Damos início, hoje, a mais um episódio do estudo do livro Gênesis de Moisés. E, hoje, nós nos detemos No versículo oitavo capitulo 2: 8, que narra a criação do Jardim do Éden, No jardim, (ser humano) seria colocado e onde ele seria submetido também ao seu primordial e mais fundamental teste, a sua prova de fogo. Mas, antes de nós comentarmos sobre o Jardim do Éden, queria só pontuar uma coisa rápida aqui no texto.
O texto hebraico do livro Gênesis apresenta algumas coisas muito curiosas que nós temos evitado abordar, aqui, no nosso breve estudo, porque esse estudo que nós fazemos do Gênesis é um voo panorâmico. Não dá para nós nos determos em detalhes porque a nossa intenção, como foi no Levítico, é ter uma visão geral do texto, da obra, para que depois possamos fazer estudos mais detalhados ou outras pessoas também possam empreender um estudo mais detalhado da obra. Mas, eu queria destacar, aqui, algumas coisas que chamam bastante a atenção.
A primeira delas é que, tanto no capítulo 1, quanto nesse capítulo 2, Deus é chamado por um nome duplo. Primeiro aparece um tetragrama que são quatro consoantes e como elas não têm vogal propositadamente elas não têm vogal -, um texto que não apresenta vogal elas não podem ser pronunciadas. Então, são quatro letras.
No lugar dessas quatro letras, os judeus, sabendo que se trata do nome próprio de Deus, Eles não pronunciam e substituem pela palavra Senhor (Adonai), que é também uma palavra complicada, porque Adonai, na realidade, significa ‘meus senhores’, em uma tradução hiperliteral. Mas, a ideia é de Senhor. E Elohim, que é a segunda palavra que aparece – aparece esse titulo esse Nome as quatro consoantes Elohim Elohim – significa ‘deuses’.
Então, este é um primeiro aspecto muito complexo do texto. Já nos mostra que esse texto foi escrito para que nós não tenhamos a sensação e que esgotou. Então, toda a vez que nós fazemos uma leitura do livro Gênesis – de resto, qualquer texto bíblico – quando você tem aquela sensação de que, agora, eu esgotei, tirei tudo o que tinha no texto, interpretei tudo, pode ter certeza de que você está no caminho errado, porque a primeira sensação que nós precisamos ter quando terminamos estudar uma passagem é: ‘puxa vida, tem tanta coisa a mais, podia estudar mais, ficou coisa para trás.
’ Exatamente: ficaram coisas para trás, ficaram coisas para serem compreendidas, aquela sensação de incompletude tem que ficar presente em quem lê, em quem estuda o texto de Gênesis, por que isto faz parte da essência da revelação espiritual. A revelação espiritual é feita por quem está em um patamar superior do ponto de vista espiritual ao nosso. Então, seria pretensão imaginar que nós conseguimos absorver totalmente.
Não consegue! E, pensando da revelação, em última instância, como partindo de Deus, a revelação tem sempre algo para ser compreendido porque Deus nunca vai ser totalmente compreendido por nós. Então, este é um ponto interessante.
Nós já falamos, em uma primeira partida, alguns dizem que Elohim (=deuses) é no sentido de um plural para indicar Majestade. Eu acho um pouco foçado, porque não consegue nenhum outro exemplo de nenhum outro substantivo que venha no plural para indicar este superlativo, não se consegue dar um outro exemplo bíblico disto. Nós temos trabalhado com a ideia de que Elohim, aqui, significa aquela plêiade de Espíritos já absolutamente purificados que têm a missão de governar a criação sob o comando de Deus, que é o que André Luiz frisa no livro Evolução em Dois Mundos.
No primeiro capítulo do no livro Evolução em Dois Mundos, ele vai falar dos Devas da tradição hindu, os Arcanjos das diversas tradições religiosas, porque o Arcanjo significa o chefe dos Anjos, a diretoria dos Anjos (porque tem Anjo office boy, tem Anjo secretario e tem a diretoria, que são os Arcanjos) seria esses arcanjos ou o que nós chamamos de Cristos, que Platão chamaria de Demiurgos etc. Aqueles seres, segundo André Luiz, estão em um processo de comunhão indescritível com Deus e, portanto, na ação e no pensamento, eles expressam a unidade. Este é o ponto fundamental!
fIsto é o que chama a atenção. Na ação, é difícil distinguir um Cristo do outro. por quê?
