Imagine uma bela manhã ensolarada de domingo. Nem tão quente, nem tão fria. Aquele clima perfeito.
Bom o suficiente para você sair de casa para fazer uma caminhada tranquila pelo bairro. Só que dessa vez você decide mudar um pouco a rota, pegando uma trilha em meio aos arbustos. De repente, um cheiro estranho começa a incomodar seu nariz.
Pouco a pouco, ele vai ficando mais forte. Um cheiro diferente, que parece asfalto fresco. Você vai continuando sua rota até encontrar uma pequena poça.
Um pequeno lago com um líquido preto, brilhante. Você se aproxima mais, começa a perceber bolhas surgindo lentamente na superfície daquele líquido viscoso. Essas bolhas crescem e explodem repentinamente.
E quando essas bolhas explodem, aquele cheiro se torna ainda mais intenso e presente no ar. Nesse momento você se dá conta que pode ter encontrado petróleo em um poço de piche natural. Por mais surreal que isso possa parecer hoje para nós, esse era um cenário relativamente comum no centro de Los Angeles.
Obviamente que no século dezenove a cidade era apenas uma fração do tamanho que é hoje. Mas não é curioso pensar que, em uma das mais famosas e glamourosas cidades do mundo, você poderia caminhar e encontrar petróleo surgindo do chão? Certamente, os primeiros descobridores desses poços jamais imaginariam o valor que esse óleo teria.
(Vinheta) Hoje o petróleo e seus derivados fazem parte do nosso cotidiano. Seja nos combustíveis que abastecem nossos veículos há décadas, ou nos plásticos que dominam as prateleiras dos supermercados. Apesar de estamos num momento em que a sociedade repensa o uso e dependência do petróleo, ele ainda continua sendo muito cobiçado e disputado, mas nem sempre foi assim.
Houve uma época em que ninguém se importava com o petróleo. Capítulo 1: NINGUÉM SE IMPORTA A relação entre petróleo e humanidade é antiga. Há registros do seu uso há milhares de anos, especialmente no Oriente Médio e Ásia.
Nessa época, seu principal uso era como um tipo de argamassa, para a edificação de grandes construções, ou até mesmo para fins de iluminação e defesa, devido sua propriedade inflamável. Possivelmente o betume, um derivado do petróleo, foi até usado em processo de mumificação no Egito Antigo. Na China, no século dois, já constam relatos sobre o uso de bambus para canalizar e transportar o óleo que era amplamente usado na iluminação e aquecimento.
Provavelmente, seriam os relatos de Marco Polo sobre a extração de petróleo na Pérsia, atualmente Azerbaijão, que dariam popularidade ao combustível fóssil no Ocidente. Em mil duzentos e sessenta e quatro, ele testemunhou a exploração comercial de petróleo na atual cidade de Baku. Isso aconteceu quase quinhentos anos antes da moderna indústria petrolífera se consolidar.
Dessa forma, não é correto dizer que o petróleo foi descoberto no século dezenove. Muito pelo contrário: ele já era conhecido, explorado e comercializado há séculos no Oriente Médio e Ásia. O que mudou no século dezenove foi o aumento da sua demanda, a partir da descoberta de novos produtos derivados do petróleo.
Além, é claro, da descoberta de novas jazidas de combustível fóssil em outros continentes. Um exemplo disso ocorreu em mil oitocentos e quarenta e nove, com uma importante descoberta pelo médico e geólogo canadense Abraham Gesner: o querosene. Na época, o óleo de baleia, que era amplamente usado para a iluminação das cidades, foi substituído pelo novo produto.
O querosene é obtido pela destilação fracionada do petróleo, sendo assim o primeiro derivado do petróleo a se popularizar no Ocidente. Assim a indústria do petróleo moderna, ao menos aquela parecida com a que temos hoje, tem origem por volta das metade do século dezenove. Foi por volta dessa época que a demanda por petróleo aumentou porque agora existiam grandes novas utilidades dos seus derivados.
Se antes você podia tropeçar em uma poça de piche no território de uma grande cidade, isso queria dizer que pouca gente dava bola para aquele material. Mas se agora as pessoas estão se dando ao trabalho de triturarem toneladas e toneladas de rocha ou construírem máquinas enormes para perfurar o subsolo em busca do óleo cru. Isso diz muito sobre como o petróleo se transformou em uma matéria-prima valiosa.
