no bem-vindo ao rádio novelo apresenta eu sou a Branca Viana e hoje o programa Vai ter duas caras são duas caras que em momentos diferentes do século XX representaram o Brasil dois rostos que de um jeito ou de outro foram o portar do país umes estend ISO Ou pelo menos elava tentando fazer isso e o outro nem sabia que esta sendo alçado ao posto de representante de Umo naon os doix de oato dos momento em que aconte quanto hoje e não por os dois and cdos noci Quem começa é a Ana Paula Rocha tinha um
negócio estranho acontecendo com Fábio kman era o final dos anos 90 e ele tinha começado uma pesquisa era sobre o luí Martins de Souza Dantas que foi embaixador do Brasil na França entre 1922 e 1943 quer dizer o Souza Dantas estava na Europa quando o bicho estava pegando em setembro de 19 39 o Hitler atacou a Polônia no que viria a ser o primeiro ato da Segunda Guerra Mundial e foi por causa do que o embaixador fez nessa época que o Fábio kman foi atrás da história dele durante a segunda guerra mundial concedeu vistos irregulares
para perseguidos do nazismo judeus homossexuais comunistas opositores políticos talvez você tenha ouvido essa história naquele momento tinha muita gente precisando sair da Europa e a orientação do governo Getúlio Vargas era de não conceder visto brasileiro para determinados grupos que incluí os judeus mas o Souza Dantas resolveu ignorar essa orientação ele saiu dando vistos a torto e a direito e quando falaram para ele parar Ele começou a forjar documentos até ele ser preso pela gestapo ele salvou centenas de vidas hoje em dia o Souza Dantas é conhecido internacionalmente como um herói em boa parte Graças a
livro do Fábio mas ali nos anos 90 quando Fábio estava entrevistando pessoas para pesquisa sobre Embaixador esse negócio esquisito ficava acontecendo toda vez que eu falava o nome do embaixador Souza Dantas as pessoas faziam relação com Raimundo as pessoas achavam que ele estava falando sobre outro Souza Dantas o Raimundo Souza Dantas que também foi Embaixador e não muito tempo depois do Luiz o Fábio nunca tinha ouvido falar nesse outro bador e quando ele ouviu a história dele do Raimundo Souza Dantas ele ficou de cara porque essa também era uma história heróica e trágica e importante
pro Brasil Mas até hoje ela quase não é conhecida Mas então em 2002 saiu o livro fruto da dissertação do Fábio kman k shote nas trevas o embaixador Souza Dantas e os refugiados do nazismo e aí 20 anos se passaram e nada de alguém morder a isca da história do Raimundo até que no meio da pandemia veem um convite para publicar um artigo e o Fábio resolveu voltar nessa história ia ser uma chance para ele botar no papel tudo que tinha descoberto meio sem querer sobre Raimundo Souza Dantas aí quando eu cheguei na página 144
aí eu percebi que não ia dar para fazer um artigo de 20 páginas é depois de conhecer a história do Raimundo dá para entender mas eu já vou parar de fazer suspense de contar logo o Raimundo Souza Dantas nasceu em Instância Uma cidadezinha ao sul de Aracaju e início da década de 20 e era de uma família muito pobre o Raimundo só conseguiu frequentar a escola durante alguns meses ele teve que trabalhar desde muito cedo ele foi aprendiz de ferreiro ajudante de marceneiro pintou paredes entregou encomendas depois a família se mudou para araju e ele
começou a se virar como tipógrafo com 18 anos ele enganou minha avó dizendo que ia até abia e veio parar no Rio de Janeiro né sem meu analfabeto com alguns contos de réis no bolso né esse é o Roberto Souza Dantas o filho mais velho do Raimundo o pai dele chegou no Rio no começo dos anos 40 Sem conhecer ninguém um dos poucos trabalhos que ele arrumou era como vendedor de maçãs e aí ele foi demitido porque ele não sabia fazer conta direito o patrão deu algumas maçãs como sei lá pagamento de rescisão e o
Raimundo tava andando pelo centro do Rio meio perdido quando ele deu um pouco de sorte teve a felicidade de reencontrar Joel Silveira que já eu conhecia de Aracaju e encaminhou ele né deu uma carta de apresentação para ele trabalhar o Joel Silveira é um dos grandes jornalistas daquela época ele tinha feito a mesma rota que o Raimundo do interior de Sergipe para Aracaju e daí pro Rio ele era jovem mas já tinha um certo renome então com a carta e com o aval dele o Raimundo arrumou um emprego como office boy numa revista foi ali
que ele conseguiu finalmente se alfabetizar ele foi se aproximando de diferentes pessoas e se mostrando interessado e e muitos deles ajudaram emprestando livros orientando E aqui as coisas começam a ficar meio doidas em 41 eu semianalfabeto em 44 ele escreve o primeiro livro É isso mesmo em 41 o Raimundo estava sendo demitido do posto de vendedor de maçãs por não saber fazer conta e em 44 Ele publicou o primeiro romance dele o título era sete palmos de terra e o livro era de recordações ficcionalização nem nesse nem em nenhum dos outros romances do Raimundo os
livros dele estão esgotados a décadas dizem que os coronéis da região de Estância não gostaram nada do que eles leram e avisaram que eles iam preparar também sete palmos de terra pro Raimundo na hora que ele aparecesse por lá mas fora eles muita gente gostou do que leu no site da novelo tem algumas cartas que ele recebeu elogiando os livros dele do Jorge Amado da Raquel de Queiroz do Carlos drumão de Andrade e do Graciliano Ramos naqueles anos mundo estava vivendo intensamente a vida literária e política do Rio no meus primeiros anos de vida eu
não tive muito contato com meu pai infelizmente não tive o Roberto nasceu em 46 entre os romances agonia e solidão dos Campos meu pai trabalhava muito e naquela época também eh as atividades dele né a militância dele no Partido Comunista Brasileiro né com Jorge Amado Carlos Mariguela eh aquele pessoal todo Graciliano Ramos Portinari como minha mãe falava meu pai só me via dormindo e é impressionante que nos anos 40 e nos anos 50 ele dividia páginas de jornais um dos maiores nomes da literatura né claren Lispector oto Mario carpo eu menciono isso Especialmente porque quando
ele foi nomeado mais tarde 10 anos depois Embaixador uma parte dos críticos dizia que ele era uma pessoa inexpressiva a a casa do Souza Dantas era muitíssimo bem frequentada nesses anos tive o privilégio de conhecer Graciliano Ramos Jorge Amado Tio Edson Carneiro com abidias do Nascimento ia todo domingo almoçar na minha casa e assistia diálogos às vezes meio ríspidos né do meu pai com Abdias que Abdias era digamos eu vou dizer assim meu pai era mais um Luther King e o ABD un toc calmel né mais radical né nessas a família morava no Leblon onde