Porque eles atuam em plano de unidade, eles estão integrados com Deus em um processo de comunhão, de integração divina em que a unidade está presente neles. Aliás, Jesus fala isto com Felipe, que diz assim: ‘Senhor, mostra-nos Deus. ’ E, aí, Jesus fala a Felipe: ‘Eu estou há tanto tempo convosco e dizeis: mostra-me Deus?
É só olhar para mim. ’ É como se Jesus dissesse para ele assim: ‘você não tem compreensão para entender Deus além do que eu sou, eu já sou o máximo que você consegue compreender. A minha ação, a minha palavra, o meu comportamento expressa de modo tão profundo a vontade divina, o caráter de Deus’, que é como se Jesus atuasse em um plano de unidade com Deus.
Então, este é um ponto interessante aqui. Outra palavra que chama bastante a atenção é quando Deus modela o ser humano da argila do solo, da terra vermelha, da adamar e Ele sopra um hálito de vida. Mas, a palavra, aqui, está no plural: um hálito de ‘vidas.
um hálito de vidas Este é outro enigma, outra charada do texto bíblico. O que quer dizer isto aqui? Severino Celestino, nosso companheiro, explora de maneira interessante isto, dizendo que, aqui, estaria o gérmen da ideia de reencarnação: soprou no ser humano um hálito de vidas.
Mas, é interessante porque lá nos versículos oitavo e nono, quando vai descrever o jardim do Éden, fala que Deus plantou no meio do jardim a árvore de ‘vidas’, também no plural. Nós falamos na ‘árvore da vida’ e, não é. O texto literal está dizendo: a árvore de ‘vidas’.
E, a árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas é vidas também no plural São coisas feitas para abrir mesmo. O texto vai nos mostrando - e tem que ter humildade -, porque, aqui, cabem setenta interpretações.
Como é que nós vamos disputar qual a melhor interpretação? Vidas, como assim ó que isso quer dizer? O que isso quer dizer?
Permite ao intérprete aprofundar, aprofundar, aprofundar e faz com que o texto sempre seja atual. Em qualquer época da nossa evolução, esse texto ficará atual, porque é uma abertura para o futuro. Eu diria que isto aqui é como se fosse um portal que se abre para o indefinido, para o infinito.
São esses detalhes que nós não estamos ficando atentos a eles, mas que, ao longo do nosso estudo, vou sempre pontuar isto. Esta é a vantagem de se estudar do texto original, porque o tradutor elimina tudo isto, elimina essas cores e fica tudo em um tom pastel, você lê a tradução e fica tudo em preto e branco, em gradações de cinza. Mas, na verdade, o texto original é uma riqueza de cor estonteante e nós ficamos perdidos.
Para finalizar essas curiosidades de palavras, o texto fala assim: ‘e, plantou o [tetragrama] Elohim (= o Senhor Deus) um jardim de Éden’, um jardim de Éden esta é a tradução literal, um jardim de Éden o que leva a crer que Éden não é um nome próprio, porque Éden, nas línguas semíticas, significa delícia, gostoso, saboroso. Então, um jardim de delícias, um pomar de delícias, o que corrobora quando vai falar das árvores, que Ele deixou que crescessem, que florescessem árvores agradáveis de serem vistas e gostosas de serem comidas, Toda arvore agradável para á vista é boa para comida no sentido de prazeroso, saboroso. Daí, duzentos anos antes de Cristo, ou seja, muito tempo depois desse texto ter sido consolidado, quando se reuniram os sábios judeus para traduzirem o Velho Testamento do hebraico para o grego, no lugar de jardim de Éden ou jardim de delícias, eles traduziram por paraíso, porque o paraíso, no grego, que também é uma palavra importada, não é uma palavra original do grego, significa um lugar de delícia, um lugar de deleite.
Então, este é um ponto interessante, porque é importante frisar já que todo mundo fala do Éden como se fosse um nome próprio como, por exemplo, moro em Belo Horizonte, o parque de Belo Horizonte. Aqui, fica parecendo o jardim do Éden. Outras acham que Éden é uma pessoa e o Éden é o dono do jardim.
Mas, não é! É um jardim de Éden, um jardim de delícias. Se no terceiro dia é o dia que Deus cria a vegetação, toda a flora é criada no terceiro dia, aqui, nós não estamos falando mais de flora, não estamos falando de uma floresta, nós estamos falando de um lugar cercado, cultivado, adornado.
