O calor abafado de janeiro em Buenos Aires parecia amplificar cada emoção que eu sentia naquele momento. Sentada na nossa sala de estar, no bairro de Palermo, observava Martim, meu marido de 15 anos, arrumar sua mala com uma casualidade que me revoltava. Cada peça de roupa que ele dobrava cuidadosamente era como uma punhalada no meu peito.
"Catalina, vou passar a noite fora. Tenho uma reunião em Tigre amanhã cedo e decidi ir hoje para evitar o trânsito", disse ele, sem nem ao menos me olhar nos olhos. Eu, Catalina Montero, 38 anos, advogada respeitada e nascida e criada em Buenos Aires, sabia exatamente o que aquilo significava.
Não era a primeira vez que Martim inventava desculpas para suas noites fora. O pior é que eu sabia há meses sobre sua amante, Valeria, uma jovem secretária de seu escritório de arquitetura. "Claro, querido, entendo perfeitamente", respondi, mantendo minha voz tão neutra quanto possível.
Naquele momento, minha sogra Estela entrou na sala. Ela morava no apartamento ao lado e tinha o péssimo hábito de aparecer sem avisar. Seus olhos brilharam ao ver a mala de Martim.
"Ah, meu filho está viajando a trabalho! Que bom, você merece um tempo fora, carinho", disse ela, sorrindo para Martim como se ele fosse um menino de 10 anos que tinha ganhado uma viagem para a Disneylândia. Eu sorri de volta, sentindo o gosto amargo da bile subir pela minha garganta.
"Exato, Estela, e agora ele vai ter bastante tempo para refletir no seu quarto de hóspedes. " O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Martim congelou; a camisa que estava dobrando caiu no chão.
Estela me olhou como se eu tivesse duas cabeças e eu mantive meu sorriso, sentindo uma mistura de adrenalina e náusea percorrer meu corpo. "O que você quer dizer com isso, Kata? " perguntou Martim, sua voz trêmula, traindo seu nervosismo.
"Ah, nada demais, meu amor. Só que eu sei sobre Valeria, sobre seus encontros no hotel Faena e sobre como você tem mentido para mim nos últimos seis meses", respondi, minha voz surpreendentemente calma. "E agora você terá todo o tempo do mundo para refletir sobre suas escolhas no quarto de hóspedes.
" O rosto de Martim empalideceu enquanto Estela ofegava, levando a mão ao peito, como se estivesse prestes a ter um ataque cardíaco. "Catalina, você não pode estar falando sério! " Estela começou, mas eu a interrompi com um gesto.
"Estela, com todo o respeito, isso é entre seu filho e eu. Sugiro que você volte para sua casa agora. " Relutante, mas claramente chocada demais para argumentar, Estela saiu do apartamento, não sem antes lançar um olhar preocupado para Martim.
Assim que a porta se fechou, Martim desabou no sofá. "Cata, eu posso explicar. " "Explicar o quê, Martim?
Como você tem dormido com sua secretária de 25 anos enquanto eu trabalhava até tarde no escritório? Ou talvez como você usou o dinheiro que economizamos para nossa viagem à Europa para levá-la a hotéis de luxo? " Cada palavra que saía da minha boca era como veneno, anos de mágoa e decepção finalmente encontrando uma válvula de escape.
Martim tentou falar, mas eu o silenciei com um olhar. "Não, Martim. Agora você vai me escutar.
Eu sei de tudo. Cada mentira, cada desculpa esfarrapada. E sabe o que é pior?
Eu dei a você a chance de honrar o que temos. Tantas vezes eu perguntei se havia errado, se você me amava, e todas as vezes você me olhou nos olhos e disse que sim. Estava disposta a perdoar suas mentiras e traições.
" "O que você quer que eu faça? " perguntou Martim, o desespero em sua voz. “Quero que você saia da casa de Valeria para um hotel e vamos conversar sobre isso.
" "Eu amo você! " "Se me amasse, não teria feito isso. Agora, saia antes que eu o deteste.
" Martim pegou sua mala e caminhou em direção à porta. Antes de sair, ele se virou para mim uma última vez: "Sinto muito, Cata, de verdade. " Assim que a porta se fechou atrás dele, desabei no chão, soluçando.
Anos de amor, confiança e sonhos compartilhados, tudo reduzido a cinzas em questão de minutos. Não sei quanto tempo fiquei ali chorando no chão da sala. Poderia ter sido horas.
