o que vem a seguir é uma entrevista com o professor Aldo dinu professor da federal do Espírito Santo atualmente tradutor do epiteto do manual do epiteto que foi o nosso livro ou um dos nossos livros do clube do livro de 2023 a entrevista que você irá assistir até agora estava exclusivo para os nossos alunos do clube do livro mas gentilmente o professor Aldo também acedeu para que nós a divulgás aqui nosso canal do YouTube também Professor Aldo dinu também fez esse livro excelente manual de estoicismo em que ele faz um balanço sucinto breve do estoicismo
mas extremamente profundo respeitando as complexidades Professor ald nut é uma das figuras mais generosas né do mundo filosófico que eu conheço espero que você goste da entrevista se você gosta de estoicismo de Filosofia de mundo antigo já deixa o seu like nesse vídeo compartilhe esse vídeo com quem você sabe que gosta também Aproveite a entrevista e meu nome é Vittor Lima eu sou seu professor de Filosofia de hoje e de sempre isto aqui isto aqui não é [Música] filosofia saudações meus amigos vamos agora começar a entrevista com o professor Aldo dinu e que traduziu no
nosso Clube do livro de 2023 o manual do epiteto de Flávio arano eu quero apresentar o professor Flávio de separei alum as perguntas e nós vamos seguir essa dinâmica perguntas respostas e ao final nós abriremos aqui para algumas perguntas dos nossos alunos que estão aqui também ao vivo conosco no momento em que gravamos eu vou seguir a biografia do professor que tá no mais recente livro publicado que é o manual quer dizer ou não manual de historicismo a visão histórica do mundo do professor Aldo Professor Aldo é baixarel em filosofia pela Universidade Estadual do Rio
ele é é mestre e doutor em filosofia pela PUC do Rio ele é pesquisador honorário da Universidade de Kent e professor da de filosofia antiga da Universidade Federal de Sergipe ele se dedica à pesquisa sobre estoicismo com ênfase em epiteto é fundador E editor responsável desde 2007 do periódico científico Prometeus promeus Journal of philosophy eh jornal de filosofia Prometeus e coordena o grupo de trabalho epiteto também é membro da cátedra Unesco arcai e dos programas de pós-graduação em filosofia da Universidade Federal da Bahia da Federal de Sergipe e da Universidade de Brasília traduziu o manual
de epiteto que foi o que nós demos aqui no clube lições de um estoico o livro Um das diatribes de epiteto e sobre a brevidade da vida de ceca Professor Muito obrigado pela generosidade de estar aqui obrigado por aceitar o convite e a pergunta não tava no Script mas me veio agora eu eu faço essa pergunta porque ela é inspiradora para quem quer entrar no mundo da filosofia que é majoritariamente o nosso público temos professores de filosofia conosco mas a maioria do nosso público é de pessoas que não fazem parte do mundo acadêmico mas querem
se relacionar com a filosofia tal qual as pessoas se relacionam com a astronomia sabe ou seja elas gostam de ouvir falar sobre o assunto elas se interessam pelo assunto mas não necessariamente elas querem ser especialista no assunto então a pergunta é professor o que que faz um professor de Filosofia com esse currículo se iniciar se interessar por filosofia lá na origem o a criança Aldo o adolescente Aldo como é que foi essa entrada Professor eh tá passando o carro aqui de propaganda né não não o áudio tá perfeito não tá não tá perfeito não ah
primeiro eh agora eu tô na federal do Espírito Santo eu consegui uma redistribuição então tô trabalhando agora na federal do Espírito Santo e no no na pós-graduação aqui também e o resto é é é isso tudo igual né perfeito agora essa é uma questão difícil né Eh eu eu entrei para esse mundo da filosofia de uma forma totalmente inusitada Eu sempre tive desde criança um gosto por Leitura tava vendo lá percebi mais tarde que era uma espécie de criança precoce com 7 8 anos estava lendo Odisseia tava lendo Ilíada tava lendo no Crécio Platão etc
né E hoje em dia eu percebo que isso não é comum né E então eu morava em Petrópolis lá e havia cebos maravilhosos na época a d algum outro mas na época tinha uns 10 cebos Então você comprava esses livros por um uma bagatela sabe uma uma quantia ínfima e eu devorava aquele negócio todo né tinha toda aquela atmosfera de Petrópolis também aí da da paisagem Metropolitana e tal mas eu comecei fazendo engenharia Por incrível pareça Engenharia no no no fundão na na federal do Rio de Janeiro eu acho não consegui não me adaptei depois
fiz física ainda um ano não me adaptei depois fui morar nos Estados Unidos 1 ano e meio trabalhando lá e na volta eu não tinha menor ideia do que ia fazer minha mãe falou assim poxa faço um teste de como se fala um teste de aptidão né teste vocacional que chamavam na época não sei se ainda é assim né E aí eu fiz o teste e só deu uma coisa eu falei saiu filosofia eu falei assim rapaz tô falido que eu vou fazer com isso tô falido E aí de fato eu entrei fiz a graduação
na werge na época eu passei tanto para para o frj o Fix né E para w mas preferia a w tinha um Car mais popular mais mais inclusivo sabe e agora sempre minha convivência ali com pessoa só foi muito difícil até hoje né porque eu sou um outsider eh princialmente outsider para vocês terem uma ideia a minha monografia de de graduação foi sobre eh a a figura da mulher na obra de Antônio Carlos Jobim segundo Jung então isso não tem nada a ver com filosofia diretamente né Isso também não é filosofia né com certeza gostei
não esse esse esse é o seu lugar então p então Eh então tô tá lendo outro dia dia tem maisas coisas interessantes ali eu acho que eu vou até tentar publicar primeiro tem que tentar tem que digitalizar pedir para alguém digitalizar porque ainda er no tempo da máquina de escrever né então foi assim fui fazendo fiz um planejamento assim de 10 anos Falei pô em 10 anos eu tenho que estar com um doutorado certo fazer e assim fiz né então terminei a graduação e fui para pucar doutorado e foi assim não sem muita inspiração para
para falar verdade verdade eh fui fazendo sabe como é e mas o o o senhor queria ser filósofo professor de Filosofia ou isso não era Claro ainda na cabeça não nunca quis ser filósofo nem professor de Filosofia nunca para mim eu eu cresci em Petrópolis isso não era uma profissão disponível né ser filósofo né Que profissão é essa né E muito menos professor na minha família não tem quase Professor nenhum então não é uma meu pai era Engenheiro meu Tinho era Engenheiro E por aí vai né eh havia uma tradição de de de de dessa
área técnica né então nunca me ocorreu ser filósofo nada me nunca me ocorreu nada disso então fui fazendo e também fui fazendo sem muita inspiração fiz os textos etc eh a minha inspiração veio quando finalmente me deparei com o texto de cênica eu já tinha terminado o doutorado aí deparei com uma uma seleção de cá de cena que eu falei poxa estudei 10 anos de Filosofia e jamais me falaram sobre isso veja Olha só porque também até pouquíssimo tempo eh cênica Marco Aurélio e teto também é isso não é considerado filosofia Pois é Até recentemente
