Aposta Esportiva: O Novo "Esquema" do Governo?

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Elementar
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Video Transcript:
Esses dias assistindo a um jogo de futebol  na TV, eu percebi que no intervalo deve ter dado umas 4 ou 5 propagandas de casas  de apostas esportivas. E não foi só no intervalo que eu percebi isso, mas também nas  camisetas dos jogadores, nas placas no campo e até nos anúncios que interrompem a partida. E tá aqui um post no reddit que prova isso, a pessoa viu os anúncios da: Superbet, BETesporte,  Betano, BetNacional, 1xBet e Bet7K.
É muita bet. De fato, em 2024, o Brasil  viu um aumento desse tipo de anúncio, e não só na TV, mas também na internet. Além disso, investigações recentes mostraram supostas ligações entre algumas casas de apostas  com o jogo do bicho e lavagem de dinheiro, expondo o vínculo entre o jogo ilegal e as apostas online. 
Que na real não deveria ser novidade pra ninguém. Além disso, a aproximação perigosa entre o futebol  e as casas de apostas levanta novas suspeitas. Com escândalos de manipulação de resultados, o  esporte mais popular do país se vê cada vez mais ligado a essas plataformas, gerando insegurança  e corrupção para torcedores e jogadores.
E o bom e velho governo parece estar mais  interessado em lucrar com essa tendência do que em proteger a população. A Caixa Econômica  Federal já se prepara para liderar esse mercado, oferecendo uma plataforma 'segura' pras apostas.  Só que essa nova investida é bem perigosa, porque pode aumentar ainda mais o número de  jogadores, especialmente aqueles que acham que estão em uma plataforma confiável.
Então, o governo está de fato preocupado com os riscos que as apostas estão  trazendo para os brasileiros ou está apenas focado no aumento da arrecadação? E por que tantos brasileiros resolveram arriscar seu suado dinheiro em empresas  que, até ontem, nunca tinham ouvido falar? Se você ainda não notou, o Brasil virou o  paraíso das apostas.
Trata-se de um mercado que, nos últimos anos, explodiu em popularidade e  já é o terceiro maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Inglaterra. O cenário é extremamente promissor, só que, aqui, quem está ganhando de verdade  não é o apostador, mas sim as empresas. Desde 2018, quando as apostas esportivas  foram legalizadas, o número de sites e aplicativos de apostas só aumentou.
Você mal  pode assistir a um jogo de futebol sem ser bombardeado por propagandas de apostas. Elas  estão em toda parte, de campeonatos europeus a corridas de cavalo no interior do Brasil. Eu até fiz um vídeo sobre isso lá em 2022, mas 2 anos depois a situação só piorou, porque  agora os peixes grandes estão de olho nesse jogo.
Em 2023, estima-se que o mercado de  apostas esportivas no Brasil tenha alcançado a impressionante marca de  R$ 120 bilhões. Isso significa que, em termos de movimentação financeira, as apostas  já superaram a bilionária indústria da série A do futebol nacional, o faturamento da  maior rede de supermercados no Brasil, o Carrefour, e o valor de mercado  do Santander e da Eletrobras. Centenas de empresas consolidadas, que geram  empregos, pagam altíssimos impostos no Brasil, e fornecem produtos e serviços de qualidade  por aqui há muitos anos, não movimentam tanto quanto nomes que, três anos atrás, nunca tinham  sido ouvidos, como Bet365, Sportingbet e Betano.
E essas plataformas oferecem de  tudo, desde apostas ao vivo até aquelas apostas exóticas em que você pode  prever até o número de escanteios num jogo. Só que, por trás desse mundo de  possibilidades, há um sistema complexo que faz de tudo para garantir que, no  final das contas, a casa sempre leve a melhor. Seja qual for o jogo ou a aposta, o que se  vende é a ilusão de controle, de que você, com seus conhecimentos, pode vencer o sistema.
Mas a verdade é que o sistema foi feito pra você perder e, no final das contas,  é exatamente isso que ele faz. Tanto que os números divulgados não batem. De acordo com uma recente matéria da CNN: “Em termos práticos, os números sugerem que os  brasileiros colocaram R$ 68,2 bilhões nessas plataformas e conseguiram sacar R$ 44,3  bilhões, com uma perda de R$ 23,9 bilhões, 10,7 bilhões se referem à taxa de serviço retida  pelos sites que operam as apostas.
