[Aplausos] Vivemos em uma sociedade que nos ensinou a sobreviver, não a sentir. Desde muitos jovens, aprendemos a calar o choro, esconder a raiva, sufocar o medo e camuflar a tristeza. Crescemos confundindo força com negação, coragem com insensibilidade e saúde com funcionalidade.
Mas o corpo não mente. Ele armazena o que a mente reprime. E é por isso que tantas pessoas hoje estão exaustas, ansiosas, adoecidas.
O sofrimento emocional se manifesta de formas silenciosas, mas consistentes. E se não é escutado, se repete. Gabor Maté, renomado médico e especialista em traumas, afirma que a raiz da maioria das doenças físicas e mentais está na desconexão de nós mesmos, dos nossos sentimentos e da nossa história.
Curar não é apagar o passado, mas finalmente se dar o direito de olhar para ele com compaixão. E o processo de cura pode sim começar antes mesmo de procurar terapia. Ele começa quando decidimos parar de fugir.
Essa decisão aparentemente simples, é um dos maiores atos de coragem que uma pessoa pode tomar. Não se trata de heroísmo, mas de um compromisso com a verdade interna. E essa verdade muitas vezes dói, é incômoda, nos confronta com memórias, escolhas, silêncios, mas é justamente nesse enfrentamento que mora o potencial de transformação.
A dor, quando reconhecida, se torna ponte e quando negada se transforma em prisão. A primeira forma de começar a se curar é aceitar que há algo ferido dentro de você. Parece óbvio, mas não é.
Muitas pessoas passam a vida tentando funcionar normalmente, mesmo sentindo um vazio insuportável por dentro. Fingem sorrisos, mantêm rotinas, alcançam metas, mas à noite deitam com a sensação de que algo está faltando. O nome disso é desconexão.
A cura começa quando temos a coragem de admitir: "Eu não estou bem. Eu preciso de ajuda. Eu quero entender o que está acontecendo comigo.
Essa aceitação é um movimento interno. Ninguém pode fazer isso por você. Nem o melhor terapeuta do mundo consegue ajudar alguém que não está disposto a se enxergar com honestidade.
Por isso, o primeiro passo é silenciar o barulho do mundo e escutar o que a alma vem tentando dizer há anos. Quando você para para escutar, a dor revela sua mensagem. Algo dentro de você pede por cuidado, por amor, por atenção.
A segunda forma de iniciar esse processo é se permitir sentir sem julgamento. A maioria de nós aprendeu a categorizar sentimentos como certos ou errados, bons ou ruins. Choramos e imediatamente pensamos: "Não posso chorar".
Sentimos raiva e já nos culpamos. Isso é feio. Mas o que sentimos não nos torna ruins, apenas humanos.
Sentir é um direito, é a linguagem da nossa essência. Toda emoção, por mais intensa ou desconfortável que seja, tem uma função. E quando a escutamos sem julgamento, ela pode cumprir seu papel e ir embora.
Começar a se curar é um ato radical de escuta interna. Não exige ferramentas caras, nem soluções milagrosas. Exige presença e exige disposição para olhar para dentro.
Ao fazer isso, começamos a desatar os nós que nos prendem a padrões antigos de sofrimento. A partir desse momento, uma nova jornada começa, a jornada de volta para si mesmo. Uma das contribuições mais poderosas de Gabor Maté é a compreensão de que trauma não é o que acontece com você, mas o que acontece dentro de você como resultado do que te aconteceu.
Em outras palavras, o trauma não é necessariamente o evento, mas sim o rompimento da conexão consigo mesmo que ele provoca. E é justamente por ser invisível que tantas pessoas convivem com traumas sem sequer saber que estão traumatizadas. Quantos de nós crescemos em lares onde não havia gritos nem violência física, mas faltava afeto, escuta, validação emocional?
Quantos fomos ensinados a não incomodar, a não chorar, a engolir o que sentíamos. Esses ambientes aparentemente normais muitas vezes geram as feridas mais profundas, pois ensinam que nossos sentimentos não importam. E essa mensagem internalizada por anos vira crença: Eu sou demais.