Então, nós estamos falando de um ambiente em que passou um paisagista, tem um paisagismo evidente: há árvores de vidas no centro, há a árvore do conhecimento do bem e do mal (que ninguém fala onde ela está), uma multiplicidade de árvores, todas muito bonitas de serem vistas e todas produzindo fruto adoráveis. Quem é lá do cerrado, vai colocar uns frutos do cerrado; quem é do Nordeste, vai colocar outros frutos, cada um põe o fruto que quer (manga, jaca, gabiroba, laranja, morango), o que dá a ideia de um grande pomar, algo preparado e preparado com muito esmero, com muito cuidado. O jardim de Éden é uma palavra que chama a atenção.
Outra palavra que chama a atenção é o mi-qedem que é traduzido [‘e plantou (. . .
) - dá a ideia de que Deus plantou, ele foi lá e cultivou foi como alguém que pega um terreno e monta um pomar todo bonito, então, teve uma preparação] e á tradução mi-qedem‘ no oriente’. Mas, esta é uma tradução enganosa, porque qedem significa o leste, o oriente, onde o sol nasce; mas, pode significar também ‘antes de tudo’, aquilo que é primeiro. A ideia, então, seria: ‘e plantou o Senhor Deus um jardim de delícias primeiro’, antes de tudo e, na sequência, pôs ali humano.
o ser humano. Olha que interessante: primeiro Ele organizou o pomar e depois ele colocou o homem. Aqui, os sábios do povo hebreu navegam nessa margem de interpretação para dizerem que o jardim do Éden existe antes da criação do homem.
Deus teria criado a flora no terceiro dia e já organizado o jardim. Lá no sexto dia, Ele criou o homem. Quer dizer, já deixou tudo preparado.
É bonito isto porque lembra alguém que está esperando uma criança, o casal que está esperando um bebê: prepara o quarto, o berço, deixa tudo arrumado e, na hora que a criança chega, está tudo pronto (quando é possível fazer isto). Aqui, a ideia é esta: antes de o bebê nascer, o quarto dele já estava todo arrumado. O que eu destaco, nisto aqui, um jardim de delícias adredemente preparado, anteriormente preparado, previamente preparado para o ser humano que viria depois, o que mostra um Deus solícito, um Deus amoroso, um Deus cuidadoso, um Deus decorador, arquiteto, que tem bom gosto, sensível.
Esse Deus é único da tradição judaico-cristã, porque Ele é um Deus transcendente, mas, ao mesmo tempo, um Deus que intervém a ponto de ser cuidadoso, amoroso, lembra quase que uma mãe colocando as coisas no lugar, arrumando, decorando, quase uma atitude de mãe - Deus está acima dessas categorizações de masculino e feminino, é óbvio – lembrando, aqui, atributos femininos (organizar o jardim de delícias, tudo preparado, tudo decorado). Esse aspecto de Deus chama a atenção e Jesus vai ressaltar (daí, mais uma vez vemos como que o texto de Gênesis serve de base para o ensino de Jesus, Jesus a todo o momento está apoiando o seu ensino no livro de Gênesis) quando ele diz assim: ‘e não estejas ansiosos pelo que haveis de comer, pelo que haveis de vestir, pelo que haveis de beber, olhai a aves do céu, não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros e vosso Pai as alimenta, olhai os lírios do campo que não tecem, nem fiam e eu, porém, vos digo, nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. ’ Essa fala de Jesus no Sermão do Monte é um comentário desse jardim de Éden previamente preparado para o ser humano, esse aspecto do caráter de Deus, quer dizer, um lírio é a coisa mais bonita que nenhuma indústria, nenhum tecelão é capaz de produzir.
Ou seja, há um artesão na criação, há um artista, não é só um Deus inteligência suprema, um Criador frio. não, não. É um artista!
Isto significa que beleza é um critério da criação divina. Isto é importante: o cuidado, a beleza, o apuro, o artesanato, o artesanato, as coisas são feitas com muito amor, com muita arte, com muita criatividade, porque elas são feitas para ter uma utilidade, mas são feitas também para encantar, para agradar. Isto é maravilhoso!
