Como uma nação que passou boa parte de sua história com guerras violentas pelo poder se tornou uma das maiores potências do nosso tempo? E como um povo que passou séculos tendo pouco contato com nações ocidentais, conseguiu se tornar tão influente no mundo de hoje? Olá, meus queridos amigos, tudo bem com vocês? Eu sou Felipe Castanhari e hoje estou aqui para contar toda a história do Japão! Sim, teremos samurais, imperadores, shoguns, ninjas... Tudo isso faz parte da riquíssima história do Japão. Mas uma pergunta fica acima de tudo isso: Como o povo japonês construiu a sua identidade?
Aí não adianta apenas olhar para samurais ou para a Segunda Guerra. É preciso observar a história inteira do Japão para entender como as tribos isoladas que começaram a povoar essas ilhas milhares de anos atrás se transformaram no povo que conhecemos hoje. E antes de começar essa história, eu gostaria de pedir para você se inscrever aqui no canal, clicando no botãode se inscrever que está aqui. É só clicar, é muito fácil! E também queria pedir o seu 'like' porque às vezes eu peço lá no final e vocês esquecem, então já deixe seu like aqui, que me
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impossível contar a história do povo japonês sem pensar na geografia do Japão. Uma terra que milhões de anos atrás pertencia à Ásia continental. Isso mesmo, o Japão nem sempre foi uma ilha. Essa região do planeta fica perto do ponto de contato de quatro placas tectônicas, que são enormes blocos de rocha que sustentam os continentes e oceanos. Essas placas se movem modificando a superfície do planeta. E foi isso que rolou na Ásia. Um processo que durou milhões de anos fez a região do Japão ficar isolada pelo mar. O resultado foi um arquipélago com mais de seis
mil ilhas, sendo que as maiores são Hokkaido, Honshu, Shikoku e que Kyushu. Além de contar com as que formam a região de Okinawa. Essas ilhas ficam numa região conhecida como o Círculo de Fogo do Pacífico, com muitos terremotos e vulcões. Um desses vulcões é o famoso Monte Fuji, o ponto mais alto do Japão, com mais de 3700 metros de altitude. A história do Japão é dividida em eras e períodos e começa quando os primeiros humanos pisaram nessas ilhas. Na verdade, não se sabe exatamente quando os primeiros humanos chegaram ao Japão, mas indícios arqueológicos como machados
de pedras polidas, mostram que cerca de trinta mil anos atrás já existiam pessoas por ali, vivendo principalmente da coleta de frutas e, claro, da caça e pesca. Esse povo começou a crescer e progredir por volta de 13.000 anos A.C. As aldeias já formavam uma espécie de cultura. Por volta de 5000 A.C., muitas aldeias tinham se unido com outras formando agrupamentos bem maiores. Algumas dessas aldeias ficavam nas montanhas, vivendo basicamente de caça e outras no litoral, com a galera comendo mariscos que encontravam nas praias. Agora pense em tudo o que você sabe sobre povos antigos. Depois
de conseguir casa e comida, qual é a primeira coisa que esses caras pensavam? Religião, é claro. Aliás, foi nessa época que surgiram pequenas estatuetas de barro, chamadas Dogu. Já foram encontrados milhares de Dogus no Japão, mas ainda não sabemos ao certo se eles representavam divindades ou pessoas reais. Aliás, uma curiosidade muito legal para quem gosta do jogo 'Zelda Breath of the Wild', O diretor de arte disse que esse período da história do Japão serviu de inspiração para o sheikah slate, as shrines e todos os objetos e estruturas do jogo, como os terríveis e implacáveis guardiões.
Passei muito mal nos Guardiões... Porém tudo começa a mudar quando surgem novas aldeias nas partes oeste das ilhas. E se você olhasse mais de perto, veria que essas aldeias eram bem parecidas com as que existiam na Coreia. Sim, novas pessoas chegaram ao Japão trazendo tecnologias diferentes, como o manuseio de metais e uma novidade muito importante: o cultivo do arroz. Foi nessa época que começou efetivamente a agricultura japonesa e a população do arquipélago aumentou muito, chegando a mais de 1 milhão de habitantes. Só que, como algumas pessoas possuíam terras e grãos em maior quantidade que outras
surgiram classes dominantes nas aldeias. Ou seja, começou a rolar uma divisão social. E como essas aldeias guerreavam e faziam alianças umas com as outras o tempo todo, por volta do ano, 200, o Japão não era mais formado por vilas, mas por dezenas de reinos diferentes. Aí começou algo fundamental neste vídeo: a disputa pelo poder. Boa parte da história japonesa é quase um Game of Thrones, com guerras, alianças, traições e todo mundo querendo mandar no arquipélago. Isso começa já nesse período, com as guerras mais antigas que se tem notícia no Japão. O grande vencedor destes primeiros
conflitos entre reinos diferentes teria sido Jimmu. Ao conquistar a vitória nessas guerras, ele se tornou o primeiro imperador do Japão, assumindo o trono em 11 de fevereiro de 660 A.C. Justamente por isso, o dia 11 de fevereiro é até hoje celebrado como Dia da Fundação Nacional do Japão. Porém, a história de Jimmu permanece cercada de lendas. A própria mitologia japonesa aponta que ele seria descendente direto de ninguém menos que Amaterasu, a deusa do Sol. Na verdade, os arqueólogos nunca encontraram provas de que algum dos 28 primeiros imperadores tinha sequer existido de verdade. Isso só muda
no 29o imperador chamado Kimmei, que assumiu o trono no ano de 539. E aqui não estamos falando só de religião, mas principalmente de política. Se os imperadores são descendentes dos deuses, é sinal de que eles também são divindades. É um negócio muito parecido com os faraós do Egito. Se o líder de um reino é um Deus, fica muito mais fácil manter o povo sob controle, fazendo tudo o que esse cara quer. É nesse período que alguns especialistas dizem ter surgido o Império Yamato. O que se acredita é que nos séculos IV e V, os Yamato
eram apenas o grupo mais importante de uma enorme aliança de clãs. Mas o tempo passou e no século VI, esse clã Yamato já mandava em tudo. Estabelecendo a única dinastia imperial que reinou no Japão. Lembra que a dinastia é uma série de reis e rainhas de uma mesma família que se sucedem no governo? Então, todos os outros imperadores que vamos ver daqui para frente descendem do clã Yamato. Essa é a monarquia com a linhagem mais antiga que existe no mundo. Ah, uma coisa importante é que a palavra 'clã', vai começar a aparecer muito nesse video.
Mas como surgiram esses clãs? Eles eram formados por famílias diferentes, que se uniram normalmente por casamentos. Todo clã tinha uma família com mais poder e o patriarca dessa família era o líder do clã inteiro. Por exemplo, imagine que os membros de uma família importante de guerreiros se casem com pessoas de famílias de ferreiros e arqueiros que têm menos poder. Todas essas famílias vão formar um clã e o patriarca da família mais poderosa desse grupo é quem determina como o clã inteiro vai agir a respeito de qualquer assunto. Nessa época rolou a disseminação do xintoísmo. Na
verdade, o xintoísmo só passou a ser visto como uma religião mesmo no final do século XVIII, porque ele surgiu com práticas cerimoniais que mudavam de um lugar para o outro. Mas o importante é saber que essas cerimônias, que se desenvolveram a partir de rituais feitos na antiguidade japonesa, giravam ao redor da adoração dos Kami, entidades sobrenaturais que residem em todos os lugares. Nessa época, o Japão tinha contato basicamente com outros dois territórios: as dinastias chinesas e os reinos coreanos. Vamos falar primeiro da Coreia. Nessa época, ela era dividida em três grandes reinos e uma confederação
de reinos menores chamada Gaya, com todos disputando o poder. Os japoneses tinham bons relacionamentos com um desses reino chamados Paekche. Esse contato fez o budismo aparecer no Japão no meio do século VI. O budismo é uma religião que nasceu na Índia e se espalhou para o sul da Ásia e o Extremo Oriente. Claro que é muito difícil explicar o budismo de uma forma rápida, mas ele prega que o caminho para superar o sofrimento é derrotando os desejos e vícios, compreendendo o caminho de Buda, com a pessoa buscando a paz interior e aprimorando suas virtudes. O
budismo também contribuiu bastante para a criação dos elementos mais ricos da cultura japonesa: o folclore. Na verdade, histórias sobre deuses e demônios, animais com poderes sobrenaturais e até mesmo dragões já existiam no Japão desde os primeiros dias do Xintoísmo, formando um dos folclores mais ricos do mundo. Mas o budismo trouxe novos elementos para isso. Um bom exemplo está na figura do macaco, que marca presença em várias lendas japonesas. As primeiras histórias japonesas sobre macacos foram inspiradas em poesias indianas e em antigos textos chineses. Porém, com o passar do tempo, elas foram se modificando para refletir
os sonhos, medos e aspirações do povo japonês. É impossível entender o povo japonês sem olhar para seu folclore. Ao longo dos séculos, essas lendas e mitos fizeram mais do que encantar pessoas ou assustar crianças. Elas ajudaram a construir a identidade do povo japonês, moldando sua forma de pensar o mundo. Outra doutrina que começou a aparecer no Japão nessa época foi o confucionismo, que surgiu na China. E a importância do confucionismo é enorme, porque ele prega que o caminho para a ordem é a harmonia social com respeito à hierarquia e burocracia. E passa a ter muita
influência nas leis criadas no Japão a partir daí. No começo rolou uma certa resistência de alguns clãs para aceitar o budismo, mas ele foi ganhando espaço, especialmente por motivos políticos. Primeiro, porque a corte imperial se ligou que as práticas budistas fariam o Japão ser visto pelos seus vizinhos como um império mais civilizado. Segundo, o budismo aumentaria o próprio poder do governo. Se todos os japoneses começassem a praticar o budismo, existiria uma filosofia unindo o povo. E se o governo fosse associado a essa filosofia sua influência ficaria maior. Sim, a corte imperial era muito espertinha. Aí
precisamos falar do clã Soga, que tinha muita influência com a família imperial. Usando o budismo, eles do clã Soga aumentaram ainda mais o seu poder. Chegou uma hora que quem mandava de verdade no Japão não era mais o Imperador, e sim o clã Soga e um príncipe chamado Shotoku, que era aliado dos caras. Aliás, dizem que esse Príncipe Shotoku tem a honra de ter batizado o Japão. Na história antiga, o nome mais conhecido do Japão era seu nome chinês: 'Wa', que significa gente pequena. Isso mudou apenas quando o Príncipe Shotoku mandou uma carta para o
imperador chinês se referindo ao Japão como 'A terra onde o Sol se levanta', e falando da China como 'A terra onde o Sol se põe'. Como o Sol nasce no leste e o Japão está a leste da China, para os chineses, o sol sempre nasce na direção de onde está o Japão. Da mesma forma, para quem está no Japão, o sol se põe a oeste, ou seja, na direção da China. Assim, o Japão ganhou o nome de 'Nippon', ou 'A terra do sol nascente'. Essa é uma das versões mais conhecidas da possível origem desse termo.
