Oi, pessoal! Hoje eu quero falar sobre a geopolítica do Irã. Falei recentemente sobre a Rússia, hoje vamos aprofundar no território, na geografia, e como que isso impactou politicamente a história do Irã.
Mas antes da gente começar não se esqueçam de se inscrever no canal, dá like aqui nesse vídeo, ativa o sininho para você receber as notificações quando chegar os vídeos novos, compartilhar com seus amigos e vem debater aqui comigo Professor HOC. O tema de hoje é a geopolítica do Irã. As pessoas escutam falar sobre o Irã principalmente pelos problemas e as polêmicas de programa nuclear e uma série de outras coisas, mas eu quero, hoje, falar de coisas mais estruturais mais básicas da sua geografia e obviamente da sua geopolítica.
O Irã é um país enorme, as pessoas não se dão conta mas ele é o 17º maior país do mundo e uma população de quase 83 milhões de habitantes e já foi uma das maiores, ou das grandes civilizações da humanidade além de ter sido um grande império, o Império Persa. Importante destacar que os iranianos não são árabes e não são turcos, eles são persas e consequentemente eles não falam árabe, nem turco, eles falam farsi. Isso etnicamente falando mas do ponto de vista religioso o Irã, os persas, contém a maior população de uma das grandes vertentes do islamismo que é o xiismo.
Então a maior parte da população do Irã são xiitas. A localização geográfica do Irã é extremamente estratégica e relevante. Na verdade se vocês olharem aqui para esse mapa, o território onde o Irã está localizado, é muito estratégico e ele é como se fosse uma ponte que conecta de um lado o Oriente Médio e o Cáucaso, que é essa região ao sul da Rússia, com do outro lado a Ásia Central e o sul da Ásia.
Ásia Central todos os quistões, Turcomenistão, Quirguistão, Tajiquistão e Índia mais ao sul da Ásia. Essa ponte terrestre ela é cercada também por outros dois mares ou por um golfo e um mar. Ao norte você tem o Mar Cáspio que é o maior mar fechado.
Como se fosse um grande lago. E ao sul você tem o golfo pérsico, famosa rota de exportação e de navegação, de onde o petróleo do mundo passa por ali porque você tem os grandes produtores de petróleo, todos localizados com saída para o golfo pérsico, que escoam sua produção de petróleo para o Oceano Índico através do golfo pérsico. Só pra vocês terem uma ideia dos países que tem fronteira com o golfo pérsico: Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Bahrain.
Então são todos os grandes produtores de petróleo que todos têm acesso a esse mesmo canal, a esse golfo, esse espaço de mar que é muito estratégico e importante. Só para vocês terem uma ideia o Iraque tem um pedaço de terra muito estreito, só uma faixa que chega no golfo de tão importante que é o acesso a esse mar como eu já comentei com vocês no meu outro vídeo sobre os landlocked countries, são os países sem saída para o mar. Por muito pouco Iraque também não é um landlocked country, um país sem saída para o mar.
Trinta por cento de todas as exportações de petróleo do mundo passam pelo golfo pérsico e elas têm que passar por um estreito. E esse é um dos grandes estreitos estratégicos, um espaço, uma rota num local de estrangulamento. É difícil, que pode ser controlado ou pode ser interditado, que é o Estreito de Hormuz.
E grande parte do debate geopolítico quando se começa ou cresce a tensão com o Irã, é o Irã ameaçar de fechar o estreito de Hormuz, porque muito da produção de petróleo precisa passar por ali para ser escoado para o resto do mundo. O Mar Cáspio ao norte também é uma área importante e estratégica. Primeiro pela grande quantidade de recursos naturais principalmente gás e petróleo.
São só cinco países que tem fronteira com esse mar. O Irã ainda não explora muito do Cáspio, principalmente porque ele não quer que uma região ao norte do seu país fique mais desenvolvido, ele teme movimentos separatistas e eu já vou falar disso daqui a pouco. Bom, agora eu quero falar para vocês da topografia, então já olhamos no no grande mapa-maior do mundo, onde que está localizado o território do Irã, ele conecta o que com o que, que regiões.
Mas se a gente olhar um pouco mais de perto mas ainda de longe, o mapa topográfico do relevo iraniano. Isso é um dos fatores geográficos mais marcantes talvez sobre o Irã, que determine muito do seu comportamento, da sua política externa, dos seus posicionamentos estratégicos e da expansão encolhimento desse grande império persa ao longo da história. Quando a gente olha para esse mapa topográfico do Irã, nós podemos perceber uma característica predominante que é a quantidade de montanhas.
