O champanhe borbulhava em taças de cristal, enquanto risadas elegantes ecoavam pelo salão. Eu, Aline do Boá, estava no centro de mais uma festa extravagante em nossa mansão em Mônaco. Meu marido, Pablo, circulava entre os convidados, seu sorriso encantador iluminando cada conversa. Observei-o de longe, sentindo uma pontada familiar de desconfiança. Nosso casamento de 10 anos havia se transformado em uma fachada elaborada, uma performance digna dos melhores atores de Hollywood. Pablo era o herdeiro de uma das famílias mais influentes do Principado e eu, uma socialite respeitada nos círculos mais exclusivos. Para o mundo exterior, éramos o
casal perfeito, mas por trás das cortinas de seda e dos sorrisos ensaiados, algo sombrio se escondia. Caminhei até a varanda, buscando um momento de solidão. A vista da Côte d'Azur se estendia diante de mim, as luzes da cidade refletindo na água escura do Mediterrâneo. Foi nesse momento de aparente tranquilidade que ouvi vozes vindas do escritório adjacente. A janela estava entreaberta e as palavras flutuaram até mim com clareza alarmante. — Pablo, querido, você precisa agir logo! — a voz de Isabele, minha sogra, soava urgente. — Aline está ficando cada vez mais desconfiada. Se não fizermos algo,
todo o nosso plano vai por água abaixo. Congelei, meu coração disparando no peito. — Plano? Que plano? — a voz de Pablo respondeu, carregada de frustração. — Mas não é tão simples assim! Aline não é idiota; ela pode parecer frágil, mas tem uma mente afiada. É por isso que temos que ser mais espertos. Uma terceira voz se juntou à conversa; reconheci imediatamente como a de Anne, a assistente pessoal de Pablo. — Se continuarmos agindo como se nada estivesse acontecendo, ela nunca vai descobrir. Minha mente girava. A assistente eficiente e discreta que trabalhava para nós há
anos! O que ela tinha a ver com isso? — Está certa — Isabele continuou. — Precisamos mantê-la distraída enquanto finalizamos os detalhes. Uma vez que estiver pronto, poderemos nos livrar dela de uma vez por todas! Senti meu sangue gelar. Livrar-se de mim? O que exatamente isso significava? Não sei se consigo continuar com essa farsa. — Pablo suspirou. — Às vezes, quando olho para Aline, sinto como se ela pudesse ver através de mim. — Não seja ridículo — retrucou sua voz, suave, mas firme. — Aline está tão envolvida em sua vida perfeita que não consegue ver
o que está acontecendo bem debaixo do seu nariz. Confie em mim, querido! Logo seremos livres para ficar juntos, sem nos preocuparmos com ela. A realização me atingiu como um soco no estômago: Anne não era apenas a assistente de Pablo, ela era sua amante, e os três — meu marido, minha sogra e a mulher que eu considerava uma funcionária leal — estavam conspirando contra mim. Afastei-me da janela, cambaleando de volta para a festa. Minha mente estava em turbilhão, processando tudo o que havia acabado de ouvir. Anos de pequenas suspeitas e momentos de dúvidas subitamente se encaixaram,
como peças de um quebra-cabeça sinistro. Enquanto caminhava entre os convidados, sorrindo e acenando como se nada estivesse errado, uma ideia começou a se formar em minha mente: se eles achavam que eu era tão ingênua, tão cega ao que estava acontecendo, por que não usar isso a meu favor? Naquele momento, tomei uma decisão que mudaria o curso de nossas vidas: eu fingiria ser exatamente o que eles pensavam que eu era, uma esposa desatenta e facilmente manipulável. Deixaria que acreditassem que eu não tinha ideia de seus planos e, enquanto isso, observaria, escutaria e reuniria todas as informações
que pudesse. Eles queriam se livrar de mim? Bem, eles aprenderiam que eu não era alguém que se pudesse descartar tão facilmente. Nas semanas que se seguiram, comecei minha performance. Aos poucos, fui alterando meu comportamento, tornando-me mais distraída e mais propensa a pequenos lapsos de memória. Pablo, Isabele e Anne pareciam não notar a mudança no início, mas gradualmente começaram a trocar olhares significativos quando eu cometia algum deslize proposital. Certa manhã, enquanto tomávamos café da manhã no terraço com vista para o porto, derrubei acidentalmente uma xícara de café sobre importantes documentos de negócios de Pablo. — Ó,
querido, me desculpe! — exclamei, fingindo consternação. — Não sei onde estava com a cabeça ultimamente, sinto-me tão distraída! Pablo franziu o cenho, mas sua irritação logo deu lugar a um olhar calculista. — Não se preocupe, meu amor — ele disse, sua voz suave como veludo. — Acidentes acontecem. Talvez você precise descansar um pouco. Tem se sentido bem? Percebi a oportunidade e decidi aproveitá-la. — Na verdade — comecei, deixando minha voz tremer ligeiramente — tenho tido algumas dores de cabeça estranhas e, às vezes, bem, às vezes me sinto um pouco confusa. O interesse de Pablo foi
imediato. — Confusa? Como assim, querida? Baixei os olhos, fingindo embaraço. — Ah, você sabe... Às vezes esqueço coisas simples. Outro dia, não conseguia me lembrar onde havia deixado as chaves do carro, e na semana passada me peguei falando sozinha no jardim. Deve ser apenas estresse, não é? Pablo trocou um olhar rápido com Isabele, que havia se juntado a nós silenciosamente durante nossa conversa. — Claro, meu amor — ele disse, sua voz tranquilizadora, mas seus olhos brilhando com algo que eu só poderia descrever como oportunidade. — Talvez devêssemos marcar uma consulta com o Dr. Murau, só
para ter certeza de que está tudo bem. Eu senti docilmente, escondendo meu triunfo interior. A semente estava plantada; agora era apenas uma questão de tempo até que eles baixassem a guarda completamente. Nos dias que se seguiram, intensifiquei minha atuação. Comecei a esquecer compromissos importantes, a me perder em conversas simples e a demonstrar uma confusão crescente sobre eventos recentes. Pablo, Isabele e Anne observavam com uma mistura de preocupação fingida e excitação mal contida. Uma noite, durante um jantar com amigos próximos, decidi elevar as apostas. No meio de uma conversa animada sobre a próxima temporada de ópera,
parei abruptamente e olhei ao redor da mesa com uma expressão vaga. — Queridos — disse, minha voz tremendo ligeiramente — vocês não acham que as paredes... Estão se movendo. Um silêncio chocado caiu sobre a mesa. Vi o pânico momentâneo nos olhos de Pablo, rapidamente substituído por um brilho calculista. "Aline, meu amor," ele disse, levantando-se e vindo até mim, "acho que você precisa descansar. Vamos subir?" Sim. Enquanto ele me guiava para fora da sala de jantar, ouvi Isabele se desculpando com os convidados, sua voz carregada de falsa preocupação. "Pobrezinha," ela murmurou, "tem andado tão confusa ultimamente."
