Boa noite Dom eu não sei se alguém vai acreditar em cada detalhe do que vou contar mas preciso colocar esta história para fora faz pouco mais de um ano que tudo aconteceu e só agora encontro forças para revisitar essa memória sem me perder no medo ainda tremo quando me lembro mas espero que compartilhando eu consiga deixar tudo isso para trás de uma vez meu nome é Geovana tenho 28 anos e até alguns meses atrás levava uma vida normal em São Paulo trabalhava como secretária em uma clínica odontológica acordava cedo todos os dias e lidava com
a correria do transporte público com o barulho das ruas e com a impaciência das pessoas nada fugia muito da rotina até aquele dia chuvoso de Setembro quando conheci Breno era uma tarde de sexta-feira tinha acabado de sair do trabalho Exausta e de mau humor minha chefe havia me chamado à atenção por um erro que sinceramente nem era culpa minha lá fora uma chuva pesada deixava a Marginal Tietê praticamente parada tudo que eu queria era chegar em casa tirar os sapatos e fingir que o mundo não existia mas o ponto de ônibus estava cheio e a
chuva não dava trégua meu guarda-chuva de tão velho virou do Avesso na primeira rajada de vento fiquei ali meio encharcada E Furiosa até que um homem alto de fala Calma se aproximou com um guarda-chuva preto grande o suficiente para cobrir nós dois ele tinha um sorriso daqueles que parecem abrir a alma vestia uma camisa social fina meio retrô e sapatos impecáveis mesmo na lama você não pode ficar assim na chuva vai acabar pegando uma gripe disse ele me convidando a sair da enchurrada agradeci meio sem graça ainda estava azeda pela no trabalho mas a gentileza
me desarmou ele se apresentou como Breno ofereceu-me uma carona de aplicativo pois não tinha carro naquele momento e insistiu em me acompanhar até chegar em segurança não era comum eu aceitar ajuda de estranhos mas algo na postura dele me passou confiança um toque de polidez antiga que a gente não vê mais por aí conversamos brevemente no trajeto Descobri que ele morava sozinho trabalhava como consultor em alguma área que não fiquei muito clara ele falava de projetos viagens repentinas clientes em outras cidades apesar das informações vagas aquele primeiro contato me pareceu Genuíno ele era inteligente educado
e tinha um olhar muito intenso quando chegamos perto do meu prédio ele apenas sorriu e anotou meu número num papelzinho dizendo que ligaria em breve e ele ligou mesmo no dia seguinte Recebi uma mensagem perguntando se eu gostaria de tomar um café em uma padaria perto da Vila Madalena tínhamos muito em comum conversamos sobre filmes política música nossas frustrações e sonhos apesar de se mostrar bastante reservado sobre o passado Breno tinha histórias fascinantes mencionava viagens a lugares pouco turísticos sabia detalhes históricos de regiões do interior do Brasil como se tivesse vivido ali por décadas com
o passar sem comeamos a nos encontrar com frequência Breno era atencioso do tipo que traz flores sem motivo ou que com doce exato oit erles toes de quas fora de época vees me sensação um homem de outos tempos Metrópole chegava a mandar áudios que pareciam recitados uma calma e Cadência que me prendiam certa vez fui convidada a ir ao apartamento dele na região de Perdizes era um lugar charmoso antigo com móveis de m madeira Maci e livos most edições queci ter séculos falou deerat e filosofia com uma paixão que eu não costuma ver nos hom
que Nami foi ali que me apaixonei de vez fig misteriosa me fisgou por completo em poucos meses estávamos juntos quase todos os dias com a correria do meu trabalho e os compromissos urgentes dele acabávamos dormindo na minha casa ou na dele dependendo das circunstâncias Breno apesar de reservado nunca foi grosseiro ou frio pelo contrário ele demonstrava afeto e me fazia sentir única mesmo assim havia algo que eu não sabia explicar uma estranheza no ar como se ele guardasse um segredo importante no começo achei que fosse só parte da personalidade dele tinha dias em que Breno
ficava extremamente calado olhando pela janela com um semblante perturbado quando eu perguntava o que havia de errado ele mudava de assunto ou respondia apenas Não se preocupa Giovana são coisas minhas ou então é só um problema de trabalho não queria pressioná-lo Afinal todo mundo tem suas questões pessoais mas as estranhezas não paravam por aí ele raramente falava da família uma vez perguntei se os pais dele estavam em São Paulo e ele esquivou completamente dizendo que não mantinha contato com parentes há muito tempo em outra ocasião vi uma cicatriz grande no braço dele que Breno dizia
