GUERRA DO IMAGINÁRIO | Ep. 1 - "Dragões podem ser vencidos"

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O século XX foi o século das ideologias. Assistimos a diversas revoluções, duas guerras mundiais, genocídios e o uso da bomba atômica. O resultado dos conflitos foi devastador; somados os números das vítimas das duas grandes guerras com as revoluções, chegamos a um número de 187 milhões de mortos.
A destruição era apenas a parte visível, por trás das teorias que impulsionaram as disputas entre as potências europeias. Filosofias de índole materialista e obras de ficção foram as responsáveis por criar visões utópicas do mundo, secularizando as instituições e desprezando o imaginário cristão. Prevendo as consequências dessas mudanças na sociedade, três grandes homens surgiram no século XX como resistência a essas propostas totalitárias.
Eles queriam recuperar a essência da humanidade, sendo perdidos, mas não imaginavam o que iriam encontrar pela frente. No início do século XX, o império britânico era a maior potência do planeta. Em seu auge, dominava cerca de 458 milhões de pessoas, um quarto da população do mundo na época, e abrangia 24% da área total da Terra.
Todo movimento político que surgisse em seu território seria capaz de influenciar toda uma civilização. Em 1893, foi fundada na Inglaterra a Sociedade Fabiana. O principal objetivo dos socialistas fabianos era uma evolução da sociedade em direção ao socialismo; uma outra forma de implementação das mesmas ideias de Marx e Engels, mas agora com um novo método.
Então, o socialismo fabiano nada mais é do que uma revolução cultural e uma instauração do socialismo, não pela via armada de uma revolução que tome o poder do Estado, como no modelo clássico do marxismo, mas por meio da inoculação gradual dessas ideias, de modo que as pessoas fossem mudando o modo de pensamento. O nome é inspirado no general romano Quinto Fábio Máximo, conhecido como o Contentor, ou seja, aquele que adia. Ele tinha uma ideia de tomada de poder em relação ao inimigo, não confrontando-o de forma direta, mas exaurindo-o: você cansa o inimigo, torna o combate exaustivo e, assim, vence a guerra.
Os fabianos adotaram isso como estratégia da sua própria ação. Quando a Sociedade Fabiana foi fundada em 1893, eles buscaram logo um brasão. Na arte heráldica, há sempre um desejo de expressar, através de imagens e símbolos, os objetivos daquela família, daquela instituição, daquele lugar.
Assim, inicialmente, o brasão era um lobo em pele de cordeiro, e a ideia era apresentar ou simbolizar a metodologia de ação que os fabianos estavam propondo. No entanto, isso ficou muito evidente para a época, que rapidamente foi substituído, pois mostrava de maneira muito escancarada e até chocante quais eram os objetivos dessa sociedade. Então, adotaram um novo símbolo: a tartaruga, simbolizando o caráter lento, mas perseverante, dessa identidade do socialismo fabiano, que também já era chamada de progressismo.
Ele consegue enxergar muito fortemente aquilo que Gramsci mais para frente vai também escrever: "Nós precisamos tomar o poder silenciosamente". É preciso uma nova literatura e uma nova sociedade, onde a fé religiosa, a fé cristã, seja completamente posta de lado e substituída, portanto, pela humanidade, que, de algum modo, é uma espécie de nova religião: uma religião do homem. Esta ideia de que haverá uma fraternidade dos homens, gerida por uma elite de tecnocratas que resolverão os problemas do mundo através da ciência e da tecnologia, na perspectiva dos fabianos, a imaginação acaba aparecendo como a arma principal.
A imaginação, plasmada no uso das palavras, é uma ideia cultural que, de alguma forma, é muito inteligente, mas por um objetivo muito específico que era mudar o imaginário das pessoas. O imaginário é a construção de imagens na cabeça de alguém, uma experiência de viver possibilidades que vão para além do nosso mundo aqui e agora; ela vai depositando ali dentro uma série de imagens que vão formando toda a bagagem necessária para que a pessoa possa agir na vida real depois. Por isso, a guerra pelo imaginário é uma das guerras mais silenciosas, quase imperceptíveis, mas é uma das mais urgentes que temos hoje em dia.