eles eram uma das pouquíssimas famílias negras do bairro e a única do prédio vir meche alguém perguntava pro Roberto e pros irmãos Miguel e Maria se eles eram os filhos do porteiro ou do zelador tinha uns bailinhos eu era convidado às vezes era até barrado né na entrada dos prédios né Então essas coisas todas né aconteciam com a gente né quando isso rolava o Raimundo tinha um conselho bem Martin Luther King pro filho a única coisa que ele falava para mim porque eu não reagisse com violência reagisse com atitudes entendeu que eu estudasse que eu
fosse o melhor aluno essas coisas todas nesses anos o Raimundo foi se aproximando um pouco mais da política institucional ele chegou a escrever um livro sobre a vida dele a pedido do Ministério da Educação isso aliás levou a expulsão dele Do PCB não por causa do conteúdo do livro em si por ter topado um convite do governo em 1960 quando Jan quadros era candidato à presidência da república ele chegou a conversar algumas vezes com Raimundo e ficou impressionado com as análises [Música] dele e depois da vitória veio o [Música] convite fo indicado para ser oficial
de gabinete do Presidente da República ele respondia diretamente ao presidente da república e foi também o primeiro negro né a assessorar diretamente o Presidente da República naquela época chamava-se né oficial de gabinete hoje chama-se assessor né Essa função que ele ficou então Tinham dois negros da na Assessoria do Jano quadros o Professor Milton Santos na Casa Civil né grande geógrafo né Milton Santos e e meu pai diretamente ligado à presidência da república os ataques a essa nomeação vieram a galope primeiro ataque que apareceu com gravidade né quando ele foi nomeado oficial de gabinete foi do
José Honório Rodrigues que era um grande Historiador que foi professor do Instituto Rio Branco uma pessoa muito considerada e ele atacou o Raimundo e disse que era racismo às avessas a nomeação dele para oficial de gabinete porque ele tava S nomeado por um posto pelo fato dele ser negro nada de novo sobre o sol né mas de novo o Raimundo se destacou tanto que em menos de dois meses o Jano promoveu ele para um cargo ainda mais alto ele ia ser um Embaixador extraordinário plen potencio na república de Gana era a primeira vez que o
Brasil ia ter relações diplomáticas com continente Africano naquele momento estava muito interessado em aproximar O Brasil das Nações amicos que eram recent processo de independência já eram independente e o Jano qu resolveu implementar O que foi visto na época como uma terceira via e essa terceira via passava pela aproximação com o continente Africano Esse é o professor Petrônio Domingues do departamento de história da Universidade Federal de Sergipe e essa terceira via que ele tá falando é sobre a postura diplomática do Brasil na guerra fria ou seja nem Estados Unidos nem União sov o plano do
Jan era costurar uma série de alianças novas e nesse quebra-cabeça gana era uma peça muito [Aplausos] importante o país estava independente há só 4 anos nessa época mas já estava inspirando países como Angola Moçambique e Guiné Bissau a colocar os europeus para correr e o Jano queria que o Raimundo cuidasse dessa relação não há registro na história das nomeações de embaixadores no exterior do Brasil seja na África seja na Ásia seja na América não consta que uma nomeação tenha causado tanta polêmica na opinião pública como causou esta do Raimundo Souza Dantas ele quando nomeou o
o Raimundo Quase que o céu caiu na cabeça dele disse que teve uma uma gritaria completa o jênio chegou a dizer que essa nomeação foi mais polêmica do que quando ele deu a ordem do Cruzeiro do Sul pro chevara naquele mesmo ano mas o Itamarati inteiro ficou em cólicas porque o Raimundo não era um diplomata de carreira ou seja não tinha sido formado como diplomata no próprio Itamarati mas olha só que curioso no mesmo tempo que ele tinha sido nomeado foi nomeado rub Braga e a imprensa deu um ao Ruben Braga muito diferente ao que
deu Raimundo ambos eram jornalistas ou seja o Ruben Braga sem embaixador do Brasil no Marrocos mesmo sem ser Diplomata de carreira tudo bem será que a grande questão não era o fato de que o Raimundo tava na verdade era perigando virar o primeiro Embaixador Negro do Brasil bom mas para isso acontecer ele ainda ia ter que passar por uma Sabatina no senado foi um período muito difícil né de muito estudo ele se trancou num apartamento em Brasília né só estudando falavam-se né que ele deixava os livros e um revólver na mesa de cabeceira quer dizer
se ele fracassasse Talvez ele atentasse contra a sua vida né claro que isso foi um fake News uma mentira ele nunca ele teve uma arma de fogo com ele essa oposição à nomeação do Raimundo acabava espirrando também no filho dele o Roberto algumas coisas de colegas né Assim como uma certa gozação comigo né como seu pai vai ser Embaixador como né Essas coisas todas no senado o clima também foi hostil e um dos senadores colocou o mapa na parede mais antigo né só ter 5 10 anos já não existia os países africanos que eram recém
emancipados e disse para ele apontar onde é que era onde é Car gan no mapa meio patético né obviamente o Raimundo sabia onde ficava o país que ele ia representar disse olha só esse mapa aqui é mais antigo gana fica exatamente aqui ó entre esses dois pontinhos aqui que hoje em dia ela lá foi explicando o Raimundo foi aprovado e com a maior votação até ali para alguém de fora do Itamarati o próximo passo era preparar a mudança a documentação entender toda a parte burocrática do funcionamento de uma Embaixada a viagem estava marcada pro dia
26 de agosto de 1961 só que era o governo J quadros né E se você não se lembra das aulas de história do colégio sobre 2 presidente do Brasil teminha que marcou a gão del a renncia de agosto de 1961 na véspera da viagem doimo e meu pai também renunciou à função dele de Embaixador aqueles dias foram um caos o João Gular o Jango tava na China teve Militar se insurgindo teve o Brisola brigando para garantir a posse do novo presidente e quando Jango conseguiu ser empossado no dia 7 de Setembro ele não aceitou a
