“O que é, então, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei o que é. Mas se tento explicar a quem pergunta, já não sei” — Santo Agostinho de Hipona, 397 depois de Cristo.
No final da tarde, sentado à janela de sua residência na costa norte da África, Agostinho de Hipona, um bispo romano, teólogo, filósofo e santo, conhecido por suas milhares de páginas escritas — impressionantes cinco milhões de palavras — que atravessaram séculos, observava o sol se pôr sobre o Mediterrâneo. As ondas quebravam na areia, formando montes irregulares. Logo, a noite cairia e seria hora de acender as lâmpadas, caso quisesse continuar seu trabalho.
Agostinho desejava que aquela luz dourada persistisse, que o tempo, de alguma forma, parasse ou até mesmo retrocedesse. Mas… como? Ele pensou no sol nascendo novamente no horizonte, como num amanhecer glorioso.
No entanto, o resto pareceria estranho: as ondas, ao invés de se espalharem pela praia, teriam que se recompor de maneira antinatural, com gotas d'água subindo desajeitadamente em direção ao mar. A ideia parecia contrariar a ordem divina e Agostinho afastou o desconforto desse pensamento. E se ele pudesse ver o tempo à sua frente, avançando impiedosamente de um momento ao outro?
As ondas continuariam a quebrar na praia, mas um dia avançariam sobre a cidade, engolindo sua casa e transformando tudo em ruínas e areia. Enquanto sua pena deixava marcas no pergaminho, sua mente vagava, contemplando o tempo como uma força que consumia tudo, espalhando desordem por onde passava. O mundo dos homens, com todas as suas conquistas, cairia em ruínas sem sentido; o mundo natural, que outrora florescia, se desintegraria, transformando-se em nada além de poeira.
E no céu, as estrelas, uma a uma, se apagariam, até que não restasse nada para marcar o passar do tempo. Sem nada mais a ser consumido, seria este o fim dessa força implacável? O que é, afinal, o tempo, senão uma marcha contínua rumo à desordem, uma força inevitável que destrói a criação e a transforma em uma infinita pilha de poeira?
Despertando de seu devaneio sombrio, Agostinho notou que a noite havia chegado. Com o último suspiro de luz do sol poente, ele tomou fôlego e escreveu suas palavras finais daquele dia: “O que é, então, o tempo? ” Se Agostinho tivesse a habilidade de vislumbrar o futuro e entender as mentes dos cientistas modernos, ele perceberia que suas visões sombrias não eram apenas imaginação, mas estavam em total acordo com as descobertas da física teórica e da cosmologia mais avançadas.
A besta que ele temia, alimentada pela entropia crescente, é de fato imparável e implacável. No entanto, essa força não é guiada por algum demônio destruidor, mas pelas leis imutáveis da matemática que governam o universo desde seu nascimento até o fim inevitável. A entropia, a ideia de desordem crescente no universo, segue as leis da matemática que regem as partículas e a energia.
Ela move a flecha do tempo, sempre nos impulsionando em direção a um futuro inevitável e inescapável, enquanto o passado permanece eternamente fora de nosso alcance. PARTE I - O QUE É O TEMPO? Cerca de 1.
500 anos após Agostinho ter se perdido nas palavras para definir o tempo, a cidade industrial de Manchester, na Inglaterra, se preparava para manipulá-lo. No início do século 19, o tempo era regulado localmente com base nos relógios de sol, o que criava diferenças de até 30 minutos entre a parte leste e oeste do país. Com a Revolução Industrial e a expansão das ferrovias, surgiu a necessidade de uma sincronização geral.
Uma simples discrepância de minutos entre Londres e outras cidades poderia causar sérios problemas, como passageiros perdendo seus trens ou, pior ainda, colisões entre locomotivas. Pela primeira vez na história, o próprio conceito de tempo foi ajustado para atender às demandas do capitalismo. Em janeiro de 1846, os cidadãos de Manchester vivenciaram uma espécie de salto no tempo, quando os relógios da cidade foram adiantados em 13 minutos para sincronizar com o horário padronizado pelo Observatório Real de Greenwich, em Londres.
Apesar de o sol continuar a se pôr 13 minutos mais tarde em Manchester do que em Londres, o tempo agora estava unificado em função da revolução da indústria. A verdade é que esse horário padrão que adotamos hoje é, em grande parte arbitrário, pouco mais do que uma estrutura imaginária, uma convenção artificial. Ele é apenas uma ferramenta para organizar nossas vidas e sincronizar nossas atividades.