O socialismo fabiano iria mudar a maneira como as pessoas enxergavam o mundo. Para isso, seria fundamental a participação de grandes escritores da época. Precisava-se ressignificar a cultura, os símbolos da cultura.
E foi justamente isso que os fabianos começaram ao angariar para si dois dos maiores escritores desse tempo: H. G. Wells, que tinha um corpo de ficção estupendo de ficção científica e ficção especulativa, e Bernard Shaw, nas peças de teatro, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1925 e um dos mais importantes escritores da história do teatro.
Bernard Shaw foi um dos fundadores da Sociedade Fabiana. Foi um dos mais influentes romancistas de sua época, um intelectual, de origem irlandesa, membro da Igreja Protestante na Irlanda, que depois se tornou drasticamente ateu. Aliás, era uma espécie de propagandista das ideias ateias e havia aderido à Sociedade Fabiana, sendo um relevante apóstolo do que seria o humanismo do "sobre-humano".
Em países de língua inglesa, ele acabava defendendo a ideia de que a esterilização dos pobres, ou seja, medidas eugênicas, seria um caminho para acabar com a pobreza: o controle de natalidade. E Shaw ficou encantado e interessado, e foi no primeiro encontro dos fabianos. Isso foi em maio de 1884; já em setembro, começou a esboçar o ideário teórico da Sociedade Fabiana.
Foi "Socialismo", uma obra que acabou se tornando a base intelectual desses socialistas fabianos e acabou triunfando, principalmente na Inglaterra e na Europa, mais do que qualquer partido, qualquer partido comunista, qualquer teórico socialista marxista. Bernard está presente. No nosso imaginário, de forma quase que indelével, como dramaturgo, escreveu peças como "O Homem e Super-Homem", uma comédia centrada na relação de um homem anarquista que acreditava que a seleção natural levaria a humanidade ao progresso, e uma mulher sedutora, inspirada no galanteador Don Juan.
Outra peça de sucesso escrita pelo autor foi "Pigmaleão", outra comédia dos costumes que tinha a intenção de expor a luta de classes na relação entre um homem pedante e uma jovem florista humilde, mas que demonstrava valores superiores. H. G.
Wells foi um dos escritores mais populares de seu tempo. Wells era um socialista utópico que não acreditava na violência revolucionária. Ele foi uma figura muito importante do século XX, porque ele basicamente deu as bases de um gênero literário que hoje conhecemos como ficção científica.
Ele gostava e pensava que a única maneira de você selar a paz mundial era com um governo mundial. Inclusive, ele escreveu dois livros sobre isso abertamente: "A Conspiração Aberta" e "A Nova Ordem Mundial", que serviram inclusive de inspiração para a fundação da Organização das Nações Unidas. A grande perna começa com a ideia de uma conspiração aberta de fato.
Ele pode ser tomado como pai do que hoje chamamos de globalismo. No caso do H. G.
Wells, duas características que vale a pena destacar: uma delas é a ideia de que estruturas superiores, cada vez maiores, vão dominando as inferiores; e a segunda característica interessante do H. G. Wells é que ele investiu na cultura.
Em seu livro "Man Like Gods", Wells descreve um mundo onde a humanidade alcança a perfeição. Nessa sociedade, a religião tinha ficado no passado e a ciência reinava absoluta. Na sua obra mais famosa, "A Guerra dos Mundos", Wells tenta mostrar que somente com a união dos governos seria possível enfrentar um desafio global.
As obras de Bernard Shaw alteraram para sempre o imaginário do mundo ocidental. O socialismo fabiano avançava com sua agenda de secularização do ocidente, sem encontrar nenhuma resistência. A pouco, a mentalidade cristã foi perdendo terreno para as criações de Wells e Shaw.
O que eles não esperavam era que surgiria, na mesma época, um adversário improvável que iria desafiar o movimento: um escritor com um senso de humor único, de inteligência aguda, que faria os homens se reconectarem com a realidade. Seria chamado de apóstolo do senso comum. O nome dele é Gilbert Keith Chesterton.
Chesterton é um desses raros gênios que teve uma conexão natural com a sabedoria. Ele é o profeta do senso comum porque é justamente esse resgate das pessoas simples, das pessoas cotidianas, que é o que ele faz. Grande parte da sua obra é um homem que mostra a importância da alegria, de modo tal que inflamou corações de gigantes.
