[Música] Amélia era uma jovem mulher de 18 anos. Ela havia terminado os estudos e, de primeira, passou no vestibular para a arquitetura. Ela estava feliz, assim como seus pais; todos da sua família a parabenizaram assim que começou a faculdade.
Amélia fez amizade com várias pessoas, entre elas, Thiago, que fazia medicina, mas sempre em intervalos e na saída da faculdade, eles se encontravam. Suas conversas eram longas e agradáveis. Após 3 anos de faculdade, eles finalmente começaram a namorar.
Não foi surpresa para ninguém, pois os dois eram grudados. Thiago morava sozinho; ele tinha um emprego de meio período, mas seu pai pagava os custos do apartamento. Seis meses após o começo do namoro, Thiago chamou Amélia para morar com ele.
No começo, ela hesitou. Seus pais disseram que ela era muito nova ainda para morar com ele e o namoro era recente, mas Amélia decidiu morar com Thiago. O começo foi simplesmente maravilhoso; eles viviam uma rotina tranquila e harmoniosa, compartilhando as pequenas alegrias do dia a dia.
Era como se tudo estivesse no lugar certo, como se a vida tivesse finalmente começado para eles. Amélia estava no terceiro ano de arquitetura quando descobriu que estava grávida. Era uma manhã como qualquer outra, mas ela se sentia estranha há dias.
Resolveu fazer o teste, que confirmou o que ela já suspeitava. Com o coração acelerado, ela foi contar para Thiago. Ele estava sentado no sofá lendo algo no celular quando ela entrou na sala.
Amélia ficou de pé por um momento, sem saber como começar, até que finalmente disse: "Thiago, eu tenho algo importante para te contar. " Ele olhou para ela, curioso, e deixou o celular de lado. "O que foi?
Você parece nervosa. " Amélia respirou fundo, tentando manter a calma. "Eu fiz um teste de gravidez hoje de manhã e deu positivo.
" Os olhos de Thiago se arregalaram por um instante e ele se levantou do sofá. "Você tá grávida? " ele perguntou, ainda processando a notícia.
Amélia assentiu. "Sim, estou. " Houve um silêncio breve entre eles, antes que Thiago se aproximasse e segurasse as mãos dela.
"E você quer ter esse bebê? " A pergunta a pegou de surpresa, embora fizesse sentido que ele perguntasse. Amélia já sabia a resposta, mas havia algo sobre a maneira como ele a questionou que a fez hesitar por um segundo.
"Não é questão de querer, Thiago. Eu vou ter esse bebê e eu vou amá-lo com tudo o que eu sou. " Thiago sorriu, mas havia um misto de preocupação em seus olhos.
"Claro, eu só quero ter certeza de que é isso que você realmente quer. " Amélia o abraçou, sentindo um alívio momentâneo. "É isso que eu quero.
" A gestação de Amélia foi segura e tranquila. Ela trancou a faculdade por um período e entrou em licença no emprego para garantir que pudesse se concentrar completamente naquele momento tão importante. Os meses passaram com a expectativa crescente e, finalmente, Artur nasceu, um menino saudável, cheio de vida e a alegria de Amélia.
Desde o momento em que o segurou pela primeira vez, ela soube que tudo o que havia dito antes era verdade: ela o amava incondicionalmente. Após a licença maternidade, Amélia decidiu que era hora de voltar à sua vida anterior. Ela trancou a faculdade e retomou seus estudos em arquitetura, além de voltar ao emprego.
No entanto, a realidade de ser mãe, estudante e trabalhadora logo mostrou sua face. Conciliar todas essas responsabilidades era quase impossível. Certa noite, depois de mais um dia exaustivo, Amélia se jogou no sofá, exausta.
Artur já estava dormindo no quarto e Thiago entrou na sala, observando-a com uma expressão séria. "Você não pode continuar assim, Amélia," ele disse, sentando-se ao lado dela. "Você está sobrecarregada.
E isso não é bom nem para você, nem para Artur. " Amélia fechou os olhos, tentando ignorar o peso de suas palavras. Ela sabia que Thiago estava certo, mas não queria admitir.
"Eu sei, Thiago. Mas o que eu posso fazer? Eu preciso trabalhar, preciso terminar a faculdade.
Eu não quero abandonar meus sonhos. " Thiago suspirou, cruzando os braços. "E se você não precisasse fazer tudo isso agora?
" Ela o olhou, pensativa, antes de balançar a cabeça. "Como assim? " Foi então que Thiago fez uma pausa, respirou fundo e lançou a ideia que mudou tudo: "Amélia, por que você não larga a faculdade e o emprego um tempo?
Assim, você pode se dedicar totalmente ao Artur. Eu garanto que nada vai faltar para nós. Quando eu me formar e começar a trabalhar como médico, vou ganhar o suficiente para sustentar a gente.
" Amélia ficou em silêncio, absorvendo o que ele disse. Largar a faculdade e o emprego. .
. A ideia parecia absurda à primeira vista, mas Thiago soava tão seguro, tão confiante de que era o melhor caminho. E ele não estava totalmente errado.