renúncia a do Raimundo soua Dantas como Embaixador de Gana né porque quanto a renúncia do Jano da presidência ele não tinha o que fazer então lá foi o novo Embaixador PR gana no final daquele mês e lá tinha um último passo antes dele assumir o posto ele tinha que apresentar as credenciais pro chefe de estado quando ele chegou em gana os jornais e muita gente passou a dizer que quando ele chegou em gana o kumar se recusou a receber ele porque ele era negro acredite se quiser Acer se puder Como é que pode negócio desse
inventaram o boato de que o kumar o presidente de um dos fundadores do panafricanismo teria se recusado a receber o Raimundo parece bizarro né mas o argumento era o seguinte o diretor do Instituto Rio Branco foi diretor muitos anos o nome dele hoje em dia é um prêmio dentro da diplomacia que deu uma longa entrevista que ele disse o seguinte Olha o Brasil não é racista a gente vive uma democracia racial o que acontece é seguinte o problema é o resto do mundo então se a gente deixa entrar o negro no tamarati ele é nomeado
csul carregado de negó ele é nomeado Embaixador vai chegar no país lá fora eles são muito racistas aí vão discriminar ele ele não vai conseguir entrar em lugar nenhum não vai ser convidado para festa nenhuma a gente não é racista Mas eles são muito então a gente não pode mandar negro é isso mas é parece até que ele deixou para mim né deixou pra posteridade o registro mas é a forma que os camaradas pensavam eles pensavam assim e a ponto de espalhar história que o presidente de Gana teria se recusado a se encontrar com o
embaixador negro brasileiro bom mas o encontro rolou claro né e foi assim no dia que ele recebeu teve uma festa isso que é muito impressionante né e na festa o Bruma dançou com raimund e tem fotos disso tem uma foto belíssima né O Kuma abraçado com meu pai essa foto também tá lá no site da novelo na entrega das credenciais teve uma declaração do Kuma que o embaixador do Brasil não precisava pedir audiência que as portas do Palácio da ST House estavam abertas ao embaixador do Brasil para você ter uma ideia o logo depois oa
dançou sabe com quem com a rinha elabe a dança com a rainha foi logo depois mesmo em novembro de 61 E logo depois disso Chegou a família do Raimundo a mulher Idol Botelho e os três filhos que tinham ficado no Brasil para terminar o ano letivo nós chegamos em Gana no dia 16 de dezembro de 1961 A primeira parada da família no continente africano rumo a gana foi Senegal e essa ponte aérea Leblon da Car já foi um choque pro Roberto quando você chega no país africano completamente diferente né a pessoa do hotel que te
recepciona é negra o motorista de táxi é negro as pessoas que estão te servindo são negras mas o Presidente da República é negro também o médico também negro Então você tem uma outra visão né quando você chega ao sol africano para mim senh da minhas grandes memórias né mas também teve outra coisa que mudou radicalmente do lado de lá do Atlântico a minha melhor convivência que eu tive com meu pai realmente foi na nossa estada em gana meu pai me levava na escola tomávamos café junto foi nesse período que o Roberto sentiu que ele começou
a conhecer o pai dele e foi um período em que o pai dele estava se transformando a minha vida como brasileiro e negro nascido no Brasil divide-se em duas partes Esse é o Raimundo no único depoimento dele que consegui ouvir até agora é de uma pequena aparição no documentário Abolição de 1988 dirigido pelo zosimo bub o Raimundo diz que as duas partes são amente antes e depois de Gana ele chegou em gana com a cabeça e o país mudou tudo levando toda uma experiência passada de negro brasileiro quase emanado quando cheguei na África informado apenas
por livros e nada diziam da África moderna da África política da áfric atuante da África que nos interessava aí levantou-se o problema maior de eh assumir uma identidade identidade esta que nceu no Brasil Sem dúvida nenhuma e afirmou-se e confirmou-se na África não como negro que foi procurar as origens mas como brasileiro negro que foi encontrar as origens aqui de novo o Professor Petrônio Domingues ele entendia que o Brasil precisava entre aspas descobrir a África ele descobre a África e ele quer apresentar a África para o Brasil o Raimundo foi a primeira Autoridade brasileira a
ter contato com Os descendentes de retornados Bras pessoas negras e escravizadas que conseguiram voltar pra África uma parte delas ficou conhecida por lá como os tons justamente porque eles falavam muito Tabom quando o embaixador visitou a comunidade dos tons ele foi recebido como um irmão fizeram uma espécie de samba de roda sabe e minha mãe Sambou no livro né África difícil meu pai cita que foi um dos dias mais felizes dele e da minha mãe em solo afric cano né mas esse também estava sendo um dos períodos mais difíceis da vida do pai dele esse
livro que o Roberto mencionou agora o Raimundo publicou na volta de Gana o título completo é África difícil missão condenada aqui de novo o Fábio kman eu escrevi no livro o seguinte que se tivessem mandado mais experiente dos embaixadores o cara mais experiente de todos né ele teria Muitas dificuldades lá as dificuldades começaram no dia zero o encarregado de negócios enrolou para sair da residência oficial durante dois meses deixando Raimundo morando em hotéis ele não estava com Staff adequado e na capital do país recé independente a infraestrutura ainda era precária tem uma frase no África
difícil que eu acho que é uma das mais bonitas do livro ele tá falando sobre essas dificuldades dele mas também da luta anticolonial diz assim o africano Aliás está condenado à originalidade Pois todos os seus problemas exigem soluções diferentes muitos dos problemas do embaixador brasileiro em gana pareciam não ter solução um dos projetos dele de estruturar um programa de intercâmbio de professores e alunos entre vários países africanos e o Brasil nunca saiu do Papel lembra daquele entusiasmo todo do Janio para construir uma terceira via com países africanos então só que depois que ele saiu o