Já o nome ocidental 'Japão' foi um pouco diferente. Os povos da Indonésia e da Malásia chamavam o Japão de palavras como 'Jipang' ou 'Jepun', que eles tinham pegado emprestado de alguns dialetos antigos chineses. Aí esses nomes foram adotados pelos portugueses e mudaram com o tempo. Mais para o meio do vídeo você vai entender onde os portugueses entram no Japão. Mas voltando ao nosso amigo Príncipe Shotoku, ele foi fundamental para a disseminação do budismo no Japão, mandando construir mais de 400 templos no arquipélago. Mas quando ele morre, no ano de 622, começam a acontecer diversas conspirações
para tentar acabar com a influência do clã Soga. Numa dessas tramóias, o líder do clã suga é assassinado. Com isso, quem passa a dar as cartas é o Clã Fujiwara, que ajuda a criar diversas reformas nas leis japonesas. Essas mudanças foram reunidas numa série de leis chamadas de Reforma Taika. E realmente muita coisa mudou. Começando pelas terras cultiváveis, que passaram a pertencer ao governo, que podia distribuí las ao povo. O mesmo acontecia com as armas que ficavam armazenadas em depósitos do governo. E você deve estar achando estranho, porque até agora eu falei muito pouco sobre
a capital japonesa, né? O lance é que a capital mudava de lugar o tempo inteiro, porque eles achavam que quando um imperador morria ali, aquele local ficava impuro. Isso só acabou com a imperatriz Gemmei, que no ano de 710 estabeleceu a cidade de Heijo como capital fixa. Essa cidade ainda existe e é conhecida como Nara. Por ser a capital, Nara se tornou um verdadeiro polo comercial e cultural. Mas fora da cidade, a maior parte do povo japonês mal tinha o que comer. Para piorar, entre os anos de 735 e 737, uma epidemia de varíola se
espalhou pelo país, matando cerca de 30% da população japonesa. Sim, é isso mesmo. Um terço da população japonesa morreu em dois anos. Mas Nara não continuou como capital do império durante muito tempo e no ano de 794 o governo se estabeleceu na cidade de Heian-Kyo, que a partir daí seria a capital japonesa por mais de mil anos. Sim. Heian-Kyo é o nome antigo da famosa cidade de Quioto. Este é um bom momento para falarmos da arquitetura japonesa, que também é uma herança cultural da China. Porém, essa origem chinesa não impediu que a arquitetura japonesa ganhasse
personalidade própria. Um dos motivos disso é que uma das grandes preocupações dos japoneses era planejar cuidadosamente como cada construção poderia se integrar com harmonia ao ambiente onde era construída. Isso valia especialmente para os templos. Além disso, a própria geografia ajudou a moldar a arquitetura japonesa. A maior parte dos edifícios era de madeira e as paredes internas das casas eram de papel de arroz. Isso não se deve apenas ao fato de que o Japão tinha árvores e arroz em abundância, mas também pelo fato de que esses materiais leves eram mais adequados a uma terra que sempre
sofreu com terremotos. Ao olhar para um prédio japonês, saiba que você não está enxergando apenas uma construção, e sim um dos traços mais marcantes da história japonesa: a capacidade de aprender com outras civilizações e transformar este conhecimento em algo único e tipicamente japonês. É muito importante entender a questão estética nessa época, porque isso fazia a cabeça dos nobres, já que eles associavam a beleza e elegância ao fato da pessoa ter ou não valor. Então, homens e mulheres da côrte se enfeitavam o tempo inteiro e aprendiam regras de etiqueta para terem cada vez mais valor naquela
sociedade. O lance é que os caras pensavam nisso o dia inteiro, então ficaram cada vez mais desconectados do resto do país. Enquanto isso rolava, a galera que não era da côrte como eu e você passava o dia tentando arrumar um punhado de arroz para não morrer de fome. Isso ficava cada vez mais difícil. Lembra que as terras férteis japonesas eram do governo? Isso mudou no século X e as terras usadas para plantar arroz passaram a ser particulares. E aí é aquela história de sempre que acontece no mundo inteiro. Os clãs mais poderosos tinham cada vez
mais terras e quem não tinha nada ficou com menos ainda. Agora, muitas vezes, um clã rico era dono de muitas terras, mas não tinha controle nenhum sobre essas propriedades que ficavam longe demais da sua base de poder. A saída, então, era deixar essas terras nas mãos de nobres menores que administravam o lugar, que eram chamados de Daimyos. Esses nobres que administravam as províncias dos clãs foram se tornando mais e mais poderosos. E aí, com o país todo fragmentado, começou a surgir uma coisa que vocês estão esperando desde o começo do vídeo, que são uns guerreiros
com umas espadas diferentes. Esses caras começaram a surgir da seguinte forma: uma das obrigações daqueles nobres menores que cuidavam das terras, era defender a propriedade. Então eles recrutavam guerreiros ali mesmo, na província que administravam. Com isso, o Japão começou a ter exércitos regionais que iam crescendo conforme alguns desses nobres faziam alianças com outros. Enquanto isso, as disputas pelo poder na côrte aumentavam a cada dia, especialmente entre três famílias: os Fujiwara, os Taira e os Minamoto. Aí em 1153, essa briga deles virou guerra entre esses três clãs. De um lado os Fujiwara, do outro lado, os
Taira e os Minamoto. E o resultado é que os Fujiwara que mandavam no país desde o século VII foram totalmente destruídos. Agora olha a bagunça... Os Taira e os Minamoto não eram exatamente amigos. E três anos depois, um entrou em guerra contra o outro, com a vitória dos Taira. Mas os Taira só pensavam em poder. Não estavam absolutamente nem aí para o Japão. E galera, os Minamoto não tinham acabado, não! Eles estavam quietos no canto deles, recuperando as forças. Os Minamoto atacaram os Taira de surpresa, assumindo o controle da corte. Eles avançam em direção ao
inimigo e testam as forças do Grande Exército dos Taira. E o Japão nunca mais foi o mesmo. A partir daí, os militares passaram a ocupar cargos de destaque no governo. Sim, eu estou falando dos membros daqueles antigos exércitos regionais que se tornaram uma elite militar japonesa com mais poder que a aristocracia. Eles eram conhecidos como Bushi, que é a palavra para guerreiro, mas também são conhecidos por outro nome: Samurais. A partir do século XII, o arquipélago japonês ganhou uma das suas figuras mais famosas, Os samurais. Esses caras não eram simples guerreiros ou soldados, mas sim
uma elite militar. E a questão era hereditária, porque um samurai obrigatoriamente tinha que ser filho de um samurai. Caso você tenha se perguntado um dia, a palavra 'samurai' pode ser traduzida por 'aquele que serve'. E ela descreve muito bem esses guerreiros que agiam sempre pautados pela lealdade ao seu mestre, Normalmente um proprietário de terras. Agora é claro que essa lealdade dos samurais não era definitiva. Existem muitos casos de samurais que passavam a seguir outro Daimyo, especialmente quando começaram a identificar fraqueza no mestre anterior. Um líder sem carisma ou coragem dificilmente conseguia manter os samurais ao
seu lado por muito tempo. Existiram também os famosos ronins, que eram o samurai sem mestre. Os ronins vagavam pelo Japão, normalmente aceitando trabalhos em troca de comida ou hospedagem e eram muito temidos porque como eles não tinham mestre, não ficavam mais presos ao código de honra de samurais. Aliás, uma curiosidade o nome Ronin significa 'homem onda', porque ele se refere a um samurai que não tem destino como as ondas do mar. Esse não ter destino, no entanto, é por ele vagar pelo Japão, porque alguns ficavam no mesmo território, mas sim por eles não terem propósito
fixo, que é a lealdade ao mestre. Os samurais eram guerreiros responsáveis pela proteção de terras e, muitas vezes, do próprio Japão. E mesmo com essa importante função ainda se dedicavam à poesia, artes e filosofia. E era muito fácil reconhecer um samurai, porque eles estavam sempre com duas espadas penduradas no seu Obi, que é o cinturão que prende o kimono na altura da cintura. Mas eu ainda vou falar mais desses caras por aqui. Até porque chance para isso não vai faltar, já que os Samurais vão começar a andar pelo Japão inteiro a partir de agora. Sempre
que eu falar de militares ou soldados, eu estou falando de samurais que se tornaram uma das figuras mais marcantes do Japão feudal. Como assim, Japão feudal? O feudalismo não foi um lance que rolou na Europa, lá na Idade Média? Exatamente. Parabéns por prestar atenção nas aulas de história. O feudalismo foi um modelo político e econômico em que um senhor feudal que tinha grande porções de terra, cedia parte dessas terras para trabalhadores em troca da lealdade dos caras. Esse modelo ou variações disso rolaram na Europa durante boa parte da Idade Média, especialmente entre os séculos XI
e XIII. E no Japão dessa época a coisa foi parecida, especialmente na questão de distribuição de terras, mas diferente da Europa, que era formada por vários reinos diferentes, cada um com o seu senhor, no Japão, esse esquema era todo coordenado pelo governo central e nesse caso estamos falando do famoso Shogun. A prova de que o poder no Japão estava nas mãos dos samurais aconteceu em 1192, quando o imperador nomeou o chefe do clã Miinamoto o Yoritomo, Minamoto, como Shogun, ou seja, o chefe de tudo. Esse título tinha sido criado com o nome de Seii-Taishogun, que
significa 'O Grande General Conquistador de Bárbaros'. Já tinha sido usado por alguns militares, mas ele era apenas isso mesmo, um título militar. A partir daqui, a palavra Shogun virou sinônimo de poder político, porque quem ocupava esse cargo era literalmente a pessoa que mandaria no Japão. E a relação entre o Shogun e o Imperador é literalmente uma via de mão dupla. Por um lado, é o Shogun que manda no Japão. Por outro lado, uma pessoa só pode ter esse cargo se for nomeada pelo Imperador. Agora, o Minamoto queria distância de todas aquelas intrigas da corte imperial,
Então passou a governar da cidade de Kamakura. E essa escolha não foi por acaso. A cidade de Kamakura, que é a primeira cidade samurai da história, era cercada por montanhas que funcionavam como muralhas naturais e com uma saída para o mar, que o shogun deixava protegida com navios de guerra. Então, ela era praticamente impenetrável. Se você fosse o Shogun, om certeza iria querer morar ali. Mas a coisa começou a complicar, porque esse primeiro Shogun foi alvo de conspirações e algumas delas colocaram ele contra membros da sua própria família. Aí, quando ele morreu, em 1199, não
tinha sobrado ninguém na sua família com poder suficiente para herdar o cargo. Sabe qual a saída que encontraram? Criaram um regente, ou seja, um cara que ficava nos bastidores determinando o que o Shogun tinha que fazer. O Imperador não mandava nada, porque quem mandava era o Shogun. Mas o Shogun não mandava em nada porque quem mandava era o regente. Que confusão! Só que aí aconteceu algo que ninguém esperava. Todos os samurais tiveram que pegar em armas, não por causa de mais uma guerra civil, e sim porque o Japão foi invadido. Vamos olhar um pouco para
a Ásia. Enquanto o Japão passava por todos aqueles conflitos que deram origem ao xogunato, Um cara chamado Temujin começou a unir as tribos mongóis e criou um dos maiores impérios de todos os tempos. Sim, esse cara é o famoso Gengis Khan. Depois que ele morreu, um de seus filhos e os netos do Gengis Khan passaram a comandar os domínios conquistados pelo império. Um desses netos se chamava Kublai Khan, que conquistou a Coreia, a China e decidiu que a galera do Japão deveria começar a pagar um tributo para ele. Como o governo japonês mandou avisar que
não ia pagar nada o Khan decidiu mostrar quem é que mandava ali. Por isso, em 1274, barcos transportando milhares de soldados mongóis surgiram no litoral da ilha de Tsushima. Essa é a história do jogo Ghost of Tsushima, do Playstation. Se você tem um PlayStation, cara, jogue esse jogo que ele é fantástico! Tsushima foi conquistada em poucos dias. Primeiro, porque o exército mongol era gigante. Segundo, os japoneses foram surpreendidos com a forma com que os mongóis lutavam usando escudos e bombas feitas com uma estranha substância negra chamada pólvora. Outra coisa que atrapalhou demais os japoneses era,
acredite se quiser, o barulho. Lembra da Copa do Mundo da África, que ninguém conseguia jogar direito por causa do barulho das vuvuzelas? Era a mesma coisa. Os mongóis usavam cornetas, tambores, gongos. Era tanto barulho... que os samurais e seus cavalos ficavam desorientados. Depois disso, os mongóis conquistaram a ilha de Ike e desembarcaram na ilha de Kyushu. Nessa batalha, as coisas já estavam mais equilibradas, com 3 mil samurais defendendo a ilha. No final, o conflito não teve vencedores e à noite os mongóis recuaram para os barcos. E aí durante a noite aconteceu algo que ninguém esperava.