Eu sou um fardo. Eu não mereço amor. A terceira forma de iniciar a cura, portanto, é reconhecer os traumas invisíveis da infância e suas repercussões emocionais na vida adulta.
Isso não significa culpar os pais ou viver no passado. Significa apenas entender que muitas das nossas reações, ansiedades, vícios e relacionamentos disfuncionais são tentativas de lidar com uma dor antiga que ainda pulsa em silêncio dentro de nós. Quando não compreendemos o que nos feriu, passamos a vida inteira tentando nos consertar por fora, sem entender que a raiz está por dentro.
Repetimos padrões, nos sabotamos, atraímos situações que refletem nossas crenças mais dolorosas. E só quando reconhecemos essa dor é que podemos começar a libertar-nos dela. Esse reconhecimento exige muita honestidade.
Às vezes nos deparamos com lembranças que preferíamos esquecer. Outras vezes nos damos conta de que nossas feridas moldaram nossas escolhas por décadas. Pode ser doloroso perceber que muito do que vivemos foi uma forma inconsciente de sobreviver, não de viver.
Mas essa dor é necessária, ela nos desperta, ela nos empurra para o movimento, para a mudança. E é aqui que começamos a perceber que não há cura possível sem compaixão por nós mesmos. Gaboré enfatiza isso de forma categórica.
Autocompaixão não é fraqueza, é a base da cura. Isso nos leva à quarta forma de começar a se curar, praticar o autoacolhimento radical. Autoacolhimento é olhar para si com gentileza, mesmo quando não entendemos o que sentimos.
É oferecer a nós mesmos o cuidado que não recebemos. É dizer internamente: "Eu te vejo. Eu te entendo.
Eu estou aqui por você". e repetir isso até que a criança ferida dentro de nós finalmente acredite. Até que ela sinta que agora não está mais sozinha.
Esse processo não acontece da noite para o dia. É um caminho, um mergulho lento e constante. Mas cada vez que escolhemos agir com compaixão ao invés de autocrítica, damos um passo a mais em direção à verdadeira cura.
E assim começamos a reconstruir por dentro o amor que um dia nos foi negado. O corpo não esquece. Mesmo quando a mente racionaliza, minimiza ou bloqueia memórias, o corpo continua carregando as marcas emocionais de tudo o que vivemos.
Gabor Maté mostra através de suas pesquisas como doenças crônicas, vícios e até dores físicas persistentes podem ser manifestações de traumas emocionais não resolvidos. Ou seja, o que não foi elaborado psicologicamente, o corpo transforma em sintoma. Quantas pessoas vivem com dores constantes, fadiga, insônia, palpitações, sem nunca associar esses sintomas a estados emocionais prolongados, como ansiedade, estresse, solidão, raiva reprimida.
O corpo fala, mas fomos ensinados a não escutar. Tomamos remédios, silenciamos o sintoma e seguimos. Mas a dor retorna, porque sua função é nos alertar.
Algo dentro de nós está pedindo por atenção. A quinta forma de começar a se curar, mesmo sem terapia é reconectar-se com o próprio corpo de forma consciente e compassiva. Isso significa sair do modo automático e começar a observar como as emoções se manifestam fisicamente.
Quando você se sente ansioso, onde sente isso no corpo? Quando está triste, o que muda em sua respiração, no seu peito, nos seus músculos? Essa observação atenta é uma ferramenta poderosa de autoconsciência.
Reconectar-se com o corpo também passa por rituais simples: respirar conscientemente, praticar atividades que tragam presença, como meditação, caminhada em silêncio, dança intuitiva, yoga. Não se trata de performance, mas de reconexão. Esses momentos são convites para voltar ao presente, para criar um espaço interno onde a escuta possa florescer.
E é nesse espaço que a cura começa a acontecer. Cabor Maté nos lembra que a cura emocional é um processo profundamente físico também. Quando você chora de verdade após anos sem permitir o choro, está limpando tensões acumuladas.
Quando solta um grito, uma risada, um suspiro profundo está permitindo que a energia estagnada finalmente flua. Isso é liberação, isso é vitalidade retornando. Outro aspecto essencial dessa reconexão corporal é romper com a ideia de que o corpo é um inimigo.
