Imagine você jogar uma moeda para cima 78 vezes seguidas e em todas elas dar cara. Parece impossível, pois estatisticamente falando é o que acaba de acontecer com o dólar de Taiwan, que nos últimos 3 dias se valorizou mais de 10% contra o dólar americano. Um movimento absurdo, inesperado, estatisticamente quase impossível e que repercutiu nas demais moedas asiáticas, fazendo vários investidores e analistas se lembrarem da crise asiática de 97.
Mas agora no sentido oposto. Alguns já aventando que é resultado das negociações do governo americano, as negociações comerciais. Então seria já fruto de um acordo monetário com alguns países da Ásia.
A verdade é que tem muita coisa acontecendo. É mais um momento histórico para ficar já registrado pros livros de história financeira, mas é importante entender o que está por trás desses movimentos, o que explica, como isso pode repercutir no restante das taxas de câmbio mundo afora, inclusive na economia brasileira. E a gente precisa começar mostrando exatamente este movimento então do dólar de Taiwan aqui em dois pregões que foi aqui na sexta-feira uma valorização.
Então aqui a queda da taxa de câmbio, 4,37% num dia e aí na segunda-feira mais uma queda de 5%, um movimento absurdo e na terça-feira aqui está subindo um pouquinho e devolvendo partes desses ganhos. Mas ainda assim é um movimento histórico e que impressiona pela magnitude. E colocando aqui em numa linha do tempo um pouquinho mais ampla, cara, é surreal.
É em linha reta aqui que cai o dólar em relação ao dólar de Taiwan, mostrando então uma valorização brusca, intensa da moeda de Taiwan. E o movimento, como eu comecei o vídeo, ele analisando a teoria estatística, é quase impossível conceber esse tipo de evento nessa magnitude. Aqui mais uma notícia mostrando que esse foi então um evento de um em um trilhão.
Um negócio absurdo. E claro que há algumas explicações, algumas talvez mais técnicas e há outras também, por enquanto especulações, mas que tem algum fundamento e tem a ver com os acordos comerciais que o governo americano está liderando com vários países, especialmente com os seus aliados. Mas para mostrar mais uma vez agora numa janela mais alongada a taxa de câmbio de Taiwan, vejam só o movimento agora.
Então, uma queda forte da taxa de câmbio em relação ao dólar, então um fortalecimento, valorização e o exato oposto do que foi lá em 97, quando o dólar de Taiwan se desvalorizou, se depreciou bruscamente em relação à moeda americana, momentos da crise asiática de 97. E aí, quais são as explicações técnicas? Até teve uma aqui de um banco japonês que está no Trading View falando como esse movimento ele está fora do gráfico.
Foi um movimento de 19 sigma, então 19 desvios padrão, o que seria já seis sigma já seria um absurdo completo, mas como diz aqui numa distribuição normal, um evento de seis sigma é um choque uma vez na vida. Bom, movimento de 19 sigma é como então jogar uma moeda para o alto e ela cair 78 vezes seguidas cara, ou seja, não acontece na teoria estatística limpa. Então, quais são algumas das explicações?
Primeiro, a própria liquidez estava fina, tão baixa por conta de feriado. O posicionamento possivelmente estava muito mais pesando pro lado de desvalorização do dólar de Taiwan e não o contrário. Alguns catalisadores macro de fluxos se alinharam perfeitamente, as conversas comerciais entre Estados Unidos e China e talvez com Taiwan também.
uma entrada forte de capital de 1. 2 bilhões de dólares recente e também questões estruturais, como por exemplo, a necessidade de várias seguradoras taiwanesas de fazer o head que amplificou este movimento, já que muitas seguradoras estão alocadas também em títulos do tesouro americano, tem ativos denominados em dólares americanos. E se há uma valorização brusca da moeda local, o prejuízo na moeda local, ele se reflete por conta da desvalorização dos ativos denominados no dólar americano.
Então, há também essas questões técnicas e quais foram os impactos nas demais moedas, especialmente ali no sudeste asiático? Foi impressionante aqui eu colocando no ano 2025. Então, dólar de Taiwan é que mostra a maior queda.
Chegou cá, então, 11% neste ano, mas também cai o bate tailandês, a moeda que o ringit da Malásia, a rúia da Indonésia é da a única que está se valorizando neste ano, mas o dólar de Singapura caindo mais de 5%, o one da Coreia do Sul também caindo aqui mais de 6% neste ano, assim como moeda da Filipina caindo mais de 4%. E aqui o bailandês caindo quase 5%. Então o movimento de valorização dessas moedas, a taxa de câmbio aqui caindo significa que elas estão se valorizando.
