Júlio é um enfermeiro de 41 anos que trabalha há 5 anos em um importante hospital. Ao longo dos anos de trabalho, ele já passou por diferentes situações e conheceu a história de muitos pacientes. No entanto, ele não estava preparado para o que aconteceria naquela tarde.
Algo realmente inesperado aguardava naquele expediente. De uma família humilde, Júlio se esforçou muito para se tornar enfermeiro e conquistar esse trabalho. Na época em que fazia o curso de enfermagem, ele trabalhava durante o dia em uma loja e estudava à noite.
A rotina era bastante dura, mas ele nunca desanimou e se manteve focado em realizar o seu grande sonho. Ao se formar com excelentes notas no curso, ele conseguiu uma oportunidade em uma clínica. Nesse trabalho, ele aprendeu a lidar com os pacientes na prática, a entender melhor os sinais que eles dão quando algo está errado, a enxergar além da superfície.
Após algum tempo trabalhando nessa clínica, ele finalmente conseguiu uma entrevista no hospital em que sempre quis trabalhar. Com excelente desempenho na entrevista, Júlio foi contratado e, desde então, se dedica a oferecer o seu melhor para os pacientes. Cuidar das pessoas que se encontram em situação frágil é o que alegra Júlio e lhe dá ânimo para seguir em frente.
Júlio trabalha no pronto-socorro do hospital e, por esse motivo, está sempre em contato com pacientes em situações bastante difíceis. Quem chega a esse setor normalmente está muito nervoso e com um problema que demanda pronto atendimento. No decorrer de sua experiência como enfermeiro do pronto-socorro, Júlio já atendeu pessoas com ferimentos graves, passando muito mal e confusas.
Em um certo momento de sua experiência como enfermeiro, ele chegou a pensar que já tinha visto de tudo. No entanto, essa percepção mudou quando uma mulher de uns 50 anos, com aparência de "sento", chegou à emergência. Naquele dia, o trabalho seguia normalmente; alguns pacientes com ferimentos leves haviam chegado há meia hora, mas já estavam sendo atendidos.
De repente, uma mulher maltrapilha, suja e muito confusa, chegou ao pronto-socorro. Quando ela abriu a porta, todos olharam em sua direção. Ela emitia alguns sons que se pareciam com gemidos e que nada diziam.
Na prática, ela parecia estar num estado de torpor, como se não estivesse conseguindo falar e nem ao menos formular um pensamento mínimamente lógico. A mulher estava realmente alterada. Não demorou para que os colegas de Júlio começassem a comentar que provavelmente ela era uma "sento" que devia estar bêbada ou algo pior.
A mulher não tinha nenhum ferimento aparente; apesar de estar bem suja, não havia sangue em suas roupas ou na sua pele. E, como já era de costume, os outros enfermeiros do setor de emergência estavam prontos para mandar aquela senhora embora. Esse era o procedimento padrão a ser realizado com pacientes sem teto e bêbados.
No entanto, Júlio percebeu que havia algo mais. Ela não parecia alterada por ingestão de álcool ou outra substância. Talvez aquela senhora realmente estivesse com algum problema que demandasse ajuda de um profissional da saúde.
Ele, então, pediu que os colegas tivessem paciência e o deixassem conversar com aquela paciente. Bárbara, a chefe dos enfermeiros da emergência, estava apenas observando a cena quando viu a abordagem de Júlio. Na posição de chefia há apenas alguns meses, Bárbara tem 30 anos, e o comentário é de que ela está no cargo apenas por ser sobrinha do diretor do hospital.
Os outros enfermeiros fazem comentários maldosos sobre essa situação pelas costas de Bárbara. Júlio, no entanto, respeita a colega e nunca se envolve nesse tipo de fofoca. Apesar disso, Bárbara não gosta muito de Júlio, pois muitas vezes ouve os médicos do setor comentando sobre a eficiência dele.
Inclusive, certo dia, ela ouviu que Júlio iria ser promovido para a posição de chefe do setor, mas seu tio usou sua influência para que o cargo ficasse para ela. Isso fez com que Bárbara se sentisse ameaçada pela presença do colega na emergência, mesmo que não admita. Bárbara estava só esperando uma oportunidade para gerar problemas para Júlio.