Na posteridade, a gente está falando aqui sobre a guerra do imaginário. Chesterton conseguiu ensinar como é que você trabalha esse imaginário. Não adianta você defender uma fé; você tem que defender a fé com uma palavra que seja viva.
Chesterton dá um nome a isso: ele chama de imaginação moral. É uma imaginação que possui um objetivo, que ensina valores, que transmite ideias e que mostra a virtude. Uma das primeiras recordações de Chesterton era de seu pai brincando com um teatro de marionetes ou lendo histórias de contos de fada na hora de dormir.
Ele nasceu em Londres, em 1874, numa família cujo pai era artista. A primeira memória que Chesterton tem da infância dele é a memória de uma casinha de madeira. Ele até fala, para ser mais preciso, que era um menino, um soldadinho de três polegadas, com uma coroa, e é interessante porque ele fala que foi a primeira visão que ele teve em que enxergou o mundo.
Esse momento da vida foi muito importante para, inclusive, construir o imaginário literário cristão dele. Anos depois, a partir dessas experiências e doçou da vida na adolescência, Chesterton fundou o clube juvenil de debates. Nas reuniões, temas literários e políticos eram debatidos de forma apaixonada.
Durante esse período, Chesterton defendia os ideais comunistas. Aos 19 anos, ele ingressou na Escola de Belas Artes. Contudo, o otimista jovem Chesterton, ao entrar na Escola de Belas Artes, acaba se tornando gradativamente um pessimista, um cínico.
É aí que vem aquela descrição que ele faz dos mais baixos níveis de hierarquia moral, que ele na sua autobiografia intitula o capítulo como "Como Ser um Lunático". Ele fala que, nesse período, foi submetido e seduzido pela filosofia da ilusão, que é uma filosofia ainda do Impressionismo, e ali ele fala que aquilo foi demais para ele. Ele começa a se enojar daquilo e, então, diz que o que resgatou ele foi um pequeno fio de gratidão da sua depressão.
Iniciando, portanto, muito jovem, não havia terminado a universidade e começou a fazer jornalismo. À medida que foi recordando da sua infância, vislumbrou diante do real que as crianças que ele começou a sair desse período de trevas. Também com a ajuda da sua esposa, Francis.
A história dele com Francis é maravilhosa, porque se tem uma coisa que sabemos sobre Chesterton é que ele era um homem apaixonado. Quando ele conhece Francis, por apresentação de amigos, ali ele se apaixona na hora. No momento em que se apaixona, ele já começa a escrever poesias.
Ele já fica encantado, e, para a sorte dele, Francis também corresponde a esse amor. Ela foi conseguindo derrubar essas barreiras, e com Chesterton, conseguindo aproximá-lo da tradição. Chesterton adere então de coração ao anglicanismo, e conviver com esse universo, com essa prática religiosa, ajudou demais Chesterton.
E como diz a mulher, ela é como uma lareira; ela não é como a luz elétrica. É especializada a lareira. Não a lareira, ela é capaz de aquecer, mas ela também é capaz de iluminar.
Ela também é capaz de cozinhar os alimentos. Ou seja, existe uma universalidade no feminino. E ela também, com o passar do tempo, no casamento, é ela quem revisa os textos do Chesterton.
Ela que ajuda muito Chesterton a conseguir dar sequência nesse trabalho. Então, o enamoramento dele pelo mundo e a glória que ele dava à mulher podem muito bem ser vistos no relacionamento dele com Frances, e um dosás que ele escreve depois do casamento. Ele termina falando: "No mundo há muitos loucos, e nós somos um e somos sãos".
Se no casamento, com Frances, Chesterton encontrou sua paz, foi a amizade com Hilaire Belloc que preparou Chesterton para a guerra. Grande historiador inglês de origem francesa, Hilaire se torna o melhor amigo de Chesterton. Chesterton se havia conhecido com Belloc ao tempo da guerra dos Bôeres, que era uma guerra colonial conduzida pela Inglaterra na África do Sul.
Belloc tinha fibra ideal e também essa peculiaridade: era católico. E a fé católica na Inglaterra havia sido, por muito tempo, perseguida. Quando Chesterton olha para Belloc, ele fala que ele era um sujeito que tinha um apetite romano pela realidade, e ele colocava em ação a razão.