Ela estava exausta; cuidar de Artur, estudar e trabalhar a deixava à beira de um colapso. Havia dias em que ela sentia que não conseguiria seguir em frente, mas desistir? Desistir de tudo pelo qual ela havia trabalhado tão arduamente?
"Eu não sei, Thiago," ela disse com a voz baixa. "Largar tudo assim de repente? " "Se eu.
. . " segurou a mão dela, tentando tranquilizá-la.
"Você vai voltar à faculdade quando as coisas estiverem mais tranquilas, quando o Artur estiver mais crescido. Você pode voltar, mas agora você precisa pensar no que é melhor para ele. E eu estou aqui; você não precisa fazer isso sozinha.
" Amélia acreditava que estava oferecendo a solução certa, mas no fundo ela não sabia se podia tomar essa decisão. Seus sonhos de ser arquiteta ainda brilhavam em algum canto de sua mente, mesmo que estivessem ofuscados pela realidade de ser mãe e esposa. Amélia foi falar diretamente com seus pais.
Os pais de Amélia acharam um absurdo a proposta; seus pais disseram que ela era muito nova para largar e precisava pensar no futuro. Sua mãe disse para ela terminar a faculdade e continuar trabalhando. Seus pais disseram que era melhor.
Contratar uma babá ou, se o dinheiro não desse, eles cuidariam do neto. Sua mãe terminou dizendo que sabia que ela amava Tiago, mas que ela precisava ser esperta, pois o futuro ninguém conhece. Sentada à mesa de jantar, com as mãos entrelaçadas, Amélia sentia o olhar insistente de sua mãe, enquanto seu pai caminhava de um lado para o outro, frustrado.
Ela não, eu de imediato, estava imersa em pensamentos. Os argumentos de seus pais eram sensatos, mas sua cabeça estava dividida: "Você não precisa fazer isso agora, Amélia. " Sua mãe falou novamente, tentando convencê-la: "E se você deixar o emprego, como vai voltar depois?
A arquitetura é algo que precisa de constância. E se o Thiago não conseguir o que está prometendo? " Amélia mordeu o lábio, ainda sem saber o que dizer.
Ela sabia que seus pais estavam preocupados com ela e sentia-se em dívida por contrariá-los, mas, ao mesmo tempo, Tiago tinha uma forma de acalmá-la, de fazê-la acreditar que tudo ficaria bem. "Eu ainda não sei o que fazer," disse Amélia, sua voz mais baixa do que pretendia. "Eu entendo o que vocês estão dizendo, e eu realmente valorizo tudo o que vocês fizeram por mim.
Preciso pensar um pouco mais. " Seus pais trocaram olhares de preocupação, mas não insistiram mais naquele momento. O pai de Amélia suspirou profundamente e se sentou ao lado dela, colocando a mão sobre a sua filha.
"Seja qual for a sua decisão, estaremos aqui para você," ele disse com a voz mais suave. "Nós só queremos o seu bem. " Amélia assentiu, agradecida pelo apoio, mas sem se sentir completamente aliviada.
Ela precisava conversar mais com Tiago, precisava ouvir dele novamente que tudo ficaria bem. Amélia passou os dias seguintes pensativa, pesando as opções: largaria sua faculdade e o emprego para ser mãe em tempo integral? Será que poderia voltar a estudar e ao trabalho no futuro?
Essas perguntas rodopiavam em sua mente, sem respostas claras. A decisão, porém, veio durante uma noite chuvosa, quando Thiago a abraçou enquanto assistiam TV. Ela estava deitada com a cabeça em seu peito, e ele sussurrou palavras tranquilizadoras em seu ouvido, afirmando que nada aconteceria, que ele daria conta de tudo.
Amélia se sentiu segura naquele momento, acreditando em suas promessas. "Eu sei que você está preocupada," Amélia disse, Tiago acariciando seu cabelo, "mas você precisa confiar em mim. Eu estou aqui e vou cuidar de nós três.
Nada vai faltar. Eu prometo. " Ela olhou para ele, tentando esconder a incerteza que ainda sentia, mas o conforto de suas palavras foi o suficiente para que ela tomasse a decisão final.
"Eu confio em você, Tiago," disse Amélia. "Finalmente eu vou largar a faculdade e o trabalho. " Os pais de Amélia ficaram chocados e profundamente preocupados com a escolha da filha.
Quando ela contou, sua mãe não parava de repetir que ela estava cometendo um grande erro, mas Amélia, agora firme na decisão, apenas sorriu e disse que sabia o que estava fazendo. "Seja como for, filha, nós estaremos aqui para quando você precisar," sua mãe disse resignada. "Obrigada, mãe," Amélia respondeu, embora em pensamento se prometesse que nunca pediria ajuda.
Tinha decidido sozinha, contra o conselho deles, e acreditava que agora deveria enfrentar as consequências sozinha também. O tempo passou, e Amélia logo se viu completamente imersa na vida de dona de casa. Ela amava Artur com todo o seu ser e se dedicava a ele de forma intensa.
No entanto, conforme os dias se arrastavam, ela sentia uma pontada de saudade dos dias em que trabalhava e estudava. Havia algo sobre o ritmo da vida acadêmica e profissional que ela nunca havia valorizado o suficiente. Agora, tudo parecia mais difícil.