Ela gostaria de, pelo menos, mudá-lo de setor no hospital. Assim, acabariam as comparações silenciosas entre o seu trabalho e o dele. Porém, uma mudança é bastante difícil, e uma demissão, ainda mais.
Júlio é o queridinho entre os médicos e até entre os pacientes, mas Bárbara esperou pacientemente uma oportunidade. Ao ver o rival ser prestativo e tentar atender a uma "sento" em um hospital renomado, Bárbara soube que havia encontrado a chance de tirá-lo do seu caminho. Assim que Júlio se aproximou da paciente para lhe oferecer suporte, Bárbara se levantou de onde estava e se aproximou lentamente.
Enquanto isso, Júlio conversava calmamente com a "sento". Ele tentava fazê-la se acalmar para que pudesse lhe dizer o que estava sentindo. A mulher estava bastante agitada e tudo que conseguiu dizer foi que se chamava Angélica.
Júlio fez Angélica se sentar em uma cadeira e sentou-se na frente dela, olhando nos olhos da paciente. Ele pediu que ela respirasse fundo e tentou se acalmar aos poucos. Angélica parecia ficar mais tranquila e iria começar a dizer o que estava acontecendo, porém, nesse instante, Bárbara chegou perto e, duramente, perguntou o que Júlio pensava que estava fazendo.
Como Bárbara chegou pelas suas costas, Júlio levou um susto com a abordagem dela; foi inevitável dar um pequeno pulo na cadeira. Assim que ele se recuperou dessa primeira reação, respondeu para Bárbara que aquela era Angélica, uma paciente. Ele prosseguiu dizendo que, embora ela não tivesse ferimentos aparentes, estava claramente em uma emergência.
Ela precisava de ajuda de atendimento, e ele estava tentando auxiliar como podia. Angélica olhava muito assustada para Bárbara e parecia ter mergulhado novamente naquele estado confuso. Júlio ainda tentava fazer Bárbara entender que aquela mulher precisava de ajuda.
No entanto, a chefe dos enfermeiros não parecia disposta a ceder e disse para Júlio que aquela mulher estava visivelmente bêbada ou algo pior. Além disso, aquele era. .
. Um hospital particular e não poderia atender uma indigente. Júlio então respondeu que a paciente tinha nome, logo não era indigente e precisava de ajuda.
E mesmo que aquele fosse um hospital particular, tinha compromisso de atender emergências; uma instituição de saúde como aquela não poderia simplesmente mandar uma paciente embora sem lhe oferecer ajuda. Ao terminar de falar isso, Júlio se voltou para a paciente novamente. Contudo, Bárbara não estava disposta a deixar que Júlio, nem ninguém, passasse por cima da sua autoridade.
Ela então falou com um tom mais alto, para que Júlio não desse as costas para ela e que a obedecesse. As suas ordens eram claras: ele deveria encaminhar Angélica para fora do hospital, sem demora. Júlio, com muita paciência e mantendo o tom de voz normal, respondeu que não faria aquilo, pois Angélica necessitava de ajuda médica.
Bárbara repetiu novamente a ordem para que Júlio mandasse Angélica embora e, dessa vez, foi mais ríspida. Percebendo que a paciente estava ficando cada vez mais nervosa com aquela situação, Júlio decidiu usar outra estratégia. Ele se levantou e disse para Bárbara que levaria Angélica até o lado de fora do hospital; para garantir que a mulher iria embora, ele acompanharia até a saída.
Bárbara, sentindo que venceu a batalha contra aquele que acreditava ser seu grande rival pelo cargo, disse que era isso mesmo que esperava. Júlio, então, deu a mão para Angélica e pediu que ela o acompanhasse. Sob o olhar de Bárbara, o enfermeiro caminhou com a paciente na direção da porta de saída.
O pronto-socorro tinha uma porta que dava para a rua, mas não era a porta principal do hospital. Chegando do lado de fora, Júlio olhou para Angélica e pediu que ela confiasse nele. Os dois, então, caminharam rumo à outra porta de acesso ao hospital.
Júlio decidiu levar a paciente para a sala de descanso dos enfermeiros; ele sabia que, naquele horário específico, não haveria ninguém no local. A ideia era ter uma conversa com Angélica para entender o que estava errado com ela. Na sala, ele se sentou novamente diante de Angélica e percebeu que ela parecia tremer por dentro.
