Como é possível que o Brasil, um dos 4 maiores produtores de alimentos do mundo, esteja no mapa da fome da ONU? Nesse vídeo da série Soluções para o Brasil eu vou te contar a realidade da fome. Será que o Brasil tem realmente tanta gente sem ter o que comer ou é exagero da mídia?
Vamos analisar os dados e eu vou te provar que a fome afeta até quem está com a geladeira cheia. Mas que acima de tudo, existe solução! Você já parou para pensar no que é, de fato, passar fome?
Olha… não é só ficar sem nada para comer. Lucrécio mora na periferia de São Paulo com os pais e três irmãos menores. O pai é pedreiro e não tem renda fixa nem carteira assinada, a mãe faz pequenos consertos de roupas para complementar a renda da família.
Mas nos últimos anos, o dinheiro está comprando cada vez menos. Entre 2018 e 2022, o preço da cesta básica aumentou 71%, já o salário… não aumentou na mesma proporção. Os pais do Lucrécio tiveram que abrir mão de alguns alimentos e optar sempre pelo mais barato para garantir as refeições dos filhos.
Frutas, verduras e legumes viraram artigos de luxo. E muitas vezes, foi necessário trocar o arroz, feijão e carne por miojo, um almoço que custa menos de 2 reais e ainda economiza no gás de cozinha. Você diria que a família do Lucrécio passa… FOME?
Quando uma pessoa passa vários dias sem comer, certamente ela passa fome. Mas é fome quando a pessoa precisa comer miojo todo dia? É fome quando ela precisa comer sempre o alimento mais barato, não necessariamente o mais nutritivo?
Comenta aqui embaixo o que você acha. Em nenhum momento faltou comida na mesa do Lucrécio. Mas a verdade é que ele não tem “a todo momento, acesso físico e econômico a alimentos seguros, nutritivos e suficientes para satisfazer as suas necessidades dietéticas e preferências alimentares, a fim de levar uma vida ativa e saudável”.
É assim que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a FAO, define a insegurança alimentar. É um conceito que inclui a fome, mas não se resume a ela, o que representa mais fielmente a realidade. Por mais que Lucrécio não esteja com FOME, ele tem algum grau de insegurança alimentar.
Quando a pessoa tem acesso à alimentação agora, mas não tem certeza sobre o futuro, e ela precisa sacrificar a alimentação em termos de qualidade e variedade, como é o caso do Lucrécio, isso é classificado como uma insegurança alimentar leve. Se a condição piora e os alimentos começam a faltar, a pessoa tem que comer menos do que ela precisa e gostaria, e aí nós temos a insegurança alimentar moderada. E por último, existe a insegurança alimentar grave, que é quando a pessoa fica de fato sem comer, pula refeições e até pode ir dormir sem cumprir as necessidades nutricionais.
A insegurança alimentar grave é a fome. Uma pesquisa feita entre 2021 e 2022 mostrou que esses três tipos de insegurança alimentar, juntos, estavam presentes em 59% dos domicílios do Brasil. São mais de 125 milhões de pessoas sem acesso adequado à alimentação, uma necessidade básica.
Dessas, 33 milhões estavam numa situação de insegurança alimentar grave. E as consequências disso são desastrosas, como contou Potira Preiss, pesquisadora em desenvolvimento rural. Quando a pessoa não come, quando ela não se alimenta direito, ela começa a ter uma capacidade reduzida de pensar, de expressar suas atividades cognitivas, de realizar atividades físicas.
ela vai perdendo saúde, física e mental e isso vai prejudicando a capacidade dela de estar interagindo socialmente seja estudar, seja trabalhar, seja se relacionar com os grupos onde ela tá né. então isso repercute na sociedade não só pela tristeza quando a gente ter alguém passando fome mas porque isso vai afetando as atividades que essa pessoa estaria contribuindo socialmente se ela tivesse em boas condições. Uma pessoa em insegurança alimentar não é apenas mais uma pessoa vulnerável a doenças aumentando a demanda sobre o sistema de saúde.
É também uma pessoa contribuindo menos para o desenvolvimento do país. Eu me questiono. Como é possível construir um Brasil melhor se menos da metade da população tem segurança alimentar?
