Nosso coração sabe que tudo está sujeito a mudanças. Todos estamos sujeitos a nascimento e morte, e esta é a palestra desta noite: Como podemos encontrar a liberdade neste mundo de nascimento e morte? Podemos começar reconhecendo que tudo está sujeito a mudanças.
Prazer e dor, ganho e perda, elogio e depreciação, fama e desprezo. Tudo muda. Até mesmo nosso corpo humano, e vamos falar sério sobre isso.
O Buda disse: Você nunca viu neste mundo um homem ou uma mulher de 80, 90, 100 anos de idade, frágil, curvado, apoiado em muletas com passos cambaleantes, dentes quebrados, enfermos, e nunca lhe ocorreu o pensamento de que você também está sujeito a isso? Isso é uma coisa difícil de se dizer, não é? Mas o mais incrível é que é a verdade, essa nossa vida humana e é temporária.
Nós nos cuidamos, corremos, fazemos exercícios e coisas assim, mas também envelhecemos, ficamos doentes e vamos morrer. O Buda disse: Você realmente achou que isso não lhe aconteceria? A verdade é que não podemos evitar a morte.
O problema é que você acha que tem tempo. Lembre-se da Brevidade da Vida. Jack Kornfield.
Na nossa sociedade, somos condicionados a nos protegermos de qualquer dificuldade e desconforto. Gastamos uma grande energia negando nossa insegurança, lutando contra a dor, a morte e a perda, e nos escondendo das verdades básicas do mundo natural e da nossa própria natureza. Da perspectiva universal, todas as coisas que nascem eventualmente morrem.
A morte é natural. Muitas pessoas estão doentes e algumas morrerão este ano. Alguns viverão mais e depois morrerão.
Este é o nosso destino humano. Isto não é uma tragédia; isto é sabedoria. Do ponto de vista universal, a vida é ainda mais preciosa e bela porque é muito passageira.
No Ocidente, resistimos a refletir sobre o envelhecimento e a morte porque morrer é considerado um fracasso e nos assusta. Na abordagem budista, voltamo-nos deliberadamente para a morte para que ela possa trazer sabedoria, perspectiva e motivação para vivermos plenamente e bem a cada dia. Observe a morte constantemente.
Tome a morte como uma conselheira. Sim, a morte é uma conselheira e nos dá clareza sobre o que realmente importa. Suponha que esta seja a sua última semana, suponha que este seja o último dia de sua vida.
Se fosse hoje o seu último dia de vida, há algo que você queira dizer para alguém? Por que você está esperando? Lembre-se sempre da brevidade da vida – um dia você vai morrer.
Meu professor Ajahn Chah dizia: “Você deveria pensar na sua própria morte pelo menos três vezes por dia”. Tudo acaba; tudo desaparece. Nada é permanente; tudo é verdadeiramente impermanente.
Nós todos podemos morrer a qualquer momento. Esta impermanência universal é verdadeiramente assustadora e terrível. Para muitos de nós pode existir um forte medo da morte.
O que é esse medo? Quando não compreendemos claramente a natureza da nossa mente e do nosso corpo, este medo e resistência em olhar para a decadência e a morte podem ser muito fortes. Achamos que esse corpo-mente é algo sólido e seguro, e que isso é a pessoa que somos.
Naturalmente, quando temos este ponto de vista, a possibilidade da morte pode ser assustadora; parece uma traição às nossas crenças mais íntimas sobre quem somos e quem está no controle. Mas à medida que nos abrimos para a natureza do nosso corpo-mente, vemos que ele está literalmente – e não metaforicamente – nascendo e morrendo a cada momento. Nossa respiração, nossos batimentos cardíacos, nossos pensamentos surgem como ondas pulsantes.
Vemos que não há nada sólido, nada estático, nada estável que passe de um ano para o outro, de um mês para o outro, de um momento para o outro. O corpo-mente é um fluxo de constante criação e dissolução. Quando vivenciamos diretamente e intimamente esse processo de mudança, percebemos que quem somos são as ondas em constante mudança, e o medo da morte começa a se dissolver porque vemos que nunca houve nada sólido ou permanente.
Não consideramos mais a morte uma espécie de fracasso, fora da ordem natural das coisas. Então, podemos ficar em paz. Certa vez, o Buda foi abordado por um homem que lhe disse: “Você é um Buda, um sábio, um iluminado, eu tenho uma pergunta para você, como é que podemos praticar ou viver de modo que não sejamos vistos pelo senhor da morte?
” O Buda respondeu: “Quando você não se apega a nada, como um eu ou um meu, então você não será mais visto pelo senhor da morte”. O que isso significa? Isso significa desapegarmos de nossas identificações, desapegarmos de nosso papel social, de nosso corpo, ou do que quer que seja, para sermos a testemunha amorosa, a testemunha de ganho e perda, de louvor e culpa, de tristeza e alegria, de prazer e dor.
Desapegamos para sermos a testemunha amorosa e consciente desta dança da vida, pois isso é o que você é. Você é a consciência. A consciência não existe no tempo.
O corpo nasce e morre, e existe no tempo, mas a própria consciência é atemporal, não nascida, imortal e transparente como o céu, como um espelho. Lembre-se: você é a consciência, você não é este corpo. Como a cultura moderna promove uma intensa identificação com a aparência exterior do corpo, ir além dela não é fácil.
Dedicamos muito tempo à nossa aparência, ao vestir, adornar e fortalecer o corpo. No entanto, não importa o quanto nos apeguemos, à medida que envelhecemos o corpo nos trai. Se nos limitarmos à satisfação dos desejos corporais e acreditarmos que o corpo é quem somos, quando enfrentarmos o envelhecimento, a doença, as dificuldades e a morte estaremos perdidos e assustados.
Então, como podemos encontrar a liberdade neste mundo de nascimento e morte? Volte sua atenção para aquele que sabe, para o saber, para a própria consciência, porque esta é a porta de entrada para o imortal, a porta de entrada para a libertação. Há momentos em que você olha para trás e diz: “Uau, isso que eu vivi foi uma coisa intensa, aquilo foi difícil, aquilo foi complicado, aquilo foi incrível”, mas as experiências não são quem você é, quem você é aquele que sabe, é a consciência, aquilo que testemunha tudo, é aquilo onde você descansa na vastidão e em um coração amoroso.
Você não precisa esperar até a morte do corpo para ver dessa forma, porque já estamos aqui, neste mistério, e a sua identidade desaparecerá de alguma forma, mas não importa, pois você já pode dizer: “Este corpo não sou eu, mas sim sou uma vida sem limites, eu sou a própria vida, nunca nasci e nunca morri”. Acredite nisso. Você é o amor, destemido, atemporal, aberto, você é a própria consciência amorosa, descanse nisso, confie nisso.
Respire fundo, e descanse no mistério. O que conversamos aqui é uma espécie de reflexão, na verdade, não há nada em que você deva acreditar, você terá que sentir isso em seu próprio coração, terá que descobrir se isso faz sentido para você, se isso é verdade para você. Deixe que a verdade da impermanência possa amaciar seu coração, para que isso seja como um lembrete sobre o que realmente importa nesta vida.
Obrigado a você por sua atenção, obrigado por fazer parte disso. Tenham todos uma boa noite.