Pela experiência de Júlio, aquela mulher estava passando por uma reação a um trauma. Como profissional da saúde, era obrigação dele oferecer ajuda para tirá-la daquele estado. Júlio deu um copo de água para ela e pediu que respirasse fundo.
Ela começou a chorar e parecia sem ar. Júlio então perguntou se ela estava sentindo alguma dor física. Angélica apontou para o braço direito.
Com muito tato, Júlio perguntou se poderia examinar mais de perto. Ele analisou e percebeu que não estava quebrado, mas tinha marcas roxas, como se ela tivesse sido agredida. O enfermeiro sabia que deveria reportar aquilo para a polícia; esse era o procedimento padrão.
No entanto, também precisava entender melhor o que estava vendo. Ele pediu que Angélica tentasse falar alguma coisa, qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a entender quem ela era e como ele poderia ajudá-la. A senhora, aos poucos, ia respirando com mais tranquilidade e então lhe disse que estava há muito tempo longe de casa e da família.
Tudo que ela queria era ver o seu filho, por isso estava naquele hospital. Júlio imaginou que a senhora decidiu ir ao hospital para que alguém pudesse contatar seu filho. Ele então perguntou se ela poderia lhe dizer o telefone do filho dela.
A mulher parecia ter voltado para o seu estado de confusão mental; talvez ela realmente estivesse sob o efeito de alguma substância, pensou o enfermeiro. O ideal era desintoxicar aquela mulher para que ela pudesse então conversar com delicadeza. Ele pediu que Angélica o acompanhasse a um canto escondido de Bárbara; ele a deitou em uma maca e então administrou para ela um medicamento na veia que ajudaria a acalmá-la e limparia seu organismo.
Aos poucos, a ruga de tensão entre os olhos da mulher foi se desfazendo. Júlio não tinha dúvidas de que estava fazendo certo, mas ainda assim estava preocupado que Bárbara visse o que ele estava fazendo. Quando faltava pouco para o medicamento terminar de ser aplicado, Bárbara viu Júlio atendendo Angélica.
Ela ficou irritada pela desobediência dele, mas também satisfeita, pois teria um bom motivo para repreendê-lo e quem sabe até demiti-lo. Bárbara tinha a posição de chefia do setor, mas não podia demitir os funcionários sem um bom motivo, especialmente um enfermeiro tão bem avaliado pelos médicos. Para que ela pudesse demitir Júlio, ele deveria cometer uma infração grave, na opinião dela, que fosse passível de demissão.
Bárbara sempre foi acostumada a ter tudo que queria e não seria Júlio, um enfermeiro de origem humilde, que tiraria a chefia e o respeito dos colegas dela. Com um andar firme, um sorriso de satisfação no rosto, Bárbara se aproximou da maca onde estava Angélica e perguntou para Júlio o que ele pensava que estava fazendo. O enfermeiro respondeu de forma educada, mas firme, que estava atendendo uma paciente que necessitava de cuidados.
Bárbara olhou rapidamente para o rótulo do medicamento que estava sendo ministrado e respondeu que já imaginava qual era o problema daquela, sendo bêbada. Júlio disse que realmente a mulher parecia estar sob a influência de alguma substância, mas poderia não ser por vontade própria e, mesmo que merecesse um atendimento digno, ele, como profissional da área da saúde, não poderia deixar aquela paciente sem atendimento. Bárbara respondeu que ele tinha recebido ordens claras e escolheu não obedecê-las.
Não bastasse isso, ele ainda mentiu que tinha levado a mulher embora, mas a recolheu novamente no hospital. E, para completar, ainda estava usando uma maca e medicamento do hospital para atendê-la, sendo que visivelmente ela não tinha condições de pagar por isso. Júlio disse para Bárbara que o valor da ampola de medicamento poderia ser descontado do salário dele; não havia problemas quanto à maca, que estava disponível e não havia nenhum paciente pagante esperando por ela.
Dessa forma, não tinha nada. De errado no fato dele oferecer aquele atendimento, Bárbara estava ficando cada vez mais irritada, e Júlio conservava sua postura calma. A chefe dos enfermeiros então disse para Júlio que aquela postura era inaceitável, especialmente porque eles estavam diante dos outros colaboradores da equipe.