A rotina doméstica, que ela antes julgava simples, exigia mais dela do que qualquer projeto de arquitetura ou compromisso de trabalho. Cuidar de Artur era sua maior alegria, mas a falta de contato com o mundo fora das paredes de sua casa a deixava inquieta. Às vezes, ela se pegava olhando para seus antigos cadernos de faculdade, lembrando dos projetos inacabados, das ideias que haviam surgido e que nunca mais foram exploradas.
Mas Amélia decidiu seguir em frente, apoiando Thiago enquanto ele terminava sua faculdade de medicina. Ela o ajudou sempre que possível, cuidando de Artur e da casa enquanto ele se dedicava à faculdade. E enfim, Thiago se formou.
Foi um momento de alívio para ambos, especialmente porque, com a formação, a esperança de uma vida financeira mais estável finalmente parecia próxima. No entanto, o início da carreira de Thiago não foi como eles esperavam. Ele procurou emprego em diversos hospitais, mas as oportunidades pareciam escassas.
A frustração começou a se acumular e a estabilidade que haviam imaginado ficou apenas no plano dos sonhos. Foi então que o pai de Tiago, em um gesto de apoio, fez um empréstimo significativo para que ele montasse sua própria clínica com uma pequena equipe. Thiago começou a trabalhar em sua clínica, e a situação financeira parecia melhorar.
Amélia se sentiu aliviada, vendo que finalmente as coisas estavam tomando o rumo que eles tanto desejaram. Ela o ajudava sempre que possível, apoiando nas decisões e cuidando da logística familiar enquanto ele se dedicava à nova clínica. Mas foi nesse período que Amélia descobriu o valor exorbitante do empréstimo que Thiago havia feito com o pai.
O choque foi imediato. Ela confrontou Thiago sobre o assunto, preocupada com as finanças a longo prazo. "Tiago, você não acha que esse valor é alto demais?
Como vamos conseguir pagar tudo isso? " Amélia perguntou, com a voz séria. Thiago, visivelmente irritado, respondeu: "Eu sei o que estou fazendo, Amélia.
Esse investimento vai valer a pena. Você precisa confiar em mim. " "Eu confio em você, Tiago.
Mas isso não significa que não estou preocupada. Não quero que a gente fique sufocado por dívidas. " A discussão entre eles esquentou, mas Amélia, percebendo que a conversa estava se tornando improdutiva, decidiu não continuar.
Ela sabia que precisava de tempo para processar. Aquilo e Thiago, por sua vez, parecia mais determinado do que nunca a seguir com seus planos. Alguns poucos anos passaram e a clínica de Tiago parecia ir bem.
Amélia notou que o marido passava muito tempo fora, trabalhando; ela não questionava, achava que ele trabalhava demais para pagar o empréstimo que fez. Porém, começou a notar um perfume estranho nele. Ela notou também manchas de batom que pareciam borradas, como se alguém tivesse tentado tirar.
Certa tarde, enquanto Thiago se preparava para sair, Amélia o observava em silêncio, sem saber como abordar o que a incomodava: o cheiro do perfume, que ela não reconhecia, e as manchas que pareciam estar ali propositalmente escondidas. Ela sentiu seu estômago revirar. "Tiago," ela disse finalmente, tentando soar casual, "que cheiro é esse?
Não parece o perfume que você usa. ” Ele parou por um momento, como se estivesse pensando em uma resposta rápida, e então deu de ombros. "Ah, deve ser da clínica.
As pessoas que atendem lá usam todo tipo de perfume. " Amélia sentiu um calafrio percorrer sua espinha, mas não quis forçar o assunto. No entanto, a desconfiança crescia a cada dia.
Ela passou a reparar em pequenos detalhes: ligações que ele recebia fora de casa, o tom de voz mais impaciente, a forma como evitava contato visual quando ela o questionava. "Essas manchas na sua camisa. .
. " "De novo? " ela perguntou, em uma manhã, segurando uma camisa branca com manchas cor-de-rosa no colarinho.
Tiago mal olhou para a camisa antes de responder. "Amélia, por favor, já falei que deve ser alguma cliente. Às vezes a gente se aproxima das pessoas para examiná-las.
Não faz sentido você se preocupar com isso. " Ela engoliu em seco. "Mas acontece com frequência!
Estou preocupada, Tiago. " Ele suspirou, irritado. "Eu trabalho demais para ficar sendo acusado de algo que não fiz!
Não tenho tempo para isso. " Ele virou as costas e saiu da sala, deixando Amélia sozinha com seus pensamentos e a camisa manchada. O casamento estava ruindo e Amélia sentia isso.
O Tiago carinhoso e atencioso de antes parecia distante. Ela evitava brigas por causa de Artur, seu filho de 4 anos, que corria pela casa, inocente, alheio ao que acontecia entre os pais. "Não quero brigar na frente dele," Amélia sussurrava para si mesma, tentando conter as lágrimas cada vez que sua atenção aumentava.
Mas, no fundo, ela sabia que algo estava errado e, a cada dia que passava, a necessidade de confrontar Thiago crescia. Uma noite, Thiago anunciou que chegaria tarde porque ficaria atendendo pacientes na clínica até tarde. Amélia, porém, sentiu algo diferente em sua voz; algo que a fez desconfiar ainda mais.