No entanto, a introdução das locomotivas a vapor e da ferrovia fez com que a humanidade repensasse a própria natureza do tempo de uma forma completamente nova. Cerca de 20 anos antes de os relógios ingleses se ajustarem à força imparável da ferrovia, o engenheiro e físico francês Sadi Carnot estava intrigado com as máquinas a vapor que alimentavam esse progresso. Em 1824, ao estudar o funcionamento dessas máquinas que impulsionavam o crescimento industrial, Carnot fez uma observação profética.
Na época, as máquinas a vapor já eram amplamente utilizadas, trazendo riqueza para aqueles que as abraçavam. Contudo, pouco se sabia sobre como elas funcionavam de fato. Carnot, em suas reflexões sobre a força motriz do fogo, observou algo que hoje nos parece óbvio: o calor sempre flui de um corpo mais quente para um mais frio.
Esse simples princípio explica uma infinidade de fenômenos, como o fato de uma lareira aquecer uma sala fria, cubos de gelo derreterem sob o sol, e planetas recém-formados, incandescentes, eventualmente se solidificarem e esfriarem no vácuo espaço. É um processo natural e irreversível, e essa irreversibilidade é o que alimenta todas as máquinas térmicas. Foi com essa percepção que Carnot estabeleceu os fundamentos daquilo que, mais tarde, se tornaria a Segunda Lei da Termodinâmica.
Ao longo do século seguinte, essa lei foi refinada e desenvolvida, sendo finalmente alinhada com as estruturas físicas que compreendemos hoje. Atualmente, sabemos que não é apenas o calor que se comporta dessa maneira, mas todos os sistemas no universo seguem uma única direção, a qual sempre diminui a energia livre disponível. Chamamos essa progressão de entropia, uma medida matemática que quantifica o grau de desordem dentro de um sistema.
A entropia mede, de forma específica, o número de maneiras possíveis de organizar uma estrutura macroscópica — algo em grande escala — a partir de suas partes microscópicas. Uma locomotiva a vapor, por exemplo, é uma estrutura altamente organizada. Existem pouquíssimas formas de combinar todas as suas partes para obter uma máquina funcional.
Por isso, dizemos que sua entropia, ou grau de desordem, é baixa. Em contraste, uma pilha de sucata no ferro-velho, que contém as mesmas peças da locomotiva, é altamente desorganizada. Existem inúmeras maneiras de arrumar essa sucata em uma pilha caótica, o que aumenta drasticamente sua entropia.
E há um princípio imutável: a entropia tende sempre a aumentar. Uma locomotiva a vapor em perfeito funcionamento, se abandonada e exposta ao tempo, acabará inevitavelmente se transformando em uma pilha de destroços. As chances de que esse monte de peças se reorganize sozinho e se transforme novamente em uma máquina funcional são virtualmente inexistentes.
A ordem se desfaz e a desordem prevalece. Assim, quando o carvão queima dentro da caldeira da locomotiva, ele se transforma irreversivelmente de uma estrutura rica em energia em uma pilha desordenada de cinzas, enquanto a energia que ele continha é liberada em forma de calor. Essa propriedade fundamental do nosso universo não explica apenas o funcionamento das máquinas a vapor; ela também é o que sustenta o próprio conceito de tempo.
A irreversível mudança na entropia de tudo ao nosso redor nos oferece uma maneira de diferenciar um momento do outro. PARTE II - A FLECHA DO TEMPO Era pouco depois do amanhecer quando Arthur Eddington retornava para casa, caminhando pelas tranquilas ruas de Cambridge. Ele passou a noite observando o céu no observatório de sua universidade, e sua mente ainda estava ocupada com as imagens das estrelas, enquanto tentava compreender seus movimentos cósmicos.
Em 1917, Arthur Eddington, como Quaker e pacifista, enfrentava constantes acusações de ser covarde por não apoiar a guerra. Contudo, quando o assunto era decifrar os mistérios do cosmos, Eddington demonstrava uma coragem imensurável. Ele se tornaria um dos maiores especialistas do mundo em gravidade e relatividade.
