A relação entre israelenses e palestinos tem sido complicada desde o início. Eu sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e neste vídeo vou explicar a questão dos assentamentos judaicos. Assim são conhecidas as comunidades que começaram a ser construídas por Israel em território palestino depois da guerra de 1967.
Aliás, este vídeo é o segundo de uma minissérie sobre o conflito entre israelenses e palestinos. Se você não viu o primeiro, que explica como tudo começou, clique aqui ou no link da descrição. Bem, durante o domínio britânico, nas décadas de 20, 30 e 40, milhares de judeus migraram para a região palestina.
Mas após o Holocausto e a criação do estado de Israel em 1948, a população de judeus na área cresceu exponencialmente. Hoje, os israelenses são cerca de 8 milhões e meio e a maioria vive dentro das fronteiras do estado de Israel. Mas mais de meio milhão vive em assentamentos localizados nos territórios ocupados da Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Esses assentamentos são como bairros protegidos por cercas, muros e pelas forças de segurança israelenses, e aqueles que vivem neles são chamados colonos. Mas por que esses assentamentos são tão problemáticos? Israel começou a construí-los em 1967 nos territórios ocupados durante a Guerra dos Seis Dias.
Ao longo dos anos, eles cresceram muito — em número e população. E isso à custa dos habitantes palestinos, que acusam o Estado israelense de demolir suas casas, invadir e expropriar suas terras e restringir sua liberdade de movimento. A comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas e o Tribunal Internacional de Justiça, considera esses assentamentos ilegais.
E faz isso por um princípio muito simples: A Convenção de Genebra proíbe um país de transferir sua população para o território que ocupou militarmente. No entanto, os israelenses defendem que esta regra não pode ser aplicada à Cisjordânia. Segundo eles, ela não é um território ocupado porque antes de 67 não havia uma soberania clara.
Ou seja, eles argumentam que, antes de chegarem, esse território não era oficialmente de ninguém. Até a década de 40, a região da Palestina era controlada pelos britânicos, que chegaram ali no contexto da partilha do Império Turco Otomano após o fim da primeira guerra. Se quiser relembrar essa história, dá uma olhada no nosso primeiro vídeo.
Por outro lado, os assentamentos judeus transformam o território palestino em um mosaico fragmentado. E aqui devemos falar de outro protagonista deste conflito: a Organização para Libertação da Palestina, liderada por Yasser Arafat. A OLP era uma coalizão de movimentos políticos e paramilitares criados em 1964 com três objetivos principais: acabar com o Estado de Israel, favorecer o retorno de refugiados palestinos e criar um Estado palestino.
Durante anos, a OLP lançou operações militares contra Israel, primeiro da Jordânia e depois do Líbano. E isso desencadeou um conflito no sul do Líbano em 1982. Mas os ataques palestinos também incluem alvos israelenses em território europeu.
Um exemplo foi o sequestro e assassinato de 11 atletas israelenses durante a Olimpíada de 1972 em Munique. Fato é que durante anos o conflito entre palestinos e israelenses manteve a região em tensão. Certamente você já viu essas imagens em alguma vez: meninos jogando pedras nos tanques do exército israelense.
Esta "Guerra das Pedras" foi durante muito tempo o símbolo desse conflito. Essa tensão, a superlotação nos territórios ocupados, as difíceis condições econômicas e os confrontos entre o exército israelense e a população palestina provocaram protestos violentos em 1987. Foi o que foi chamado de "intifada", uma palavra árabe que significa "levante".
Um ano depois, a Jordânia renunciou às suas pretensões sobre a Cisjordânia e reconheceu a Organização de Libertação da Palestina como o único representante legítimo do povo palestino. Essa primeira Intifada terminou em 1993 com a assinatura dos Acordos de Paz de Oslo entre a OLP e o estado de Israel. Esse acordo foi muito importante na época, porque ambas as partes se comprometeram a buscar a paz e a colocar fim nos conflitos.
A Autoridade Nacional Palestina foi criada nessa ocasião e, anos depois, em 2013, adotou oficialmente o nome de Estado Palestino, reconhecido por 139 dos 193 países que compõem a ONU, dois terços. Os acordos de Oslo também previam a autonomia palestina sobre Gaza e a Cisjordânia - e dividia esse último território em três setores administrativos, denominados Áreas A, B e C. A área A é administrada exclusivamente pela Autoridade Nacional Palestina; A área B está sob o controle administrativo da ANP e o controle militar de Israel; e a Área C, onde estão os assentamentos israelenses, é totalmente administrada por Israel.
A tentativa de implementação do plano, entretanto, não só foi malsucedida, como foi o pivô do assassinato do então primeiro-ministro israelenses Yitzhak Rabin em 1995. Ele foi morto por um militante de extrema-direita que se opunha ao diálogo com os palestinos. Assim, nos anos seguintes aos Acordos de Oslo e após a fracassada cúpula de paz de Camp David em 2000, as relações entre as duas comunidades permaneceram muito tensas e os confrontos violentos continuaram a acontecer.
Em 2002, Israel começou a construção de um muro de concreto cercando parte dos territórios ocupados da Cisjordânia, separando-a de Israel, sob o argumento de que estaria protegendo seu território. Apesar das críticas de autoridades internacionais e dos apelos pra que fosse destruído, o muro hoje tem mais de 760 km. Ainda no ano 2000, teve início a segunda intifada, catalizada por evento puramente simbólico: A visita do então candidato a primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, ao Monte do Templo — também chamado Esplanada das Mesquitas, local considerado sagrado tanto por judeus quanto por muçulmanos.
A visita foi vista como uma provocação, enfureceu palestinos e deu início à segunda intifada. Mais violenta que a primeira, ela terminou em 2005 com a retirada de Israel de Gaza. A mais recente escalada de violência eclodiu em 2017, motivada pela decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como a capital do Estado de Israel.
Jerusalém é tema do nosso próximo vídeo, se quiser entender melhor essa história, clica lá Mas fato é que, nas últimas décadas, as administrações dos EUA estiveram perto de Israel, dando inclusive apoio financeiro ao país. A potência do exército israelense e suas ações nos territórios palestinos há anos estão no centro de uma discussão sobre uma possível resposta desproporcional dos israelenses a ataques palestinos e pra conter episódios de violência. Nos últimos anos, as Forças Armadas de Israel realizaram numerosos bombardeios na Faixa de Gaza e, em menor grau, na Cisjordânia, que há décadas vem sendo progressivamente ocupada pelos assentamentos que eu mencionei no início, que hoje se espalham por praticamente todo o território e tornam cada vez mais distante a possibilidade de construção de um Estado palestino.
Segundo Israel, as ações militares são respostas a ataques de palestinos contra sua população civil. Muitas vezes, esses ataques são de responsabilidade de grupos extremistas islâmicos como o Hamas, que nunca reconheceu acordos assinados entre outras organizações palestinas e Israel. Somente nos últimos 20 anos, morreram no conflito mais de 1.
200 israelenses e 8. 400 palestinos. No próximo vídeo, o último da série, falaremos sobre o papel de Jerusalém nisso tudo.
A cidade sagrada, reivindicada por todos. Para vê-lo, clique aqui ou no link da descrição. Obrigada e até a próxima!