Semana passada, a gente falou sobre a tricotilomania e em muitos vídeos aqui do canal a gente já falou sobre vários transtornos mentais bem conhecidos, mas você sabe o que é exatamente um transtorno mental? Eu sou o André, tenho um doutorado em psicologia e hoje quero te explicar o que é esse termo tão central na área da saúde conhecido como transtorno mental. Muita gente ainda se confunde com esse conceito e por isso vamos explicá-lo através de 9 fatos que você confere agora.
Fato número 1: um transtorno mental envolve um conjunto de sintomas que costumam acompanhar uns aos outros e que trazem grandes prejuízos para a vida de alguém, sendo que os sintomas e os prejuízos podem variar a depender de cada transtorno e de cada pessoa. É bem frequente que alguém vivenciando um transtorno mental sinta um nível elevado de sofrimento e incapacitação, o que pode dificultar bastante a atuação profissional, os relacionamentos, os estudos, os momentos de lazer ou a realização de atividades cotidianas. Fato número 2: a presença de um transtorno indica que existe alguma disfunção no organismo, sendo que ela pode estar presente nas capacidades cognitivas, em processos biológicos ou de desenvolvimento que estão relacionados ao funcionamento mental.
O TDAH, por exemplo, envolve principalmente disfunções na atenção e no autocontrole, enquanto a tricotilomania envolve disfunções na regulação das emoções e em outras áreas, como explicamos no nosso último vídeo. Fato número 3: nem tudo o que gera sofrimento ou incapacitação configura um transtorno mental. Um exemplo disso é a reação à morte de alguém próximo, sendo que certas reações já são esperadas pela maior parte das pessoas que vivem em uma determinada cultura.
Como explicamos no nosso vídeo sobre luto, alguém que passa por isso pode ficar bem incapacitado e viver um enorme sofrimento, mas em muitas culturais, como a nossa, reagir dessa forma é comum e até mesmo esperado. Fato número 4: comportamentos fora do comum não são necessariamente um índício de transtorno mental. O modo como você age pode ser influenciado pela sua cultura, pela sua religião, por substâncias que ingeriu e pelo contexto no qual se encontra, por exemplo.
Podem existir uma infinidade de motivos para alguém se comportar de uma forma inesperada e várias condutas atípicas estão muito mais ligadas ao contexto no qual alguém se encontra do que a alguma disfunção no seu organismo. Fato número 5: uma pessoa pode apresentar um ou mais transtornos mentais ao mesmo tempo, e isso é comum inclusive. A depender do transtorno que alguém possui, isso por si só já é um fator de risco para que a pessoa desenvolva outro transtorno.
Um termo que descreve esse tipo de situação é a comorbidade. Identificamos uma quando dois ou mais transtornos tendem a ocorrer de forma conjunta. Uma das comorbidades mais comuns é a entre transtornos de ansiedade e transtornos depressivos.
Ou seja, pessoas com um transtorno de ansiedade possuem uma chance maior de desenvolver transtornos depressivos e vice-versa. Também já mencionamos outra comorbidade comum em um vídeo nosso que é a entre discalculia e dislexia. Muitas vezes, uma comorbidade ocorre pela própria relação íntima que existe entre os sintomas de 2 transtornos ou mais, mas ter qualquer transtorno costuma incapacitar a pessoa de tal maneira que ela tem uma maior predisposição a desenvolver certos transtornos.
Vamos falar mais algumas curiosidades sobre os transtornos mentais, mas se você está achando o tema do vídeo de hoje interessante, já clica no joinha que ajuda muito a gente, inscreva-se no canal, clique no sininho e siga a gente nas nossas redes sociais! Fato número 6: apesar de se falar muito sobre transtornos como a esquizofrenia no singular, dando a entender que se trata de algo muito específico, duas pessoas com um mesmo transtorno podem viver coisas bem diferentes na prática. Isso ocorre porque nem toda pessoa que vive a esquizofrenia exibirá todos os sintomas que alguém com esse transtorno poderia exibir.
Além disso, sintomas podem variar em termos da sua intensidade, frequência, duração e contexto no qual mais se manifestam. Para abarcar uma parte dessa individualidade na maneira como os transtornos se manifestam em cada pessoa, subtipos e especificadores podem fazer parte do diagnóstico de um transtorno mental. Eles fornecem subagrupamentos de informações sobre as experiências atuais da pessoa, dando maior especificidade ao seu diagnóstico.
A principal diferença entre eles é que alguém só pode ter um dos subtipos de um transtorno, mas pode ter mais de um especificador. No diagnóstico de alguém com narcolepsia, por exemplo, é possível ter 1 dentre 5 subtipos diferentes. Só para ilustrar, um desses subtipos é a "narcolpesia secundária a outra condição médica" e outro é a "narcolepsia sem cataplexia, porém com deficiência de hipocretina".
Um especificador importante da narcolpesia é o referente à gravidade atual do transtorno, sendo que ela pode variar entre leve, moderada ou grave. Quantos subtipos e quais especificadores um transtorno tem varia muito a depender de cada um deles. Fato número 7: pessoas que possuem algum transtorno mental e pessoas vistas como "normais" são menos diferentes do que muitos pensam.