O que aconteceu para chegarmos a esse ponto? A história do Brasil foi marcada pela desigualdade e pobreza, e a fome é só um efeito colateral. A fome e todas as suas consequências foram ignoradas pelos governantes durante muito tempo.
Ela só deixou de ser invisível no início da década de 90, quando uma pesquisa revelou que cerca de 30 milhões de brasileiros viviam com uma renda que mal dava para se alimentar. Graças à mobilização liderada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, esse dado chocante foi amplamente divulgado e causou indignação em todo o país. Betinho colocou na boca do povo a frase que os mais pobres já conheciam na prática há muito tempo: quem tem fome tem pressa.
trata-se de matar a fome de 32 milhões. A fome não espera, a fome não pode esperar 10 anos para ser resolvida É preciso que o país transforme a luta contra a miséria e a fome na prioridade absoluta do governo e da sociedade A movimentação social e política foi tão grande que em 1993 o governo do presidente Itamar Franco criou um órgão público dedicado a traçar estratégias de combate à fome, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. As ações do Consea focaram na distribuição de cestas básicas para a população carente, mas foi o primeiro passo para grandes mudanças que viriam no futuro.
Durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso, a partir de 1995, as políticas de combate à pobreza, e consequentemente de combate à fome, foram ampliadas. Inspirado nas estratégias do Consea, criou-se o Programa Comunidade Solidária, que incluía uma série de ações voltadas para saúde, moradia, desenvolvimento rural e geração de renda, além de aumento de recursos para merenda escolar e ajuda financeira para famílias carentes, como a Bolsa-Alimentação e o Auxílio-Gás. O Brasil caminhava, mas a passos lentos.
Foi quando em 2003 tivemos novamente uma troca de presidente, com a eleição de Lula. O combate à fome deixou de ser só mais um problema dentre tantos para virar um ponto central e prioritário. Naquele ano foi criado o Programa Fome Zero para assegurar o direito à alimentação focando em quatro pilares: geração de emprego e aumento da renda, melhora no acesso aos alimentos, fortalecimento da agricultura familiar e assistência aos grupos que já sofriam com a fome.
Através desse programa, ações fragmentadas que já geravam bons resultados, como Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás e Cartão Alimentação foram unificadas em uma só, o Bolsa Família. Isso aumentou a eficiência das ações e garantiu uma renda mínima para a população ter acesso aos alimentos. Alimentos esses que são fornecidos principalmente por produtores que são historicamente ignorados: os agricultores familiares.
São famílias de trabalhadores rurais e comunidades tradicionais, como quilombolas e indígenas, que gerenciam pequenas propriedades. Esses pequenos agricultores receberam uma maior oferta de crédito e o próprio governo passou a comprar parte da produção para abastecer unidades públicas, como hospitais, restaurantes populares, escolas e penitenciárias. É o sistema girando e se retroalimentando.
E a cereja do bolo veio em 2010, quando a alimentação finalmente entrou na Constituição Federal como um direito humano. A partir desse momento, a segurança alimentar passou a ser tão fundamental quanto saúde, educação e moradia perante a lei. Por um lado, foi um avanço enorme, sinal de que o Estado finalmente deu ouvidos às necessidades básicas da população.
Mas não deixa de ser chocante pensar que algo tão essencial só foi reconhecido oficialmente em 2010. Fato é que colocar o combate à fome como prioridade fez efeito. O número de brasileiros vivendo em insegurança alimentar grave caiu mais de 50% entre 2004 e 2013.
Uma análise da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura mostrou que em 2014 o Brasil atingiu o limiar para sair do mapa da fome. Apenas 1,9% da população consumia menos que o mínimo para sobreviver. Um país que no começo dos anos 2000 tinha 11% das pessoas nessa situação, em 15 anos, alcançou números semelhantes ao de países ricos.
Foi, sem dúvida, uma conquista extraordinária. Uma das melhores notícias do ano, especialmente para nós brasileiros foi o fato do nosso país ter saído do mapa da fome Medidas como a valorização do salário mínimo e programas eficientes de alimentação escolar também foram consideradas fundamentais para se alcançar o bom resultado. O Brasil reduziu o número de pessoas desnutridas em mais de 80%.