eh meus colegas ficavam me me ridicularizando dizendo assim ah Aldo estuda autoajuda certo aí eu falei poxa realmente eu me autoajuda pesquisas de autoajuda conseguir financiamento de toda parte inclusive da academia britânica né Fazer o quê né então mas eu não eu não busquei assim ah eu vou ser bem-sucedido nada não eu me deparei com o assunto eu fiquei realmente apaixonado pelo assunto né pelo epiteto pelo cênica e comecei a praticar literalmente eu minha primeira abordagem Eu acho que já falei isso em outra parte primeira minha primeira aproximação com estoicismo não foi teórica por isso
que uma vez teve uma um encontro um stoic que tinha gente desse desse desse de divulgação Popular né e E aí me chamaram para ajudar a organizar e tal e aí lá pelas tantas disseram assim Ah nós somos do estoicismo prático você é doimo teórico isso me me ofendeu eu falei poxa isso nunca foi verdade nunca foi verdade a minha aproximação sempre foi prática em primeiro lugar sempre foi prática e posteriormente pela minha própria profissão né Eu aproveitei certo a profissão já ajuda nesse caso vi então foi quo chegar nesse nessa parte prática eu quero
chegar nessa parte prática mas antes eu quero passar pela parte teórica que é senhor já começou a responder como é que foi o como é que começou o processo de tradução na sua na sua na sua trajetória E foi com ceneca provavelmente né o seu ou ou foi direto com epiteto como é como é que a a tradução chegou e e qual que é o desafio de traduzir um historico para para uma linguagem atual é é boa pergunta primeiro né Eu tive uma grande Boa Fortuna porque eu passei para PUC do Rio e na época
a professora minha orientadora eraa Mauro iglesis Inclusive a tradutoras de Platão né então ela colocou colocou todos os seus alunos para estudar grego e aí eu devo a ela essa essa essa essa capacidade né porque aprender grego sozinho né não é nada fácil certo e aí euu estudei com ela durante muitos anos inclusive o Fernando Rodrigues também que é do ifix professor do ifix que é um associado dela com a professora irley também e que traduziu recentemente inclusive o banquete de Platão eh e aí foi assim eu fui me habilitando dessa maneira já o latim
foi ai foi como autodata mesmo porque na medida que você aprende certas noções do grego você aprende por inferência também as mesmas a declinação do latim e tudo mais é uma língua muito mais próxima de nós né latim obviamente porque a gente fala um uma espécie de Latim né um latim tardio por assim dizer é uma língua românica E aí eu já tinha uma certa tarimba nisso tanto que a gente já tinha publicado e traduzido tratado do não ser do gorges que era uma obra complexa né com ajuda do Fernando Rodrigues e tal e na
Minha tese na dissertação também eu traduzi muita coisa para para paraa dissertação né e o meu primeiro impulso para traduzir o epiteto foi esse não havia na época uma tradução de epiteto não havia Então essa tradução que você tá na sua frente aí foi a tradução que eu fiz a a em 2000 entre 2000 e 2001 uhum porque simplesmente não havia nada disponível e a gente come a gente posteriormente 2007 comecei a fiz uma pequena edição na universidade de cópias Sher mesmo né com capa um pouquinho mais grossa para distribuir pelo correio para quem quisesse
né a gente tinha uma uma promoção quem quisesse a gente enviava graciosamente pelo correio eh essas obras isso sempre foi uma preocupação para mim isso eu critico muito meus colegas porque meus colegas não têm qualquer preocupação em geral né com a divulgação para o povo da sua do seu trabalho e eu acho isso uma coisa lamentável porque nosso trabalho é financiado pelo povo certo quando fos Funcionários Públicos somos pagos pelo povo então você fazer uma pesquisa e não partilhá-la não comunicá-la minimamente ao povo que propicia e possibilita sua pesquisa eu acho um grande erro né
então desde o princípio o meu primeiro Impulso em relação a epiteto foi divulgação falei poxa isso aqui é fantástico preciso divulgar preciso divulgar E aí eh traduzindo manual o cênica foi pois o cênica TR tem um um volume de cartas inclusive que o kak diegs gostou muito fez até uma uma resenha né saiu no Globo e na Academia de Letras elogiando mas aquele volume de cartas eu traduzi para mim mesmo posteriormente o o Liss Trevisan que que é o editor meu meu editor aí da auster né Ele chegou para mim o Aldo Você tem alguma
coisa para publicar eu eu olhei em volta não tinha nada só tinha aquele volume de cartas que eu tinha traduzido para mim mesmo eu fiz uma seleção das cartas mais importantes para mim eu falei tenho essa essa essa seleção de cartas aqui aí ele ele falou Poxa então vamos publicar então eu sequer almejei publicar na verdade essas cartas essa seleção de cartas para para de cênica né foi algum servo que um trabalho que fiz para mim mesmo né E então é isso meu meu impulso e e originário primário foi um curso de divulgação eu vi
a importância desse material a importância vi a utilidade disso né e inclusive uma situação muito difícil que eu tava vivendo na época eu falei falei para mim mesmo poxa é muito injusto que as pessoas não tenham acesso e fácil esse material n como você tem agora tá com livro na sua frente né e no final das contas o que permite trabalhos como o meu né O trabalh Como como o seu de de ir lá pegar no original traduzir eh é que alguém algum divulgador como eu pode agora vem vem aqui né pessoas de do grande
público V Vamos ler esse negócio junto fora da academia também né exatamente de certo modo isso tudo isso a gente só tá aqui hoje porque o senhor fez o seu trabalho antes né Isso é importantíssimo Sem dúvida nenhuma e eu VII Exatamente isso essa uma vez rapaz uma vez um um porteiro de São Paulo e mandou um lá naquele 2010 me mandou um uma carta um e-mail não lembro pedindo alguns exemplares dessas essa edição eh que eu fazia Universitária né que até uma lista depois eu posso até pegar para mostrar eh e porque ele ia
fazer um curso de ética para para colegas porteiros veja que interessante Então eh esse tipo de inserção na sociedade é para mim é a melhor coisa né você falou de como astronomia me lembrei de C Sean porque eu sempre me inspirei muito no modelo do C Sean isso e é isso desde criança foi sempre meu ídolo né nesse sentido de ser um grande cientista e se preocupar com a divulgação a tal ponto que ele dizia que a a falta de divulgação de qualidade da ciência ameaçava a segurança nacional como ameaça como ameaça a gente a
gente sentiu isso na pele nos últimos anos né exatamente né e com a filosofia também né acho que com a filosofia acontece a mesma coisa primeiro primeiro que acontece um tipo de mistificação em relação à figura do da profissão né que é tanto a profissão acadêmica quanto essa profissão de de falar sobre a realidade de Fato né não falar sobre os filósofos que falaram sobre a realidade mas abordar a realidade de modo filosófico tem muito tem muito uma Mística em relação a quem tá quem tá de fora assim quem nunca quem nunca entrou na na
faculdade na universidade até que entra na universidade não sabe responder muito bem o que o que um filósofo faz né eu tiro por mim ninguém sabia dizer muito muito bem o que que tava fazendo ali na faculdade na universidade acho que tem pouca discussão sobre isso porque a gente não vê muita gente fazendo isso exatamente e quando vê são poucas pessoas né E também não tem muito com queem comparar E aí acaba que mas Professor eu queria agora ir mais para aquela coisa da da prática que o senhor mencionou anteriormente que era assim eh disseram