Ela seguiu dizendo que Júlio era um péssimo profissional e que não se importava com o hospital. Após ele ter acolhido aquela situação, seria necessário desinfetar todos os lugares por onde ela passou. Júlio disse que era obrigação de todo e qualquer hospital, assim como qualquer médico ou enfermeiro, prestar atendimento de emergência, independente de qual fosse essa emergência.
Bárbara lhe disse que aquela senhora estava apenas muito bêbada e não deveria estar instalada numa maca; por aquela atitude, por respondê-la de forma tão mal-educada, Júlio não poderia mais trabalhar no hospital. Ele manteve seu olhar firme e perguntou para Bárbara se ela o estava demitindo. Sem pensar duas vezes, ela respondeu que sim; não havia lugar naquele hospital para um enfermeiro como Júlio, tão indisciplinado e sem consciência de quem deveriam ser os pacientes.
Bárbara sentia grande satisfação tanto por estar eliminando um concorrente que poderia lhe gerar dor de cabeça no futuro, quanto por estar demitindo alguém. No fundo, esse era um desejo secreto dela: poder exercer a sua autoridade como chefe dos enfermeiros. Para ela, tirar o emprego de alguém era a manifestação máxima dessa autoridade.
Em nenhum momento, Bárbara se perguntou sobre o quanto essa demissão poderia impactar a vida de Júlio e sua família. Por dentro, Júlio estava sentindo a demissão, mas ele sabia que tinha feito certo; jamais poderia ter mandado Angélica para as ruas sem ajudá-la. Talvez ela tivesse sido vítima de alguém mal-intencionado e, mesmo que estivesse naquele estado por escolha própria, precisava ser desintoxicada para que não estivesse numa situação de risco nas ruas.
Um medicamento havia acabado de ser aplicado e Angélica parecia começar a sair do estado de torpor. Bárbara gritou para Júlio sair do hospital e levar aquela indigente com ele. Com os olhos cheios de raiva, a chefe dos enfermeiros fez questão de ressaltar que Júlio não deveria esperar receber seus direitos; afinal, ele foi o responsável pela própria demissão ao descumprir as ordens que recebeu.
Júlio sabia que tinha agido corretamente, então, mesmo estando triste, decidiu ir embora sem discutir com Bárbara. Ele também sabia que não adiantaria muita coisa; ela era muito imatura e sem preparo para estar no comando. Mesmo assim, como era a sobrinha do diretor, teria sua decisão acatada.
O enfermeiro gentilmente removeu a agulha da aplicação do braço de Angélica e perguntou se ela queria tomar um café com ele na cafeteria da esquina. Já um pouco melhor, após o medicamento fazer efeito, a mulher respondeu que adoraria tomar um café. Júlio sabia que a cafeína ajudaria a mulher a terminar a sua recuperação e, assim, ele poderia obter alguma informação para ajudá-la a encontrar sua família.
Bárbara, que estava sem paciência, gritou para que os dois saíssem logo do hospital. Júlio manteve sua elegância, ajudou Angélica a se levantar e se dirigiu à porta de saída. Bárbara, porém, ainda não estava satisfeita e disse que Júlio deveria esperar Salvador, o segurança.
Ele e aquela indigente deveriam ser revistados antes de sair do hospital; quem sabe o que ele poderia estar levando no bolso ou se ela não tinha mexido no armário de medicamentos? Júlio virou-se para Bárbara e perguntou se aquilo era mesmo necessário. Ela respondeu que sim, pois aquele tipo de gente não era confiável.
O enfermeiro então respondeu que não se importava de passar por mais aquela humilhação; afinal, nunca roubou nada na vida. No entanto, ele precisava alertar Bárbara que aquela postura não era a de uma enfermeira; uma profissional da saúde realmente séria e responsável jamais negaria atendimento para um paciente e demitiria um colega por fazê-lo. Além disso, também não submeteria um paciente recém-tratado a uma situação humilhante como aquela.
Bárbara deu de ombros e disse que não se importava com a opinião de Júlio. O segurança foi chamado e, cheio de constrangimento, deu início à revista de Júlio e Angélica. Num tom baixo de voz, Salvador se desculpava com Júlio e Angélica durante a revista.
