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Video Transcript:
Boa tarde a todos! Sejam muito bem-vindos para mais um Caravelas Podcast. Hoje, eu tenho o prazer de receber o meu amigo André Melo, que também é companheiro de Romaria. Acabamos de chegar a DMA agora e, aliás, foi uma Romaria muito boa, como sempre. E hoje nós vamos conversar sobre a Revolução Francesa, sobre os mitos e as mentiras que falam sobre esse evento histórico, que foi um dos mais importantes da história. Antes, vamos aqui passar aos patrocinadores: a nossa escola da Verdade História está com as inscrições suspensas, pois estamos passando por uma reformulação. Para você
que não sabe inglês ainda, faça o curso Bway, do amigo Jonas Bressan, que é o nosso método de estudo. O Método Ler tem a nossa Editora Caravelas, que nós estamos lançando, né? E esses dois títulos aqui estão numa campanha de promoção! Não perca a oportunidade, pois estão com 40% de desconto. O link vai estar na descrição deste podcast. Mais algum recado? Não, né? Então, muito obrigado, André! Um prazer recebê-lo aqui mais uma vez. Prazer grande! Então, tá bom, vamos lá conversar sobre a Revolução Francesa. Vamos lá! Como é que ela é popularmente ensinada nas escolas?
Como é que foi ensinada lá na sua escola? Essa é uma questão interessante. Quando eu estudei sobre a Revolução Francesa na escola, a ideia que se passava era de que havia uma grande exploração do povo, né? E os nobres e o rei, etc., viviam numa riqueza e numa indiferença para com uma população enorme. E que, um belo dia, a população resolveu tomar em armas, né, e derrubar aquele regime para implantar um novo regime. Então, parecia uma história de conto de fadas, né? Uma história de conto de fadas onde o povo inocente despertou e cansou-se daquela
exploração toda. Quando a gente vai estudar a Revolução Francesa, a gente vê que é uma dupla mentira: uma pelo comportamento que se atribui romântico ao povo. O povo era contrário à Revolução muitas vezes e, em sua maioria, muito favorável ao rei. E depois, a situação na França é muito diversa daquela que nos contam, né? E a Revolução Francesa foi um evento fabricado. A situação na França, só para dar alguns dados, antes da Revolução Francesa, a França prosperava. Então, metade de todo o dinheiro que circulava na Europa estava na França. Era um país rico, era disparado
o país mais rico da Europa. Ah, era um país seguro, tinha uma boa infraestrutura; havia muitos quilômetros de estradas pavimentadas com pedra. Isso, claro, fazia com que o comércio florescesse muito. Também havia canais de água, né? O canal de medir, acho que já estava pronto nessa época, se eu não me engano. Havia muitos canais interligando, inclusive, o Mediterrâneo ao Atlântico, onde se navegava. As empresas de transporte francesas eram as melhores da Europa, com custo baixo. Então, era um país muito próspero. Ah, para você ter uma ideia, o nível de exportações que a França teve em
1788 só foi ser repetido 60 anos depois da Revolução, em 1848, uma cifra de mais de 1 bilhão de libras. Então, a França quebrou com a Revolução Francesa. O que havia na França antes da Revolução era um estado pobre. Um estado pobre em que sentido, Marcelo? Era um estado com algumas ineficiências que precisavam ser resolvidas, né? Havia dívidas, das guerras, né? A dívida era mal administrada. O ministro chamado Necker, filho de protestante, era um genebrino. Ele tinha muito prestígio, era revolucionário e queria a revolução. Ele resolvia o problema do déficit francês com um novo empréstimo,
e eram empréstimos a juros astronômicos. Então, na administração dele, nunca faltava dinheiro, né? Mas a dívida da Nação não parava de crescer. E ele sugeriu ao rei que convocasse os Estados Gerais e, então, depois, acabou tendo também um papel no começo da Revolução para poder fazer com que as votações fossem feitas não por estados, mas sim por deputados, né? Outro dado importante é que, em termos de segurança, a França, nos 40 anos anteriores à Revolução, teve só dois homicídios em Paris. Com a Revolução Francesa, houve multidões de mortes, inclusive antropofagia, comendo carne humana. Em setembro
de 1792, alguns revolucionários mataram, assaram e comeram 13 dos guardas suíços. Quer dizer, uma coisa brutal. Eles pegavam as vísceras das pessoas, penduravam nas árvores, os corações em lanças. Chegou-se a votar para ter a soga de carne humana, né? Pois é. E, de fato, para os presos nos presídios, a França, com a Revolução, teve muita fome. Ah, e nos presídios nunca houve falta de carne; serviam carne humana, e também se usava pele humana para roupa, né? Havia roupas de pele humana. Há um museu na Vand que tem, inclusive, lá se pode visitar uma calça feita
com pele humana. E os Sanjust usavam colete de pele humana feito com a mulher que ele amava, mas que não teve amor correspondido, né? Uma selvageria única. Agora, qual era a situação do povo na França, que tanto se fala da exploração, etc.? Primeiro, que a França tinha um regime absolutista, né? É importante não confundir absolutismo com monarquia. Mas o povo, em geral, os camponeses, eram muito ricos. Eles já eram donos de metade do solo da França. Em algumas regiões, como por exemplo no Delfinado, eles tinham 90% do território francês. Isso vinha aumentando ano após ano
porque eles compravam as terras dos nobres. Os nobres, em geral, eram pobres; eles tinham a nobreza, mas não tinham dinheiro porque não podiam aumentar os impostos. "Ou criar novos impostos. Impos, aliás, os impostos na França também é uma outra coisa que se fala: que havia impostos e mais impostos. Isso é uma outra falácia, porque alguns historiadores elencam os mesmos impostos com nomes distintos, porque eles podiam variar de nome de uma região para outra, mas era o mesmo imposto. Não havia duplicidade. Então, elencando nomes dos impostos, dá a impressão de que são muitos. Mas havia alguns
impostos que os nobres não pagavam; alguns pagavam, os outros não. Alguns impostos a igreja pagava. Eu já vou dizer porque a igreja não convém que ela pague imposto. Havia o imposto de renda chamado taie, e esse imposto era cobrado por aparência. E o clérigo aqui não é bobo, né? Então, como assim por aparência? Dependendo da casa da pessoa, do modo como ela se vestia, se ela tinha fama de comer bem, etc., o imposto era mais alto. Então, o camponês que era sabido vivia numa casa pobre, vestida humildemente, né? E alguns chegavam a ficar 20, 30
anos sem pagar o IMP. Mas esse imposto não é bem o imposto de renda, né? Imposto de Renda é aquele que incide sobre o salário. Esse tipo de imposto não existia, né? É, isso não tinha. A Taia, acho que era um imposto sobre a propriedade, sobre a produção, que seria mais sobre a produção; não era bem sobre salário. E é curioso que o modo também como o imposto era cobrado era muito ineficaz. Talvez aqui fosse um dos grandes problemas que a França tinha que resolver nessa época. A coroa não fazia a cobrança direta dos impostos,
e sim através de banqueiros que eram chamados de tratantes, que pagavam adiantado para a coroa aquela quantidade de impostos que era estimada coletar em determinada região. E eles ficavam responsáveis por cobrar. É, que no Brasil também teve, no Brasil colônia, um sistema assim. Exato. E o risco deles era arrecadar menos do que eles haviam pagado, e a oportunidade era arrecadar mais. Eles procuravam arrecadar mais. E isso fazia com que, então, os tratantes fossem odiados, porque eram banqueiros que queriam cobrar o máximo possível, e ninguém queria pagar imposto, né? Seja muito ou seja pouco. Então, agora
diz que a igreja também pagava alguns impostos. E a igreja recebia o dízimo, mas o dízimo... Aí qualquer pessoa que conhece minimamente catecismo sabe que o dízimo não é 10% literalmente, mas a lei da igreja diz que deve se pagar o dízimo segundo o costume. Então, por exemplo, no Brasil, o costume é pagar o quanto, quando e como se pode. A pessoa no Brasil não precisa pagar 10% do seu contracheque; ela pode dar, como dízimo, para ajudar uma obra de caridade. O dízimo é obrigatório, mas não é 10%. Não é 10%, conforme você é mal
ensinado sobre isso, exatamente. E então a igreja recebia o dízimo, mas a igreja mantinha, na França, acho que 2.500 ou 3.500 hospitais, que eram cuidados por 35.000 freiras. Depois, havia 600 colégios católicos na França, com o número de milhares de alunos. Acho que eram 12.500 alunos, não. Mais, 70.000 alunos. Esse número de alunos, depois da revolução, na época da Restauração, o total de alunos da França, não apenas os colégios católicos, era inferior a 70.000, era inferior ao número de alunos dos colégios católicos antes da Revolução. Que coisa, desastre! Desastre! E tudo isso mantido pela igreja.