Um tufão violento surgiu do nada e destroçou os barcos mongóis. Milhares de invasores se afogaram, acabando com os planos do Khan. O Khan não ficou nada feliz com isso, mas sabia que o Japão teve sorte, sendo salvo pela força da natureza. Então, ele começou a preparar uma nova invasão, que rolou em 1281. Galera, foi quase um repeteco da primeira vez, mas numa escala maior e com mais conflitos, os mongóis "tacaram o terror" em Tsushima e Ike e avançaram pelo arquipélago, chegando novamente até a baía de Hakata, na ilha de Kyushu. Mas dessa vez os japoneses
estavam mais preparados e tinham até construído um muro enorme de pedra para defender o lugar. Então, os mongóis tiveram que recuar. Mas nada disso mudava o fato de que a vitória dos invasores parecia ser questão de tempo, porque seus exércitos eram enormes e muito bem equipados. E aí, sabe o que rolou? É, eu sei, vocês vão achar que eu estou de sacanagem. Eu também pensaria, isso. Sim, outro tufão. A natureza ajudou mais uma vez e destruiu os barcos mongóis de novo. Olha aí a prova definitiva de que os air benders existem. Os generais invasores fugiram
nos barcos que sobraram, deixando para trás milhares de soldados. Sem comida ou equipamentos, esses caras foram massacrados pelos japoneses O placar final foi: Tufões japoneses, dois. Mongóis, zero. Será que isso é verdade mesmo? Esse lance de duas invasões serem derrotados por causa de dois tufões? Ora, por mais que essa história seja legal demais, tudo indica que nada aconteceu exatamente dessa forma. As histórias que falam desses tufões foram escritas por gente que sequer estava perto dos lugares onde os mongóis desembarcaram. Já os relatos de gente que participou da batalha não fala de tufão nenhum. No máximo,
de uma tempestade normal durante a primeira invasão. Mas de onde teria vindo, então, essa história? Uma teoria diz que sacerdotes de diversos santuários teriam falado que os tufões eram provas de que os deuses tinham salvado o Japão, o que faria esses templos caírem nas graças do imperador e do xogunato. Mas se não teve tufão, então como os japoneses resistiram a essas invasões? A história tem algumas explicações mais concreta para isso. Primeiro, os japoneses lutavam em terrenos que eles conheciam e era péssimo para os exércitos mongóis, que nem esperavam tanta resistência e tinha dificuldade para lutar
em praias e vales estreitos entre montanhas. E as próprias forças mongóis estavam longe de serem unidas porque, como eles incorporavam povos conquistados ao exército, muita gente só estava ali lutando porque era obrigada. Mas o ponto mais importante mesmo são os samurais, que adaptaram todo o seu estilo de combate para resistir à invasão. Aliás, é aí que surge a figura clássica do samurai com sua espada. E essa história é muito legal! Até esse momento, a maior parte dos samurais era especialista em arco e flechas. Mas aí eles perceberam que poderiam resistir à invasão, levando a guerra
para dentro dos navios mongóis, porque os invasores não conseguiam lutar em espaços apertados. Então, foi aí que os samurais começaram a usar uma espada como primária. Graças a isso, muitos soldados mongóis morreram nos barcos, sem nem colocar os pés no Japão. E os arcos e flechas foram para os camponeses que ajudaram a combater os invasores, formando uma linha de infantaria que também fazia uso de lanças para derrotar as cavalarias mongóis. Mas sabe o que é mais legal? Esses supostos tufões que teriam salvado o Japão, existindo de verdade ou não, passaram a ser chamados de ventos
divinos, que em japonês é uma palavra bastante conhecida: kamikazes. Essa palavra ainda vai aparecer por aqui. Mesmo com a vitória, a invasão gerou uma enorme crise política no Japão. Os samurais que enfrentaram e expulsaram os mongóis da ilha nunca receberam nenhum tipo de recompensa por isso. Algo que eles achavam que seria justo. Foi tipo: "Ah, beleza! Vocês fizeram de tudo para proteger o Japão." "Parabéns! Vamos tocar a vida agora." É claro que eles ficaram totalmente insatisfeitos com o xogunato. Em 1318, quem subiu ao trono foi o Imperador Go-Daigo, que decidiu que era hora do poder
voltar para a família imperial, declarando guerra ao xogunato. A galera do Shogun, claro, resolveu peitar o cara. O problema é que um dos principais generais do xogunato,chamado Takauji Ashikaga, era descendente de uma ramificação dos Minamoto. Ou seja, ele tinha direito a ocupar o cargo de Shogun. Juntando isso com o fato de que ele também estava de saco cheio com a forma com que o xogunato estava tocando o Japão, Começou a pensar: "Se eu me juntar a esse imperador..." "Eu consigo criar um exército bem grande." Não deu outra. Ele mudou de lado e se aliou à
família imperial. Essa traição, literalmente, decretou a queda do xogunato e deu a vitória ao imperador em 1333. "Pera, Castanhari! Você não disse que a cidade de Kamakura" "era praticamente uma fortaleza natural?" "Como esse cara fez seu exército derrubar o xogunato?" Existe uma lenda que diz que isso aconteceu com um samurai que passou semanas tentando tomar a cidade, sem sucesso. Aí uma noite, ele ofereceu sua espada aos deuses dragões do Mar. No dia seguinte, as marés tinham baixado e levado os navios de guerra para longe, deixando uma entrada para os seus soldados que invadiram a cidade
marchando sobre o solo marítimo seco. Sim, sim, isso é uma lenda. Mas tudo indica que Kamakura caiu desse jeito mesmo, com os navios de guerra desaparecendo, porque quando a maré baixou, a área retrocedeu por quilômetros, pois isso é uma característica dessa região. Então não foram Dragões do Mar, mas sim, a própria geografia que fez Kamakura e o xogunato caírem. Em 1333, o Imperador Go-Daigo entrou em Quioto com o General Ashikaga ao seu lado e o poder voltou para a mão do imperador, num lance conhecido como Restauração Kenmu. Sabe quanto tempo durou essa nova política japonesa?
Décadas? Séculos? Não. Três anos. Isso porque o Imperador Go-Daigo foi, digamos assim, meio tolinho. Ele começou a falar que era ele quem iria mandar no Japão, que não iria ter Shogun nenhum, que os militares não iam "apitar" mais nada... Claro que os samurais não curtiram nada disso. Resultado: dez minutos depois disso, o imperador foi deposto e quem assumiu o trono foi um membro da família imperial que não era bobo e nomeou o Ashikaga como shogun em 1338. Mas esse Imperador Go-Daigo era teimoso, galera. Ele fugiu para o sul do Japão e montou um governo paralelo,
literalmente rachando o país. Agora tinha uma corte do sul com o imperador e uma corte do norte com outro imperador e um shogun. E quem começou a se dar mal com isso foi o pessoal do norte, onde as províncias eram controladas pelos aliados do shogun. Esses senhores feudais, chamados daimyos, tinham cada vez mais poder nas suas terras, então não curtiam muito essa ideia de obedecer um shogun. "Isso não está legal, não." Então o xogunato tinha que lidar com um governo rival no sul e o perigo constante de guerra civil entre seus aliados. Isso só mudou
quando um cara chamado Yoshimitsu Ashikaga se tornou o Shogun. Além de manter suas províncias sob controle, ele finalmente unificou as duas facções do clã imperial fazendo a corte japonesa voltar a ser uma só. ele finalmente unificou as duas facções do clã imperial fazendo a corte japonesa voltar a ser uma só. Ou seja, o Shogun Yoshimitsu literalmente salvou o dia. Mas depois que o Yoshimitsu morreu em 1408, o xogunato começou a perder de novo o apoio dos daimyos. E dessa vez a coisa foi ficando cada vez mais tensa, até explodir de vez em 1464, quando a
escolha de quem seria o próximo shogun causou uma guerra dentro da própria família Ashikaga. E aí, claro que os daimyos do Japão inteiro perceberam que a cadeira de Shogun seria de quem tivesse mais prestígio. Assim, começaram a rolar diversas batalhas pelo Japão, com esses senhores feudais e seus exércitos enormes atacando uns aos outros para aumentar o seu poder. Foi literalmente todo mundo contra todo mundo durante décadas e no meio desse caos, começou a aparecer uma das figuras mais famosas do Japão: os ninjas, mestres da espionagem. Os historiadores apontam que os ninjas conhecidos como Shinobi eram
recrutados nas classes mais baixas. Ou seja, eram mercenários que agiam por dinheiro. E esqueça aquela figura famosa do ninja com roupas pretas e cometendo exclusivamente assassinatos. Os ninjas até cometiam esse tipo de crime, mas na verdade eles eram tropas especiais de samurais especializados mesmo em espionagem e infiltração. Então tinha samurai, ninja, camponês, guerreiro, monge-guerreiro, todo o mundo matando todo mundo. E aí, olha o que aconteceu. Em 1543, um pequeno barco chinês se perdeu e chegou às praias do Japão. E no meio da tripulação tinham três mercadores com uma aparência que os japoneses nunca tinham visto.