ter sido um acidente de infância mas a textura e a cor da cicatriz eram tão peculiares que me deixaram intrigada e por fim notei que ele nunca tinha redes sociais ativas nem sequer WhatsApp se comunicava por e-mail ou ligações diretas isso era incomum nos dias de de hoje comecei a nutrir uma leve desconfiança mas me sentia culpada por questionar alguém que até então me tratava tão bem Foi então que surgiram as ausências repentinas Breno passou a desaparecer Algumas Noites sem aviso ele dizia que tinha de ir a outras cidades para resolver pendências às vezes não
voltava antes de dois dias quando eu tentava ligar o telefone ficava na caixa postal e as mensagens seguiam sem resposta só retornar quando já estava de volta a São Paulo esse comportamento me deixou insegura eu me via checando o celular a cada minuto esperando algum sinal contei a situação para a minha melhor amiga Amanda ela me alertou que talvez Breno tivesse outra mulher ou até mesmo uma família secreta essa possibilidade me corroeu eu não queria acreditar mas também não tinha provas de nada para piorar quando ele voltava dessas viagens chegava exausto e cheirando a terra
molhada ou a algum odor metálico como se tivesse estado em ambientes estranhos eu o pressionava para saber onde tinha ido e ele apenas dizia são assuntos que não valem a pena te preocupar nessas noites meu ciúme me deixava doente eu tinha dores de cabeça constantes insônia E pior um nó no estômago que não passava meu raciocínio se tornava obsessivo ele está me traindo está mentindo por quê eu estava disposta a tudo para descobrir a verdade num impulso comprei um celular baratinho de segunda mão e tentei instalar um aplicativ para rastreia era o gsro Del qu
sabe até no de uma jaqueta Breno quas Chaves e perces quando junir dentro de um porta-luvas trancado ou numa gaveta que eu não conseguia Abrir sem que ele notasse era quase impossível vasculhar mesmo assim uma noite enquanto ele dormia profundamente peguei o celular dele e Verifiquei as ligações recentes não havia nada suspeito eram números sem identificação ou com rótulos como cliente um contato B nada que me provasse alguma traição mas aquilo só aumentou minha paranoia Quem salva contatos dessa forma Por que não há mensagens longas trocas de áudios nada conversei novamente com Amanda e ela
me disse que talvez eu estivesse surtando sem razão Ela mencionou que eu já tinha terminado relacionamentos anteriores por ciúmes e inseguranças mas eu sentia que era diferente dessa vez havia um clima mais denso um silêncio que gritava e eu o amava não queria destruir aquela relação com paranoias porém as ausências continuaram foi quando notei que Breno estava ficando mais estranho fisicamente uma madrugada Acordamos suados pois o ventilador de teto havia pifado ao acender a luz vi manchas escuras na camiseta dele pareciam respingos de terra mas havia também algo mais escuro quase negro ele se levantou
agitado e foi direto para o banheiro dizendo que precisava lavar aquela camisa antes que manchasse para sempre não deixou que eu me aproximasse dias depois reparei um grande nas costas dele Parecia ter sido feito por unhas ou algo pontiagudo ele me garantiu que tinha sido um acidente no trabalho mas sua expressão de desconforto entregava que não estava falando a verdade comecei a ter pesadelos sonhando com Breno envolvido em brigas ou algo ainda pior nos meus sonhos ele aparecia rodeado de sombras segurando objetos sujos de um líquido escuro eu acordava Suada sem fôlego e não tinha
coragem de convar sobre isso com ninguém além de Amanda amiga eu sei que pode soar loucura mas sinto que há algo profundamente errado com ele a desconfiança chegou ao Ápice numa noite de domingo Breno voltou para casa quase duas da manhã ofegante com a camisa parcialmente rasgada eu estava na sala todas as luzes apagadas esperando quando ele entrou fechei a porta e travei a determinada a ter respostas Onde você estava Breno perguntei ele tentou me acalmar mas não conseguia me encarar diretamente não é o que você está pensando Giovana preciso que confia em mim só
que não posso explicar agora minha raiva explodiu não pode ou não quer você some volta assim como se tivesse lutado com alguém e ainda quer que eu confie em você Ele mexeu nos cabelos frustrado parecia procurar uma forma de se justificar mas nada disse além de um desculpa eu não tenho escolha que escolha Você tem outra pessoa está envolvido em crime fala a verdade Breno me olhou com uma expressão que misturava pena e algo que interpretei como medo só que o medo não era de mim mas de alguma coisa ou alguém que o assombrava seria