As freiras não cobravam 13º salário, férias; estavam lá por amor a Deus. Então é justo que a igreja não pague imposto, porque se ela mantinha as escolas e mantinha os hospitais, orfanatos, asilos, etc., gratuitamente. E é muito melhor que a igreja cuide de hospitais e de obras de caridade do que o Estado, né? Claro! A situação atual, que ocorre em todo lugar do mundo, né, onde o Estado coloca a mão para administrar, se torna um desastre. Exato! No mínimo, uma ineficiência, quando não uma corrupção. O Brasil colônia também não era o Estado que cuidava dos
hospitais; era as Santas Casas de Misericórdia, que eram entidades privadas. Então, é muito inconveniente que o Estado tenha domínio sobre escola, hospital, tudo. Claro, exato. Ele vai fazer mal. Vai fazer mal. Exato. E fica como está hoje, né? A escola, na verdade, é um veículo de ideologia, de doutrinação, e a saúde é uma decadência. Quando, na verdade, isso não pode nem ser tratado como um negócio, né? A educação e a saúde como um meio de se ganhar dinheiro e nem ser do Estado. Aqui a solução é a igreja, né? Claro. E os corpos intermediários, associações
de caridade e tal, que sempre foram ligados à igreja, que no Brasil, as irmandades religiosas, ordens terceiras, casas de Misericórdia, como foi assim durante séculos, né? Exato. Então, essa era a situação da França, que era muito endividada. E aí o ministro das Finanças necer pede ao... sugere ao rei que convoque os Estados Gerais em 1788. E aqui foi já um grande erro, porque os Estados Gerais não eram convocados há 175 anos; nem se sabia como eles funcionavam. Então, precisou organizar eleições para que houvesse representantes. Os Estados Gerais, só para explicar brevemente, eram reuniões dos três
estados: o primeiro estado, que era o clero; o segundo estado, a nobreza; e o terceiro, o povo, que era meramente consultivo. Eles davam conselhos ao rei, não tinham... Era uma deliberação para dar um conselho. Não podiam tomar decisões, né? E os deputados da nobreza eram... Eles eram eleitos dentre os nobres. Qualquer nobre, ainda que não tivesse feudo, podia receber votos. No clero, já teve uma malandragem: no clero, todo padre tinha um voto para eleger o deputado." Do clero, todo bispo tinha um voto. Então, já era, já tinha igualdade, já estava com igualito. Depois, cada convento,
não importando a quantidade de meses, tinha um voto; e no cabido, né, do cabido, ah, de cada 20, tinha um voto, né? Então, resultado: a grande maioria foi eleita entre os padres. Os padres, nessa época, eram grandes leitores da enciclopédia de Rousseau, de todos os iluministas. Os padres ainda estavam muito contaminados pelas ideias revolucionárias, e os nobres também, né? Os nobres, muito, pior ainda. Luís XV teve uma educação dietista; ele tinha mais ideias, tinha ideias revolucionárias e era uma pessoa de personalidade muito indecisa. Né? Uma pessoa, eh, muito pouco ativa, então ele custava a tomar
uma decisão, e quando tomava uma decisão, não queria jamais voltar atrás para não ter que decidir de novo; para ele, decidir era um sofrimento. Eh, mas ele tinha umas ideias. Marcelo, ele, por exemplo, por causa de toda a formação que ele teve, ele não queria usar o poder. Então, isso vai se verificar na Revolução Francesa inúmeras vezes. Eu falei, por exemplo, dos ataques de setembro de 92. Eh, os guardas suíços queriam defender o rei, e ele proibiu; ele cedeu à revolução inteira. Eh Maria Antonieta, a rainha, não, essa tinha muita personalidade, mas ela não era
o rei, né? Ela era muito odiada pelos revolucionários porque era o exemplo vivo de que não há igualdade entre os homens. Era uma pessoa de muita personalidade; ela era austríaca. Quando ela veio para a França para se casar com Luís XV, ela veio vestida de alemã. Fizeram, havia uma ilha no Reno, e fizeram uma tenda para ela se trocar. Ela colocou roupas francesas e, quando saiu, saiu vestida de francesa. Vieram falar com ela, falaram com ela em alemão. Ela respondeu em francês e disse: "De agora em diante, eu sou francesa." Então, ela era uma pessoa...