Em 1928, Arthur escreveu um livro ousado que popularizou o conceito de entropia, tornando-o acessível a todos. Ele convidou o leitor a imaginar o aumento da entropia universal como uma flecha que só pode apontar em uma direção: da ordem para a desordem, do passado para o futuro. Assim, ele definiu as bases para o conceito da flecha do tempo, que é moldada pela mudança irreversível na entropia de um momento para o outro.
À medida que o tempo avança, a desordem aumenta, e essa evolução contínua e inevitável do caos no universo é o que marca a passagem do tempo. A flecha do tempo, portanto, explica por que o tempo sempre avança, por que a causa deve preceder o efeito, e por que nós, seres humanos, só conseguimos experimentar o tempo dessa forma. A ideia de viagem no tempo tornou-se um dos pilares da ficção científica, desafiando nossas mentes com os paradoxos que ela cria.
No entanto, para viajar para trás no tempo, seria necessário vivenciar o universo de uma maneira completamente contrária à natureza: com a entropia diminuindo, e o caos se transformando espontaneamente em ordem. Seria como ver as ondas recuando e desfazendo seu impacto na praia, ou ver uma pilha de destroços se reorganizar em uma máquina perfeitamente funcional. Esse cenário não apenas soa bizarro, mas também viola a flecha do tempo que governa o universo e nossas próprias percepções.
Mesmo que alguém pudesse viajar instantaneamente para o passado e continuasse a experimentar o tempo normalmente a partir daquele ponto, surgiria um problema: não haveria uma seta universal do tempo consistente, pois o passado e o presente estariam em conflito. Em teoria, se fosse possível viajar mais rápido do que a velocidade da luz, a relação peculiar entre espaço e tempo nos levaria, inevitavelmente, a nos mover para trás no tempo — pelo menos, é o que as equações sugerem. Mas a realidade é muito diferente.
A velocidade da luz é uma das constantes mais firmes e imutáveis do universo. De acordo com a teoria da relatividade de Einstein, ao nos aproximarmos da velocidade da luz, nossa massa aumentaria indefinidamente, enquanto nosso tamanho se reduziria a zero. Superar essa barreira violaria todas as leis da física que conhecemos.
Além disso, ao viajar mais rápido que a luz e retroceder no tempo, chegaríamos ao nosso destino antes mesmo de partirmos, ficando presos em um loop causal. Nesse ciclo fechado, estaríamos desconectados do universo que conhecemos, onde a flecha do tempo garante que uma causa sempre venha antes de um efeito. O físico Stephen Hawking tinha tanta certeza de que a viagem no tempo para o passado era impossível, que organizou uma festa em 28 de junho de 2009 — e só enviou os convites no dia seguinte.
A única maneira de alguém comparecer à festa seria viajando de volta no tempo. Como previsto, ninguém apareceu, deixando Hawking sozinho com 10 garrafas de champanhe. Viajar para o futuro, entretanto, é bem mais simples — na verdade, estamos todos fazendo isso agora.
A cada segundo que vivemos, avançamos um segundo no tempo. No entanto, é possível acelerar essa jornada se nos aproximarmos de um buraco negro e ficarmos sob sua poderosa influência gravitacional, que distorce o espaço-tempo. Se orbitarmos próximo ao horizonte de eventos de um buraco negro rotativo, com cerca de oito vezes a massa do Sol, poderíamos avançar no tempo 60 mil vezes mais rápido do que aqueles que ficaram na Terra.
Em apenas um segundo de nossas próprias vidas, poderíamos pular o equivalente a 17 horas terrestres. A flecha do tempo define a direção, mas não a velocidade com que podemos percorrê-la. Essa direcionalidade do tempo, também chamada de não-simetria, é uma peculiaridade que contrasta com a maioria das outras leis físicas do cosmos.
Por exemplo, a atração gravitacional é a mesma em qualquer lugar ou momento em que se observe, e duas partículas em um gás colidem e ricocheteiam entre si de maneira previsível, como bolas de aço, conservando sua energia e velocidade. Essas colisões pareceriam exatamente iguais se fossem exibidas tanto para frente quanto para trás no tempo. Portanto, a flecha do tempo não emerge dos movimentos das partículas individuais, pois estas obedecem apenas às leis simétricas da física.
O aumento da entropia e a passagem do tempo não são uma consequência direta das leis físicas que conhecemos, mas sim uma característica inescapável do universo em que habitamos. Reconciliar esses dois fatos permanece um dos grandes mistérios não resolvidos da física moderna. Alguns chegaram a sugerir que a própria existência do tempo é uma ilusão, nascida de nossa incapacidade de perceber completamente a natureza do mundo ao nosso redor.