que o senhor era um era um filósofo quer dizer era um era um histório teórico e eles eram práticos né E aí eu queria eu queria perguntar nesse sentido assim eu pensei em fazer alguma alguma discussão aqui da relevância do dos ensinos do epiteto e e e a partir dessa desse tópico falar sobre a prática que que que que o epiteto que que um romano do século lá perto do século I tem para falar para brasileiros do século XX acho que essa é uma pergunta e não só para falar que que é a prática desse
caraa naquele período tão distinto do nosso tem para falar com a prática que a gente pode adotar hoje primeiro tem um autor provavelmente vocês conhecem que o Philip k Dick que é o autor de ficção científica escreveu por exemplo o Blade Runner né entre outros livros e ele tem uma tese que eu com a qual concordo ele ele resume numa frase o império jamais terminou então el segundo ele algumas questões do do século I da nossa era permanecem totalmente atuais nos dias de hoje como que não houve um progresso como que a gente tá Eng
como a gente tá preso naquele naquele meio período histórico por exemplo a questão da religiosidade do cristianismo a questão da intelectualidade sempre eh posta de em cheque né certo os históricos eram muito perseguidos politicamente por exemplo durante o império romano eh a questão do do do poderio militar a a a questão da da democracia ou da da sua relevância ou não eh a questão Então essas questões todas estavam presentes naquele momento continuam presentes hoje a questão da violência né A questão da da escravidão ou da servidão que apenas mudou de nome né segundo Na minha
opinião Então as questões daquele tempo são as questões de hoje então num certo num certo sentido Nós ainda estamos no século I por mais absurdo mais mais Fantástico que possa parecer né Inclusive a nossa língua também é um é um Neo latim né até na língua nós estamos atados aos romanos aquele período ali da da da história da humanidade Então nesse sentido a atualidade é total a atualidade Total não podia eu por isso que eu falo até eu escrevi um texto outro dia não sei se se vocês viram eu falo do estoicismo uma filosofia do
Futuro não porque tá no meu blog porque eh primeiro se a gente Comparar as instituições há uma incomensurabilidade entre as nossas instituições e as deles né no sentido da própria família da amizade de governo etc mas qual é a grande vantagem que a gente tem e isso eu sempre eh sabori essa vantagem ao pegar um texto desse tempo né E aí já encarando por outra perspectiva e estudar um texto desse a gente pula dá um salto sobre todo esse caos do mundo contemporâneo sobre todos os ressentimentos do mundo contemporâneo a filosofia contemporânea ela tá vocês
também ter estudado algum desses filósofos contemporâneos ou modernos ela tá entupida de ressentimento Em ressentimentos raciais ressentimentos políticos ressentimentos religiosos certo certo e você ao consumir essa filosofia você se alimenta desses ressentimentos e acaba se ressentindo junto né enquanto você Você lê um cênica por exemplo você se livra de tudo isso você tem uma visão eh desobstruída da humanidade sabe você aprende a relativizar essas coisas você compreende que eh a a a nossa era no que tem de dela ela vai passar e tudo isso que se tem alta conta hoje dia como fossem Grandes Questões
grandes problemas tudo isso em pouco tempo vai ser nada eu lembro por exemplo do meus colegas de graduação que eram eh eram soviéticos havia um grupo de soviéticos Na graduação da uerg né E eles acreditavam firmemente na União Soviética e Eu ria da cara deles e eles me odiavam né que que é a União Soviética hoje qual o nome daquele autor que escreveu Stalin né é Stalin que escreveu livros e mais livros do do sobre o materialismo dele etc quem lê isso hoje Quem se importa ninguém se importa com nada disso né então boa parte
do que foi feito no século XX hoje já tá entregue as traças já foi jogado fora ninguém se importa já a filosofia histórica não ela resistiu ao teste do tempo ela você você não vai perder seu tempo lendo os históricos porque eles resistiram a ao teste de milhares de anos então é algo que de Evidente qualidade de Evidente relevância que nos eh permite repensar a realidade a partir dos princípios né e pondo de lado todos esses esses terríveis ressentimentos raciais políticos ideológicos Da nossa época né e sabendo tentando e nos possibilitando até ter uma visão
mais compreensiva sobre ele e sobre as pessoas também a gente percebe que na verdade é tudo um grande teatro né tudo uma grande tragédia uma grande comédia de acordo com o ponto de vista que você observar tem uma tem uma chave de interpretação que eu que eu li recentemente no isia Berlin falando sobre o romantismo no livrinho que ele tem de introdução ao romantismo lá pelo Capítulo dois ou três ele tenta fazer uma análise sociohistórica do nascimento do Romantismo lá na Alemanha em comparação com o que acontecia na França e a análise dele passa por
dizer que a França era Urbana cosmopolita rica e a Alemanha unificada né e a Alemanha ao contrário né não tinha Alemanha para começo de conversa era um era uma região mais pobre era uma região mais Rural E isso se revertia de certo modo no espírito alemão e a França se revestiu no espírito francês a França muito mais eh muito mais extrovertida e a Alemanha ou mundo germânico muito mais introvertido e a tese dele é que o uma uma filosofia como romantismo ou uma uma cosmovisão como a romântica só poderia ter nascido ali num contexto introvertido
com inúmeras outras eh influências culturais como o pietismo né uma aquela variante do do luteranismo lá que também prega mais a introspecção e tal e ele ele ele lança algumas hipóteses audaciosas né Essas grandes interpretações de como a história acontece ele fala assim de vez em quando a humanidade passa por períodos de introspecção quando tudo mais externamente parece ruir as referências pare não mais serem tão sólidas quanto pareciam quando isso acontece a humanidade se volta para dentro isso já acontecera antes diz ele no período helenístico em que a poli se desintegra E aí o centro
de referência maior consequentemente também e portanto o homem não tem outra outra alternativa a não ser voltasse para dentro daí surgem as diversas propostas helenísticas a estóica incluída né de certo modo se essa interpretação tiver correta do do aia Berlin a gente pode pensar o nosso tempo uma uma das grandes modas de pensamento de 30 40 anos para cá da 50 é enquadrar o nosso tempo como pós-modernismo né e uma das das maneiras de entender o pós-modernismo é justamente Essa é é a desconfiança nas meta narrativas né nas grandes narrativas as teorias que abrangem todos
os aspectos da vida e consequente ente se há uma descrença a nas meta narrativas há uma pulverização e fragmentação de possíveis narrativas de vida e portanto uma desorientação né de qual alternativa adotar se vivemos numa época desorientada então vivemos numa época que se busca voltar para dentro se busca voltar para dentro e portanto o estoicismo sendo uma dessas filosofias que busca voltar para dentro e eu não sei se essa é uma metáfora adequada para compreender o estoicismo e eu quero saber o que o Senor pensa então a gente compreende um pouco porque que o estoicismo
