COMO PRATICAR A EMPATIA EM UMA SOCIEDADE DESIGUAL? | Carolina Nalon | TEDxÁrvoreGrande

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TEDx Talks
Em uma sociedade na qual a desigualdade gera violência será dá para se comunicar de maneira empática...
Video Transcript:
[Música] estão com a sensação de que está cada vez mais difícil dialogar com as pessoas como está sendo nos últimos tempos a discussão sobre temas sociais na sua vida por muito tempo eu achava que a chave para que a gente tivesse melhores discussões e conseguisse discutir os nossos problemas sociais era que a gente tivesse mais empatia e mais respeito que afinal se nós todos somos seres humanos somos iguais nesse sentido se a gente compartilha das mesmas necessidades como é que a gente não consegue se entender demorou um tempo para entender que essa equação da empatia
não era algo tão simples assim e eu lembro direitinho do dia e essa complexidade começou a aparecer mais claramente pra mim eu assistir um vídeo junto do youtube desse cara o príncipe ea ele é o youtube negro famoso americano que fez desse vídeo chamado eu não sou negro você não é branco nesse vídeo ele falava que nós somos muito mais do que a nossa cor da pele que a cor da pele é um rótulo e que a gente devia se relacionar para além dele na época eu achei que esse vídeo tinha tudo a ver com
a comunicação não violenta que eu estava começando a aprender ea praticar e aí eu fui lá o compartilhar em um grupo do facebook de praticantes de comunicação não violenta e para minha surpresa depois de poucos minutos eu recebi esse comentário de uma mulher negra que tinha assistido vídeo e ela dizia na verdade esse vídeo é superficial ao tratar origens étnicas como rótulos raça humana é utilizada hoje para silenciar o diferente como saber quem eu sou se me pedem a diluição da identidade eu entendi a proposta do vídeo mas não acredito que contemple o que vivemos
hoje porque está social é outra e eu confesso que na hora que eu li o comentário eu tive um bug assim eu falei com nelsinho o vídeo falando que a gente tem que se tratar com respeito de igual pra igual e o que ela tava me ensinando ali naquele momento era justamente que quando a gente tenta se tratar de igual para igual em uma sociedade na qual a gente é diferente que isso era uma maneira de ser violenta então naquele momento aquela mulher estava ensinando uma lição que depois eu fui entender que era mesmo uma
grande lição que o próprio márcio rosenberg criador da comunicação não violenta e deixou de legado e que muitas pessoas inclusive que tanto dano comunicação não violenta muitas vezes não sabem o passa despercebido o que eu acho dizia é que se eu uso a comunicação não violenta só para pacificar as relações de família e de amigos pra gente se comunicar bonitinho melhor do melhor conexão é votar usando a cnv como narcótico a cnv não nasceu só pra isso ela nasceu também para transformar positivamente os sistemas sociais bem a partir disso eu comecei a pesquisar um pouco
mais do cenário social que a gente vive eles sabiam que o país é o nono país que o brasil é o nono país mais desigual do mundo nós somos a oitava economia nós somos o nono país mais igual e quando a gente nasce em um país e uma sociedade que é desigual o nosso nascimento se torna uma verdadeira loteria porque porque dependendo da família do lugar onde você nasce já tenho coisas que estão sendo pré determinadas na sua vida nas em uma família que tem dinheiro é o maior privilégio que existe por que por que
em uma sociedade capitalista dinheiro é igual a oportunidade e aí quando eu começo a falar esse tipo de coisa rapidinho eu já escuto ele não falando assim em carol como assim a filha as pessoas têm que fazer por merecer né que as pessoas tem que batalhar por elas mesmas eu conheço pessoas que saíram da miséria e hoje conquistaria uma vida confortável aqui mesmo nesse evento a gente viu algumas pessoas certas só que gente e talvez então vocês alguém que esteja assistindo agora seja uma dessas pessoas só que isso ainda é uma história de exceção não
é uma história que considera o cenário social no qual a gente vive o brasil é o país que tem o menor índice de mobilidade social do mundo então é possível ascender socialmente aqui claro que é possível eu sei disso eu também conheço pessoas que têm histórias desse tipo só que é o lugar mais difícil do mundo pra que esse tipo de história possa acontecer né e aí conforme eu fui pesquisando eu fui percebendo que essa questão da desigualdade social ela está intimamente relacionada com a questão étnico-racial então no brasil a população a população mais pobre
os 10% mais pobres do brasil são maioritariamente compostos por pessoas negras então 78% dessa população mais pobre é de das pessoas negras isso é a gente está falando de patrimônio mas quando a gente vai analisar também a renda a renda das pessoas negras é em média 1.200 reais a menos do que as pessoas brancas no brasil e aí você for ver os dados de homicídio que o pai é o brasil também é um dos países que mais têm homicídio no mundo se você for ver quem são as pessoas que mais morrem esses homicídios também a