É o sujeito que vai convidar Chesterton pela primeira vez para assistir a uma missa. Chesterton é um homem que trabalha com crítica literária; porém, muito do seu senso histórico é dado por intermédio dessa influência de seu melhor amigo Hilaire. Belloc estava incomodado com o ambiente intelectual da época; usando de ironia, chamava essa intelectualidade de pessoas razoáveis, sujeitos que sabiam como resolver todos os problemas do mundo.
Resolveu enfrentar essas ideias publicando o livro "Heresias", com esse título polêmico e bombástico para uma sociedade relativista. Chesterton lança sua carreira literária no campo do ensaísmo filosófico. Vai escrever para contrariar, precisamente, essa tentativa de reinterpretar a realidade.
E então Chesterton fala que poucos homens ainda têm a coragem de defender as suas ortodoxias, e esses homens são os que ele cita ali. É como se ele rememorasse debates antigos, medievais: "Eu vou defender a minha visão contra a sua". E nesse livro, ele vem fazer exatamente isso, resgatar a ideia de que a cosmovisão, a filosofia pessoal de um homem, é a coisa mais importante.
E ele acusa, então, pega um conjunto de ideias progressistas do seu tempo e mostra essas incoerências. Os heresias, então, são essas pessoas que são incoerentes com a sua cosmovisão pessoal, aquelas pessoas que, dotadas de uma falsa autoridade, tentam reformular a sociedade com suas ideias. Ele começa a defender a visão dele de que Bernard Shaw é muito pragmático e que a visão dele é tão fixa que ele preferiria trocar a humanidade inteira do que trocar a sua própria ideia.
Anuncia com mais firmeza George Bernard Shaw, que é guiado tanto por um romantismo russo, uma imaginação idílica, aquela ideia de que o homem é naturalmente bom e a sociedade que o estraga. No entanto, por outro lado, nesse pensamento de Shaw, existem elementos nitidamente niilistas e, ao mesmo tempo, a vontade de poder. Acusa Shaw de querer uma coisa, de detestar os ideais, mas, ao mesmo tempo, desejar o ideal mais impossível de todos, que é uma nova criatura: o super-homem, onde a religião é abolida, a moral é abolida e tudo isso.
Ele fala que esse ponto de vista está completamente errado, porque não é na abolição da moral que está a grandiosidade do homem, mas na humildade, na fraqueza. Ou, nas palavras de São Paulo: "Quando eu sou fraco, então eu sou forte. " E ele tem uma humildade impressionante, porque muda de ideia como uma pessoa mudaria de roupa.
Quando esses dois autores têm uma visão errada do que é o ser humano, automaticamente também terão uma visão errada do que é o Cosmos, que automaticamente terá uma visão errada do que é a solução política admirável. Esses intelectuais, no caso de Wells, projetaram a imaginação. Só que, olha, o nome é ficção científica, e o que interessa a Chesterton é a realidade, é a verdade.
Sua ficção científica é marcada por noções progressistas e, especialmente, por um cientificismo, uma religião da ciência. Durante os conflitos públicos, Chesterton desenvolveu uma duradoura amizade com Wells e Shaw. É muito interessante, nos dias de hoje, que são tão polarizados, ver a amizade de Chesterton com Bernard Shaw.
É um negócio absurdo. Ele teve a capacidade de ter isso, ter amor profundo pela pessoa, amar a pessoa, o pecador, e detestar o pecado, como dizemos em termos morais. O livro foi um sucesso imediato, mas muitos reclamaram da posição de Chesterton.
Ao invés de escrever uma resposta ao pensamento modernista, ele apenas reagiu às suas proposições. "Orthodoxia" é o que ele chama de filosofia pessoal. É um livro fundamental para você entender quem é Chesterton.
Exatamente o que a loucura é, para Chesterton, a razão: "o louco". Para Chesterton, em "Ortodoxia", é aquele que nega tudo, exceto a razão, e ao afirmar apenas a razão, ele enlouquece, porque perde o nexo com a realidade. Ele passa a desconfiar da própria realidade, que a razão deveria conhecer, e passa a depositar fé em si mesmo e na sua própria razão.