Jango ou por problem mos que ele acabou encontrando né acabou sendo deposto ou por outros interesses ele ele ele descontinuou essa esse projeto o governo tinha outro interess tinha outro projeto o suporte do Itamarati era mínimo as tentativas de derrubar o presidente kruma estavam se intensificando e não é como se as coisas estivessem exatamente tranquilas no Brasil naquela época e aí no final de 62 ainda veio outro bque a nossa estada engana da família foram mais ou menos de 7 meses porque minha irmã contraiu a malária teve um várias crises né então aconselharam né Nós
voltamos então nós eu voltei um pouquinho antes né e depois voltou meus irmãos meus dois irmãos e minha mãe voltaram né daí em diante o embaixador passou a se sentir cada vez mais isolado ele ligava uma vez por mês pra gente nós falávamos com ele por telefone né então uma semana antes olha vai tá o horário vai ter o telefone tá o telefonema aí nós fal com ele né e nós víamos que ele no final das nossas conversas né não tinha vi a voz no telefone cada um pegava pouquinho para falar com ele percebíamos né
uma certa tristeza nele tem um trecho do diário dele de abril de 63 que ele cita no África difícil decisão de deixar o posto seria inútil permanecer Para que serve a presença do embaixador apenas para mostrar-se nos coquis e nas recepções eu acho que foi um trauma foi traumático por tudo esse processo que aconteceu muito ataque muita ofensa terrível E também porque ele tinha vários sonhos projetos eu vejo isso que ele depois não praticamente não publicou livros Ele publicou vários livros antes de para ser nomeado depois que voltou publicou esse que você mencionou não publicou
mais nada em setembro de 1963 Raimundo Souza Dantas deixou o posto de embaixador do Brasil em gana foi só quase 50 anos depois que o Brasil teve o primeiro Embaixador negro formado no Itamarati e em 2022 uma reportagem da agência de Notícias alma preta mostrou que de 90 diplomatas brasileiros no continente africano só um era negro Raimundo Souza Dantas teve uma carreira longa e variada depois da embaixada ele trabalhou no Ministério da Educação assessorou ministros voltou pro jornalismo fez o programa sem censura e continuou dando palestras sobre assuntos africanos até a morte dele em 2002
eu imagino Ana Paula que alguém que passou por tudo que ele viveu infância Juventude e vida adulta não foi fácil Essa é a Iris Souza Dantas de Faria eu ao longo da vida ouv algumas pessoas comentarem Ah é né mas o seu avô mas o embaixador ele tem um temperamento muito forte né ele é um cara muito exigente e eu ficava sempre pensando Pois é né e ele por acaso viveu cercado de figuras dóceis né de de de pessoas dóceis e carinhosas ao longo da vida certamente não a Iris é a primeira neta do embaixador
Ela é filha da Isa Maria filha do Raimundo com ninguém mais ninguém menos do que o Paulinho da Viola sim mas o foco aqui é o embaixador quando eu nasci meu avô tinha 46 anos então já tava num momento da vida em que ele não era tão demandado não tinha que matar um leão todo dia eu quis falar com a Iris para entender melhor Como foi a vida do Raimundo depois de Gana eu criança nós íamos muito à praia Então imagina dois mpes na praia quando a gente chegava ele dizia assim olha vamos prestar bastante
atenção em algo no calçadão que chame atenção o prédio mais alto Alguma coisa assim porque se a gente for no mar e não souber né não conseguir voltar pra toalha certinho a gente tem uma referência né um ajuda o outro fora da praia a Iris contou que o avô que preferia ser chamado de velho R mantinha uma figura impecavelmente elegante todas as vezes que ele ia ao centro podia ser para fazer a coisa mais banal do mundo ele colocava palitó gravata né foi acompanhando o avô nesses passeios pelo Centro que a Iris entendeu melhor essa
personalidade às vezes ríspida dele teve um dia numa loja de roupas por exemplo ele entrou fez uma pergunta sobre o corte de um determinado blazer e a vendedora falou esse Blazer custa tanto aí 5 segundos de silêncio eu era muito nova mas eu já sabia 3 2 1 lá vem aí Ele olhou para mim e disse assim eu acho que eu não perguntei o preço do Blazer você me ouviu perguntar o preço do Blazer Iris eu não vou Você perguntou como é que era aqui onde tem o botão aí a mulher ficou muda lá de
trás veio um homem devia ser o gerente da loja ou Embaixador que prazer tê-lo aqui na loja e tal passei a considerar isso né na vida adulta imaginar a solidão a solidão de alguém como ele né Coitado ele tomava pau crítica de todos os lados né da elite branca que não reconhecia aquele intelectual também era criticado por aqueles que por uma determinada vertente legítima importante defendiam um combate ao racismo mas muitas vezes achavam que a luta só se dava de uma determinada maneira tinha uma narrativa em particular que o Raimundo rejeitava só para não resvalar
numa questão que é delicada né que é sensível perigosa eu acho que é a questão da meritocracia eu sei que ele tinha essa preocupação de não parecer Nossa o homem que se fez que chegou analfabeta ao Rio de Janeiro e na vida adulta já conseguiu aprender a ler e escrever e se tornou escritor um cuidado para não fortalecer esse discurso estúpido de que olha tá vendo a pessoa quando quer consegue tudo né se esforçou conseguiu a luta que a gente trava ainda hoje no Brasil para mostrar que somos sim um país profundamente racista né a
luta que se tem hoje para defender a a pertinência a relevância das cotas se hoje ainda é tão árduo lidar com esse assunto tratar Imagina isso 40 50 60 anos atrás né sou servidora da Justiça Federal do Rio de Janeiro há 27 anos eu vou te falar sempre trabalhei na equipe de comunicação social até 4 5 anos atrás eu era a única pessoa negra da equipe a Iris foi muito próxima do avô no fim da vida dele então eu aproveitei para perguntar se ela sabia porque Ele Nunca Voltou a publicar literatura difícil falar Ana o
que eu posso te dizer é que não faltou vontade não faltou desejo eu mesma vi eu não li porque ele não queria que eu esse Mas eu vi escritos dele muitos e eu perguntei que é isso é um ensaio é um é um artigo ele não é uma história é uma história é um livro ele Talvez não sei e eu me lembro de num outro momento ter perguntado tem nome nome é a última coisa que a gente dá né ires eu falei É mas às vezes sei lá podia ter partido já de alguma ideia aí