No início do século XIX, o filósofo e físico francês Pierre-Simon Laplace teorizou a existência de um ser onipotente, conhecido como “o demônio de Laplace”, que seria capaz de conhecer a posição e o momento exato de cada átomo no universo. Com esse conhecimento, o demônio poderia prever perfeitamente o estado do cosmos em qualquer ponto no passado ou no futuro. Será que essa entidade onisciente poderia realmente existir?
As leis simétricas do universo sugerem que sim, mas a entropia e o tempo parecem indicar o contrário. A irreversibilidade do tempo, criada pela dissipação de energia e pelo aumento da desordem em um sistema, torna impossível fazer previsões precisas sobre o passado ou o futuro. Além disso, em uma escala menor, o universo é regido pelas leis da mecânica quântica, onde a incerteza reina.
O princípio da incerteza quântica nos impede de conhecer, ao mesmo tempo, a posição exata e a velocidade de um átomo, muito menos de todos os átomos do universo. Se isso fosse possível, a entropia perderia seu significado, e o conceito de tempo, como o entendemos, deixaria de existir. Contudo, essa reflexão não resolve a questão de por que a assimetria do tempo existe em primeiro lugar.
Cientistas modernos sugerem que nossa capacidade de perceber a flecha do tempo é resultado de nossa proximidade ao evento que deu origem ao universo: o Big Bang. Da mesma forma que os conceitos de cima e baixo só fazem sentido quando estamos perto da superfície da Terra, nossa posição relativamente próxima ao Big Bang, em termos cosmológicos, nos permite definir uma direção clara no tempo. Se isso for verdade, então o Big Bang representou um momento de condições extremas, a partir do qual o universo ainda está se desfazendo, quase 14 bilhões de anos depois.
PARTE III - O INÍCIO DOS TEMPOS Ludwig Boltzmann nunca foi de ficar muito tempo em um só lugar. Ao longo do final do século XIX, ele mudou de cargo em Viena, Gratz (Áustria), Heidelberg (Alemanha) e Berlim. Em sua personalidade, Boltzmann parecia refletir o comportamento dos próprios átomos que estudava — sempre em movimento, nunca parando, cheio de energia imprevisível, capaz de levá-lo da euforia exaltada à depressão profunda.
Entretanto, essas oscilações emocionais pouco afetaram sua paixão pela ciência. Ele foi um visionário, à frente de seu tempo, com sua perspectiva atômica do mundo, e foi pioneiro na criação de um novo campo da ciência: a mecânica estatística. Por meio dela, Boltzmann forneceu uma estrutura para compreender, pela primeira vez, o crescimento inevitável da entropia.
Boltzmann simplificou o comportamento das partículas ao imaginar colisões semelhantes às de bolas de bilhar. A física e a geometria dessas colisões são previsíveis, desde que se conheça a velocidade e o ângulo de impacto, e que as leis naturais usuais sejam aplicadas. No entanto, à medida que mais colisões ocorrem, a mesa de bilhar se torna cada vez mais desordenada.
Com o passar do tempo, torna-se menos provável que as colisões resultem em um padrão ordenado. Embora não seja impossível, é extremamente improvável. Pode acontecer uma vez, mas viajar contra o fluxo do tempo seria pedir que essa ordem improvável continuasse a acontecer repetidamente, algo que desafia todas as probabilidades.
Boltzmann argumentou que a segunda lei da termodinâmica, e consequentemente a flecha do tempo, era uma necessidade estatística, um resultado inevitável do fato de que estados desordenados são muito mais prováveis do que estados ordenados, mesmo em um universo governado por leis naturais simétricas e impassíveis. Tragicamente, Boltzmann foi duramente criticado por sua abordagem matemática para explicar a natureza da existência, e sua luta contra essas críticas o levou a cometer suicídio antes que suas teorias pudessem ser confirmadas. Hoje, ao visualizarmos o universo como uma mesa de bilhar infinita, a entropia crescente que define a flecha do tempo nos revela que ainda estamos no início do jogo.
Isso significa que o universo deve ter começado com um grau muito maior de ordem, pois estamos, estatisticamente, nos movendo em direção a uma maior aleatoriedade. Contudo, com base no que sabemos sobre os primeiros momentos do cosmos, isso pode parecer contra-intuitivo. Afinal, uma sopa homogênea de prótons e energia pura, à primeira vista, parece muito mais caótico e desordenado do que as estrelas, galáxias e seres humanos que vemos hoje.