Ela decidiu que precisava de respostas, pegou as chaves da clínica, das quais havia feito cópias escondidas, sem que Thiago soubesse, e esperou a hora certa. Quando o relógio marcou 9 horas, ela vestiu um casaco, pegou sua bolsa e saiu, determinada. Dirigiu em silêncio até a clínica e, ao chegar, para sua surpresa, viu que o local estava fechado.
Ela franziu o cenho, o coração disparado. "Se ele está atendendo, por que a clínica está fechada? " ela se perguntou, o nervosismo crescendo.
Amélia pegou as chaves e abriu a porta da clínica lentamente, sem fazer barulho. As luzes estavam apagadas, mas o som de vozes vinha de uma sala ao fundo. Com o coração na boca, ela caminhou em direção ao som e, quando se aproximou, viu algo que nunca esperava: Thiago estava na sala com a secretária.
Eles estavam de pé e ela o beijava com uma intimidade que não deixava dúvidas sobre o que estava acontecendo. O mundo de Amélia desabou naquele momento. Ela sentiu uma onda de raiva, tristeza e traição, tudo de uma vez.
"Tiago! " Amélia gritou, empurrando a porta da sala com força. A secretária deu um pulo e rapidamente soltou Thiago, visivelmente envergonhada.
"Eu. . .
eu vou embora," murmurou, saindo da sala sem olhar para Amélia. Thiago ficou parado por um segundo, surpreso e sem palavras. Amélia, com o rosto vermelho de raiva e lágrimas prestes a cair, o encarava, exigindo uma explicação.
"Como você pode fazer isso comigo? Como pode fazer isso com o nosso filho? " Amélia gritou, a voz falhando.
Thiago, ainda tentando manter a calma, respondeu: "Amélia, calma. Não é nada disso que você está pensando. " "Não é nada disso?
" eu te vi beijando a secretária, Tiago! O que mais eu preciso ver para acreditar? " Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado.
"Você sempre está casada, Amélia! Nunca se cuida, nunca pensa em mim! O que você esperava que eu fizesse?
Olha para você! " Amélia ficou em choque, sentindo como se tivesse levado um tapa. "Eu dediquei minha vida a você e ao nosso filho.
Eu larguei tudo por nós, Tiago, e você me trai assim? " A raiva agora transbordava em sua voz. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo.
A traição física já era devastadora, mas as palavras de Thiago eram um golpe ainda mais profundo. "Você precisa sair de casa agora," Amélia disse, com a voz firme, ainda que trêmula. "Eu não quero mais você morando lá.
" Depois disso, Tiago riu, um riso seco e cruel. "Sair de casa? Eu sou quem paga todas as contas, Amélia!
Essa casa é minha! Você é apenas uma dona de casa, e se alguém tiver que sair, esse alguém é você! " Amélia sentiu como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés.
As palavras dele eram tão frias, tão cheias de desprezo. Como ele podia falar assim com ela, depois de tudo o que viveram juntos? Thiago se virou e saiu da sala, sem olhar para trás.
Amélia ficou ali, sozinha, a respiração ofegante, as lágrimas finalmente escorrendo pelo rosto. Ela se sentou em uma cadeira, sem forças, enquanto tentava processar o que havia acabado de acontecer. Toda a dor, toda a raiva acumulada explodiu em um choro silencioso.
Ela sabia que sua vida nunca mais seria a mesma. Amélia estava com vergonha de pedir ajuda para. .
. Os pais. Pois ela não seguiu o conselho deles.
Amélia tinha pouco dinheiro e nem para onde ir pela noite. Amélia pegou suas coisas e seu filho e foi para a casa de uma amiga, onde passou a noite. No dia seguinte, Amélia alugou um pequeno apartamento.
Ela não ficaria sendo humilhada por Tiago. Enquanto encaixava suas poucas coisas no novo apartamento, ela refletia sobre as últimas semanas; cada telefonema de Tiago a deixava mais nervosa. A acusação de estar estragando a vida dele, como se o fim fosse culpa exclusiva dela, a feria profundamente.
“Você não está vendo o que está fazendo, Amélia? ” Tiago gritou ao telefone, com a voz cheia de raiva. “Você destruiu nossa família e agora quer me fazer pagar por isso!
” Amélia respirava fundo antes de responder, tentando manter a calma. “Tiago, eu só quero paz. Nós não estamos mais juntos, então vamos tentar ao menos ser civilizados por Artur.
” Mas as discussões só pioravam. E então veio a ameaça que a fez tremer de medo: Thiago disse que tiraria a guarda de Artur dela. Era a primeira vez que Amélia sentia um verdadeiro medo desde a separação.
“Você não vai tirar meu filho de mim! ” ela respondeu firme, mas por dentro estava apavorada. Sabia que sua situação financeira era instável e que, no papel, Tiago tinha vantagens que ela não podia competir.
Ele era médico, ganhava bem e tinha o apoio do pai. O que mais temia aconteceu: Thiago entrou na justiça para tirar a guarda de Artur. Amélia ficou desorientada; ela tentou de tudo, procurou advogados, pediu ajuda a conhecidos, mas não conseguiu encontrar um emprego a tempo.