ele ele admitiu ele tem nome provisório mas tem nome e chamava-se sob céu africano que é lindo né Lindo é um título lindo né sob céu africano mas eu acho que ele jogou fora e aí depois ele ele nunca mais falou e eu deveria ter perguntado né mas eu não tive coragem eu não tive coragem Cadê sob céu africano não tive coragem de perguntar sob céu africano um título realmente lindo um romance que eu nunca vou ler eu me interessei pela história do Souza Dantas depois de ouvir sobre ele de um professor de relações internacionais
Geraldo Adriano de Campos que é um bom contador de histórias e fala sempre com paixão dentro e fora da sala de aula mas conversando com a Iris quando a gente estava marcando a gravação para esse episódio eu me dei conta de que não era só da história do Raimundo Souza Dantas que eu tava atrás o meu avô paterno que era um homem negro provavelmente analfabeto ou semianalfabeto migrou do Nordeste para São Paulo na década de 60 e ninguém sabe o que aconteceu com ele as notícias pararam de chegar na Bahia e foi isso talvez meu
pai tenha cruzado com ele assim por um acaso depois que ele a mãe e a irmã também se mudaram para São Paulo talvez nenhum dos dois tenha percebido enquanto a Iris me contava pelo telefone do que ela tinha vivido com o avô dela eu comecei a pensar que poderia ser eu a Ana Paula contando para ela sobre o meu avô se o Brasil tivesse dado alguma chance pro meu avô por menor que fosse talvez eu tivesse a história dele para contar aqui também como não dá para ter tudo que a gente quer ou que a
gente precisa a gente vai preenchendo as lacunas com o que dá para encontrar uns pedaços de história sobre esse sol aqui do Brasil que não deixa de ser também um sol africano [Música] Essa foi a Ana Paula Rocha no segundo ato do episódio de hoje a Natália Silva traz a história de uma imagem de um nome e de um homem era uma vez acho que nunca comecei uma história aqui assim mas essa vale porque é meio Um Faz de contas era uma vez um país é um momento importante o novo presidente está tomando posse o
Supremo mandatário e o vicepresidente cheg ao pal a capital parou para receber ele to a pompa dosel onde transcorre a fase culminante das cerimnias com a transmissão do poder simbolizada na faa presidencial aação do presidente a Bras ano é [Música] 19 regime democrático é uma aspiração Nacional E para isso creio necessário consolidar e dignificar o sistema representativo baseado na pluralidade dos partidos e na garantia dos direitos fundamentais do homem o General Emílio garrastazu mci recebeu a faixa presidencial das mãos do General Costa Silva e disse em público essas palavras que o regime democrático era uma
aspiração Nacional não muito tempo antes a portas fechadas o que ele disse ajudou a empurrar o país pro que depois a gente ia conhecer como o período mais sombrio da Ditadura Militar Brasileira eu me sinto perfeitamente à vontade Senhor Presidente e porque não dizer com bastante satisfação em dar o meu aprovo ao documento que me apresentado Esse é o meds que estava sentado na reunião onde Costa Silva decidiu instituir o ai5 o ato institucional que deu super poderes ao presidente dali em diante ele pode caçar mandatos suspender direitos políticos de qualquer cidadão fechar o Congresso
Nacional e outros órgãos do Poder Legislativo intervir em estados e municípios e sim tem mais uma coisa suspendeu habias corpos que serve para proteger a liberdade individual nitidamente um homem de palavras no plural em público uma nos Bastidores outra mas o que importava era a casca a [Música] imagem éa que foi o comando dele que o governo militar gastou milhões de cruzeiros em propaganda vários hits patrióticos Esse é um país que vai pra frente eu te amo meu brasil eu te amo etc etc etc e foi também na gestão dele que o Brasil decidiu fazer
uma obra que só era real e possível nesse faz de conta dos militares a Rodovia Transamazônica na visita que efetuou ao município de alira em plena selva amazônica o presidente inaugurou oficialmente os trabalhos ria transica instumento e de ampli fronteiras econômicas do país e uma das obras essenciais do Programa de Integração Nacional elaborado pelo atual governo oog dess programa era integrar para não entregar o governo vivia com essa paranoia de que amaznia ia ser tomada pelos estrangeiros [Música] caracteriza por um vazio demográfico só comparável ao das desoladas regiões polares esses áudios que você tá ouvindo
desde o começo da história são de vídeos do arquivo nacional feitos pelo governo militar nesse enquanto o narrador fala que a amazônia é tão vazia quanto Antártida passam imagens de tratores derrubando árvores enormes o Presidente Med expressou sua confiança em que a Transamazônica possa ser o caminho para o encontro da verdadeira vocação Econômica da Amazônia parece um filme de terror mas é propaganda e é justamente de uma propaganda da Transamazônica que eu queria falar a primeira propaganda tem um título curioso que diz assim Ministro o transamazônico vai bem o ministro é o Andre aa né
que é o artífice da Transamazônica quem prestou atenção e muita nessa propaganda foi a nurit benus eu sou bióloga mas mas eu também sou escritora essa propaganda saiu numa revista chamada realidade que foi publicada pela Editora Abril entre os anos 60 e 70 e a propaganda é muito curiosa porque diz assim ah o Juarez de Araújo Furtado transamazônico primeiro primeiro bebê a nascer nessa terra de mitos e lendas que começamos a desbravar blá blá blá tem a foto de um bebê supostamente o tal Juarez de ponta cabeça com as mãos de um médico segurando ele
pelos pés e em cima tá escrito bem grande Ministro transamazônico vai bem e aí vem assim em letras menores seu nome todo é juare Furtado de Araújo transamazônico é o primeiro menino a nascer naquele Admirável Mundo Novo que estamos ajudando a construir é um anúncio de uma página inteira feito pela Queiros Galvão a construtora que estava fazendo essa parte da obra que ia de Altamira até Itaituba no Pará a nurit viu esse anúncio em 2022 quando ela estava preparando aulas para um curso que ela deu na região da Terra do Meio que fica no Pará
no coração da Amazônia e um dos temas do curso é mostrar que você tem vidas invisibilizadas né Principalmente na época da ditadura e a gente se deparou com aquela propaganda e a propaganda é muito chocante resolvemos colocá-la na nossa na nossa aula mas aí a gente tava lá né conversando e F pensando será que esse cara existiu esse Joarez esse curso durou um mês e nesse tempo que ela ficou ali a nurit que também é escritora começou a pensar Qual rumo que a vida do Juarez Podia ter tomado se ele realmente existisse usando como inspiração