Capítulo 2: COMBUSTÍVEL O primeiro poço de petróleo foi feito na Pensilvânia na metade do século dezenove, e ele não era muito profundo. Tinha apenas vinte e um metros de profundidade e funcionava em um sistema de bate-estaca que extraia dezenove barris de petróleo ao dia. Cinco anos depois, centenas de empresas já extraíam o óleo cru nos Estados Unidos, adotando uma estratégia agressiva que mudou paisagem do país.
Com o interesse crescente e os avanços tecnológicos, em poucos anos a produção no país norte-americano alcançava os milhões de barris ao ano e despontava como potência. Entretanto, não demorou muito para que jazidas riquíssimas de petróleo na região do Cáucaso começassem a colocar esta soberania em xeque. Como vimos, o querosene já era um produto do petróleo que ganhava destaque na iluminação das cidades mundo afora.
Mas seria outra coisa que daria um novo, e FORTE, pontapé na demanda pelo combustível fóssil: o motor a combustão. O primeiro automóvel projetado para ser movido com motor de combustão interna, a gasolina, foi construído e patenteado pelo engenheiro alemão Karl Benz, em mil oitocentos e oitenta e seis. Ao menos esse é o mais consagrado dos projetos, anteriormente os veículos eram movidos com motor a vapor e, antes disso, tração animal.
Curiosamente, projetos de carros elétricos chegaram a ser construídos neste mesmo período, mas acabaram sendo abandonados. Outros combustíveis também chegaram a ser testados na época, especialmente aqueles derivados de óleos vegetais. O primeiro motor a diesel, por exemplo, foi construído poucos anos depois do primeiro motor a gasolina.
E curiosamente, esse motor a diesel era movido a BIOdiesel: com um combustível feito de óleo de amendoim. Amendoim é bom demais. Além do amendoim, outros vegetais chegaram a ser cogitados como matéria-prima para os combustíveis, inclusive o cânhamo.
Aquele mesmo… Entretanto, por um conjunto de motivos técnicos, interesses políticos e fatores econômicos, a gasolina acabou sendo escolhida como a principal força motriz para o futuro. A gasolina era obtida a partir da destilação fracionada do petróleo, assim como já era feito com o querosene, mas em menor ponto de ebulição. Ou seja, necessitando menor energia para a sua obtenção a partir do óleo cru.
Em mil novecentos e oito foi construída a primeira linha industrial de montagem de um veículo, o Ford T, ampliando os horizontes de produção. As décadas avançaram e, aos poucos, os veículos com motor a combustão foram se tornando mais acessíveis. Para se ter uma noção, quase vinte anos de produção do Ford T, quinze MILHÕES de unidades foram construídas.
Esse processo de popularização dos automóveis teria uma consequência direta na produção do petróleo: afinal, quanto mais carros rodavam pelas ruas, mais gasolina era necessária. Com a maior procura pelo combustível fóssil, novas frentes de exploração iam surgindo, e os lugares onde o petróleo estava mais acessível foram os primeiros a se acabarem. Era o FIM do petróleo fácil.
Capítulo 3: POÇO PROFUNDO O fim das reservas mais acessíveis de petróleo foi especialmente rápido porque não era só a gasolina que era produzida a partir do petróleo. Ainda na década de trinta, surgia a indústria petroquímica que transformava o petróleo não apenas em combustível e lubrificante, mas também em matéria-prima para a indústria têxtil, de cosméticos, de medicamentos e outras coisas. Além, claro, de poder ser utilizado como fonte geradora de energia elétrica, a partir de sua queima.
O consumo e a produção do petróleo não paravam de crescer, multiplicando-se ano a ano. Há quem diga que cerca de trinta por cento da energia do planeta na década de trinta já era oriunda da queima do petróleo, em suas diferentes formas. Com a maior demanda e procura, o petróleo de fácil acesso logo acabou.
Esqueça as lagoas de piche do passado ou os poços com vinte metros de profundidade. Nada disso era viável ou estava disponível. Era o momento das grandes perfuratrizes trabalharem, em terra… e no mar.
A operação para extrair petróleo no alto mar é conhecida como offshore. Ela não ocorre, de fato, na crosta oceânica e, sim, na plataforma continental, ou seja, na parte do continente que fica debaixo da água. Este tipo de exploração comercial teria começado ainda na década de quarenta, no Golfo do México e também no Mar Cáspio.
