Um plano é a unidade mínima de uma determinada ação dentro do filme. Então, do momento em que a câmera começou a filmar, até o momento em que ela para, somente um plano foi registrado. Mas o plano também pode significar enquadramento, quadro.
Por exemplo, esse é um plano que está muito próximo do personagem. Enquanto esse, é um plano que está distante. E diferentes tipos de enquadramentos, diferentes planos, produzem diferentes sentidos.
Por isso, nessa aula, vamos tratar do posicionamento da câmera em relação ao ponto de interesse, passando pela altura da câmera, a angulação e a distância da pessoa ou objeto que está sendo registrado. A altura padrão da câmera do cinema clássico fica na linha dos olhos dos personagens. Independente da altura do ator, ou se ele este em pé ou sentado.
Veja essa cena de ET – O Extraterrestre. Aqui, os planos são registrados na altura dos olhos das crianças, são elas que importam para a construção da cena. Do professor vemos apenas partes de seu corpo – tal qual em Tom e Jerry, quando a empregada entrava em cena, ou quando o prefeito de Townsville interagia com a Senhorita Belo em As Meninas Superpoderosas.
Em ET, quando vemos a cabeça do professor, a câmera se mantém baixa, apenas ajustando o ângulo de visão para cima, sem abandonar o ponto de vista dos pequenos. E você já deve ter escutado que a angulação da câmera pode engrandecer ou diminuir um personagem, certo? Um dos exemplos mais recorrentes é o de Cidadão Kane.
O ângulo de baixo para cima, chamado de contra-plongée, registra o discurso do personagem e intensifica sua força em cena. Enquanto o seu oposto, o plongée, pode dar um ar de inferioridade ao personagem, o deixando vulnerável. Mas vale lembrar que nada na arte é fixo.
Quando a cineasta Leni Riefenstahl registra Hitler discursando, de imediato compreendemos a escolha do contra-plongée como um artifício para engrandecê-lo. Mas será que o plongée dos 200 mil homens que estão a serviço do líder também não emana essa mesma sensação? Aqui, um conjunto de fatores estão a serviço dessa ideia de poder e grandeza.
O enquadramento aberto, o número imensurável de soldados e sua organização, o destaque que Hitler recebe ao caminhar pelo corredor vazio, se individualizando em meio a uma massa homogênea. Então, não se prenda às formulas prontas. A angulação é apenas uma das características da composição da imagem.
Ela pode influenciar nossa percepção da cena, mas também pode ter seu efeito principal amenizado por outros artifícios. Além do plongée e do contra-plongée, temos o ângulo zenital, que faz seu registro paralelo ao chão e o contra-zenital, que seria paralelo ao céu. Outra possibilidade criativa na utilização da angulação nas filmagens é o plano holandês.
Ele foi muito utilizado durante o expressionismo alemão para causar uma sensação de instabilidade, exatamente por desestabilizar a linha do horizonte do espectador – coisa que os ângulos anteriores não fazem. Entendido como a altura e a angulação da câmera funcionam, vamos aos tipos de planos na perspectiva dos enquadramentos. A princípio, pode parecer um pouco chato decorar o nome cada um deles, mas você vai notar como essa nomenclatura é quase intuitiva após um tempo.
E mais do que decorar, nosso foco é que você aprenda a identificá-los visualmente e reconheça suas funções, afinal, alguns nomes variam entre determinados profissionais e teóricos. O grande plano geral é o enquadramento mais aberto dos quadros cinematográficos, abrangendo a maior área registrada, ideal para filmar grandes locações, como uma casa, um navio, ou até mesmo uma tomada aérea de uma cidade. Ele é muito utilizado para impressionar o público com as dimensões do que está posto em cena.
Veja esse plano de Vingadores Ultimato. Aqui, o grande plano geral enquadra boa parte do exército de Thanos de um lado do quadro e apenas o Capitão América do outro. Em um só plano o filme consegue comunicar toda a situação da cena: um embate com a iminente derrota dos vingadores.
Esse contraste criado na composição da imagem torna o retorno dos heróis ainda mais emocionante, que também é registrado em um grande plano geral, agora para demonstrar que as forças estavam igualadas. O que vai diferenciar o Grande Plano Geral para o Plano Geral é o referencial dentro de um mesmo filme. Essa cena é um Plano Geral, se compararmos com a anterior do exército dos Vingadores, que era um Grande Plano Geral.
Porém, ela também poderia ser um Grande Plano Geral se comparada a esse outra cena. Então, não se preocupe tanto em tentar classificar precisamente, ao pé da letra, cada plano. Lembre-se apenas de que um Plano Geral vai compreender toda a área de ação dos personagens.
Seja ela um imenso campo de guerra ou a sala de uma casa. Quando dentro da ação você se aproxima para mostrar todo o corpo de um só personagem, esse é um Plano Inteiro. Se forem dois ou mais personagens, temos um Plano Conjunto.
Essa categorização pode parecer ambígua e um pouco subjetiva, e ela é. Mas o mais importante é que a equipe de filmagem esteja em sintonia com a nomenclatura que vai ser aplicada na gravação. Por exemplo, o Plano Médio pode ser registrado a partir do joelho do personagem e variar até a altura do peito.
Plano Médio Longo, Plano Médio, Plano Médio Curto. E entre o Plano Médio Longo e o Plano Médio, existe ainda uma outra variação, que é o Plano Americano. Ele se popularizou em filmes de faroeste, onde era importante para a narrativa mostrar em um mesmo plano o rosto do personagem e o coldre com a arma em sua cintura.