os poucos dados da realidade que ela tinha na primeira história que ela escreveu ainda quando estava lá na Terra do Meio o juareis era um chefe de cozinha tem um Juarez que morre numa briga de bar outro que vive com coração partido Joarez deslocado por Belo Monte por exemplo um Juarez que é garimpeiro essas histórias todas foram parando num livro As Sete Vidas de juareis transamazônico que foi lançado em 2023 pela Editora mil folhas daí aconteceu uma coisa quando chegou no ano passado que é 2023 né em novembro e o livro foi lançado aqui em
Brasília lançamos um livro ótimo maravilhoso e tal aí quando a gente resolveu fazer o lançamento em Altamira que que aconteceu eu Claro divulguei no meu Instagram a editora divulgou no Instagram dela mas do mesmo jeito que a gente tinha divulgado pr pra mesma bolha que a gente atinge quando divulga né no Instagram ouem qualquer rede social que eu tinha atingido em São Paulo ou em Brasília mas a Lunara não né porque a Lunara é de Altamira que é uma artista plástica de Altamira ela fez as colagens que ilustram o livro então ela compartilhou o lançamento
para divulgar o trabalho dela com a bolha dela de Altamira Então eu acho que foi a divulgação que a Lunara fez que acabou chegando aonde chegou e aonde é que chegou chegou na família doare né faltando poucos dias pro lançamento do livro A N recebeu uma mensagem no Instagram Oi eu sou a sobrinha do juare eu realmente quase caí para trás a trocaram algumas mensagens e a sobrinha disse que não ia conseguir no lanamento porque não morava em Altamira mas que lá onde ela tava tava repercutindo bem a história de que tinha saído um livro
sobre a história do tio dela bom não é exatamente a história do seu tio né aí depois ela falou não mas escreve para ele ele vai ficar muito contente e tal aí eu escrevi para ele e eu eu notei que ele tava meio assim ele Ach ele tava muito convencido que eu tinha escrito a história dele sem consultá-lo sem saber nada sobre ele entendeu Tipo assim meio ofendido sabe tipo Opa e não era isso o livro tem história imaginadas do Juarez é ficção não é uma biografia a n tentou explicar isso pro Juarez ali por
áudio mas ficou meio com medo do que podia acontecer se ele não entendesse e no dia do lançamento né que que que isso eu acho que foi super impressionante levantam a mão um sujeito nunca visto por ninguém ali e diz assim ah juareis transamazônico uma lenda viva Eu sou irmão dele e aí ele começou a contar his his do Juarez a ele contou a história da família dele e aí ele conta também de como é que o Juarez foi incensado e todo mundo autoridad jornalistas e não sei que todo mundo chuv em cima do do
Joarez e tal não sei qu não foi só naquele anúncio da Queiroz Galvão que o Joarez apareceu teve reportagem de Jornal teve menção naqueles vídeos de propaganda que o próprio governo fazia primeiro menino que nasceu durante a construção da estrada e ali em 2023 diante da nurit de quem tava ali para ver o lançamento do livro tinha realidade a vida real do Juarez que alguém precisava finalmente contar a nurit não é jornalista ela gosta de escrever ficção Então ela procurou a suma uma que é um veículo baseado ali em Altamira para saber se alguém se
interessava em ir atrás do Juarez e Como que essa história do Juarez chegou é você então a nurit me passou o contato do irmão do Juarez esse que esteve no lançamento do livro e eu comecei a conversar com o irmão dele a Jaqueline sord que é bióloga e jornalista foi quem ficou responsável por ir atrás do Juarez de verdade depois daquele lançamento em Altamira ela e o irmão do Juarez o ma de Araújo começaram a trocar mensagens para combinar uma visita dela a Ele o ma contou pra Jaqueline que o Juarez é analfabeto então para
se comunicar com ele seria melhor mandar áudio Oi Juarez Tudo bem então a gente tá vendo as passagens aqui fos eu e a Brenda Alcântara que é uma fotógrafa nós fomos no final de Maio para lá então nós nos encontramos eu e a Brenda fotógrafa em Natal E aí de lá nós pegamos um carro e fomos dirigindo até São Tomé que é a cidade que jesma hora que fica distante umas 2 horas 2 horas de Natal a capital do Rio Grande do Norte essa cidade São Tomé foi de onde a família do juare saiu para
ir atrás do sonho amazônico a Jaqueline e a fotógrafa foram recebidas primeiro pela família do Juarez pela mãe e pelos irmãos que vivem lá então nós ficamos uma manhã inteira sentados conversando com a com a mãe dele com os irmãos eu acho que foi uma forma também de protegê-lo né de primeiro nos conhecer sentir que a gente estava querendo fazer lá e tudo mais para depois nós para conversar com ele e também motivo desse cuidado foi tudo que aconteceu com a família e com o próprio Juarez Quando ele nasceu você vai [Música] entender a família
do juareis como muitas outras foi parar na beira da Transamazônica por dois motivos primeiro a seca em 1970 vários estados do Nordeste estavam passando por uma seca muito Severa era o caso do Rio Grande do Norte onde a família do Juarez vivia pai já tinha Esse costume de comprar e vender terras e gostava muito de de se mudar E aí veio a seca e esse foi Inclusive essa seca que que assolou ali o Nordeste naquele período foi a justificativa que o governo usou para convencer os nordestinos a irem colonizar como eles chamaram né colonizar a
amazonia foi durante uma viagem do General M ao nordeste nessa época que surgiu a ideia do Programa de Integração Nacional vendo como a população ali tava sofrendo com a seca o Mice falou por que que a gente não abre uma estrada na Amazônia saindo da Paraíba e chegando até a fronteira do Amazonas com o peru mais de 5.000 km a Transamazônica será uma Vereda aberta ao nordestino para colonização de uma região rica em Vales férteis e promissoras jazidas minerais e aí dias depois dessa viagem foi assinado o decreto lei que criou o programa a meta
dos militares era levar pra região perto de Altamira no Pará 100.000 famílias como incentivo eles prometiam cobrir o custo de deslocamento dar um lote de 100 ha de terra uma casa e um salário mínimo durante se meses então o pai Recebeu o convite e assinou um papel manifestando interesse e chegou em casa e comunicou a a mulher TRS meses depois em dezembro de 1970 um carro do incara o Instituto Nacional de colonização e reforma agrária parou na frente da casa deles Bateram na porta e disseram arrumem as malas que se vocês realmente querem ir arrumem