Muitas pessoas, especialmente aquelas que sofreram abusos ou foram julgadas desde cedo, desenvolvem uma relação de vergonha ou rejeição com o próprio corpo. Curar essa relação é parte indispensável do processo de cura emocional. O corpo não é culpado.
Ele foi o campo de batalha e agora pode ser o templo da cura. Por isso, comece pequeno, um toque mais gentil, um banho tomado com presença, um momento de silêncio para escutar o que seu corpo tem a dizer. Aos poucos, essa escuta se expande e você descobre que dentro de você sempre houve uma sabedoria ancestral esperando para ser ouvida.
A cura começa no momento em que você escolhe conscientemente voltar para casa e seu corpo é a primeira morada. A medida que mergulhamos nesse processo de cura, um dos maiores obstáculos que surgem é a autossabotagem. Ela aparece de formas sutis: procrastinação, vícios, isolamento, autocrítica severa, relações destrutivas.
Tudo isso são manifestações de uma parte ferida que acredita que não é digna de amor, sucesso ou felicidade. Essa parte foi construída em ambientes onde a dor era constante e onde para sobreviver a mente precisou criar defesas. Segundo Gabor Maté, o vício, seja em substâncias, pessoas, comida, trabalho ou redes sociais, não é o problema em si, mas a tentativa de aliviar uma dor mais profunda.
A autossabotagem, portanto, também é uma tentativa desesperada de se proteger. Mas proteger de quê? De sentir, de reviver a dor, de encarar o vazio que existe dentro.
Por isso, o próximo passo fundamental da cura é identificar os padrões de autossabotagem e compreendê-los com compaixão, não com punição. Quando você perceber que está se autoboicotando, em vez de se julgar, pare, respire, pergunte a si mesmo: "O que estou tentando evitar sentir agora? " Essa simples pergunta pode revelar verdades profundas, pode mostrar que por trás do hábito destrutivo há uma criança assustada tentando se proteger.
Esse processo de autoconsciência exige repetição. No início, talvez você perceba só depois de ter repetido o comportamento. Aos poucos, começa a anotar durante e depois antes.
Isso é evolução. Isso é cura em andamento. O objetivo nunca é perfeição, mas presença.
Estar presente o suficiente para escolher diferente, para se acolher em vez de se punir, para se apoiar em vez de se sabotar. Outro ponto importante é aprender a escolher com consciência os ambientes e as pessoas que nos cercam. Gaboré afirma que o contexto influencia diretamente nossa saúde mental e emocional.
Se estamos cercados por relações que nos invalidam, que nos manipulam ou que reforçam nossas dores, será quase impossível curar. Por isso, parte do processo de cura é também estabelecer limites, romper ciclos, dizer não ao que nos adoece, mesmo que esse não venha com culpa no início. A boa notícia é que à medida que você se cura, seu campo energético muda.
Você começa a atrair relações mais saudáveis. começa a se posicionar com mais firmeza e o mais bonito começa a se escolher, começa a perceber que merece coisas boas, que não precisa mendigar amor, que pode criar um novo capítulo e escrever uma nova história. Uma parte essencial do processo de cura, muitas vezes negligenciada, é a reconstrução da nossa narrativa pessoal.
A forma como contamos nossa história determina como nos sentimos sobre nós mesmos. Se você acredita que é fraco, insuficiente e quebrado, viverá preso nessa identidade. Mas e se ao olhar para o passado você pudesse ver não apenas dor, mas resistência?
Não apenas perdas, mas aprendizados? Não apenas traumas, mas sobrevivência? Gaboraté reforça a importância de dar novos significados às nossas experiências, sem negar o que aconteceu, mas ampliando a perspectiva, o trauma.
precisa ser validado, mas não eternizado como única identidade. Podemos honrar nossa dor sem nos apegar a ela como se fosse tudo o que somos. E isso começa mudando a forma como falamos de nós mesmos.
