As mudanças climáticas estão atingindo em cheio a população mais pobre do mundo. E os países mais afetados são justamente os que menos poluem. Sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e neste vídeo vou explicar por que os países mais pobres do mundo são os que mais têm a perder se as emissões de dióxido de carbono na atmosfera não diminuírem.
E se nada mudar, mais 130 milhões de pessoas podem ser levadas à pobreza nos próximos dez anos. Enquanto os países mais ricos, que concentram a metade da população do planeta, são responsáveis por 86% das emissões mundiais, as nações mais pobres liberam apenas 14% dos gases poluentes. O Brasil é considerado pela ONU um país de renda média, e, portanto, está do lado mais pobre dessa divisão, embora também figure entre os grandes emissores de poluentes per capita principalmente por causa do desmatamento.
Mas se engana quem pensa que os efeitos deste cenário são uma preocupação apenas para o futuro. Em diversos lugares do mundo, a população mais pobre já sente os impactos das mudanças climáticas, que podem vir na forma de calor ou frio extremos. No Brasil, as mudanças climáticas já se manifestaram em 2021 na onda de frio que atingiu o país em julho, principalmente no Sul e no Sudeste.
Segundo Francisco Eliseu Aquino, climatologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o aumento global de temperaturas acelerou a velocidade das trocas de massas de ar que acontecem durante o ano entre o Sul do Brasil e a Antártida. No Nordeste brasileiro, as mudanças climáticas também estão deixando a caatinga mais quente e seca, segundo o geólogo Washington Franca Rocha, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), na Bahia. E em meio a isso tudo, a população mais pobre brasileira é bastante afetada.
Isso porque as mudanças climáticas acabam aumentando a incidência de temporais em algumas regiões do país, por exemplo, e trazendo o risco de deslizamentos em bairros pobres. Existem ainda os efeitos do calor extremo para trabalhadores do campo e dos trabalhadores urbanos que atuam em áreas abertas, caso da construção civil e dos garis, a menor oferta de água potável e de peixes em rios e lagoas que secam, por exemplo. Meu colega Elderlan Souza fez um vídeo sobre os efeitos catastróficos da seca que vem assolando o Rio Paraná, depois dá uma olhada lá.
Um deles foi que a hidrovia Tietê-Paraná, uma das mais importantes do país, teve de suspender os trabalhos por falta de água. E a ausência desse meio de transporte barato prejudica empregos, aumenta custos para produtores rurais e custos de logística, o que geralmente acaba sobrando para o consumidor que vai ao supermercado. E sabemos que qualquer alta nos preços dos alimentos atinge em cheio justamente os mais pobres.
A época de chuvas mais curta prejudica ainda a produção de pequenos agricultores e favorece a ocorrência de queimadas, que até o dia 1º de agosto deste ano registraram uma alta de 5,8% em relação ao mesmo período do ano passado - e 2020, como a gente sabe, já tinha sido um ano de aumento expressivo. O governo do Brasil diz que nosso país responde por pouco mais de 1% das emissões globais de CO2, o que o colocaria na 12ª posição mundial. Mas um estudo recente do portal especializado em clima Carbon Brief diz que o Brasil é o quarto país que mais contribuiu para as emissões históricas de CO2, depois de EUA, China e Rússia.
Segundo o estudo, o Brasil foi responsável por cerca de 5% das emissões no período entre 1850 e 2021 - e isso principalmente por causa do desmatamento. Além disso, especialistas alertam que, quando analisamos a emissão de poluentes por habitante, estamos bem próximos da China, por exemplo, que é a maior poluidora do mundo em termos gerais, com 29% do total. Ela é seguida pelos Estados Unidos, com 14%.
E falando na terra de Joe Biden, lá as mudanças climáticas também atingem as pessoas de forma desigual Em junho, durante uma onda de calor que atingiu Nova York, cientistas constataram que as ruas de áreas mais pobres da cidade eram de três a 10 graus mais quentes que as de outros bairros. A falta de árvores e o excesso de asfalto são as principais causas desse aquecimento. A milhares de quilômetros dali, em Serra Leoa, a prefeita da capital do país tenta reverter esse processo.
O plano da administração é plantar um milhão de árvores na cidade e nos arredores em dois anos. Até agora, um quarto da meta foi cumprida. Além de oferecer sombra, a vegetação retira o excesso de umidade do solo, o que se reflete em temperaturas mais amenas e menos enchentes.
Pesquisas apontam que pessoas que vivem em áreas com pouca vegetação têm 5% mais chances de morrer por causas relacionadas às altas temperaturas. Cientistas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, dizem que as mudanças climáticas também abalam economias mundo afora. Na Nigéria, por exemplo, a estimativa é que o desempenho da economia hoje é 29% menor do que potencial por conta dos impactos das mudanças no clima.
No caso do Brasil, esse número é de 25% e, no da Índia, a projeção de perdas chega a 31%. As condições climáticas extremas, que se manifestam em ondas de calor e incêndios, também podem resultar nas migrações em massa. Os incêndios de 2018 em Paradise, na Califórnia provocaram uma onda de migração para a cidade de Chico, que fica a 23 quilômetros dali.
Com a procura maior por imóveis, houve um aumento dos aluguéis e isso obrigou quem não podia pagar os novos preços a deixar suas casas. De volta a Serra Leoa, o clima também está tirando o sustento de algumas famílias. A cidade Yonkers, no Estado e Nova York, onde Yolanda mora, também foi atingida pelas enchentes.
Na cidade de Nova York, no bairro do Queens, uma família do Nepal foi encontrada morta no porão em que vivia, após a residência ser alagada. Novas pesquisas indicam que crianças que nascerem em países ricos vão ver duas vezes mais eventos climáticos extremos que seus avós, enquanto as que nascerem em países pobres verão três vezes mais. Eu fico por aqui, acompanhando as novidades sobre o clima e o meio ambiente no Brasil e no mundo.
Muito obrigado e até a próxima!