Na verdade reparem aqui no mapa como essas montanhas circundam o país de uma ponta à outra. Nós temos a maior de todas as montanhas, que vem na diagonal saindo ali do norte com a Turquia e descendo até quase o golfo pérsico. Que é a Cordilheira, ou as montanhas de Zagros.
Mais ao norte, ali com a fronteira do Mar Cáspio, nós temos a cadeia de montanhas de Elbrus que tem o maior pico do Oriente Médio, que é o Damavand. Continuando depois da cadeia de Elbrus, nós temos a serra turcomena-khorasan. Com uma cadeia de montanhas que se chama Kopet Dag e ela faz fronteira ali com o Turcomenistão.
Descendo, continuando ali pela fronteira do Paquistão e mais ali no Golfo de Omã dá para a gente ver que tem uma outra cadeia de montanhas a Maran. Talvez o Irã seja um dos países mais montanhosos do mundo e essa é uma das características mais marcantes. Isso tem um impacto porque cria uma grande fortaleza, essas montanhas ao longo da sua fronteira e da extensão toda protegem o Irã de invasores.
Poucos momentos na história o Irã acabou sendo invadido. Os mongóis fizeram isso, Alexandre, o Grande e os otomanos que chegaram perto ali, começaram a adentrar a cadeia de montanhas de Zagros mas nunca penetraram dentro do coração, do heartland iraniano. Reparem que onde suavizam essas montanhas nós temos temos dois grandes desertos: o deserto de Lut, que significa vazio.
E só para vocês terem uma ideia de quanto é inóspito esse deserto em 2005 a NASA registrou a maior temperatura da superfície da terra lá. 70 graus. O outro deserto é o deserto de Kavir Também é um deserto super inóspito, grande com uma areia fina meio movediça.
Então você tem montanhas na grande parte do território, dois desertos imensos e esse não é um território fácil de se habitar. E essas características geográficas vão ter um impacto na formação dessa sociedade, dessa civilização. Os persas nasceram como guerreiros de montanhas da cadeia de Zagros e aos poucos eles conseguiram ir se consolidando dentro desse espaço e se sentindo protegidos, uma vez que eles mantivessem o controle das entradas dessas montanhas ou o que a gente chama em geopolítica de ancoragem.
Ou seja, você jogar sua âncora e se fixar naquela barreira natural como uma muralha de proteção. Uma vez que isso foi feito se tornava muito difícil invadir esse território e eles estavam seguros para então prospectar o domínio e a expansão do seu território para outras regiões. E foi isso que aconteceu ao longo da história com a ascensão do império persa.
Aqui nesse mapa do século 6 antes de Cristo, já dava para gente ver o tamanho do Império Persa e reparem que ele abocanhou todo o norte da África, da Líbia, toda a costa do Mediterrâneo ali no Oriente Médio. Até o outro lado, a cadeia de montanhas quase com o Himalaia, dentro do Afeganistão, Paquistão. E chegando quase no que hoje é a China.
Ainda pro norte do Mediterrâneo, ele chegou dentro da Grécia e aí que nós temos um dos grandes conflitos entre civilizações na história: a luta dos gregos com os persas. Se a gente olhar para todo esse território e todos os países ao leste do Irã, mais para o Oriente, você tem Turcomenistão Afeganistão, e Paquistão todos com regiões e geografias muito difíceis e não interessantes. Ao norte você tem um mar, o Mar Cáspio.
E aí do outro lado você tem o Cáucaso, uma outra região montanhosa. Nenhum desses territórios era atraente ou tinha nenhum recurso, nada que pudesse servir de expansão ou de base, ou de plataforma. O único deles era um território que continha uma bacia hidrográfica do Tigres e Eufrates, a Mesopotâmia.
Historicamente esse território não só foi um dos mais relevantes da região, como também era plataforma, a ponte de acesso do Irã para o mundo. A civilização persa ela nunca conseguiu se tornar um império se ela não dominasse o seu território adjacente com muitas riquezas e de fácil acesso, porque era uma planície. Então quando termina a muralha iraniana da cadeia de montanhas de Zagros, você começa uma planície muito rica que tem o Tigres e o Eufrates.