muito pior se você soubesse Acredite eu tento resolver tudo sem te envolver ele falava baixo como se estivesse exausto de carregar um fardo invisível atenção cresceu e quando vi estávamos gritando um com o outro ele se recusava a dar detalhes E eu insistia por fim Breno saiu batendo à porta me deixando em prantos na sala escura Depois dessa briga ele sumiu por quase uma semana nesse período minha ansiedade me consumia mal conseguia trabalhar comia pouco e dormia pior ainda Amanda ia ao meu apartamento com frequência tentando me distrair Mas eu só falava sobre sobre Breno
e meus pressentimentos olha Gi Talvez ele esteja envolvido com contrabando tráfico sei lá mas essa história de manchas cortes sumisso Amanda parou respirou fundo só não faz nenhuma loucura tá mas eu já estava desesperada numa das noites resolvi esperar perto do prédio dele para ver se ele aparecia fiquei dentro do meu carro luzes apagadas observando a portaria antiga quase da manhã vi o carro dele encostar na Rua Lateral Breno desceu carregando algo que não conseguia identificar e entrou pela garagem Aquilo me deu um calafrio esperei mais alguns minutos e resolvi Segui a pé silenciosamente o
portão da garagem se fechou rápido demais não consegui entrar mas procurei uma forma de olhar pelas janelas laterais do edifício quando finalmente Achei um corredor onde Poderia espiar vi uma cena que me embrulhou o estômago Breno estava com a camisa ensopada de alguma substância escura e falava ao telefone em sussurros palavras truncadas algo como não posso mais segurar e ela começou a suspeitar tentei me aproximar para ouvir melhor mas acabei chutando uma lata de lixo fazendo barulho nesse instante as luzes do Corredor se acenderam corri de volta para o carro ele não me viu mas
meu coração quase saiu pela boca agora eu estava mais convencida do que nunca de que havia algo terrivelmente errado mas o que era um crime uma seita tentei pensar racionalmente mas algumas lembranças começaram a adquirir outro sentido a rapidez com que ele se curava de arranhões a forma como seus olhos pareciam quase brilhar no escuro as roupas manchadas por aquele Líquido estranho o cheiro metálico que me lembrava sangue minha mente começou a devagar em hipóteses absurdas e se bren não fosse totalmente normal pensei em histórias de Vampiros que li na adolescência ri de mim mesma
vampiros em São Paulo que besteira mesmo assim a dúvida fincou raízes na minha cabeça decidida a descobrir tudo resolvi tomar uma atitude mais arriscada na quinta-feira Recebi uma mensagem de Breno dizendo que gostaria de conversar comigo pessoalmente explicar tudo e quem sabe retomar o que tínhamos de nos encontrar na minha casa mas tarde da noite ele avisou que surgira um imprevisto e que sairia às pressas Aquilo me enfureceu e sem avisar ninguém peguei o carro e fui atrás dele eu estava obsecada em saber a verdade segui por várias vias vi quando ele pegou a rodovia
dos bandeirantes em direção ao interior mant o farol baixo para não ser notada após uns 40 minutos ele entrou numa estrada secundária sem asfalto eu o segui mesmo com medo de estar me enfiando em algo perigoso chegamos a uma área distante sem iluminação pública perto de um terreno baldio coberto por Mato Alto ele parou o carro com a pouca luz que vinha da lua enxerguei Breno abrindo o porta-malas parecia retirar um volume grande envolto numa lona escura gelei era pesado o suficiente para fazê-lo se esforçar fiquei com o carro à certa distância apaguei os faróis
e pé ante pé vi quando ele se embrenhou no mato indo em direção a uma área que lembrava um pequeno descampado lá começou a cavar com uma pá que tinha trazido do carro minha respiração estava descontrolada não conseguia acreditar no que via um impulso de adrenalina me fez dar um passo em falso pisando num galho seco que se partiu com um estalo Breno se virou imediatamente apontando a pá na minha direção Giovana ele estava atônito e ao mesmo tempo enfurecido você me seguiu meu corpo inteiro tremia O que você está fazendo Breno O que é
esse embrulho ele largou a pá respirando fundo como alguém que carrega um peso maior do que consegue suportar nos olhos dele vi um misto de cansaço e desespero você não deveria ter vindo não tem como voltar atrás agora o vento soprava forte balançando as árvores e trazendo um cheiro que me enjoava algo como ferrugem ou sangue me diz o que está acontecendo implorei com a voz fraca Ele olhou para o buraco que cavava e depois para mim você realmente quer saber Giovana porque a verdade pode te destruir meu coração pulsava tão forte que eu mal
