osvaldo de Andrade né também não tô me apoiando em Osvaldo de Andrade eu tô me inspirando em Osvaldo de Andrade para falar dessa devoração filosófica né Essa devoração filosófica é justamente eh des territorializar aquele pensamento grego e reterritorialização grego no meu problema na minha questão na minha eh abordagem que eu tô produzindo eh aqui e e agora né É nesse sentido que eu
acho que a gente pode investir em uma filosofia não fundamentalista e antif fundamentalista mas com um tremendo cuidado justamente de não cair nesse novo fundamentalismo né porque se eu for me apoiar nesses autores eu estou sendo tão fundamentalista quanto né então esse é o o cuidado que a gente precisa ter eu não sei se eu consegui te esclarecer eh Francisco mas eh te agradeço pela pergunta para tentar né Eh esclarecer um pouquinho melhor né Obrigado Professor Muito obrigado e a gente fica a gente é muito ficou muito feliz com com a presença do Senhor com
a fala do Senhor com as respostas que o Senhor deu à perguntas com esse fechamento porque às vezes a gente chega na na faculdade no curso de Filosofia eu tô dando o meu exemplo né É que às vezes a gente fica pensando assim no Será que um dia eu vou chegar perto de ser um pouquinho do que Platão foi do que os outros filósofos foram e a a sua palavra traz ânimo e esperança pra gente né pra gente pensar um pouco um pouco mais fora da caixa e a gente tem visto muitas situações que são
desafiadoras e e que são limitadoras para nós aqui na nossa realidade na Universidade Federal do Tocantins e a gente tá buscando usar a filosofia para que a gente possa crescer e se desenvolver e por isso a gente gostaria de de ressaltar e redobrar o valor da sua fala na noite de estreia né da nossa jornada filosófica Queremos te agradecer exponencialmente pela sua presença aqui conosco e te agradecer emos em nome de toda a comissão da jornada filosófica de 2023 te agradecemos em nome do centro acadêmico de filosofia aqui da UFT em nome do colegiado de
Filosofia na pessoa do professor do Professor Leandro agradecemos também em nome do do programa institucional de inovação pedagógica o PIP na pessoa do Professor José Soares e em nome de todos nós aqui presentes e de toda a nossa faculdade e de todos aqueles que estão nos ouvindo nos assistindo e que vão nos assistir já já de antemão nós dizemos Muito obrigado dizemos seja sempre bem-vindo aqui conosco as portas estão abertas agradecemos pelo senhor ter aceitado o convite e Esperamos que essa oportunidade se repita muitas e muitas vezes mais nos colocamos à disposição para aquilo que
o senhor possa precisar da gente e mais uma vez muito obrigado e tudo de bom pro eu aqui Agradeço a vocês de novo pelo convite para mim digo de novo que é uma alegria Sempre que puder contem comigo naquilo que eu puder eh vou colaborar da forma que for possível colaborar porque eu acho que é assim que a gente constrói a filosofia entre nós né E você dizia né Eu acho que a gente também é muito treinado na filosofia e acho que a palavra é bem essa né A gente é treinado por exemplo pra gente
dizer que a gente é professor de Filosofia não é filósofo né porque ser filósofo parece que é uma coisa grande demais né como o clemson disse eh eu fico pensando puxa Será que eu vou chegar perto da unha do Platão por exemplo né Eh do Aristóteles sei lá de qualquer outro que a gente pense né mas eu acho que a gente tem que ter essa essa pretensão né de produzir filosofia né de ser filósofo não é todo mundo que vai fazer medicina quer ser médico todo mundo que vai fazer direito quer ser advogado Por que
que nós que estudamos filosofia não podemos querer ser filósofos né Eu acho que a gente tem que ter essa pretensão né Isso não significa claro que a gente vai fazer Vai produzir uma filosofia que vai atravessar 2000 anos né que daqui a 2000 anos vai ter alguém falando nos nossos nomes e etc mas isso não não significa nada né Eh enquanto eh Platão escreveu certamente a gente teve inúmeros outros que escreveram naquela época que pensaram a filosofia naquela época que produziram que Talvez tenham produzido pensamentos muito mais interessantes do que o do Platão mas por
uma série de razões foi o pensamento do Platão que ficou né isso não invalida eh o fato de outros terem praticado a filosofia e eu acho que a gente tem que ter essa pretensão de praticarmos a filosofia de sermos professores de filosofia sim mas também sermos filósofos como pessoas que praticam a a filosofia né e acho que isso a gente só consegue fazer coletivamente né junto com os outros uns dando força pros demais né então naquilo que eu puder eh colaborar com vocês vocês contem comigo estamos juntos nessa nessa tarefa obrigado muito obrigado Professor a
gente quer agradecer Adriano maropo que tava nos Bastidores fazendo esse evento acontecer Muito obrigado o Felipe que tá aqui do meu lado e o Fábio que nos ajudaram no som para que pudesse acontecer isso e pudéssemos receber esse presente então nós agradecemos mais uma vez o Senhor e a toda a equipe que nos ajudou e que tem nos apoiado um abraço até a próxima e amanhã a gente se encontra às 19 hor um abraço nosso
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