Uma vez em nosso quarto, Pablo me ajudou a sentar na cama, sua gentileza em completo contraste com o que eu sabia serem suas verdadeiras intenções. "Aline," ele começou, seu tom cuidadoso e controlado, "acho que precisamos considerar seriamente consultar um especialista. Essas confusões estão ficando mais frequentes." Olhei para ele com os olhos arregalados, interpretando o papel da esposa assustada e vulnerável. "Você acha que há algo errado comigo?" Pablo hesitou por um momento, e pude ver as engrenagens girando em sua mente. "Não, meu amor," ele finalmente respondeu. "Tenho certeza de que não é nada sério, mas é
melhor termos certeza, não é? Afinal, quero o melhor para você." Assenti lentamente, permitindo que uma lágrima solitária escorresse pelo meu rosto. "Você sempre cuida tão bem de mim," Pablo, sussurrei. Ele sorriu, e pela primeira vez vi claramente a falsidade por trás daquele sorriso que um dia achei tão adorável. "Sempre, meu amor, sempre." Naquela noite, deitada na escuridão ao lado do homem que planejava me destruir, senti uma mistura de raiva e determinação crescer dentro de mim. Eles pensavam que me tinham exatamente onde queriam; mal sabiam que cada passo que davam em direção ao seu plano era
um passo em direção à sua própria ruína. Na manhã seguinte, Pablo insistiu que eu ficasse em casa para descansar. Ele chamou Anne para cuidar de mim enquanto estivesse fora. A ironia da situação não me escapou. "Anne, querida," ouvi Pablo dizer no corredor, pensando que eu estava dormindo. "Fique de olho nela. Anote qualquer comportamento estranho. Isso pode ser exatamente o que precisamos." "Claro, Sr. Dubois," Anne respondeu, sua voz profissional, escondendo a intimidade que eu agora sabia existir entre eles. "Cuidarei bem dela." Passei o dia fingindo estar desorientada e confusa. Anne me observava com uma mistura de
falsa simpatia e mal disfarçada satisfação. Em um momento, quando ela pensou que eu estava cochilando no sofá da sala de estar, a ouvi ao telefone com Isabele. "Sim, senhora Dubois," Anne sussurrava. "Ela está completamente fora de si. Mais cedo, a encontrei tentando regar as plantas de plástico, e agora há pouco ela me perguntou se eu havia visto seu gato." "Ela nem tem gato," reprimi um sorriso. Minha performance estava surtindo o efeito desejado. À noite, quando Pablo retornou, atualizou sobre meu progresso. Vi a troca de olhares entre eles. O toque sutil de mãos que durou um
segundo a mais do que deveria. "Obrigado," Pablo disse, sua voz baixa. "Você tem sido Inês." Depois que Anne saiu, Pablo sentou-se ao meu lado na cama, segurando minha mão com falsa ternura. "Como você está se sentindo, meu amor?" Olhei para ele com olhos desfocados. "Pablo, é você?" Pensei que você fosse meu pai por um momento. Vi o lampejo de triunfo em seus olhos antes de ele o mascarar com preocupação. "Aline, querida, acho que está na hora de consultar aquele especialista. O que você acha?" Assim, debilmente permitindo que uma expressão de medo cruzasse meu rosto. "Você
vai ficar comigo, não vai? Tenho medo." "Claro, meu amor," ele respondeu, sua voz suave como mel envenenado. "Estarei ao seu lado em cada passo do caminho." Naquela noite, enquanto Pablo dormia ao meu lado, permiti-me um momento de reflexão. A dor da traição ainda era aguda, mas estava sendo rapidamente substituída por uma determinação feroz. Eles achavam que tinham o controle, que eu era uma peça fácil de ser removida do tabuleiro; mal sabiam que eu estava apenas começando a jogar. Na manhã seguinte, Pablo agendou uma consulta com o Dr. Morrow, um renomado neurologista. Percebi que esta seria
uma oportunidade crucial para minha performance. Se conseguisse convencer um médico da minha condição, Pablo, Isabelle e Anne não teriam razão para duvidar. No consultório, sentei-me nervosamente na cadeira, torcendo as mãos no colo enquanto o Dr. Morrow fazia perguntas. Pablo estava ao meu lado, sua mão em meu ombro em um gesto de apoio que agora parecia tão falso. "Senhorita Dubois," o médico começou, sua voz gentil, "seu marido me disse que você tem experimentado alguns episódios de confusão. Pode me falar mais sobre isso?" Lancei um olhar assustado para Pablo antes de me voltar para o médico. "Eu...
eu não tenho certeza," comecei, minha voz tremendo. "Às vezes sinto como se... como se o mundo ao meu redor não fizesse sentido. Outro dia, estava na cozinha e de repente não sabia por que estava lá ou o que deveria estar fazendo." O Dr. Morrow assentiu, fazendo anotações. "E quanto à sua memória? Tem tido dificuldades para se lembrar de coisas?" Hesitei, como se estivesse lutando para encontrar as palavras certas. "Sim, eu acho... Ontem... ou foi semana passada? Não consigo me lembrar... Eu estava falando com minha mãe ao telefone, mas então percebi que ela faleceu há cinco
anos." Vi Pablo endurecer ao meu lado, sua mão apertando meu ombro um pouco mais forte. O Dr. Morrow franziu o senho, sua expressão se tornando mais séria. "Senhorita Dubois, gostaria de fazer alguns testes simples, se estiver de acordo," ele disse, pegando uma prancheta. Nos minutos seguintes, respondi propositalmente de forma errada a perguntas simples sobre a data, minha localização e eventos recentes. Fingi dificuldade em desenhar um relógio e em nomear objetos comuns. Ao final da consulta, o Dr. Morrow parecia preocupado. "Senhor e senhora Dubois," ele disse, olhando para nós dois, "gostaria de fazer alguns exames mais
detalhados. Baseado no que vi hoje, a razão para preocupação pode ser algo simples, como estresse extremo, mas também pode ser indicativo de uma..." Condição neurológica mais séria. Precisamos investigar mais a fundo. Pablo assentiu gravemente, sua expressão uma máscara perfeita de preocupação marital. — Claro, doutor. Faremos o que for necessário, não é mesmo, querida? — ele disse, voltando-se para mim com um sorriso que não atingia seus olhos. Assenti debilmente, mantendo minha expressão confusa e assustada. — Sim, Pablo. Se você acha melhor... Saímos do consultório com uma série de exames agendados e uma prescrição para medicamentos que
supostamente ajudariam com meus episódios. Enquanto Pablo dirigia de volta para casa, eu observava seu perfil, notando o leve sorriso que brincava em seus lábios. Ele achava que tinha vencido, que seu plano estava funcionando perfeitamente. Mal sabia ele que cada passo que dava em direção ao que acreditava ser minha ruína era, na verdade, um passo em direção à sua própria queda. Nos dias que se seguiram, intensifiquei minha atuação. Comecei a tomar os medicamentos prescritos; ou melhor, fingia tomar, descartando-os discretamente. Pablo e Isabele observavam de perto, trocando olhares significativos quando eu demonstrava sinais de confusão ou desorientação.
Uma tarde, enquanto estava no jardim, decidi dar a eles algo realmente dramático para discutir. Esperando até ter certeza de que Anne estava por perto, comecei a conversar animadamente com uma rozeira. — Ó, mamãe — disse em voz alta, acariciando delicadamente uma rosa —, estou tão feliz que você veio me visitar! Senti tanta falta das nossas conversas. Pelo canto do olho, vi Anne congelar, seus olhos arregalados de surpresa, antes de ela se apressar para dentro da casa, sem dúvida para relatar o incidente a Pablo. Minutos depois, senti uma mão suave em meu ombro. — Aline, querida
— a voz de Pablo soou atrás de mim, falsamente gentil —, como você fi... — Pablo? Quando você chegou? Mamã e eu estávamos tendo uma convers... — Vi o choque em seu olhar, rapidamente mascarado por preocupação. Sua mãe não lhe fala há anos... Uma deão seguida por angústia. — Não, não, não — murmurei, sacudindo a cabeça —, ela estava aqui agora mesmo! Você deve tê-la assustado. Pablo me abraçou, sua voz suave ao meu ouvido: — Está tudo bem, meu amor. Vamos entrar. — Sim, você precisa descansar. Enquanto ele me guiava de volta para a casa,
vi Anne e Isabele nos observando da janela, suas expressões uma mistura de falsa preocupação e mal disfarçada satisfação. Naquela noite, fingi dormir enquanto Pablo conversava em voz baixa no banheiro adjacente. — Sim, mãe — ele sussurrou —, está ficando pior. Hoje ela estava conversando com a roseira, achando que era a mãe dela. Houve uma pausa. — Não, o médico disse que os resultados dos exames demorarão mais alguns dias, mas com o que temos visto... — Sim, exatamente. Pode ser nossa chance. Meu coração acelerou com a confirmação de minhas suspeitas. Eles estavam planejando usar minha suposta
condição para algum propósito nefasto. Mas o que exatamente? Nos dias seguintes, continuei minha performance, alternando entre momentos de lucidez e episódios cada vez mais dramáticos de confusão. Vi como Pablo, Isabele e Anne se tornavam mais ousados em suas conversas, acreditando que eu estava completamente alheia ao que acontecia ao meu redor. Uma tarde, enquanto fingia cilar no sofá da sala, ouvi Pablo e Isabele conversando em voz baixa na varanda. — Filho — Isabele dizia, sua voz urgente — os advogados disseram que, com o laudo médico correto, podemos facilmente conseguir a interdição. Uma vez que você tenha