conseguia responder por um momento tive a impressão de que os olhos dele estavam Mais Escuros quase sem brilho humano Breno balbuciou algo sobre necessidade e impulsos que não conseguia controlar foi então que eu realmente me assustei ele aproximou o rosto do meu com uma expressão confusa quase pedindo perdão eu tento controlar mas é mais forte que eu já fiz muita gente sofrer e não posso deixar você descobrir o que realmente sou ele tremia o que você é Breno engoliu em seco e ergueu a lona que estava no chão não vi claramente o que havia lá
dentro mas senti um cheiro forte de sangue e um vislumbre de algo que parecia tecido humano meu estômago revirou pode ser tarde demais para mim mas não quero que seja para você ele falava baixinho como se alguém pudesse nos ouvir naquele descampado sai daqui diovana vai antes que eu faça algo que vá me arrepender minhas pernas estavam paralisadas eu queria correr mas a curiosidade mórbida me mantinha ali De repente ele deu um passo rápido na minha direção e me empurrou para trás tropecei caindo no chão úmido enquanto ele me olhava com uma angústia aterradora desculpa
mas não posso deixar que você fale num surto de pânico tentei me levantar mas senti um golpe na cabeça algo pesado e metálico minha visão escureceu e as últimas coisas que lembro são os gritos dele que pareciam de alguém em conflito consigo mesmo e o barulho do vento atravessando as árvores Acordei já com o dia Claro estava só no terreno com a cabeça latejando havia uma mancha de sangue seca na minha testa me levantei com dificuldade e percebi que o buraco que Breno cavava estava fechado sem sinal de qualquer objeto ou corpo o carro dele
tinha sumido mas o meu ainda estava na beira da estrada Cambal até o veículo dirigi até um hospital público do bairro mais próximo fui atendida com um curativo básico e quando me perguntaram o que acontecera inventei que havia sofrido um assalto eu não conseguia relatar a verdade talvez ninguém acreditasse talvez eu nem soubesse mais o que era verdade tentei denunciar Breno à polícia sim mas foi inútil eles checaram o endereço que eu forneci não havia registro de alguém chamado Breno Luiz da Costa morando no prédio o apartamento estava vazio segundo o zelador que garantiu nunca
ter visto ninguém com a minha descrição fiquei atônita como isso era possível pesquisei em cartórios redes de documentos não encontrei nada nenhum RG CPF ou qualquer traço que ligasse Breno a realidade era como se ele não existisse comecei a me questionar se eu estava Perdendo o Juízo passei a ter crises de ansiedade e Pânico comecei a ver o rosto de Breno em qualquer homem de terno escuro que passasse por mim na rua deixei de ir ao trabalho pois tinha medo de voltar tarde e topar com ele em algum Beco minhas sni pioraram e Amanda ficou
tão preocupada que chamou meus pais para me ajudar Eles tentaram me convencer de que eu precisava de acompanhamento psicológico pois a história toda soava em verossímil mas eu tinha certeza do que vivi as lembranças os presentes as conversas tudo era real demais para ter sido uma fantasia então por que Breno não existia em lugar nenhum eventualmente tive um colapso nervoso em plena avenida Paulista comecei a que ele estava atrás de mim que ia me matar e as pessoas ao redor só me olhavam com pena ou estranhamento fui levada a um Hospital Psiquiátrico público onde passei
cerca de duas semanas lá me deram remédios fortes que me deixavam num estado de Total entorpecimento eu dormia e acordava sem saber direito a diferença entre sonho e realidade sempre que tentava contar a história recebi olhares incrédulos como se eu fosse só mais uma doida Depois de muita insistência com o apoio de Amanda e de meus pais consegui sair do hospital passei a tomar remédios mais leves e a fazer terapia intensiva parecia que eu começava a melhorar até as dores de cabeça diminuíram mas no fundo o medo continuava certa noite já em casa com a
rotina retomada tive a sensação de ver Breno parado Sob a Luz do poste em frente ao meu prédio olhei da janela e reconheci aquele porte o caimento elegante da camisa o mesmo jeito de pô as mãos nos bolsos pisquei e ele não estava mais lá teria sido uma Alucinação ou realidade passei a fechar todas as portas e janelas a verificar o olho mágico várias vezes ao dia minha terapeuta dizia que eu estava projetando meus traumas talvez fosse isso mas em meu íntimo me pergunto e se Breno realmente continua a espreita E se ele não for
humano ou se for um criminoso tão frio e meticuloso que consegue apagar todos os rastros Nada me tira da cabeça que ele existiu de verdade que nosso relacionamento foi real e que ele fez coisas horríveis eu vi eu senti o cheiro eu ouvi seus gritos abafados pelo vento hoje sigo tentando reconstruir minha vida ainda trabalho na clínica odontológica mas evito qualquer contato emocional profundo tenho crises de pesadelo toda vez que ouço barul os fortes lá fora Amanda diz que devo continuar com a terapia e tenho tentado mas toda vez que vejo um reflexo em um