E ele vai perceber que os paradoxos do cristianismo demonstram que a verdade não é resolutivamente harmônica, que deve se manter a tensão dos opostos, porque o mundo tem uma tensão dialética insolúvel. Então, ele vai usar as contradições do mundo para mostrar: "Olha, não, isso não tem problema; existe essa contradição, o mundo é cheio delas. " Você não vai.
. . Resolvê-las todas, mas você pode incorporá-las à sua vida; que o cristianismo não escolhe ticamente um dos polos, não nega este mundo em proveito do outro, mas ao mesmo tempo sabe que este mundo é passageiro, que não vale quase nada.
Um ponto fundamental nessa obra é a importância da mensagem de alegria; não é à toa que Chesterton, dizendo que a alegria, que é a grande propaganda do pagão, é, em verdade, o grande segredo do [Música] cristão [Música] [Música] [Música]. Nesse capítulo, Chesterton traz pra gente os contos de fadas como de suma importância, aqueles que revelam pra gente o maravilhamento, a maravilha do real. O senso comum, com essa sabedoria acumulada, é perpassado para a sociedade pelos contos de fada.
A ética dos contos de [Música] fada [Música] tracos. A Human Being relies por isso; quer dizer que os contos de fada tinham muito mais a dizer. Pessoas do "Liv Drgons" do "ex ex in Our World" see, they don't walk around with big teeth and fy breath and devour maidens.
Well, they do devour maidens; uh, they devour all sorts of people, but they are invisible demonic presences, and each of us, em nossas vidas, é chamado a enfrentar e matar nossos dragões. E essa verdade é algo que não é puramente físico; em outras palavras, não pode ser encapsulada. Tem uma racionalidade muito grande dentro dessa mitologia, diferente da racionalidade fria e, às vezes, caótica do mundo moderno [Música].
A ortodoxia foi um grande marco na vida de Chesterton; ele agora não apenas reagia aos pensadores da época, mas também indicava de maneira clara como resgatar a tradição que estava sendo perdida. Seu próximo livro deixou ainda mais claro o que ele estava combatendo. Em 1910, "O que há de errado com o mundo" aborda temas como educação, feminismo e a família.
É uma coleção de ensaios que vão pontuar certas ideologias típicas da modernidade, como individualismo, materialismo, estatismo e igualitarismo. Ele antecipa, com quase 100 anos, até mais, o processo de educação e o processo de esvaziamento do núcleo familiar. Essas ideias novas que estavam em voga estavam quebrando tradições antigas, como, por exemplo, a da família.
Então, uma das coisas que ele reclama é sobre a primeira onda das feministas, que são as sufragistas, em que elas começam a ir para o mercado de trabalho. Uma das coisas que ele fala é: "É assim, é interessante esse movimento das mulheres trocarem seis profissões com uma nobreza — como é em casa — por uma profissão. " Então, Chesterton é o rei dos paradoxos; ele inverte a nossa maneira de perceber o mundo.
Então, você diz: "Não, vamos emancipar as mulheres e dar-lhes postos no mercado de trabalho. " Muito bem, isso era menos importante do ponto de vista social. E ele vê, ao mesmo tempo, que a educação, cada vez mais, estava sendo tirada das mãos da família e indo para escolas estatais, o que era um meio de manipulação na formação do caráter e do imaginário dos jovens.
As opiniões cada vez mais contundentes e sem rodeios de Chesterton começaram a cobrar seu preço. O primeiro revés foi a demissão como colunista do jornal Daily News e o segundo, o desgaste da sua imagem provocado com o escândalo Marconi [Música]. Ele se envolveu em todo o esquema do que estava acontecendo, ficou profundamente abalado e adoeceu.
Em 1914, até nem parece o Chesterton que a gente conhece, que é esse homem cheio de alegria. Nesse período, também é mais um ponto em que Chesterton começa a ficar mais imbao diante daquilo que ele via no mundo. A resposta literária bem-humorada de Chesterton ao escândalo Marconi foi retratada no livro "A Taberna Ambulante".
"A Taberna Ambulante", né, é um livro que se passa numa Inglaterra islâmica. Ele fala de uma Inglaterra no futuro onde o islamismo havia triunfado sobre aura e os costumes ingleses, e então havia uma centralização de poder na mão de um uma espécie de governo teocrático. E aí os políticos resolvem passar uma lei seca muito rígida; ferrinha.