Mais de uma vez foram para matá-la no Versalhes. Ela saía para a tribuna, e o povo que vinha para matá-la aplaudia, gritava "Viva a rainha" e saía encantado. Era uma pessoa de fato popular, de muita, muita, muita popularidade e muita personalidade. Comenta um pouco daquela história ridícula do "não tem pão, que se tor mais rico." Bom, primeiro, a questão da falta de pão foi fabricada. Eh, pelo Necker. O Necker fazia com que o trigo que vinha para Paris ficasse indo de um lugar para outro, sem nunca entrar na cidade, até apodrecer. E depois o Ductor
Léans, o primo do Rei, Fip Felipe Galit, vai mudar o seu nome para Felipe Galit, que votou pela morte do Rei, do Rei traidor. Esse é um dos maiores traidores; esse sim. E até os próprios revolucionários não acreditavam quando ele votou a morte do primo. Então, ele contratava bandidos, e esses bandidos, então, fechavam as vias que chegavam a Paris para impedir que o trigo chegasse. Então houve falta de trigo, mas uma falta de trigo proposital, proposital, era problema de produção, exato. E aí inventaram essa questão que Maria Antonieta teria dito "se não tem pão que
comam brioche". O que é uma conversa, né? E, porque, a falta de pão, como eu disse, foi fabricada. Falando do Felipe Galit, tem uma coisa curiosa: ele pagava um padre, esse Padre Chad, padre Sies, que foi um dos maiores oradores da revolução. Foi o único grande revolucionário que morreu de velhice. Ele passou por tudo; ele era uma espécie de taleiro que passou por tudo, exato. E, esse padre falava muito bem, etc. Ele escreveu um livro. Eh, ele, embora padre, foi eleito deputado pelos Estados Gerais, pelo terceiro estado, no começo da revolução. Ele era de uma
paróquia da periferia de Paris, mas era uma pessoa muito competente. Ele escreveu um livro: "O que é o terceiro estado?" Nesse livro é importantíssimo até hoje, justamente, para embasar o Estado Moderno constitucional. Então, ele dizia: "O que é o terceiro estado? Tudo o que ele tem sido até agora: nada. O que ele pretende ser: alguma coisa." Né? Agora, o que é interessante é que ele sempre se opôs aos privilégios e aos títulos de nobreza. Se opôs à revolução toda. Na época de Napoleão, ele apoiou Napoleão, e Napoleão deu um título de nobreza para ele. Parecem
nossos deputados, né? Exato. E o que é curioso, Marcelo, nesse início da revolução, havia um padre chamado Morri, que foi o grande antirrevolucionário, o grande defensor. Ele falava muito bem, debatia, brigava com os revolucionários, discutia com Tairan. Quando o Tairan propôs que os bens da Igreja deviam ser nacionalizados, ele falou: "Isso aqui vai ser o fim de todo direito de propriedade." Quer dizer, muito acertadamente. Então, foi um grande defensor dos direitos da Igreja, etc. O padre Morri vai depois ficar também pró-Napoleão. Então, vejam só: o padre da esquerda e da direita, os dois apoiam Napoleão.
Quer dizer, Napoleão foi quem soube, de fato, fazer a revolução triunfar, porque ele uniu até os vandeanos. Se tiver um tempo no final, eu falo, mas até os vandeanos vão apoiá-lo no final. Aliás, comenta um pouco sobre a direita e a esquerda, que lá surgiu na Revolução Francesa. Surgiu na Revolução Francesa, exato. A Revolução Francesa é um grande laboratório da sociedade moderna, né? Foi um dos grandes curtos circuitos, né? Para usar a expressão que o professor Orlando usava. Eh, ela, de fato, uniu as duas maçonarias: a esquerda e a direita. No livro, a professora Laura
escreveu. A aplicação histórica, né? É uma parte do livro que o professor André acabou sempre ficando de escrever, mas que escreveu e morreu antes. A Laura, então, baseando-se em aulas do professor André, escreveu. Ela trata da Revolução Francesa. Deixa eu apontar aqui para a câmera, por favor. É esse livro, que é imprescindível, importantíssimo, imprescindível para se conhecer história. É esse livro aqui, que é obrigatório. Está em promoção, né? Está em promoção até amanhã, festa de Nossa Senhora do Carmo. Ele está em promoção, acho que a descrição está aqui na... Espero que apareça aqui na live,
aqui embaixo, na descrição. É obrigatório esse livro. Então, essa parte final, onde a Laura traz a aplicação histórica, quando ela trata da Revolução Francesa, ela vai falar justamente daquela reunião que teve na Alemanha em 1782 para unir as maçonarias. É engraçado que essa reunião foi presidida pelo Duque de Brunswick, que depois, na batalha de 1792, na batalha de Valmy, é ele que recua as tropas austríacas. É a mesma figura, quer dizer, é um grande maçom. A Revolução Francesa é, por isso, um curto-circuito. Ela foi feita pela maçonaria de direita: a mística e a racionalista. Ela
unia, ela não era... Não é só um movimento dos iluministas. Os iluministas aqui vão ter uma grande proeminência e nos levam erroneamente a achar que ela era um movimento meramente racionalista. Não! Prova disso é Rousseau, né? Está atendo à capa do livro lá. Rousseau, ele era romântico, né? Ora, Victor Hugo diz que o romantismo é o liberalismo na arte. Portanto, o romantismo é liberal e o liberalismo é a doutrina da Revolução Francesa. Robespierre adorava Rousseau, Napoleão adorava Rousseau, Marx era muito em Rousseau. É um homem cardeal que fez tanto. Robespierre escreveu discurso para na Câmara,
foi até a casa de Rousseau para escrever lá. Não é impressionante, né? Então, ele era um romântico, portanto, um irracionalista contra a razão e que vai ter muito peso na Revolução Francesa. A revolução teve as duas correntes, né? Lembrando que o lema "igualdade, fraternidade" era da maçonaria, exatamente porque, justamente, a liberdade do romantismo, né, e a igualdade e a fraternidade do racionalismo. Já o lema é uma união das duas correntes. Então, no começo da revolução, a impressão que se tem é que eles estão muito unidos, que só há uma corrente. Isso não é verdade. Eles
se uniram por um objetivo comum, que era atacar a Igreja. Esse era o primeiro objetivo da Revolução Francesa. O segundo era acabar com o rei, tirar a monarquia e implementar uma república. No começo, se pensava pouco em república; isso vai começar a ser falado mais depois da fuga de Varennes. Mas, à medida que os inimigos em comum vão sendo superados e eliminados, as diferenças entre as correntes começam a aparecer. E aí, os girondinos e os jacobinos começam a se degladiar, né? Então, aqui, para responder à questão que o Marcelo trouxe, quando na Assembleia Legislativa, quando
a França, a revolução acaba de fazer a constituição e elege novos deputados para fazer as leis, na hora que os deputados eleitos foram se posicionar e se agrupar de acordo com as suas posições ideológicas, né, aqueles que eram mais de esquerda, que eram os jacobinos, eles subiram para o lado esquerdo da tribuna e ficaram no alto. Então, eles eram chamados de montanha, porque ficavam no alto, né? À esquerda deles, havia os jacobinos mais radicais, que eram os "sans-culottes", que eram a esquerda da esquerda. À direita ficaram os girondinos, que eram revolucionários. Não é que eles
tinham posições more... boas, mas eles achavam que a Revolução já tinha cumprido seu papel; ela deveria parar onde estava. Os jacobinos, não! Eles queriam ir além, eles eram comunistas, né? Nós vamos ter alguns revolucionários comunistas já durante a Revolução. Exatamente comunistas. E havia uma massa chamada "planície" que ficava no centro e, por deboche, por desprezo, chamava-os de "o ventre", que eram os deputados que tinham uma posição mais conservadora, mais mediana, e tendiam um pouco aos girondinos. Mas, depois, com o terror que os jacobinos vão fazer, à esquerda, eles vão ficar com medo e vão ter
medo de se opor à esquerda. Então, a nomenclatura esquerda e direita vem de uma questão meramente... Alguns iam sentar do lado direito, para ficar longe de Marat, que era um figura tão asquerosa. Ele tinha uma doença de pele, coitado. Às vezes, não é que tenha isso aí, não é de maior importância, mas, no caso dele, acabava simbolizando bem como ele estava na sujeira moral. Então, ele era obrigado a tomar banhos e usava um pano enrolado na cabeça. Uma pessoa que, então, cheirava mal. Então, as pessoas queriam se afastar dele. Então, por conta disso, ficaram do
outro lado e, acabou, então, por conta disso, tendo a divisão que a gente tem até hoje, né? Esquerda e direita. Mas aqui é importante a gente saber que é uma questão meramente relativa. Os partidos... Isso é um fenômeno que você verificou na Revolução. As novas facções revolucionárias sempre iam surgindo à esquerda das atuais. Então, fazia com que quem era a esquerda ontem, amanhã fosse centro, depois de amanhã fosse direita. É o que a gente chamou de janela de Overton, né? Vai andando. Andou muito! Hoje também, posições que hoje são tidas como conservadoras, antigamente eram de...