vidro escuro sinto que posso ver Breno ouço a voz dele me dizendo que não tinha escolha e que eu não entenderia o que ele era talvez eu nunca entenda de fato talvez Breno fosse apenas um psicopata que se divertia em manipular e torturar suas vítimas se alimentando do medo delas ou quem sabe havia mesmo algo sobrenatural envolvido no fim O que resta é a certeza do meu próprio trauma e a esperança de que ele nunca mais apareça na minha vida conto isso a vocês agora porque preciso acreditar que não estou sozinha preciso acreditar que alguém
vai ler estas palavras e entender que o horror Pode surgir dos lugares mais improváveis inclusive de uma pessoa que te oferece um simples guarda-chuva numa tarde chuvosa É essa a história que posso contar do jeito mais fiel possível a que Vivi ou que ao menos julguei ter vivido não tenho todas as respostas mas carrego no corpo e na alma as marcas do medo que Breno me deixou a pergunta que me acompanha todos os dias é E se ele não tiver ido embora antes de irmos para o próximo relato se você é novo por aqui não
se esqueça de se inscrever no canal e ativar o Sininho para receber as próximas histórias sua presença é importante e seu apoio é essencial bem vamos continuar Boa noite Dom me chamo Sida passei a infância inteira nas encostas secas da Serra do Umbu uma região onde o sol castiga a terra até rachar e a maioria das pessoas vive de roçado e criação de umas Pou as cabeças de gado meu pai morreu cedo e minha mãe enfrentava a enchada todos os dias para pôr comida na mesa crescia acostumada a ver a vida se arrastar num ciclo
de privações ouvia o nome de algumas famílias influentes da região gente que tinha Fazenda Fartura de água nos açudes e até empregados falavam deles como se fossem Realeza e eu confesso nutria uma mistura de inveja e Fascínio o mais poderoso de todos era o seu denderson popularmente chamado de Coronel mesmo sem nunca ter servido ao exército contava-se que ele herdara uma porção de terra Generosa cheia de gado de corte e que tinha as melhores plantações de milho e feijão da Serra gente de fora vinha negociar com ele chegando em caminhonetes barulhentas que levantavam uma nuvem
de poeira vermelha na estrada ele era conhecido pela voz firme e pela figura imponente um homem alto de sobrancelhas grossas sempre com um chapé de couro Quando andava pelo povoado era seguido por cumprimentos e tapinhas nas costas como se fosse uma espécie de rei local Aquilo me causava uma admiração estranha e ao mesmo tempo uma vontade louca de ter um pedaço daquela ância não demorou para eu nutrir um desejo insensato queria que o coronel se voltasse para mim me enxergasse como mulher Como ousa sonhar com isso pensei muitas vezes mas a ideia persistia eu não
tinha beleza refinada vivia de pés descalços e roupas simples e mesmo assim alimentava secretamente esse Anseio de ser notada por ele era muito mais do que apenas amor ou atração eu queria a vida confortável que via nas casas de gente rica queria ter o respeito das outras pessoas da Vila que me olhavam quase como se eu fosse invisível foi nesse período de inquietação que comecei a ouvir rumores sobre uma mulher misteriosa uma Parteira idosa chamada Dona iri que morava num sítio afastado quase na divisa com o mato fechado meu avô costumava comentar que ela conhecia
remédios de raiz para todos os males e que se alguém sofria de alguma doença que a medicina do posto de saúde não resolvia era para lá que iam bater a porta mas também diziam que ela fazia outros serviços aqueles que ninguém admite em voz alta benzeduras fortes simpatias para amarrações e até mandingas pesadas eu não queria acreditar no que eu ouvia mas ao mesmo tempo a possibilidade de ter acesso a algum tipo de magia para mudar meu destino me obse pensei sobre isso por semanas remoendo a ideia lutando contra o medo que sempre me disseram
que eu deveria ter dessas Artes secretas no fim a ambição falou mais alto planejei minha ida até o sítio de Dona ir num domingo de sol inclemente quando todos esem distraídos na venda ou na missa segui sozinha deinos gastos cruzando Areião que margeava estada observando Ases retorcidas que teimavam em sobrev naquele solo oor Fazia tudo tremer no horizonte e eu sentia o suor escorrendo pelas cost dela ficava num terreno cercado de galhos secos mas o que me chamou a atenção foi o silêncio não havia canto de passarinhos nem barulho de vento só o latido distante