E todos os pubs ingleses são fechados. Aí um conjunto de ingleses resolve pegar um barril de chope e um queijo cheddar e sair de maneira ambulante; por isso, a taberna ambulante. Por Londres, né, dois heróis que levam consigo os dois grandes símbolos da civilização: a bebida e o queijo.
Esses símbolos do povo, esses símbolos da vida real, né, em contraste às especulações vazias do charlatão muçulmano. Este conto toca no cerne de como o progressismo e o cientificismo enfraquecem as bases tradicionais e acabam dando espaço para o retorno desta heresia. As próprias tradições que davam sentido à tradição da Inglaterra, a cultura da Inglaterra, foram deixadas de lado pelos próprios ingleses.
Sua preocupação com a concentração da propriedade privada nas mãos do estado ou nas mãos de poucos capitalistas o levou a aderir ao distributismo como forma de combater esse mal. São três princípios básicos, né, que norteiam o distributismo; todos eles são da doutrina social da Igreja: a propriedade privada, né, princípio de solidariedade e o princípio de subsidiariedade. A ideia dele é que um homem sem uma propriedade privada perde a sua identidade e perde a sua possibilidade de desenvolver a sua vida do modo como ele quer.
E o princípio subsidiariedade, o que pode ser resolvido de maneira local, em uma organização social menor, tem que ser resolvido ali. Você vai escalando de baixo para cima na resolução de problemas sociais e não de cima para baixo. Você não precisa de um estado inchado, gigantesco, que resolve os problemas de uma célula da sociedade, que é a família, e ele critica muito essa aposta no estado à revelia da família, da educação e da igreja.
Local, globais, relevância distributiva: uma tentativa de afirmar a realidade social mais imediata e pensar a economia a partir de uma certa autossubsistência e não fazer com. . .
Que grandes conglomerados internacionais e grandes cadeias produtivas globais simplesmente aliassem as realidades mais imediatas! A relação entre o distributismo e as encíclicas papais era apenas a parte visível da aproximação de a Igreja Católica. Na juventude, Chesterton passou de pagão para gnóstico; agora, na fase adulta, ele estava a um passo de deixar de ser anglicano para se tornar católico.
Em 1922, Chesterton, depois de haver esperado a longo, fez a sua passagem, a sua entrada na Igreja Católica. Uma grande influência para a conversão de Chesterton surgiu da amizade com o padre O'Conor. Este sacerdote tinha a inocência que Chesterton acreditava estar no centro da sabedoria.
O'Conor, que era um sacerdote irlandês, vivia na Inglaterra e seguia os imigrantes irlandeses, tornando-se um grande amigo. O padre O'Conor dialogava tanto sobre literatura, filosofia, práticas da vida, como também sobre valores e condutas morais, sempre com uma velocidade impressionante. Ele mantinha aquela visão, né, com aquele chapeuzinho e com aquela simplicidade.
Isso chamou muito a atenção, e Chesterton percebeu no padre O'Conor uma fineza psicológica de interpretar os vários tipos humanos e de captar nas pessoas o que de bom e o que de ruim havia nelas, o que de virtude e o que de vício. E aí, esse choque cômico o inspirou a criar um personagem. E se eu transformasse esse choque cômico entre um padre que é comum, aparentemente um bonachão, um palhaço, um coitado, um ingênuo, mas que na verdade, por meio de seu amplo conhecimento psicológico, consegue solucionar crimes que ninguém mais soluciona?
A partir daí, surgiu o padre Brown. Ao longo de sua vida, Chesterton publicou vários livros, e essa compilação era sempre de histórias muito curtas, em que o incomum detetive padre Brown conseguia resolver vários casos, sempre com essa simplicidade e com esse olhar de sabedoria. O que Chesterton vai dizer?
"Cara, existe a possibilidade de você ter um tipo como Sherlock Holmes, digamos assim, só que muito mais profundo, muito mais eficiente, muito mais real e muito mais sábio, que é o padre Brown. Um padre católico, feria um homem que conhece a mazela humana dos pobres. Então, ele sabe que a pessoa que ele está investigando é tão humana quanto ele.