voltou a ser a ser tão próximo de nós né o senhor confirma essa essa interpretação sen eu tem uma interpretação diferente do Por que o nosso ambiente cultural se parece tanto com com dos históricos antigos acho que tá o volume o volume tá eu tenho uma interação diferente essa interpretação que você mencionou é que circula nos meios acadêmicos e acho que ela parte de um erro de interpretação fundamental o erro segundo o qual com a queda do apis eh Há uma fragmentação como você falou né E não há mais política não há mais vida política
Eu acho esse um erro terrível um erro terrível porque a queda da polis não implica o fim da política pelo contrário implica uma nova política no Império Romano temos muito tipo de muita política temos uma toda uma política dos gregos com os romanos dos gregos com os persas dos gregos com com todos os povos com com os quais eles eh negociavam comerciavam guerreavam mesmo né tanto que eu e eu provo isso se você olhar os por exemplo todos os históricos do período médio e no período imperial todos eles estão envolvidos com questões políticas e com
grandes políticos da época por exemplo eh o Dió da Babilônia foi convidado em 155 antes de Cristo para fazer uma apresentação em Roma para livrar os atenienses de uma cobrança de taxas dos Romanos foi aí que os romanos pela primeira vez entraram em contato com os stoicismo panécio de Rodes era amigo do do de políticos importantes em Roma também círculo do cão Emiliano Depois temos o aluno dele o posidônio de Rod que era extremamente famoso como Pensador político entre os romanos tanto que era admirado por Pompeu e por Cícero então cí fala que vai assistir
as aulas dele inclusive tem uma passagem eh fantástica de que o o posidon defendi uma uma noção de Justiça restaurativa então ele convenceu Pompeu a a Pompeu havia condenado alguns Piratas e e a pena para pirataria em Roma era crucificação por e simples então ele convenceu o Pompeu a eh não sabemos exatamente como mas a tá reconduzir esses piratas para a vida na sociedade vejam que coisa totalmente eh eh diferente né tentou reformar esses indivíduos e então o estoicismo na era Imperial no período médio no período imperial ele se volta para uma para uma tendência
social Democrata né na medida em que eh no período imperial propriamente dito eles começam a se opor aos imperadores que eles consideram tiranos defendendo uma coisa que eles chamavam de Libertas que é liberdade de expressão para temas políticos um tema bem atual inclusive né e por causa disso eh muitos deles foram condenados à morte ou ao exílio por exemplo monson rufo que é um filósofo que eu trabalho muito também não é tão famoso como os demais mas merecia ser famoso ele eh foi exilado três vezes epiteto mesmo é exilado ele dá suas aulas em nicópolis
foi expulso de Roma junto com todos os filósofos eh cênica foi condenada à morte por por uma suposta por um suposto envolvimento da Conspiração de pisão contra Nero e para para não ir longe demais nos nomes o próprio Marco aurel Foi Imperador então eh não é não se trata propriamente na minha na minha concepção de uma uma volta para dentro embora também não não eh não possamos descartar isso o que acontece o que há de eh Uma uma característica que marca tanto o nosso tempo quanto aqueles tempos eram V várias culturas em contato então Roma
foi a primeira sociedade verdadeiramente cosmopolita da face da terra os romanos admitiam quase todos os cultos em Roma Se você chegasse em Roma você podia construir o um templo pro Deus que você quisesse eles acolhi os deuses estrangeiros certo E isso também caracteriza a nossa época essa essa essa essa pluralidade de culturas de de de opiniões de religiões convivendo no mesmo espaço físico certo então a necessidade de de fazer política é maior do que nunca como era naquele tempo a necessidade de pensar política é maior do que nunca tanto a gente eu tenho 56 anos
vocês não são tão jovens né Assim você você deve ter ter 40 vocês são por volta dos 40 eu sou eu sou um moleque Eu tenho 34 anos só então mas você pela sua pela sua vida você sabe que hoje em dia se discute muito mais política do que H 20 anos atrás Sem dúvida muito mais muito mais porque esse contato com o outro se tornou frequente então o tempo todo a gente tá sendo confrontado com uma pessoa de uma religião diferente de uma orientação ideológica diferente e etc e tal né através dos meios de
comunicação da internet e tudo mais então é preciso repensar isso tudo e não é fácil não é fácil então existe um afastamento do humano em relação à natureza em relação à humanidade mesmo Então esse sentimento que a gente percebe hoje já era familiar daqueles tempos um sentimento de de do o indivíduo se sentir isolado stir se sentir destacado do mundo né tanto que eh por isso que a gente deve entender esse aliá escrevia nesse livro do manual de historicismo né esse lema dos históricos seguir a natureza n Como voltar a seguir a natureza porque o
lema desse seguir a natureza só faz sentido no momento que você não segue mais a natureza no momento que você se percebe apartado divorciado separado da natureza né então é o estoicismo nesse sentido é uma busca de religar o humano ao Cosmos e ao restante da humanidade certo sempre lembrando que uma das teses mais importantes dos históricos É a tese da da Irmandade humana que segundo os muitos autores segundo muitos autores e é a própria base pros direitos humanos por exemplo porque essa ideia de humanidade tal como os históri queos colocaram é muito própria deles
eles não fazem uma uma uma distinção entre eh raças entre gêneros entre nada disso eles consideram todos os humanos como irmãos e irmãs a tese é Clara cada humano traz em si um fragmento da divindade com o qual pensa né E nesse sentido todos os humanos são filhos e filhas de de do logos né de Deus é simples assim então todos e por consequentemente todos os humanos são irmãos e irmãs essa ch chave de interpretação é é é bem interessante eu eu não tinha não tinha lido lugar nenhum ainda a todas as chaves de interpretação
que eu que eu que eu tinha lido eram aquelas que eu falei mas essa de de de sobretudo o historicismo ser uma reconexão com o todo né tanto com com a fises quanto com a humanidade ela pode ser então interpretada hoje talvez como resposta a fragmentação do mundo moderno né resposta essa que eh não é não é única né os românticos estão tentando responder isso o heg tá tentando responder isso a gente tá tentando responder isso há alguns séculos já né desde depois da da da revolução Fran do Iluminismo ali então talvez essa chave de
interpretação seja mais mais interessante né o estoicismo é um tipo de reconexão laica como o todo e com a humanidade né não não B você falar isso não laica mas religiosa religiosa não fala mais sobre isso Professor então eu eu comecei a pensar isso a partir do livro genial da Raquel Gazola professora Raquel Gazola chamado Ofício do filósofo stoico um livro de 1999 da Loyola hoje em dia é um livro raro de se achar fisicamente Mas vocês podem achar em PDF uhum por uma casusa do destino tinha dado meu E aí um colega meu se