Extrema esquerda, exato. E a gente vê nos partidos políticos isso, né? Pega o PSDB, por exemplo, que era a esquerda do PMDB, que já era o MDB, né? Quer dizer, e agora, exato, mas o PSDB eu já te digo como centro. Então, quer dizer, essa aqui é uma falácia que é importante a gente conhecer para não se deixar iludir, né, por essa falácia de esquerda e direita, etc. Muito bom. Quer comentar dos três lemas ou quer passar para a Vandia, Marcelo? Tô aqui à sua disposição. Então, comenta um pouco aí do mito da soberania popular,
por que essa ideia de liberdade defendida pela revolução tá errada e tal. Exato. Bom, para conhecer bem o que é liberdade, o Papa Leão XIII tem uma encíclica chamada Libertas, que é fundamental, né? Onde ele se baseia em São Tomás de Aquino, e ele vai explicar, então, o que é a liberdade. A liberdade é um dom que foi dado por Deus, portanto é algo bom, mas que a liberdade, justamente correta, é aquela que se dá quando a vontade está sujeita à inteligência. Primeiro, a inteligência compreende o que é bom. Então, compreendo que a água -
eu tenho sede e compreendo que a água é um bem, né? Se eu soubesse que aqui tem veneno, ainda que eu tivesse sede, eu não ia querer beber, né? Porque a minha inteligência não vê o veneno, mas eu sabendo que aqui tem veneno, eu não quero beber. Então, primeiro a inteligência compreende o bem e apresenta este bem para a vontade, e a vontade, então, vai desejá-lo. Esse é o processo natural. A inversão, que é primeiro querer e depois justificar a vontade, é que é próprio de quem não é livre, porque o que o homem tem
que lhe é mais próprio, mais nobre, é a inteligência. Se ele vai se deixar guiar pela vontade desprovida de razão, ele não é um homem livre. Interessante que Aristóteles tinha comentado em termos parecidos, né? Você vê que uma pessoa inteligente chega à mesma conclusão: a liberdade é a escolha do melhor, depois de uma reflexão; ou seja, coloca na razão, não na vontade. Exato. Exatamente. É por isso que nosso Senhor diz que quem peca é escravo do pecado, porque ele está fazendo algo que é um império da vontade contra a razão. Então, quem peca é escravo
do pecado. A questão da liberdade aqui, posto essa breve explicação, né? Isso aqui foi colocado na Revolução Francesa como lemas, como dogmas. Então, até na prefeitura de Tours, na capital da Aquitânia, tá colocado um lema: "Liberté, égalité, fraternité". Quer dizer, liberdade ou a morte. Quer dizer, complicado. Então, a liberdade, que era mal compreendida, né, e acabou virando uma espécie de talismã que encantava as pessoas, mas as pessoas não tinham liberdade nenhuma durante a Revolução Francesa. Então, quando foi ter as eleições da Convenção em 1792, de 7 milhões de eleitores que a França tinha, só 700.000
foram votar, de medo. E quando eles chegavam, o voto tinha que ser dado em público, não era um papel pessoal; tinha que chegar lá e "eu voto em tal fulano". E dentro da sala onde eles votavam, ficavam andando os bandidos para encorajá-los, né, a votar certinho. E quando eles estavam saindo, carroças cobertas de cadáveres, com sangue todo escorrendo pelas ruas. Então, quer dizer, até tem um autor que tem uma obra dele em português chamada Pierre Gachot, mas ele é um autor que a gente tem que olhar com cuidado, porque ele foi morciano. Mas ele diz,
quando narra esse fato, ele fala tal foi a maneira em que o povo soberano foi chamado a exercer a sua soberania. Então, quer dizer, não tinha liberdade alguma. Não tinha liberdade alguma, né, depois do que fizeram com a Igreja, igual às revoluções soviéticas e cubanas, né? Exato. A mesma lógica. Então, aqui, eles não tinham liberdade para votar. Depois, a igualdade é outra falácia, né? A igualdade, já tratamos muito sobre isso, né? Os homens são iguais em natureza e são desiguais nos seus acidentes. Deus fez tudo com desigualdade. A gente não vê numa árvore, na mesma
árvore, duas folhas iguais. Então, tudo Deus fez com hierarquia. Não ia ser o homem, homem queria fazer com igualdade. O homem seria igual em natureza e diferente em acidente; seria, então, é semelhante, não é igual. Os direitos que decorrem da natureza humana vão ser iguais, por exemplo, o direito à vida, né? Direito à vida, todos têm. Todos têm direito a se casar, todos têm direito a saber a verdade. Agora, os direitos que decorrem dos acidentes não podem ser iguais, portanto, os homens não são iguais. E na Revolução Francesa, a igualdade gera desorganização, né, já que
a ordem pressupõe desigualdade, né? É impossível ordenar iguais. Ordenar coisa igual não dá. Exatamente. Você não consegue montar um motor de carro com peças iguais, não peças idênticas. Exato. Mesmo corpo humano, cada órgão tem a sua função. Na sociedade, também é assim; a sociedade é como se fosse um organismo. Ah, então isso também é uma falácia, né? E interessante ver o que se falava tanto em liberdade e o que foi feito com a Igreja, né? A Revolução Francesa, assim, primeiro que a Revolução foi um golpe. Os deputados foram convocados para os Estados Gerais para aconselhar
o rei, e 45 dias depois eles se declaram uma assembleia constituinte. É um golpe, foi um golpe de Estado. Eles não foram eleitos para isso, né? E aí resolveram fazer uma constituição para a nação. Ah, e essa constituição tinha um... Capítulo que tratava da Igreja. Então, eles já haviam, em agosto de 89, já tinham suprimido os votos eclesiásticos. Imagina só, né? E teve também a Declaração dos Direitos do Homem. Ridículo, não? Ó, o nome: Declaração Universal dos Direitos do Homem, resolvida por um país só, pela França. A França vai impor uma declaração para o mundo.