Muitos de nós carregamos narrativas herdadas, crescemos ouvindo que éramos problemáticos, difíceis, inadequados, ou, por outro lado, fomos ensinados a sermos perfeitos, fortes, bem-sucedidos, mesmo que por dentro estivéssemos desmoronando. Essas histórias moldaram nossa autoimagem, mas elas podem ser reescritas e você tem esse poder. Escreva sua história com verdade, mas também com ternura.
Diga a si mesmo: "Eu passei por coisas muito difíceis e mesmo assim estou aqui. Reconheça a sua força, a sua coragem, o fato de que, apesar de tudo, você continua buscando, sentindo, tentando. Isso não é fraqueza, é resistência, é humanidade.
A cura se aprofunda quando paramos de nos ver como vítimas do destino e começamos a nos reconhecer como autores conscientes da nossa trajetória. Isso não significa negar as dores do passado, mas assumir o protagonismo do agora. Você não teve culpa do que sofreu, mas pode escolher como vai lidar com isso daqui paraa frente.
Essa nova narrativa é libertadora. Ela nos dá poder, nos conecta com um senso de missão com um propósito mais profundo. Talvez a dor que você viveu possa servir para inspirar outras pessoas.
Talvez a sua cura possa ser uma luz para quem ainda está no escuro. Tudo muda quando enxergamos o nosso sofrimento como portal de transformação. E assim a cura deixa de ser um destino e se torna um caminho.
Um caminho que se caminha com consciência, com presença, com compaixão e que pouco a pouco vai nos levando de volta para casa, para quem sempre fomos antes da dor nos distorcer. No fim das contas, curar-se é lembrar-se de quem você era antes do mundo dizer quem você deveria ser. É voltar à sua essência, a sua inteireza.
E essa lembrança não vem de livros, nem de fórmulas prontas. Ela vem de dentro, da escuta silenciosa, do acolhimento gentil, da escolha diária, de seguir em frente, mesmo com medo, de amar-se mesmo nas partes que você aprendeu a odiar. Gabor Maté afirma que a cura não é um destino final onde tudo está resolvido.
É uma jornada contínua de reconexão. Uma jornada que pode ser iniciada a qualquer momento, inclusive agora, mesmo sem terapia formal, mesmo sem saber por onde começar, basta um gesto, uma escolha, um sim para si mesmo. Talvez hoje você esteja se sentindo quebrado, sozinho, exausto.
Mas quero te lembrar, isso também é parte do processo. Sentir dor não é retrocesso, é sinal de que você está despertando, está acessando camadas profundas, está saindo do entorpecimento e entrando na presença. E isso por si só é um milagre.
Permita-se chorar, permita-se parar, permita-se dizer: "Não aguento mais". Porque é justamente nesse ponto que nasce uma nova força. Uma força que não vem da dureza, mas da verdade, da coragem de ser vulnerável, de se mostrar inteiro, mesmo em pedaços, e de entender que pouco a pouco cada pedaço pode ser acolhido, curado e integrado.
A grande moral desta jornada é: você não está quebrado, está em processo de reconstrução. E reconstruir-se é um dos atos mais sagrados que um ser humano pode viver. Não exige perfeição, exige verdade e exige que você se olhe com os olhos de quem finalmente entendeu.
Eu mereço viver inteiro. Eu mereço me amar. E se você chegou até aqui, saiba que já deu um grande passo.
Você escolheu escutar, escolheu sentir, escolheu começar. E isso é tudo o que importa. A cura está acontecendo silenciosa, profunda, verdadeira.
Curar-se é um retorno para casa. É reencontrar a si mesmo nos escombros da dor. É lembrar que mesmo nos dias escuros há uma luz que nunca se apagou.
E essa luz é você. A mensagem que fica é simples, mas poderosa. Não desista de si.
Mesmo quando tudo parecer perdido, escolha dar mais um passo. O caminho da cura é lento, mas certo, e cada passo é sagrado. Gostou desse conteúdo?
Queremos muito saber a sua opinião. Deixe nos comentários qual dessas formas de cura mais tocou você ou se já viveu algo parecido. Sua experiência pode ajudar outras pessoas que também estão buscando se curar.
Até o próximo vídeo.