HOMEM & MULHER, NEH? - Homilia - V Feira - V TC (2025)

Continuando a nossa leitura do livro do Gênesis, no capítulo 2, o segundo relato da criação diz-nos a Escritura: "O Senhor Deus é muito interessante", porque no texto hebraico se diz "Yé Elohim", se juntam os dois nomes. "Yim" disse: "não é que o homem esteja só, vou dar-lhe uma "ezer", uma auxiliar semelhante a ele". Esse nome "ezer" fala não apenas de complemento, mas também de socorro, de ajuda, de apoio, ou seja, o homem precisa de uma "ezer", de alguém que esteja ao seu lado e que seja semelhante a ele.

Então, o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu. Nesse relato, Deus cria os animais também da terra e as aves do céu, também da terra, também do barro, e trouxe-os a Adão para ver como os chamaria. Todo ser vivo teria o nome que Adão lhe desse.

Naquele contexto, é uma maneira de dizer que os seres vivos do ecúmeno, acerca do qual o texto se refere, o ecúmeno de Judá, têm representado exatamente quem eles são, ou seja, os nomes em uso naquele lugar. Adão deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens, mas Adão não encontrou uma auxiliar semelhante a ele. É interessante isso, ou seja, a questão aqui é dar o nome: quem é que é o meu complemento?

Quem é que eu posso chamar de outro, meu alter ego, a quem eu posso dar o meu mesmo nome? Então, dizendo de uma maneira simples: né, o macaco tem a macaca, o leão tem a leoa, e eu, né? Então, o Senhor Deus fez cair um sono profundo sobre Adão; quando este adormeceu, tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne.

Depois da costela tirada de Adão, o Senhor formou a mulher e conduziu-a a Adão. Então, a imagem é Deus tira a costela e Ele esculpe a costela como quem vai desbastando o osso, formando uma espécie de bonequinho de costela, e vem a mulher. É muito interessante: o verbo hebraico que aparece aqui não é o verbo "bará" (que é o verbo criar), mas é um verbo diferente, é o verbo "bana".

"Bana" é construir, é o verbo que se usa para falar de construção de casa, construção civil. Ele construiu a mulher da costela tirada de Adão. O Senhor, tanto é que o texto aqui utiliza exatamente a palavra "formou": o Senhor formou, ou seja, o Senhor construiu a mulher e conduziu-a a Adão.

O texto não dá detalhes aqui dessa narração, muito IDM perfeita, até de certo modo romântica, né? O que significa que Deus tirou a mulher da costela do homem? Por que o autor coloca as coisas assim?

Isso vai ficar claro na medida em que nós lemos a sequência, especialmente a sequência do capítulo 3. Também veremos. Então, vejam: "Yé Elohim" formou a mulher e levou-a até Adão.

Então, Adão exclamou: "Desta vez sim, é osso dos meus ossos, carne da minha carne. Ela será chamada 'Iá' porque foi tirada do 'Ish'. " Ela será chamada mulher porque foi tirada do homem.

Ou seja, ela pode receber o mesmo nome: "I" e "Iá", homem e mulher. Mas por que ela pode receber o mesmo nome? Porque ela é osso dos meus ossos e carne da minha carne.

Ela é igual a mim; nós temos a mesma constituição, carne e ossos, a mesma constituição física. A mulher aqui não é criada do barro, não é criada da terra. Os animais são criados da terra, as aves são criadas da terra, as feras são criadas da terra, Adão é criado da terra, mas a mulher não.

A mulher é criada do homem. Ou seja, o que o autor está querendo salientar é o fato de a mulher ser, para o homem, essa complementaridade que significa dependência. No texto da criação não parece ser isso, mas no texto do pecado original sim, porque Deus dirá: "O teu marido te dominará", porque o pecado vai introduzir um elemento de violência, vai introduzir o egoísmo, vai introduzir, portanto, um relacionamento degenerado.

E conclui o autor: "Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher, e os dois serão uma só carne. " Mais uma vez aqui: por quê? Pelo ato sexual, homem e mulher se unem através de uma conjunção carnal perfeita, que inclusive é aberta à vida.

O homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne. Está aqui porque a Escritura coloca a mulher feita a partir da costela. Porque ambos são uma só carne, se tornam, através da produção, uma só entidade.

Ora, ambos estavam NS Adão e sua mulher, e não se envergonhavam. Ou seja, exatamente como os animais, não há malícia. Bom, a teologia vai ler esse texto e vai extrair algumas conclusões antropológicas que têm muito a ver com tudo aquilo que diz respeito até às demais ciências.

Por exemplo, nós sabemos que o homem é um ser sexuado; o ser humano é sexuado. O que significa isso? Que um sexo possui todas as informações do outro sexo, a modo de carência.

Ou seja, a mulher tem o que o homem não tem, e o homem tem o que a mulher não tem. Isso é característico dos seres sexuados. Essa complementaridade tem uma, digamos, consequência psicológica.

O que o homem é psicologicamente, de certo modo, é o reverso do espelhamento feminino, e a mesma coisa vale para a mulher. Ou seja, o homem se forma como não mulher e a mulher se forma como não homem; têm características psicológicas diferentes, embora complementares. Basta, por exemplo, pegar qualquer psicólogo, mesmo o Dr Freud; ele concorda plenamente com isso.

Mulher e homem têm uma complementaridade psicológica que é basal para todos nós. E isso traz consequências. Consequências importantes que hoje as pessoas estão relativizando; ou seja, parece que o ser homem e o ser mulher já não é algo claro e definido, é um campo indeterminado.

Bom, isso parece, na minha opinião, pelo menos, ter muito a ver com a dependência que as filosofias modernas têm em relação à física. Então, por exemplo, a filosofia de Kant é uma transposição filosófica da física de Newton. É muito claro: tempo e espaço absolutos viram categorias a priori do entendimento na concepção do Kant.

Depois surgem todos os atomistas; a estrutura da realidade está definida pelos átomos, pelas partículas elementares. Então, surgem todas as filosofias que tentam descobrir a constituição oculta da realidade, ora o inconsciente, ora as estruturas de lutas de classes, ora as estruturas mesmo sociais que determinariam tudo, por exemplo, a filosofia estruturalista, etc. Depois surge a física quântica, que diz que as partículas subatômicas são campos indeterminados; ou seja, há algo de indeterminação, de não 100% previsível, nas partículas subatômicas.

Portanto, todas as ideologias pós-estruturalistas, tipo ideologia de gênero, seguem essa mesma base. O ser homem e o ser mulher é completamente determinado; qualquer um pode ser literalmente o que se inventar de si mesmo. Ora, será que isso realmente corresponde à nossa natureza ou àquilo que pode nos completar ou, de algum modo, nos preencher?

Ou as palavras do livro do Gênesis continuam sendo atuais: “o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne”? O fato de que o milagre da vida ainda dependa da união conjugal, e só não depende dela a partir de uma manipulação genética muito macabra, nos mostra que essas palavras continuam não apenas sendo atuais, mas elas têm a força que Deus deu à própria Constituição da natureza. Os antigos diziam que Deus perdoa sempre, o homem às vezes, mas a natureza nunca, porque, no final das contas, a natureza acaba prevalecendo.

E é por isso que essas ideologias passam e a natureza humana segue a sua marcha, à despeito de todas as técnicas, de todas as descobertas, ou de tudo aquilo que o homem possa inventar.