O que ensina a Igreja a respeito do Purgatório? Padre Paulo Ricardo explica!

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Padre Paulo Ricardo
Neste Parresía, Padre Paulo Ricardo recorda a importância do purgatório para nossa fé e salvação.
Video Transcript:
No Parresía de hoje, eu gostaria de falar do tema do Purgatório. E por quê? Porque infelizmente é um tema muito esquecido e nós, católicos estamos nos protestantizando, ou seja, estamos deixando de lado a nossa fé católica, a fé da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O Papa Bento XVI na sua Encíclica Spe Salvi diz que o Purgatório, para nós, é fonte de grande esperança. E daí você já está enxergando, não é? Pobres dos protestantes que não acreditam no Purgatório!
Já podem começar a desesperar. Por quê? Porque para nós termos esperança na salvação nós temos que entender um problema muito sério: Deus é Santíssimo.
Claro, ele mereceu para nós a salvação e nesse sentido os nossos irmãos protestantes estão corretos quando eles insistem na realidade de que o sacrifício salvador de Nosso Senhor Jesus Cristo foi suficiente para nos redimir e para abrir as portas do paraíso para nós. Então nós podemos devemos acreditar que em Jesus aconteceu uma salvação objetiva, sim! Agora o problema é que não existe somente a salvação objetiva, existe também a salvação subjetiva, ou seja, as condições para sermos salvos já existem, Jesus já nos redimiu, já nos salvou, o problema é que nós temos que acolher isso pessoalmente, e não basta a fé.
Os protestantes acham que só a fé basta: "Eu acredito que Jesus fez isso, pronto e acabou! ". Só que existe uma realidade que nós podemos tocar com a mão no nosso dia-a-dia: é que mesmo acreditando em Jesus, mesmo tendo fé, nós vemos que dentro de nós continua algo de pecaminoso, uma tendência para o mal, essa tendência para o pecado, nós chamamos de concupiscência, São Paulo usava a palavra "epithumia", ou seja, essa realidade que nos leva a um desejo, a uma espécie de apetite para o mal, isto está em nós, apesar de Nosso Senhor Jesus Cristo já ter nos salvado.
Nós temos essa tendência, ela vem do pecado e conduz ao pecado, embora a concupiscência em si mesma não seja pecado, nós sabemos disso. No entanto, veja, ela é uma consequência do pecado, isso quer dizer que, em nós, e nós podemos experimentar isso realmente. Não precisa acreditar no Padre Paulo Ricardo, não precisa acreditar no Papa Bento XVI, basta você acreditar naquilo que você enxerga dentro de você.
Nós vemos que apesar de ter a fé em Jesus temos uma tendência para o pecado. A pergunta é, meu irmãozinho evangélico, você acha que este coração do jeito que ele está, com essa tendência para o pecado está pronto para entrar na vida eterna junto com Deus? Bom, não sei qual é a sua resposta, mas a resposta de Lutero é que sim, ou seja, o pecador que tem fé em Jesus Cristo irá entrar no céu com este coração pecador.
No entanto, irá entrar com o pecado disfarçado por assim dizer, ou seja, Lutero pega uma frase de São Paulo e a interpreta ao pé da letra, que a fé ela é julgada por Deus como sendo justiça, ou seja, no fundo no fundo, você não foi justificado, você não foi salvo, você não foi redimido, mas Deus "vai limpar sua barra" e vai considerar, vai fazer de conta que você está pronto pra entrar no céu. Só que acontece que isso não é salvação, isso não é felicidade pra ninguém, por quê? Porque imagine você entrar com esse coração pra toda a eternidade, meu irmão isso é desespero, isso é terrível, porque olhe para dentro de você, dentro de você você tem o quê?
Você tem generosidade, mas ao mesmo tempo você tem avareza, você tem amor, mas ao mesmo tempo você tem egoísmo, você perdoa, mas ao mesmo tempo você é rancoroso. Nós vemos dentro de nós que nós que não somos seres humanos, nós somos um campo de batalha, nós, no fundo, no fundo, estamos sempre nessa realidade do conflito. Então, quando nós morremos, nós morremos nesse estado de conflito.
Pois bem, o Papa nos diz na sua Encíclica Spe Salvi que existem pessoas muito boas, pessoas que tem um coração especialmente bondoso, nós não temos dificuldade nenhuma de achar que essas pessoas que sofreram tanto aqui na vida e que, verdadeiramente, se uniram à cruz de Cristo, como os nossos santos, que são nossos heróis da fé, nós não temos dúvida nenhuma, não temos dificuldade de achar que essas pessoas, quando morrem já vão para o céu. Assim também não temos dificuldade de compreender que existem pessoas que estão realmente fechadas para Deus, estão fechadas para o amor, fechadas para o Espírito Santo, que cometeram o pecado de fechar o seu coração para a verdade e que essas pessoas uma vez colocadas diante da verdade de Deus irão rejeitá-Lo, virar as suas costas e ir para um rumo diferente, chamado de Inferno. Existem esses dois extremos, corações especialmente bons, corações especialmente maus, mas a maior parte das pessoas somos como eu e você, um coração medíocre, um coração que é bondade e ao mesmo tempo é maldade, que é amor e ao mesmo tempo é egoísmo, que é santidade e ao mesmo tempo é miséria, essas pessoas, como é que elas vão para o Céu?
Bom, Lutero acha que elas entrarão disfarçadas porque elas têm fé e a fé vai disfarçar esse pecado e, então, travestidas de justas elas serão consideradas justas e viverão eternamente. Só que isso não é salvação, porque viver com este conflito dentro de mim a vida toda e a vida eterna toda não é salvação. Então, é aqui que a Igreja crê que existe uma purificação, o Purgatório, ou seja, onde esse meu coração, miserável, que não ama a Deus o suficiente será purificado pelo amor de Deus.