controle total sobre os bens dela, poderemos seguir com o resto do plano. — Eu sei, mãe — Pablo respondeu, suando exasperado —, mas temos que ter cuidado. Se alguém desconfiar... — Ninguém vai desconfiar! — interrompeu Isabele. — Todos podem ver como Aline está instável. Será visto como um ato de amor você cuidando dos interesses dela quando ela não pode mais fazê-lo. Tive que usar todo o meu autocontrole para não reagir. Então era isso: eles planejavam me declarar incapaz, assumir o controle de minha fortuna e provavelmente me afastar permanentemente. A raiva que senti foi quase sufocante,
mas me forcei a permanecer imóvel, mantendo minha respiração lenta e regular. — E quanto a Anne? — Pablo perguntou, baixando ainda mais a voz. — O que tem ela? — Ela está ficando impaciente — Isabele respondeu, um toque de irritação em sua voz. — Quer saber quando poderemos ficar juntos abertamente. Houve um momento de silêncio antes de Isabele falar novamente, sua voz fria, lembrando a de um lugar de uma prisão. — Pablo, ela... ela é útil por enquanto, mas não se esqueça do que realmente importa aqui. Uma vez que tenhamos o controle da fortuna de
Aline, você poderá ter qualquer mulher que quiser. As palavras de Isabele me atingiram como um soco no estômago. Não apenas estavam planejando me despojar de tudo, mas Pablo estava disposto a descartar Anne assim que ela não fosse mais útil. A crueldade e a frieza deles eram chocantes. Mesmo depois de tudo que eu já havia descoberto, naquele momento, enquanto fingia dormir no sofá ouvindo os dois arquitetarem minha ruína, tomei uma decisão: não seria suficiente apenas expor seus planos. Eu precisava destruí-los completamente, fazer com que sentissem a mesma dor e traição que eu estava sentindo. Com essa
resolução em mente, comecei a planejar meu próximo movimento. Eles achavam que tinham o controle, que eu era uma peça fácil de ser manipulada em seu jogo. Mal sabiam que eu estava prestes a virar o tabuleiro. À medida que os dias passavam, percebi que precisava de aliados, pessoas em quem pudesse confiar e que me ajudariam a expor a verdade. Pensei em Nancy, minha melhor amiga há anos, e em Jaque, meu advogado pessoal. Ambos conheciam Pablo e Isabele, mas sempre mantiveram uma certa distância, como se intuissem que algo não estava certo. Uma tarde, enquanto Pablo estava em
uma reunião de negócios que eu suspeitava ser um encontro com alguém, decidi fazer um movimento arriscado. Peguei meu celular e, certificando-me de que estava sozinha, liguei para Nancy. A voz preocupada de Nancy soou do outro lado da linha. — Está tudo bem? Pablo me disse que você não estava se sentindo bem ultimamente. Respirei fundo, deixando minha voz... "Soar normal pela primeira vez em semanas. Não preciso da sua ajuda, mas antes de tudo, preciso que você me escute e não diga nada a ninguém, especialmente a Pablo ou Isabele. Pode fazer isso por mim?" Houve uma pausa
antes de Nancy responder, sua voz firme. "Claro, Aline, o que está acontecendo?" Nos minutos seguintes, relatei tudo a ela: a conspiração que descobri, minha encenação de confusão mental, os planos de Pablo e Isabele para me interditar. Nancy ouviu em silêncio, ocasionalmente fazendo sons de choque ou indignação. "Meu Deus, Aline," ela finalmente disse quando terminei. "Isso é monstruoso! O que posso fazer para ajudar?" "Preciso que você seja meus olhos e ouvidos," expliquei. "Continue agindo normalmente ao redor deles, mas observe. Anote qualquer coisa suspeita que veja ou ouça. E, mais importante, preciso que você entre em contato
com Jaques discretamente. Diga a ele que preciso de uma reunião secreta, longe dos olhos de Pablo e Isabele." "Considera feito," Nancy respondeu, determinação em sua voz. "Aline, sinto muito que você esteja passando por isso, mas estou impressionada com sua força. Você é incrível." Suas palavras me aqueceram, lembrando-me de que nem todo mundo em minha vida era falso ou traidor. "Obrigada, Nancy. Não sei o que faria sem você." Depois de desligar, senti uma mistura de alívio e ansiedade. Era um risco confiar em alguém, mas também sabia que não poderia fazer isso sozinha. Agora, com Nancy e,
esperançosamente, Jaques ao meu lado, tinha uma chance real de virar o jogo. Nos dias que se seguiram, mantive minha atuação de confusão mental, mas internamente estava mais alerta do que nunca. Observei como Pablo e Isabele cochichavam pelos cantos, como Anne lançava olhares de desejo mal disfarçados para Pablo quando achava que ninguém estava olhando. Uma semana após minha conversa com Nancy, recebi uma mensagem discreta dela: "Tudo arranjado. Amanhã, 15 horas, no café Le Petit Jardin. Já estará lá." Meu coração acelerou com a perspectiva de finalmente poder falar abertamente com alguém sobre meus planos. Agora, o desafio
seria sair de casa sem levantar suspeitas. Na manhã seguinte, durante o café da manhã, lancei a isca. "Pablo, querido," disse, minha voz propositalmente vaga, "acho que gostaria de ir ao Jardim Botânico hoje. As flores... elas falam comigo, sabe?" Vi o lampejo de preocupação nos olhos de Pablo, rapidamente substituído por cálculo. "Claro, meu amor. Que tal pedir a Anne para acompanhá-la? Tenho algumas reuniões importantes hoje." Senti-me docilmente. "Oh, sim! Anne é sempre tão gentil, ela pode me ajudar a conversar com as margaridas." Pablo trocou um olhar rápido com Isabele, que estava sentada do outro lado da
mesa. "Perfeito," ele disse, sua voz suave. "Tenho certeza de que vocês terão uma tarde adorável." Pouco antes das 15 horas, Anne e eu saímos para o Jardim Botânico. Enquanto caminhávamos pelas ruas de Mônaco, mantive minha atuação, ocasionalmente parando para conversar com árvores ou apontar para coisas que não existiam. Quando nos aproximamos do Le Petit Jardin, vi Nancy sentada em uma mesa externa, fingindo ler um jornal. Conforme planejado, ela se levantou ao nos ver e veio em nossa direção. "Aline! Anne!" ela exclamou, sua expressão perfeitamente ensaiada. "Que coincidência encontrá-las aqui!" Anne pareceu momentaneamente desconcertada, mas rapidamente
se recompôs. "Nancy, que prazer vê-la!" "Oh, Nancy," eu disse, minha voz animada demais, "você veio visitar as flores também? Elas estão cantando hoje, sabia?" Nancy me lançou um olhar de falsa preocupação antes de se voltar para Anne. "Como ela está?" Anne suspirou, interpretando bem seu papel de cuidadora preocupada. "Tem seus altos e baixos." "Pablo achou que um passeio faria bem a ela." "Bem," Nancy disse, "já que estamos todas aqui, que tal tomarmos um café juntas? Tenho certeza de que Aline adoraria a companhia." Antes que Anne pudesse protestar, eu já estava me dirigindo animadamente para a
mesa onde Nancy estava sentada anteriormente. Com um suspiro resignado, Anne nos seguiu. Enquanto nos acomodamos, vi Jack se aproximar discretamente por trás de Anne. Num movimento rápido e suave, ele deslizou algo no bolso de Anne: um pequeno frasco que eu sabia conter um sedativo inofensivo mais eficaz. Nancy, percebendo a deixa, acidentalmente derrubou sua bolsa, espalhando o conteúdo no chão. "Oh, que desastrada!" ela exclamou. "Anne, você poderia me ajudar a recolher minhas coisas?" Enquanto Anne se abaixava para ajudar, Nancy e Jack se aproximaram da nossa mesa, como se estivesse apenas passando. Em um movimento fluido, ele
despejou o conteúdo do frasco na xícara de café de Anne. Minutos depois, com todas sentadas novamente e bebericando seu café, iniciei a fase final do plano. "Oh, olhem!" exclamei, apontando para o céu. "As nuvens estão dançando! Vocês não acham lindo?" Anne e Nancy olharam para cima, confusas. Aproveitei o momento para trocar as xícaras, colocando a de Anne na minha frente. Não demorou muito para o sedativo fazer efeito; Anne começou a piscar pesadamente, sua fala ficando arrastada. "Eu... eu não estou me sentindo muito bem," ela murmurou. Nancy imediatamente assumiu o controle da situação. "Ah, querida, você
parece exausta. Por que não descansa um pouco? Conheço um lugar tranquilo aqui perto onde você pode se recompor." Com Jaques nos seguindo discretamente, Nancy e eu ajudamos Anne a caminhar até um pequeno apartamento a algumas quadras dali, um local seguro que Jaques havia preparado antecipadamente. Uma vez lá dentro, com Anne profundamente adormecida no sofá, finalmente pude respirar. Olhei para Nancy e Jack, gratidão e determinação em meus olhos. "Obrigada," disse, minha voz firme. "Pela primeira vez em semanas, agora vamos ao trabalho. Temos muito a discutir e planejar." Nancy sorriu, um brilho de admiração em seus olhos.