Exato, exato. E depois que todos nascem iguais e são iguais perante a lei. Quer dizer, primeiro que, na prática, não eram, né? Iguais perante a lei. Exato, a gente vê isso no Brasil, vê isso em todos os lugares. Exatamente, não existe; uns são mais iguais que os outros. Exato, depois é mentira que nascemos todos iguais, né? Então, por exemplo, os seus filhos já nascem herdando um certo prestígio que você tem, claro, uma certa posição social, um conhecimento que você vai dar a eles, etc. Né? Então, é mentira que nascemos iguais totalmente. É mentira. É óbvio
que a pessoa, por exemplo, quando a Santa Joana d'Arc venceu os ingleses, depois o rei concedeu para a cidade de Domrémy, a cidade de onde ela nasceu, um privilégio que todos os habitantes de Domrémy não pagavam impostos. Tá justo, porque ela é filha, né? Então, quer dizer, é um prestígio e um direito conquistado por ela que beneficiou toda a sociedade. Então, isso aqui é de justiça, não tem nenhum absurdo nisso. O absurdo é essa desigualdade que a gente tem agora, que se fala em igualdade. E você veja, por exemplo, que tem os direitos, tem um
deputado, um ministro do Supremo, etc., que não podem nem ser criticados, né? E depois, vivendo como se fosse, tem os pachás da Pérsia, né? É a nomenclatura soviética, né? Me igualzinho que o Brasil agora, tem uma nomenclatura soviética. Exato, a desigualdade que tem entre eles e o povo hoje é que é grande e abusiva. Depois, você fala que Versailles... era que o rei foi para Versailles. Quem foi para Versailles foi Luís XIV, né? E no século XVI, que era para ficar distante do povo. Ora, Versailles é do lado de Paris. Longe é Brasília. Lado, é
claro, Brasília que é longe. Então, isso tudo são falácias que a propaganda coloca para enganar, né? Depois, qualquer pessoa tinha acesso ao rei, né? Isso aqui é uma grande propaganda, né? A questão da Igreja, eu insisto, Marcelo, porque pode parecer um absurdo, mas como é que uma constituição vai legislar sobre a Igreja? Então, havia um capítulo da Constituição francesa que chamava-se Constituição Civil do Clero, que legislava sobre a Igreja. Então, a França tinha, se não me engano, 132 dioceses, eram dioceses que vinham de tempos imemoriais. Pega para Lyon, no sul da França, né? Foi Santo
Irineu, foi bispo. Então, as divisões eram, até, anteriores à própria França, baseadas em história, em geografia, etc. A Revolução acabou com todas e instituiu 83 bispados que correspondiam aos departamentos franceses. A França... são todos artificiais também, completamente. Já a divisão dos departamentos é artificial porque não obedecia os critérios históricos, de costume, nada. E aí, os bispos, então, ficaram muitos bispos sem diocese. Depois, fizeram... 10 eram dessas 33 dioceses, 10 eram arquidioceses. Depois, para cada 10.000 habitantes haveria um padre, um cura. Olha que loucura! Uma coisa totalmente racionalista, arbitrária. Se uma paróquia ficava a... tinha menos
de três quartas de Léguas de comprimento o seu território, ela não precisava mais existir. Ou se ela estava a três quartas de Léguas de distância de uma cidade, também não precisava mais existir. Um absurdo! E depois, o bispo tinha que ser eleito pelo povo. Quem é que votava? Votavam os homens, homens a partir de 25 anos e que pagavam imposto. Não importa se era católico ou não. Depois, os católicos eram contrários à eleição dos bispos, então eles não iam votar. Quem ia votar? Os ateus e os judeus votavam nos piores, exato, e elegiam os bispos.
Então, isso aqui deu uma confusão enorme. O rei foi morto por causa disso, porque essa lei, quando foi feita, Constituição Civil do Clero, quando ela foi feita, não pegou ninguém deu importância a ela. Depois exigiram que se jurasse a Constituição Civil do Clero. Aí, aqui teve já uma divisão. 48% do clero francês jurou... Nas nos conventos que eram mais ricos, o número de traidores foi maior. Ah, que interessante! Nos conventos femininos, o número de gente que aderiu foi menor, as irmãs eram mais valentes e mais leais, né? Ah, mas aqui, então, isso aqui no começo,
Marcelo, passou um pouco em brancas nuvens. Depois, um deputado propôs que se jurasse fidelidade à Constituição Civil do Clero e o rei, o rei aprovando, hein? O rei aprovando... Esse juramento já vai ser um fiasco, porque a maioria do clero não jura. Isso aqui não. E aí, então, na França, você vai passar a ter duas igrejas. Você vai ter uma igreja oficial, ligada à Revolução, ligada ao Estado, que era chamada de padres juramentados e os padres refratários, que eram aqueles que não haviam jurado, que tinham ficado fiéis ao Papa. Esses vão ser perseguidos brutalmente, eles
perdem as paróquias, como a Revolução logo no começo tirou todo o patrimônio da Igreja para ele servir de lastro para a moeda que eles inventaram, chamada assiná. Então, o Estado, para compensar, entre aspas, né? Para poder ter o clero na mão, fez dos padres e bispos funcionários públicos. Então, eles recebiam... tinha um valor lá, o bispo recebia 20.000 libras por ano, um vigário 700, etc., por mês. Enfim, se eles recebiam o salário, ficavam na mão do Estado, né? Se o Estado pagar... Parava de pagar, eles passavam fome. Então, todos os bispos que eram fiéis ficaram
completamente clandestinos. Tiveram que fugir, viver escondidos. Alguns fugiram da França; outros resolveram ficar, rezavam missa onde podiam, em fazendas, em lugares escondidos. E o rei então tinha aprovado isso. Depois, quando vai começar a convenção, houve uma anistia. Mas, vendo que a questão da religião continuava, eles voltam a perseguir o clero. E é aqui então que o rei, nessa época, ele já estava preso. Ele vai mudar de confessor, e o confessor dele vai falar para ele: "Se o senhor aprovar isso aqui, o senhor vai para o inferno." E aí, isso foi decisivo. O rei mudar de
confessor foi importantíssimo, e ele então vai se converter na prisão. Ele vai começar a tomar medidas boas; ele não apoia a Constituição Civil do Clero. Por conta disso, ele vai a julgamento, e no dia 15 de janeiro de 93, Marcelo, houve um debate na Câmara para ver se os deputados votariam se o rei ia ter ou não direito a advogado de defesa. Que coisa impressionante, né? Isso é liberdade, igualdade e fraternidade. Quer ver? Qualquer criminoso na Idade Média tinha direito a advogado de defesa. Até o herge na Idade Média tinha esse direito. Então, votou-se se
o rei ia ter ou não direito. Alguns deputados disseram: "Olha, votar a morte do rei é uma coisa tremenda, hein? Vamos deixar isso aqui para o povo decidir. Então, não decidamos nós; façamos uma consulta popular.” Os deputados não aprovaram porque sabiam que se fosse para o povo decidir, o povo era favorável ao rei, contra Morá ao rei exato. E aí, o rei, depois, ele vai ser julgado. Como eu disse, no dia 15 deram a ele três advogados de defesa. Ele tentou contratar um quarto, mas, por medo, não aceitou. A defesa dele foi muito bem feita.