de um cachorro que parecia vir de dentro do mato a porta da casa era velha de madeira e o telhado mal cobria as paredes mas ainda assim o lugar tinha algo que me fazia estremecer é só minha imaginação pensei bati Palmas e chamei Dona ir a senhora tá em casa por um instante achei que não houvesse ninguém então A Porta Se Abriu num rangido revelando uma mulher que devia ter passado dos 70 o rosto coberto de rugas Profundas os olhos pequeninos mas vivos ela me analisou de cima a baixo sem dizer nada até que lhe
perguntei com a voz meio trêmula Desculpe incomodar eu sou a SIDA moro aqui perto na baixada do Umbu queria falar com a senhora sobre bem sobre um problema que eu tenho ela pigarreou e me deu passagem entrar naquela casa me deu um arrepio havia ervas penduradas em cordões no teto frascos com líquidos de cores estranhas espalhados por prateleiras de madeira Além de oratórios com velas e imagens que eu não reconhecia um cheiro forte de Arruda misturado a fumo pairava no ar quase voltei para trás mas me segurei Dona Ira Então me olhou fixamente como se
pudesse ler meus pensamentos sei o que você veio pedir disse ela com voz rouca mas tem certeza de que é esse o caminho que quer tomar estremeci ao ouvi-la falar aquilo como poderia adivinhar talvez minha expressão ansiosa me denunciasse ainda assim não fugi do assunto eu preciso que uma pessoa se apaixone por mim sei sei essa pessoa é difícil né gente de posse Estou certa Não precisei confirmar com palavras o olhar de Dona Ira se estreitou como se dissesse todas querem o mesmo ela pediu que eu me sentar num banquinho perto do fogão a lenha
nem bem acomodei a mão no joelho senti uma cutucada de sua Bengala Para tudo tem preço coisa que mexe com o coração mexe com a vontade e quando se mexe com a vontade de outra pessoa acaba devendo a terra entende não compreendi bem o que ela queria dizer com Devendo à terra mas balancei a cabeça se era o que eu tinha que fazer Faria não suportava mais aquela vida invisível dormindo no mesmo cá de goteiras escorrendo pelo teto em dias de chuva então sem hesitar Pedi que ela me ensinasse o que fosse necessário você vai
precisar colher umas plantas no fundo da Mata lá no Vale do Rio Seco aquela área já foi de índios a muito tempo e Reza a lenda que ainda guardam segredos do passado não é lugar que se vai à toa e o que devo fazer primeiro você vai levar uma faca continuou Mas não é para se defender é para marcar o próprio sangue uma pequena oferta para abrir caminho ela pegou uma faca de cabo de osso guardada numa caixa a lâmina parecia velha mas afiada meu coração deu um pulo pensei em recuar mas me lembrei do
coronel e do Rancho dele das terras verdes e do respeito que tinha não eu seguiria em frente Dona irci me explicou que eu deveria ir à noite quando o calor fosse menos Severo e os mistérios da Mata ficassem mais próximos a superfície disse que a erva certa crescia perto de uma Nascente pedregosa quase seca mas que era suficiente para manter o lugar úmido por fim alertou lembre de dar seu sangue mas nada de exagero Quem manda é a força do lugar e depois tome tento se conseguir o que deseja é porque alguma outra coisa abriu
espaço saí de lá com a faca guardada na cintura e um nó na garganta o sol já descia no horizonte e a caminhada de volta para casa parecia mais longa o céu ganhou tons avermelhados e o vento quente não trazia alívio nenhum no caminho me questionei se eu estava ficando maluca Que história era aquela de dar meu sangue e que força seria essa que habita o meio do mato apesar do Medo algo me impelia adiante naquela mesma noite esperei minha mãe adormecer e segui rumo ao Vale do Rio Seco a lua crescia lentamente no céu
iluminando de leve a estradinha de terra mas ainda assim eu podia tropeçar a qualquer passo pois o chão era cheio de raízes sentia um silêncio opressivo ao entrar na mata Sem grilos sem coruja sem nada só o som dos meus chinelos pisando no chão arenoso e o farfalhar de folhas de vez em quando ouvia estalos de Galhos e meu coração disparava mas eu não via nada se mexendo demorei quase uma hora para localizar a nascente era um pequeno filete d'água escorrendo por entre Pedras arredondadas a vegetação rasteira em volta tinha folhas largas reluzentes Sob a
Luz pálida supus que ali estivesse a erva que eu precisava ajoelhei na beira da água tateei a escuridão para reconhecer as plantas certas Dona irci tinha me descrito o formato das Folhas e o cheiro forte de poejo misturado a alguma coisa amarga porém eu não identificava nada com absoluta certeza minha respiração estava pesada a pulsação latejava no os ouvidos Foi então que ouvi uma voz Suave mas Inesperada sem entonação que denunciasse homem ou mulher parecia atravessar o ar ecoando em minha cabeça o que faz por aqui levantei num pulo largando a planta que estava em