Como um universo tão uniforme poderia ter uma entropia mais baixa do que o universo complexo e organizado que habitamos atualmente? Na verdade, é possível calcular a entropia do universo primordial e compará-la com a do universo moderno usando a constante de Boltzmann. Durante o Big Bang, a entropia do jovem universo, comprimido e cheio de radiação, não era exatamente baixa — ela era equivalente a 10 elevado à potência 88 vezes a constante de Boltzmann, ou seja, um número com 88 zeros.
Em comparação, a entropia do universo atual é um número com 103 zeros, o que significa que ela aumentou em alguns quatrilhões de vezes. Assim, de fato, a entropia do universo aumentou, mas o ponto de partida não era tão baixo quanto poderíamos imaginar. O que descobrimos é que a ordem à qual nós, humanos, estamos acostumados tem um impacto insignificante na entropia geral do universo.
Em 14 bilhões de anos, o tempo praticamente não mudou a entropia da radiação de fundo cósmico que permanece desde o início. O que realmente fez a entropia aumentar em um fator de um quatrilhão foi a adição de uma estrutura particular: os buracos negros. Esses objetos misteriosos que habitam os centros das galáxias e espreitam no vazio do espaço são o resultado de enormes quantidades de matéria sendo comprimidas em volumes incrivelmente pequenos.
Em um buraco negro, há tanta matéria, tantas partículas, que existem quase infinitas formas de organizá-las, mas todas resultam no mesmo imenso buraco negro, desprovido de luz, perdido no espaço. Essa vasta quantidade de possíveis configurações é suficiente para causar um impacto significativo na entropia de todo o universo. O buraco negro localizado no centro da Via Láctea, por exemplo, possui uma entropia mil vezes maior do que todo o universo logo após o Big Bang.
Com o passar do tempo, as leis da gravidade continuarão a guiar a formação de novos buracos negros, e os já existentes crescerão, elevando a entropia do cosmos e impulsionando a flecha do tempo sempre em frente. Mas, como você já deve imaginar, isso não durará para sempre. PARTE IV - O FIM DOS TEMPO A morte térmica do universo marcará o momento em que toda a energia estará distribuída uniformemente por um espaço quase infinito.
Por enquanto, a entropia segue aumentando dentro dos buracos negros, e a desordem do universo continua a crescer gradualmente à medida que a flecha do tempo avança de forma implacável. Contudo, um dia, trilhões de anos no futuro, os buracos negros terão devorado todas as últimas partículas do cosmos, e eles próprios terão evaporado. Nada sobreviverá a esse desfecho inevitável.
Quando toda a energia e matéria cessarem de existir, a entropia atingirá seu valor máximo, resultando em um ruído branco de completa aleatoriedade em equilíbrio final. E, como o tempo não pode retroceder, esse estado permanecerá para sempre, sem qualquer mudança. Nesse ponto, o tempo deixará de ter significado.
Este é, de fato, o fim do tempo: um universo frio, negro e vazio, existindo fora dos limites do tempo e do espaço como os conhecemos. Mas seria um erro acreditar que nada acontece nesse universo vazio. Embora a entropia atinja seu valor máximo, isso apenas significa que há um número praticamente infinito de formas pelas quais o universo pode ser rearranjado.
Mesmo nesse estado final, a matéria pode passar por permutações aleatórias, fazendo com que o equilíbrio entrópico seja, na verdade, dinâmico. Embora o universo como um todo não se torne mais ordenado, as probabilidades indicam que pequenas flutuações podem gerar bolsões de organização de forma aleatória. Pense nisso como lançar 100 moedas ao ar: é extremamente improvável que todas caiam com a face voltada para cima, mas não é impossível.
E como esse universo, em sua fase final e aleatória, é efetivamente eterno, haverá inúmeras oportunidades para que esses lançamentos aleatórios resultem em qualquer coisa que possamos imaginar. O físico moderno Sean Carroll usou esse princípio para criar uma possível narrativa de origem para o nosso próprio universo. Imagine que um universo tenha vivido sua vida e chegado ao seu fim entrópico bilhões de anos atrás.