aposentou e ele me deu o mesmo livro eu falei poxa dei recebi novamente porque hoje em dia é bem caro ele para comprar e ela diz o seguinte ela fala sobre o período arcaico aquele período que entre 500 e 800 antes de crist no qual havia uma confluência entre nomos que é a Lei e a fíes que é a natureza Então nesse período não há lei escrita Então as regras humanas as leis eram percebidas como naturais mais ou menos como nos índios brasileiros não tem uma lei escrita mas H uma todo um conjunto de regras
que são vistas como emergindo na natureza em concordância em consonância com a natureza né com a a formação da pólis passa a haver uma cisão entre a lei o costume né e a natureza aí começa a separação do humano com a natureza é uma uma uma questão que eu tava falando com uma professora que amiga minha hoje eh que parece que houve uma espécie de trauma na passagem do humano da Aldeia pra cidade um trauma do qual a gente não se recuperou até hoje não um trauma localizado do Brasil não mas um trauma da humanidade
como um todo é toda essa nostalgia pela para voltar à natureza tudo isso como você falou é uma preocupação constante todo todo mundo né não só na filosofia mas fora dela na poesia e por aí vai e o que a Raquel vai dizer os históricos através da da física eles fazem confluir novamente a natureza com a lei eles reintroduzem o Humano na natureza o humano mais uma vez é visto como uma parte da natureza Não somente uma parte como diz o o Marco Aurélio fala belamente que humano não é apenas uma parte meros em grego
com ro mas é um órgão da natureza melos com lâmbda certo então nós somos uma parte não só uma parte mas uma parte importantíssima da natureza e eu pessoalmente foi exatamente o que eu experimentei ao me me me me intensificar estudos sobre estoicismo essa religação com o natural e é uma religação que é religiosa nesse sentido de religar e religiosa também no sentido eh básico do termo porque a natureza os históricos é Deus eh nas diatribes no manual eu traduzo teó por Deus eh tem uns tradutores que colocam Deus com letra minúscula Deus com letra
minúscula para mim não é nada que que é Deus com minúsculo Deus é Deus tanto que os históricos não vem esse Deus como um Deus particular dos gregos não esse é o Deus sobre o qual Todos falam mesmo no Panorama politeísta todos os deuses e deusas no final se reduz usem um só na conflagração né e Então nesse sentido também é uma experiência religiosa isso não eh não não passou despercebido pelos históricos pelo contrário Temos vários tratados teológicos inclusive de um dos libertos de cênica chamado Lúcio aneel cornuto que escreveu um Tratado de teologia estóica
explicando os mitos dos deuses gregos e Romanos através da da da cosmovisão estóica certo então esse esse é um ponto que é interessante eh que o ador Pierre adô aquele que falou muito sobre os exercícios espirituais e tal ele destaca essa cisão entre teoria e prática ela é própria da nossa época ela começou em algum momento da idade média porque antes disso você não separava a teoria da prática filosófica S eram coisas que estavam interligadas então essa visão que nós temos hoje da filosofia como um mero estudo eh teórico ela não tem nada a ver
com o que era Filosofia na antiguidade que era o modo de viver que era eh era uma escolha de vida e eh era uma um modo de você criar amizades né Eh como parece que como você faz aí no círculo do livro vocês não vão apenas discutindo vocês vão criando laços né refeição e tudo mais então Eh muito diferente do que é a filosofia hoje e não não possui esses esses elementos né por isso quando você falou isso não é filosofia o nos termos atuais o estoicismo também não é filosofia também não é porque o
que era filosofia para ele não tem nada a ver praticamente com o que se considera hoje como filosofia e a noção de razão deles era muito mais ampliada incluía estudo de oráculos incluía eh a questão da religiosidade incluía eh a questão também da da ciência e tudo mais eles tinham uma uma largada do que fosse a razão hoje a razão para nós é uma mera capacidade de fazer inferência só isso e a filosofia é meramente o estudo conceitual certo que não tem E mais uma vez insistindo né isso na filosofia antiga não era isso nunca
nunca nunca quis ser isso inclusive não sei se eu respondi ou acabei Ah não eu respondido nesse nesse não respondeu respondeu é também é também é isso que a Raquel Gazola fala então é difícil pra gente entender como mas como uma filosofia pode ser religião porque a a na medida em que a o estoicismo lida com a divindade ela é Sagrada essa esse é o termo que a Raquel Gazola fala a filosofia é Sagrada como é Sagrada uma religião sim sim é no mais alto grau do de valor né nesse sentido tem o o o
no final do do manual o o aforismo 52 o parágrafo 52 diz exatamente o quanto a gente inverte o que é filosofia né Eh eh ele falar sobre os três tópicos da filosofia ele fala o primeiro e mais necessário tópico da filosofia é a aplicação dos princípios aí ele bota um exemplo não sustentar falsidades o segundo é o da é o das demonstrações aí bota entre aspas um exemplo por que é preciso não sustentar falsidades o terceiro é que é o que é próprio para confirmar e articular os anteriores por que isso é uma demonstração
O que é uma demonstração O que é uma consequência O que é uma contradição O que é verdadeiro O que é falso aí ele fala Portanto o terceiro tópico é necessário em razão do segundo e o segundo em razão do primeiro mas o primeiro é o mais necessário e nele é preciso demorar-se e o primeiro é exatamente seguir a aplicação de princípios né e ele vai vai explicar exatamente a inversão que a gente fez na história da filosofia ocidental né porém Fazemos o contrário no terceiro dependem despendemos o nosso tempo e todo o nosso esforço
em relação a ele do primeiro descuidamos por completo Eis aí porque por um lado sustentamos falsidades e por outro temos a mão como se demonstra que não é apropriado sustentar falsidades é exatamente isso né resumiu a a deturpação da filosofia de lá para cá né que é aquela coisa do existe o doutor em ética que é corrupto mas ele é doutor em ética seria inconcebível né Eh teria teria que caçar o diploma de um doutor em ética que é corrupto mas não a gente convive bem com esses dois mundos hoje não há problemas pra gente
E aí eu queria fazer a transição professor do da sua da sua tradução pro seu livro de manual de stoicismo sair do manual do epiteto Pro seu manual de estoicismo que pelo que eu consegui compreender aqui tem uma perspectiva Claro retomando a tradição mas fornecendo a sua leitura tanto é que no capítulo 4 eh o título é como escrever o seu próprio manual de estoicismo eh fala fala um pouco sobre a concepção desse livro e se ele apresenta alguma proposta sua do que é a tradição historica eh e como ela se encaixa hoje por favor
eh eh a esse livro eu tava planejando escrever H muito tempo Aí por sorte Ulisses Trevisan ele falou assim que tal você escrever um um livro sobre estoicismo eu falei poxa é justamente que tava T mas estava pensando em fazer isso daqui há 10 anos né E aí foi um desafio um ano e meio escrevendo e tal eu coloquei ali consegui colocar no papel a minha concepção do que é a filosofia e ela que eu saiba ela é bastante original ela surgiu por um lado com esse contato com a Raquel Gazola né surgiu com com