"Peraí, esses caras eram portugueses?" Isso mesmo, 'gajos' portugueses. Lembre-se que tudo isso rolou no século XVI, durante as grandes navegações. Os portugueses eram mestres em exploração marinha e dois anos depois disso, já tinham estabelecido rotas comerciais entre Japão e Europa. Logo depois, outros europeus, como espanhóis e holandeses, começaram a chegar nas ilhas japonesas. Uma das coisas que mais chamou a atenção dos ocidentais eram as roupas dos japoneses. Completamente diferentes das vestimentas ocidentais. E essas roupas não eram usadas ao acaso. Elas seguiam um código complexo. E suas cores e estampas serviam para mostrar o estado civil,
a idade e até mesmo a importância de cada pessoa. Mas aqui temos uma história engraçada. Quando os primeiros ocidentais perguntaram qual era o nome daquelas roupas, os japoneses responderam "Kimono", que a palavra pela qual elas ainda são conhecidas mundo todo. O problema, é que quimonos significa literalmente "coisa de vestir". Então, basicamente, o que aconteceu é que os europeus perguntaram o nome da roupa e os japoneses responderam: "Ué, chama roupa" e o nome pegou. A presença portuguesa mudou demais o Japão. Isso foi desde as armas de fogo que os samurais não conheciam até a questão da
religião com a chegada dos primeiros jesuítas. Aliás, os jesuítas ganharam tanto poder no Japão que conseguiram influenciar até mesmo as decisões de daimyos poderosos. Isso tudo rolou durante aquela guerra generalizada, com todo mundo se matando. E quem soube usar muito bem a presença dos portugueses foi um daimyo chamado Nobunaga Oda. Esse sujeito não tinha o menor pudor em armar seus exércitos com mosquetes ou de usar jesuítas para promover a discórdia entre seus adversários budistas. Conforme foi ganhando mais terras e aliados, o Nobunaga se tornou um dos daimyos mais poderosos do Japão e em 1568 marchou
até a capital, obrigando o imperador a nomear Yoshiaki Ashikaga como shogun. Com isso, o xogunato Ashikaga ganhou força de novo, não é verdade? Não! Nobunaga Oda e o Shogun eram aliados? Oficialmente, sim, mas o Nobunaga não tinha o menor interesse de ficar fazendo o que o shogun queria e continuou conquistando novas províncias. Não demorou muito e o Shogun se ligou que o Nobunaga ainda é a criar problemas, então formou uma aliança entre os daimyos que eram inimigos do cara. Só que esses planos do Shogun foram por água abaixo e isso acabou não dando em nada.
Mas claro que o Nobunaga não ia deixar isso barato, né? Ele imediatamente invadiu Quioto e expulsou o Shogun do cargo, encerrando de vez o xogunato Ashikaga. Bem, aí ele virou o Shogun certo? Não. O Nobunaga era um cara diferente e não queria nem saber desse cargo. Além do fato de que ele não era da linhagem dos Shogun. Ele continuou atacando seus rivais até o ponto em que os poucos daimyos que ainda eram contra ele não pareciam ser mais uma ameaça. Assim, depois de décadas de guerras e batalhas por todos os lados, o Japão parecia prestes
a se unir novamente sob o controle do Nobunaga. Não é à toa que ele é considerado o primeiro grande unificador do Japão. Mas, na verdade, o Nobunaga morreu antes de conseguir unir o país. Em 1582, ele foi traído por um de seus generais e, vendo que seria derrotado, tomou a atitude drástica de tirar sua própria vida. Quem conhece um pouco de história do Japão sabe que esse ritual era muito comum entre os samurais. Eles faziam isso quando agiam de forma desonrada ou, como no caso de Nobunaga, para não ser feito prisioneiro depois de uma derrota.
Aqui no Ocidente, esse ritual é conhecido como harakiri, que é o nome mais comum, mas o nome formal desse ritual japonês é seppuku. O samurai cortava a própria barriga com sua espada para demonstrar a pureza de sua alma, que eles acreditavam que ficava na região do estômago. Que depois desse corte, uma pessoa de confiança cortava sua cabeça para selar de vez a sua morte. No caso do Nobunaga, dizem que o samurai que cortou sua cabeça era chamado de Yasuke. Esse cara era um dos principais aliados do Nobunaga e inclusive fazia parte de um pequeno grupo
de pessoas que tinha a honra de poder jantar com o líder japonês. O que vai deixar muita gente chocada é que o Yasuke era africano. Essa história é uma das curiosidades mais legais do tempo dos samurais. Não se sabe ao certo em qual país da África Yasuke nasceu. Ele chegou ao Japão junto com um jesuíta italiano e imediatamente se tornou uma sensação no arquipélago. Nesta época, a altura média dos japoneses era inferior a 1,60m e eles nunca tinham visto uma pessoa africana ainda por cima com quase um 1,90m de altura. O seu tamanho e a
cor de sua pele chamaram a atenção de Nobunaga, que percebeu que Yasuke seria uma excelente adição para seu grupo. Com o tempo, Nobunaga até mesmo concedeu privilégios de samurai para Yasuke, como o direito de andar armado. Para ser reconhecido como samurai, era preciso pertencer a uma linhagem de samurais, mas algumas vezes pessoas que não tinham essa origem conseguiam não ter os mesmos direitos dos guerreiros japoneses. O Yasuke foi um dos primeiros estrangeiros a receber esta honra. Depois da morte de Nobunaga. Não se sabe ao certo qual foi o destino do Yasuke. Dizem que ele foi
morar numa mansão jesuíta e tem até um anime que explora essa ideia, disponível inclusive na Netflix. Uma nota triste é que Hollywood queria fazer um filme sobre esse cara que seria estrelado pelo Chadwick Boseman, nosso eterno Pantera Negra, que infelizmente nos deixou em 2020. Não sirvo a ninguém. Mas, voltando para o nosso vídeo com a morte do Nobunaga, começou a briga para ver quem seria herdeiro do clã Oda. E aí, um dos generais do Nobunaga chamado Hideyoshi, mexeu uns pauzinhos para que o neto do Nobunaga, que ainda era uma criança, fosse reconhecido como herdeiro. Ele
colocou o garoto debaixo de sua asa e na prática se tornou o chefe do clã Hideyoshi continuou o trabalho do Nobunaga conquistando cada vez mais províncias e hoje ele é conhecido como o segundo grande unificador do Japão. Mas depois de unir o país, o Hideyoshi decidiu aproveitar o embalo e conquistar nada mais nada menos que a China, que na época era controlada pela famosa Dinastia Ming. Ele pediu que a Coreia desse passagem para que seus exércitos começassem a invasão, mas como os coreanos falaram "não", o Japão simplesmente invadiu a Coreia em 1592. Em três meses,
eles conquistaram Seul, que hoje é a capital da Coreia do Sul, e chegaram até Pyongyang, que agora é a capital da Coreia do Norte. A situação só mudou quando a China mandou seu exército para ajudar os coreanos, o que deixou a guerra meio empatada. E aí rolaram as negociações de paz. Os japonesas começaram a fazer um monte de exigências para os chineses e depois de quatro anos de papo, não tinha rolado acordo nenhum. O Hideyoshi cansou de conversar e invadiu a Coreia de novo, mas dessa vez os coreanos e chineses estavam bem mais preparados e
a invasão não deu em nada. E quando o Hideyoshi morreu em 1598, o Japão ficou em alerta. Mas será que todas aquelas guerras pelo poder começariam de novo? Bom, teoricamente não. O Hideyoshi tinha sido esperto e montado um conselho com seus cinco principais aliados para comandar o Japão, até que seu herdeiro, que era apenas uma criança, tivesse idade para governar o império. Mas você já pegou a manha de como as coisas funcionavam, né? Um ano depois, as intrigas políticas dentro do Conselho já corriam soltas, especialmente por causa do comportamento de um de seus membros, Yasuo
Tokugawa. Era um cara que tinha ao seu lado um serviço bom de ninjas, com destaque para um sujeito chamado Hattori Hanzo, um dos ninjas mais famosos da história, que era totalmente leal ao seu mestre. Tokugawa começou a se aliar com clãs que não eram particularmente fãs da família Hideyoshi. O Japão rachou novamente. De um lado, o Tokugawa, que tinha se aliado com a maior parte das províncias do leste. Do outro, os outros membros do Conselho, liderados por um cara chamado Mitsunari Ishida, que tinha influência nas províncias do oeste. Foram meses de tensão e conspirações, até
que ficou claro que a coisa só seria resolvida no campo de batalha. E em 21 de outubro de 1600 rolou a Batalha de Sekigahara, um dos maiores e mais importantes conflitos da história do Japão feudal. O exército do Oeste foi derrotado e vários de seus comandantes foram executados. Seu principal líder, Ishida, foi decapitado e sua cabeça exibida em Quioto como uma espécie de aviso. E é bom prestar atenção nesse aviso, porque a mensagem era clara. A partir de agora, quem manda no Japão é Tokugawa, o terceiro grande unificador do Japão. Vamos olhar um pouco o
campo onde rolou a Batalha de Sekigahara. Logo depois do conflito, esse lugar que hoje fica na prefeitura de Gifu, estava coberto de corpos de guerreiros e um monte de feridos se arrastando pra lá e para cá. Um desses feridos se chamava Takezo Shinmen, que tinha lutado pelo Exército do Oeste. Depois da derrota, ele se recuperou dos ferimentos e passou a vagar pelo Japão, se tornando um dos guerreiros mais respeitados da história, usando o nome de Miyamoto Musashi. E assim começa o livro Musashi, escrito pelo autor Eiji Yoshikawa e que se tornou um fenômeno de vendas
mundial e que eu recomendo muito. É sensacional. Eu já li e recomendo. Por mais que a história do Musashi nesse livro seja romanceada, ele é sim uma figura real e muito famosa do Japão dessa época. O Musashi era um ronin, ou seja, um samurai sem mestre. E mais do que mandar bem demais com a espada. Ele também era filósofo e escreveu um tratado chamado O Livro dos Cinco Anéis. Uma das obras fundamentais é sobre a estratégia militar japonesa. Mas sua fama vem mesmo dos combates contra outros samurais. O primeiro duelo do Musashi aconteceu quando ele
tinha apenas 13 anos. Daí em diante, foi empilhando uma vitória atrás da outra até se tornar recordista absoluto, vencendo mais de sessenta duelos. Muito disso se deve à forma como ele usava suas espadas. Os samurais usavam duas espadas diferentes. A principal era a katana, mas eles também usavam a wakizashi, uma espada menor que funcionava como arma auxiliar. Porém, o Musashi mudou isso, criando uma técnica em que as duas espadas eram usadas ao mesmo tempo como armas principais. Então, se você curte histórias de samurais, fica a dica do livro Musashi, que mostra muito sobre a época
do Japão e os samurais. Essa é uma das obras mais famosas do Japão, então vale muito a pena. Quem prefere mangá pode ler a série Vagabond, que é baseada no livro. Diferente do que rolou com Nobunaga e Hideyoshi, o Tokugawa assumiu o cargo de Shogun. Dois anos depois, ele abdicou e seu filho assumiu o cargo, mas quem continuou mandando mesmo foi ele. Isso foi uma tacada de mestre de Tokugawa para garantir que sua linhagem continuaria no poder. Assim, quando ele morresse, seu filho seria um shogun já bem estabelecido e ninguém iria tentar roubar o cargo.