O segurança tentava nem olhar muito para os olhos dos dois; ele sabia que Bárbara era uma profissional ruim e que só estava naquele cargo por influência do tio. Infelizmente, nem Salvador e nem nenhum outro funcionário se atreviam a desafiar a autoridade dela, pois tinham medo da demissão iminente. Certamente, aquilo que ela estava fazendo com Júlio e aquela mulher serviria de lição para que mais ninguém a afrontasse.
Dos dois, algo curioso aconteceu: o segurança olhou para Angélica ao terminar a revista e, por um momento, acreditou já tê-la visto em algum lugar. Mas onde? O constrangimento de ter tido que revistá-la fez com que Salvador desistisse de encontrar uma resposta.
Ele não conseguia dizer nem quando e nem onde viu aquela mulher; talvez ela circulasse no entorno do hospital. Com um pedido de desculpas no olhar, o segurança continuou observando Angélica enquanto ela ia embora com Júlio. Ele tinha certeza de já tê-la visto, mas na memória dele ela era tão diferente; ele via Angélica bem vestida e penteada, algo bem difícil de associar com aquela figura.
Salvador pensou que estava confundindo a mulher com alguma paciente rica e acabou rindo ao pensar nisso. Bárbara olhou com uma expressão feia e ele parou de rir na hora. Júlio e Angélica chegaram, então, à cafeteria da esquina do hospital.
Inicialmente, os atendentes não queriam deixar Angélica entrar, pois ela estava muito suja; no entanto, Júlio convenceu com seu jeito sempre gentil. Ele e sua convidada sentaram-se e ele pediu um café para cada um. Júlio esperou Angélica tomar metade do café e, então, perguntou a ela se havia alguém que ele pudesse contatar, e ela disse que se sentia confusa, mas que sabia que.
. . Estava procurando pelo filho.
Ela não sabia por quê, mas todas as vezes em que pensava no filho, aquele hospital vinha à sua mente. Angélica disse que não conseguia lembrar de muitas coisas, apenas que aquele era seu nome e que seu filho se chamava Artur. Ela vagou por dias pelas ruas da cidade e, quando avistou aquele hospital, soube que era lá que encontraria Artur.
Apenas ele poderia ajudá-la. Júlio perguntou se Angélica tinha qualquer outra informação sobre o filho além do seu primeiro nome. "Talvez ele fosse funcionário do hospital, um faxineiro, um atendente ou algo assim.
" Angélica fechou os olhos e fez uma expressão de grande esforço, mas não conseguia pensar em nada concreto para dizer sobre o filho. Contudo, após algum tempo com essa expressão, ela disse que se lembrou do número de telefone de Artur. Com muito esforço, ela deu um número de telefone para seu novo amigo.
Júlio ligou, mas ninguém atendeu; caiu na caixa postal. Então, gravou um recado dizendo que se chamava Júlio, estava junto a uma senhora chamada Angélica, que procurava por seu filho Artur. Júlio dizia que a mulher estava bem fisicamente, mas que se encontrava em um estado alterado, sem saber que horas aquele recado seria ouvido e respondido.
Júlio decidiu que levaria Angélica para sua casa. Ele não podia deixar aquela mulher sozinha nas ruas, caso ninguém respondesse aquela ligação; ele iria procurar a polícia no dia seguinte. Júlio usou o pouco dinheiro que tinha na carteira para pagar um táxi.
Ele sempre voltava de ônibus para casa; no entanto, não podia submeter Angélica a uma viagem tão demorada em um transporte lotado. Aquela mulher precisava de um banho, um prato de comida e um bom descanso. Após algumas horas de sono, com certeza ela iria poder dizer com mais propriedade quem era e por que estava naquela situação lamentável.
Júlio ainda acreditava que Bárbara estava errada e que Angélica era uma vítima de algo terrível. Talvez o seu filho trabalhasse naquele hospital ou em alguma empresa próxima. Júlio morava com sua mãe, Augusta.
Quando ele chegou em casa e contou tudo o que aconteceu, ela se mostrou muito solidária com Angélica. Júlio temia a reação da mãe, pois já fazia quase um ano que ele era o único da casa que trabalhava; o salário dele mal dava para pagar as contas e agora ele havia perdido o emprego. No entanto, Augusta lhe disse que ele havia agido corretamente: aquela mulher visivelmente precisava de ajuda e não seria certo colocá-la na rua sem atendimento.
