A quem devo ir para aprender sobre quem amo? Kabir diz: “Quando você está tentando encontrar uma madeira dura na floresta, parece sensato saber o que é uma árvore. Se você quiser encontrar o Senhor, por favor, esqueça os substantivos abstratos”.
O que é Deus? Kabir. Aluno, diga-me, o que é Deus?
Ele é a respiração dentro da respiração. Deus não tem forma nem extensão, Ele não tem corpo nem territorialidade. No meio da mandala celestial, Ele permanece, o Ser Incorpóreo.
Ele é meu Senhor, o Um. E o Um somente, sem um segundo. Quem quer que diga “Ele é mais do que um”, este não pertence a boa linhagem.
Kabir diz: “Cultuo Deus-Com-Atributos, conheço Deus-Sem-Atributos; mas, além dos Atributos e dos Não-Atributos, é lá que fixo minha atenção! ” Eu me ofereço a uma imagem: O grande Ser além das fronteiras e além do além. Tão alto é o palácio do meu Senhor, que meu coração treme ao subir suas escadas; ainda assim, não devo ser tímido se quero desfrutar de Seu amor.
Fui procurá-lo e me perdi; a gota fundiu-se com o mar - quem pode encontrá-la agora? Levei meu amor e minha meditação ao reino onde não há sol, nem lua, nem noite, nem dia. Sem tocar com meus lábios, do néctar mais doce provei; e saciei minha sede sem nada beber.
De que me servem as palavras, Se o amor embebedou-me o coração? Se envolvi o diamante com meu manto, Por que desfaria o embrulho? Quando sua carga era leve, O prato da balança se erguia.
Agora, que o prato está cheio, Qual a necessidade de pesar? O cisne que pousou no lago Buscaria outra vez a poça d’água? Se o Senhor está dentro de ti, Para que abrir os olhos?
Kabir diz: Escutai, ó irmãos! Aquele que roubou meu olhar agora vive comigo. Lá, onde reina a eterna primavera, Onde o Som Não Percutido soa por si só, Onde a Luz Imaculada preenche o espaço todo; Lá, onde milhões de Bramas leem os Vedas, Onde milhões de Vishnus inclinam suas cabeças, Onde milhões de Shivas imergem em contemplação; Lá, onde milhões de Krishnas sopram suas flautas, Onde milhões de Saraswatis dedilham as douradas vinas, Onde a miríades de deuses, anjos e iluminados vivem contentes; Lá, nessa outra margem que poucos alcançam, Nessa praia distante, meu amado Senhor se desvela, E o odor de flores e pasta de sândalo perfuma esse confim.
Abre teus olhos de amor, e contempla Aquele que permeia todo este mundo! Observa-o bem, e reconhece teu próprio país. Esse mundo é a Cidade da Verdade, o labirinto de seus caminhos fascina o coração.
Onde o círculo de múltiplas alegrias gira à sua volta continuamente, aí a Felicidade Eterna engendra lances. Quando conhecermos isto, estará terminado todo nosso esperar e recusar. Então deixará de nos queimar o fogo do desejo.
Ele é o repouso Último e Infinito: Ele espalhou as formas de seu amor pelo mundo inteiro. Dessa Luz que é Verdade, torrentes de novas formas emergem perpetuamente; e Ele permeia essas formas. Todos os bosques, jardins e arvoredos excedem flores, e o ar estala em cascatas de alegria.
Os sons da música não tocada turbilhonam à volta da Infinita Verdade. Brilha no centro o trono do ilimitado, onde repousa o grandioso Ser. Aí a fonte eterna combina sem cessar os eflúvios vitais do nascimento e da morte.
Como podem chamar “Nada” àquele que é a Verdade das verdades? Àquele no qual encontra-se todas as verdades! Em seu interior, evolui a criação, e isso está além de qualquer filosofia, pois filosofia nenhuma pode alcançá-Lo: Existe um mundo infinito, ó irmão e encontra-se aí o Ser Sem Nome, do qual nada se pode dizer.
Esse mundo é conhecido apenas daquele que de fato o alcançou: é diverso de tudo o que já se disse e ouviu. Lá não se conhece nem forma, nem corpo, nem extensão: como posso explicar-te o que é? Trilha o Caminho do Infinito aquele sobre o qual recaem as graças do Senhor: Liberta-se da vida e da morte aquele que O alcança.
Kabir diz: escuta, ó sadhu! Já não há mais desejo. Estou flutuando em mim mesmo, em minha própria cabana, brincando sem esforço por vontade própria.
A misericórdia do meu verdadeiro Guru me fez conhecer o desconhecido. Com ele aprendi a caminhar sem os pés, ver sem olhos, escutar sem ouvidos, beber sem boca, e sem asas, voar. Onde Me procuras?
Kabir diz: escuta, com atenção! Onde está tua fé, lá eu estou. Ó, ser liberto, eu sou o iogue de muitas eras: não venho, nem vou, tampouco me esvaneço; eu saboreio e desfruto o Som Não-Percutido.
Em toda direção, vejo apenas uma coleção e um carnaval de mim: estou em todos e todos, em mim; sou eu apenas, absolutamente só. Eu sou o siddha, eu sou o samadhi: eu sou o que silencia, eu sou o que fala; a forma é minha própria forma manifestando o sem-forma. Eu sou aquele que joga o jogo consigo mesmo.
A rua do amor é muito estreita, não dá para passar dois ao mesmo tempo. Quando eu era, não existia Deus, agora existe Deus, mas eu não sou. Não se traduz em palavras saídas dos lábios, não se pode escrever em papel: É como se um mudo provasse uma iguaria: como poderia explicá-la?
Traga seu ouvido perto da face dele. Lentamente torne-se um ouvinte dele. Meu irmão, escute-me, traga a face, a forma e o perfume, do Santo dentro de ti.