Quando chegou o dia do julgamento, ela sabia que a situação era delicada. O tribunal era frio e o processo foi longo. Amélia tentou se manter firme, mas quando a sentença foi dada, o chão pareceu sumir debaixo de seus pés.
O juiz decidiu a favor de Tiago; ela havia perdido a guarda de Artur. De volta ao apartamento, Amélia chorou como nunca antes. Nunca havia experimentado uma dor tão profunda; a sensação de fracasso era esmagadora e a saudade de Artur, insuportável.
Ela ainda tinha o direito de visitá-lo, mas não era a mesma coisa. Ela não poderia mais ver seu filho todos os dias, não poderia colocá-lo para dormir ou acordá-lo pela manhã. Sem opções, Amélia engoliu o orgulho e decidiu buscar ajuda onde deveria ter ido desde o início: seus pais.
Com o coração pesado e cheia de vergonha, ela os procurou para explicar tudo o que havia acontecido. Quando chegou à casa deles, foi recebida com um abraço forte de sua mãe. “Amélia, não conseguiu segurar as lágrimas.
‘Filha, por que não veio antes? ’” sua mãe perguntou com ternura, enquanto a abraçava. “Você sabe que estamos sempre aqui para você.
” O pai de Amélia, embora mais reservado, colocou a mão no ombro dela e falou com seriedade: “Você devia ter nos procurado assim que tudo começou a desandar. Mas estamos aqui agora e vamos te ajudar a recomeçar. ” Os pais de Amélia a acolheram sem questionamentos, oferecendo o conforto de que ela tanto precisava naquele momento.
Eles lhe deram um teto e, mais importante, apoio emocional. Amélia sentiu um alívio imenso, mas o vazio deixado pela ausência de Artur ainda era uma ferida aberta. Ela o ouvia poucas vezes, muitas delas por meio do motorista particular de Tiago, que trazia o menino até a casa dos pais de Amélia.
Tiago preferia evitar contato direto com ela. Certa noite, enquanto jantavam, os pais de Amélia decidiram ter uma conversa importante com ela. “Sabe, filha,” começou sua mãe, pegando delicadamente a mão de Amélia, “esse tempo que você está aqui, apesar de tudo, pode ser uma oportunidade para você retomar sua vida.
” Amélia olhou para a mãe com curiosidade. “Como assim? ” “Você é jovem, Amélia.
Nem 30 anos tem ainda,” sua mãe continuou, com um sorriso encorajador. “Pode voltar a estudar, retomar sua faculdade de arquitetura. Isso vai te dar forças para seguir em frente.
” Seu pai, que até então estava em silêncio, concordou. “Eu e sua mãe estamos aqui para te apoiar em tudo o que precisar. Queremos ver você recomeçar, quer seja nos estudos ou no que mais você quiser fazer.
” Amélia se emocionou com as palavras dos pais; eles estavam certos. Talvez essa fosse de fato a chance que ela precisava para retomar sua vida e seus sonhos. Ela já havia sacrificado tanto por sua família e pelo relacionamento com Tiago, mas agora talvez fosse hora de cuidar de si mesma novamente.
“Obrigada, pai! Obrigada, mãe! ” Amélia disse, com lágrimas nos olhos.
“Dessa vez eu vou seguir os conselhos de vocês. ” Com o apoio dos pais e o desejo de reconstruir sua vida, Amélia sentiu um fio de esperança brotar novamente dentro dela. Mesmo com todas as dificuldades, ela sabia que podia recomeçar e o faria pelo bem de si mesma e de Artur.
Amélia voltou para a faculdade; faltava apenas um ano para se formar e, dessa vez, havia um objetivo ainda maior em sua mente: melhorar sua vida para poder ter seu filho de volta. Cada passo que dava era motivado por esse desejo, essa necessidade de retomar o controle de sua própria história e de proteger Artur. Ela estudava com determinação, aproveitando cada oportunidade para garantir seu futuro.
Durante esse período, conseguiu um estágio, o que significava mais responsabilidades e uma rotina ainda mais exaustiva. Mesmo assim, Amélia sempre fazia questão de ficar com Artur nos dias em que ele vinha. O tempo passou rapidamente; entre o estágio e os estudos, os dias pareciam se fundir em uma corrida contra o relógio.
Finalmente, o momento que ela tanto esperava chegou: Amélia se formou. Havia uma mistura de alívio e ansiedade ao pegar o diploma; o primeiro grande passo estava dado, mas agora restava encontrar um bom emprego, algo que lhe desse estabilidade financeira suficiente para buscar a guarda de Artur novamente. No entanto, algo em Artur não estava bem sempre que chegava o dia.
. . De voltar para a casa do pai, ele ficava triste.
Amélia percebia isso e seu coração se apertava a cada despedida. — Artur, por que você está tão triste? — Amélia perguntava, tentando sondar o filho com gentileza.
— Não é nada, mamãe — ele respondia, desviando o olhar, claramente desconfortável. Amélia sabia que ele estava escondendo algo, não insistia porque temia pressioná-lo demais, mas a preocupação crescia cada vez mais. Artur voltava diferente a cada visita, como se estivesse cada vez mais distante.