"Aline, você é incrível. Mal posso acreditar em tudo que você passou e como lidou com isso." Jaques assentiu, sua expressão séria. "Concordo e prometo que faremos Pablo e Isabele pagarem por cada momento de angústia que causaram a você." Senti-me mais forte e determinada do que nunca. Eles acham que me têm exatamente onde desejam. "Querem?" disse, um sorriso frio se formando em meus lábios. Mal sabem que o jogo apenas começou. Com meus aliados ao meu lado e Anne temporariamente fora de ação, estava pronta para dar o próximo passo em meu plano de vingança. Pablo e Isabele
logo descobririam que subestimar Bo foi o maior erro de suas vidas. Nos minutos seguintes, detalhei para Nancy e Jax tudo o que havia descoberto nas últimas semanas. Compartilhei cada conversa sussurrada que tinha ouvido, cada olhar trocado entre Pablo e Anne, cada plano cruel que Isabele havia arquitetado. Meus amigos ouviam com uma mistura de horror e indignação crescentes. — Não posso acreditar que eles planejavam te interditar — Nancy disse, sacudindo a cabeça em descrença. — É tão cruel! Jax, sempre o advogado pragmático, já estava pensando nos próximos passos. — Temos que agir com cuidado — ele
advertiu. — Se movermos muito rápido, eles podem perceber que algo está errado e mudar de tática. A senti reconhecendo a sabedoria de suas palavras. — Concordo. É por isso que precisamos de um plano meticuloso; algo que não apenas desmascare suas mentiras, mas também os deixe sem saída. Por horas discutimos estratégias. — E quanto a Anne? — perguntei, lançando um olhar para a figura adormecida. — O que faremos com ela quando acordar? Considerei por um momento antes de responder. — Anne é uma peça importante neste jogo. Ela pode não ser a mente por trás da conspiração,
mas certamente é cúmplice. No entanto, pausei, um plano se formando em minha mente. — Ela também pode ser nosso trunfo. Jax inclinou-se para a frente, intrigado. — O que você tem em mente? — Anne está apaixonada por Pablo — expliquei — mas, pelo que ouvi, Pablo e Isabele a veem apenas como uma ferramenta descartável. Se pudermos fazê-la ver isso, talvez possamos convencê-la a se voltar contra eles. Nancy assentiu lentamente, compreendendo. — Uma aliada improvável. — Exatamente — confirmei. — E quem melhor para expor os planos deles do que alguém que esteve diretamente envolvida? Enquanto discutíamos
os detalhes de como abordar Anne, ouvi um leve gemido vindo do sofá. Ela estava começando a despertar. — É hora — disse, endireitando-me. — Lembrem-se: precisamos ser cautelosos, mas firmes. Anne precisa entender que cooperar conosco é sua melhor e única opção. Nancy e Jax se posicionaram estrategicamente pela sala enquanto eu me aproximava do sofá. Anne piscou várias vezes, seus olhos se ajustando à luz da sala. Quando seu olhar finalmente focou em mim, vi o choque e o medo se espalharem por seu rosto. — Ah, Aline — ela gaguejou, tentando se sentar. — O que… onde
estamos? Mantive minha expressão neutra, minha voz calma, mas firme. — Olá, Anne. Acho que temos muito o que conversar, não é mesmo? Os olhos dela se arregalaram ainda mais ao perceber Nancy e Jax na sala. Ela tentou se levantar abruptamente, mas o efeito residual do sedativo a fez cambalear. — Calma — disse, estendendo uma mão para estabilizá-la. — Ninguém aqui vai machucá-la. Mas precisamos ter uma conversa séria sobre Pablo, Isabele e os planos que vocês têm para mim. O rosto de Anne empalideceu visivelmente. — Eu… eu não sei do que você está falando — ela
tentou, sua voz tremendo ligeiramente. Sentei-me ao lado dela no sofá, meus olhos fixos nos dela. — Vamos ser honestas uma com a outra. Sei de tudo sobre o plano com Pablo, sobre os planos para me interditar, sobre como Isabele manipula vocês dois. Fiz uma pausa, deixando minhas palavras afundarem. — A questão agora é: de que lado você quer estar quando tudo isso vier à tona? O conflito em seus olhos, o medo lutando contra algo mais — talvez a realização de que ela estava sendo usada tanto quanto eu. — Eles… eles disseram que era pelo seu
bem — Anne murmurou, sua voz quase um sussurro. — Pablo disse que você estava ficando instável, que precisava de ajuda. Balancei a cabeça, um sorriso triste em meus lábios. — E você acreditou nisso, Anne? Pense bem: quantas vezes você me viu realmente confusa ou desorientada? Antes de eu começar a atuar, vi a compreensão começar a se formar em seu rosto. — Você… você estava fingindo cada momento? — confirmei. — Desde o dia em que ouvi vocês três conspirando contra mim no escritório. Anne cobriu a boca com as mãos, lágrimas começando a se formar em seus
olhos. — Oh Deus, Aline... eu... eu sinto muito, eu não sabia. Eu pensei... — Eu sei — disse suavemente. — Você foi manipulada, assim como eu. A diferença é que eu percebi a tempo. Naquele momento, vi algo quebrar dentro de Anne. Toda a fachada de assistente leal e amante devotada desmoronou, revelando uma mulher assustada e traída. — Eles… eles nunca se importaram comigo, não é? — ela perguntou, sua voz embargada, referindo-se a Pablo e Isabele. — Eu sou apenas descartável. Assenti gravemente. — Ouvi Isabele dizendo isso a Pablo: que, uma vez que tivessem controle sobre
minha fortuna, ele poderia ter qualquer mulher que quisesse. Anne soltou um soluço abafado, anos de ilusões desmoronando diante de seus olhos. Por um momento, senti uma pontada de compaixão por ela. Apesar de tudo, Anne também era uma vítima neste jogo cruel. — Anne — disse suavemente, colocando uma mão em seu ombro —, sei que você cometeu erros, mas ainda há tempo de fazer a coisa certa. — Conte-me tudo o que sabe! — me olhou, seus olhos vermelhos e inchados, um brilho de dor. — O que você quer saber? — sorri, sentindo que finalmente tínhamos virado
o jogo a nosso favor. — Tudo! — Anne, quero saber tudo. Nas horas que se seguiram, Anne nos contou cada detalhe sórdido do plano de Pablo e Isabele. Descobrimos que a conspiração ia muito além de apenas me interditar; eles planejavam usar minha suposta condição mental para assumir o controle não apenas da minha fortuna pessoal, mas também das empresas que eu herdara de minha família. — Pablo sempre foi obcecado com poder e dinheiro — Anne explicou, sua voz cheia de arrependimento. — Ele via seu casamento como um meio para um fim. Isabele, ela..." É a verdadeiramente
por trás de tudo: ela manipula Pablo tanto quanto ele manipula os outros. Já que estava anotando tudo meticulosamente, interveio: “Isso é ouro. Anne, com seu testemunho, podemos não apenas impedir os planos deles, mas também processá-los por tentativa de fraude.” Anne assentiu, parecendo simultaneamente aliviada. "O que acontece comigo agora?" ela perguntou, olhando nervosamente entre nós. Troquei um olhar com Nancy e já, antes de me voltar para Anne, disse: “Isso depende de você.” Disse firmemente: “Se você cooperar completamente conosco e testemunhar, se necessário, podemos garantir que você seja tratada com clemência, mas se você tentar nos enganar
ou alertar Pablo e Isabele...” “Não!” Anne exclamou, sacudindo a cabeça vigorosamente. “Não, eu quero fazer a coisa certa; devo isso a você, Aline, a todos que magoei.” Senti um peso ser levantado de meus ombros. Com Anne do nosso lado, tínhamos uma vantagem significativa. Agora era a hora de planejar o golpe final. “Bem,” disse, olhando para meus aliados, “acho que é hora de prepararmos uma pequena surpresa para Pablo e Isabele.” Nancy sorriu, um brilho travesso em seus olhos. “Mal posso esperar para ver as caras deles quando perceberem que o jogo acabou.” Jacques assentiu, sua expressão séria,
mas determinada. “Vamos garantir que eles paguem por cada momento de angústia que causaram a você.” Olhei pela janela, observando as luzes de Mônaco brilharem na noite. Por tanto tempo, essas luzes haviam representado uma vida de luz e privilégios; agora, elas simbolizavam algo mais: a promessa de justiça e redenção. “Preparem-se, Pablo e Isabele,” murmurei para mim mesma. “Vocês estão prestes a descobrir que subestimaram a mulher errada.” Com um plano tomando forma e aliados leais ao meu lado, eu estava pronta para reclamar minha vida e minha dignidade. A batalha final estava prestes a começar e eu tinha
a intenção de sair gloriosa. Na manhã seguinte, acordei com uma nova determinação. O plano que havíamos elaborado durante a noite parecia ousado, até mesmo temerário, mas eu sabia que era nossa melhor chance de expor Pablo e Isabele. Antes de retornar para casa, instrui Anne sobre seu papel crucial: ela deveria continuar agindo normalmente, como se nada tivesse mudado. Enquanto isso, Nancy e Jacques trabalhariam nos legados que usariam para a entrada de Pablo e Isabele em nossa armadilha. Pablo, visivelmente ansioso, disse com sua voz falsamente doce: “Você esteve tão... quando me ligou, dizendo que tinha desaparecido durante
o passeio.” Forcei meus olhos a ficarem vagos e confusos. “Passeio? Ah, sim, as flores; elas estavam cantando tão lindamente. Pablo, você deveria ter ouvido.” Vi o alívio passar pelo rosto dele, seguido por aquele brilho calculista que eu agora conhecia tão bem. “Claro, querida! Que bom que você se divertiu. Agora, que tal descansar um pouco? Você parece cansada.” A senti docilmente, permitindo que ele me guiasse até nosso quarto. Enquanto me deitava, ouvi Pablo no corredor falando baixinho ao telefone: “Sim, mãe, ela voltou. Não parece mais confusa do que nunca. Sim, acho que é hora de acelerar
nossos planos.” Fechei os olhos, fingindo dormir, enquanto minha mente trabalhava furiosamente. Eles estavam ficando impacientes, o que significava que teríamos que agir rapidamente. Nos dias que se seguiram, intensifiquei minha atuação de confusão. Comecei a esquecer coisas importantes, como aniversários e compromissos. Em uma ocasião particularmente dramática, confundi Pablo com meu pai falecido, abraçando-o e chorando sobre como sentia falta dele. Vi o choque e a satisfação mal disfarçada nos olhos de Pablo e Isabele; eles pensavam que seu plano estava funcionando perfeitamente. Enquanto isso, nos bastidores, Nancy e Jacques trabalhavam incansavelmente. Jacques conseguiu acesso a documentos financeiros que
mostravam como Pablo havia começado a desviar discretamente fundos de nossas contas conjuntas. Nancy, por sua vez, usou seus contatos na alta sociedade de Mônaco para reunir testemunhas que haviam ouvido Pablo e Isabele discutindo seus planos em eventos sociais. Proveu ser uma aliada valiosa; ela nos forneceu e-mails e mensagens trocadas entre ela, Pablo e Isabele. Cada peça de evidência era mais condenatória que a anterior. Uma semana após meu desaparecimento no jardim, Pablo anunciou que havia marcado uma consulta com um renomado psiquiatra. “É apenas para ter certeza de que está tudo bem, meu amor,” ele disse, sua
voz melíflua. “Queremos o melhor para você, não é?” Assenti, fingindo nervosismo. “Você vai ficar comigo, não vai, Pablo? Tenho medo de médicos.” “Claro, querida.” Ele respondeu, mal conseguindo esconder seu triunfo. “Estarei ao seu lado o tempo todo.” Naquela noite, reuni-me secretamente com Nancy, Jacques e Anne em um quarto de hotel discreto. Era hora de finalizar nosso plano. “O psiquiatra que Pablo escolheu,” Jacques explicou, “é conhecido por ser flexível em seus diagnósticos, especialmente quando há muito dinheiro envolvido.” “Então eles planejam comprá-lo,” conclui, sentindo uma onda de nojo. “Exatamente,” Nancy assentiu, “mas não se preocupe, temos nossa
própria surpresa preparada.” O plano era audacioso: no dia da consulta, eu agiria confusa e desorientada, dando ao psiquiatra exatamente o que Pablo queria que ele visse. Mas, no momento crucial, quando o diagnóstico estivesse prestes a ser dado, Jacques e um grupo de advogados e policiais entrariam em cena. “Lembre-se,” Jacques me instruiu, “no momento em que eu entrar, você deve acordar de sua confusão. Será o momento de revelar que esteve fingindo o tempo todo.” A senti, sentindo uma mistura de ansiedade e determinação. “E vocês têm certeza de que todas as evidências estão seguras?” “Absolutamente,” Nan confirmou.
