As Cruzadas

Mas senhor, vamos todos morrer! ” “Ó meu Deus. ” “Estamos ferrados” “Deu ruim” Salve meus cavaleiros!

Sejam muito bem-vindos ao Impérios AD! Você já deve ter ouvido a expressão, Efeito Borboleta, não já! ?

Essa teoria diz por exemplo, que um simples bater de Asas de uma borboleta pode causar uma série de eventos que lá na frente talvez até décadas depois podem causar um tufão devastador. Se essa teoria é verdade ou não, não dá pra saber, mas o que dá pra gente saber é que se as Cruzadas não tivessem acontecido há quase 1000 anos atrás, eu não estaria aqui falando com vocês e nem vocês me vendo. E detalhe importante agora: se você quer entender as Cruzadas com o olhar moderno, esquece; não dá pra entender e muito menos apreciar a história com olhar moderno Ainda mais uma história que aconteceu há 9 séculos atrás.

O pensamento humano hoje não é o pensamento humano de dez anos atrás, vinte anos, cem anos atrás. Muito mesno há 9 séculos atrás. É tipo assim: Falar hoje é fácil, quero ver viver naquela época!

Mas quem aprecia história de verdade sabe o impacto das Cruzadas no nosso mundo; e que a resposta europeia à séculos de invasões islâmicas encharcou a história com o sangue de milhares de pessoas numa Guerra Santa pros dois lados: uma guerra entre a cruz e a crescente. Século XI AD, um dos momentos mais importantes da História Mundial: a Europa sofria com as invasões muçulmanas por mais de 300 anos. A Península Ibérica foi tomada; os caras pegaram tudo, mas teimosamente os reinos cristãos não se entregavam e continuavam lutando contra hordas e mais hordas mouras esmagadoras.

O Reino Franco liderado pelo lendário rei Carlos Martel impedira o avanço islâmico pela Europa Central na épica Batalha de Poitiers. Mas o rolo compressor muçulmano consegue um feito que parecia impossível e que aterroriza ainda mais o mundo cristão da época: A Conquista de Constantinopla. Os implacáveis Turcos Seljúcidas conquistam a cidade em 1071.

Agora, o mundo cristão estava cercado e a beira de um ataque final que poderia acabar com toda cultura ocidental. E por mais que os cristãos ortodoxos detestassem a ideia, só uma pessoa seria capaz de salvar a frágil resistência em Constantinopla; o humano mais poderoso do mundo: o Papa Urbano II. E só uma coisa unia europeus naquela época: muçulmanos invasores!

E já tá provado que isso funciona mesmo: é só um meteoro, alienígena ou apocalipse zumbi colocar em risco a humanidade que até russos, americanos e chineses dão as mãos e lutam lado a lado. Então, o papa convoca o Concílio de Clermont em 1095 onde toda a cristandade estava sendo invocada para a Guerra Santa contra as forças do mal. Só que pra encarar essa guerra quase suicida, os cristãos precisavam de um pequeno empurrãozinho, e o papa teve uma ideia genial: Com essa misericórdia toda a Europa tava numa alegria infinita e euforia religiosa descontrolada: expulsar os Mouros da Europa, recuperar a Terra Santa, ir pro céu.

Era tudo bom demais para os pobres cavaleiros Europeus mergulhados nos iníquos prazeres da carne. E de quebra o Papa voltaria a ser o líder supremo da cristandade novamente: Não que ele quisesse isso. .

. imagina! Mas um homem tinha pressa de ir pro céu e resolve fazer sua própria cruzada: Pedro o Eremita.

Com uns mendigos nervosos e encrenqueiros ele parte pra Constantinopla possuídos por uma fúria católica raivosa. Aí você já imagina que a famosa Cruzada dos Mendigos não deu muito certo. Mas a verdadeira luta começa em 1095 AD: A Europa se une e parte pra libertar Constantinopla dos islâmicos e iniciar mais de 2 séculos de Guerra que mudariam a história da humanidade.

Pro mundo islâmico era o Jihad; pro mundo cristão era a Guerra Santa! Com uma força esmagadora, os cristãos invadem Constantinopla em 1097 e acabam com os sarracenos ali. Depois, os cristãos iniciam o Cerco de Antioquia.