Naquela noite, tudo mudou. Era madrugada quando Amélia foi acordar. — Frac!
— as batidas eram persistentes, mas não altas o suficiente para acordar todos na casa; no entanto, algo sobre aquelas batidas fez o coração de Amélia acelerar. Ela se levantou rapidamente e logo ouviu o movimento dos pais no corredor; eles também tinham ouvido. — Quem será a essa hora?
— a mãe de Artur, ainda sonolenta, abriu devagar a porta, e o que viu a fez ofegar em surpresa. — Artur! — ela exclamou.
Lá estava Artur, parado na porta, com os olhos vermelhos e as roupas desarrumadas. — Vovô! — ele disse com a voz baixa.
Amélia correu até a porta e abraçou o filho imediatamente, o alívio misturado com medo. — Artur, o que você está fazendo aqui? Você chegou?
— Eu vim a pé, mamãe — ele disse com uma tranquilidade que a apavorou. O coração de Amélia disparou. Como ele havia saído sozinho no meio da noite?
Ela segurou os ombros de Artur e olhou fundo em seus olhos. — Onde está seu pai, Artur? O que aconteceu?
Arthur olhou para o chão, hesitando antes de responder. — Ele estava bebendo com a nova namorada dele. O som estava muito alto.
Eu pedi para ele abaixar, mas ele ficou bravo e gritou comigo. Eu fui para o meu quarto e chorei. Depois, quando não consegui mais dormir, eu saí e vim para cá.
Amélia sentiu um frio percorrer sua espinha; seu filho de apenas 4 anos havia saído sozinho pela madrugada, sem que ninguém notasse. O caminho até a casa dos pais dela não era muito longo, mas para uma criança sozinha no escuro era extremamente perigoso. Milhares de cenários horríveis passaram pela cabeça de Amélia, cada um pior que o outro.
— Você podia ter se machucado, Artur! Nunca mais faça isso, está bem? — Amélia disse, segurando as lágrimas, abraçando o filho com força.
— Desculpa, mamãe, eu só queria dormir na sua casa — Artur murmurou contra o peito dela. Amélia respirou fundo, tentando acalmar o pânico que sentia. Ela o segurou por mais um momento antes de soltar.
— Está tudo bem agora, meu amor. Vamos entrar, está frio aqui fora. Com Artur seguro ao seu lado, Amélia decidiu o que precisava ser feito.
Assim que colocou o filho para dormir, ela pegou o telefone e ligou para Thiago, seu corpo ainda tremendo de medo e raiva. — Thiago, você perdeu completamente a noção do que está fazendo — Amélia disse assim que ele atendeu, sem dar chance para ele falar. — Artur saiu de casa sozinho no meio da madrugada.
Ele veio a pé até aqui! Como você pode deixar isso acontecer? Do outro lado da linha, Thiago parecia atordoado.
— O quê? Ele saiu de casa? Como isso aconteceu?
— Você sabe muito bem como aconteceu, Thiago! — ela retrucou, a voz firme. — Você estava bebendo, não prestou atenção no seu próprio filho e ele saiu sem que você percebesse!
Isso é inaceitável! Thiago ficou em silêncio por alguns segundos, claramente tentando processar o que ela estava dizendo. — Olha, eu não sabia!
Amélia, não foi por mal. Isso não vai acontecer de novo! — Não vai mesmo!
— Amélia respondeu, a raiva crescendo. — Porque ele não vai mais ficar com você! Não vou deixar você colocar nosso filho em risco assim!
— Você não pode me impedir de ver o Artur! — Thiago disse, a voz ficando mais firme. — Você está exagerando, como sempre.
Eu vou buscá-lo amanhã de manhã. — Pode tentar! — Amélia respondeu com frieza.
— Mas eu vou entrar na justiça novamente. Desta vez, não vou deixar isso passar. Thiago bufou, irritado.
— Veremos sobre isso, Amélia. A ligação foi encerrada e Amélia ficou olhando para o telefone, sentindo uma mistura de medo e determinação. Ela sabia que Thiago não desistiria facilmente, mas agora era diferente; ele havia colocado a vida de Artur em risco e Amélia não deixaria isso acontecer novamente.
No dia seguinte, como prometido, Thiago apareceu para buscar Artur, mas Amélia o impediu de entrar. — Você não vai levar meu filho! — ela disse com firmeza.
— Eu já disse o que vai acontecer. — Você acha que vai ganhar essa briga? — Thiago retrucou, furioso.
— Você não tem condições de manter Artur! Eu sou o pai dele, tenho direitos! — Não, depois do que aconteceu ontem à noite!
Eu farei o que for preciso para protegê-lo de você! — Thiago a encarou por alguns segundos, os punhos cerrados de raiva, antes de dar um passo para trás. — Você vai se arrepender disso, Amélia!
Mas ela não vacilou. — Pode ser, mas nunca vou me arrepender de proteger meu filho! Thiago se afastou, ainda furioso, e entrou no carro.