Por escrito, tinha uma parte na defesa em que os advogados colocaram um apelo um pouco mais sentimental para tentar tocar os deputados. O rei, quando leu, mandou tirar aquela parte; falou: "Não, eu não quero isso aqui; quero que você me dê só argumentos." E aí, então, o rei apresentou. Mas ele sabia que ia ser morto, né? Ele sabia que ia ser morto. Foram três votações. Depois que ele foi a defesa dele, a primeira era se o rei era culpado, e o rei foi então unanimemente considerado culpado, culpado dos crimes revolucionários, por exemplo, as mortes que
houve em agosto de 92, feitas pelos revolucionários. O rei nem estava nas Tulherias; o rei proibiu a Guarda Suíça de reagir, e a culpa foi do rei. Então, quer dizer, uma falcatrua como nunca houve, né? Depois, então, o rei foi considerado culpado. A segunda era se o povo deveria ser consultado, se a decisão dos deputados deveria ser submetida. Aí não. Aí não vale a democracia, vontade popular. Aliás, o Rob dizia: "A virtude é de poucos." Quer dizer que bandida. Esse aí é um cara de pau único, né? E depois qual seria a pena? Porque não
havia no código previsão para a punição do rei; era perder a coroa. Só a base jurídica é que você não pode ser condenado se não há previsão anterior. Pois, e perder a coroa, ele já havia perdido. Então, ia ser condenado a quê? E aí resolveram, no dia que foram votar, nesse dia lá que o Felipe Galit e os revolucionários disseram a ele: "Você não precisa vir. Nós fizemos aqui uma sondagem e a quantidade de votos suficientes para condenar o rei nós já temos." Ele respondeu: "Não, eu quero votar, eu quero votar." E aí, nesse dia
de manhã, ele, tomando café em casa, o filho dele perguntou: "Papá, hoje é a votação da morte do rei?" Ele falou: "Não, filho, fique tranquilo, eu não vou votar pela morte do rei." Falou para o filho. Quando chegou lá, ele subiu na tribuna, fez um discurso e disse que votava pela morte do rei. É uma coisa humilhante, assim, vergonhosa, né? E aí, então, o rei, no dia 21 de janeiro de 93, vai ser guilhotinado. No dia da morte dele, foi proibido em Paris as pessoas saírem de casa; não podia sequer ir à janela olhar. Olha
o medo que eles tinham do prestígio do rei! E quando o rei foi ser guilhotinado, ele ainda tentou dirigir umas palavras para as pessoas que estavam ali. Mandaram rufar os tambores para abafar a voz dele, e ele foi então guilhotinado, né? E então, quer dizer, essa é a fraternidade da revolução. Essa é a realidade da Revolução Francesa: é que não dá direito ao povo falar, né? E aqui, enfim, já talvez fazendo um gancho com a guerra na Vandia. Não, antes, vamos comentar um pouco do Robespierre, essa figura odiosa. O Robespierre era uma pessoa de uma
vaidade única. Ele era advogado, né? Era da região de, se não me engano, Arras; não me lembro agora. Ele andava sempre muito arrumado. Ele era o oposto do Danton, não do ponto de vista de moral, mas do ponto de vista de aprumado, né? E o Danton, que era um relaxadão, falava forte, alto, teve varíola quando criança, tinha o rosto todo marcado e ele sofreu duas chifradas de touro quando criança. Então, ele andava com a camisa para fora da calça; era um relaxadão já. O Robespierre, não: vaidoso, orgulhoso, andava sempre com buquê de flores na mão,
etc. Mas era uma pessoa muito limitada. Ele falava mal, ele tinha muita dificuldade em escrever os seus discursos. Ele sobre ele cresceu muito na Revolução. Ele era da ala Mística quando teve, em dezembro de 92, o culto a Deus, a razão. Aliás, isso aqui é uma coisa bem importante: a Revolução Francesa organizou dois cultos com uma distância de tempo muito curta entre um e outro — o culto a Deus, a razão, em dezembro de 92, dentro de Notre Dame de Paris, e acho que em maio de 93, o culto ao Ser Supremo. Teve os dois;
muita gente acha que é um só, mas foram dois. É exato! Então, o culto à Deusa Razão, que foi feito pelos srag, pelos jacobinos, organizou-se dentro de Notre Dame de Paris. Fizeram, com papel e madeira, uma montanha, porque como eles eram da montanha, né? Lembra que falei na esquerda? Eles ficavam habilitados de montanha e colocaram uma prostituta para ser a Deusa Razão. Eles cantavam uma música que dizia: "Nos altares de Maria nós colocamos a liberdade; como é que é? Nós colocamos a igualdade. A religião da Revolução é a Santa Igualdade". Alguma coisa assim. E saiu;
não ficou, foi contra, né? Esse culto à razão, que diziam que a única divindade era a razão humana. Ah, depois Robespierre vai fazer matar, vai fazer guilhotinar aqueles que organizaram o culto a Deus, a razão. Pouco tempo depois, ele já estava com um poder enorme na Revolução; ele dominou completamente a Convenção. Na época do terror, ele, o terror, foi uma fase da Revolução que tinha este nome. Não é? Os historiadores deram este nome quando estudaram: "Olha que causa terrível, isso aqui vamos chamar de terror." Não era o regime vigente, chamava-se terror, né? Ah, e aí
Robespierre vai, então, organizar um culto ao Ser Supremo, que vai ser, acho que, no Campo de Marte. E o Ser Supremo era uma estátua; tinha o rosto de Robespierre. Ele se achava Deus, exato! E quando os deputados foram incensá-lo, ele subiu até uma parte elevada que tinha, e ele foi para ser incensado. As pessoas odiavam ele. Houve uma... ele de tal maneira se achava o Messias que houve uma mulher, acho que de 80 anos, em Paris, uma mulher já idosa, que disse que estava grávida e daria à luz ao Messias, que era Robespierre. Que loucura!