Está implícito, é uma nota lá no fundo da orquestra, porque o texto está falando de um jardim quase que se passamos por aqui e não percebemos isto, porque está revelando algo do caráter de Deus. Por isso, Paulo de Tarso, em uma mensagem belíssima, lá na última parte de O Livro dos Espíritos, das Penas e Consolações, em um texto maravilhoso, ele diz: ‘gravitar em torno da unidade divina, ‘gravitar em torno da unidade divina, eis o propósito da criação’. O que é gravitar em torno da unidade divina?
O culto harmonioso do belo e do bom. Quer dizer, o Espírito imortal foi criado para um culto, para um ato de adoração que consiste no culto harmonioso da beleza e da bondade. Bondade, que é uma expressão ativa do amor e, beleza, que expressa a harmonia, o apuro, o cuidado, o artesanato, o artífice.
Esta é a lição do jardim de Éden, o jardim de delícias. Poderia dizer assim: ‘e Deus fez um campo, arou e pôs o homem’. Não, não foi isto!
Ou, e pegou o pântano e jogou o homem lá. Não! Criou um pomar.
Daí, vocês ficam imaginando um pomar com todas as árvores que dão frutos deliciosos, imaginem o colorido disto! imaginem o colorido disto! Que coisa sensacional!
Bom, então, previamente foi criado no oriente, no início, e, aqui,fica a palavra que pode ter dois sentidos: plantou um jardim do Éden no oriente ou plantou ou plantou um jardim de Éden previamente, no início. Tudo é válido aqui, o texto quer ser polissêmico, ter vários sentidos, ele quer explorar essas possibilidades e, daí, nós vamos explorar. Agora, nós vamos explorar o jardim de Éden, o jardim de delícias.
Vamos começar nossa exploração lembrando - vamos repetir isto aqui três mil e quinhentas vezes ao longo do estudo de Gênesis – que tudo no Gênesis é padrão que se repete ciclicamente de forma desenvolvida. Para nós termos uma ideia, se tomarmos a 5ª Sinfonia de Beethoven, nós temos um padrão melódico. É isto!
É a unidade básica da sinfonia toda e, ao longo da sinfonia, Beethoven vai pegar essa estrutura melódica e rítmica e vai repetir, transmutar, transfigurar, trabalhar com ela, ponto de criar uma sinfonia. Aqui, em Gênesis, também vai se repetir até Apocalipse. Então, jardim de Éden, aqui, nós vamos ver lá no Sermão do Monte (‘olhai os lírios do campo’).
Por que Jesus está dizendo isto? Jesus está apontando claramente para o jardim de Éden, porque o jardim de Éden expressa, na sua inteireza, o caráter da providência divina. Ele diz assim: ‘se as aves são alimentadas, se os lírios têm essa beleza toda e eles florescem, murcham numa velocidade; não valeis mais do que os lírios e os pássaros?
’ Se Deus tem esse artesanato todo com uma planta, o que dirá com um ser humano, que está no ápice (passou por todo vegetal, passou pelo animal)? No ápice destes dois mas na base da angelitude. Mas, quer dizer, tem mais valor, porque é mais complexo, tem mais complexidade, tem mais riqueza evolutiva.
Então, imagina o cuidado o ser tem perante a providência divina. O motivo se repetiu e, aqui, nós temos que pegar este motivo: a ideia é esta. A ideia de que, primordialmente, a criação é um jardim de delícias.
então, alguma coisa deu errado, porque quando olhamos ao redor e é isto que o texto vai desenvolver na sua sinfonia: começa em um jardim de Éden para desembocar em um dilúvio. E, depois do dilúvio, uma sucessão de tragédias e vitórias, ascensões e quedas. Nós olhamos para o mundo, hoje, e não vemos um jardim de Éden em todos os lugares.
O que aconteceu? Esta é uma ideia que é uma semente: a ideia de que há uma origem e nós ansiamos por ela. Uma origem pura, uma origem de luz perfeita, de harmonia perfeita, de integração perfeita, de comunhão perfeita, de felicidade plena, de máxima realização.
Aí, onde encontrar isto? Aqui, nós paramos o texto bíblico e eu vou buscar a chave, uma chave importantíssima como Kardec destaca: muitos pontos da Bíblia, dos Evangelhos e dos autores sacros em geral, somente são incompreensíveis por falta da chave que permite a sua compreensão. Esta chave está completa no Espiritismo.