Como Bárbara queria, a mãe de Júlio era uma mulher que lutou a vida toda para criar seu filho, com muita dificuldade. Ela nunca reclamou da vida, sempre fez o que precisou para sustentar a casa. No entanto, há mais de um ano, ela perdeu o seu trabalho como empregada doméstica na casa de uma família rica e, devido à sua idade, não conseguiu outro trabalho.
Diariamente, ela reza para a Virgem de Guadalupe, para conseguir um trabalho e para que seu filho prospere na carreira que escolheu por amor. Augusta preparou o jantar para ela, o filho e Angélica. Os três comeram tacos recheados com feijão frito.
Augusta era uma cozinheira de mão cheia e Angélica ficou muito grata pela acolhida e pela refeição. Durante o jantar, Júlio e a mãe observaram que, mesmo com muita dificuldade, Angélica tinha modos muito educados à mesa. Isso poderia indicar que ela vinha de uma família com boas condições financeiras e não era apenas uma sem-teto.
O medicamento ministrado por Júlio parecia estar fazendo efeito. Aos poucos, Angélica dizia que se lembrava de estar em um lugar sem janelas e logo em seguida estar em uma rua movimentada. Ela não sabia por que estava naquele local sem luz, mas lembrava-se de estar muito aflita, pensando no filho Artur, em como ela estar naquele lugar fazia ele sofrer.
Lágrimas começaram a escorrer pelos olhos de Angélica. Era evidente que algo terrível havia acontecido com aquela senhora. Júlio aconselhou Angélica a dormir um pouco; isso ajudaria sua mente a clarear.
Augusta ajudou a mulher a tomar um banho, emprestou um pijama e ela foi descansar. Angélica dormiu quase que imediatamente quando encostou a sua cabeça no travesseiro. Júlio estava preocupado, mas após conversar com sua mãe, ficou ainda mais certo de que havia agido corretamente.
Augusta lhe disse que teria ficado muito decepcionada se o filho não tivesse ajudado Angélica. "Que tipo de pessoa recusa ajuda a alguém que está precisando? ".
Talvez eles enfrentassem muitas dificuldades financeiras pela perda do emprego de Júlio, mas poderiam dormir tranquilos. No dia seguinte, antes de Angélica acordar, o telefone tocou. Era o número para o qual ele havia ligado no dia anterior, aquele que Angélica lhe disse ser do seu filho.
Do outro lado da linha estava um homem muito nervoso que perguntava se Júlio realmente estava com sua mãe, Angélica. Júlio confirmou que sim. O homem então perguntou se ela estava livre ou se aquele era um contato de negociação.
Confuso, Júlio disse que a mulher estava livre e bem; que a encontrou em um hospital muito confuso e que, por alguns motivos que não valia comentar, a levou para sua casa. Artur, o filho de Angélica, pediu o endereço de Júlio e perguntou se ele poderia aguardá-lo chegar. Triste, se deu conta de que não tinha mais emprego, então poderia esperar o tempo necessário.
Ficou feliz de saber que Angélica encontraria o seu filho, mas também sentia grande aflição por não saber como sustentar a sua mãe. Augusta já não tinha mais idade para trabalhar fora, especialmente como empregada doméstica; porém, se a situação apertasse e ele não conseguisse um emprego logo, essa acabaria sendo a solução. Angélica acordou uns 10 minutos após a ligação e Júlio lhe contou que seu filho Artur estava a caminho.
A mulher parecia outra pessoa. Após o medicamento, o banho e a noite de sono, ela estava desperta e não parecia mais confusa. Júlio recomendou que ela lavasse.
. . O rosto e usasse uma roupa de sua mãe para esperar o filho.
As roupas que ela usava no dia anterior não poderiam ser reutilizadas, nem lavando muito bem. Assim que se arrumou, Angélica sentou à mesa do café com Júlio e sua mãe. Havia feijão e ovos; ela ainda parecia traumatizada e começou dizendo que estava envergonhada de ter conhecido os dois naquele estado.
Antes que eles pudessem tranquilizá-la, Angélica respondeu que ela estava mesmo sob o efeito de uma substância no dia anterior, mas que foi contra sua vontade. Ela jamais usou qualquer tipo de substância ou medicamento que alterasse o seu discernimento. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, ela contou que foi sequestrada há cerca de dois meses.