maioria de pessoas negras 75% e principalmente de jovens negros então não seria um exagero dizer que os brancos vivem o brasil e os negros vivem em outro brasil e isso tem tudo a ver com privilégios né quando eu falo essa palavra privilégio eu já escuto eu já escutei várias vezes as pessoas falando assim o é mas como assim privilégio né então uma pessoa branca pode escutar todos esses dados sobre desigualdade racial e pensar mas eu não sou privilegiado o homem pode escutar vários dados sobre o feminicídio sobre desigualdade salarial sobre estupro contra a mulher e
pensar mas eu não sou um privilegiado porque quando a gente passa falar essa palavra privilegiado parece que eu tô falando assim a sua privilegiada e não só a vida é fácil né como assim a minha vida é fácil não é porque eu sou privilegiado que eu tenho uma vida fácil e não é mesmo então é bom ficar na mesma página do que significa privilégio privilégio por definição é uma condição de vantagem atribuída a uma pessoa ou grupo em comparação aos demais então privilégio não tem absolutamente nada a ver com algo que você faça ou deixe
de fazer uma canção foi dada na sua vida então por exemplo se você nasceu em uma família que sempre estimulou a estudar falou que o estudo era algo pra você que nunca preciso falar assim o meu filho minha filha vai lá trabalhar porque você precisa contribuir com a renda da família isso é um privilégio se o seu tataravô usou sua bisavó direta não foram pessoas escravizadas isso é um privilégio se você na rua sem medo de ser estuprado isso é um privilégio então não é nada que você fez ou deixou de fazer que contribuiu para
a construção desse cenário isso tudo são características que foram atribuídas e a partir do momento que eu comecei a pesquisar mais nem entender melhor esse cenário e ver que esse cenário foi construído muito por conta da história do brasil né então fazem somente 133 anos que aconteceu que as pessoas escravizadas conquistaram a liberdade e elas não tiveram nenhum tipo de subsídio para recomeçarem a vida delas depois disso pelo contrário elas tiveram muitos dos direitos delas ainda não não reconhecidos e isso tudo que eu tô falando a gente é ele é um pequeno recorte da desigualdade
brasileira porque a gente pode acrescentar mais camadas por exemplo se a gente condiciona a esse debate a questão de gênero a gente começa a entender dados alarmantes por exemplo da vida da mulher negra no brasil que é o indivíduo que está sofrendo dupla pressão e eu comecei a perceber que tem várias coisas que nós privilegiados fazemos quando nós somos questionados dos nossos privilégios né eu comecei a entender que empatia não era só uma questão de ser respeitoso com quem estava na minha frente empatia passava por reconhecer os próprios privilégios primeiro entender como funcionam essas opressões
estruturais e começará a direcionar o meu trabalho ea minha energia para contribuir para a diminuição dessas desigualdades e quando eu comecei a ver as reações que a gente tinha eu pensei poxa eu quero começar a falar isso pros mais para mais pessoas para que a gente possa rever a nossa atitude e quem sabe contribuir da melhor forma para esse cenário então vocês aqui já devem ter sido acusado de alguma vez de machista ou alguém falou essa sua atitude foi homofóbica alguém falou em sua fala foi racista você já deve ter passado por uma situação assim
como é que foi você reagiu será que você teve alguma dessas reações aqui ó será que você disse assim meu mas nós somos todos humanos essa luta das minorias só serve para nos dividir ou será que falou assim olha a questão esse negócio de racismo de machismo isso tudo é mimi porque a questão mesmo é a pobreza ou então você falou a clássica né imagina eu não sou homofóbico que até um amigo que é gay ou então você ficou chateado é porque fez uma piada o pessoal no rio e falou pô hoje em dia as
pessoas opina contudo não dá pra brincar com nada ou ainda isso daqui é um falso pedido de desculpas você disse me desculpa se você ficou atendido porque achou que eu sou machista ou ainda você pode ter ficado tão chateado de receber esse feedback que você chorou ou de alguma maneira você redirecionou toda a atenção daquela discussão pra você gente quando a gente faz qualquer uma dessas atitudes na verdade o que a gente está demonstrando é que a gente não entendeu que o problema é estrutural a gente ainda está baseando a nossa visão de mundo a
partir da nossa própria experiência do que a gente vê desse meu amigo gay dessa pessoa que eu sei que conquistou o lugar é isso não tá olhando para o cenário amplo não tá entendendo que é sistêmico ou pior ainda a gente tá caindo no lugar de culpa por ser privilegiado então eu não quero ser vista como uma pessoa racista e aí a pessoa fala que eu sou racista eu choro porque eu quero me vulnerabilizar para ela ver o quanto eu realmente me importo e eu que estou fazendo contínuo protagonizando a cena eu nunca saiu de