minha mão olhei ao redor tentando focar a visão entre os troncos retorcidos não vi ninguém mas havia uma mancha escura vaga a alguns metros meio fundida ao mato mais alta que qualquer pessoa era como se a vegetação ali tivesse ganhado forma engoli em seco eu só quero gaguejei sei o que você quer a voz respondeu sem raiva nem simpatia você acha que resolve com truque o que a vida não te deu senti o suor escorrer pela nuca aquilo era tão absurdo que pensei estar sonhando ainda assim alcancei a faca Lembrando que precisava dar meu sangue
de alguma forma eu sabia que aquela entidade fosse apenas fruto da minha cabeça ou não era o que dona Ira chamara de força do lugar tentei manter a mão firme mas ela tremia a lâmina refletiu um brilho trêmulo de lua fiz um corte Raso na palma da mão o sangue correu até pingar na terra úmida tô oferecendo Falei sem saber se aquilo fazia sentido quando se oferece perde algo em troca a voz disse no mesmo instante me pareceu que o vento soprou mais balançando Galhos me jogando poeira nos olhos fechei a mão para estancar o
sangue e ao abrir novamente aquela mancha escura já não estava mais visível tive a Estranha sensação de que algo fora aceito embora não entendesse o que apressei-me a colher as plantas que julguei serem As certas e corri mata a fora tropeçando em raízes batendo a perna em pedras Só parei quando alcancei a estradinha de volta iluminada vagamente pela lua a partir dali a caminhada até em casa pareceu menos sufocante mas o medo permanecia no dia seguinte procurei Dona Ira antes mesmo de o sol esquentar demais Entreguei as ervas e ela verificou se era realmente o
que pedira então iniciou um preparo num caldeirão esfumaçante sobre o fogão à lenha o cheiro era forte e amargo me lembrando água parada no tempo misturada a alguma coisa Verde você vai pingar isso na comida ou na bebida dele da primeira vez que tiver chance Mas faça certo pense firme no que se quer de verdade disse enquanto enchia um vidrinho com o líquido eu carreguei esse frasco como se fosse um Talismã embora estivesse nervosa no fundo tinha uma pontada de vergonha do que eu estava prestes a fazer mas me agarrei à certeza de que aquela
era minha única saída restava agora a oportunidade certa aconteceu na semana seguinte quando o Coronel convidou algumas pessoas para um almoço em comemoração à compra de novas cabeças de gado talvez por enxergar em mim uma moça serviçal as cozinheiras me deixaram ajudar na cozinha lá havia panelas borbulhando e gente entrando e saindo a todo instante o Coronel perambulava pelo quintal conversando alto e gesticulando quando ninguém olhava me aproximei da jarra de refresco que seria servida a ele e pinguei algumas gotas do preparo tentei não pensar no que aquilo significava apenas fechei o frasco e o
enfiei no bolso do vestido meu coração disparava pouco depois vi o Coronel enchendo o copo bebericando e meu estômago embrulhou é isso pensei nos dias seguintes Ele pareceu mais Gentil comigo passou a me cumprimentar pessoalmente perguntava se eu precisava de alguma ajuda logo se tornaram conversas mais longas até que começou a aparecer na porta de casa montado em seu Cavalo Baio conversava sobre coisas triviais mas eu notava uma mudança no brilho dos olhos dele como se estivesse enfeitiçado Aquilo me dava um prazer estranho eu Sida sendo cortejada pelo homem mais poderoso da região mas não
demorou para eu perceber que algo não ia bem O coronel começou a ficar mais calado por vezes distraído Em certas ocasiões dizia que não dormia direito que sonhava com sombras andando pela casa com vozes cham por ele no meio da noite tentava rir disso mas parecia cansado as olheiras fundas se acentuavam uma noite ele apareceu visivelmente perturbado Sida Você acha que a mata tem vontade própria perguntou encarando o chão com um semblante tenso sinto que algo me segue quando eu vou ao Curral de madrugada Aquilo me fez gelar ele estava descrevendo um sentimento que eu
também tinha de ser observada mas não quis admitir tentei consolá-lo dizendo que era superstição mas à noite em minha própria cama eu mal conseguia dormir qualquer barulho fora de hora me fazia pular parecia que o ar estava mais denso e às vezes um cheiro forte de terra molhada invadia meu quarto mesmo sem sinal de chuva Pior foi quando começaram a ocorrer coisas estranhas no sítio dele um boi foi encontrado morto ao amanhecer sem feridas aparentes os cachorros ficavam agitados rosnando para algum ponto escuro no canto do quintal sem que ninguém enxergasse nada o Coronel cada
