Neste vídeo, vamos falar um pouco sobre duas teorias muito importantes no campo da psicologia da educação: o construtivismo de Piaget e o interacionismo de Vygotsky. Estes dois autores nasceram no mesmo ano, mas em contextos bastante diferentes, que os levaram a pensar o desenvolvimento humano sob diferentes visões. Jean Piaget foi um pesquisador suíço que se interessou em analisar como surge e evolui o conhecimento.
Seu país foi berço de outros importantes pensadores, como Rousseau e Jung, o que certamente influenciou os rumos de sua obra. Sua formação inicial na biologia o levou a considerar impossível separar o crescimento orgânico do processo de desenvolvimento psicológico da criança. Isso se refletiria no seu interesse pela epistemologia genética do desenvolvimento, em que Piaget estabeleceu uma divisão em estágios cognitivos pelos quais todos os seres humanos passam, e que evoluem em sequência.
São o estágio sensório-motor, que vai dos 0 aos 2 anos; o estágio pré-operatório, dos 2 aos 7 anos; o estágio operatório concreto, dos 7 aos 11 anos; e o operatório formal, a partir dos 12 anos de idade. Este é o estágio final, quando se atinge o domínio do pensamento abstrato. A indicação das idades para cada fase, no entanto, é apenas um parâmetro.
Nem sempre o desenvolvimento acontece no mesmo ritmo. Na verdade, ele pode variar de criança para criança. Com tudo isso, entende-se que não se pode exigir que uma pessoa resolva problemas para os quais ela ainda não desenvolveu a estrutura necessária.
Além da maturação neurofisiológica e do crescimento orgânico do corpo, também são fatores que influenciam neste processo a carga genética hereditária, que determina o potencial do indivíduo, e o meio, ou seja, as diferentes influências e estímulos que agem sobre a criança. Piaget concluiu que a aprendizagem começa no desequilíbrio entre o sujeito e o novo objeto. Para compreender isso, 3 conceitos são fundamentais: a assimilação, que é a incorporação do novo às ideias já existentes; a acomodação, que é a modificação dos esquemas anteriormente estabelecidos para lidar com esta nova informação; e por fim a equilibração promovida na relação entre os dois processos anteriores, numa constante adaptação às imposições do ambiente.
Isso porque a atividade é provocada pela necessidade. Piaget também foi um dos defensores da teoria da “escola ativa”, segundo a qual cada pessoa constrói ativamente o conhecimento. Ou seja, o aluno não é visto apenas como um sujeito passivo pronto para receber o conhecimento.
E a interação com outras pessoas é bastante significativa, não para que ensinem verdades já estabelecidas, mas para facilitar o processo por meio de atividades adequadas e considerando o estágio em que o aluno se encontra, por meio da observação. Desta forma, a criança consegue fazer suas próprias tentativas, elaborando um pensamento próprio, e sendo ela mesma sujeito ativo e fundamental para o seu processo de aprendizagem. É importante lembrar que conforme Piaget a educação deve ser orientada para a autonomia.
Contemporâneo de Piaget, Lev Vygotsky é outro teórico cujas ideias ainda hoje são influentes. Nascido na Bielorússia, escreveu seus estudos no contexto da Revolução Russa. Assim, sua teoria sofreu grande influência do marxismo.
Mas ela só viria a ganhar importância para além do leste europeu a partir da década de 60, bem depois da morte de seu autor. Apesar de ter partido cedo, aos 38 anos, Lev Vygotsky deixou significativas contribuições para se pensar a educação. A psicologia sócio-histórica vê o mundo psíquico como uma construção histórica e social, bem como diz o nome.
Isso significa que o ser humano não nasce com uma essência “universal”, algo que já viria pronto, só esperando para se desenvolver. Pelo contrário: segundo esta concepção, o indivíduo é visto como um ser ativo e social, construído ao longo de sua vida por meio das relações com outros indivíduos e com o meio que os cerca. Assim, não é possível separar o âmbito psicológico do mundo material e social, pois o pensamento vai ter a forma que a cultura o faz ter.
E é através do contato com a cultura já constituída que vai se dar o desenvolvimento. A existência é primeiramente exterior, social, para depois ser internalizada como pensamento. Por exemplo, os objetos dos quais nos apropriamos carregam consigo as aptidões já desenvolvidas pelas gerações anteriores para os usos e significados daquele objeto.
É, portanto, no processo de apropriação do mundo externo, por meio das relações sociais, que se desenvolve o mundo interno da individualidade. Mas o processo é bilateral, ou seja, conforme a pessoa atua no mundo e se relaciona com os outros, este mundo social também vai sendo construído, numa relação de troca e transformação mútua. Por isso Vygotsky é considerado um autor interacionista.
Além disso, Vygotsky via o desenvolvimento baseado em dois processos diferentes, mas complementares: a maturação e o aprendizado. O processo de maturação é o que cria certas capacidades que vão tornar possível a aprendizagem. Para isso, a linguagem, falada ou pensada, tem um papel de destaque, e se desenvolve em uma sequência: primeiro, a função indicativa (que é o pensamento sincrético), depois a função significativa (ou seja, o pensamento por complexos), e por fim, a função formal, que envolve a criação de conceitos simbólicos.
E é aí que entra o papel da escola, que seria ajudar a desenvolver o pensamento formal. Porém, para educar uma criança, deve-se levar em conta que nem todos aprendem da mesma forma. O nível de desenvolvimento real de uma pessoa se refere à capacidade de resolver problemas de forma independente por meio de funções já amadurecidas.
Na comparação com o nível de desenvolvimento potencial, que é a capacidade de solução de problemas sob orientação ou em conjunto com alguém com maior capacidade, identificamos a zona de desenvolvimento proximal, das funções que ainda não estão amadurecidas e que, portanto, devem ser estimuladas pelo educador. É justamente aí que o professor deve focar seus esforços. A intervenção pedagógica, para Vygotsky, é muito importante para direcionar o desenvolvimento, sendo a escola o local principal onde se dá essa orientação do sujeito.