cena eu nunca do espaço para outras pessoas entrarem na cena então sentir culpa por seus privilégios não vai ajudar em nada seus privilégios não tem a ver com algo que você fez ou deixou de fazer então mais importante do que sentir culpa é ser responsável por fazer alguma coisa com eles mas então na diante de tudo isso isso aqui foi o que a gente faz e que na verdade bloqueia conexão mas o que é que a gente pode fazer a primeira coisa é entender a diferença entre intenção impacto então imagina que eu estou na praia
jogando frescobol com o amigo aí de repente eu quero dar um saque mais ousado assim ele sai todo torto e vai direto e pega no seu nariz quando ele começa a sangrar aí fica indignado e vem na minha direção e fala pô olha aqui porque aconteceu e aí eu diria que eu vim pra você e falha assim mas também nessa etapa aqui na praia tem um bom time jogando frescobol podia acontecer com qualquer um e aí fala assim o que ela está sangrando você não vai pedir desculpas e eu vim pra vocês assim olha não
era minha intenção de machucar tá eu não sou uma pessoa agressiva eu nunca machucaria nariz de alguém estranho eu continuar me justificando que é continuar me defendendo e isso é uma situação tão tribo é trivial quanto ficar jogando frescobol na praia machucar alguém agora imagina quando a gente está falando de opressões estruturais que são temas verdadeiramente doloridos para quem sofre a opressão então nós pessoas privilegiadas a gente tem que abrir o nosso ouvido para o real impacto das nossas acções e reconhecer que as nossas ações nossas falas podem ter um impacto de machucar os outros
e realmente tentar não repetir aquele tipo de ofensa agora como eu disse a questão não é só individual ela é estrutural então uma parte da discussão precisa ir para o campo político e que a gente pode fazer nesse sentido tem muita gente que acha que quando políticas públicas são criadas como por exemplo cotas para negros nas universidades ou cotas para as mulheres nas políticas na política tem pessoas que falam ah mas isso é dar privilégio pra esse grupo não é privilégio gente é reparação histórica porque os o problema estrutural é preciso ter ações afirmativas para
mudar esse cenário e é claro que esse tipo de política é passível de crítica seria muito melhor se o sistema de base brasileiro fosse tivesse uma educação incrível ea gente não precisasse criar cotas na universidade só que vocês sabem que desde os fins desde o início do sistema de cotas em 2000 o número de matrículas de pessoas negras nas universidades públicas brasileiras era de apenas 11% em 2017 já era de 30% é claro que a gente tem um longo caminho pela frente mas pelo menos isso já é um avanço outra coisa que a gente pode
fazer também é provocar os ambientes que a gente ocupa porque em maior ou menor grau todos nós temos algum tipo de privilégio então se você é líder dentro de uma organização se pode questionar a pluralidade da sua equipe se você matrícula o seu filho uma boa escola você tem a oportunidade de questionar diretoria daquela escola sobre a diversidade do corpo docente dos alunos que vão frequentar aquela escola se você é homem você tem abertura para quando os seus amigos estiverem fazendo alguma piadinha no grupo d o desapego e fomenta a cultura de estupro de dar
um toque pra eles de que se não é legal que já está na hora de mudar então tem muita gente que acha que a empatia é você respeitar a opinião do outro independente de qual seja essa opinião eu vejo que tem muita gente que espera de mim isso é uma facilitadora de comunicação não violenta que eu seja neutra mas a partir do momento que eu consegui comecei a ver esses dados de desigualdade eu percebi que a minha neutra idade poderia ser só mais uma maneira de perpetuar essa desigualdade e portanto a violência então como uma
mãe que quer o melhor para o filho é não vou falar que está tudo bem a gente continuar tendo opiniões que aumentam esse nosso abismo social como dia-a-dia mila ribeiro empatia não é um saber me colocar no lugar do outro porque eu nunca vou saber como está no lugar do outro empatia é eu saber como meu lugar impacto lugar do outro assim como a diana ribeiro existem centenas de pesquisadores intelectuais filósofos negros que já estão falando isso há muito tempo então nada do que estou falando aqui é novidade inclusive essa foi uma das coisas que
eu fiz que me ajudou muito ampliar as minhas referências quem são as pessoas que eu escuto quem são as pessoas quem o que eu leio quem são as pessoas que eu admiro será que todas elas são iguais a mim a partir do momento que eu comecei ampliar essa essas minhas referências eu percebi que o meu mundo se abriu então gente hoje eu acredito que não tem como falar em empatia e respeito sem falar em consciência social esse evento é um evento que está falando muito de futuro de tecnologia quando é que a gente vai começar
a pensar em tecnologias de convivência quando a gente vai começar a pensar em uma sociedade verdadeiramente o mais igualitária pra todo mundo então se você que é ajudar a construir uma sociedade mais simpática eu preciso te perguntar o que é que você vai fazer com seus privilégios obrigada [Aplausos]
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