Grosso modo, isso significa que a cada R$ 3 aplicados nas  casas de apostas, o brasileiro perde R$ 1. ” E toda a fonte dos pesquisadores  considera os dados do Banco Central. Mas os ganhos dessas empresas não são informados,  e a única fonte que eu encontrei dava conta de 13 bilhões de reais, considerando um  mercado de 100 bilhões em apostas, uma taxa de retorno de 13% de cada valor apostado.
Então essa conta não fecha. Segundo os poucos dados divulgados por essas empresas,  elas operam em constante prejuízo, mas fazem muita publicidade, patrocinam quase  que todos os times de futebol da série A do Brasileirão, e crescem que é uma beleza. Mas como pode existir uma empresa que, pra cada real que ganha, perde dois,  e não quebra?
Pelo contrário, cresce? E, falando em ganhar, de acordo  com uma pesquisa da Varejo 360, 38% dos apostadores online declararam que mais  perderam do que ganharam, 27% informaram que não ganharam nem perderam, 26% que mais ganharam  do que perderam e 10% preferiram não responder. Ou seja, entre os que responderam, 53%, dos  entrevistados não ganharam mais que perderam.
Como eu disse, a conta não fecha. Mas, pra alguns setores, não importa. Quem tá vendo uma grande oportunidade  diante desse mercado tão lucrativo, por exemplo, é o governo, que não ia  ficar de fora dessa festa.
Recentemente, a famosa “Lei das Bets” foi sancionada, trazendo  algumas regras pra esse faroeste das apostas. Agora, pra operar legalmente no Brasil, as  plataformas precisam pagar uma “entrada” de até R$ 30 milhões e ainda dividir uma fatia  de 26,5% do seu faturamento com o governo Além disso, os prêmios que  você eventualmente ganhar — se ganhar — são taxados em 15% pela Receita. Segundo o Ministério da Fazenda, mais de 100 empresas já querem a autorização pra operar por  aqui.
E adivinha quem está nessa lista? A Globo! Conhecida pelo Cartola FC, a  emissora agora deve passar por um processo de credenciamento antes de lançar  sua própria plataforma de apostas no mercado.
De acordo com alguns veículos de notícia, a  regulamentação do mercado de apostas traz alguns benefícios. Além da taxação do faturamento das  plataformas, a cobrança milionária pra operarem no país e a tributação dos ganhos dos usuários,  como a proteção dos apostadores contra eventuais fraudes, a prevenção da manipulação  de resultados e o fomento da economia. Mas, será que essas novas regras vão  realmente proteger o apostador ou só vão engordar ainda mais os cofres de  quem já lucra bastante com esse mercado.
Você já se perguntou como o mercado de  apostas se tornou tão popular no Brasil? Bom, a resposta é simples: as apostas são  vendidas incessantemente pra todo mundo que estiver consumindo entretenimento. A qualquer  momento que você parar pra se distrair na frente da TV ou do celular, alguém estará tentando  te fazer entrar em uma dessas plataformas, ou para se divertir, ou pra “investir” seu dinheiro.
As emissoras de TV, os influenciadores digitais, os clubes de futebol e todos os que se  beneficiam desse mercado são os principais responsáveis pelos brasileiros acharem que  esse tipo de negócio pode ser lucrativo. “Se você acompanha o Elementar sabe que eu  nunca fiz e nunca vou fazer patrocínio de casas de aposta, jogo de azar e qualquer outra  bobagem dessas, isso por que eu não uso e não acredito nesse tipo de serviço. Não acho que  seja o “caminho pra riqueza”, não acredito em dinheiro rápido e fácil, muito menos acho que  é uma renda extra e acredito que apostar é um hábito muito ruim para qualquer pessoa.
Mas  não é bem assim que outras pessoas pensam. Se você ainda assiste TV aberta, já deve  ter notado a avalanche de comerciais de jogos que invadiram os intervalos e os  programas. Não importa o horário, lá está o anúncio te incentivando a fazer aquela “fezinha”.
E enquanto eu produzia esse vídeo a polícia lançou uma grande operação contra lavagem de dinheiro  que utiliza empresas desse mercado. Chamaram de ‘Operação Integration’, e foram atrás de empresas  de apostas e influenciadores suspeitos. Desde abril de 2023, as investigações já renderam várias  prisões.