as malas que o avião tá partindo amanhã de manhã de Natal de acordo com planos estruturados pelo Governo Federal o Instituto Nacional de colonização e reforma agrária do Ministério da Agricultura oferece todas as condições para fixação do homem nessa região de fartura ainda não explorada só que nada disso nem a obra nem as promessas tinham sido bem pensadas não teve um laudo ambiental ou um estudo de viabilidade da obra e do assentamento das famílias antes da floresta começasse derrubada o governo prometeu não só construir a estrada principal e as casas mas várias outras coisas a
cada 5 km e ter uma Estrada Vicinal A cada 15 uma Agrovila com pequenos comércios pros colonos venderem a produção e a cada 50 uma agrp pois com centro médico e escolas ainda não acabou a cada 100 Km e até uma cidade com hospitais e outras estruturas urbanas quando eles chegaram as casas ainda não estavam prontas né então eles disseram que ficaram num barracão com as outras famílias por cerca de duas semanas então todos dormir indo em redes ali no barracão e como a a mãe do juaria estava grávida dele já uma gravidez bem avançada
né de 8it meses quase nove eles priorizaram a finalização da casa dela a Jaqueline perguntou pra mãe do Juarez a Maria da Glória que hoje tá com 92 anos e já convive com alguns problemas de memória sobre o dia em que ele nasceu ele nasceu em 71 em janeiro 31 de janeiro de 1971 então ela conta que tinha chovido muito tava chovendo muito naquela época e o chão era todo de terra e não tinha como voltar pra casa dela do hospital de Altamira porque nenhum carro passava era muita Lama muito barro a ambulância do hospital
atolou no meio não tinha como passar então ela teve que sair Caminhando com aquele bebê recém-nascido no no colo e aí encontraram se eu não me engano um outro Colono que tinha um um carro maior que abrigou eles e depois ajudou eles ã que tinha uma caminhonete ou alguma coisa assim a chegar em casa porque não tinha outra forma né a cena é tão simbólica que fica quase brega se fosse um filme ia ser exagerado o bebê transamazônico atolado no meio da Transamazônica aconteceu mas isso não saiu no Jornal A Família do Joarez ficou vivendo
ali perto de Altamira por do anos e nesses dois anos quando era conveniente aparecia gente ali do governo para dizer que aquele era o primeiro menino transamazônico e é claro que as visitas apareciam sem avisar o Ministro dos Transportes do Brasil na época o Mário andreasa uma vez chegou com o Ministro dos Transportes da Alemanha e ag gente do incara jornalistas em primeo de abril de 1971 quando o Juarez tinha acabado de fazer dois meses saiu uma matéria no Diário de dizendo que abre aspas pai mãe e filhos vivem tranquilamente adoram a região fecha aspas
não era bem verdade conveniente para uma matéria publicada no primeiro de abril os irmãos mais velhos do juareis que já eram grandes o suficiente para lembrar do que aconteceu nessa época contam pra Jaqueline que a vida lá era bem sofrida tudo era difícil plantar conseguir água se locomover estudar em outubro de 1971 quando jare estava com uns 8 meses ele ficou bem doente ele pegou Sarampo e ficou muito muito ruim o general Med que estava de visita em Altamira não apareceu lá na casa dele estava ocupado demais para prestar solidariedade juare estava tão doente que
a família dele que era muito católica resolveu batizar ele às pressas com medo dele morrer Pagão e com toda essa coisa de primeiro bebê transamazônico a família criou a expectativa do padrinho ser um Mice motivo dele estarem ali mas ele também não apareceu no batizado no documento da igreja consta o nome de um engenheiro que trabalhava ali na região que na narrativa familiar ficou sendo um padrinho por procuração em nome do Med o Mice visitou a Transamazônica mais uma vez ainda em setembro de 19 82 mas de novo sem passar para dar oi pro afiliado
aliás ao que parece a ditadura nem sabia direito quem era o Juarez eu digo isso por causa de uma outra propaganda feita no mesmo ano pelo próprio governo que menciona um bebê transamazônico Samuel transamazônico o primeiro menino que nasceu durante a construção da estrada o locutor diz Samuel transamazônico mas quem é parece no vídeo é o juareis sua educação e a das outras crianças que se encontram lá está assegurada é tempo de ciranda é tempo de cartila os filhos dos Colonos que ganharam no berço um Brasil grande devem se preparar para o futuro além do
estudo a higiene e a saúde também são importantes o Samuel provavelmente existiu tem outras propagandas em que o primeiro bebê transamazônico que aparece claramente não é o joris Então deve ser ele mas pro governo pouco importava Quem era Quem era só propaganda mesmo Amazônia ontem página de folclore hoje rumo e destinação dos brasileiros que dissipam a assombração do inferno verde com a disciplina do trabalho e preparam amanhã com a fecunda semente da [Música] educação não demorou muito até que a família do Juarez decidisse que era hora de deixar al Tamira para trás o registro da
partida ficou numa reportagem do Estadão publicada em fevereiro de 1973 que a Jaqueline encontrou o título era a epopeia mal saiu dos planos tá escrito assim abre aspas o transamazônico foi embora dizem funcionários do incara a matéria fala que a família do juareis foi uma das que mais sofreu com doenças e com a falta de crédito para comprar comida e que ali no meio da floresta os nordestinos só tiveram a chance de trocar a miséria pelela pobreza bom depois que nós saímos da casa da mãe dele depois de almoçar já no início da tarde nós
fomos então paraa casa do Juarez ele tava lá sentado nos esperando nos recebeu super bem também o que que tu sabia da história da tua história se como eu sabia o que que tu sabia não o que eu descobri Depois desses tempos para cá foi a questão da reportagem né que eu vi no jornal né Uhum jare contou PR Jaqueline que até uns o anos atrás ele não sabia quase nada sobre esse passado de garoto propaganda dele eu não sabia de nada e quando eu chegava a vez para minha mãe falava mãe eu quero saber