Duas décadas depois, descobertas já seriam feitas no Brasil: no Campo de Guaricema, em Sergipe, no ano de mil novecentos e sessenta e oito. Sendo que a exploração comercial de petróleo offshore no Brasil, só teria início mesmo seis anos depois, no Campo de Enchova, próximo da costa do Rio de Janeiro. Na época, os poços tinham centenas de metros de profundidade e produziam, cada um, em torno de dez mil barris diários de óleo cru.
Com o aumento da produção industrial que dependia de produtos derivados do petróleo, mais petróleo era necessário. E mais fundo era preciso ir buscá-lo. Afinal, o petróleo não é um recurso renovável, demorou milhões de anos para ficar pronto.
As jazidas já descobertas iam se esgotando e novas jazidas precisavam ser encontradas. Ao mesmo tempo que a necessidade crescia, a tecnologia e o conhecimento científico sobre os depósitos de petróleo também aumentavam. Um bom exemplo disso pode ser visto quando observamos a evolução da profundidade dos poços.
O primeiro poço de petróleo explorado em terra, lá nos Estados Unidos em mil oitocentos e cinquenta e nove, tinha vinte e um metros de profundidade. O primeiro poço comercial BRASILEIRO em água oceânicas, de mil novecentos e setenta e quatro, tinha CEM metros de profundidade. Agora, se observarmos a realidade atual, a situação muda drasticamente de escala.
O poço Monai, localizado a cento e quarenta e cinco quilômetros da costa do Espírito Santo, possui mais de SETE MIL metros de profundidade. Para ser exato, sete mil seiscentos e trinta metros de profundidade total, sendo dois mil e trezentos metros só de lâmina d’água. Já pensou o nível de tecnologia e maquinário necessários para se fazer uma perfuração tão profunda assim?
As brocas precisam exercer uma força descomunal para seguir perfurando. E as pressões são exorbitantes, cerca de mil e duzentas vezes superiores à pressão existente na atmosfera terrestre. O poço Monai é um exemplo do que chamamos de poços exploratórios, aqueles que são feitos com o principal objetivo de compreender a geologia e delimitar, com exatidão, o volume e local da reserva de petróleo.
Esse é um entre tantos exemplos de poços operacionais com milhares de metros de profundidade. E à medida que aumentava a complexidade da exploração, aumentava também o conhecimento sobre o petróleo. Mas afinal, o que é o petróleo?
Capítulo 4: O QUE É? De forma simplificada, o petróleo é um líquido viscoso, oleoso, inflamável e natural obtido em rochas sedimentares. Sua densidade é menor do que a da água, isso quer dizer que água e petróleo não se misturam: o petróleo sempre ficará em cima da água.
Ele é um tipo de composto chamado, hidrocarboneto, formado por substâncias orgânicas à base de hidrogênio e carbono. Entretanto, pode conter quantidades menores de outros elementos químicos, como enxofre, por exemplo. Por mais que estejamos acostumados com a representação clássica, quase de desenho animado, do petróleo como sendo aquele óleo de cor preta, a verdade é que a sua coloração pode variar.
Afinal, estamos falando de um processo natural de formação do material e variações podem ocorrer. Então, sua cor pode variar do preto e marrom até o incolor, passando por tons esverdeados. A origem do petróleo está relacionada com um lento processo de decomposição da matéria orgânica no passado.
E vale enfatizar aqui, esse processo é REALMENTE BEM LENTO MESMO. Estamos falando de um processo que ocorre em uma escala de tempo geológico. O petróleo de hoje é resultado da decomposição da matéria orgânica que morreu e foi soterrada há milhões de anos atrás.
Por muito tempo se brincava que um dinossauro de plástico, daqueles de brinquedo, era feito de dinossauros de verdade que morreram há algumas dezenas de milhões de anos. Afinal o plástico do brinquedo pode ter sido feito a partir do petróleo vindo da decomposição dos corpos de dinossauros de verdade. Pois é, então… A maior parte dos depósitos de petróleo comercial são do intervalo de tempo conhecido como o auge dos grandes répteis, entre duzentos e cinquenta e dois e sessenta e seis milhões de anos.
Mas apesar disso, a principal matéria orgânica que originou o petróleo na verdade foram as ALGAS. PRECISAMOS FAZER BRINQUEDOS DE ALGAS! Pois é, pode parecer bem doido, mas faz sentido se você analisar.
