Qual é a matéria do sacramento da Confissão? Quando nós falamos de sacramento, nós falamos de matéria, ou seja, a matéria do batismo é a água, a matéria da Eucaristia é o pão e o vinho, mas, qual é a matéria da confissão? Já que não há nenhum óleo, nenhum sinal material.
Para responder a essa pergunta, nós temos que fazer uma distinção: existe a matéria remota e a matéria próxima. A matéria remota é aquela que não está presente ali na hora da celebração, mas ela, digamos, propicia, ela torna possível o sacramento. A matéria remota é todo e qualquer pecado cometido após o batismo.
Portanto, uma pessoa para se confessar, deve ter pecado depois do batismo, mesmo que seja um pecado leve, mas essa é a matéria remota. A matéria próxima, no entanto, são atos realizados pelo penitente que devem ser exteriorizados, esses atos são três. Se você olhar no no catecismo da igreja católica, você vai notar, a partir do número 1450, esses três atos do penitente, que na teologia clássica são a matéria próxima desse sacramento.
São três: a contrição, a confissão e a satisfação. Vamos analisar cada um desses três atos. Bom, primeiro o que é a contrição?
A contrição quer dizer um arrependimento. O que é arrependimento? É a dor por ter cometido um pecado.
Se não há arrependimento, não há matéria, então é por isso que não se pode, por exemplo, confessar um pecado futuro: "ah, eu amanhã vou roubar três laranjas no quintal do vizinho e eu quero já apresentar aqui na confissão". Não, não vai valer, porque não existe contrição, não tem arrependimento, ou seja, tem que ter uma dor de ter cometido esse pecado. Quando fala a palavra dor aqui, não nos confundamos, não é necessário realmente um sentimento, mas quando nós dizemos dor, quer dizer que eu detesto aquilo que eu fiz, eu renuncio àquele ato, eu não quero mais aquilo.
Então, aqui nós temos uma verdadeira contrição. Para que a contrição seja perfeita, é evidente que eu tenho que querer me arrepender por ter ofendido a Deus. Mas, sobre a diferença entre a contrição e atrição, contrição perfeita e contrição imperfeita, nós já temos um vídeo no nosso site.
O segundo ato do penitente é a confissão, então, aqui ele precisa expressar o pecado, ele precisa dizer. Uma pessoa chega no confessionário e diz: "ah, eu não tenho pecados", bom, então não tenho matéria pra absolver, então é necessário que a pessoa diga este pecado. A contrição e a confissão são a matéria essencial do sacramento, a satisfação não faz parte da essência, mas faz parte da integridade, já já eu explico isso.
Mas vamos nós deter nesses dois primeiros atos, que são os atos mais importantes. Vamos resumir a coisa, o que é a matéria próxima do sacramento da confissão? É o seguinte, é uma confissão dolorosa, pronto, reunimos num só conceito as duas coisas, eu preciso expressar externamente, portanto, matéria, algo palpável, com essa minha confissão da boca, quando eu externo a minha contrição, então eu tenho ali uma matéria.
E este ato de arrependimento doloroso é a essência daquilo que eu tenho que apresentar para Deus no sacramento da confissão. Então, contrição e confissão, ou seja, a expressão dolorosa daquilo que eu cometi. Quando eu digo doloroso, não quer dizer sentimentalismos, mas quer dizer verdadeiro arrependimento, no sentido que eu detesto aquilo que eu fiz, eu tenho o firme próposito de não mais repetir aqui.
O terceiro ato do penitente é a satisfação, ou seja, eu que fiz o mal, quero agora reparar o mal que eu fiz. Este, essa realidade, ela faz parte da integridade da matéria, mas não faz parte da essência, deixa eu explicar a diferença: faz parte da integridade de um ser humano que ele tenha braços, mas se a pessoa perdeu os dois braços, ela continua sendo humana, ou seja, ela é essencialmente humana mas não está íntegro. A mesma coisa é a satisfação, se você se confessa, mas não faz penitência depois de ter se confessado, se o padre não impõe uma penitência, a confissão não ficou íntegra, mas ela está essencialmente feita.
Não tem problema, você pode acrescentar atos de penitência para a integridade do sacramento que você esta celebrando. Muito bem, agora para concluir essa nossa resposta católica, eu gostaria de aqui tirar algumas dúvidas que são bastante frequentes. Quando uma pessoa tem um pecado que ela tem uma dúvida, ela não sabe se pecou de fato, este pecado duvidoso não é matéria suficiente para a confissão, ou seja, é necessário que haja um pecado certo.
Então, se você está duvidando, você confessa aquele pecado duvidoso, mas você acrescenta algum pecado certo, mesmo que ele já tenha sido confessado. Então, por exemplo, você diz assim: "olha padre, eu acho que ontem eu desejei a mulher do meu vizinho, mas eu tive aquele, aquela moção mas eu não sei se eu consenti plenamente, ou seja, na verdade eu "tava" assim, meio sonolento, não sei se houve consentimento ou não, eu "tava" acordado e dormindo ao mesmo tempo". Bom, você está em dúvida se você pecou ou não, então, isto aqui não é matéria suficiente, seria necessário, então, você acrescentar um pecado, mesmo que ele já tenha sido o redimido, porque veja, a matéria próxima, perdão, a matéria remota do sacramento é o pecado cometido após o batismo, qualquer pecado cometido após o batismo.
Então, vamos supor que você já tenha chegado a um grau de santidade onde você só apresenta para o seu confessor algumas coisas que você não sabe exatamente se pecou ou se não pecou, você então, para que os sacramentos tenha matéria suficiente, você, então, apresenta pecados já confessados. Mas então você vai perguntar: "padre, mas pra que serve confessar se eu não estou tendo pecados perdoados, os pecados já estão todos perdoados? " É porque o sacramento da confissão, ele é um aumento da graça santificante.
Então, é mais importante a graça santificante que vem da cruz de Cristo, que é derramado sobre você no sacramento da confissão, do que o pecado que é perdoado, ou seja, em ato primeiro a Graça entra no seu coração, em ato segundo o pecado é lavado. Então, se você não tiver pecado para ser lavado, não tem problema, a Graça entrou mesmo assim e o pecado e, portanto, se existe, foi lavado. Então, é por isso que é possível confessar um pecado duvidoso, acrescentando um pecado que já tenha sido redimido, por quê?
Porque a matéria é o pecado cometido após o batismo, mas não necessariamente um pecado que ainda não tenha sido confessado. Então, repetir pecados já confessados pode ser um ato bom, piedoso, para aumentar a contrição, aumentar o arrependimento. Agora, atenção, cuidado, os confessores devem prestar atenção pro seguinte: é que não podem confundir isso com escrúpulo.
Existem pessoas que são escrupulosas e acham que nunca é suficiente confessar aquele pecado, porque ela nunca se acha perdoada. Bom, aí já é um outro problema, eu não estou falando isso, estou falando de um ato devocional sadio, não neurótico, não escrupuloso, em que a pessoa sabe que foi perdoada, mas ela sabe também que deve passar o resto da sua vida pedindo perdão dos pecados que cometeu porque ofendeu a Deus. Então, pedir perdão dos pecados do passado é um ato espiritual sadio, na certeza que nós temos que já somos perdoados, mas é um ato de amor para com Deus.
Por isso, a matéria próxima do sacramento da confissão é essa contrição, que pode ser obtida mesmo com pecados já confessados.