como é que foi como é que foi essa história aí porque que o povo falava né as pessoas aqui em Santé vees falavam ah J tu foi o primeiro min trans amazôn que nasceu lá no Pará né E rapaz eu não sei não vium fazia de né Não sei não sei que vocês estão contando né Aí é rapaz você até o seu padrinho é o Presidente cson não sei o qu e aquelas coisas né Aí quando aí uns 8 anos atrás Juarez pediu ajuda para uma das filhas dele para ver se encontrava alguma coisa sobre
a história dele na internet e ela achou aquele anúncio mesmo que chamou a atenção da nurit o que eu descobri foi exatamente esse jornal né que eu mandei para você que é aquele que tem eu de cabeça para baixo né ninguém da família nunca tinha visto essa propaganda Sei lá eu se a é mesmo Joarez naquela foto então quer dizer que a história é verdadeira Uhum aí ela foi é pai estão dizendo aqui que o senhor é o menino de ouro mas eu não tenho nada com ouro Sou eu mesmo eu acho que um pouco
da ideia dele é que a gente trouxesse um pouco de respostas sobre esse passado dele que é tão tão nebuloso né tão tão incerto então muito mais do que ele nos contar ele queria mesmo é que a gente fosse atrás desse da história dele o que a Jaqueline encontrou foi aquilo que o tempo não engoliu records de jornal relatos em livros de história a propaganda do governo As Memórias da família do juareis variam a mãe dele às vezes fala que sofreu muito criando os 11 filhos no meio de uma floresta completamente estranha para ela outras
diz que o Mice foi como um pai para eles os irmãos também variam de posição alguns têm saudade de Altamira o ma mora lá e outros vivem ali em Sant Tomé e eles lembram dessa época com algum ressentimento do governo porque eles sentem que a família foi enganada e foi mesmo não só a deles mas várias outras sem acesso a educação saúde a higiene e a saúde também são importantes aliás aquele Sarampo que o juareis teve tem consequências na vida dele até hoje o juareis é parcialmente surdo e a família atribui isso à doença no
fim de 1978 menos de 8.000 das 100.000 famílias que o governo tinha dito que levaria pra Amazônia estavam assentadas lá e aí o projeto de colonização foi encerrado quem ficou teve que se virar a própria Estrada foi abandonada boa parte Continua sem asfalto então quando chove fica intransitável que nem no dia que o Juarez veio ao mundo a estrada acabou virando o caminho do que hoje destrói a Amazônia a grilagem de terras o garimpo o tráfico Sem falar que aquela não era uma terra sem homens Como o governo tanto falava tem muita comunidade fica no
caminho da Transamazônica algumas delas foram despejadas incluindo comunidades que até então viviam isolas tem um número cravado de quantos indígenas a construção da estrada matou ou ajudou a matar com doenas por exemplo aura como um todo matou mais de 8000 indígenas anos o número foi levantado pela Comissão da Verdade que investiga os crimes cometidos pela ditadura até hoje Altamira onde o Juarez nasceu tá entre as cidades mais violentas do [Música] Brasil depois de voltar pro Rio Grande do Norte família do Joarez tentou ganhar a vida em outros cantos do Brasil mas no fim eles acabaram
Voltando para São Tomé o jas nunca pode trabalhar né ele alega que tanto o fato de ele não saber nem escrever como esses problemas psicológicos que ele teve dificultaram muito né com que ele conseguisse emprego e tudo mais até que há poucos anos ele conseguiu um benefício do INSS por causa dos problemas de saúde e ele vive dessa renda da renda do INSS e da ajuda da família né da ajuda de Alguns irmãos e ele não trabalha mas um dos irmãos tem uma pequena propriedade de terra ali perto eh de São Tomé e e cedeu
um espac para jars plantar algumas coisas e para ter as éguas dele lá né que ele gosta de cuidar então todos os dias o jores Acorda vai caminhando cerca de 40 minutos a 1 hora de caminhada por estrada de chão batido e também pelo meio daali da da Mata até chegar nessa propriedade e passa o dia ali cuidando das plantações cuidando das éguas E no fim do dia retorna para casa e negócio de riqueza de gente rico eu não participo muito não ful é rico e olha Prefeito Governador essas coisas fica para lá eu não
gosto nem de tá tendo intimidade amizade não que eu gostei gosto de pessoas simples né pessoas humil dou valor demais conversar com pessoas pequen como eu né era uma vez um Juarez transamazônico o Juarez de verdade é esse o Juarez Furtado de Araújo o transamazônico Assim como boa parte da Transamazônica Ficou só na propaganda [Música] oficial Essa foi a Natália Silva e essa história foi produzida em parceria com a agência suma [Música] uma obrigada por ouvir o rádio novela presenta no post desse Episódio no nosso site a gente vai deixar links para você ver várias
daquelas propagandas da Transamazônica com o juareis e os outros trans Amazônicos Além disso você pode ver fotos do Raimundo Souza Dantas inclusive com a neta dele a Íris e lê também uma matéria que a Ana Paula Rocha fez em 2023 sobre o Raimundo pra agência mang de jornalismo Lembrando que dá para seguir a rádio novelo por aí no nosso canal no WhatsApp no YouTube no Instagram no treds no Blue Sky no Twitter e agora até no tiktok nosso @ é sempre rovelo para comentários elogios críticas e sugestões de histórias você também pode mandar um e-mail
pro apresenta @radio pcom.br [Música] o rádio novelo apresenta é um original da Rádio novelo tem Episódio novo toda quinta-feira a direção criativa é da Paula escarpim e da flora Thomson devo a produção executiva é da Marcela casaca e a gerência de produto é da Juliana yer a nata Silva é Nossa Editora executiva nossos repórteres e roteiristas são a Bia Guimarães a Evely argenta o vor Hugo brandal a Sara zel a Bárbara rubira a Carol Pires e a Carolina mora a Ashley Calvo é Nossa produtora a checagem desse Episódio foi feita pelo Bruno e pela Carol
far de som desse Episódio é da Sara zel e da Bia Guimarães Bia que é responsável pela mixagem junto com a Júlia Matos nesse Episódio a gente usou música original de Luna França e também da Blue dot o desenvolvimento de produto e audiência é feito pela Bia Ribeiro o design das nossas peças é do Gustavo Nascimento a nossa analista administrativa e financeira é aain Nogueira a nossa coordenadora executiva é a Lara Martins a no estagiária é a Isabel de Santana e quem faz a revisão das transcrições dos episódios pra gente é a flora Vieira obrigada
e até a semana que vem