O resultado seria um universo pai, imutável e atemporal, com flutuações locais aleatórias de entropia. Uma dessas flutuações poderia, talvez, organizar sua energia de tal forma que criasse um pequeno bolso de entropia incrivelmente baixa — um universo bebê, com as bolas de bilhar metaforicamente prontas para o primeiro lance. Carroll sugere que esse poderia ser o início do nosso Big Bang e o começo da nossa flecha do tempo, nascido como um soluço de um universo pai atemporal.
A ideia de um universo cíclico, onde um cosmos pai dá origem a universos bebês, parece bastante convincente, e se encaixa bem com muitas narrativas de criação cíclica. No entanto, também levanta uma possibilidade estranha e perturbadora. Se esse cosmos ancestral, com seus infinitos lançamentos de moedas, pode criar um universo completamente novo, também pode criar praticamente qualquer outra coisa que possamos imaginar, inclusive mais versões de nós mesmos.
E, curiosamente, criar novas versões de nós, ao contrário de universos inteiros, requer muito menos lançamentos de moedas. Mais especificamente, esse cenário sugere que o cosmos poderia gerar cérebros humanos sem corpos, flutuando sozinhos pelo espaço. Esse conceito, conhecido como “Cérebro de Boltzmann”, em homenagem ao trabalho de Ludwig Boltzmann, é parte de um experimento mental que questiona nossas teorias sobre o fim eterno e desordenado do universo.
Parece extremamente improvável que um universo frio e vazio possa criar espontaneamente um cérebro humano completo, capaz de ter pensamentos, sensações artificiais e até memórias. No entanto, tecnicamente, é uma das muitas permutações possíveis que um cosmos altamente desordenado pode experimentar. Dado tempo suficiente, essa permutação aparentemente impossível poderia surgir, e com tempo ainda maior, poderia acontecer repetidas vezes.
Do ponto de vista puramente estatístico, em um universo que se aproxima do seu fim entrópico, cérebros de Boltzmann são inevitáveis. Surpreendentemente, se considerarmos apenas probabilidades, humanos reais, com corpos físicos e toda a complexidade biológica que conhecemos, são muito menos prováveis do que cérebros de Boltzmann flutuando em um universo desordenado que passou por trilhões de anos de permutações aleatórias. Essa conclusão nos leva a uma ideia desconcertante: estatisticamente, nossos pensamentos e experiências são muito mais propensos a ser uma ilusão criada por cérebros de Boltzmann em um universo fictício do que o reflexo de um cosmos real, quase 14 bilhões de anos após seu nascimento.
Felizmente, a maioria dos físicos não acredita que essa seja a realidade, e a meta da cosmologia moderna é encontrar uma teoria que evite esse cenário sombrio e que ofereça uma explicação sólida para nossa existência, sem uma eternidade repleta de cérebros sonhadores. Se realmente estamos aqui, experienciando o universo como o vemos, com quase 14 bilhões de anos de história, então a ideia de que o universo continuará para sempre em um estado atemporal deve estar errada. Precisamos de uma teoria que forneça um fim definitivo para o espaço-tempo antes que as estatísticas tenham a chance de gerar mais cérebros de Boltzmann do que seres humanos reais.
Atualmente, várias possibilidades estão sendo ativamente exploradas no campo da física teórica. Algumas teorias incluem um universo em contração que culminaria em um Grande Colapso seguido de renascimento, ou colisões de branas na teoria das cordas multidimensionais, que poderiam, eventualmente, nos eliminar. A busca por respostas continua, com a esperança de encontrar uma solução definitiva.
E, assim, Santo Agostinho estava mais certo do que imaginava quando escreveu que o tempo escapa a qualquer definição. Arthur Eddington conseguiu descrever a seta do tempo, mas nunca foi capaz de compreendê-la completamente. Boltzmann, com toda sua brilhante inquietação, criou um demônio estatístico que continua a ameaçar nossa percepção de realidade.
E até hoje, os físicos modernos ainda não possuem uma explicação clara para o início ou o fim do tempo. Isso nos leva a uma reflexão sombria: talvez todas essas mentes influentes, que tentaram decifrar o mistério do tempo, fossem, na verdade, apenas mentes flutuando pelo espaço, sonhando com um universo que quase conseguiam entender. Talvez, mais perturbador ainda, nossa própria lembrança desses estudiosos seja uma ficção, criada por um único cérebro de Boltzmann, à deriva em um universo eterno e atemporal.
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