“Temos tudo em vários locais seguros. Mesmo que eles tentem destruir algo, não conseguirão esconder a verdade.” Olhei para cada um deles, sentindo uma onda de gratidão. “Não sei como agradecer a vocês por tudo isso.” Anne, que havia permanecido quieta durante a maior parte da reunião, falou suavemente: “Não precisa agradecer, Aline. É o mínimo que podemos fazer depois de... depois de tudo.” Coloquei uma mão em seu ombro, dando um sorriso gentil. “Você está fazendo a coisa certa, Anne. Isso conta para algo.” Quando voltei para casa naquela... Noite. Senti como se estivesse caminhando para a batalha final.
Pablo e Isabele não faziam ideia, mas seu reino de mentiras estava prestes a desmoronar. Na manhã da consulta, vesti-me cuidadosamente, escolhendo roupas que me faziam parecer frágil e confusa. Pablo me guiou até o carro, seu braço em meus ombros em um gesto de falso apoio. "Não se preocupe, meu amor", ele disse enquanto dirigia para o consultório. "Estou aqui para cuidar de você." Sempre olhei para ele, vendo além da máscara de preocupação, para a ganância e a crueldade por trás. "Eu sei," Pablo, respondi suavemente. "Eu sei exatamente o que você está fazendo." Ele me lançou um
olhar confuso, mas rapidamente o descartou como mais um sinal de minha suposta condição. Chegamos ao consultório do Dr. Morrow, o psiquiatra escolhido por Pablo. A sala de espera era luxuosa, com poltronas de couro e pinturas caras nas paredes. Isabele já estava lá, seu rosto uma máscara de falsa preocupação. "Oh, querida," ela exclamou, vindo em minha direção. "Como você está se sentindo?" Pisquei para ela, fingindo confusão. "Isabele, quando você ficou tão velha?" Vi o choque e a indignação cruzarem seu rosto antes de serem rapidamente substituídos por uma expressão de pena. "Oh, Aline," ela suspirou, trocando um
olhar significativo com Pablo. Fomos chamados para o consultório do Dr. Morrow. Era uma sala espaçosa, com uma vista panorâmica de Mônaco. O médico, um homem de meia-idade com cabelos grisalhos e óculos de aro fino, nos recebeu com um sorriso profissional. "Senhora Dubois," ele começou, sua voz suave. "Seu marido me contou que você tem enfrentado alguns desafios ultimamente. Pode me falar sobre isso?" Lancei um olhar assustado para Pablo antes de me voltar para o médico. "Desafios? Não, não. As borboletas têm sido muito gentis comigo. Elas me contam segredos, sabe?" Vi o Dr. Morrow fazer uma anotação
em seu bloco enquanto Pablo e Isabele trocavam olhares de triunfo mal disfarçado. A avaliação continuou por cerca de uma hora. Respondi às perguntas do médico com uma mistura de confusão e declarações sem sentido, sempre mantendo um ar de fragilidade. Finalmente, o Dr. Morrow se recostou em sua cadeira, seu rosto sério. "Bem, baseado no que vi hoje e nos relatos do senhor Dubois e da senhora Isabele, parece que estamos lidando com um caso sério de..." Naquele momento, a porta do consultório se abriu abruptamente. Jaques entrou, seguido por dois policiais e um homem que reconheci como o
chefe da polícia de Mônaco. "Dr. Morrow," Jaques disse, sua voz firme, "peço que interrompa esta consulta imediatamente. Temos razões para acreditar que está prestes a emitir um diagnóstico fraudulento." O caos se instaurou na sala. Pablo se levantou, seu rosto vermelho de raiva. "O que significa isso? Quem você pensa que é para invadir assim?" Isabele parecia pálida, seus olhos saltando de Jaques para os policiais. Foi nesse momento que decidi que era hora de deixar cair a máscara. Endireitei-me na cadeira, meus olhos focados e minha voz clara quando falei. "Significa, Pablo, que seu jogo acabou." Todos os
olhos se voltaram para mim, choque evidente em cada rosto. "Aline?" Pablo gaguejou, claramente confuso com minha súbita mudança de comportamento. Levantei-me, minha postura ereta e confiante, surpreso em me ver lúcida. "Querido, deve ser chocante considerando quanto esforço você e sua mãe colocaram em me fazer parecer louca." Isabele deu um passo à frente, sua voz tremendo ligeiramente. "Aline querida, você está confusa. Nós só queremos ajudar." "Chega de mentiras," interrompi, minha voz carregada de anos de raiva reprimida. "Eu sei de tudo sobre o affair com Anne, sobre os planos para me interditar, sobre como vocês planejavam roubar
minha fortuna." Pablo empalideceu visivelmente. "Você... você não pode provar nada." Jaques escolheu esse momento para intervir. "Na verdade, senhor Dubois, podemos provar tudo." Ele abriu sua pasta, revelando pilhas de documentos. "Temos e-mails, mensagens de texto, registros financeiros e testemunhas dispostas a depor sobre sua conspiração." O Dr. Morrow, que havia permanecido em silêncio até então, finalmente falou. "Eu... eu não sabia de nada disso. Fui contatado apenas para fazer uma avaliação." "Uma avaliação fraudulenta," o chefe de polícia interveio. "Temos evidências de que o senhor foi para emitir um diagnóstico específico, independentemente da condição real da senhora Dubois."