Ele compreende o criminoso porque ambos são companheiros do mesmo naufrágio; ambos participam do mesmo pecado original. Ele não é apenas quem desvenda o mistério, ele é alguém que, após desvendar o mistério humano, faz com que o criminoso mergulhe no mistério divino. " Tem casos do padre Brown em que o criminoso se confessa com ele, e o padre Brown deixa ele.
As séries do padre Brown foram adaptadas para o cinema, e quem interpretou foi Alec Guinness, que é quem faz o 'Bian Kob'. Com essa proximidade com o padre Brown, ele acabou se convertendo ao catolicismo. "Mas como diabos o senhor conhece tantos horrores?
" perguntou Flamb. "Suponho que seja por ser um simples celibatário", respondeu padre Brown. "Nunca lhe tinha ocorrido que um homem que quase não faz nada além de escutar os verdadeiros pecados dos homens não poderia ser totalmente desconhecedor da maldade humana?
" "Mas, na verdade, outra parte do meu ofício também me fez ter certeza de que o senhor não era um padre. " "Como assim? " perguntou Flamb, quase boquiaberto.
"O senhor atacou a razão. " "Isso é teologia", disse padre Brown. De repente, três policiais saíram da escuridão.
Flamb, percebendo que não havia saída, reconheceu a derrota e curvou-se. "Detetive Valentim, que finalmente conseguira capturá-lo, não reverencia a mim, meu amigo! — disse o detetive Valentim — Nós dois, o nosso mestre!
" O ponto alto da sua obra em defesa da fé foi quando escreveu a biografia de São Tomás de Aquino. Muitos anos antes da publicação, Chesterton já tinha publicado "Francisco de Assis". Então, surge, por causa de uma editora católica, a ideia: "Você não escreve sobre São Tomás de Aquino?
" Quando foi encarregado, muitos dos seus amigos ficaram extremamente preocupados, pois não conhecia nada da tradição tomista; como é que ele vai escrever isso? "Acho que é o fracasso de Jon," afirma. "Diz em cartas, escrevendo a Padre O'Conor, até mesmo Bernard Shaw falando assim: 'Eu não sei como Chesterton vai escrever sobre Santo Agostinho, porque eu não o vejo estudando Santo Agostinho.
'" A primeira parte da obra ele ditou para sua secretária, sem tomar nenhum livro, sem nada nas mãos. Ele simplesmente ditava aquilo que lhe vinha à mente. E a outra metade ele falou o seguinte: perguntou para ela se ela ia para Londres e ela disse que sim.
Ele então disse: "Então você vai trazer uns livros para mim. " Ela perguntou: "Quais? " "Não sei.
" Ela voltou para casa com, sei lá, 20 livros. Ele começou a folhear os livros, pá, pá, pá, pá, pá; folheou, folheou, folheou por um tempo e voltou a ditar a biografia, doravante ditou a outra metade inteira. "São Tomás vinham da mesma escola de sabedoria.
" Então Chesterton, quando vê Santo Tomás, é como se o mundo inteiro do que ele considerasse certo, justo e bom se abrisse de maneira escancarada. Os dois partem do realismo filosófico. É inegável: São Tomás parte da realidade do que as coisas são, do ser.
É uma metafísica muito concreta e com base em Aristóteles, claro. Chesterton até fala que ele "batiza" Aristóteles. E eu acho que São Tomás serve para Chesterton como essa grande voz do catolicismo que chega e fala: "Ó, dá pra gente pegar o que o paganismo tem; dá para pegar também o que até o islamismo trouxe e dá para responder as perguntas de uma forma filosoficamente muito profunda e também católica.
" É o que Chesterton faz na obra dele. O Chesterton consegue sintetizar a filosofia tomista com o senso comum de uma maneira que todo mundo que tem o senso comum saiba do que ele está falando, mas o senso comum não. Medíocre, não o senso comum no sentido pequeno e tacanho daquela mediocridade, mas o senso comum de quem está aberto ao mistério que percebe a realidade sacramental, essa realidade em que o material participa do espiritual.
Eilson, um dos maiores tomistas do século XX, falou que o Chesterton deixava ele estupefato, porque ele, com todo o estudo tomista, jamais conseguiria escrever um livro como aquele, que era genial. Ele deixava um legado inestimável, principalmente com a publicação de sua obra-prima, "O Homem Eterno". "A Toda a História Universal", do Wells, traz pra gente um panorama da história da humanidade do ponto de vista naturalista e ateu.