a obra dela né e surgiu também por outro lado com com com uma conversa que nós temos no no GT epiteto no um grupo de estudantes e admiradores de pitet que a a gente tem uma espécie de círculo do livro Só que é o ccul do pitet né Então temos uma série de pessoas umas da área da filosofia outras não que eh se reúnem online às vezes esse ano a gente se reuniu até presencialmente para falar sobre peto para discutir e etc né então existe essa então por exemplo tem o o o qu o nome
dele agora o João Leite Ribeiro que é o escritor eh São Paulo dramaturgo tem o Afonso que também outro dramaturgo tem o Danilo patut que tá fazendo doutorado comigo na UnB mas Originalmente El ele fazia na USP é professor Então temos a Vanessa que é advogada e fez comigo mestrado essas pessoas foram chegando assim né e eu falei pô você não aproveita fazer o mestrado porque vamos unir o útil a agradável né porque aproveitando que eu tô nessa área ainda você fazendo uma dissertação é uma ótima eh oportunidade de aprendizado e tudo mais né aliás
se vocês quiserem eu eu também oriento lá pela unib é gratuito você você é de você é de de São Paulo não você de Brasília né Talvez aí você se se se não eu moro em Minas eu moro em Minas Ah sim onde onde mesmo tinha pensado eu moro eu moro numa cidadezinha chamada passa 20 que é Ah você falou fronteiro com São Paulo e Rio você falou isso eu tô lembrei agora tá certo então Então a gente tem essa comunidade de pessoas que que nós discutimos muito estamos conversando sobre essas coisas e então eh
essas pessoas também contribuíram de alguma maneira né para esse livro tanto que eu enumero inclusive elas na na na na na na dedicatória do livro e é o resultado de 20 anos de reflexão sobre esses temas e eu escolhi um caminho diferente porque eh é o caminho da complexidade porque é uma é uma ilusão eh tem muitos livros de introdução a historicismo que são assim aliás entre nós né eu não recomendo como professor de Filosofia nenhuma introdução à filosofia se vocês tiverem Um livro desse joguem fora peguem a lata do lixo jog é joguem fora
porque são terríveis eles simplificam eles eles eles mutilam eles eh falseiam o conhecimento então é o tipo de livro que não quero que meus alunos tenham Nem meus amigos tenham joguem joguem fora V jogar fora sem rasguem porque para para que AL não tem corre o risco de ler T entendendo é porque é é uma coisa terrível e em geral essas introduções ao estoicismo tinham esse mesmo defeito eram muito simplificadores parece que o estoicismo é uma espécie de doutrina assim pura e simples de uma meia dúvida de preceitos e acabou-se certo só que essa aproximação
simplória simplista ignora que o estoicismo se desenvolveu por pelo menos sete séculos do século 4 antes de de Cristo ou o século 2 depois de Cristo o século 3 depois de Cristo que o último eh que se menciona é um um histórico chamado Médio já no século II então muita coisa aconteceu ali muita discussão muita divergência eh se por um lado para entrar na escola eles tinham que aderir a certos princípios por outro lado eles interpretavam livremente esses princípios então eles discutem entre si muito as escolas discutem entre si umas criticam as outras e os
próprios eh membros das escolas internamente também discutem entre si ou diretamente ou pelo tempo né como por exemplo posidônio discutindo com crisipo não conhecia o crisipo naturalmente crisipo é do século 4 e do século 1 antes de Cristo Mas eles estão discutindo as ideias né então Eh o estoicismo é um fenômeno muito complexo muito complexo e conhecê-lo minimamente demanda muito tempo e muito estudo conhecê-lo de uma forma adequada né eu t Eu costumo dizer que eu precisaria pelo menos 400 anos para poder ler tudo que eu preciso ler sobre o estoicismo tô falando de fontes
primárias não tô falando de comentador não c Imagina os comentadores né então a gente tem que ter diante tem que a gente não pode mascarar essa complexidade do estoicismo e é justamente isso que faz do historicismo uma filosofia perene uma filosofia eh Sempre Viva né Essa complexidade da mesma forma eh como uma música de Mozart né aquela complexidade garante a sua longevidade a sua eternidade literalmente porque é ali que tá o segredo da coisa né então estudar o estoicismo é abraçar essa complexidade abraçar essa diversidade mesmo e então eu tento apresentar pro leitor o estoicismo
a partir desse Prisma dessa complexidade e qual que é a sua concepção de de filosofia que o senhor apresenta aqui que o senhor falou que tem uma certa originalidade o senhor poderia sem sem cortar a complexidade dela dar indícios de do que ela seria sim em primeiro lugar eu o fato que eh poucas pessoas percebem é que o estoicismo é uma filosofia feita por Imigrantes ela ela cosmopolita também nesse sentido João o zão de sítio era um Fenício certo clante de aos africano né africano sem antes da de existir o que a gente hoje chama
de África né é não Não exatamente africano que era de Chipre Chipre ali na frente da Ásia menor mas tava as colônias fenícias estavam intimamente ligadas à África e havia já várias colônias fenícias africanas como Cartago por exemplo como útica então havia todo esse contato né da da da filosofia histórica com o mundo Mediterrâneo como um todo por assim dizer a África Ásia menor a a Europa né através da da Grécia e continua assim todos os nomes são nomes estrangeiros podemos dizer assim de imigrantes Então temos crisipo de ses também que é na asa menor
e e em Roma eles não vão ser propriamente Imigrantes embora sejam em alguma medida porque cênica por exemplo de família espanhola Marco Aurélio parte da família dele também é espanhola vejam que interessante o mônio era etrusco E por aí vai o Jorge era da Babilônia Jorge o pdor era de Rodes e além de os romanos mesmo quando eram Romanos autênticos eles eram eh eh uma minoria ideológica eram Defensores da república e da Libertas da liberdade de expressão política essa Libertas era uma Liber era uma liberdade de expressão que cabia a certas classes em Roma através
da qual eles podiam se manifestar contra contra contra temas políticos e isso tava sendo ameaçado justamente no tempo da da no tempo dos imperadores né especialmente Os imperadores tiranos como Calígula como Nero como Domiciano como Vespasiano E por aí vai então esse caráter político do pensamento histório e e cosmopolita Não no sentido cosmopolita atual que o cosmopolitismo atual tem um sentido pejorativo né mas esse sentido de se ligar a Cosmópolis que é o Cosmos que a grande Cosmópolis é o Cosmos né Eh não foi percebido de uma forma aguda por ninguém que eu saiba essa
percepção de que em primeiro que o estoicismo não não trata primeiramente de uma ação interior mas de uma ação visando o bem comum o Marco Aurélio fala isso o tempo todo eu fiz uma apresentação duas semanas lá na uf mostrando isso como a partir da República dizer não de sítio a gente chega na ação na ação Comunitária que Visa o bem comum de Marco Aurélio certo então o Marco Aurélio vocês se vocês aliás vai sair minha tradução né do Marco Aurélio pela companhia das letras aí no princípio de R de Janeiro Ah é poxa se