Enquanto ele partia, Amélia sentiu um peso se levantar de seus ombros. A batalha estava apenas começando, mas dessa vez ela estava disposta a lutar com todas as forças. Thiago, no entanto, conhecia a rotina de Amélia e os pais.
Ele aproveitou um dia em que a mãe de Amélia estaria sozinha com Artur e foi pegá-lo. A frágil mulher não conseguiu conter o homem, e ele levou Artur novamente. Amélia ficou desesperada.
Ela tentou contatar as autoridades, mas Thiago tinha a guarda legal do menino. Amélia não tinha outra opção a não ser juntar provas e mudar sua vida. Determinada, ela começou a procurar emprego e foi chamada para uma entrevista em uma grande empresa de arquitetura.
A pressão de conseguir uma colocação era imensa. Amélia precisava se reerguer, não apenas para si, mas para ter condições de lutar pela guarda de Artur. Na entrevista, sentiu o peso da responsabilidade em cada pergunta que respondia.
Suas mãos levemente tremiam. Enquanto folheava seus trabalhos anteriores, apresentando-os ao diretor de projetos da empresa, ele parecia impressionado, mas ela não queria criar expectativas. No entanto, em pouco tempo, Amélia se tornou uma das mais notáveis funcionárias da empresa.
"Você tem um talento nato, Amélia. Poucas pessoas têm a sua visão de design e praticidade", seu chefe comentou em uma reunião de avaliação. Agradeceu, mas sabia que seu sucesso não vinha apenas do talento; ela estava movida por algo maior: a esperança de reconquistar Artur com um bom emprego, uma reputação sólida e provas de que Thiago não cuidava bem do filho.
Amélia entrou na justiça novamente; dessa vez, ela estava mais preparada. No tribunal, ela se manteve firme. O juiz ouviu cada argumento, e Amélia apresentou as evidências de negligência que havia reunido.
O coração dela batia acelerado enquanto o julgamento se desenrolava. Ela sabia que estava fazendo o que era certo, mas a incerteza ainda a consumia. Após semanas de ansiedade, o juiz finalmente deu o veredito: a guarda de Artur foi devolvida a Amélia.
As provas eram inquestionáveis, e agora ela tinha mais do que condições de cuidar de seu filho. O alívio que ela sentiu naquele momento foi indescritível. Quando saiu do tribunal com Artur ao seu lado, ela o abraçou com tanta força que sentiu que nunca mais o soltaria.
"Eu te amo tanto, meu filho," sussurrou, enquanto Artur retribuía o abraço. Agora, com Artur de volta, Amélia podia finalmente respirar aliviada. Ela sabia que Thiago ainda tinha direito a visitar o filho e levá-lo nos finais de semana, mas algo estranho começou a acontecer: Thiago foi se afastando cada vez mais.
Após um tempo, ele não apareceu nos finais de semana até que, eventualmente, parou de procurá-lo. Os anos passaram, e Amélia se estabeleceu como uma arquiteta bem-sucedida. Ela conseguiu prover uma vida confortável para si e para Artur, que crescia saudável e feliz ao seu lado.
O trabalho ia bem, e ela estava construindo uma carreira sólida. Em meio a uma nova reunião de negócios, o projeto era grande: reformar e ampliar uma clínica. Amélia, como sempre, chegou preparada.
No entanto, ao entrar na sala de reuniões, deparou-se com uma surpresa desconcertante: Thiago estava lá, aguardando com uma expressão que misturava surpresa e incômodo. "Tiago," ela disse, mantendo sua postura firme, sem demonstrar abalo, "Então você está à frente desse projeto? " Ele parecia hesitante.
"Sim, é um projeto pequeno, mas importante para mim. " Amélia respirou fundo, mantendo o profissionalismo. "Estou aqui como arquiteta hoje, Thiago.
Vamos discutir o projeto. " Thiago assentiu, claramente desconcertado com a situação. Ele começou a explicar suas ideias para a clínica, enquanto Amélia ouvia atentamente, tomando notas à medida que ele falava.
Amélia não pôde deixar de notar o quão diferente ele parecia; havia algo nele, uma tensão que não existia antes. Ela não conseguia evitar se perguntar o que havia acontecido desde que ele se afastou de Artur. Quando Thiago terminou de apresentar suas ideias, Amélia passou o orçamento estimado.
Thiago arregalou os olhos ao ver os números. "Isso é muito mais do que eu esperava," ele disse, visivelmente desconfortável. "Vou precisar fazer algumas ligações para ver o que consigo ajustar.
" "Claro, fique à vontade," Amélia respondeu, sem perder o foco. Enquanto Thiago se afastava para fazer as ligações, Amélia caminhou pelo local onde a nova clínica seria construída. Ela observava as paredes, as estruturas, calculando mentalmente o que poderia ser feito para melhorar o espaço.
Mas, mesmo enquanto avaliava o projeto, sua mente voltava a Thiago. O que havia acontecido com ele? A clínica era muito menor do que a que ele tinha antes, e ele estava claramente com dificuldades financeiras.
Além disso, onde estava a secretária com quem ele tinha? A ausência dela era gritante. Mas, como havia dito antes, Amélia estava ali como arquiteta, não como ex-esposa, mantendo o profissionalismo acima de tudo.