O dono da plataforma patrocinadora do Corinthians, Atlético Paranaense, Bahia, Grêmio,  Palmeiras, Ceará, Náutico e Santa Cruz também entrou na mira. Ainda bloquearam bens de luxo e  mais de R$ 2 bilhões dos supostos integrantes. A Interpol e várias polícias ajudaram na ação.
Falando em clubes de futebol, eles abraçaram completamente o mercado de apostas. Atualmente  a maioria esmagadora dos times da série A são patrocinados por casas de apostas. O problema  é que enquanto esses clubes fazem fortuna, a integridade dos resultados dos jogos fica em  xeque.
Quando uma empresa de apostas esportivas está lucrando, não há garantia de que os  resultados não estejam sendo manipulados. Segundo uma matéria publicada  no site Super Interessante: “Sem regras específicas nem fiscalização, o mundo  das bets é um terreno fértil para fraudes. Em 2023, o Ministério Público de Goiás deu início  à operação “Penalidade Máxima”, que investiga arranjos em jogos de futebol para favorecer  apostas.
Uma análise da empresa Sportsradar, de tecnologia esportiva, mostrou que o  Brasil é o país que abriga o maior número de partidas com indícios de manipulação”. Claro, ninguém gosta de pensar nisso, mas é uma questão que precisa ser  levantada. Além disso, é preciso lembrar: as casas de apostas ganham dinheiro com  as perdas dos apostadores.
Se você ganha, bom pra você, mas se você perde, elas lucram. Honestamente isso era pra ser óbvio, mas parece que a ilusão da vitória e do ganho sem  esforço cega até o mais racional dos apostadores. Mas em tempos de redes sociais e da imbecilidade  do povo, dizer o óbvio virou algo natural.
Então, quem realmente sai ganhando nesse jogo? Não  são os milhões de brasileiros que apostam todos os dias, mas sim as emissoras, os influenciadores,  os clubes, o Estado que agora entrou na jogada, e, claro, as próprias casas de apostas. A banca sempre ganha.
E a banca nunca quer que você pare. Enquanto isso, mais e mais jovens pobres caem fácil na onda das apostas,  como se fosse tudo diversão e lucro fácil. Então será que o governo, que gosta tanto de  dizer que tem o papel de proteger a população, está realmente preocupado em fazer  alguma coisa por essas pessoas?
E a resposta também é óbvia,  mas eu vou dizer mesmo assim. Quando eu penso no papel do Estado em  relação ao mercado de apostas, a primeira palavra que me vem à cabeça é “ironia”. Afinal, estamos falando de um país que, por décadas, manteve uma postura rígida contra  os jogos de azar, tratando-os como uma prática nociva, digna de proibição.
E agora que temos aí  um mercado de apostas se mostrando uma mina de ouro, o Estado não só afrouxou as rédeas pra sua  atuação, como resolveu pegar sua fatia desse bolo. Com a nova regulamentação, o governo se coloca  como um dos maiores beneficiários desse setor. A recém-sancionada “Lei das Bets”, por exemplo,  é um reflexo claro dessa nova atitude.
Agora, as casas de apostas precisam pagar uma taxa  alta pra operar no Brasil e, ainda por cima, dividir uma parte significativa de seus lucros  com o Estado. O governo planeja arrecadar de R$ 3 a 6 bilhões só em 2024 com essa regulação. Por um lado, essa regulamentação é vendida como uma forma de proteger o consumidor,  garantir a transparência e prevenir fraudes.
Tanto que o Ministério da Fazenda está trabalhando  no que eles chamam de “trava anti-vício”: um sistema que vigia quem está jogando demais  e não consegue parar. Se perceberem que alguém está exagerando, as contas serão bloqueadas. Além disso, ainda tem a “Regra ‘anti-influencer’”, onde o governo vai limitar anúncios  de bets com famosos a partir de 2025.
Só que, segundo o site Poder 360, “o governo  não estabelecerá na regulamentação os padrões de comportamento possivelmente nocivos. A  avaliação caberá às próprias operadoras, por meio da análise do volume de apostas,  dos valores e do aumento da atividade. Ou seja, é a raposa quem vai vigiar as ovelhas.