Vi o momento exato em que a realidade da situação atingiu Pablo e Isabele. Seus rostos passaram do choque à raiva e, finalmente, ao desespero. "Como?" Pablo sussurrou, seus olhos fixos em mim. "Como você descobriu?" Permiti um pequeno sorriso. "Vocês me subestimaram, Pablo. Achavam que eu era fraca, facilmente manipulável, mas esqueceram uma coisa crucial: eu sempre fui mais inteligente que vocês." Isabele, sempre a manipuladora, tentou uma última cartada. "Aline querida, deve haver algum mal-entendido. Nós só queríamos o melhor para você." "Poupe-me de suas mentiras, Isabele," cortei, minha voz fria. "Ouvi vocês dois com meus próprios ouvidos
planejando como iriam se livrar de mim uma vez que tivessem controle sobre minha fortuna." O chefe de polícia deu um passo à frente. "Senor Dubois, senhora Dubois, vocês estão sob prisão por conspiração, tentativa de fraude e vários outros crimes que serão detalhados na delegacia. Têm o direito de permanecer em silêncio." Enquanto os policiais algemavam Pablo e Isabele, senti uma mistura de emoções me invadir: alívio, tristeza, raiva, mas acima de tudo, uma sensação avassaladora. "Vocês conseguiram, Aline. Acabou." Olhei para Pablo enquanto ele era levado. Nossos olhares se cruzaram e vi nele uma mistura de raiva e,
surpreendentemente, uma pitada de admiração relutante. "Isto não acabou," ele rosnou. "Você vai se arrepender disso, Aline." Mantive minha cabeça erguida, minha voz firme quando respondi. "Não, Pablo, o único arrependimento que tenho é não ter percebido antes o tipo de pessoa que você realmente é." Quando a porta se fechou atrás deles, senti como se um peso enorme tivesse sido levantado de meus ombros. Olhei pela janela para a deslumbrante vista de Mônaco e, pela primeira vez em muito tempo, senti que podia. Respirar livremente, N, que havia entrado silenciosamente durante o confronto, se aproximou e me abraçou. "Você
foi incrível, Aline, tão forte." Retribui o abraço, lágrimas de alívio finalmente escapando. "Obrigada, Nancy, por tudo." Jaques começou a explicar os próximos passos legais, mas minha mente já estava vagando. A batalha havia sido vencida, mas eu sabia que a guerra ainda não estava completamente terminada. Haveria processos, depoimentos, possivelmente um julgamento, mas naquele momento, olhando para o horizonte de Mônaco, eu sabia que estava pronta para enfrentar o que quer que viesse, porque agora, finalmente, eu estava no controle de minha própria vida. Nas semanas que se seguiram à prisão de Pablo e Isabele, minha vida se tornou
um turbilhão de atividades legais e midiáticas. Mônaco, sempre ávido por escândalos envolvendo a elite, estava em polvorosa com as revelações sobre a conspiração dos do boá. Sentada em meu escritório na mansão, agora estranhamente silenciosa, sem a presença constante de Pablo e Isabele, eu via os jornais. Manchetes gritantes estampavam as primeiras páginas: "Herdeira do boá desmascara conspiração familiar", "Traição e ganância no Paraíso", "O caso que abalou Mônaco". Jaques entrou, carregando uma pasta grossa. "Bom dia, Aline. Temos algumas atualizações." Pediu para que ele se sentasse. "Alguma novidade sobre a data do julgamento?" Ele assentiu, abrindo a pasta.
"Sim, foi marcado para daqui a três meses. A promotoria está confiante com as evidências que reunimos e o testemunho de neles. Eles acreditam que temos um caso sólido." Mencionei, "senti uma pontada de algo. Não exatamente pena, mas uma espécie de compreensão relutante. Ela havia sido manipulada tanto quanto eu, embora de uma maneira diferente." "E como Anne está lidando com tudo isso?" perguntei. Jaques suspirou. "Ela está cooperando totalmente. Seu advogado está negociando um acordo de delação premiada em troca de uma sentença reduzida." Senti lentamente uma parte de mim queria ver Anne pagar por seu papel na
conspiração, mas outra parte reconhecia que sua cooperação era crucial para Pablo e a justiça. Já se mais, seu tem isso deixava desconfortável, mas eu também sabia que controlar a narrativa era crucial. "O que você acha?" perguntei a Jaques. "Devo falar com eles?" Ele ponderou por um momento. "Do ponto de vista legal, seria melhor esperar até após o julgamento, mas, em termos de opinião pública, uma entrevista bem conduzida poderia solidificar seu status como vítima que se tornou heroína." Levantei-me, caminhando até a janela. Lá fora, os jardins da mansão estavam em plena floração, um contraste irônico com
o caos que se desenrolava em minha vida. "Vou pensar nisso," disse finalmente, "mas, se fizermos isso, quero que seja nos meus termos." Jaques assentiu, compreensivo. "Claro, vou fazer algumas sondagens para ver qual veículo de mídia seria mais adequado." Após a saída de Jaques, peguei meu telefone e liguei para Nancy. Ela atendeu no segundo toque. "Aline, como você está?" sorriu ao ouvir a voz de minha amiga. "Sobrevivendo." "Nancy, escute, você está livre para almoçar. Preciso de um pouco de normalidade em meio a todo esse caos." Combinamos de nos encontrar em um pequeno café discreto no centro
de Mônaco. Ao chegar lá, usando óculos escuros e um chapéu para tentar passar despercebida, encontrei Nancy já sentada em uma mesa nos fundos. "Você parece exausta," ela comentou assim que me sentei. Tirei os óculos, esfregando os olhos. "É assim que me sinto. Nunca pensei que expor a verdade seria tão desgastante." Ela pegou minha mão sobre a mesa. "Você está fazendo a coisa certa, Aline, e está lidando com tudo isso com tanta graça e força." Apertei sua mão, agradecida. "Não sei o que faria sem você, Nancy. Você e Jaques têm sido meus pilares nessa tempestade." Conversamos
sobre os últimos desenvolvimentos do caso, sobre como sopros de Mônaco, e as mais recentes fofocas. Eu, frívola, comentei: "Antoine." Ela respondeu, um brilho de diversão em seus olhos. "O nome trouxe de volta memórias de jantares elegantes e conversas aparentemente inocentes. Eles sempre foram um amigo próximo da família, alguém em quem Pablo confiava. E o que ele queria?" perguntei, curiosa. Nancy revirou os olhos. "Aparentemente ele está chocado com tudo que aconteceu e queria saber como você está. Mas tenho a sensação de que ele está mais preocupado em salvar sua própria pele." A senti, não surpresa. "Imagino
que muitos dos nossos antigos amigos estejam em pânico, tentando se distanciar de Pablo e Isabelle." "Exatamente," Nancy concordou. "É fascinante ver como as alianças mudam rapidamente quando o navio começa a afundar." Terminamos nosso almoço, a conversa com Nancy tendo me proporcionado um breve momento de que eu tanto precisava. Ao nos despedirmos, ela me abraçou forte. "Lembre-se, Aline," ela sussurrou, "você é mais forte do que isso." Dei-lhe um sorriso agradecido e voltei à mansão. Encontrei uma surpresa me aguardando. Léon, o mordomo de data, estava no hall de entrada, expressão ansiosa em seu rosto habitualmente impassível. "Madame
Aline," ele disse, sua voz tremendo ligeiramente, "há algo que preciso lhe contar." Intrigada e um pouco apreensiva, segui-o até à biblioteca. Uma vez lá dentro, Léon fechou a porta e se virou para mim, parecendo mais nervoso do que eu jamais o vira em todos os anos que trabalhara para nossa família. "Madame," ele começou, "eu..." Eu sabia. Senti meu coração acelerar. "Sabia do que?" Léo engoliu em seco. "Dos planos do Senhor Pablo e da Senhora Isabele. Eu os ouvi discutindo várias vezes e eu não disse nada." Por um momento, senti uma onda de raiva me invadir.
Léon, alguém em quem eu sempre confiara, havia mantido silêncio enquanto conspiravam contra mim. Mas, então, vendo o remorso genuíno em seus olhos, a raiva começou a se dissipar. "Por que você está me contando isso agora, Léon?" perguntei, mantendo minha voz calma. Ele baixou os olhos. "Porque não posso mais viver com essa culpa, madame. Eu deveria ter dito algo. Deveria ter te avisado." Mas, mas eu tinha medo. O senhor... suspirei, sentando-me em uma das poltronas da biblioteca. "Sente-se, Leão", disse, gesticulando para a poltrona oposta. Ele obedeceu, ainda parecendo extremamente desconfortável. "Eu entendo," por você. Fiquei em
silêncio, começando a escolher minhas palavras cuidadosamente. Pablo tinha o poder de destruir muitas vidas e ele não hesitaria em fazê-lo. "Mas agora preciso que você me conte tudo que sabe; cada detalhe pode ser importante para o caso." Leon assentiu e, nas horas que se seguiram, ele me contou sobre conversas sussurradas que ouvira, sobre visitas tardias, de quando eu estava fora. Cada revelação era como uma pequena facada, lembrando de quanto tempo a traição havia durado bem debaixo do meu nariz. Quando ele terminou seu relato, já era noite. Ficamos em silêncio por alguns momentos, o peso das
revelações pairando sobre nós. "Obrigada por sua honestidade," Leon disse, finalmente. "Vou pedir que você repita tudo isso para meu advogado e eu aprecio que você tenha decidido fazer a coisa certa, mesmo que tarde." A mente... ele se levantou, lágrimas nos olhos. "Madame Aline, eu... eu sinto muito por tudo." Senti uma mistura complexa de emoções. "Eu sei, Leon, eu sei." Depois que ele saiu, fiquei sozinha na biblioteca, cercada pelos livros que costumava ler com tanto prazer. Agora, eles pareciam testemunhas silenciosas de uma vida que não existia mais. Peguei meu telefone e liguei para Jacques. "Aline, aconteceu
algo?" "Sim," respondi, minha voz firme. "Decidi que vou dar aquela entrevista. É hora de contar minha história, nos meus termos." Ouvi Jacques suspirar do outro lado da linha. "Tem certeza? Uma vez que fizermos isso, não há como voltar atrás." "Tenho certeza," afirmei. "Chega de segredos, chega de mentiras. É hora da verdade vir à tona, toda ela." "Entendo," Jacques respondeu. "Vou fazer os arranjos. Estarei ao seu lado durante todo o processo. Você sabe disso, não é?" Sorri, sentindo uma onda de gratidão. "Sei sim, Jacques. Obrigada." Desligando o telefone, caminhei até a janela. Lá fora, as luzes
de Mônaco brilhavam como sempre, alheias ao drama que se desenrolava dentro destas paredes. Por um momento, deixei-me imaginar como seria minha vida após o julgamento, após toda essa tempestade passar. Seria difícil, disso eu tinha certeza. Reconstruir minha vida, aprender a confiar novamente, enfrentar os olhares e cochichos da sociedade. Mas, pela primeira vez em muito tempo, senti uma centelha de esperança. Eu havia sobrevivido à traição daqueles que deveriam me amar, havia desmascarado uma conspiração e estava prestes a garantir que a justiça fosse feita. Se eu podia fazer tudo isso, podia fazer qualquer coisa. Com essa resolução
em mente, comecei a planejar o que diria na entrevista. Era hora de Mônaco e o mundo conhecerem a verdadeira Aline do Boá. O dia da entrevista amanheceu claro e ensolarado, um contraste irônico com o peso que eu sentia em meu peito. Sentada em frente ao espelho, observei enquanto a maquiadora dava os últimos retoques em meu rosto. Meus olhos refletiam uma mistura de determinação e apreensão. Nancy entrou no quarto, seu sorriso reconfortante como sempre. "Está pronta para isso?" Respirei fundo, ajustando o colar de pérolas em meu pescoço, uma herança de minha avó, um lembrete de minha
verdadeira herança, não aquela que tentaram roubar. "Tão pronta quanto posso estar." A entrevista seria realizada na própria mansão, uma decisão calculada para mostrar que eu não tinha nada a esconder. A equipe de filmagem já estava montando os equipamentos na sala de estar, transformando o espaço outrora privado em um cenário para o escrutínio público. Jacques chegou pouco antes do horário marcado, sua pasta de couro marrom firmemente segura em suas mãos. "Lembre-se, Aline," ele disse em voz baixa, "você controla a narrativa. Se sentir-se desconfortável com qualquer pergunta, temos sinais combinados." A senti grata por sua presença tranquilizadora.