O Papa Bento XVI, este ano, no dia 11, 12 de janeiro, fez uma catequese a respeito de uma santa pouco conhecida, Santa Catarina de Gênova. Essa santa que nasceu no século XV, ela tem uma doutrina sobre o Purgatório, por quê? Porque na sua vida mística, espiritual, ela teve experiência da dificuldade que existe dentro de nós, do drama que existe dentro de nós por causa do nosso pecado.
Catarina era uma mulher casada e casou-se com um homem que foi fazendo com que ela vivesse uma vida mundana, digamos assim, o seu marido era um homem viciado em jogos de azar e Catarina seguia seu marido na vida mundana, até que um dia ela foi se confessar, e nessa confissão ela foi, transverberada, ela foi atingida pelo amor de Deus no seu coração e Deus mostrou, o seu infinito amor, e ela viu a sua grande miséria, aqui ela sentiu uma experiência, já aqui na terra, deste amor imenso, mas isso fazia com que ela sofresse, sim, ou seja, um fogo interior que fazia com que ela de alguma forma passasse por uma purificação, por quê? Porque ao ver a grandeza do amor de Deus e ao ver a sua própria miséria, foi nessa experiência básica e fundamental que Santa Catarina de Gênova, descobriu o que era o Purgatório, ou seja, diferentemente dos autores de sua época que pensavam o Purgatório como um lugar em que a pessoa fica lá pagando seus pecados, Santa Catarina de Gênova, compreendeu perfeitamente que o purgatório era um fogo interior, um fogo na alma, que queimava, mas queimava exatamente porque aquele coração pecador não conhecia o amor de Deus e agora passou a conhecê-Lo e agora quando ele conhece, vê sua miséria e vê a grande misericórdia. Ou seja, quando nós nos damos conta do quanto nós fomos amados e do quanto não amamos de volta, aqui está a experiência do Purgatório.
Essa experiência de ver, receber a graça de ver a nossa verdade mais profunda. Vejam, meus irmãos, a doutrina da Igreja a respeito do Purgatório se baseia exatamente na verdade, entrará no céu a nossa verdade, mas qual é a nossa verdade? A nossa verdade é de uma imensa miséria e de uma infinita misericórdia de Deus, quando a miséria se encontra com a misericórdia, acontece aquela dor do filho pródigo: "Pequei contra o céu e contra ti, não sou digno de ser chamado teu filho" e, no entanto, Deus continua amando e fazendo festa.
Esta dor de saber o quanto eu fui amado mas o quanto, infelizmente, eu não amei de volta chama-se Purgatório, é aqui que está a essência do Purgatório. A Igreja crê que existe um Purgatório e que nós poderíamos evitar esta grande dor, esse grande fogo purificador depois de nossa morte, se já aqui na terra vivêssemos a penitência, é aí que nós entendemos então o que é a vida de ascese, a vida penitencial. A vida de ascese é uma vida em que a pessoa através da penitência, já, aqui nesse mundo entra nessa dinâmica de enxergar a sua verdade, a verdade de sua miséria e a verdade da infinita misericórdia de Deus.
A penitência não é para pagar os meus pecados, a penitência é para que eu tome posse dessa miséria que eu sou e a apresente diante de Deus, porque, como diz Santa Catarina de Gênova: "Chega de pecado! Chega de mundo! ".
Nós não podemos ficar nos entregando ao pecado e ao mundo desse jeito quando nós fomos tão amados por Deus. Viver uma vida de penitência aqui neste mundo é iniciar, já agora, esse processo de purificação. Não se trata de achar que eu sou salvo pelas minhas penitências, nada disso, Jesus já me salvou, a salvação objetiva ela já aconteceu, eu preciso, porém, tomar posse dessa salvação, e esse tomar posse é objetivo, não acontece somente com a fé, a fé sozinha não basta, porque a fé sozinha é uma fé morta.
Para entender o relacionamento entre fé e obras nós poderíamos tentar ajudar aos nossos irmãos protestantes com uma comparação: imagine a relação entre vida e movimento, quando uma pessoa cai no chão, desmaiada, você quer saber se ela está viva, então o que você faz? Você procura movimentos, você procura ver se ela continua respirando, se os batimentos cardíacos estão lá, os médicos pegam e colocam uma lanterna para ver se a pupila se retrai ou dilata, se a pupila está dilatada e não retrai é porque a pessoa morreu, não há movimento, se as ondas cerebrais não funcionam, se o cérebro não está reagindo, se o eletroencefalograma está plano e chato, ali não tem vida. Então vejam, os médicos e as pessoas procuram movimento e o movimento é sinal de vida, agora, evidente, todo mundo sabe que movimento não é vida, se você pegar um cadáver e movê-lo mesmo assim, isso não vai fazer com que ele esteja vivo, mas se existe vida tem algum movimento.
Assim também é a fé, a fé é a vida da alma, mas se essa fé é verdadeira ela precisa ter movimento, ou seja, ela precisa ter as obras, não há vida se não houver movimento, não há fé se não houver obras, e as obras, as obras de caridade, as obras de rejeitar o mundo, as obras de lutar contra o pecado, a obras de uma vida ascética são necessárias para que a nossa fé seja verdadeiramente viva. Nós não estamos comprando a salvação, estamos somente assumindo a salvação que Nosso Senhor já adquiriu para nós. Trata-se de entrar com fé verdadeira, ou seja, uma fé que como diz São Tiago, que se manifesta pelas obras.
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