Por outro lado, fica evidente que o Estado está interessado mesmo é no potencial de arrecadação  que esse mercado oferece. Só que a regulamentação, por si só, não resolve o problema da  vulnerabilidade de pessoas jovens e de baixa escolaridade e renda. Pelo  contrário, a facilidade de acesso e a massiva publicidade direcionada a essas pessoas  apenas aumenta o risco de endividamento e vício.
“Os brasileiros perderam cerca de R$ 24 bilhões em  jogos e apostas online em um único ano. Essa cifra alarmante é acompanhada por relatos crescentes  de endividamento, crises familiares e até casos de suicídio relacionados ao vício em apostas.  A mudança de hábitos de consumo é evidente, e muitos brasileiros, principalmente das  classes D e E, estão destinando grandes parcelas de sua renda ao jogo, comprometendo  itens essenciais como alimentação e moradia.
”, afirmou o Diário de São Paulo. Nos últimos cinco anos, as apostas esportivas cresceram rápido no Brasil,  mesmo sem regras totalmente definidas. Elas gastam muito dinheiro das classes mais  pobres, cerca de 76% para diversão e cultura, e 5% do dinheiro que têm para comer.
Um estudo da PwC mostrou que as apostas online tiraram dinheiro que as pessoas  usariam para outras coisas. No Brasil, 63% dos que apostam pela internet gastaram  parte da sua renda nisso. Por causa disso, 23% pararam de comprar roupas, 19% gastaram  menos em supermercados e 14% reduziram a compra de produtos de higiene e beleza.
Os brasileiros perderam 2% de todos os salários do país em 12 meses com apostas. E pra mim o pior de tudo foi ler essa notícia aqui: Bets receberam R$3 bi de beneficiários  do Bolsa Família em agosto via Pix, diz BC. Nesse cenário, estamos vendo o  aumento de uma doença caracterizada por um impulso incontrolável, que segundo o G1: “A ludopatia é uma condição médica caracterizada pelo desejo incontrolável de continuar jogando. 
[…] Com os cassinos online e jogos de azar na palma da mão com o celular, ficou mais fácil jogar  e vem crescendo o número de pessoas que contou ter começado como uma curiosidade, um passatempo,  mas que em pouco tempo se tornou um pesadelo”. Sem falar que esse tipo de vício ainda  desencadeia problemas emocionais como ansiedade, estresse e até depressão. E é nesse ponto que precisamos falar sobre responsabilidade.
O Estado, ao se envolver diretamente no mercado de apostas, assume uma parte da responsabilidade  pelas consequências sociais e econômicas dessa prática. E essas consequências não são pequenas.  Estamos falando de pessoas que, na esperança de mudar de vida, acabam perdendo o pouco que têm.
No fim das contas, a conscientização da sociedade é o único caminho, porque  esperar que o Estado tome atitudes benéficas seria mais uma aposta perdida. Além do que, uma pesquisa mostrou que, em se tratando de anúncios de casas de  apostas, o “Aumento de propaganda de bets não agrada brasileiros”, o que pode  significar que, ou os brasileiros estão um pouco mais conscientes do negócio, ou que  eles só se cansaram do mesmo tipo de anúncio. E pra piorar a situação, a Caixa Loterias anunciou  que sua futura operação de apostas "bet," prevista para começar em 2025, aceitará apostas em  casas lotéricas além da plataforma online.
A diretora-presidente, Lucíola Aor Vasconcelos,  destacou que a iniciativa busca atrair um público mais jovem, sem canibalizar os jogos de  loteria tradicionais, onde o público tende a ser mais velho. A Caixa é uma das 108 empresas que  solicitaram autorização ao governo para operar no mercado regulado de apostas online, que entrará  em vigor a partir de 1º de janeiro de 2025. Bem curioso que o governo vai proibir os  influenciadores de fazer anúncios de casas de apostas com a regra “anti-influencer”  em 1º de janeiro de 2025, e a caixa vai lançar a sua própria casa de apostas no mesmo dia.
Não que eu esteja defendendo influenciadorzinho fazer anúncio de bet, quero mesmo é que eles se  danem. Mas a informação é, no mínimo, curiosa. Se as pessoas não se conscientizarem e não tomarem  suas próprias medidas de precaução, acreditando mais no poder do trabalho que na sorte, acabarão  ficando à mercê de um sistema que lucra com suas fraquezas, e de ambos os lados, seja do lado  do governo, seja do lado das casas de apostas.
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