Por isso ele recebe esse título, por nascer desse gênero tipicamente norte-americano. Se nos aproximarmos ainda mais do rosto do personagem, temos um Close. Que normalmente inicia nos ombros do personagem e termina em sua cabeça.
Se nos aproximarmos ainda mais de seu rosto, temos o Primeiríssimo Plano. Onde a face do personagem preenche todo o quadro. Ao nos aproximarmos ainda mais, seja do corpo do personagem, ou de algum objeto, fazendo com que vejamos ele minuciosamente, temos um Plano Detalhe.
Esses três tipos de planos – o Close, o Primeiríssimo Plano e o Plano Detalhe, foram muito teorizados, já que eles, segundo alguns autores, serviriam como ferramenta que nos revela algo de profundo sobre os personagens. Para Béla Balázs, por exemplo, essa proximidade poderia fornecer “revelações dramáticas sobre o que está realmente acontecendo sob a superfície das aparências”. Esse foi, inclusive, um ponto levantado como defesa do Cinema como uma arte autônoma, individual.
Mesmo que fosse devedor do teatro em diversos aspectos, como roteiro, encenação, figurino, cenografia, o cinema dispunha do close: uma aproximação e detalhamento de mínimas movimentações faciais que seriam impossíveis de serem percebidas pelo público quando feitas em cima de um palco de teatro. E além de revelar sutilezas na expressão facial, o Plano Detalhe também pode nos mostrar o que está escondido, o que personagem nenhum vê. Como no pronunciamento de um presidente, que lê seu teleprompter sem demonstrar emoção.
Basta um plano detalhe de sua perna trêmula para compreendermos o que verdadeiramente ele está sentindo naquele momento. Além de pensarmos a composição do plano pela altura da câmera, angulação e enquadramento, outros tipos de planos se tornaram populares ao longo da história do cinema, e não necessariamente dizem respeito apenas ao recorte do personagem em cena. Começando pelo o Plano de Estabelecimento: ele funciona como um mapa para o espectador, ajudando-o a se localizar no espaço geográfico em que se passa a narrativa.
Geralmente, esses planos registram o espaço cenográfico em um plano geral, e são inseridos no início de uma nova cena, para que o público identifique de imediato o novo ambiente em que o enredo acontece. Mas esse registro em plano geral de todo o ambiente não é uma regra. Em Harry Potter, um close do Retrato da Mulher Gorda já seria capaz de nos informar que os personagens estão entrando no Salão Comunal da Grifinória, e não da Sonserina.
Também teríamos o mesmo efeito se a cena iniciasse com um plano detalhe de um dos brasões ou gárgulas da casa de Hogwarts na parede, como uma opção menos óbvia do que um plano geral que registrasse todo o salão. Essas alternativas mais sofisticadas de ambientar o espectador em um novo espaço cumprem a sua função primordial e são pequenas gratificações ao espectador mais atento, que vai notar que o filme tem um apreço por sua dedicação e atenção. O Master Shot, por outro lado, diz respeito muito mais a produção, a filmagem e a montagem, do que a narrativa.
Ele é um plano de segurança, que registra toda a ação dos personagens durante a cena, a partir de um enquadramento amplo que possibilita novos tipos de cortes para o montador. Nessa cena de Breaking Bad, o Master Shot funciona também como um Plano de Estabelecimento, já que inicia a cena com um Plano Geral que localiza os personagens em um espaço, e ainda já faz esse registro de segurança da cena. A partir desse plano, o montador tem a liberdade de mostrar as reações dos personagens mais de perto, e retornar ao Master Shot quando achar necessário.
No caso de um diretor e atores menos experientes, que definitivamente não é o caso de Breaking Bad, o Master Shot poderia ajudar - e muito - o montador a salvar a cena. Com um maior número de planos registrados, a montagem tem uma maior maleabilidade de alterar o ritmo da cena. Seria possível até mesmo não utilizar o close de um dos atores, caso sua atuação não tenha sido satisfatória.
Não que a montagem possa salvar uma atuação ruim, mas ela é uma das muitas ferramentas que ajuda a disfarçar esse tipo de problema. Nessa cena, inclusive, tivemos um exemplo do nosso próximo plano: o Over The Shoulder. Que em uma simples tradução significa "por cima do ombro".
Ele se caracteriza pela câmera posicionada atrás de um personagem, deixando parte de sua cabeça e ombro em quadro, e destacando o que está diante dele. Encontramos esse recurso comumente aplicado em diálogos, como no Plano e Contra Plano de dois personagens, por exemplo. E apesar de o Over The Shoulder nos aproximar do seria a visão daquele personagem que está de costas para nós, já que temos quase a mesma perspectiva de seu olhar, existe um outro tipo de plano que diz respeito exatamente a visão subjetiva de um personagem: o Plano Subjetivo, ou Ponto de Vista.
Hoje temos filmes que, numa proposta de imersão, simulam a visão de um personagem durante todo o enredo, mas a técnica não é nenhuma novidade. Como aponta Jennifer Van Sijll, em "Narrativa cinematográfica", essa técnica pode ser utilizada para criar tensão, como na primeira cena Halloween, em que um personagem assassina uma garota, e somente ao final da cena descobrimos que é Michael, irmão da menina e que tem apenas seis anos. Quinze anos depois, quanto o filme repete o mesmo Plano Subjetivo, de imediato fazemos a conexão com Michael, e esperamos que uma nova série de assassinatos aconteça.
Ou até mesmo em Tubarão, em que as primeiras imagens submersas no lago parecem despretensiosas. Até descobrirmos que elas se tratam de um Ponto de Vista de um tubarão. E quando Spielberg retorna a esses Planos Subjetivos, nós já sabemos que podemos esperar novos ataques do animal.