"Obrigada, Jacques, por tudo." A jornalista Camille Rousseau era conhecida por suas entrevistas incisivas e sem rodeios. Quando nos cumprimentamos, senti o peso de seu olhar avaliador. "Senhora Dub..." ela começou assim que as câmeras começaram a rodar. "O caso envolvendo você, seu marido e sua sogra chocou Mônaco. Pode nos contar, em suas próprias palavras, quando você começou a suspeitar que algo estava errado?" Olhei diretamente para a câmera, decidida a não mostrar fraqueza. "Tudo começou com pequenos detalhes, Camille. Conversas interrompidas abruptamente quando eu entrava em uma sala; olhares trocados entre Pablo e Isabele que pareciam carregar mais
significado do que deveriam. Mas o momento decisivo foi quando os ouvi discutindo seus planos no escritório, pensando que eu não podia ouvir." Camille inclinou-se para a frente, seus olhos brilhando com interesse. "E o que exatamente você ouviu naquele dia?" Fechei os olhos por um momento, as memórias daquela noite fatídica inundando minha mente. "Eu ouvi meu marido e minha sogra planejando como me declarar mentalmente incapaz, como assumir o controle de minha fortuna. Eu ouvi-os discutindo sobre como se livrar de mim uma vez que tivessem o que queriam." A expressão de Camille era uma mistura de choque
e fascinação. "Isso deve ter sido devastador. Como você reagiu?" "No início, fiquei em choque," admiti. "Mas então uma determinação tomou conta de mim. Decidi que não seria uma vítima passiva em seus jogos. Foi quando comecei a planejar, a fingir que não sabia de nada enquanto reunia evidências contra eles." A entrevista continuou por quase duas horas. Camille me pressionou sobre cada detalhe: meu casamento com Pablo, minha relação com Isabele, o papel de Anne na conspiração. Falei sobre a dor da traição, sobre o medo de perder tudo, sobre a coragem necessária para enfrentar aqueles que um dia
considerei família. "Senhora Dub Boá," Camille disse, seu tom suavizando ligeiramente, "por que você acredita que eles acreditam que podem agir com impunidade, que o dinheiro e as conexões os colocam acima da lei?" "Eu escolhi falar, não apenas por mim, mas por todas as outras vítimas que foram silenciadas ao longo..." Dois anos vi um brilho de respeito nos olhos de Camille. Uma posição corajosa, sem dúvida, mas deve ter havido um custo pessoal enorme. Como você está lidando com tudo isso emocionalmente? Por um momento, senti minha máscara de força vacilar. Tem sido difícil, admiro minha voz tremendo.
Perdi pessoas que pensei que fossem minha família, tive que questionar cada memória, cada momento que achei que fosse real. Mas também descobri uma força que não sabia que tinha e, mais importante, descobri quem são meus verdadeiros amigos, aqueles que ficaram ao meu lado quando tudo desmoronou. Camille assentiu, compreensiva. E o futuro? O que Aline Du Boá planeja fazer agora? Olhei pela janela para os jardins da mansão, antes de voltar meu olhar para a câmera. O futuro é incerto, Camille, mas sei que quero usar minha experiência, minha plataforma, para fazer a diferença, para garantir que outras
pessoas não passem pelo que passei e para lembrar a todos que a verdade, não importa quão dolorosa, sempre encontra um caminho para vir à tona. Quando as câmeras finalmente pararam de rodar, senti como se um peso enorme tivesse sido tirado de meus ombros. Cam apertou minha mão, um sorriso genuíno em seu rosto. "Obrigada, Senora Du Boá, sua história vai ressoar com pessoas assim como de filmes." Os equipamentos desabei no sofá, exausta. Nancy imediatamente estava ao meu lado, oferecendo um doll de água. "Você foi incrível, Aline," ela sussurrou. "Tão forte, tão eloquente." Jax concordou, um brilho
de orgulho em seus olhos. "Você controlou a narrativa perfeitamente; isso vai mudar a opinião pública a seu favor de uma vez por todas." Bebia água em grandes goles, sentindo a adrenalina da entrevista lentamente se dissipar. "Espero que sim, mas mais do que isso, espero que faça a diferença, que ajude outras pessoas que possam estar passando por algo semelhante." Nos dias que se seguiram, a entrevista foi o assunto principal em toda Mônaco. Meu telefone não parava de tocar, com jornalistas buscando mais detalhes, antigas conhecidas expressando apoio, algumas sinceras, outras claramente oportunistas, e até mesmo algumas ligações
anônimas de pessoas compartilhando suas próprias histórias de traição e abuso dentro da alta sociedade. Uma semana após a entrevista ir ao ar, recebi uma visita inesperada: Anne, acompanhada por seu advogado, pediu para me ver. Hesitei inicialmente, as memórias de sua traição ainda frescas, mas algo em mim, talvez curiosidade, talvez um desejo de encerramento, me fez concordar. Anne parecia uma sombra da mulher confiante que eu conhecera; seus olhos estavam marcados por olheiras profundas, seu corpo tenso com nervosismo. "Aline," ela começou, sua voz trêmula, "eu vi sua entrevista e percebi que precisava vir aqui pessoalmente para dizer
que sinto muito." Profundamente, observei-a em silêncio, permitindo que continuasse. "Eu fui tola," ela prosseguiu, lágrimas se formando em seus olhos. "Acreditei nas promessas de Pablo; pensei que ele realmente me amava, mas agora vejo que fui apenas uma peça em seu jogo, assim como você." Suspirei, sentindo uma mistura complexa de emoções. "Você fez escolhas, escolhas que me machucaram profundamente," mas pausei, buscando as palavras certas. "Mas também reconheço que Pablo tem um talento para manipulação; ele nos enganou a ambas de maneiras diferentes." Anne assentiu, enxugando as lágrimas. "Eu entendo se você nunca puder me perdoar, mas quero
que saiba que estou cooperando totalmente com as autoridades. Vou testemunhar no julgamento, contar tudo que sei." Olhei para ela, realmente olhei, e vi não a amante de meu marido, não a cúmplice em uma conspiração, mas uma mulher quebrada tentando consertar seus erros. "Obrigada por vir," disse finalmente. "Não posso prometer perdão, não ainda, mas aprecio sua honestidade." Agora, depois que Anne saiu, fiquei pensando em como as pessoas podem nos surpreender, para o bem e para o mal. Pablo, que eu pensei que me amava, havia me traído da pior maneira possível; Anne, que eu via como uma
rival, estava agora buscando redenção. À noite, sentada na varanda com uma taça de vinho, observando as luzes de Mônaco, refleti sobre como minha vida havia mudado em tão pouco tempo. O julgamento de Pablo e Isabele se aproximava, e com ele, o encerramento final deste capítulo tumultuado da minha vida. Mas enquanto o sol se punha sobre o Mediterrâneo, pintando o céu em tons de laranja e rosa, senti uma estranha sensação de paz. Eu havia enfrentado o pior que a vida podia me jogar e emergido mais forte. O futuro, embora incerto, não me assustava mais. Peguei meu
telefone e disquei um número familiar. "Nancy! Ei, estava pensando, que tal um jantar amanhã, só nós duas, como nos velhos tempos? Acho que está na hora de começar a viver novamente, você não acha?" O riso caloroso de Nancy, do outro lado da linha, foi como um bálsamo para minha alma. "Sim," pensei, colocando o telefone de lado e olhando mais uma vez para o horizonte. "Está na hora de começar de novo." O dia do julgamento chegou, com uma mistura de antecipação e apreensão. O Palácio de Justiça de Mônaco, um edifício imponente com sua fachada neoclássica, estava
cercado por uma multidão de jornalistas e curiosos. Enquanto meu carro se aproximava, pude sentir o peso dos olhares e o flash das câmeras. Nancy, sentada ao meu lado no banco de trás, apertou minha mão, reassegurando-me. Só por estar aqui hoje, a senti grata por sua presença constante. Jaques nos esperava na entrada, seu terno impecável e sua expressão determinada. "Estão todos lá dentro," ele informou em voz baixa, enquanto nos guiava pelos corredores de mármore. "Pablo, Isabele, Anne. A imprensa está tendo um dia de campo." Respirei fundo, ajustando meu blazer navy; havia escolhido cuidadosamente meu traje para
