Deixar a lição de casa para última hora, estudar que nem louco na véspera da prova, fazer primeiro os exercícios fáceis e deixar os mais difíceis para o fim. Quem nunca? Tudo errado, segundo as últimas descobertas da neurociência.
Eu sou Paula Adamo Idoeta, repórter da BBC News Brasil em São Paulo, e hoje eu vou falar de três técnicas indicadas por cientistas para ajudar qualquer pessoa a melhorar nos estudos Eu conversei com a americana Barbara Oakley, que é a co-autora do livro "Aprendendo a Aprender" O interessante é que a Barbara conta no livro que ela própria ia mal em ciências e matemática na escola. Na vida adulta, ela resolveu se dedicar a essas matérias, mas usando a neurociência, ou seja, entendendo como nosso cérebro registra as informações e de fato aprende. A gente selecionou três dicas que, segundo ela, valem para crianças e também para adultos.
Dica 1: empacou em um exercício? Bom, primeiro eu preciso te explicar que o cérebro trabalha em dois modos: o focado, que é quando a gente está prestando atenção ao professor ou um exercício; e o difuso, que é quando o cérebro tá relaxado. E para aprender, o cérebro precisa alternar entre esses dois modos, primeiro se concentrando bastante e depois relaxando para conseguir pensar com mais clareza.
É por isso que às vezes a gente tem boas ideias quando sai para uma caminhada depois de um período de forte concentração em uma tarefa. Então vamos lá: digamos que você entendeu o conteúdo quando o professor explicou, mas empacou em um dos exercícios A Barbara sugere que você dê ao cérebro a chance de sair do modo focado e entrar no modo difuso: faz uma pausa de uns 5 ou 10 minutinhos, dá uma volta no quarteirão ou vai relaxar. Ou então, se você empacou num exercício de matemática, alterna com geografia, por exemplo.
A chance de avançar quando voltar ao exercício vai ser maior se você tiver então alternado entre os estados do cérebro, do focado pro difuso, e de volta pro focado. Outra dica é tentar fazer primeiro os exercícios mais difíceis, e aí alternar com os mais fáceis, ou seja, não deixar os difíceis para o final. Dica 2: Você deixa as tarefas pra última hora?
Na prática, aprender significa criar corrente cerebrais novas no cérebro, ou fortalecer as correntes que já existem. Ou seja, novas conexões entre os neurônios. Se a gente deixa o estudo para a última hora, não dá ao cérebro o tempo que ele precisa pra fortalecer essas correntes.
Tanto que dormir é considerado pelos cientistas algo crucial para aprender, porque é durante o sono que a gente consolida o que aprendeu durante o dia. Por isso, quando a gente aprende alguma coisa nova, é importante revisar logo, antes que essas correntes cerebrais fiquem fracas ou se percam. Se a revisão foi feita ao longo das semanas, aos pouquinhos, essas conexões vão ficando fortes.
Vamos então à dica: para colocá-la em prática, você vai precisar de um temporizador ou um timer que pode ser do celular, e de uma pequena recompensa pro seu cérebro Desligue todas as distrações, ou sejam nada de TV e Whatsapp, e marque o temporizador para 25 minutos. Digamos que a sua tarefa é de matemática. Dedique-se a ela o máximo que você conseguir nesses 25 minutos, sem alternar com nenhuma outra tarefa e sem aceitar interrupções.
Quando esses 25 minutos passarem, você pode desfrutar da recompensa. Pode ser assistir a um vídeo na internet (1 só, hein? ), brincar com cachorro.
. . você que escolhe.
O anseio pela recompensa vai ajudar o seu cérebro a focar na tarefa durante os 25 minutos, e a recompensa vai dar um descanso para o cérebro. Depois do intervalo, começa tudo de novo quantas vezes você precisar para terminar Depois escreve aqui nos comentários se deu certo. Dica 3: entendeu a explicação do professor mas esqueceu logo depois?
Leu um texto e grifou mas não registrou o que tava escrito? Isso é bem comum, diz a Barbara Oakley, quando a gente não pratica o conteúdo, ou não fortalece as correntes cerebrais relacionadas a ele. A pesquisadora sugere uma técnica chamada de "recordar ativamente", que consiste em lembrar as ideias-chave do conteúdo que você estava aprendendo.
Primeiro, leia com calma o texto e anote as ideias que você achar cruciais. Agora, a parte mais importante: tira os olhos do texto e tenta lembrar sem olhar quais são essas ideias. Fala em voz alta ou pensa em silêncio, como você preferir.
Essa é a chamada recordação ativa: você tá imediatamente testando a sua memória. Mais tarde, faça um esforço para tentar se lembrar dessas ideias em horas diferentes do dia, e assim informação vai se fixando na sua cabeça. Uma coisa muito interessante que a Barbara Oakley me disse é: Como o bom aprendizado é geralmente mais difícil, a nossa tendência às vezes é cair nas ilusões de aprendizado, de fazer as coisas do jeito fácil.
Por exemplo, reler a página de um livro e achar que a gente pegou as ideias principais, quando a gente não pegou. Ou olhar a solução de um exercício e achar que entendemos como resolver, quando não entendemos. Ela também me disse: se você souber usar o seu cérebro com mais eficiência, vai economizar muito tempo, evitar muita frustração e expandir seus horizontes de aprendizado, até mesmo para as matérias para as quais você acha que não tem nenhuma aptidão.
Espero que esse vídeo tenha sido útil! Você confere na descrição do vídeo o link da reportagem que eu escrevi sobre o assunto, e que tem mais dicas de "Aprendendo a aprender". Até a próxima!