tivesse saído esse ano seria teria sido ela que a gente teria adotado a gente adotou a a tradução do da edipro do se eu não me engano é do Edson Bin é mas a a minha modestia parte tá Tá legal porque tá não eu eu acredito não só di que seja melhor né mas ela ela é legal que tem essa visada da da da política né E também tem tem todo um montão de notas e introdução feita por mim mesmo também e Então essa a visão do estoicismo como uma filosofia que Visa o bem comum
isso não se vê por aí não se vê e eles fala o tempo todo sobre isso o que mais me me choca é como isso pode ter passado despercebido por tanto tempo certo eh inclusive tô falando aqui vai sair num livro sobre de filosofia sobre as diferentes noções de Justiça eh na filosofia ao longo do tempo né aí me convidaram para eh fazer um dos Capítulos e eu tô falando sobre esse capítulo que Eu tratei da Justiça nos históricos e o que que é o justo pros históricos a ação que Visa o bem comum eu
chamo de ação Comunitária mas não tem nada a ver com ação comunista não como algumas pessoas acharam né é mais o comunitarismo no sentido Liberal certo porque vocês sabem né que a doutrina Liberal comporta certas certas facetas comunitárias tem um comunitarismo Liberal né inclusive então eh é isso que eu acho que é mais importante na minha eu mostro claramente como essas coisas se ligam né como eh os históricos acabam por concretizar por assim dizer a cidade ideal dizer não num num ideal de ação política Comunitária ação política que Visa o bem comum e o que
significa isso significa que eh você tem que cumprir bem o seu papel na sociedade Qualquer que seja ele se você é um um bom um pai você vai cumprir se sendo um bom pai você ajuda politicamente a sociedade você ajuda Pólis você ajuda a cidade Como como o mônio falou muito bem Aquele que destrói a família destrói a cidade né Ele é uma frase que ele tem numa das de atries se você é um bom padeiro aliás eu fui padeiro uma época né nos Estados Unidos fazer bagon se você é um bom padeiro sensacional você
faz um bem pra sociedade também porque Pô você já foram numa padaria de manhã comprar um pão ruim né uma coisa terrível né o a padaria perde dinheiro né Eh as pessoas ficam tristes Comendo aquele pão né todo mole né e mas se você é um bom padeiro não a sua a padaria do do seu patrão ela prospera ex você prospera todos ficam felizes Então se trata de desempenhar bem os seus papéis na sociedade quaisquer que sejam eles e isso é bonito no estoicismo então você pode desempenhar bem você pode ser importante paraa sociedade não
importa qual papel qual Modesto seja o papel que você tem você pode ser um bom eh Digamos um bom uma pessoa que cuida de uma casa uma boa dona de casa mesmo uma boa mãe e essas coisas todas que hoje em dia costumam ser ser até desprezadas né a pessoa P ser mãe a pessoa cozinhar e como se fosse uma tarefa menor né os históricos vem tudo isso por igual Aliás o próprio crisipo era um bom cozinheiro ele nos legou até uma uma receita de de lentilhas tem uma receita que até eu vou como eu
gosto também de eu gosto não eu cozinho para mim o tempo todo né e eu vou testar essa protestar essa receita do crisipo de lentin não eu quero essa receita tem que tem que fazer circular ela aqui no nosso no nosso grupo porque a ência da leitura só se enriquece se a gente comer uma receita dos históricos Então essa reconexão com o Cosmos se dá Através disso se dá através da compreensão que nós eh desempenhamos papéis na sociedade e diante do Cosmos também e diante Qual é o nosso papel diante do Cosmos um deles é
exatamente de exegeta do Cosmos nós não não como diz epiteto Nós não somos seres que apenas usam as representações mas também que temos que interpretar essas Representações em outros em outros termos nós somos seres que precisam compreender o mundo no qual eles vivem nós precisamos compreender o mundo no qual vivemos daí toda essa por isso que a gente lê né por isso que vocês estão então aí lendo conversando comigo e lendo livros e mais livros e por isso que os cientistas fazem ciência e por aí vai são por isso que os músicos bons músicos fazem
boas músicas são diversas formas da gente ver o mundo né de a gente compreender o mundo e então Eh é é isso né que eu deixo muito Claro no livro né que o estoicismo é uma uma filosofia que busca religar o humano ao Cosmos e ao restante e à humanidade através da da dessas ação visão do bem comum que se traduz em desar bem bem os papéis que nos foram atribuídos pelo destino muito bom essa essa chave de Interpretação para mim já já valeu Eu não eu não tinha ela e agora vai certamente fará parte
do modo como eu me aproximo do dos estóicos eu o senhor sabe que tem um preconceito às vezes declarado às vezes não declarado com estoicismo Eu tenho um preconceito né porque ele ficou muito atrelado ao mundo Empresarial nos últimos anos né E aí ele ficou declaradamente declaradamente por esses grandes empresários e e marqueteiros né Acho que o o Holiday é o é o principal deles né que era um grande marqueteiro e é ainda e ele ele fez um rebranding para ser um grande histório né hoje ele é mais conhecido pelo historicismo talvez do que pelo
pelo trabalho dele anterior e eu tinha um certo preconceito contra estoicismo porque eu achava que era ideologia de empreendedor não que empreendedores não precisem ler também né mas era preconceito eu tô eu tô eu tô confessando todos os meus pecados aqui mas e portanto eu Tendi a ler o estoicismo justamente por por uma chave de interpretação única e exclusivamente individualista e não é essa que o senhor tá fornecendo agora né coletivista É comunitarista nãoé melhor dizendo e e mudou completamente o modo como como eu encaro e de fato faz todo sentido para finalizar acho que
uma Última Pergunta antes de abrir pro pessoal aqui caso alguém queira fazeruma pergunta acho que o senhor já começou a responder mas eu queria sistematizar qual que é qual que é o conselho que o senhor daria para alguém que tá se aproximando do epiteto pela primeira vez Que cuidados essa pessoa precisa tomar para não interpretá-lo de modo equivocado ou para se aproximar dele o mais próximo possível do que de fato é o espírito do epiteto é excelente pergunta né Eh eu escrevi esse livrinho aí do manual de pitet justamente para isso vocês viem que não
é um livro redutor da introdução eu faço uma apresentação a partir de Heráclito muito brevemente a partir de Sócrates né então eu não eu não faço nenhuma redução assim como ao modo como a gente vê por aí eh infelizmente muitas pessoas fazendo então o primeiro conselho que eu dou é não Leiam introdução à filosofia não Leiam não Leiam não Leiam nem a introdução ao estoicismo O meu manual por isso que eu coloquei manual de stoicismo não é introdução é manual é outra coisa É como manual eh por exemplo você vai vai comprar um carro você
vai ver o manual dele para quê para você se instruir Como de como você vai lidar com o carro nas diversas e eh É eventualidades né mas imagine que você vai vai comprar um livro chamado introdução ao meu carro Poxa você não vai querer ler isso né Ah o meu carro foi não isso é chato né você você quer um manual quer como que funciona né manual caiba na mão certo então Eh e por isso que eu fiz a questão também de não ser uma obra longa porque o manual tem que caber na mão o