E só para comparar com o real brasileiro, que também se valoriza neste ano, então mais uma moeda emergente que está aqui, a taxa de câmbio do real brasileiro cai 7,80% em 2025. Então é um movimento também global, mas que foi exacerbado, especialmente aqui no último mês, quando de fato iniciaram as tarifas e também as negociações com alguns países que estão acontecendo em paralelo, mas que também não temos muitas notícias. E aí que é um pouco do que está sendo aventado, é, será que essa apreciação das moedas asiáticas já seria um resultado direto das negociações do governo americano com esses países, já forçando eles, influenciando eles a fortalecerem as suas moedas para que o dólar se enfraqueça em relação a elas e assim se consiga reverter o déficit comercial americano, seria já resultado disso?
É possível, especialmente nesses principais candidatos, Taiwan, Coreia do Sul, porque são fortes aliados dos Estados Unidos, estão debaixo do chamado guarda-chuva de segurança, são países com uma conta corrente muito parruda que vem crescendo ao longo dos anos. Então, tem uma conta corrente super avitária e também em relação aos Estados Unidos acumulam vários ativos americanos, então são credores externos. Taiwan é impressionante, quase 2 trilhões de dólares.
Até vou colocar aqui alguns gráficos na tela pra gente ter noção deste movimento aqui, ó. Então, a conta corrente de Taiwan quase foi já tá acima de 15% do PIB. a posição de investimento internacional, então, se aproximando aqui de 1,8 trilhão de dólares é muita coisa.
Assim como a Coreia do Sul, que tem registrado uma conta corrente muito superavitária, ao redor de 5% do PIB, também é um credor externo. Então são os principais candidatos a chegarem num acordo com os Estados Unidos, um acordo comercial que envolve a valorização das suas moedas em relação ao dólar americano. E talvez é o que já esteja acontecendo.
E que a gente precisa entender um pouco da estratégia do tesouro americano liderado pelo Scott Bess, pelo próprio Trump, Departamento de Comércio e como este reequilíbrio da economia global, a correção dos desequilíbrios, como isso está se desenrolando na prática. Porque a verdade é que a gente precisa ir desvendando a estratégia, ela ainda não foi explicitada e nem será. Sabemos o objetivo final, corrigir esses desequilíbrios, zerar ou reverter pelo menos parte desse déficit comercial americano profundo, lidar também com a dívida pública americana.
Mas como eles vão corrigir os desequilíbrios, ainda não sabemos. Então a gente vai especulando sobre como isso pode acontecer. Talvez esses acordos já estejam sendo desenhados em paralelo por vários países.
Primeiro, os mais periféricos, os mais aliados dos Estados Unidos, economias que não são as maiores economias do planeta. Então, há uma um poder de barganha maior pelos Estados Unidos. E é depois de costurar todos esses acordos com vários países importantes, especialmente aqueles que têm conta corrente superavitária, que são credores e depois também com Europa e outros aliados.
Depois de conseguir juntar todos esses acordos aí, os Estados Unidos podem de forma mais forte, com muito mais barganha, chegar paraa China e aí sim também forçar a China a valorizar a sua própria moeda para corrigir este profundo desequilíbrio. Talvez essa seja a estratégia, não sabemos, estamos aqui especulando. E aproveitando que estamos falando de macroeconomia, contas externas e como isso impacta os nossos investimentos, eu convido vocês a conhecerem o Follow the Money, nosso aplicativo definitivo com o melhor conteúdo de finanças, economia e investimentos.
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Então siga o dinheiro e não perca essa oportunidade. Agora sim, de volta para o vídeo. Mas a verdade é que também faz sentido macroeconomicamente abordar primeiro esses países, como eu mostrei aqui a conta corrente dos países que estão superavitários e credores externos.
E se isso for alcançado, o fortalecimento dessas moedas asiáticas, a consequência disso seria o oposto da crise asiática de 97. O movimento seria a crise asiática ao revés. E por que isso?
Porque a gente precisa relembrar a situação lá da crise asiática que aconteceu em 97, que acabou dendo como o grande gatilho a Tailândia, que era um país com uma conta corrente deficitária, portanto dependia de financiamento externo e se endividou muito também em moedas estrangeiras, sobretudo o dólar americano, e buscava manter alguma estabilidade na sua taxa de câmbio. E quando esses fluxos de capitais cessaram e o financiamento externo escassou, não havia mais, o que aconteceu foi uma forte desvalorização da moeda da Tailândia. Aqui a conta corrente, então, que era com déficit de a mais de 5% PIB, chegou até aqui 95 em quase 10%, e aí depois a mudança drástica, porque o bate tailandês sofreu uma forte depreciação, súbita, impressionante.