Os bandidos a capturaram a caminho do aeroporto, quando ela se preparava para viajar para o exterior. Assim que a aprisionaram, ligaram para seu filho e fizeram diversas exigências absurdas; cada vez pediam mais coisas. Ela tinha certeza de que Arthur fez tudo que estava a seu alcance para libertá-la com vida.
No entanto, Angélica percebeu que seria muito difícil que a quadrilha deixasse de chantagear o filho; era mais cômodo continuar tirando o que podiam do seu filho. Aquilo não teria fim; ela sabia que não veria sua família novamente, a menos que tomasse uma atitude por si mesma. Todos os dias, eles a dopavam.
Pela manhã, ela passava os dias aérea e sem conseguir pensar direito. No entanto, um dia ela conseguiu enganar-los e não engolir o medicamento. Nesse dia, ela estudou o lugar em que estava e percebeu que teria uma chance de fugir.
Eles deixavam uma janela destrancada, como dopavam todos os dias; não se preocupavam que ela pudesse escapar. A verdade é que os sequestradores a subestimaram pela sua idade e por não acharem esperta o bastante. Ela, então, traçou um plano: aproveitaria a mudança de turno da quadrilha para escapar por aquela janela.
No entanto, era preciso não engolir o medicamento novamente no dia seguinte. Infelizmente, ela não conseguiu enganá-los e acabou ingerindo o comprimido, mas como ela não havia sido dopada no dia anterior, estava com mais resistência à droga. Assim, ela conseguiu se manter bem até o momento de escapar do esconderijo da quadrilha.
Angélica conseguiu abrir a janela, pular e sair da propriedade sem grandes problemas. No entanto, depois que já estava na rua, começou a vagar sem rumo e ficou muito confusa. O comprimido passou a fazer efeito; o sol forte na cabeça, o fato de estar sendo dopada há muitos dias, comendo mal, e o medo que ela sentia de ser apanhada novamente a colocou num estado de torpor do qual não conseguia sair.
Além disso, Júlio comentou que esse tipo de droga acaba se acumulando no organismo mesmo sem tomar. Alguns dias era normal que ela sofresse com os efeitos, porém, alguns dias depois de escapar, ela se deparou com aquele hospital e soube que ali encontraria Arthur. Júlio ia perguntar para Angélica se Arthur trabalhava ou estava internado no hospital quando eles ouviram um carro estacionado em frente à casa simples do enfermeiro.
Os três se dirigiram para a porta da casa e Júlio não pôde acreditar no que viu: havia simplesmente uma limusine parada diante de sua casa. Ele ficou sem entender nada. Angélica correu em direção ao carro e da porta de trás saltou um homem muito elegante, que Júlio tinha certeza que já tinha visto, mas não sabia onde.
A mulher abraçou Arthur, seu filho. O reencontro deles foi cheio de emoção, pois Arthur teve muito medo de nunca mais rever sua mãe. Chorando muito, Arthur perguntava se ela estava bem, se os homens que a aprisionaram haviam lhe feito mal.
Ela respondeu que, graças à empatia e ao bom atendimento de Júlio, ela estava ótima. O enfermeiro então se apresentou para Arthur e explicou que ministrou um medicamento para limpar o organismo de Angélica de qualquer substância que poderia estar agindo nele. O enfermeiro disse que ainda levaria algum tempo para que a mulher ficasse totalmente livre dos efeitos dos medicamentos, mas que se recuperaria bem.
Arthur perguntou se Júlio era funcionário do hospital, e ele respondeu que somente até o dia anterior. Foi Angélica quem esclareceu que Júlio a salvou de se perder novamente nas ruas, mas que o rapaz havia perdido o emprego. Arthur ficou consternado ao saber que o homem que havia ajudado sua mãe havia sido demitido.
Júlio imaginou que a reação foi por saber que alguém que apenas ajudou foi punido; contudo, logo ele foi informado de que Arthur era ninguém menos que o dono daquele hospital. Ao ouvir isso, Júlio se deu conta de que já havia visto Arthur algumas vezes em solenidades do hospital. Enquanto evocava mentalmente as vezes que tinha visto Arthur de longe, Júlio ouvia o homem dizer que era absurdo o enfermeiro ser demitido por ajudar uma mulher com problemas de saúde.