"Ela teve uma briga horrível", disse Lucia, entrando no apartamento e me abraçando. Deixei-me ser abraçada, sentindo o conforto da presença de Lucia. Antes que pudesse tomar uma decisão, outra mensagem chegou, dessa vez de um número desconhecido.
"Oi, Catalina, aqui é a Sofia, sua vizinha do 5B. Desculpe me intrometer, mas não pude deixar de ouvir a discussão mais cedo. Se precisar conversar ou de qualquer coisa, estou aqui.
" Sorri levemente, surpresa pela gentileza inesperada. Sofia era conhecida no prédio como a fofoqueira oficial, sempre sabendo de tudo que acontecia com todos. Nunca imaginei que ela pudesse oferecer apoio em um momento como esse.
Decidi responder a Carlos primeiro: "Obrigada por avisar, Carlos. Por favor, chame um táxi para Martim e certifique-se de que ele vá para um hotel, não para nossa casa. Não quero ver ele agora.
" Em seguida, respondi a Sofia: "Obrigada, Sofia. Aprecio sua preocupação. Talvez possamos tomar um café qualquer dia desses.
" Colocando o celular de lado, voltei a contemplar a cidade. Amanhã seria um novo dia, o primeiro dia do resto da minha vida sem Martim. A ideia era assustadora e libertadora ao mesmo tempo.
O som da campainha me arrancou dos meus pensamentos. Olhei para o relógio: 2:30 da manhã. Quem poderia ser a essa hora?
Com o coração acelerado, fui até a porta e olhei pelo olho mágico. Para minha surpresa, era Valeria, a amante de Martim. Hesitei por um momento, considerando se deveria abrir ou não.
A curiosidade venceu o bom senso e eu destrancei a porta. "Catalina", ela disse, sua voz embargada. "Eu.
. . eu.
. . muito.
. . eu não sabia.
Ele me disse que vocês estavam se separando. " Fiquei ali olhando para ela, uma mistura de pena e raiva se agitando dentro de mim. Parte de mim queria gritar com ela, culpá-la por tudo, mas outra parte reconhecia que ela também era uma vítima das mentiras de Martim.
Entre disse, finalmente, dando um passo para o lado, Valeria entrou hesitante, como se esperasse que eu mudasse de ideia a qualquer momento e a expulsasse. "Sente-se," disse, indicando o sofá. Valeria obedeceu, sentando-se na beirada, como se estivesse pronta para fugir a qualquer momento.
Fui até a cozinha e voltei com dois copos d'água. Entreguei um a Valeria e sentei-me na poltrona oposta a ela. Então, comecei, tentando manter minha voz neutra: "Martim te disse que estávamos nos separando?
" Valeria sentiu lágrimas frescas escorrendo pelo seu rosto. "Ele disse que vocês estavam dormindo em quartos separados há meses, que o casamento estava acabado. Eu fui tão estúpida em acreditar!
" Fechei os olhos por um momento, sentindo uma nova onda de raiva contra Martim. Não bastava me trair; ele tinha que mentir para Valeria também. "Olha," Valeria disse, abrindo os olhos novamente, "não vou fingir que não estou magoada, com raiva, mas entendo que você também foi enganada.
" Valeria levantou os olhos, surpresa com minhas palavras. "Você. .
. você não me odeia? " "Suspirei profundamente.
Odiar você não vai mudar nada. Martim é o único culpado aqui. Ele traiu a mim e mentiu para você.
" Um silêncio pesado caiu sobre nós. Eu podia ouvir o tique-taque do relógio na parede, marcando os segundos deste surreal momento. "O que você vai fazer agora?
" perguntei finalmente. Valeria enxugou as lágrimas com as costas da mão. "Eu não sei.
Pedi demissão do escritório hoje à noite, depois que Martim apareceu bêbado, fazendo uma cena. Não posso continuar trabalhando lá depois disso tudo. " A senti compreendendo.
"E quanto a Martim? " "Acabou," ela disse com firmeza. "Eu não quero mais nada com ele.
" Como pode ser tão cega? Aquele momento, senti uma estranha conexão com Valeria; ambas havíamos sido enganadas pelo mesmo homem. Ambas estávamos sofrendo por causa de suas mentiras.