Foi aí e esse é o local mais estratégico para o império e para civilização persa. Uma vez que eles controlavam a Mesopotâmia, eles fazem isso de uma base de lançamento para continuar sua expansão e chegar até a costa do Mediterrâneo e avançar do outro lado para o Oriente também. Então esse território da Mesopotâmia era o mais estratégico e importante para o Irã, uma vez que nós entendemos que o Irã vive nessa fortaleza cercada e protegida.
Ao mesmo tempo que você tá protegido dos invasores, não tá fácil de você projetar poder para fora, sair e atravessar essas montanhas. Então, você precisa de uma base de lançamento do lado de lá das montanhas e essa base era a Mesopotâmia. Que é hoje o Iraque.
Isso explica muito do interesse, da quase obsessão e da dedicação que o Irã tem em influenciar, dominar, ditar o que tá acontecendo no Iraque. Principalmente depois da invasão dos americanos em 2003 com a guerra para derrubar o Saddam. E aí o quanto que o Irã passa a influenciar e dominar o que tá acontecendo dentro do Iraque.
Voltando um pouco para as questões geográficas e principalmente de relevo e o aspecto montanhoso do Irã, isso tem um impacto na formação das tribos, das culturas, das comunidades. Países montanhosos, eles normalmente são muito fechados, mais tradicionais. Menos contato com o mundo externo, etnias e identidades diferentes costumam se manter preservadas e você não tem uma unidade nacional tão forte.
Ou você pode até ter, mas ela é construída ou ela é mais artificial. E você tem muitos grupos que não se sentem parte daquela unidade e com isso você tem movimentos separatistas, ou povos que desejam ou almejam ter o seu próprio país e território. E o Irã não podia ser diferente, se ele é um país montanhoso, esse talvez seja um dos grandes desafios da sua geopolítica: unificar as diferentes etnias e populações que existem ali dentro.
Aqui nesse mapa vocês vão conseguir entender o que eu tô falando. Repara que o Irã não é composto só de persas. Sessenta por cento talvez da população iraniana sejam os persas e os outros 40 são outras etnias e outros povos que tem as suas ambições e os seus desejos de construir o seu próprio estado.
Nós temos os curdos que são a maior população do mundo sem um Estado próprio e eles estão localizados em 4 Estados: na Síria, no Iraque, na Turquia e no Irã. Além dos curdos, se a gente olhar um pouco mais ao lado, pro norte. Justamente na fronteira com Azerbaijão vocês vão ver que ali tem uma outra etnia, um outro povo, que se chamam Azeris.
Inclusive o líder supremo do Irã, ele não é de origem Persa e sim Azeri. Essa demografia toda, de quanto por cento da população é de tal etnia ou não. Elas não são contabilizadas, não são trazidas a público porque não é do interesse do governo do Irã que fique claro qual o tamanho dessa população real.
Mas voltando aos azeris. Eles são o grupo étnico que forma o Azerbaijão. E o Azerbaijão também é um país muçulmano xiita e obviamente que se você vive num regime repressor, religioso, como o Irã e você tem uma outra etnia e o seu vizinho é o seu país, ou um país somente da sua etnia como o Azerbaijão.
A sua tendência é querer se tornar independente e que a parte desse seu território se junte ao do seu país. Então esse é um dos grandes temores do Irã, não só com os curdos mas com os azeris também que são a maior minoria do país. Se a gente continua olhando ali no mapa, vocês vão ver que tem outros povos.
Os talishes, os mandazarines, os gilaks, e assim por diante. Deixa eu falar de mais dois, que preocupam os iranianos que são, ali na fronteira com o Iraque nós temos os árabes. Existem árabes iranianos.
Lembra, não são persas, mas são árabes e você continua descendo ali e passa pelo golfo do outro lado na fronteira com o Afeganistão e com o Paquistão, você tem os balúchis. Setenta por cento da população baluch está localizada no Paquistão, mas trinta por cento está no Irã. Então, talvez o desejo desse povo seja se juntar ao Paquistão.
Do mesmo jeito que ali na fronteira com o Paquistão nós vamos ter etnias pashtuns, que são uma das etnias predominantes no Afeganistão. Se a gente pegar esse mapa das divisões étnicas e sobrepor com o da topografia, reparem que os persas estão concentrados no centro do país e onde tem essas cadeias de montanhas, Zagros ou Elbrus, você tem diferentes povos, diferentes grupos e etnias preservadas que não se misturaram. Então parte do desafio da sobrevivência geopolítica iraniana não é tanto o medo ou uma ameaça de uma invasão.