Com isso o país cumpriu o objetivo do milênio fixado pela ONU e saiu do mapa da fome mundial. Mas dizer que saímos do mapa da fome não é dizer que a fome saiu do Brasil. Entre 200 milhões de brasileiros, 1,9% passando fome não é um valor desprezível.
São 4 milhões de pessoas que as políticas públicas não alcançaram. Diante disso, o Brasil deveria continuar com os programas bem sucedidos e corrigir as falhas. Mas não foi isso que aconteceu.
Pelo contrário, retrocedemos. A partir de 2018, a fome voltou a aumentar de um jeito que não víamos há muito tempo. Será que estamos fadados a lidar com a fome no Brasil para sempre?
O que deu errado? A contradição do Brasil produzindo milhões de alimentos com milhões de pessoas passando fome é uma vergonha Nacional. Uma estimativa feita por um organismo importante do Brasil, a Embrapa, ela estimou que o Brasil alimenta no mundo cerca de 800 milhões de pessoas Como é que o Brasil produz tanto alimento capaz de alimentar quatro vezes a sua população e tem pessoas passando fome?
Como é que isso é possível né? Isso só ocorre pela nossa imensa desigualdade social No caso do Brasil as dificuldades no acesso aos alimentos é especialmente por falta de dinheiro de recursos para poder comprar os alimentos. Decorre da miséria e pobreza de boa parte da nossa população.
O doutor Mauro Del Grossi, membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, reforçou como a pobreza e a insegurança alimentar caminham lado a lado. E isso fica bem nítido quando olhamos o ranking global de Segurança Alimentar. O Brasil está em 14º lugar em termos de qualidade dos alimentos produzidos.
Mas esses excelentes alimentos não estão chegando em quem precisa. Quando o parâmetro é poder de compra e acesso, nós estamos na posição 71. A verdade é que o acesso aos alimentos vinha melhorando.
Mas a partir de 2014, se iniciou uma grave crise econômica no Brasil. Como consequência, a população enfrentou uma queda no padrão de vida e no acesso aos alimentos. Muitas das melhorias conquistadas arduamente nos anos anteriores foram anuladas.
E em um momento de crise, em que as políticas de combate à fome deveriam ser priorizadas, o que tivemos foi o oposto: desestruturação e até extinção de programas bem sucedidos. Sobrou até pra merenda escolar. O Programa Nacional de Alimentação Escolar, que garante refeições balanceadas em todas as escolas públicas do país, ficou simplesmente sem reajuste desde 2017.
As escolas da sua cidade provavelmente tiveram que fazer milagre para comprar alimentos que, nos últimos anos, aumentaram de preço quase todo mês. Não por acaso pipocaram as notícias de merendas à base de bolacha e suco de caixinha. Não dava para esperar que a fome continuasse magicamente controlada no Brasil.
E repare que eu nem falei de COVID. A pandemia não causou a fome. Ela apenas piorou e escancarou um problema que tinha sido jogado para debaixo do tapete.
Foi quando muitos perderam o emprego, a renda diminuiu ainda mais e o preço dos alimentos foi às alturas. A pobreza obrigou 33 milhões de brasileiros a reduzirem a quantidade de comida no prato e até a pularem refeições, o que os colocou em insegurança alimentar grave. Voltamos à estaca zero.
Em 2023 os números de insegurança alimentar são os mesmos da década de 90. E tem gente que ainda acha que ciência e saúde não se misturam com política… Deixa o seu like aqui para que essas informações cheguem mais longe porque agora nós vamos entrar no ponto mais importante. Será que depois de tanta negligência, nós vamos finalmente aprender com os erros do passado?
Será que é possível acabar com a fome no Brasil de uma vez por todas? Sim, é possível reverter o quadro atual e acabar com a fome. Nós já fizemos isso antes e podemos fazer de novo.
