A Amazônia é famosa pela sua riqueza Nesta floresta tropical, encontramos madeira, borracha, cobre, estanho, níquel, ouro, açaí, guaraná, cupuaçu, peixe. E estes são apenas alguns dos bens que podem gerar dinheiro. A própria imagem da Amazônia se tornou lucrativa.
Muitas marcas jogam com este imaginário dos brasileiros sobre o que a floreta representa - especialmente para aqueles que nunca estiveram lá antes. O marketing entendeu pela perspectiva de usar o estereótipo do verde ecológico, agregado à ideia da responsabilidade social. Este é Otacílio Amaral Filho, autor do livro “Marca Amazônia: O Marketing da floresta”, Você usa uma imagem tão bem feita do ponto de vista do imaginário, que ela parece real.
Mas a realidade está longe de ser tão simples, ou tão ideal. Em primeiro lugar, é difícil falar de uma Amazônia, porque esta é uma área composta por vários ecossistemas, demografias e níveis de destruição. Esta poderia ser a Amazônia…Mas também estas.
Cerca de 17% da floresta tropical já foi desmatada, ameaçando milhares de espécies vegetais e animais nativos da área. Significa também que a floresta está a perder resiliência. Um estudo recente mostra que em locais onde há muita atividade humana, as árvores têm mais dificuldade em se recuperar das secas ou incêndios.
Se ela continuar a perder a resiliência, podemos assistir à sua morte maciça. Mas como chegamos aqui? Para entender este problema, é preciso voltar à década de 70, quando os militares impulsionaram a ocupação da Amazônia.
O governo militar queria ter total controle e acesso aos recursos naturais brasileiros Os militares construíram uma grande rodovia - a Transamazônica, atravessando grande parte da floresta intocada. Pagou muitos brasileiros para que se mudassem para lá e cultivassem a terra. Isso significava a extração de madeira, a mineração e a criação de gado.
A demanda por carne bovina cresceu em todo o mundo e a floresta tropical teve que criar mais e mais espaços para a pastagem. E, mais tarde, também para os grãos de soja usados para alimentar o gado. O desmatamento disparou.
E há uma explicação sobre o porquê isto é tão difícil de controlar. É a ilegalidade, né. Renata Piazzon trabalha para o Instituto Arapyau, uma organização sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento sustentável.
Os dados do Mapa Biomas mostram que 98% do desmatamento hoje no Brasil vem de desmatamento ilegal, da grilagem de terra, da mineração ilegal, do desmatamento ilegal, das madeireiras ilegais. Em certo momento, o Brasil até conseguiu controlar algum desmatamento, em parte através do fortalecimento do IBAMA, reprimindo as atividades ilegais. Mas as taxas de desmatamento voltaram a aumentar nos últimos anos e receberam um impulso significativo durante a presidência de Jair Bolsonaro.
Os críticos dizem que ele criou um clima de impunidade, sob o pretexto do desenvolvimento. . .
Ah esse pessoal do meio ambiente. Se um dia eu puder, eu os confino na Amazônia, já que eles gostam tanto do meio ambiente. O fato é que os efeitos da atividade econômica descontrolada estão devastando a Amazônia.
Mas, do outro lado do país, a milhares de quilômetros de distância, por que os brasileiros deveriam se preocupar? O desmatamento tem efeitos diretos sobre as outras partes do Brasil. Não só na Amazônia.
Evidentemente, a Amazônia sofre mais. Mas até a cidade de São Paulo depende da água que vem da Amazônia, pelos chamados rios voadores. Os rios voadores funcionam assim: Ventos do leste trazem a água que evaporou do Oceano Atlântico para a Amazônia, onde ela cai como chuva.
As árvores transformam estes trilhões de metros cúbicos de água e a devolvem para o ar. Os ventos então levam parte dela para a região centro-sul do Brasil. Mas com menos árvores, menos água é transformada.
A região centro-sul realmente precisa de rios voadores como uma de suas fontes de chuva. Especialmente nos últimos anos, pois os efeitos da crise climática e o aumento das temperaturas estão tornando esta área mais suscetível a secas. Em 2021, esta região enfrentou a sua pior seca em quase um século.
O fornecimento de energia hidrelétrica e a agricultura foram gravemente atingidos. Significa que temos menos margem para perder a água que vem da Amazônia. Se perder essa água, vai empurrar para além dos limites.
E não vai dar para ter uma cidade do tamanho de São Paulo naquele lugar. Foi o que aconteceu em 2014, quando São Paulo quase ficou sem água. Mas, o que significa proteger a Amazônia para a economia brasileira?
Será que os altos níveis de desmatamento que vemos agora são mesmo necessários para o desenvolvimento? Essa é uma falsa dicotomia entre desenvolvimento e conservação. Quando a gente reduziu o esmatamento para o seu menor índice, em 2012, o PIB da agropecuária cresceu.
Ao incentivar os agricultores a serem mais eficientes - por exemplo, através do cultivo de culturas em pastagens que já existem - o Brasil mostrou que pode continuar a produzir carne bovina e soja sem derrubar mais árvores. Mas proteger a Amazônia implica ir além de técnicas como estas. Não existe uma bala de prata, não existe uma solução quando a gente fala de Amazônia.
São muitas. Uma direção apontada por muitos especialistas é a bioeconomia. É uma abordagem que tem como objetivo criar produtos sustentáveis sem esgotar os recursos biológicos.
Há diferentes formas de bioeconomias. Um dos modelos se concentra na biodiversidade. Ele examina quais produtos crescem naturalmente na floresta e cuja produção poderia ser ampliada.
Já vemos isso no caso do açaí, que deixou de ser servido apenas nos pratos da região amazônica, para compor menus ao redor do mundo. Em 2021, um hectare de açaí fez cerca de três vezes mais dinheiro do que um hectare de soja. O pirarucu, que é pescado de forma sustentável, oferece outra oportunidade.
A demanda é alta, e há espaço para aumentar as vendas - mesmo dentro dos limites das quotas de pesca. Outras possibilidades são: a castanha do pará, o óleo de copaíba, o bacuri e outras plantas nativas que podem ser utilizadas em alimentos, cosméticos e produtos farmacêuticos. Quando a gente fala de agenda, de clima, a gente fala da agenda dissociada da agenda de biodiversidade.
Quando, na verdade, precisam andar cada vez mais juntas. A gente tem esse privilégio, essa sorte de ter aqui no Brasil essa floresta que é a maior floresta tropical do mundo, com a maior biodiversidade do planeta. Outra forma de bioeconomia olha para áreas que já foram desmatadas.
Como é possível restaurar a sua vegetação nativa, ou utilizar pastagens degradadas? E até mesmo as cidades podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento sustentável, oferecendo serviços como o ecoturismo. Estas indústrias enfrentam vários obstáculos, como a falta de capital e de vontade política.
Os cientistas enfatizam ser fundamental impedir que os projetos de infraestrutura e as rodovias se aproximem das partes intocadas da floresta. A Amazônia continuará sendo valiosa para nós, desde que permaneça intacta.