Agora, vamos ser sinceros? Dificilmente teria qualquer tipo de briga pelo cargo, porque o Tokugawa controlava o país com mão de ferro. Tokugawa morreu em 1616. E nenhum lorde ou general cresceu olho para a cadeira do shogun e o país continuou tocando a vida. O mesmo aconteceu nos anos seguintes. O Japão se tornou politicamente estável Nessa época, os samurais eram de longe, a classe mais importante da sociedade. Mas como o país vivia uma era tranquila, eles se tornaram quase que burocratas fazendo tarefas administrativas do governo. Você ia lá no PoupaTempo tinha um samurai te atendendo. Era
meio assim que funcionava. Agora, claro que os samurais não curtiam essa ideia de passar o dia inteiro ali como se fosse um escritório. Por isso, sempre que eles podiam entrar em ação, mergulhavam de cabeça nisso. Esse é o caso dos 47 Ronins, uma história muito famosa dessa época. Um senhor feudal cometeu uma pequena ofensa e foi obrigado a cometer seppuku. Quarenta e sete samurais que eram leais juraram se vingar do oficial do governo que tinha sido responsável por essa decisão e passaram dois anos esperando por uma oportunidade para finalmente atacar e fatiar o cara. Eles
ainda colocaram a cabeça do sujeito no túmulo do seu antigo mestre para não deixar nenhuma dúvida sobre o motivo do ataque. Todos os 47 foram condenados à morte e cometeram seppuku coletivo. Ou seja, esses samurais mataram e morreram pelo seu mestre e são vistos até hoje como exemplos da honra e da lealdade dos guerreiros japoneses Mas, voltando para o Japão, o objetivo do Shogun era controlar cada aspecto do Japão. Isso podia funcionar com senhores feudais e camponeses, mas não dava tão certo assim com estrangeiros por causa do idioma e pelo fato dos europeus não entenderem
direito os costumes japoneses. E tinha um grupo de europeus que era ainda especialmente preocupante. Os católicos. Os shogun sabiam que as nações católicas adoravam formar impérios com a ajuda da Igreja. E ele não curtia nada a ideia de que a religião católica era liderada por um papa que se metia em política toda hora. Para os shogun, isso era uma ameaça. Por isso, em 1614, todos os missionários católicos foram expulsos do Japão. Uma das consequências diretas disso é que, em 1640, praticamente não existiam mais europeus no Japão. A exceção eram os holandeses, que podiam fazer comércio
em uma pequena ilha. Essa relação com os holandeses é bem importante nesse final do Japão feudal. No começo, eles realmente ficavam apenas nessa ilha, mas logo foram conquistando uma boa relação com o xogunato e passaram a fazer visitas ao castelo do shogun em Edo. Nessas visitas, eles levavam presentes e apresentavam inovações científicas e tecnologias que estavam rolando no Ocidente. Justamente por isso, alguns samurais começaram a se tornar cientistas e os daimyos eram tratados por médicos holandeses. Esse movimento é chamado de ran gaku, Ran vinha de Oranda que era como os japoneses chamavam a Holanda, e
Gaku, que significa 'aprendizado'. Na verdade, o xogunato não era contra a presença de europeus, mas tinham muito cuidado com quaisquer estrangeiros que queriam comercializar com eles, como chineses e coreanos, que também tinham pouco acesso. Os japoneses não podiam deixar o país Ne aqueles que se arriscavam a fazer isso eram proibidos de voltar para casa. Aos poucos, o Japão se tornou uma nação isolada, sem praticamente nenhum contato com outras civilizações. O centro de todo esse território, fechado em si mesmo, claro, era a enorme cidade de Edo. Osaka e Quioto também eram cidades enormes, e os habitantes
dessas cidades passavam longe de arte rebuscada. Não, não, eles curtiam mesmo coisas mais divertidas, como livros de romances, de comédia e espetáculos de kabuki, que uma forma de teatro popular japonês. E nesse cenário, não podemos deixar de falar das gueixas. Ao contrário do que muita gente imagina, elas não eram cortesãs nem prostitutas, e sim artistas com habilidades de dança e canto. Aliás, alguns desses artistas, inclusive, eram homens. Mas sim, existem gueixas que começaram a oferecer serviços sexuais quando se apresentavam em quartos reservados, quando tinham interesse no cliente. Agora, aquela história de que o Japão se
tornou um país totalmente fechado... As outras nações não queriam saber disso, especialmente as ocidentais. Como esses países começaram a expandir sua influência pela Ásia e Pacífico a partir do fim do século XVII, faziam de tudo para ter algum contato com o Japão. Mas o xogunato não queria nem saber disso. Tudo começou a mudar em 1853, quando um oficial da Marinha americana aportou em Edo, acompanhado de diversos navios de guerra e deixando claro que o Japão abriu seus portões para outros países, ou o bicho ia pegar. O assunto foi muito debatido, mas o xogunato acabou aceitando.
Aí meus amigos começaram a aparecer navios ingleses, russos, franceses. Pronto. Todo mundo queria falar com os japoneses. O problema é que a população japonesa via os estrangeiros como uma ameaça, muito por causa da influência do governo e sua política de fechar o país. Aí, quando um monte de gringos começou a aparecer, o povo começou a pensar que o xogunato, que já andava meio desgastado, não tinha a capacidade de ser o grande protetor militar do país. Aí, pronto, começaram as conspirações. Os nobres que eram contra o xogunato aproveitaram que o trono também tinha um novo imperador
e convenceram o cara de que esse papo de Shogun não tinha mais futuro. Com toda essa pressão política, o Shogun entregou o cargo. Assim, o poder voltou para o Imperador e, depois de cerca de 700 anos, o domínio dos Shogun sobre o Japão chegou ao fim de uma vez por todas. Uma coisa importante de dizer aqui é que o Japão não entrou na era moderna por vontade própria. Na verdade, o país foi literalmente puxado para a era moderna por outras nações. E aí a gente entrou em um período muito importante na nossa história, que foi
praticamente uma ponte entre a era dos samurais e o começo daquele Japão que a gente conhece hoje. E bem no meio disso, a gente mergulha de cabeça naquilo que eu falei lá no comecinho do vídeo que é a busca da identidade do povo japonês. Em praticamente todos os momentos que a gente viu, os japoneses viviam isolados e sem muito contato com outras culturas, construindo sua identidade e sua forma de pensar. Mas, a partir de agora, isso seria colocado à prova, porque o Japão teria que descobrir qual era o seu papel no mundo, encontrando maneiras de
criar uma nação forte e respeitada pelas outras. E olha, isso não foi nada fácil. Como vocês viram, depois do fim do xogunato, o poder voltou para a mão do imperador, num período chamado de Restauração Meiji. Então, o imperador ficou com a tarefa de literalmente reconstruir e modernizar todo o sistema político do Japão. E se você acha que isso já era uma tarefa difícil, lembre-se que esse imperador chamado Mutsu, o rito, tinha apenas 15 anos de idade. Quem ajudou muito nessa tarefa foram justamente os líderes samurais, que ajudaram a derrubar o xogunato. E a primeira grande
tarefa era mostrar ao povo que, que, mesmo com todas essas mudanças, o governo era estável e o país não iria mergulhar numa guerra civil. Agora, a política estável não quer dizer que não rolaram mudanças e uma das primeiras envolvia a própria capital. No tempo do Tokugawa, o poder estava dividido entre Quioto e Edo. Agora, o país precisava de uma única capital e a escolhida foi Edo, que passou a se chamar Tóquio, que significa 'capital do Leste'. Outra mudança aconteceu com a distribuição de terras, que voltaram a pertencer ao governo e o país foi reorganizado em
prefeituras, um sistema de administração que existe até hoje. mas transformação mais profunda mesmo, foi o fim daquele sistema de classes engessado. Isso teve duas consequências: A primeira é que as pessoas podiam trabalhar na área que elas quisessem. A segunda, ainda mais radical, é que isso literalmente decretou o fim dos samurais. Os samurais que eu tanto gosto... Desde o fim do xogunato, os samurais não tinham muito mais o que fazer, essa é a verdade. Em 1873, surgiu uma lei que dizia que todo homem podia ser convocado para o Exército. Então, a própria existência dos samurais ficou
sem propósito e eles foram obrigados a abandonar suas armas, recebendo uma indenização do governo como compensação. Aliás, quem aí é fã de Samurai X que nem eu? Você que é fã de Samurai X, você vai lembrar o personagem principal, Kenshin Himura, vive no começo da era Meiji e é parado o tempo inteiro pela polícia porque estava andando com suas espadas. Ah, uma curiosidade rápida o Kenshin foi inspirado em um dos maiores assassinos da história do Japão, chamado Kawakami Gensai. Mas de volta ao lance das espadas que você estava falando. Em 1876, o governo criou uma
lei que proibia as pessoas de andarem com armas na rua. As exceções eram os antigos senhores feudais, militares e oficiais da lei. Ou seja, a partir daí, na prática, qualquer samurai que decidisse dar um rolê pela cidade com suas espadas teria suas armas confiscadas. Só que a gente está falando de guerreiros que tinham mandado no país durante séculos e que nunca aceitariam isso de boa. Assim, aos poucos, alguns começaram a se reunir na cidade de Kagoshima, sob a liderança de um antigo samurai que tinha apoiado o imperador, mas acabou brigando com o novo governo e
ficou puto com essa história de restauração imperial. Em 1837, o governo mandou navios recolherem as munições estocadas em Kagoshima. Os samurais que estavam na região atacaram as embarcações e a partir daí os combates começaram a crescer. Esses conflitos duraram meses até o exército nacional derrotar os últimos samurais, que eram contra toda essa modernização, rompendo um dos elos mais fortes do Japão com o seu passado. Mas o aspecto mais difícil dessa modernização toda foi cultural. Muitas filosofias e teorias científicas ocidentais que chegavam ao Japão iam contra tudo aquilo que os japoneses acreditavam. Um exemplo eram as
ideias de liberdade individual. Imagine um povo que passou o século sem sequer poder mudar de profissão, tentando assimilar todos esses conceitos. Aí o governo percebeu que tinha um problema nas mãos. Se por um lado os caras sabiam que seria impossível construir uma nação forte, com um povo submisso e sem iniciativa, Por outro lado, tinham medo de que um povo forte demais poderia se colocar contra o governo. A saída que o governo encontrou foi algo muito em moda na segunda metade do século XIX, o nacionalismo. Como já expliquei em outros vídeos aqui no canal, o nacionalismo
