Caríssimos irmãos e irmãs, é sempre uma alegria celebrarmos a festa de São José, ainda mais dentro de uma meditação [Música] contínua como a que fazemos ao longo da Semana do Cerco de Jericó. Falamos que São José é o padroeiro de toda a Santa Igreja, mas também, ao longo desses dias, temos falado sobre a necessidade de vivermos uma vida crucificada, ou seja, a necessidade de sabermos nos considerarmos mortos com Cristo, para assim oferecermos a nossa vida como instrumento de justiça, o nosso corpo, o nosso ser, unicamente para Deus, a fim de vivermos a sua vontade. São José foi exatamente isso: em primeiro lugar, uma vida crucificada.
Quando nós lemos o Evangelho, nós não temos nenhum registro de uma palavra que tenha saído dos seus lábios; ele é silencioso. Ele fala mediante as suas ações. E quais são as suas ações?
São ações de obediência. Ele faz da sua vontade própria; ele descobre que Maria está grávida, resolve abandoná-la em segredo, ou seja, assumindo uma culpa que não era dele, mas que ele não podia entender. Então, o anjo lhe aparece e diz: "Não tenhas medo de receber Maria como tua esposa; tu darás ao seu filho o nome de Jesus.
" Ele acorda e obedece; não questiona, não pergunta. Vejam que Maria Santíssima, quando o santo anjo lhe fez o anúncio, ela disse: "Como pode ser isso se eu não conheço varão? " São José, não; ele não pergunta.
Depois, chega a hora de ir registrar-se para o recenseamento; ele é um homem justo. Sai de Nazaré, vai para Belém; ali nasce o nosso Salvador. Ele simplesmente, como uma figura discreta, serviçal, humilde, estava à disposição do nosso Salvador e de Maria Santíssima, sua mãe.
Depois, o anjo lhe diz: "Herodes quer matar o menino; vai com a sua mãe para o Egito. " Ele simplesmente vai embora, como quem vai de uma sala para outra, completamente feito de fé, de confiança em Deus, de obediência, de um espírito que diligentemente está disponível para aquilo que Deus lhe mandar. Depois de alguns anos, quando talvez já estivesse se restabelecendo profissional e economicamente, o anjo lhe disse: "Podes voltar, porque aqueles que perseguiam o menino morreram.
" Mais uma vez, sem questionar, ele volta. No episódio da perda do menino Jesus, registrado por São Lucas, São José não fala nada; ele procura, ele se angustia. Maria diz a Jesus: "Olha que teu pai e eu estávamos preocupados.
" Mas ele mesmo nada fala. As notícias que não chegam dele no Evangelho são, depois, indiretas, falando sobre Jesus: "Não é ele o filho do carpinteiro? Não é ele Cristo, o artesão?
" Ou seja, prendeu-se ao ofício do seu pai. Nutrício, e ele morre, morre sem ver sequer o milagre de Cristo. Sai de cena; ele simplesmente serviu a Cristo e a sua mãe quando mais os dois precisaram.
E quando talvez podia descansar um pouco, foi para o céu. Ele é um exemplo de vida crucificada, de uma vida desvivida, de uma vida que jamais olhou para si mesma; ele viveu para servir. É por isso que Deus lhe concede tantas graças, porque como ele negaria graças a um homem que não lhe negou nada?
Ele renunciou a ter uma mulher segundo a carne para viver como o guarda de uma Virgem, respeitando-a exatamente como se fosse a arca da aliança, sem tocá-la jamais, sem jamais, de maneira alguma, avançar sobre ela, com uma retidão e uma firmeza moral incompreensíveis, sem a graça divina. São José foi o homem da confiança de Deus, aquele em cujas mãos Deus colocou o seu maior tesouro: Jesus e Maria Santíssima. Eu penso que, e aqui é uma consideração minha, que o Senhor recolheu São José antes do Ministério Público de Jesus, porque talvez, como guarda do Cristo, como defensor do Cristo, ele não conseguiria vê-lo sofrer tanto e quisesse dar a vida no lugar do Cristo.
Então, assim que o Senhor cresce e já se pode guardar a si mesmo, por assim dizer, se torna um homem adulto, ele já não tem mais razão de estar aqui. Ele vive exatamente o tempo necessário para cumprir a sua missão. Ele viveu em função de um chamado e o cumpriu de maneira fidelíssima.
Queridos irmãos, todos nós somos chamados a imitar essas virtudes: a humildade de São José, o seu silêncio, o seu espírito de serviço, a sua obediência incondicional. Todos nós somos chamados a olhar para esse homem que é, por assim dizer, o homem por excelência. Ninguém foi mais homem do que ele, a não ser nosso Senhor Jesus Cristo, e aprender das suas virtudes.
O que vale uma vida sacrificada, feita de doação, esquecida, abandonada? Pensamos a São José, que nós possamos também viver uma vida imolada, considerando-nos mortos com Cristo, para vivermos tão somente oferecendo a nossa vida como instrumento para que ele realize a sua vontade. Quando já tivermos cumprido a nossa missão, que nós possamos ser acolhidos e acompanhados por Maria Santíssima e por nosso Senhor Jesus Cristo, como ele mesmo foi.
E assim, queridos irmãos, poderemos contemplar a glória deste homem que serviu mais a Cristo do que todos os anjos do céu e que, exatamente por isso, recebe dele todas as graças que lhe pede.