manual vende manuales né vende de manos e em grego é in iridium é que algo pequeno que cabe na mão certo Então essa preocupação com concisão era constante na antiguidade não é à toa que o Flávio rano ele compôs o manual porque os romanos precisavam de manuais eles eram homens práticos eram empreendedores por assim dizer eles eh não tinham o tempo de ficar lendo calhamaços gigantescos né então havia um manual para do do do soldado havia um manual de lógica manuais qualquer um que trabalha na área técnica sabe a importância dos manuais porque técnica é
voltada pra prática e a filosofia na antiguidade também era voltada pra prática Então tudo bem você pode até ler um Calhamaço de 500 páginas mas quando você tiver tempo cé então o melhor é você se concentrar numa boa tradução aquela tradução e ler essa tradução até cansar até decorar certo o o zenão de sítio tirou um oráculo para ele né e o oráculo disse que ele devia ficar da cor dos mortos Como aí ele fez o o que significa isso né ele entendeu que era para estudar os antigos até ficar como eles da cor dos
moros Você já viu quando vocês colocam uma folha dentro de um livro tempos depois você abre e tá lá como fosse a impressão da folha no livro Então a gente tem que ser assim com com esses livros não se trata de ler muitos livros mas ler o mesmo livro muitas vezes até conseguir absorvê-lo né Essa Ideia é transformar a filosofia em palavra viva na alma em como Na expressão do Platão né logos em píticos ou na expressão de de cênica que ele traduz a mesma mesma mesmo dito de de Platão por viva Vox que também
é o nome do nosso grupo de de pesquisa né daí que vem viva Vox stoicismo né então a a ideia não é se tornar você tornar você capaz de falar sobre estoicismo nem você ficar falando pros outros de estoicismo nem eh ficar lendo milhões de livros sobre estoicismo não estão fal falando de pessoas da da da sociedade não de acadêmicos né mas lê um livro Lê até decorá-la e até conseguir praticá-lo e até conseguir encarná-lo essa é esse é o objetivo Essa é a meta certo então Eh é por isso que o Flávio Reno escreveu
esse manual para ele em primeiro lugar depois Ele publicou Então essa então daí a sua incitação de cada um escrever o seu manual né porque no processo de escrita você você encarna os princípios na na sua conduta né exat então por exemplo você pega um livro desse aí o manual de peto você vai não não tem a pena do livro vai sublinhando tudo que você achar que precisa depois você vai fazendo notas das margens não tem o livro é seu você pode anotar à vontade né Depois que você anotou e Leu E releu aí você
pega um outro livro um outro eu peguei pegava agendas E você começa a literalmente A copiar as partes que você achou mais importantes antes depois isso no Exercício diário né Eu como eu fazia isso espontaneamente lá em Petrópolis eu ia pro Jardim eh tinha uma mesinha de plástico colocava o incenso até para ficar mas mas para para a gente entrar no clima né certo e Incenso E e depois e fazer isso ao final da tarde mas cada um pode escolher o horário melhor né As Tardes de Petrópolis eram muito muito gostosas né aquele tardecer fresquinho
etc do jardim eh e depois você começa a parafrasear essas passagens parafrasear e colocar essas aquela passagem nas seus próprios tmos nas suas próprias palavras para você se apropriar daquele conteúdo e é impressionante que a mesma a o mesmo Capítulo do manual na 20ª lei vez que você lê vai ser totalmente diferente da primeira isso que é fantástico sabe não é o livro que se esgota ele é é tem um uma multidão de significações e significados Então você jamais vai esgotá-las só um segundo só para mostrar aqui que eu tô com uma uma edição só
um mentinho Então essa aqui uma essa edição que eu falei que eu era uma edição que a gente fez na na Federal de Sergipe para divulgação né Ah então p essa essa foi a de a de divulgação gratuito que era só alguém Exatamente é e e e que essa que tá na sua mão aí do manual só Só que essa aí tá uma edição mais mais bonita né obviamente né E olha isso aqui são as anotações da capa certo tudo anotado eh de uma forma Quase hoje eh Alguém poderia dizer que é um problema de
foco né excesso de excesso de foco certo então tudo anotado ao exaustão e depois que eu anotei tudo isso ao exaustão eu passava isso eu anotava isso eu passava isso para eh o minha minhas agendas e depois parafrasear Então qual é o objetivo é produzir um discurso interior eh substituir o seu antigo discurso interior segundo o qual você é só um pedaço de carne que você é separado do mundo que é separado das pessoas que você né Eh destinado à infelicidade por um discurso eh segundo o qual você é parte importante do Cosmos você eh
parte importante da sociedade e cumprir bem o seu papel faz diferença primeiro para você e depois para a sociedade como todo eh isso aí inclusive esse Eu mencionei o João lente Ribeiro né e ele é portador de esquizofrenia é um dramaturgo escritor e portador de esquizofrenia então ele teve poucas possibilidades de de interagir na sociedade e ele disse que estudando estoicismo pela primeira vez ele eh teve a possibilidade de se pensar como fazendo parte de um Cosmos isso sequer tinha passado pela cabeça dele porque como uma pessoa com esquizofrenia ele se via sempre apartado separado
fora da sociedade fora do do mundo né e esse é um sentimento que infelizmente perpassa muita gente na na atualidade não eu eu com essa chave de leitura eu já me sinto presenteado de verdade para mim para mim abriu outra outra possibilidade de de encarar o historicismo eu tô bastante feliz e eu queria muito agradecer novamente Professor pela pela generosidade de conversar conosco comigo e com todos os os alunos aqui do do clube do livro e do do inef como um todo né Essa essa entrevista vai pro pro YouTube também que eu acho que esse
livro tem que ser divulgado tanto esse que o senhor traduziu quanto esse que o senhor acabou de publicar publicação desse ano né 2023 E tem eu tenho essa outra tradução das diatribes do do epiteto sairá uma segunda né dessa aqui finalmente a partir do ano que vem Vamos retomar já traduzi metade do segundo livro Espero que eh até o final do ano que vem a gente tenha publicado o segundo livro das diatribes né e é é um trabalho muito legal inclusive esse ano tive a possibilidade pela primeira vez em sala de aula fazer uma leitura
das diatribes em voz alta né diante dos alunos foi uma coisa muito legal muito gratificante uma grande oportunidade de aprendizado as de atrib São como manual né Eh elas são fonte infinita de significação de São palavra uma vez eu tive esse sonho lá nos anos 2000 falei isso uma vez pro Gabriel Cornélio eu sonhei Sabe aqueles sonhos reais né Eu sonhei que tava em Atenas e era de manhãzinha tava aquele sabe aqu sol azulzinho de manhã né E aí eu eu eu tava numa padaria e levava para fora pão fresco pão quentinho ainda pão fresco
né Aí acordei falei que sonho interessante né E aí Eu interpretei assim né que eh a minha missão era traduzir essas obras né porque elas contêm vida né Elas são alimento vivo sabe elas não são mera literatura algo para tornar alguém intelectual nada disso são textos voltados paraa prática e são alimento pra alma mesmo maravilha maravilha Professor Muito obrigado