é diferente de patriotismo. O patriotismo diz que você tem que amar o seu país. Já o nacionalismo explicando de forma bem rápida, , passa pelo sentimento de união de um povo ou de uma cultura e normalmente desemboca na ideia de que aquele povo é superior a todos os outros. Assim, o governo começou a criar uma filosofia de que servir ao imperador significava ser um bom japonês, algo que não podia jamais ser compartilhado com pessoas de outros povos que eram inferiores. Isso realmente deu um propósito e um norte para o povo japonês. Mas, como vocês vão
ver daqui a pouco, teve consequências bem negativas. Agora, de todas as ideias que chegaram ao Japão nessa época, a mais perigosa para o governo era a democracia. Afinal, esse conceito poderia enfraquecer o poder do imperador. Mas, ao mesmo tempo, o governo sabia que as potências ocidentais respeitavam nações democráticas. A solução do governo: dar liberdade, sem dar liberdade. Parece confuso, né? Deixa eu dar alguns exemplos para ficar um pouco mais fácil. Uma hora eles criaram uma lei reduzindo a liberdade de expressão, mas logo em seguida anunciaram a formação de uma Assembleia Nacional. Depois, proibiram policiais e
professores de se envolver com política, mas meia hora depois permitiram a criação de dois partidos. Essa política de bate e assopra ficou ainda mais clara quando o governo anunciou a nova Constituição do país. Ela tinha alguns modernos, como a escolha de um parlamento e um primeiro ministro, que iriam governar junto com o imperador. Por outro lado, ela continuava tratando o imperador como uma divindade, estando acima de tudo e todos. Aliás, a própria Constituição foi apresentada não como um direito do povo, mas como um presente do imperador. Ou seja, fica meio contraditório, né? Tem democracia? Tem,
mas só porque o imperador decidiu isso. Isso deixou alguns políticos insatisfeitos. Mas o Japão já tinha aprendido uma lição com os países ocidentais. A melhor maneira de fazer o povo esquecer os problemas do país é arrumando o quê? O que? Um problema exterior. Essa decisão também passa pela economia. Depois que o Japão começou a ter contato com os povos ocidentais, sua economia cresceu, até se tornar uma das maiores da Ásia. O governo, claro, queria que essa economia continuasse crescendo. E a resposta estava em outra lição que os japoneses já tinham aprendido com os países ocidentais:
o imperialismo. Um dos motivos da economia de nações como França e Inglaterra serem tão fortes era que eles tinham colônias espalhadas no mundo inteiro. Quanto mais colônias, mais matéria prima e mais mercados consumidores aquela nação tinha. Com isso em mente, o governo japonês decidiu que o melhor caminho seria fazer com que o Império Japonês não fosse um império só no nome, mas também no número de colônias. Então, eles subiram até o alto do Monte Fuji e olharam na direção do continente. E a partir daí, a política externa japonesa passa a ter como meta se expandir
na Ásia. Em 94, explodiu uma rebelião na Coreia e o governo coreano pediu ajuda para a China. Só que o Japão também mandou seus exércitos e quando a rebelião acabou, os chineses e japoneses continuaram ali na Coreia, sem voltar para casa e se estranhando cada vez mais. Essa confusão deu início à Primeira Guerra Sino-Japonesa, que durou apenas um ano, mas terminou muito mal para a China. No final dessa briga, os chineses tiveram que abandonar todos os seus interesses na Coreia e ceder para os japoneses territórios na região da Manchúria. O problema é que o Império
Russo também tinha interesse na Manchúria. Isso deu início a uma espécie de xadrez diplomático, com russos, alemães e franceses tentando convencer o Japão a abrir mão de alguns desses territórios em nome da estabilidade na região. Os japoneses não ficaram muito felizes com isso, mas acabaram concordando para ganhar o respeito das nações europeias. Aí se liga, três anos depois, esses mesmos três países começaram a dividir entre si alguns territórios da China, deixando o Japão de fora do rolê. O governo japonês se sentiu completamente enganado. Por causa disso, a relação entre Japão e Rússia ficou bem abalada
e piorou ainda mais em 1900, quando estourou uma rebelião na China. Exércitos de oito países foram enviados para ajudar a resolver o problema, mas quando a rebelião acabou, a Rússia não tirou seus exércitos do lugar, deixando todo mundo indignado, especialmente o Japão. Os dois países tentaram chegar a um acordo, mas as conversas não levaram a lugar nenhum. Assim, em 1904 o Japão entrou em um novo conflito, a Guerra Russo-Japonesa, cuja maior parte dos combates rolou na Manchúria. O exército japonês começou a ganhar várias batalhas, mas uma hora a coisa entrou num impasse e ninguém avançava
mais. Aí o Japão foi esperto. Com a vantagem ainda era deles, o governo pediu ao presidente dos Estados Unidos, chamado Theodore Roosevelt, mediar um acordo de paz. O resultado foi o fim da guerra, com a Rússia sendo obrigada a aceitar várias exigências do Japão. Agora, a grande vitória disso tudo foi diplomática. Em dez anos de duas guerras, o Japão mostrou ao mundo que não era um país que estava para brincadeiras. Porém, em 1912, o imperador Mutsuhito morreu. Entre erros e acertos, foi ele quem colocou o Japão no mundo moderno transformando o país numa nação respeitada.
Após sua morte, ele passou a ser chamado pelo nome que batiza esse período: Meiji ou O Iluminado. Agora, o mundo estava à beira da Primeira Guerra Mundial. E o imperador estava morto. Será que o Japão iria continuar se desenvolvendo na mesma pegada? Em 1912, o Japão ganhou um novo imperador chamado Yoshihito. Durante sua coroação, ele anunciou que o seu reinado seria chamado de Taisho, que pode ser traduzido como 'Grande Justiça', inspirado por uma passagem de um antigo livro místico chinês chamado I-Ching. Mas esse período foi bem curto por causa da saúde do imperador. Logo depois
de nascer, o príncipe Yoshihito contraiu meningite cerebral. Existe também uma suspeita de que ele sofreu envenenamento de chumbo por causa da maquiagem que sua babá usava. Então, ele sofria de diversos problemas neurológicos. Depois de assumir o trono, quase não apareceu mais em público, porque mal conseguia andar ou falar. Nada disso impediu o Japão de se dar muito bem na Primeira Guerra Mundial, que começou em 1914. Quem assistiu ao Nostálgico Primeira Guerra Mundial sabe que os japoneses participaram pouco desse conflito, mas eles eram aliados dos franceses e ingleses. Então conquistaram várias colônias alemãs na China e
no Pacífico. Isso agradou especialmente uma parte do exército japonês, que achava que já tinha passado da hora do país começar a se expandir de uma forma agressiva pelo Pacífico. Quando a Primeira Guerra terminou, em 1918, lá estava o Japão, ao lado dos países aliados, nas reuniões que decidiram as penalidades impostas à Alemanha derrotada. Sim, o Japão estava bem na fita, caminhando lado a lado com as grandes potências ocidentais. Claro que isso não quer dizer que o país não enfrentava problemas. Um deles rolou em 1923, com o grande terremoto de Tóquio, um dos maiores desastres naturais
da história japonesa, que deixou mais de cem mil mortos e três milhões de desabrigados. Agora, quando essa tragédia aconteceu o Japão já era comandado por um príncipe regente. Isso porque chegou uma hora que o imperador não tinha mais condições de trabalhar, então seu filho assumiu o cargo de regente em 1921. Aí, em 1926, quando o imperador morreu, esse príncipe assumiu o trono para se tornar um dos líderes mais importantes de todo o século XX. O imperador Hirohito. Quando assumiu o trono, virou rito. Hirohito anunciou que seu reinado seria chamado de Showa, uma expressão que também
é tirada de um antigo livro chinês e pode ser traduzida como 'paz iluminada'. O problema é que a paz não foi realmente o ponto forte desse período da história japonesa. Mas daqui a pouco vocês vão ver isso. Por mais que o Japão tivesse se saído muito bem com a Primeira Guerra Mundial e conquistado novos territórios e mercados na Ásia, a economia não estava boa, não. Um dos motivos era uma velha conhecida de nós brasileiros, a corrupção, especialmente por causa da influência que as grandes empresas tinham sobre decisões políticas. Aliás, muita gente no Japão achava que
essa corrupção era um reflexo da influência dos países ocidentais, que eram cheios de manias estranhas como o individualismo e modo de vida liberal. Assim, muitos japoneses começaram a enxergar que talvez um governo mais autoritário deixasse as coisas mais organizadas. Essa galera passou a olhar com uma certa admiração para a Alemanha e Itália, que começavam a ganhar governos fascistas. Não demorou muito para esse povo seguir mais um exemplo desses países europeus e defender que o Japão precisava conquistar mais terras. Aí sobrou mais uma vez para a China, porque o Japão ainda tinha muita influência na Manchúria.
Em 1931, uma explosão arregaçou uma ferrovia na Manchúria e os militares japoneses acusaram rebeldes chineses de estarem por trás do atentado. Mas deixa eu contar o segredo aqui: Na verdade, quem explodiu a ferrovia foram os japoneses, que queriam só um motivo para declarar guerra contra a China. Hoje, isso é conhecido como Incidente da Manchúria. O Japão mandou mais tropas, dominando de vez essa região. Aliás, o exército japonês literalmente transformou a Manchúria num país chamado República de Manchukuo, que era uma nação fantoche do Japão. Isso fez aquela ideia de criar um movimento expansionista japonês ganhar ainda
mais força. A grande pedra no sapato nesse assunto era a poderosa União Soviética, que também tinha interesse na Ásia. Para se prevenir disso, em 1936, os japoneses assinaram um acordo com a Alemanha e logo em seguida, a Itália embarcou nisso. Virando amigão de outros dois inimigos dos soviéticos, o Japão não perdeu tempo. Um ano depois, declarou guerra contra a China, o que deu início à Segunda Guerra Sino-Japonesa. Em poucos meses eles conquistaram Nankim, que era a capital chinesa. Isso gerou uma das maiores atrocidades do século XX, com soldados japoneses saqueando casas e estuprando, torturando e
assassinando milhares de civis na capital. Foi um massacre. O problema é que os chineses não se renderam depois de perder a capital e a guerra continuou. Isso virou uma dor de cabeça para os japoneses, porque os soviéticos já tinham declarado publicamente apoio aos chineses e podiam entrar em guerra qualquer minuto. Para piorar, em 1939, Hitler assinou um tratado de não agressão com os soviéticos fazendo o Japão se sentir traído. Aliás, os japoneses tiveram um pé atrás com o líder nazista, que por causa do lance da supremacia ariana via os japoneses como cidadãos de segunda classe.