Não é no Movimento Espírita! É no Espiritismo enquanto conjunto de leis do mundo espiritual. Então, eu preciso recorrer às leis do mundo espiritual e parcelas dessas leis está condensada na Codificação, porque coube à Kardec sistematizar, trazer as bases dessas leis e também afirmar que esse trabalho tem um caráter progressivo.
Então, ele não pegou a lei toda, competiriam aos outros darem sequência a esse processo de busca da verdade, de busca de toda a lei, que é a lei do mundo espiritual. Se é a lei do mundo espiritual que é a chave, a compreensão das leis que regem o mundo espiritual e a relação do mundo espiritual com o mundo corpóreo é a chave para nós compreendermos esse texto. Vamos nela.
Eu não vejo repositório maior. Isto, aqui, é o maior ponto de pokémon que existe, que é O Livro dos Espíritos. Aqui, você acha pokémon de tudo quanto é tipo, é um pokestop: você parou, aqui, você pega pokémon a cada milésimo de segundo.
Vamos lá. Eu vou buscar, aqui, duas questões para abrir a nossa reflexão sobre essa origem, sobre esse início. A primeira é a nº 243.
Kardec pergunta assim: E o futuro, os Espíritos o conhecem? Aí, os Espíritos respondem: Ainda isto depende da elevação que tenham conquistado. Muitas vezes, apenas o entreveem, porém nem sempre lhes é permitido revelá-lo.
Quando o veem, parece-lhes presente. À medida que o Espírito se aproxima de Deus, tanto mais claramente o Espírito descortina o futuro. Daí nós sabemos – porque nas questões anteriores foi trabalhado isto – que o Espírito só se aproxima de Deus quando ele se desmaterializa e se purifica.
Quanto mais o Espírito se purifica, mais ele se desmaterializa, mais ele se aproxima de Deus, até entrar naquele estágio de comunhão indescritível. Aí, Kardec, que sabe fazer perguntas, sabe dar sequência na pergunta, indaga assim: a) Os Espíritos que alcançaram a perfeição absoluta têm conhecimento completo do futuro? É claro que ele está falando em perfeição absoluta do âmbito da criatura, não da perfeição absoluta de Deus.
Está falando da perfeição que é possível a criatura atingir. Aqui, ele está falando assim: ‘não quero falar de Espírito igual nós estamos falando, eu quero falar de Cristo para cima. ’ Aí, os Espíritos respondem: Completo não se pode dizer, por isso que só Deus é soberano Senhor e ninguém o pode igualar.
Então, completo conhecimento absoluto só Deus. Por isso que Ele é soberano e, por isso, que ninguém se iguala a Ele. Por quê?
Nisto que eu queria chegar, aqui e agora. A pessoa decide ser um pintor e, daí, ele começa a estudar com grandes mestres. O que acontece com ele?
A convivência com gigantes da pintura vão modelando o caráter daquele pintor. Da mesma maneira com alguém que vai estudar piano e estuda com grandes músicos: aquilo tem um impacto profundo naquela pessoa. A convivência com alguém que se destaca naquela área, a convivência profunda, intensa, responsável vai transformando, a pessoa vai absorvendo.
Vamos aliar essa convivência com um grande mestre e juntar isto como se fosse uma relação afetiva. Daí você começa a adivinhar o sentimento, o gosto, o pensamento, o caráter, a inclinação da pessoa, do que ela gosta, do que ela não gosta, qual é o jeito dela, o caráter dela. Isto de aplica a Deus.
Uma convivência intensa com Deus e profunda, de maneira indescritível, que está acima da nossa compreensão, que só é atingida por esses Espíritos que estão no mais alto degrau da escala evolutiva, vai divinizando esses Espíritos, porque é uma integração. Então, eles começam a ter percepções, compreensões que não são deles, que são de Deus. E, uma delas é a visão clara do futuro, só para dar um exemplo.
Daí, Kardec faz uma espetacular questão nº 244, espetacular questão em que ele pergunta: Os Espíritos veem a Deus? Eles respondem: Só os Espíritos superiores o veem e compreendem. Os inferiores o sentem e adivinham.
Calma! Têm muitas coisas aqui. O que esta questão está dizendo?
Qualquer Espírito, independente do grau evolutivo, pode sentir Deus, porque nós somos criados sensíveis a Deus. Eu não preciso ter nenhum grau de compreensão, não preciso ter nenhuma inteligência – nada! - , mesmo assim, sou capaz de sentir Deus.