Eu lembro do professor. Então, ele foi lá para assistir ao nascimento dele. Olha que loucura, né? Então, isso aqui, imagina! Ele era uma pessoa que, quando olhava para os deputados, eles ficavam com medo. Quando ele fez isso, ele caiu no ridículo e, poucos dias depois, ele já estava morto. Quando foram matá-lo, acertaram primeiro um golpe, que ia acertar a mandíbula dele; a mandíbula dele se deslocou. Então precisaram de um pano. Ele tentou se matar, né? Aí tentaram amarrar um pano, e ele foi guilhotinado. Morreu também Robespierre, né? Então, na Revolução Francesa era assim: quem estava...
hoje, Mirabeau, que foi um grande orador no começo da Revolução Francesa, que era um homem venal. Ele, quem pagava mais, ele apoiava; ele até ofereceu falar bem do rei, fez um acordo com o rei pro rei pagar e ele ia defender o rei, falando de muito princípio. É exato, os deputados eram assim naquela época. Hoje... hoje também não, isso não ocorre mais. Então, o Mirabeau também foi morto. Parece que foi envenenado. Eles eram... o Marat foi assassinado na banheira; foi assassinado na banheira, etc. Danton também. Então, ah, o rei, por conta da sua oposição à
constituição, claro, foi morto. E, justamente no começo da Revolução, as regiões que mais apoiaram a Revolução estavam a Vendéia e a Bretanha. Aí a gente... Exato! Eu vou falar um pouco como esse tema aqui, que foi muito recomendado pelo professor. Esses dois livros aqui, que nós estamos lançando, foram recomendados por ele. Esse também é de autoria dele, e vamos comentar um pouco sobre como que o professor Orlando falava da Revolução Francesa, né? Olha, com saudade do professor Orlando, de diversos aspectos, mas aqui, muito particularmente, a primeira vez que eu assisti um curso sobre a Revolução
Francesa com o professor Orlando, ele foi... Eu tinha conhecido ele há pouco tempo. Eu tinha 16 anos; foi em 91, ainda lá na sede da Monfor, lá no Cambuci. Então, ele dava os... depois ele deu um outro curso, já aqui na Vila Monumento. Eu tenho os cadernos, eu anotava isso aqui tudo na época, né. Eu tenho muita coisa anotada em casa; acho que teve muita coisa que eu depois... e tem os textos, outros não, porque ele fazia aqueles esquemas enormes de direita e esquerda. Você deitava o caderno assim, começava a... acabava a página, tinha que
ir para a outra, etc. E a coisa era de fato. Mas ele... O professor estudou Revolução Francesa, acho que durante 10 anos seguidos. Ele tinha uma biblioteca gigante! Esses livros aqui do Mignet, os livros que você está publicando, Marcel, que ele indicava, eram livros que ele tinha... tinha anotado. Eu tenho até um outro trecho de livros xerocados que ele dava para nós, tudo com anotações dele aqui nas laterais; ele anotava muito quando lia. E a Revolução, quando ele dava os cursos, ele dava com muita riqueza de detalhes. Era impressionante! Você tem ideia de quantos livros
ele leu sobre a Revolução? Ah, boa pergunta! Boa pergunta! Leu muitos; ele sabia detalhes inacreditáveis, né? Ele tinha livros que tinham os jornais da época. Então, ele citava, mas ele era um tema que ele citava com muita... Mas assim, ele citava o dia: "Isso aqui de manhã" e depois "tal outra hora aconteceu tal coisa". E foram assim... Foram assados. Ele conhecia muito. Ele... A fuga para... Varen ele leu o livro "Da Fuga da Varen". Ele dava isso com uma riqueza de detalhes, era uma aula impressionante, colorida. A última aula que eu tive com ele, antes
dele falecer, foi sobre a Guarda Suíça. Olha aí que ele também contava com riqueza de detalhes, sabia o nome dos líderes da Guarda Suíça. Tudo foi impressionante; ele, de fato, narrava isso com muita paixão. Acho que era o grande tema dele, era esse, né? Exato, acho que do ponto de vista histórico, era o grande tema que ele estudou muito, muito mesmo, e conhecia tudo. Era impressionante, ele conhecia todos os nomes, todas as datas, todos os eventos, etc. E a Revolução Francesa, e os cursos duravam meses; era uma aula por semana, duravam meses, meses, meses, meses.
Ele ia falando: "Agora vamos falar sobre isso, agora sobre aquilo", etc. Ele falava do ponto de vista histórico, do ponto de vista das ideias, dos princípios, etc., assim, sempre mostrando a razão que está por trás daquilo tudo. Nunca era só fatos para alimentar uma curiosidade; era uma riqueza de conhecimento invejável. Napoleão, ele sabia muito também, sabia muito das batalhas. Quando ele dava, eu tenho a batalha de Austerlitz toda anotada, pois uma vez ele deu para nós. Fantástico! Ele falava os horários, né? Porque Napoleão, na batalha de Austerlitz, deu os horários: "Falaram que a tal hora
eles estarão aqui, tal hora estarão ali, vocês vão fazer isso, e à tal hora vai acontecer tal coisa." E dito e feito! Então, foi uma vitória desse bandido, colossal. Mas o professor, enfim, conhecia a Revolução Francesa; era uma coisa impressionante. Ele tinha muitos livros, e ele mesmo dizia que havia poucos livros em português. Até bom você estar traduzindo isso, Marcelo, porque livro de Revolução Francesa em português tem muito pouco, muito pouco. É uma pobreza única, exato. E quando ele dava também sobre a Guerra da Vandia, que ele narrava, por exemplo, o Charette, a morte do
Charette, etc., como foi toda a história. Isso aqui é uma coisa empolgante! Eu me lembro bem; eu não tive ocasião de estar com ele em Nantes, no local onde o Charette morreu, mas amigos nossos que foram lá com ele disseram que foram até o lugar. O lugar hoje é um posto de gasolina, tem só uma marca no local onde o Charette foi fuzilado. E ele, então, contava tudo da cabeça, tudo de memória, etc. Era uma coisa muito singular. A memória do Professor Orlando e a capacidade dele de reter e de relacionar eram coisas espantosas, espantosas
mesmo! E tinha muito amor à verdade, né? O professor não tinha, assim, eu me lembro, já na velhice, ele leu um livro de Simão de Monfort, que ele admirava tanto, e viu que Simão de Monfort tinha algumas coisas ruins. E ele não ficou tentando esconder; falava: "Não, Simão de Monfort tem que ser bom porque...". Ele não escondia isso. Eu lembro dele comentando um dia, numa reunião: "Puxa, olha, Simão de Monfort, na véspera da Batalha de Mérieux, fez isso, isso e isso. Poxa, que pena!" Então, quer dizer, a mesma coisa, né? Ele tinha uma admiração enorme,
mas falava: "Não, não era bom!" Como é que muitas pessoas chegavam aqui, se casavam com as índias ou se amancebavam? Então, para ele, o certo era sempre certo e o errado era sempre errado. Carlos Magno também falava; era cheio de amantes. Como pode? Fez uma coisa boa, mas o que era ruim era ruim. Constantino tinha seus defeitos, não tinha ninguém que assim, que era... só que era assim; não tinha o que criticar. Ele não criticava, por exemplo, São Francisco de Assis. Aí não tem o que criticar; não tem criticar, exato. Então, fora isso, ele era
bem honesto, muito honesto intelectualmente. As coisas eram o que eram, exato. Isso até as brigas que ele teve na TFP decorrem disso, porque, como ele estudava, eles eram contra o estudo. Ele descobria, pelas críticas que ele fazia a Carlos Magno, a crítica que ele fazia a Corteza, etc., pegavam muito mal, porque era exatamente isso. E aí vinha o professor e estragava o sonho romântico deles, né? Então, isso tudo nós aprendemos com ele, não só a história, mas também como estudá-la, né? Com esse amor à verdade, simplesmente, e ponto final, né? E isso é uma coisa
que é importante nós levarmos. E agora, enfim, sobre Revolução Francesa, eu me lembro, por exemplo, quando ele fala da Vandia. Eram aulas cativantes, né? Ele contando a estratégia que eles usavam, como era o terreno. Então, vamos falar sobre a Vandia agora? Então, vamos falar da Vandia. Esse assunto eu gosto muito. E aí já mostra o livro também; eu trouxe aqui o livro para onde tem que mostrar, né? O livro do Charette, "A Vida do Charette", o livro do Lenotre. E esse livro é uma tradução também inédita. O Charette foi um dos heróis da Vandia, né?