Quem vai dar o caminho das pedras é o Mauro O primeiro desafio é garantir a quantidade de alimentos, que as pessoas comam e tenham a quantidade de alimentos. E as nossas políticas públicas que nós temos aí, o bolsa família, o programa de alimentação escolar, o programa de aquisição de alimentos, as transferências de renda são políticas que já estão instaladas já fazem parte da rotina do governo brasileiro cabe reorganizá-las e investir com recursos públicos. O Brasil só conseguiu combater a fome no passado depois de reconhecer o problema e criar uma série de ações articuladas, que foram aprimoradas com as mudanças de governo, e não destruídas a cada novo mandato.
Precisamos urgentemente reorganizar as políticas públicas que já sabemos que funcionam e garantir o acesso da população a alimentos saudáveis. E quando eu falo alimento saudável não tem nada a ver com fazer dieta. É aquele que a sua avó chama de “comida de verdade”: arroz, feijão, carne e salada.
Exatamente os alimentos que muitas vezes são substituídos por industrializados mais baratos. Isso tem que mudar e existem estratégias para isso. Berkeley, nos Estados Unidos, reduziu o consumo de bebidas açucaradas, como refrigerantes, aumentando os impostos sobre elas.
Aos poucos, esses produtos foram substituídos por bebidas mais saudáveis. A venda de água aumentou 16% e a de chás e sucos, 4%. Ok.
Talvez um aumento de impostos não seja a melhor saída. Então, por que não diminuir impostos de alimentos saudáveis? Outros 60 países e regiões do mundo já implementaram estratégias parecidas para melhorar a alimentação da população.
De nada adianta aumentar os impostos sobre o biscoito recheado se o Seu Gilmar que é porteiro e sustenta a família com um salário mínimo não conseguir comprar alternativas mais saudáveis. É importante reduzir os impostos e o preço final de alimentos saudáveis de acordo com a cultura local de cada região. Esse controle dos impostos dos produtos é UMA alternativa.
Mas se não solucionarmos o problema pela raiz, se o governo não combater ativamente a pobreza e a desigualdade, o Seu Gilmar vai continuar comprando biscoito recheado ao invés de fruta. Não basta distribuir cestas básicas e dar 600 reais para a população mais pobre todo mês. É preciso garantir empregos dignos com remunerações que acompanhem as necessidades básicas de consumo.
Um relatório dos Estados Unidos mostrou que a cada 2% de aumento no desemprego, a taxa de insegurança alimentar cresce 1%. Por outro lado, uma vez contratados, os trabalhadores que vivem em países onde o salário mínimo garante um maior poder de compra têm até 10% menos risco de insegurança alimentar, de acordo com um estudo canadense. E nós já vimos que pessoas bem alimentadas, são pessoas que pensam melhor, trabalham melhor e produzem mais.
Mas além de tudo isso, o mais importante é garantir que o Brasil continue produzindo alimentos a longo prazo. Hoje, pessoal, somos uma potência. Mas pode não ser assim para sempre.
Calor extremo, secas, inundações e tempestades estão cada vez mais frequentes e geram prejuízos enormes nas plantações. O resultado é instabilidade no mercado e aumento de preços. Ou seja, mais insegurança alimentar.
Nós não podemos evitar uma seca, mas podemos amenizar os prejuízos que ela gera. A solução passa pelo investimentos em novas tecnologias que tornem o plantio mais resistente a alterações climáticas e pela adoção de técnicas agroecológicas que preservam o meio ambiente ao mesmo tempo em que nós usufruímos dos seus recursos. É o meio ambiente, saúde e ciência guiando a política e a economia.
O combate à fome não pode mais ser um projeto secundário que tocamos só quando sobra um dinheirinho. Tem que haver um esforço nos âmbitos federal, estadual e municipal. Não só durante os 4 anos de mandato, mas a longo prazo.
Cabe a nós ficar de olho no que os políticos estão fazendo para não deixar que a história da fome se repita. Essa sim é uma verdadeira solução para o Brasil. Agora, já pensou se toda essa expertise do Brasil em relação à fome também fosse refletida na ciência e tecnologia?
Até quando vamos ficar dependentes de medicamentos e outras tecnologias vindas de fora? No próximo episódio da série Soluções para o Brasil, vamos mostrar como transformar o país em uma potência científica e tecnológica. Um grande abraço e eu te vejo no próximo vídeo.
Tchau.