Esses dois grupos têm características semelhantes, sendo que a principal diferença entre eles é o nível em que cada um apresenta essas características. A maioria das pessoas apresentou, apresenta ou apresentará uma grande parte dos sintomas de diferentes transtornos mentais, mas apenas uma parcela menor delas apresentará níveis mais elevados desses sintomas ao ponto de satisfazer os critérios diagnósticos de um transtorno. Como explicamos no vídeo sobre a tríade sombria da personalidade, todo mundo possui algum nível de traços como narcisismo, psicopatia e maquiavelismo, sendo que eles são a principal característica de transtornos como os da personalidade antissocial e o da personalidade narcisista.
O que mais distingue alguém que possui algum desses transtornos da maioria das pessoas é o nível mais elevado que eles apresentam de algumas dessas características. Ou seja, essa é uma diferença muito mais quantitativa do que qualitativa. Se você acredita que é uma pessoa "normal", talvez essa ideia soe um pouco estranha, já que ela sugere que você não é tão radicalmente diferente assim de alguém que possui algum transtorno mental, mas esse fato é exatamente o que dificulta tanto delimitar o que significa ser alguém "normal".
Fato número 8: pessoas com transtornos mentais diferentes podem viver coisas parecidas na prática, já que vários transtornos compartilham de alguns sintomas, causas e consequências. O ataque de pânico é o principal sintoma do transtorno de pânico, mas ele também pode ser uma das piores partes de alguém que possui a agorafobia, a ansiedade social, a fobia específica ou o transtorno de estresse agudo, por exemplo. Fato número 9: se você já se identificou com os sintomas de algum transtorno, saiba que isso é comum e não quer dizer que você o tenha, já que os sintomas dos transtornos se referem a experiências relativamente comuns na população - com algumas exceções, claro.
Caso queira saber de forma mais confiável se você tem um transtorno mental, a melhor coisa que você pode fazer é procurar a ajuda de um profissional, e a pior é ficar lendo listas de sintomas na internet, já que isso pode te dar a sensação de que possui todos os transtornos do mundo. Tanto o psicólogo quanto o psiquiatra possuem a princípío formações adequadas para desenvolver uma avaliação psicológica com você e ajudar a esclarecer esse tipo de coisa, embora alguns profissionais conduzam essa etapa de uma maneira mais completa do que outros. Eu recomendo que você procure pela indicação de um profissional que tenha maior experiência na condução de avaliações psicológicas.
Essa avaliação permite que ele levante uma série de informações que darão um bom embasamento para conclusões a respeito da presença de um transtorno mental e do tratamento que seria mais adequado. Muita gente ainda tem uma visão pouco realista do que significa ter um transtorno mental. O que sabemos hoje é que qualquer pessoa pode desenvolver um transtorno ao longo da vida, embora algumas pessoas tenham uma predisposição maior do que outras.
A presença de um transtorno mental deve ser constatada por um profissional capacitado para fazer isso, já que se trata de uma atividade extremamente complexa e capaz de impactar muito positivamente ou negativamente a vida de alguém a depender de como é feita. Hoje explicamos o que são transtornos mentais e quais são algumas das suas principais características conhecidas. Também falamos sobre como a noção de normalidade é difícil de delimitar e enfatizamos a importância de que um profissional capacitado esteja envolvido quando for necessário determinar a existência de um transtorno.
Na semana passada, a gente falou aqui no canal sobre tricotilomania, e eu queria agradecer os vários comentários que foram feitos. Muita gente compartilhou a experiência difícil que tem enfrentado nos últimos anos com a tricotilomania. Eu vi uma pessoa perguntando se pegar um fio de cabelo e ficar enrolando entre os dedos teria alguma coisa a ver com tricotilomania, e isso por si só não indica nada.
E é muito bom enfatizar como alguns fizeram nos comentários que a tricotilomania tem tratamento, só que o principal problema é que as pessoas não costumam procurar tratamento quando elas possuem essa condição. Eu vi muita gente falando sobre cutucar a pele, tirar espinha ou coisas do tipo, e isso realmente não se enquadra dentro da tricotilomania. Eu vi que muita gente se demonstrou interessada em conhecer mais sobre o transtornos de escoriação, por exemplo, que tem mais a ver com isso.
Como foi muito bem enfatizado lá nos comentários, qualquer fala no sentido de: "ah, mas porque que você não para de arrancar esse cabelo, é só parar". Não costuma ajudar muito. Se você quer ajudar alguém que ta vivendo a tricotilomania, você pode oferecer apoio, pode perguntar como você pode ajudar essa pessoa, até mesmo recomendar que ela procure ajuda profissional de uma forma gentil, de uma forma tranquila, mas falar esse tipo de coisa mais óbvia assim, não vai ajudar muito provavelmente.
Se você quiser ajudar a gente a fazer com que mais pessoas entendam o que que é a tricotilomania e consigam oferecer um suporte melhor para pessoas que vivem essa condição, clica no joinha lá no nosso vídeo, comenta e manda o vídeo para os seus amigos lá no WhatsApp também. Que assunto você gostaria que a gente abordasse em vídeos futuros? Comente aqui embaixo a sua sugestão e se tiver gostado do vídeo de hoje, não deixe de clicar no joinha para nos ajudar, inscrever-se no canal e clicar no sininho.
Se oassunto de hoje te interessou, um vídeo nosso que eu recomendo você assistir agora é o que fizemos sobre como anda a saúde mental no Brasil.