Mas a cidade era tão grande que depois de 8 meses de luta não tinha mais comida e eles tiveram que comer seus próprios cavalos. . .

e até alguns de seus irmãos caídos em batalha. A cidade era a imagem do caos! Mas os cruzados finalmente conquistam a cidade e agora com uma determinação ainda maior, eles partem para conquistar seu maior tesouro: Jerusalém.

A Primeira Cruzada mostrou ao mundo islâmico do que a cristandade era capaz. . .

E esse cavaleiros, era só começo! A Primeira Cruzada foi um sucesso pra Cristandade. E depois dela, a moral do Papa tava aonde?

Só que os peregrinos continuavam sendo atacados pelos muçulmanos à caminho da Terra Santa: Então pra proteger os peregrinos, eles surgem: os protetores da cristandade; A tropa de elite Ocidental; A primeira Ordem militar da história Europeia, o terror do mundo islâmico, eles: Pauperes commilitones Christi Templique Salomonici. ” Depois dessa aula gratuita de latim, eu dúvido que você não vai se inscrever no canal e até ativar o sininho! Depois dos Templários surgiram mais duas ordens, um pouco menos lendárias: os cavaleiros hospitalários e os Teutônicos.

Eles crescem, ganham castelos, constroem castelos, querem ser pobres mas ficam ricos, muito ricos e famosos, cada vez mais famosos até que. . .

“toc toc” Mesmo com seus valentes cavaleiros protegendo a Terra Santa, os europeus eram muito poucos pra segurar a pressão islâmica. E pro terror e desespero dos cristãos, Saladino parte pra Jerusalém! A Europa entrou em pânico; eles tinham que fazer alguma coisa.

Mas não tema, um homem sabia exatamente o que tinha que ser feito. O Papa Eugênio III e o lendário abade Bernardo de Claraval proclamam a Segunda Cruzada em 1147. Só que diferente da Primeira, a Segunda Cruzada teria duas frentes de batalha: Oriente-médio e Península Ibérica.

Então em 1147 muitos cruzados ingleses partem pra Terra Santa, mas chegam primeiro a Portugal e ajudam o lendário rei Português Afonso Henriques a derrotar os muçulmanos e a conquistar sua maior glória, Lisboa, num cerco impressionante. Tantos soldados, felizes, alegres, livres das garras do inferno, só pensavam em como seria a vida deles no céu. .

. só que eles tavam esquecendo de um detalhezinho só: Mas a culpa era do papa porque ele emitiu a bula, e mais uma aula de latim pra vocês agora, “Divina Dispensatione! ” que dava a salvação a qualquer um que lutasse qualquer cruzada em qualquer lugar.

E como tinha muçulmano e cruzada pra tudo que era lado na Europa, muita gente acabou ficando por lá mesmo. No Oriente-médio os cruzados eram liderados pelo Rei Luís VII de França: Só que ele tinha uma leve impressão de que a esposa dele o estava traindo com o tio dela que era príncipe de Antioquia, deixando o cara bem estressado. Pra piorar, o Condado de Trípole estava sendo disputado, e de novo colocaram o culpa em Leonor, aquela mesma esposa do Rei da França que tava sendo acusada de traição pelo seu marido com seu próprio tio e que agora tava presa.

O Rei de Jerusalém tinha morrido e quem tava governando era a esposa dele, Melisende, porque o filhinho dela Balduíno III, ainda era molequinho; isso deixou os reis cruzados nervosos, porque naquela época só uma coisa deixava reis mais nervosos do que uma mulher governando; uma mulher governando a Terra Santa. Traição, estresse, incesto, mulher governando, instabilidade política. .

. Nesse clima relaxante de união e equilíbrio os cruzados atacam e cercam a cidade de Damasco com 50. 000 homens mas são brutalmente derrotados e retornam a Jerusalém devastados e com um única certeza, Saladino estava chegando pra eles!

E ele chega em 1187 com 30 mil homens e toma Jerusalém dos Cristãos. E se já teve duas cruzadas, eu te pergunto, por que não uma Terceira? Então 1189 o Papa Gregório VIII lança a Terceira Cruzada e pra liderar os europeus nervosos até a Terra Santa estão os reis mais casca-grossas da Europa: Frederico Barba Ruiva, do Sacro Império, Felipe Augusto de França, e Ricardo Coração de Leão da Inglaterra.