Para ele, a sociedade humana estava progredindo da barbárie do passado para uma idade de ouro no futuro, impulsionada pela ciência e tecnologia. Para ele, o cristianismo era parte da barbárie do passado. O que Chesterton fez em "O Homem Eterno", que é um modelo para todos nós, foi dar um esboço cristão da história.
Ele chama isso assim, e é isso que ele buscava fazer: dar um esboço cristão da história que mostra a importância da encarnação, a importância da vinda de Cristo. "O Homem Eterno" traz a visão de que a história da humanidade só tem sentido porque existe o Cristo. Ele é dividido em duas grandes partes.
Na primeira parte, há uma das defesas mais brilhantes da humanidade: o salto qualitativo de animal irracional para criatura. Um salto qualitativo da chamada 'homem' para o homem chamado Cristo. Ele até fala: "Olha, eu até aceito que o homem seja um mamífero, mas ele vai ter que ser um mamífero muito diferente do resto, ou então ele é uma outra espécie".
Ele fala uma das frases que eu acho maravilhosa: "Se a história do homem começando numa caverna, a história de Deus também começou numa caverna". Cristo é a segunda entrada de algo transcendente no mundo natural. Antes entra um homem que não é como os bichos, depois entra um homem que não é como os homens.
E aí ele vai contar a história de Jesus Cristo e como Jesus Cristo acaba sendo o homem eterno, o exemplo máximo que completa essa pré-história do homem. A ideia de que a encarnação de Cristo, com seu nascimento, batismo, pregação do reino e morte na cruz, ri nos escândalos de vivermos num mundo decaído. Pouco antes do fim de sua vida, anos após a publicação de "O Homem Eterno", seu rival e amigo H.
mandou uma confissão. Depois, pouco antes de sua morte, ele também recebeu o título de defensor fiel, reservando-se àqueles que enfrentaram grandes perseguições. Então, foi um dos coros mais importantes e de defesa da vida do Chesterton, que provou que em vida foi considerado como talvez o maior campeão intelectual popular do catolicismo do século XX.
[Musica] Are we toop you? The hum cross. I have to thank you for this great H, and I do so all my heart.
I can only say that I not much. . .
Chesterton adoeceu gravemente em 1936; dessa vez, ele não iria se recuperar. Foram dias alternando momentos de lucidez e alienação com a piora do seu estado de saúde. Um padre foi chamado às pressas para a extrema unção.
Ele resistiu até o dia seguinte, após abrir os olhos pela última vez e se despedir da esposa. Chesterton [Musica] morreu. Quando a gente pega a vida do Chesterton, a gente vê que é a vida de um homem que se dedicou demais à escrita, análise, à literatura, à religião.
Porém, quando chega no final da vida, a gente pode acreditar que aquilo, de certa maneira, pode ter sido em vão, porque é uma das coisas mais importantes: eles gostariam de ter filhos. Ele e Francis não tiveram. O distributismo foi um esboço de sanidade, mas também foi só um esboço de teoria econômica.
Ele não é um nome tão conhecido quanto Lew Tolstoy, até mesmo Bernard Shaw. Então, a gente poderia dizer que o Chesterton perdeu na história, mas a verdade é completamente outra. O que a gente está fazendo exatamente neste momento?
Estamos falando de Chesterton, que influenciou os maiores escritores do [Musica] século. [Musica] Questo grande scrittore ci ha insegnato anche molte virtù, tra cui questa dell'umiltà, cioè l'umiltà è anche sapere che dobbiamo batter, magari essere anche feriti e sconfitti, ma fare di tutto affinché. .
. [Musica] Um Remo é um remédio. Sendo remédio, é época de total cinismo, desesperança, tristeza.
A ação intelectual é a ação mais duradoura que existe, porque [Musica] o espírito humano permanecerá para além de todo o conjunto da [Musica] história. Ele venceu! Ele venceu, de [Musica] fato!
"O Homem Eterno" causaria um impacto profundo em um jovem que, anos mais tarde, se tornaria o maior apologista cristão do século XX. Chesterton mudaria para sempre a vida de C. S.
Lewis.
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