Porém, quando o ditador nazista deu o 'start' na Segunda Guerra Mundial e começou a conquistar um país atrás do outro, lá na Europa, os japoneses começaram a perceber que talvez fosse melhor deixar essas ressalvas de lado e se aproximar de verdade da Alemanha. Assim, em 1940, o Japão se aliou definitivamente aos alemães e italianos, criando o famoso Eixo da Segunda Guerra Mundial, e foi para cima de todo o mundo na Ásia. E na verdade, o domínio japonês na Ásia já vinha crescendo a cada dia, pois o império estava literalmente tocando o terror no continente. E
isso não quer dizer apenas vitórias militares, mas sim, terror mesmo. É só olhar para a dominação da Coreia. O Japão criou um verdadeiro regime de terror na Coreia. Milhares de coreanos foram praticamente escravizados, tanto em fábricas como em campos de trabalho forçado. Mulheres e até crianças eram obrigadas a se prostituir para continuar sobrevivendo, com soldados japoneses praticando estupros em massa. Esse terror não foi apenas físico ou moral. Ele também foi cultural. A língua coreana foi banida e obras de literatura e canções tradicionais foram proibidas. Além disso, toda criança que nascesse na Coreia era obrigada a
ser batizada com um nome japonês. O Japão não queria apenas controlar o território da Coreia, mas sim fazer o povo coreano ser completamente subjugado pelo Império. Que fique bem claro aqui: o Império Japonês não se inspirou nos seus aliados do Eixo somente para planejar seu expansionismo, mas também na crueldade usada para controlar os povos conquistados. A Coreia é um dos exemplos mais famosos dessa história. Mas isso se repetiu em maior ou menor grau, em todos os territórios ocupados pelos japoneses, criando algo que muitos historiadores chamam de holocausto asiático. Em 1941, quando os alemães atacaram a
União Soviética, o Japão achou ótimo, porque isso deixaria o Stalin ocupado demais, enfrentando nazistas na Europa, sem tempo de se preocupar com o que rolava no Pacífico. Agora, a essa altura, o problema mesmo já eram os Estados Unidos, que resolveram dar um basta na expansão japonesa, criando uma série de embargos comerciais. Isso afetava diretamente a importação de petróleo, que era essencial para os navios e tanques japoneses. A única alternativa estava muito clara: ir para a guerra com os americanos. E os militares japoneses já tinham uma estratégia bem definida. A ideia era dar um golpe forte
logo de cara para que a guerra entrasse num impasse e os americanos tivessem que negociar a paz enquanto a vontade ainda fosse japonesa. Esse golpe foi dado em dezembro de 1941. Quase 200 bombardeiros japoneses sobrevoaram a base americana de Pearl Harbor, no Havaí, explodindo tudo o que encontravam pelo caminho. Pouco tempo depois, mais 150 aviões japoneses apareceram para terminar o serviço. Foi um ataque surpresa. Então, os soldados americanos estavam totalmente despreparados. Os Estados Unidos perderam quase 200 aviões. Quatro encouraçados e três destroyers. Muitas outras embarcações foram danificadas e colocadas para fora de combate. Este foi
o famoso ataque de Pearl Harbor, que fez os Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial. A Segunda Guerra Mundial já foi tema de um Nostalgia enorme aqui. Como o foco aqui é a história do Japão como um todo, eu vou passar rapidamente pela guerra, ta? Se você quiser ver mais detalhes dessa guerra e das grandes batalhas da Segunda Guerra Mundial, incluindo as do Pacífico, vou deixar o link aqui na descrição, tá bom? Depois de Pearl Harbor, os japoneses foram empilhando uma vitória atrás da outra e aumentando muito seu Império. Uma coisa fundamental nisso foi o
comportamento dos soldados japoneses, que lutavam com uma fúria insana e sem desistir nunca para mostrar, eram superiores aos ocidentais, que eles viam como povos decadentes e materialistas. Tantas vitórias no final de 1941, e nos primeiros meses de 1942, criaram sensação de que o exército japonês era indestrutível. O problema é que os próprios comandantes japoneses passaram a acreditar nisso. E aí, meus amigos, a maionese começou a azedar mesmo, porque os americanos já estavam se recuperando de Pearl Harbor. A blindagem japonesa sofreu seu primeiro grande golpe na Batalha do Mar de Coral, que rolou em maio de
1942 e interrompeu os avanços das suas tropas no Pacífico. Depois foi a vez da histórica Batalha de Midway. Os Aliados tinham descoberto os planos japoneses com antecedência e estavam preparados, o que resultou numa derrota gigante para o Japão. Aí o jogo começou a mudar e os japoneses passaram a perder cada vez mais batalhas no Pacífico. Algumas foram muito importantes, como a Batalha de Guadalcanal, o primeiro grande confronto terrestre entre japoneses e americanos, e a de Iwo Jima, aquela que tem a foto famosa de soldados americanos hasteando a bandeira dos Estados Unidos. Eles disseram que a
operação levaria apenas três ou quatro dias, mas ela acabou levando 36 dias de puro inferno. Com todas essas derrotas, o cenário já era meio de desespero. O Exército japonês ia recuando mais e mais e logo a prioridade se tornou defender o país de uma invasão aliada. E aí, ganha espaço uma das figuras mais famosas da Segunda Guerra. Lembra dos tufões que protegeram o Japão das invasões mongóis e foram chamados de kamikaze ou 'vento divino'? Na Segunda Guerra, esse foi o termo usado descrever os pilotos que partiam em missões literalmente suicidas. Isso já acontecia desde o
ataque em Pearl Harbor, mas ficou muito mais frequente no final da guerra. O papel dos kamikazes era escolher um alvo importante e espatifar o seu avião naquilo, causando o maior estrago possível. Na maior parte das vezes, eles eram adolescentes que passavam por um treinamento de vôo bem curto e seus aviões nem tinham combustível para retornar para a base, ou seja, eles iam para morrer mesmo e levar inimigos junto com eles. A derrota do Japão parecia questão de tempo. Em abril de 1945, a coisa ficou séria, porque os americanos colocaram os pés em Okinawa, invadindo uma
ilha do arquipélago japonês. Foram quase três meses insanos de batalha, mas os aliados conseguiram a vitória. Para piorar a vida dos japoneses, a Alemanha tinha se rendido Europa. Então os aliados podiam concentrar todas suas atenções no Pacífico. E não ia demorar muito até que a União Soviética entrasse nessa guerra contra o Japão. Mas o governo japonês não vê alternativa a não ser lutar até o final, porque desistir seria desonroso demais. Quando os aliados exigiram a rendição japonesa, a resposta foi 'não'. O problema é que os japoneses nem faziam ideia do preço que essa resposta teria.
Alguns dias depois disso, na manhã de 6 de agosto de 1945, o avião Enola Gay sobrevoou a cidade de Hiroshima, jogando na cidade a primeira bomba atômica utilizada em uma guerra. E o mundo nunca mais foi o mesmo. Aqui nós entramos num ponto fundamental da história moderna do Japão, que são os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki. Eu também vou passar rapidamente por isso, porque já fizemos uma animação muito bacana, mostrando detalhadamente a destruição que essa bomba causou em Hiroshima. Eu também vou deixar esse link aqui embaixo na descrição. Depois é só entrar lá para acessar
o vídeo, tá bom? A bomba atômica literalmente devastou Hiroshima. Noventa mil pessoas morreram instantaneamente e 80% da cidade foi destruída. Três dias depois, uma segunda bomba atômica foi jogada em Nagasaki. Até hoje se discute quais teriam sido os motivos da decisão americana de jogar essas bombas no Japão. Uma das teorias mais famosas diz que, como a Guerra Fria entre os Estados Unidos e União Soviética já se anunciava, a bomba foi principalmente um recado para os soviéticos. Mas a batalha de Okinawa também foi crucial para essa decisão. Mesmo deixando centenas de milhares de japoneses mortos, a
invasão de Okinawa resultou em treze mil americanos mortos e 40 mil feridos. Foi a maior perda de vidas americanas em toda a Segunda Guerra. Por isso, os Estados Unidos concluíram que invadir o Japão por terra custaria a vida de muitos soldados americanos. E também se falava em outro motivo político: invadir o Japão prolongaria a guerra por meses, tempo suficiente para a União Soviética entrar na batalha e conquistar parte do arquipélago japonês, algo que os americanos não queriam nem a pau que acontecesse. O motivo da decisão americana provavelmente passa por todas essas alternativas. O ponto é
que estamos falando de uma bomba atômica matando milhares de civis. A verdade é que explicação nenhuma vai justificar isso. Depois desses bombardeios, o Japão viu que tinha duas opções: se render ou ser completamente destruído. Assim, no dia 15 de agosto, a rendição foi anunciada pelo imperador e pela primeira vez em sua história, o país foi ocupado por tropas estrangeiras. Durante séculos, o Japão superou guerras, invasões mongóis, epidemias, mas agora era diferente. O país tinha sido derrotado e teve que devolver a regiões conquistadas, voltando ao território que tinha antes daquela Guerra Sino-Japonesa de 1894. O país
estava moralmente arrasado e a pergunta era: "Será que o Japão conseguiria se reerguer?" E assim, chegamos à parte final do vídeo com aquele que talvez tenha sido o maior desafio da história do Japão: transformar um país devastado em uma das maiores potências do mundo. Uma figura chave para o começo dessa caminhada, acredite se quiser, foi um americano, o general Douglas MacArthur, um dos grandes comandantes da Segunda Guerra. Ele cuidou pessoalmente da ocupação americana no Japão, propagando o tempo inteiro que os dois povos deviam deixar o passado para trás e se unir para planejar um futuro
pacífico. Mas claro que não era possível ignorar os crimes de guerra cometidos pelo Japão. E rolaram julgamentos parecidos com os que foram feitos na Alemanha depois da Segunda Guerra. Mas aqui a coisa foi um pouco diferente. Vários militares e políticos do Império Japonês foram condenados, mas os depoimentos foram feitos de uma forma que o imperador ou qualquer membro da família imperial não fossem implicados nos crimes. Então, rolou uma passada de pano? Sim, foi exatamente isso, porque os americanos não queriam arranhar a imagem da família imperial. Afinal, isso poderia atrapalhar os planos dos Estados Unidos de
transformar o Japão no seu grande aliado asiático. O primeiro passo foi criar uma nova Constituição japonesa, que começou a valer em 1947. A produção dela foi observada de perto pelos americanos, então tinha muitos valores ocidentais, como direitos humanos, igualdade entre gêneros e o direito ao voto para todos os adultos. Em outras palavras, ao menos de uma forma mais geral, o Japão foi adaptado a um modelo parecido com os dos países ocidentais. A nação foi democratizada e ficou completamente alinhada aos Estados Unidos, e esse alinhamento foi decisivo para o Japão começar a sua recuperação econômica. Em
1950, começou a Guerra da Coreia entre Coreia do Norte, que era apoiada pelos soviéticos, e a Coreia do Sul, aliada dos Estados Unidos. O Japão estava voltando a investir na indústria, então seus negócios com os americanos se intensificaram demais. O resultado é que, no final da guerra, a produção industrial do país já era a mesma de antes da Segunda Guerra Mundial. Essa foi uma das principais consequências daquela aliança que surgiu entre Estados Unidos e Japão, depois da Segunda Guerra. Os primeiros passos da recuperação da economia japonesa só foram possíveis graças a essa parceria com os
americanos. Agora, por mais que a Guerra da Coreia tenha dado um boost na economia japonesa, o mérito do crescimento é totalmente dos japoneses, porque o país nunca mais parou de se desenvolver. Isso se deve a um lance que eles são especialistas: Estratégia. Com o governo e as empresas planejando juntos o futuro do país e quais áreas poderiam ser desenvolvidas. Se olharmos a segunda metade do século XX, veremos que o Japão é um palco de um dos maiores milagres econômicos da história. Mas, diferente do nome, isso não é um milagre. Isso é resultado de muito planejamento.