Mas, ver – não de ver com os olhos, é no sentido de acessar Deus – e compreender só estes que atingiram o alto nível, estes veem e compreendem, porque quem apenas sente Deus, adivinha, fica fazendo teste de adivinhação, ou seja, é chute. E, este é um ponto que eu gosto de chamar muito a atenção porque o Espírito que está encarnado na Terra, falando de Deus é jogo de adivinhação. Às vezes, as pessoas tomam livros, líderes religiosos, gurus como se eles estivessem vendo e compreendendo Deus, como se eles tivessem acesso a Deus.
São adivinhadores, estão adivinhando, porque só esses Espíritos do mais alto grau veem Deus. Com qual sentido? Não é o da visão.
É um outro sentido. Daí, nós temos que fazer uma interpretação igual quando se faz a lei: para você encontrar os contornos de um instituto jurídico, você tem que analisar, às vezes, várias leis, vários artigos para fazer uma interpretação. Aqui também.
Lá no início de O Livro dos Espíritos eles dizem para Kardec que não é possível compreender Deus porque falta-nos o sentido. Isto daqui é importantíssimo porque se você trabalhar com alguns epistemólogos, David Hume, mesmo os empiristas, eles admitem seis sentidos. Os empiristas, que eram quase materialistas, admitiam seis sentidos: os cinco sentidos físicos, mais um sentido interior.
Eu estou com raiva ou estou calmo? Eu estou ansioso ou estou relaxado? Eu sou eu?
Quer dizer, esse sentido de identidade, de memória, de estado emocional, de estado de consciência, é um sentido. Mas, não é visão, ele não é audição, não é paladar, não é tato e não é olfato. Não é pelo olfato que você tem consciência de uma memória passada.
Tem um sentido interno que é o sexto. Mas, os Espíritos dizem: não adianta, tem que ter um sétimo sentido. Para ver Deus, tem que ter um outro sentido que nós ainda não desenvolvemos.
Uma vez desenvolvido, é possível contemplar Deus e compreendê-lo. Até lá, nós podemos senti-lo e ficar fazendo teste de adivinhação (‘ah, eu acho que Deus quer isto! ’) Daí, Kardec aproveita e fala assim: Quando um Espírito inferior diz que Deus lhe proíbe ou permite uma coisa, como sabe que isso lhe vem dele?
Daí os Espíritos respondem: Ele não vê a Deus, mas sente a sua soberania e, quando não deva ser feita alguma coisa ou dita uma palavra, percebe, como por intuição, a proibição de fazê-la ou dizê-la. Não tendes vós mesmos pressentimentos, que se vos afiguram avisos secretos, para fazerdes, ou não, isto ou aquilo? O mesmo nos acontece, O mesmo nos acontece, se bem que em grau mais alto, pois compreendes que, sendo mais sutil do que as vossas a essência dos Espíritos, podem estes receber melhor as advertências divinas.
Quer dizer, você tem um equipamento mais sutil. Eles estão menos desmaterializados, então percebem mais as advertências. Como elas vêm?
Vem como intuição e pressentimento, que é um desenvolvimento do sentimento. Quando os Espíritos falam ‘sentimento’, eles não estão falando de sentimento de raiva, de amor. Isto é estado emocional.
O sentimento que eles estão usando, aqui, é uma sensibilidade interior, é ‘ser sensível a’. Este é o sentimento. Então, eles O sentem, nós sentimos Deus.
É isto! Eu me lembro de uma experiência que foi muito marcante para mim. Eu conversava com um grande amigo, Décio Iandoli, e a especialização dele é oncologia Ele trabalhou, por muito tempo, com pacientes terminais.
Uma vez eu perguntei a ele: ‘Décio como você dá a notícia para o paciente: não tem jeito, você vai morrer? ’. Ele falou: ‘não precisa dar a notícia, o paciente já sabe’.
Nesses casos, toda pessoa sabe que vai morrer. Você pode brigar, pode fantasiar, pode criar artimanhas, mas, lá no fundo, você sabe que chegou a hora. Por quê?
Nós somos sensíveis - por meio de pressentimento e de intuição - a Deus, ao soberano Senhor dos destinos e da vida. Isto é muito interessante. b) — Deus transmite diretamente a ordemao Espírito, ou por intermédio de outros Espíritos?