Só que foi um movimento do tipo efeito cascata, porque também impactou a economia da Malásia, que também era deficitária na conta corrente, dependia de capitais externos quando eles secaram. A taxa de câmbio também desvalorizou bruscamente. E da mesma forma tivemos aqui a Indonésia, que também tinha conta corrente deficitária, necessitava de capital estrangeiro e viu a sua moeda desvalorizar bruscamente ali em 97.
Então essa foi a crise asiática de 97, só que agora seria o movimento oposto. Desde então, várias dessas economias se tornaram superavitárias na sua balança comercial, alguns na conta corrente como um todo e passaram a acumular ativos no estrangeiro. em vez de receber financiamento, que é que aconteceu ali na década de 90, agora esses países estavam concedendo financiamento e assim acumulando ativos no exterior.
E se a gente analisar também pela ótica do poder de compra das moedas e a taxa de câmbio, a verdade é que boa parte dessas moedas asiáticas ainda está subvalorizada. E para isso eu vou relembrar o nosso querido índice Big Mac para mostrar aqui no último dado que foi divulgado em janeiro de 2025. Até colocar aqui um zoom maior.
Olha só das moedas sobrevalorizadas, o franco suíço, o peso argentino, o peso uruguaio, a coroa da Noruega, o euro e aqui da Costa Rica e depois as moedas que estão subvalorizadas. Vejam só aqui quem nós encontramos. Singapura está subvalorizada ao redor de 10%.
Depois temos aqui as moedas Tailândia com 30,8% de subvalorização em relação ao dólar, assim como as demais moedas aqui do Vietnã, 47. 7%, até o ien japonês 46%, Hong Kong também 46, a da Malásia 48, Filipina 50%, que mais que temos aqui? a Indonésia 56%, e o Taiwan, que é a mais subvalorizada, 58.
8%, 8%, o que sugere que há muito espaço para essas moedas se valorizarem em relação ao dólar americano. E aí, se isso acontece de fato e esses países que antes tinham uma conta corrente super avitária, agora valorizam as suas moedas, seja por um acordo negociado com os Estados Unidos ou por qualquer que seja o motivo quase certo que vai ser esse. O que pode acontecer é a reversão dos fluxos de capitais.
Em vez desses países investirem no exterior, investirem na dívida americana, em ativos nos Estados Unidos, o que pode acontecer é o oposto, é o fluxo capital inverter e voltar a migrar para países como esses do Sudeste asiático ou emergentes em geral. E até mesmo o Brasil pode se beneficiar dessa reversão dos fluxos de capitais que nos últimos anos migraram muito para os Estados Unidos. Aí a parte do desequilíbrio que é identificado pelo Scott Besson, secretário do tesouro americano.
E por isso é preciso fazer alguma coisa. E uma outra forma de entender esses movimentos é que a valorização das moedas asiáticas e a desvalorização do dólar americano significa uma transferência de poder de compra do consumidor americano para os consumidores asiáticos, porque os americanos precisarão produzir mais e exportar. E agora os asiáticos com maior poder de compra poderão consumir e importar mais dos Estados Unidos.
É um momento macro histórico. Estamos testemunhando em tempo real as negociações para reequilibrar esses fluxos de capitais, as taxas de câmbio, os fluxos comerciais. E este seria o end game final, então o resultado final buscado pelos americanos, é justamente de desvalorizar o dólar ou fortalecer as demais moedas, o que honestamente vejo como algo no fim das contas positivo para os emergentes, inclusive para o Brasil, porque historicamente foram em momentos de valorização das moedas emergentes ou de fraqueza do dólar americano que essas economias se beneficiaram.
cresceram e receberam muito capital estrangeiro. Quem sabe estamos entrando novamente num movimento similar, como o Brasil viu no início do da década retrasada, os anos 2000 e depois um pouco em 2010. Quem sabe, mas importante monitorar.
Macro continua algo fascinante, cada vez mais importante, porque está ditando o rumo de economias mundo afora. Espero ten gostado desse vídeo, compartilhem, se inscrevam no canal, ativem o sininho e quem não segue o dinheiro ainda, siga follow em algum lugar da tela, link descrição do vídeo. E lembrando que nós temos já o nosso novo documentário disponibilizado exclusivo pros nossos assinantes, o futuro do dólar tá muito bacana.
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Até o próximo vídeo.