E esse planejamento está ligado diretamente ao Japão ser um dos países com maiores inovações tecnológicas do mundo. Isso não acontece, porque os caras adoram videogames e acham demais inventar coisas novas toda semana. Quando a indústria japonesacomeçou a ser reconstruída depois da Segunda Guerra, surgiu um desafio que faz parte da história japonesa: a geografia. O Japão possui poucas terras cultiváveis e uma mão de obra limitada, porque existe um limite de população que cabe no arquipélago. A saída dos caras foi a tecnologia para driblar esses problemas. Então, os japoneses não planejavam somente as indústrias que precisavam crescer,
mas também quais tecnologias poderiam tornar esse plano realidade. Hoje, essa sede de tecnologia já faz parte da cultura do Japão. O Japão está sempre na vanguarda do desenvolvimento tecnológico e da inovação, mas ao mesmo tempo, eles veneram e respeitam suas tradições antigas. Na política internacional, as coisas também iam muito bem, obrigado! O Japão ingressou na ONU em 1956. E em 1964, aconteceram os Olímpicos de Tóquio, que definitivamente marcaram a entrada do Japão na comunidade internacional. Daí em diante, o Japão só cresceu, chegando logo ao posto de uma das maiores potências econômicas do mundo. Isso passa
também pela criação de um modelo de produção industrial que mudou a economia do planeta. Durante boa parte do século XX, todas as grandes indústrias seguiam um modelo de produção chamado fordismo. Sim, o nome vem da fábrica de carros Ford, que criou um método de produção com uma linha de montagem pensada para maximizar a eficiência e diminuir os custos. Usando operários que faziam uma única tarefa. Mas, nos anos 70, o Japão passou a usar um novo modelo de produção que agia de acordo com a demanda do mercado. Ou seja, a fábrica só produz a quantidade que
ela sabe que vai vender, sem manter estoques enormes de matérias primas. Além disso, os trabalhadores dessas fábricas muitas vezes exerciam várias tarefas diferentes. Esse novo modelo reduzia ao máximo o desperdício, por isso acabou sendo copiado no mundo inteiro. O nome disso é Toyotismo. Pois o grande líder dessa transformação foi uma velha conhecida nossa. A fábrica de automóveis Toyota. E foi nesse cenário que o imperador Hirohito morreu em 1989. O ano em que eu nasci, aos 87 anos. Assim, o Japão se despediu do imperador que mais tempo ficou no trono e escreveu alguns dos capítulos mais
importantes da história japonesa. Quando o imperador Akihito, filho do imperador hirohito assumiu o trono, em 1989, todo mundo já esperava que o Japão fosse dar a largada definitiva para o século XXI. A economia do país ia de vento em popa e parecia que o crescimento do país não tinha limites. O problema é que deu tudo errado. No fim da década de 80, a economia japonesa era muito menos sólida, que parecia. A relação muito próxima entre empresas e bancos japoneses fazia com que esses bancos emprestassem dinheiro toda hora. A bolha estourou nos anos 90, fazendo a
economia japonesa entrar em colapso. A crise foi tão grande que criou um período chamado de década perdida e alguns dos seus efeitos são sentidos até hoje. O curioso é que isso aconteceu justamente no momento em que o Japão finalmente conquistou o mundo, ao menos de forma cultural. Sim, estou falando disso aqui: Fala a verdade! Quem aqui não assistia animes nos anos 90? No final do século XX, houve uma espécie de febre da cultura japonesa que se espalhou pelo mundo inteiro. E quem puxou isso foram os animes, que começaram a ser exibidos com frequência nas televisões
ocidentais, criando uma legião de fãs apaixonados, que continua crescendo até hoje. Eu, inclusive, sou um grande fã de animes. Isso se estendeu para outros tipos de entretenimento, como os mangás, que também passaram a ser consumidos no Ocidente e é claro, os videogames. Aliás, em 1996, nasceu a franquia Pokemon, que se tornou uma mania mundial. E é aí que você vê a força da cultura japonesa no mundo atual. Pokémon é a franquia de entretenimento que mais rendeu dinheiro na história, superando ícones ocidentais como Star Wars e a própria Disney. Isso nos leva de volta rapidamente ao
começo do vídeo. Existem animes e games japoneses sobre qualquer assunto que você possa imaginar. Mas muitos deles são baseados nas antigas lendas e mitos do Japão. Basta pensar no famoso game Okami, que fez muito sucesso no PlayStation 2. Neste jogo, você controla ninguém menos que Amaterasu, a deusa do Sol, que seria antepassada do primeiro e lendário imperador Jimmu. Então, a explosão da cultura japonesa pelo mundo que vemos hoje passa, claro, por tecnologias cada vez mais avançadas. Mas no centro dela estão as mesmas lendas que ajudaram a construir a identidade do povo japonês e sua forma
de pensar. Milhares de anos atrás, essas histórias eram contadas em aldeias e vilarejos dentro de um arquipélago praticamente isolado do resto do mundo. Hoje, elas estão na sua TV e no seu videogame. Com esse boom da cultura japonesa, até mesmo a Copa do Mundo foi levada para lá em 2002, vencida pelo Brasil. Acabou! É penta! Essa é a única edição do torneio realizada até hoje no Oriente e também a única que teve dois países sede, porque o Japão dividiu essa honra com outro velho conhecido nosso, a Coreia do Sul. Mas não podemos deixar de lado
uma tragédia que aconteceu nesse período. Em 2011, o Japão sofreu um dos maiores terremotos da sua história. Isso deu início um tsunami com ondas gigantes que começaram a se chocar com uma usina na prefeitura de Fukushima. A água, invadiu a usina e afetou os geradores do sistema de segurança. O problema é que essa não era uma usina comum, e sim uma usina nuclear com nada menos que seis reatores. Os funcionários fizeram de tudo para conseguir resfriar os reatores usando água do mar, mas mesmo assim os núcleos de três deles derreteram, causando um dos maiores acidentes
radioativos de todos os tempos. Com tudo isso rolando, o imperador ainda tinha outra preocupação, sua idade. Como Hirohito ficou no trono até ter quase 90 anos, seu filho Akihito já tinha quase 60 anos quando se tornou imperador. Ou seja, não era mais nenhum garotinho. E o Akihito fez coisas muito bacanas no seu reinado, especialmente voltadas para o passado recente do Japão. Ele fez diversas declarações expressando o remorso pelo sofrimento que a ocupação japonesa causou em países asiáticos. E visitou também locais de batalhas da Segunda Guerra para prestar homenagens aos soldados e civis mortos nesses lugares.
É legal pensar nisso quando olhamos para o nome desse período. Afinal, Heisei, uma palavra também tirada de livros antigos chineses, pode ser traduzida como 'paz em todos os lugares', algo que combina bem com essas atitudes do Akihito. Mas logo a idade começou a pesar de verdade, e em 2019, o imperador abdicou do trono, algo que não acontecia desde 1817. Mas claro que dessa vez não teve guerra civil nem nenhum shogun tentando conquistar o trono que simplesmente passou para seu filho. Isso nos leva ao imperador Naruhito, o atual ocupante do trono. E ele já pegou uma
com os primeiros casos de COVID aparecendo no planeta. O Japão foi um dos primeiros a sofrer com a epidemia, o que fez o governo até mesmo adiar a realização dos novos Jogos Olímpicos de Tóquio. Mas você já sabe disso tudo. Isso já faz parte do nosso tempo. Por isso, eu queria encerrar esse vídeo falando um pouco mais do passado. O Imperador atual é o número 126 a ocupar o trono. E, como eu disse antes, as evidências históricas apontam que ele, seu pai e todos os que vieram antes deles são descendentes do Kimmei, aquele que assumiu
o trono 1500 anos atrás e é o primeiro imperador que temos provas históricas que existiu. Sim, galera, é a mesma família. Então, quando nós olhamos para o Naruhito hoje, estamos olhando para toda a história do Japão. Nós sabemos que o Imperador não é um deus, mas também sabemos que ele carrega nos ombros o legado da história inteira que vimos aqui. E essa história é muito maior que a pessoa que ocupa o trono. Sim, o imperador carrega com ele a estratégia dos xoguns, a honra dos samurais, a inteligência dos monges budistas, a coragem dos camponeses que
fizeram o Japão crescer. Mas isso não está apenas nele. Está na identidade de todo o povo japonês. O período atual da história do Japão, se chama Freya, que pode ser traduzido como 'bela harmonia'. E harmonia é a palavra chave na história do Japão. O país passou por muitos problemas e desafios ao longo de séculos e, assim como acontece com todas outras nações, a história do Japão é feita de erros e de acertos. É uma história construída com sangue, suor e sorrisos. Mas, como a gente viu aqui, o Japão sempre consegue superar os obstáculos e reencontrar
sua harmonia. Se tem algo que podemos ter certeza depois desse vídeo é que não importa o tamanho das nuvens que estão no céu. No dia seguinte, o sol vai voltar a nascer na terra do Sol Nascente, que serve de lar para um dos povos mais admiráveis do planeta. Pessoal, esse foi o vídeo contando a história inteira do Japão. Se vocês curtiram deixemn seu 'gostei', se inscrevam aqui no canal e tem uma função nova no YouTube que é o botão 'Valeu'! Fica do lado do 'Compartilhar'. Lá você pode fazer uma contribuição aqui no canal, caso você
acredite que esse vídeo do Japão tenha valido a pena para você! Sua contribuição ficará visível para todo mundo aqui nos comentários. Muito obrigado pela audiência. Você pode me servir lá no Instagram, @fecastanhari. E calma, não vá embora! Porque você pode clicar aqui para ver um dos nossos últimos vídeos, como o Nostalgia do Tesla, falando de um dos inventores mais injustiçado da história, ou também a história do Brasil, a Primeira Guerra Mundial ou Segunda Guerra Mundial. Divirta-se! Um beijo, obrigado pela audiência e tchau!