Claro isso sempre existe na geopolítica, na política internacional, mas com essa geografia de montanhas que o protege eles estão mais ou menos garantidos. Imaginar que algum povo vai conseguir invadir e dominar esse território é muito difícil. Mas eles ainda tem um desafio que é a unificação dessas diferentes etnias dentro de uma mesma identidade nacional.
E os inimigos do Irã, os seus rivais, talvez eles tenham muito mais poder ou capacidade de influenciar o que acontece no Irã dando força para esses outros grupos étnicos. Quebrando essa unidade que em grande medida é mantida na base da força. Por isso que você tem um grande aparato de segurança, seja a guarda revolucionária iraniana, seja a revolução iraniana religiosa.
Uma autoridade central que mantém o país unificado na base da força, porque eles talvez perderiam esse território. Tá certo que a civilização persa e o território iraniano é um dos mais antigos, mas esses outros povos foram conquistados, foram incorporados e de repente, hoje, eles não gostariam de fazer parte do regime da estrutura do Irã e aí gostariam de ter seu próprio país. O efeito da geografia ele vai além das questões étnicas e estratégicas militares e ele também afeta economia.
A economia do Irã ou fazer um país desse tamanho, com tantas montanhas e com uma população concentrada em poucos centros urbanos, montanhosos, faz tudo ser mais caro. O transporte, logística, infraestrutura, todos os meios de construir grandes indústrias. Você não tem terras, planícies.
Você tem o planalto iraniano, que são esses espaços onde estão concentrados a maior parte da população. inclusive Tehran é uma cidade montanhosa. E as grandes cidades do Irã são todas cidades montanhosas, esse terreno é sempre mais difícil do ponto de vista econômico.
E o Irã depende muito dos recursos naturais, petróleo e gás. Quase setenta por cento de todas as exportações do Irã são de petróleo e mais ou menos vinte por cento do seu PIB depende da indústria do petróleo. Com o crescimento de China, Índia e o aumento do consumo de petróleo no mundo, o Irã se tornou um grande fornecedor para esses países.
Claro, prejudicado pelas sanções econômicas e os seus problemas, seja por um governo ditatorial, seja pelo financiamento ao terrorismo, seja por um programa nuclear clandestino que quer desenvolver armas atômicas. Então o Irã tá sempre nos holofotes e talvez uma das ditaduras mais perversas e sanguinárias do mundo aonde você tem pena de morte para crianças, para homossexuais, você tem leis severas religiosas contra mulheres. Você tem todo tipo de perseguição política então é um dos regimes mais fechados e mais controladores.
Isso tem dificultado muito a economia iraniana, mas é uma civilização muito antiga, vibrante moderna, com muito jovens que a gente tem que separar essa história do regime. Infelizmente talvez esse é um dos fenômenos recorrentes no mundo, a sua população e o seu governo. Existem várias histórias terríveis sobre o regime, eu poderia ficar aqui horas contando para vocês.
Mas eu vou contar uma recentemente quando eu tive na Suécia, eu tava no táxi e um dos taxistas era iraniano. E claro, eu já estudei o Irã, me interesso pela cultura, pelos problemas de segurança internacional etc e comecei a conversar com ele. E aí ele contou que ele tinha fugido do Irã porque ele já tinha sido preso.
E perguntei para ele se tinha sido na prisão de Evin. Ele ficou surpreso, como que eu sabia da existência, o nome daquela prisão. E aí ele começou a me contar e falou que sim tinha sido.
Logo depois da revolução ele tinha sido preso e contou um pouco do terror que a prisão e ela é conhecida por isso pelas torturas, pelos presos políticos, pelo número de pessoas que desaparecem lá dentro. Então isso é um outro lado, da política real do Irã de hoje em dia. Mas como eu tô aqui falando de geopolítica não vou conseguir entrar em todos os detalhes da revolução iraniana, da revolução islâmica e do que tá acontecendo hoje.
Tem muita coisa interessante sobre o programa nuclear iraniano, a influência do Irã no Oriente Médio, mas eu vou deixar isso pra um próximo vídeo ou para outros vídeos. Bom, com isso a gente vai chegando ao final aqui do vídeo. Eu quero lembrar vocês de seguir o canal, dá like aqui no vídeo.
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