O processo é relativamente simples: a matéria orgânica de algas e outros vegetais no fundo de mares e lagos, há milhões de anos, foi soterrada por sedimentos. Soterrada, a matéria orgânica sofre decomposição pela ação das bactérias em um cenário de pouco oxigênio. O peso das camadas e mais camadas de sedimentos que se sobrepõem possibilitam a formação de uma rocha sedimentar que contém o petróleo em seus pequenos espaços vazios.
Esse processo de compactação acaba por aquecer o material que fica lá por centenas ou milhares metros de profundidade, por milhões de anos. Este processo é muito parecido com a fossilização e por isso o petróleo é conhecido como um combustível fóssil. Devido a alta pressão em que o óleo está depositado, quando a rocha é perfurada o líquido tende a subir, em direção a menor pressão.
Por isso existem aquelas imagens de petróleo jorrando na superfície. Mas, claro, nem sempre a pressão será suficiente para trazer o material até a superfície e muita engenharia precisará ser empregada para isso. Como as grandes perfurações, que já falamos.
Vale destacar que, variações na temperatura, no tipo de matéria orgânica, no tempo e na velocidade de soterramento vão resultar em petróleos diferentes. Por exemplo, se as temperaturas subirem demais no processo de formação, ultrapassando os cento e setenta e sete graus celsius, o carbono da matéria orgânica pode resultar em um depósito mais significativo de gás ou grafita. A idade dos depósitos também importa, da mesma forma que tirar uma comida do fogo antes da hora, pode indicar que ela não está pronta.
Eu pelo menos detesto pizza fria de ontem. Por isso, muitas vezes ouvimos na TV que existem petróleos melhores do que outros. Que as reservas de um país são de um petróleo que precisa ter um processo mais caro e trabalhoso que outros.
Mas, em tempos de alta procura, todo petróleo acaba sendo valioso. E cobiçado. Capítulo 5: COMÉRCIO A principal unidade de compra e venda do petróleo é o barril de petróleo.
Trata-se do valor pelo qual um barril, com cento e cinquenta e nove litros de óleo bruto, tem sido negociado pelo mercado. Há diferentes classificações e características no tipo de petróleo comercializado mundo afora. Mas é importante a gente notar que a variação do preço do petróleo ao longo das décadas é um indicador da sua procura.
No começo da década de setenta, os preços do petróleo giravam em torno de dois dólares por barril. Considerando a inflação, seria o equivalente a quinze dólares nos valores atuais. E aí compara esse valor com o de dezenove de fevereiro de dois mil e oito, quando o barril de petróleo superou os CEM dólares, pela primeira vez na história.
Entretanto, a subida dos valores do barril de óleo cru não é um caminho certo, houveram oscilações na história. Sempre como consequência da relação entre oferta e demanda do combustível fóssil. É um exercício simples de oferta e demanda.
Se há muita gente querendo comprar e pouco petróleo disponível, o preço aumenta. Se aumenta a produção e a demanda não cresce junto, o preço do barril tende a cair. Às vezes isso pode acontecer rapidamente: entre o fim de dois mil e dezesseis e maio de dois mil e dezoito, por exemplo, o petróleo foi de quarenta e seis para oitenta dólares!
São muitos os fatores que influenciam direta ou indiretamente esses valores. E talvez um dos mais emblemáticos sejam as guerras. Você certamente vai se lembrar dos noticiários falando sobre conflitos internacionais ocorrendo em países que são grandes produtores de petróleo e como isso acaba influenciando nossa economia.
Pode ter certeza que uma guerra na vizinhança de grandes produtores vai influenciar, e MUITO, no valor do barril globalmente. Em mil novecentos e sessenta foi criada a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a OPEP. Ela tem o intuito de defender os interesses das nações produtoras da matéria-prima e controlar os valores do barril.
Hoje, os oito maiores produtores de petróleo do mundo são: Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita, Canadá, Iraque, China, Irã e Brasil. Só que tem aqueles que produzem muito e também consomem muito, como é o caso dos Estados Unidos, fazendo com que nem sempre sejam totalmente autossuficientes. Por isso a geopolítica importa muito quando se trata do mercado do petróleo.
E já que somos uma sociedade tão dependente do petróleo: se o seu preço aumenta, as coisas da nossa vida também ficam mais caras. As matérias-primas de muitos outros produtos podem não ser derivadas de petróleo mas muitas vezes são transportadas em algo movido a um derivado de petróleo. Certo então e se o petróleo começar a acabar, até onde irá essa dependência?