Ela não lhe vem direta de Deus. Para se comunicar com Deus, é-lhe necessário ser digno disso. Comunicar diretamente: ‘Pai?
’ ‘Oi filho! ’ Deus lhe transmite suas ordens por intermédio dos Espíritos imediatamente superiores em perfeição e instrução. Então, há uma hierarquia: aqueles que estão em uma comunhão indescritível vai transmitindo, que transmite, que transmite, que transmite, que transmite, até chegar em mim.
245. O Espírito tem circunscrita a visão como os seres corpóreos? Quer dizer, eu enxergo com os olhos, se eu tampar os olhos, não enxergo mais nada.
Não, ela reside em todo ele, o que já é algo curioso, porque o Espírito enxerga em 360°. Então, é algo para se pensar. Essas tecnologias que estão vindo de GPS, 3D, tudo isto é para já começar a trabalhar a mentalidade humana para as realidades do Espírito imortal, que enxerga em 360º.
Não tem alto, baixo, lado direito, lado esquerdo. Não tem isto! Se você enxerga para frente, para trás, para baixo, para cima.
. . para baixo e para cima passa a perder sentido.
Para baixo de quê, você não tem mais pé? Então, você fala para um Espírito, como Asclépios, que não tem mais forma: ‘à sua direita, a sua mão direita’. ‘Não, eu não tenho mão’.
‘No seu pé’. ‘Eu não tenho pé, filho. Abaixo do pé não existe.
Eu não tenho mais cabeça, nem pé. Eu enxergo todo, em 360°, como um globo’. Você começa a desenvolver uma cognição.
Nós percebemos como somos limitados. 246. Precisam da luz para ver?
Veem por si mesmos, sem precisarem de luz exterior. Para os Espíritos, não há trevas, salvo as em que podem achar-se por expiação. É sempre luz.
Daí, todo mundo está perguntando assim: ‘não entendi nada, o que essas questões estão sendo trazidas? ’. Vamos trabalhar algo aqui: se o Espíritos altamente superiores começam a entrar em uma comunhão, em uma sinergia com Deus que eles começam a vê-Lo e a compreendê-lo, eles enxergam tudo, só há luz, o futuro se abre – não infinitamente, mas de um modo absurdo -, o que aconteceu?
Jardim de Éden. Por que qual era a característica do jardim de delícias? Deus passeava pelo jardim e Adão e Eva conversavam com Ele.
É bonito, porque o texto fala que Deus passeava como um vento, como um hálito, o que – para mim – dá a ideia de que Deus se manifesta pelo fluido cósmico. É como se fosse aquilo dos Jedis: “A força esteja com você”. É o fluido que está nos envolvendo aqui.
Ele está passando, está permeando tudo. É um jardim de delícias. Se é assim no topo da evolução, vamos fazer uma pergunta: quando nós fomos criados por Deus, no primeiro milésimo de segundo, onde estávamos?
Com Deus. Qual é a primeira memória espiritual que nós temos? Eu vou falar uma metáfora aqui: uma memória do útero divino.
Mas, nós éramos simples e ignorantes, não tínhamos nem consciência de nós mesmos, porém a memória ficou impregnada. Portanto, a partida e a chegada é a mesma. E, é esse motivo que o texto bíblico vai explorar: o homem foi formado e colocado no jardim de delícias, sai do jardim, daí tem todos os livros da Bíblia até chegar no Apocalipse e ele volta para o jardim de delícias.
E, essa jornada de saída do jardim de delícias e de volta para o jardim de delícias é a odisseia da evolução espiritual, é a grande laçada da evolução. Nós vamos voltar para a casa do Pai, para o seio de Deus: todas são expressões metafóricas. Seio de Deus lembra uma mãe amamentado, então, voltar para os braços da mãe.
E, todo Espírito tem essa memória e é essa memória que o deixa desatinado e que faz com que ele não consiga ficar estacionado para sempre. Ele pode ficar milhares de anos estacionado, mas uma hora ele satura e ele empreende um novo movimento de retorno à Deus, o que leva Emmanuel a dizer: ‘todos estamos em marcha para Deus’. É a grande peregrinação da evolução.
Só que, antes, nós saímos bebezinho, não sabíamos nem que estávamos lá. Agora, nós vamos voltar conscientes para o jardim de delícias, para o paraíso. Este é o grande motivo: no centro desse jardim há árvore de vidas, mas isto já é tema.
para o próximo episódio.