Ela se concentrou no trabalho, determinada a seguir em frente, não importando os fantasmas do passado que surgissem em seu caminho. Enquanto Amélia estava na parte de cima do local, viu um carro chegar. Observando discretamente pela janela, reconheceu o pai de Thiago, que saiu do carro com passos pesados e uma expressão visivelmente irritada.
Ela sabia que algo estava prestes a acontecer, mas não imaginava a intensidade do que estava por vir. Lá de cima, ouviu toda a conversa. "Tiago, isso não pode continuar assim," o pai de Tiago começou, a voz carregada de frustração.
"Eu estou desesperado. Não sei mais como vou pagar os empréstimos que fiz para você. Já estou afundado em dívidas por causa da primeira clínica que você deixou falir, e agora essa.
" Amélia congelou no lugar, sem querer ser vista, mas incapaz de ignorar a discussão. Ela nunca soubera da gravidade da situação financeira de Thiago; apenas desconfiava que as coisas não iam bem. Agora, tudo fazia sentido.
"Tiago," do lado de fora, parecia cansado. "Pai, dessa vez vai dar certo. Eu sei que a última clínica foi um desastre, mas agora estou focado.
Já terminei com a secretária; ela não vai mais gastar o meu dinheiro. " "Isso é o mínimo, Tiago. Aquela mulher só te sugou, não ajudava em nada, só te arrastava ainda mais para baixo," o pai replicou, sem esconder o desprezo pela ex-secretária do filho.
"Mas não é só isso, tem algo mais grave. " Amélia, ainda observando de cima, viu Thiago franzir o senho, confuso. "O que você quer dizer com algo mais grave?
" Thiago perguntou, já preocupado. O pai respirou fundo, parecendo cansado de carregar aquele fardo. "Entraram na justiça, Tiago.
Se as coisas não se resolverem logo, nós podemos perder a casa para pagar esse maldito empréstimo. " Thiago ficou paralisado por um momento, claramente abalado. Ele não sabia o que responder.
Amélia, ainda escutando tudo, sentiu uma estranha mistura de pena e distanciamento. Mesmo com o ressentimento pelo que Thiago fez no passado, era doloroso vê-lo nessa situação, mas ela sabia que ele havia tomado suas próprias decisões. De certa forma, estava colhendo as consequências.
O pai de Thiago saiu logo depois, com um olhar derrotado, deixando o filho sozinho no terreno. Após alguns minutos de silêncio, Thiago subiu até onde Amélia estava trabalhando. "Amélia," ele disse, sorrindo como se nada tivesse acontecido.
Era um sorriso forçado, o que a fez perceber que ele estava tentando manter as aparências. "Vou falar com meu sócio sobre o orçamento que você me passou. " Amélia soltou uma risada leve, sabendo que ele estava mentindo; não havia sócios e ela sabia bem disso após a conversa que ouvira.
"Claro, Thiago, fique à vontade," ela respondeu, sem confrontá-lo diretamente. Ao final da conversa, Amélia desceu para o estacionamento, caminhando em direção ao seu carro, uma BMW prata brilhante estacionada logo na frente do terreno. Ela destravou as portas e estava prestes a entrar quando ouviu a voz de Thiago novamente.
"Ei! Ei! Esse é o carro do seu chefe?
" ele perguntou, com uma expressão surpresa. Amélia se virou, já esperando a reação dele. "Não é meu," respondeu com um sorriso sereno.
A expressão de surpresa no rosto de Thiago era evidente. "Uau! Sua empresa paga bem, hein?
" ele disse, tentando disfarçar o choque. "Paga sim," Amélia disse tranquilamente. "Ainda mais quando você é diretora de uma multinacional.
" A boca de Thiago caiu; o choque agora era impossível de esconder. Ele piscou algumas vezes, como se tentasse processar a informação. "Você é diretora?
Então por que está aqui fazendo um trabalho comum? " Amélia sorriu, já acostumada com essa pergunta. "Eu gosto de trabalhar," disse simplesmente.
"Além disso, fazendo trabalhos assim, eu posso guiar os novos arquitetos. É uma forma de me manter conectada com o que amo fazer. " Thiago não conseguia esconder a incredulidade.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, olhando para o chão como se tentasse encontrar algo para dizer. Quando finalmente falou, havia um sorriso amarelo em seus lábios. "Você não quer sair para jantar algum dia?
Eu poderia fazer minha macarronada especial. Lembro que você adorava. " Amélia não pôde conter uma risada, mas foi uma risada sem alegria.
Ela conhecia muito bem Thiago e sabia o que estava por trás daquele convite; ele não estava interessado em reatar nenhum laço pessoal, era evidente que ele via nela uma oportunidade. "De jeito nenhum," Tiago respondeu, sem perder a calma. "Adeus.
" Com essas palavras, ela entrou no carro e deu partida. Thiago ficou ali parado, observando-a se afastar com uma expressão confusa, sem saber exatamente o que fazer. Amélia, por sua vez, sentia-se aliviada; era como se aquele encontro, embora inesperado e desconfortável, tivesse fechado um ciclo que ela nem sabia que precisava.
[Música] Encerrar.