Capítulo 6: O FUTURO GELADO Vivemos em um momento histórico que questiona as matrizes energéticas escolhidas no passado. Diante do consenso científico em torno das mudanças climáticas, e com suas consequências a cada ano mais presentes no cotidiano das cidades, o uso de combustíveis fósseis vem sendo questionado. Ideias antigas e novas têm sido colocadas em prática com o intuito de mudar essa realidade.
Como é o caso dos carros elétricos, uma ideia antiga, hoje tecnologicamente viável. Entretanto, o tempo avança e as sociedades seguem dependentes do petróleo. Seja como combustível, seja como matéria-prima para a indústria.
Nesse cenário, à medida que as reservas de petróleo conhecidas forem acabando, novas e inesperadas fronteiras exploratórias começam a ser cogitadas. Uma delas… é a Antártida! Não se engane com a paisagem branca e inóspita, este é um continente BEM disputado, mesmo que não tenha muita gente por lá.
Há uma longa história de interesses sobre o território do extremo sul. Sete países já reivindicaram parte do seu território. Alguns são mais óbvios, pela sua proximidade geográfica, como Argentina, Chile, Austrália e Nova Zelândia.
Outros estão bem distantes e se apoiam no registro de expedições do passado, como: Noruega, França e Reino Unido. Outros trinta e cinco países têm bases permanentes no continente, especial, um desses países é o Brasil. Desde mil novecentos e sessenta e um, o continente gelado é administrado por um acordo internacional, criado com o objetivo de administrar o território e evitar o seu uso militar ou comercial.
Em noventa e oito entrou em vigor o Protocolo de Madrid, também conhecido como o Protocolo de Proteção Ambiental do Tratado da Antártida, que proibiu a exploração de minerais e petróleo no continente por cinquenta anos. Assim, a Antártida deveria ser uma reserva internacional de pesquisa científica, mas a gente sabe que não é exatamente assim que funciona. Talvez o exemplo mais emblemático sejam as imagens dos gigantes navios baleeiros japoneses, caçando populações protegidas de cetáceos que habitam o continente gelado.
E não é porque a Antártida é um continente deserto ou protegido que ele não seja estudado. Muito pelo contrário. Campanhas de investigação geológica já indicaram que podem haver muitas riquezas minerais sob o gelo.
Diferentemente do Polo Norte, há um enorme continente rochoso sob o gelo antártico. E ainda muita coisa a ser descoberta. Há poucos anos, especialistas afirmavam que poderia haver reservas com cerca de duzentos bilhões de barris de petróleo no continente.
Parece muito, e realmente é, mas pesquisas recentes descobriram enormes reservas de petróleo e gás que elevariam a estimativa para QUINHENTOS BILHÕES de barris… até o momento. Esse valor colocaria a Antártida à frente dos maiores produtores do mundo. E não se engane, cientistas, governos e empresas sabem disso.
Porém, a existência do tratado em conjunto com o alto custo de exploração adia qualquer iniciativa de exploração. Porém até quando? No ano de dois mil e quarenta e oito, se encerra o protocolo de proteção e o acordo pode ser revisto.
Uma nova rodada de discussões sobre o futuro do continente gelado estará em primeiro plano. E não temos como saber como vão estar os ânimos geopolíticos do momento ou o estado da economia até lá. E se encontrarmos um cenário de extrema dependência e necessidade de petróleo, carvão, chumbo, ouro, cobre, platina, zinco ou urânio ou até água doce que justificasse a exploração no quarto maior continente do mundo?
Como o interesse econômico sobre a Antártida impactaria a vida no continente mais preservado do mundo? Quais as consequências para sua delicada biodiversidade e para o clima global? As dúvidas se acumulam e, talvez, só o tempo seja capaz de responder qual caminho será tomado quando o assunto é petróleo.
Estamos, de fato, vivendo a mudança na matriz energética ou o mundo vai extrair até a última gota desse concorrido recurso? Ao longo da História, fomos da descoberta casual de poças borbulhantes de piche até a perfuração de poços de petróleo em águas oceânicas profundas. Tudo isso porque nossa sociedade se tornou, ao longo das décadas, dependente desse combustível fóssil.
Afinal, década após década, a demanda por petróleo seguia aumentando e novas reservas, mais complexas e de difícil acesso, precisaram ser descobertas. Mas não sem um custo. O fim do petróleo pode acabar levando um grupo de nações a disputar um pedaço de terra gelado no fim do mundo.