"Sabe," comecei, surpresa com as palavras que estavam saindo da minha boca, "conheço uma advogada que está procurando uma assistente. Se você estiver interessada, posso falar com ela. " Valeria me olhou chocada.
"Você. . .
você faria isso por mim, depois de tudo? " Dei de ombros. "Considere como uma forma de nós duas seguirmos em frente.
Além disso, seria uma pena desperdiçar sua experiência por causa de um homem. " Pela primeira vez naquela noite, vi um pequeno sorriso aparecer no rosto de Valeria. "Obrigada, Catalina.
Eu. . .
eu não sei o que dizer. " "Não precisa dizer nada," respondi. "Apenas prometa que vai seguir em frente e não vai deixar Martim arruinar sua vida.
" Valeria assentiu vigorosamente. "Prometo. E mais uma vez, sinto muito por tudo.
" Depois que Valeria foi embora, voltei para a varanda. O céu começava a clarear, os primeiros raios de sol pintando o horizonte de tons de rosa e laranja. Uma nova manhã estava chegando, trazendo consigo a promessa de um novo começo.
Nos dias que se seguiram, minha vida se tornou um turbilhão de atividades, entre consultas com o advogado que Martim recomendou, longas conversas com Lucia e tentativas de evitar minha sogra, Estela. Mal tive tempo para processar tudo o que estava acontecendo. Uma semana após aquela fatídica noite, estava sentada no Café Tortoni, um dos mais antigos e tradicionais de Buenos Aires.
O lugar sempre me trazia conforto, com sua decoração de arte no vôo e o aroma de café recém-passado. Estava esperando por Lucia para nosso tradicional café da manhã de sábado. "Desculpe pelo atraso, querida," disse Lucia, sentando-se à minha frente.
"O trânsito estava horrível na Avenida de Maio. " "Não tem problema," respondi, sorrindo para minha amiga. "Já pedi seu café com leite e medialunas.
" Lucia sorriu, agradecida. "Você me conhece tão bem. E então, como estão as coisas?
" Suspirei, mexendo meu café distraidamente. "Complicadas. O advogado disse que Martim está contestando o divórcio, alegando que foi um erro momentâneo e que merece uma segunda chance.
" Lucia revirou os olhos. "Típico. E o que você vai fazer?
" "Vou seguir em frente com o divórcio," respondi com firmeza. "Não há volta depois do que ele fez. " Nesse momento, notei um movimento com o canto do olho.
Virando-me, vi Carlos, o colega de trabalho de Martim, entrando no café. Ele me viu e, após um momento de hesitação, veio até nossa mesa. "Catalina, que surpresa te ver aqui," disse ele, parecendo desconfortável.
"Olá, Carlos," respondi educadamente. "Esta é minha amiga Lucia. " Carlos cumprimentou Lucia com um aceno de cabeça, antes de voltar sua atenção para mim.
"Escuta, Catalina, sobre aquela noite no escritório. . .
Martim está realmente arrependido; ele não para de falar sobre como cometeu o maior erro da vida dele. " Senti Lucia se tensionar ao meu lado, pronta para me defender se necessário, mas eu mantive a calma. "Carlos, agradeço sua preocupação, mas o que acontece entre Martim e eu não é da sua conta.
Por favor, não se envolva mais nisso. " Carlos parecia querer dizer algo mais, mas mudou de ideia. Com um último olhar desconfortável, ele se afastou em direção ao balcão.
"Que cara chato," murmurou Lucia assim que Carlos estava fora de alcance. "Como se você precisasse ouvir sobre o arrependimento de Martim. " Dei de ombros, tentando não deixar o encontro arruinar nosso café da manhã.
"Vamos mudar de assunto. Como vão as coisas na galeria? " Enquanto Lucia me contava sobre sua mais recente exposição de arte, não pude deixar de pensar em como minha vida havia mudado em tão pouco tempo.
Há duas semanas, eu era uma mulher casada, achando que tinha uma vida estável e feliz; agora, estava no meio de um processo de divórcio, redescobrindo quem eu era fora do meu casamento. O som de tango flutuava suavemente pelo café, me lembrando de todas as noites que Martim e eu dançamos juntos em nossa sala de estar. A música que antes me trazia alegria agora carregava uma ponta de tristeza.
De melancolia, a Terra chamando. Catalina, a voz de Lucia me trouxe de volta à realidade. — Onde você estava?