Saladino era uma máquina de destruição em massa de cristãos, e como ele era o Sultão do Egito, o melhor jeito de parar o cara era partindo pra lá e conquistando o país. E assim os Reis seguiam pra colocar seus nomes na história e tirar a Terra Santa dos infiéis, até que Barba Ruiva resolve dar um mergulho: Ele só esqueceu de tirar a armadura e acabou morrendo afogado. Depois o Rei Francês ficou com medinho e voltou correndo pra casa, e tudo isso deixou Ricardo Coração de Leão bem.

. . MAGOADO!

Sozinho ele lidera os cruzados e consegue conquistar o Egito, Acre, e um monte de cidades, menos a que mais interessava: Jerusalém! Mas pros Europeus até que tava bom, porque eles conseguiram segurar o rolo compressor Saladino que morreu um ano depois do fim da Cruzada. Mas o ideal cruzado que a gente tanto vê nos filmes, livros e romances seguiam firmes e invioláveis, certo?

! Errado! A quarta cruzada foi um doideira só, os venezianos construíram a maior frota já vista na Europa medieval, mais de 500 navios.

10 mil cruzados partiram de Veneza. Só que pra conseguir esses navios todos e essa gente toda eles precisavam de grana, e grana eles não tinham, então os venezianos têm um ideia brilhante: Os cruzados atacam Zara. .

. mas atacando Zara, eles estavam atacando cristãos, e se você fosse cristão você não podia atacar cristãos, a menos que o Papa mandasse, e como o papa não mandou, ele excomungou geral, e se você fosse excomungado você morto e queimando no inferno. E só uma coisa consolava cristãos excomungados: dinheiro!

E esse cara aqui tinha dinheiro, pelo menos ele dizia que tinha: Aleixo IV. Ele era filho do Imperador Isaac II, Imperador de Constantinopla, que foi morto por seu irmão, Aleixo III, num golpe. Então Aleixo IV pede ajuda dos cruzados e oferece grana a eles em troca de ajuda.

Felizes, os ex-cristãos ajudam Aleixo a tirar seu tio Aleixo do poder, e coroam o jovem Aleixo, que agora era o quarto, como o novo Imperador de Constantinopla. Só que passa 1 semana, duas semanas, três semanas, um mês, e nada do cara pagar os cruzados. Mas se tem uma coisa que Aleixo sabe muito bem é: nunca engane excomungados!

Então ele aumenta os impostos pra pagar os cruzados, o povo não gosta, se revolta, matam ele, Veneza invade a cidade, os cruzados saqueam, pilham, matam; católico e ortodoxos ficam cismados, mais ainda, a paz acaba. . .

O ideal de peregrinação e conquista da Terra Santa tinha se perdido em meio a corrupção e ganância dos líderes europeus. Até 1272 AD mais 5 cruzadas aconteceram: 9 no total. Depois da terceira, foi só fracasso!

As cruzadas seguintes eram só objetos de vaidade e ganância por parte de alguns Reis Europeus, que não tinham mais propósito e nem ideal pra justificar a luta. Mas quem disse que as Cruzadas eram só luta e morte, ocidente contra oriente, a cruz contra o crescente? Mais do que uma Guerra Santa dos dois lados, as Cruzadas refletiam um mundo difícil e implacável, onde a simples promessa de salvação era tudo que muitas pessoas poderiam ter naquela época.

Invasões muçulmanas por todos os lados, o povo não tinha garantia de nada! Exceto a promessa de salvação: e por essa promessa eles matavam; por essa promessa eles morriam! Eles acreditavam nisso, isso era tudo que eles podiam acreditar!

As cruzadas se foram, mas o seu legado ficou! E era um sentimento tão forte que esse mesmo legado, séculos depois serviram de inspiração para o surgimento dos maiores impérios que a humanidade já viu e que mudaram o nosso mundo definitivamente. E fechamos aqui cavaleiros!

Muito obrigado por tudo! Um grande abraço, se cuida, e Adeus!