Mas mais do que isso, era absurdo que a mulher em questão fosse mãe do dono. Arthur prosseguiu se desculpando por aparecer ali com aquela limusine, mas estava com aquele carro porque iria participar de um evento solene. Quando ouviu o recado de Júlio, ele não quis perder tempo e foi até a casa do enfermeiro com o carro em que estava; mas de forma alguma aquilo era uma forma de ostentação.
Quando entendeu o que estava acontecendo, Júlio não podia acreditar: então, aquela mulher que chegou maltrapilha e sob efeito de substâncias era, na verdade, a mãe de Arthur, que por sua vez era o dono daquele hospital. Decidido a fazer justiça, Arthur disse que levaria sua mãe para casa, depois iria até a polícia, mas que depois voltaria para buscar Júlio. Ele pediu que o jovem o esperasse vestido para trabalhar.
Júlio imaginou que teria seu emprego de enfermeiro de novo. Isso era ótimo para ele. Assim como disse, Arthur foi até a polícia após deixar sua mãe em casa; o sequestro não havia sido.
. . Comunicado porque Artur foi assim instruído pelos bandidos e ficou com medo de que eles machucassem a sua mãe.
Com as informações que Angélica lhes deu, à polícia deu início à investigação que levaria à prisão da quadrilha algum tempo depois. Arthur então retornou para buscar Júlio, assim como prometido, e na limousine, pois ele ainda tinha uma solenidade naquele dia. O homem disse que Dona Augusta poderia ir junto, se desejasse.
A mãe de Júlio não quis perder a chance de passear em uma limousine. Bárbara viu Júlio entrando no hospital com sua roupa de enfermeiro e correu para diverti-lo, para ir embora, pois ela o havia demitido. Ao ouvir o que Bárbara disse para Júlio, Artur perguntou se tinha sido ela quem demitiu aquele funcionário.
Ela, que conhecia Artur através do seu tio, respondeu que sim, com orgulho. Na cabeça da chefe da enfermagem de emergência, ela seria recompensada pelo que fez. No entanto, para sua surpresa, Arthur lhe disse que jamais poderia imaginar aquela conduta vinda de uma chefe de equipe.
Como ela podia ter negado atendimento para alguém que necessitava? Era esse o papel que ela achava que tinha como chefe? Em choque, Bárbara tentou explicar que a mulher em questão era uma senhora maltrapilha que devia ter infectado todo o hospital, e tinha o agravante de que a mulher parecia estar sob o efeito de alguma substância ilícita.
Quanto mais ela falava, mais se complicou. Sem saber, Artur deixou que ela dissesse tudo o que pensava sobre Angélica para somente então revelar que aquela senhora maltrapilha era, na verdade, a sua mãe. Bárbara não sabia como pedir desculpas para Artur, e ele disse que não era necessário, pois ela seria demitida, mesmo que a mulher em questão não fosse sua mãe.
Recusar atendimento para alguém que precisa não é a postura de uma chefe de enfermeiros. Muito irritada, ela perguntou se ficaria com o seu cargo, e Artur respondeu que não. Ele disse que Júlio seria o chefe geral de enfermagem do hospital e não somente da emergência; ele tinha o que era necessário para conduzir e inspirar os seus colegas de profissão a realizar seu trabalho da melhor forma possível.
Júlio não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir; era muito mais do que ele esperava. O enfermeiro disse que aquilo não era necessário, pois ele apenas fez o que era sua obrigação como profissional de saúde. Disse que estava decidido, e assim, nesse mesmo dia, Júlio assumiu o cargo.
O dono do hospital aproveitou que já haveria uma solenidade e fez a apresentação formal de Júlio. Bárbara passou a procurar outro emprego como chefe de enfermaria, mas não conseguiu esse cargo. Com muito custo e alguma ajuda do seu tio influente, ela se tornou enfermeira de um hospital bem menor.
Mesmo com esse revés, ela não perdeu o nariz empinado e nem a atitude arrogante diante de quem tem menos do que ela. Angélica se recuperou do trauma do sequestro e se manteve em contato com Júlio, que se tornou um grande amigo. Ganhando melhor, ele pode levar sua mãe a morar em um lugar melhor e mais próximo do seu trabalho.
Os dois passaram a levar uma vida muito mais tranquila. Júlio, até hoje, se surpreende de como a simples atitude certa mudou totalmente os rumos da sua vida. Inscreva-se no canal Vivências Narradas para mais histórias emocionantes!
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