— desculpe, Lu, sorri fracamente. — Acho que me perdi nos meus pensamentos por um momento. Lucia me olhou com compreensão.
— Está tudo bem, querida. Vai levar tempo, mas você vai superar isso. Você é a mulher mais forte que eu conheço.
Suas palavras aqueceram meu coração. — Obrigada, Lu. Não sei o que faria sem você.
Terminamos nosso café da manhã entre conversas leves e risadas ocasionais. Ao sairmos do café, o sol de Buenos Aires nos recebeu com seu calor reconfortante. — Que tal darmos uma volta pelo San Telmo?
— sugeriu Lucia. — O mercado de antiguidades deve estar animado hoje. Concordei, grata pela distração.
Enquanto caminhávamos pelas ruas de paralelepípedos do bairro histórico, observando as bancas coloridas e os artistas de rua, senti um leve alívio; a vida continuava, apesar da dor e da confusão. Paramost em frente a uma banca que vendia joias antigas; uma delicada pulseira de prata chamou minha atenção. — É linda!
— comentei, pegando a peça para examinar mais de perto. — Combina com você — disse uma voz familiar atrás de mim. Virei-me, surpresa, e me deparei com Federico.
— Fed! O que você está fazendo aqui? — meu irmão sorriu.
— Vim comprar alguns livros antigos. Que coincidência encontrar vocês aqui. Federico cumprimentou Lucia com um beijo no rosto, seus olhos demorando-se nela um pouco mais do que o necessário.
Sempre desconfiei que ele tinha uma queda por minha melhor amiga, mas nunca teve coragem de fazer algo a respeito. — Como você está, irmã? — perguntou Federico, voltando sua atenção para mim.
— Estou indo, honestamente, um dia de cada vez, como dizem. Federico assentiu, compreensivo. — Sei que não é fácil, Cata, mas você é forte.
Vai superar isso. Naquele momento, meu celular tocou. Olhei para a tela e vi que era um número desconhecido.
— Alô! — atendi, curiosa. — Catalina, aqui é a Sofia, sua vizinha.
Desculpe ligar assim, mas achei que você deveria saber. Martim está aqui no prédio, tentando entrar no apartamento. Senti meu coração acelerar.
— O quê? Mas como ele. .
. ? — Parece meio bêbado — continuou Sofia.
— O porteiro não está deixando ele subir, mas ele está fazendo uma cena no saguão. — Obrigada por me avisar, Sofia, estou a caminho. Desliguei o telefone e olhei para Lucia e Federico, que me observavam com preocupação.
— Era Sofia, minha vizinha — expliquei rapidamente. — Martim está no prédio, tentando entrar no apartamento. — Ah, é hijo de.
. . — exclamou Federico, seus punhos se cerrando.
— Vamos lá agora mesmo. Vou ensinar uma lição a ele. — Calma, Fed!
— interveio Lucia. — Violência não vai resolver nada. Vamos todos juntos e lidaremos com isso civilizadamente.
Agradeci pela presença deles. Juntos, pegamos um táxi de volta para Palermo. Durante todo o trajeto, minha mente fervilhava: O que queria?
Por que ele estava fazendo isso? Quando chegamos ao prédio, a cena no saguão era exatamente como Sofia havia descrito. Martim estava lá, visivelmente alterado, discutindo com o porteiro.
— Senhor, já disse que não posso deixá-lo subir sem a autorização da Sra. Catalina — dizia o porteiro, mantendo a calma. — Mas é o meu apartamento também!
— gritava Martim. Respirei fundo e dei um passo à frente. — Martim!
Ele se virou ao som da minha voz, seus olhos se iluminando. — Cata, graças a Deus você está aqui! Diga a ele para me deixar subir, precisamos conversar.
— Não, Martim — respondi firmemente. — Não temos nada para conversar. Você precisa ir embora.
— Mas, Cata, por favor! — ele implorou, dando um passo em minha direção. — Eu cometi um erro terrível!
Deixe-me explicar! Deixe-me tentar consertar as coisas. Federico se colocou entre nós.
— Ela disse para você ir embora, Martim! Não torne as coisas piores para você mesmo! Martim olhou de Federico para mim, depois para Lucia, que estava ao meu lado com uma expressão de desaprovação.
Finalmente, seus ombros caíram em derrota. — Tudo bem — ele murmurou. — Eu vou.