hoje, profissional, mas não ostentativo. Queria que minha presença falasse por si só, sem necessidade de extravagâncias. Ao entrarmos na sala de audiências, o burburinho diminuiu momentaneamente; todos os olhos se voltaram para mim. Vi Pablo e Isabele sentados com seus advogados, ambos parecendo pálidos e tensos. Anne estava... Em outro canto, evitando olhar para qualquer um de nós, o juiz entrou e todos se levantaram enquanto ele começava os procedimentos. Deixei meu olhar vagar pela sala, reconheci rostos da alta sociedade de Mônaco, alguns parecendo desconfortáveis, outros abertamente curiosos. Este não era apenas o julgamento de Pablo e Isabele,
percebi; era o julgamento de um estilo de vida, de um sistema que por muito tempo permitiu que os ricos e poderosos agissem com impunidade. As horas seguintes passaram em um borrão de testemunhos, evidências e alegações legais. Assim, ouvi com uma mistura de dor e raiva renovada os detalhes da conspiração contra mim sendo expostos: e-mails, gravações, registros financeiros. Tudo pintava um quadro dantesco de ganância e traição. Quando chegou minha vez de testemunhar, senti uma calma surpreendente me envolver. Olhei diretamente para Pablo enquanto narrava como descobri seus planos de fingir insanidade para coletar evidências. Vi sua expressão
oscilar entre raiva e algo que parecia quase uma admiração relutante. "Senhora Dubois", o promotor perguntou, "em sua opinião, qual era o objetivo final do Senhor Dubois e da Senhora Isabele Dubois com esta conspiração?" Mantive minha voz firme ao responder: "Eles queriam me destruir, não apenas financeiramente, mas emocionalmente. Queriam me reduzir a uma concha vazia, incapaz de me defender, para que pudessem assumir o controle total de minha fortuna e minha vida." O testemunho de Anne foi particularmente impactante. Ela detalhou como foi atraída para a conspiração, como Pablo a manipulou com promessas de amor e um futuro
juntos. "Eu fui tola", ela admitiu, lágrimas escorrendo por seu rosto. "Acreditei que era amor, mas agora vejo que era apenas parte do plano dele. Eu sinto muito, Aline, profundamente." Vi Pablo se contorcer em seu assento, claramente desconfortável com as revelações de Anne. Isabele, por outro lado, mantinha uma expressão impassível, embora seus olhos traíssem um lampejo de preocupação. Quando Pablo finalmente tomou o stand, sua arrogância habitual parecia ter desaparecido. Ele tentou pintar uma imagem de preocupação genuína, alegando que realmente acreditava que eu estava mentalmente instável. "Eu só queria protegê-la", ele insistiu, sua voz carregada de falsa
sinceridade. "Tudo que fiz foi por amor." Senti uma onda de náusea ao ouvir suas mentiras, mas me mantive composta. Jaques havia me preparado para isso, lembrando-me que Pablo tentaria jogar com as emoções do júri. Os dias se arrastaram, cada um trazendo novas revelações e argumentos. Observei como a confiança de Pablo e Isabele lentamente se erodia à medida que a montanha de evidências contra eles crescia. Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, o júri se retirou para deliberar. As horas de espera foram agonizantes. Nany e Jaques permaneceram ao meu lado, oferecendo apoio silencioso enquanto aguardávamos o
veredicto. Quando o júri retornou, o silêncio na sala era palpável. Segurei a respiração enquanto o porta-voz se levantava. "No caso de Mônaco versus Pablo Dubois e Isabele Dubois, nós, o júri, consideramos os réus culpados de todas as acusações." Um suspiro coletivo percorreu a sala. Senti uma mistura de emoções me invadir: alívio, vindicação e uma pitada de tristeza pelo que poderia ter sido. Pablo e Isabele foram sentenciados a longas penas de prisão. Anne, devido à sua cooperação, recebeu uma sentença mais leve, incluindo serviço comunitário e liberdade condicional. Quando saímos do tribunal, fui imediatamente cercada por repórteres
clamando por declarações. "Senhora Dubois, como se sente com o veredicto? O que planeja fazer agora? Tem alguma mensagem para Pablo e Isabele?" Respirei fundo, sentindo o peso das câmeras e microfones. "Hoje, a justiça foi feita", comecei, minha voz firme. "Não apenas para mim, mas para todas as vítimas de abuso e manipulação que muitas vezes ficam silenciadas. Este caso mostrou que ninguém está acima da lei, não importa quão rico ou poderoso seja." Fiz uma pausa, escolhendo cuidadosamente minhas próximas palavras. "Quanto ao futuro, planejo criar uma fundação para ajudar vítimas de abuso financeiro e emocional. Quero transformar
esta experiência dolorosa em algo positivo, algo que possa fazer a diferença na vida de outras pessoas." Com isso, Nany e Jaques me guiaram para longe da multidão de repórteres em direção ao carro que nos aguardava. Uma vez dentro do veículo, longe dos olhos do público, permiti que as lágrimas que havia segurado por tanto tempo finalmente caíssem. Nany me abraçou enquanto eu soluçava, anos de tensão e dor sendo liberados. "Acabou, Aline", ela sussurrou. "Você venceu." Nas semanas que se seguiram, mergulhei de cabeça nos planos para minha fundação. Trabalhei incansavelmente, canalizando toda minha energia para criar algo
significativo a partir do caos que havia sido minha vida. Uma tarde, enquanto revisava alguns documentos em meu escritório, recebi uma visita inesperada. Leon, nosso antigo mordomo, pediu para me ver. "Madame Aline", ele disse, parecendo nervoso. "Eu vim me despedir. Estou me aposentando e voltando para minha cidade natal, na França." Olhei para ele, lembrando-me de como ele havia finalmente revelado o que sabia sobre os planos de Pablo e Isabele. "Entendo, Leon. Espero que encontre paz lá", ele assentiu, lágrimas nos olhos. "Madame, eu nunca poderei me perdoar completamente por meu silêncio, mas quero que saiba que admiro
imensamente sua força e coragem. Você é uma inspiração." Senti uma onda de emoção me invadir. Levantei-me e, para surpresa de Leon, o abracei. "Obrigada, Leon, por tudo. Eu te perdoo." Depois que Leon saiu, fiquei pensando em como a vida dá voltas. Pessoas que pensamos conhecer nos surpreendem, para o bem e para o mal, e às vezes é nas adversidades que descobrimos nossa verdadeira força. Naquela noite, organizei um pequeno jantar em casa. Nany, Jaques e alguns outros amigos próximos que haviam estado ao meu lado durante toda a provação se reuniram em torno da mesa. Enquanto servia
a sobremesa, ergui minha taça de champanhe. "Quero fazer um brinde", anunciei. "Não ao passado, mas ao futuro, a novas começos, a segundas chances e à verdade que sempre encontra um caminho de vir à tona." Os sorrisos ao redor da mesa eram genuínos, cheios de afeto. E apoio, percebi naquele momento que, embora tivesse perdido uma família, havia ganhado outra, uma baseada não em laços de sangue, mas em lealdade, honestidade e amor verdadeiro. Mais tarde, sozinha na varanda, olhei para as luzes de Mônaco e refleti sobre a jornada que havia percorrido. A dor da traição ainda estava
lá, uma cicatriz que provavelmente nunca desapareceria completamente, mas, junto com ela, havia uma nova força, uma resiliência que eu nunca soube que possuía. O futuro se estendia diante de mim, cheio de possibilidades. Eu havia sobrevivido à tempestade e emergido não apenas intacta, mas mais forte. E agora, finalmente, estava pronta para escrever o próximo capítulo da minha vida, desta vez em meus próprios termos. Enquanto a brisa do Mediterrâneo acariciava meu rosto, sorri para mim mesma; a verdadeira Alub estava de volta, mais sábia, mais forte e pronta para fazer a diferença no mundo. E assim, com o
coração cheio de esperança e determinação, dei as boas-vindas ao amanhecer de um novo dia, de uma nova vida. Gostou da história? Deixe seu like, inscreva-se, ative o sininho e compartilhe. Obrigada por fazer parte da nossa comunidade. Até o próximo vídeo!