vez mais abatido dizia sentir frio à noite mesmo sendo época quente e o pior começou a desenvolver uma obsessão doentia por mim num ciúme controlador exigindo saber se eu via outros homens seguindo de longe encarava tudo com uma expressão tensa às vezes até agressiva certa vez ele amanheceu no meu terreiro sentado num pedaço de tinha marcas de sujeira na roupa e um olhar de louco como se não tivesse dormido nada me contou que na madrugada acordara com a sensação de peso no peito como se algo invisível estivesse sentado sobre ele impedindo-o de se mexer falava
num tom baixo quase num sussurro e me fitava como se eu pudesse salvá-lo O que é que tá me acontecendo Cida perguntou com a voz tremida eu não soube responderem silêncio me afastei apertando as mãos úmidas de suor não tive coragem de mencionar Dona irci ou o feitiço Ele montou no cavalo e foi embora cambaleando como um homem doente naquela mesma noite Acordei sobressaltada pelos latidos de cachorro Fui espiar pela fresta da janela e juro que vi algo se movendo perto da cerca do quintal uma forma alta escura que se confundia com os arbustos ergui
uma lamparina Na tentativa de enxer melhor mas não vi nada ainda assim senti um cheiro forte de mato pisado de terra recém revirada e tive a nítida impressão de que havia pegadas úmidas em volta da minha casa ao amanhecer alguns dias se passaram o Coronel piorou a olhos vistos emagreceu perdeu a cor do rosto e vivia isolado quase sem se alimentar as pessoas do povoado cochichavam diziam que era castigo ou quebranto eu mesma sentia dores de constantes e um cansaço descomunal como se algo me sugasse a vitalidade comecei a ter pesadelos recorrentes sempre a mesma
imagem a da Nascente no Vale do Rio Seco mas a água corria escura com lodo e havia vozes que sussurravam o meu nome de forma repetida tentei buscar Dona ir para pedir ajuda mas fui avisada por uma vizinha que a velha tinha ido embora ninguém sabia para onde a porta de seu casebre estava arrombada com tudo revirado aquilo me deu um pânico agora eu estava sozinha o que quer que estivesse acontecendo não tinha quem me explicasse como reverter então veio a notícia que desabou de vez meu mundo o Coronel apareceu morto em seu quarto Numa
manhã encontrado por um empregado diante do corpo todos ficaram chocados ele estava de olhos abertos com uma expressão que misturava medo e dor não havia feridas nada que indicasse violência mas seu o rosto parecia manchado como se tivesse ficado sem ar ou se debater contra algo houve quem dissesse que ele tivera um ataque cardíaco outros juraram que viram Marcas Na Pele lembrando ranhuras de raízes só sei que ao saber daquilo senti um torpor atravessar minha espinha a culpa me consumiu fui ao velório mas não tive coragem de entrar do lado de fora avistei a família
do coronel todos chorando rezando senti uma tontura que me apera o peito precisava tentar me desfazer daquele feitiço mas não tinha mais a quem recorrer voltei para casa coração disparado enquanto cruzava a porta percebi o ar pesado um cheiro de mofo que nunca existira antes tive certeza de que havia alguém ali na penumbra só que quando acendi a lamparina não vi ninguém apenas senti uma presença uma vibração densa como se alguém me observasse de perto E então quase como um sussurro vindo da parede ouvi você também me pertence meu sangue gelou joguei a lamparina no
chão e corri para fora chorando de pânico Custei a me acalmar na noite seguinte a mesma coisa passos no quintal vozes distantes essa sensação de ter alguma coisa me rondando em pouco tempo meu rosto começou a aparentar exaustão os olhos Fundos e eu não conseguia dormir nem comer direito assim como o coronel definhou eu parecia seguir pelo mesmo caminho hoje escrevo estas linhas com as mãos trêmulas sem saber quanto tempo me resta talvez tenha sido tudo fruto de uma superstição e minha mente tenha sido envenenada pela culpa de mexer com o que não devia mas
a cada dia que passa sinto que há algo real algo que vagueia do lado de fora e me observa já pensei em voltar ao Vale do Rio Seco e fazer algum tipo de oferenda ou pedido de perdão mas não sei se teria coragem de encarar de novo aquele vazio que me fitou entre as árvores não sei se algum dia vou me libertar desta dívida o que descobri tarde demais é que quando a gente pede algo à Terra ela pode até conceder mas acaba cobrando de um jeito que a gente nunca está pronta para pagar ei
pessoal obrigado por ouvirem clique no Sininho de notificações para ser alertado de todas as futuras narrações lanço vídeos novos todos os dias por aqui espero te ver nos próximos agora na tela vou deixar outros dois bons vídeos que sei que irão gostar te vejo por lá