Mas, Cata, por favor, pense no que estamos jogando fora! 15 anos de casamento! — 15 anos que você jogou fora quando decidiu me trair!
— respondi, sentindo minha voz tremer levemente. — Adeus, Martim. Observamos em silêncio enquanto Martim saía cambaleante do prédio.
Assim que ele desapareceu de vista, senti minhas pernas fraquejarem. Lucia me segurou, me guiando até um dos bancos do saguão. — Você foi incrível, Cata!
— disse ela, sentando-se ao meu lado. Federico se ajoelhou na minha frente, pegando minhas mãos nas dele. — Estou orgulhoso de você, hermana.
Você mostrou uma força que eu nem sabia que tinha. Olhei para meu irmão e minha melhor amiga, sentindo uma onda de gratidão por tê-los ao meu lado. — Obrigada, vocês dois.
Não sei o que faria sem vocês. Naquele momento, Sofia apareceu no saguão. — Está tudo bem?
Eu vi tudo da minha janela. — Está sim — respondi, dando-lhe um sorriso cansado. — Obrigada por me avisar.
Sofia sorriu de volta. — Somos vizinhas, não é? Temos que cuidar umas das outras.
Enquanto subíamos para o meu apartamento com Sofia nos acompanhando, percebi que, apesar da dor e da confusão dos últimos dias, eu não estava sozinha. Tinha meu irmão, minha melhor amiga e até mesmo uma vizinha fofoqueira que se revelou uma aliada inesperada. A vida em Buenos Aires continuava com seu ritmo frenético e suas surpresas, e eu, Catalina Montero, estava pronta para enfrentar o que viesse pela frente.
O tango da minha vida havia mudado de ritmo, mas eu ainda estava dançando. E quem sabe? Talvez um dia eu encontrasse um novo parceiro de dança, alguém que me valorizasse e respeitasse.
Mas, por enquanto, estava bem assim, redescobrindo minha própria força e independência. Entramos no meu apartamento e foi como se eu o visse com novos olhos; cada canto guardava memórias do meu casamento com Martim, mas agora essas lembranças pareciam pertencer a outra vida, a outra Catalina. — Acho que preciso redecorar — comentei, meio brincando, meio séria.
— Lucia, rindo: — Ótima ideia! Podemos começar amanhã mesmo. Eu conheço lojas incríveis na Avenida Santa Fé.
Federico revirou os olhos, mas sorriu. — Vocês, mulheres, e suas. .
. "Compras, mas se é isso que vai te fazer feliz, hermana, conta comigo! " Sofia, que até então observava tudo em silêncio, finalmente falou: "Sabe, Catalina, se você quiser, posso te apresentar meu sobrinho.
Ele é designer de interiores, e tenho certeza de que adoraria te ajudar a dar uma nova cara para este lugar. " Não pude evitar rir; típico de Sofia, sempre querendo bancar a casamenteira. "Obrigada, Sofia!
Vou pensar nisso. " Passamos o resto da tarde conversando e fazendo planos. Lúcia e Federico insistiram em ficar comigo, temendo que Martim pudesse voltar.
Sofia acabou se juntando a nós, trazendo uma torta de maçã que ela havia feito mais cedo. Enquanto comíamos a deliciosa torta e tomávamos mate, percebi que, pela primeira vez em dias, eu me sentia verdadeiramente em paz. A dor da traição de Martim ainda estava lá, um nó persistente no meu peito, mas já não parecia tão avassaladora.
Quando a noite caiu, Lúcia e Federico finalmente se despediram, prometendo voltar no dia seguinte. Sofia também se foi, não sem antes me dar um abraço apertado e sussurrar: "Você é mais forte do que pensa, querida. " Sozinha novamente, fui até a varanda.
A cidade brilhava lá embaixo, milhões de luzes piscando na escuridão. O som distante de um bandoneon tocava em algum lugar, sua melodia melancólica flutuando no ar noturno. Pensei em Martim, em nosso casamento, em tudo que havíamos compartilhado e perdido, mas também pensei no futuro, nas possibilidades que se abriam diante de mim.
Respirei fundo, sentindo o ar fresco de Buenos Aires encher meus pulmões. Amanhã seria um novo dia, um dia para redecorar, para recomeçar, para redescobrir quem eu era, Catalina Montero, sem Martim. E, pela primeira vez em muito tempo, me senti genuinamente otimista sobre o que o futuro reservava.
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