Numa fase um pouco mais posterior, tinha lá seus defeitos; é importante dizer. Os primeiros chefes vandanes, esses até alguns tinham fama de santos, e esses aí eram de fato muito bons. Mas por que começou a guerra na Vandia? Se a Vandia era no começo da Revolução tão favorável à Revolução? Porque os padres eram favoráveis à Revolução; o povo era católico e seguia o que os padres diziam. Então, a Bretanha e a Vandia, que depois, olha só, tomaram em armas contra a Revolução, eram favoráveis à Revolução. Francesa, então quando começa a perseguição com a Constituição Civil
do clero que proibia o clero de obedecer a qualquer autoridade fora da França, portanto, não podia obedecer ao Papa, o Papa, né? A Revolução Francesa não dá tempo de dizer aqui, mas ela foi feita pelos jansenistas e pelos galicanos. A Constituição Civil do clero é exatamente os princípios jansenistas, igreja democrática, os princípios galicanos, que não pode ter a igreja da França regida pelo rei e não pelo Papa, etc. Os princípios são todos jansenistas, né? Uma igreja igualitária, sem culto aos santos, porque o culto aos santos é contra a igualdade, né? Então, as igrejas galicanas e
as igrejas jansenistas não podiam ter, não tinham imagem de santo; a missa era na língua do povo, porque tem que ter igualdade. Então, ah, quando o rei foi preso e depois foi morto, e já um pouco antes, em 92, quando a Revolução declara guerra às potências estrangeiras, ah, o rei, eh, aqui tem toda a questão da Batalha de Valmi, etc. Começa, então, se quer, se proclama, então, uma república, o rei é preso e depois o rei vai ser morto por causa dessa guerra. Ah, foram os deputados que declararam a nação em perigo, né? La Patrie
en danger. Portanto, todos os moços podiam ser convocados e, se convocados, tinham que ir para a guerra. Então, mandaram funcionários para a Vandéia para convocar os moços para a guerra, mas os moços eram contrários à Revolução, que tinha prendido o rei, e agora eles tinham que ir para a guerra por causa da Revolução, para lutar pela Revolução, né? E depois também chegou a notícia de que os funcionários públicos que iam lá convocá-los diziam: "Cidadão, tem que ir para a guerra, a França precisa de vocês." Esses estavam isentos do alistamento, é igualdade, né? Então, esses não
precisavam lá e eles ficaram furiosos. Aí deu uma briga; no dia da convocação já deu uma briga, houve algumas mortes, os revolucionários cortavam a orelha desses vandeanos e faziam uma roseta no paletó com a orelha deles, né? E aqui, então, isso começa a ter um levante e uma série de lugares da Vandéia e da Bretanha, com uma série de líderes, era um grupo diverso, né? Um deles foi o Catelin. Catelin não era nem nobre, era caixeiro-viajante; era uma pessoa que tinha uma carroça e que, portanto, percorria vários mercados. E, percorrendo vários mercados, ele sabia das
notícias. Então, todo lugar que ele chegava, as pessoas se aproximavam para ele contar o que estava acontecendo. Exato. Aliás, no Antigo Regime, as notícias eram divulgadas assim; havia lugares em Paris onde essas pessoas que davam as notícias. Então tinha um lugar que dava notícia só sobre economia e outro que dava notícia da corte, e eles nunca mentiam, só falavam a verdade, porque senão ficavam completamente desprestigiados, exato. Então, a pessoa queria saber uma informação sobre determinado assunto, ela ia naquele fulano e ele ia contar para ela. O Catelin era caixeiro-viajante, então ele comprava e vendia as
coisas; as pessoas encomendavam, e na próxima vez que ele passasse naquela aldeia ele trazia a encomenda, né? Ele levava coisas e ele dava as notícias. Ele era católico, muito contrário à Revolução, muito contrário, pai de família, acho que ele tinha cinco filhos, se não me engano, um deles bebê. E um dia um primo dele bate na casa dele e fala assim: "Olha, você não viu o que está acontecendo? Estão convocando os moços aqui da região para lutar na guerra; você tem que fazer alguma coisa." Isso, ah, o que não, não houve ele, entendeu? Ele era
fal… que tinha liderança. "Você tem que fazer isso." Ele imagina uma criança era de colo, recém-nascida; ele estava fazendo pão, estava com as mãos sujas de… Ele vai, limpa as mãos, se despede da esposa; a esposa chora e fala assim: "Mas os nossos filhos, o que será deles?" Ele fala assim: "Deus cuidará deles." E, de fato, ele não volta meses depois, ele é morto na Revolução. Ele tinha fama de santo. E o que é bonito, esses diversos grupos de católicos e camponeses, etc., que lutavam contra a Revolução, eles tinham uma série de lideranças locais. Muitas
vezes, eles iam até o castelo da região pedir para o nobre da região liderá-los. E houve um determinado momento, quando a guerra já estava bem avançada, que esses líderes se reuniam. E um deles propôs, falou: "Olha, é convém que tenhamos um líder. Cada um de nós vai continuar liderando suas tropas, mas nós precisamos ter uma liderança." Muitos deles, Marcelo, a maioria eram nobres e eles votaram no Catelin. Olha, e o Catelin ficou sendo o chefe de todo o exército vandeano. Chamava, como é?, armada real católica, etc. E aí, então, ele tinha forma de santo; era
um homem muito piedoso, sempre antes da batalha rezava muito, corajoso. Ele vai morrer, se não me engano, em junho de 92, e esses líderes vandeanos vão se sucedendo, né, porque morre um, morre outro, etc. E o que é interessante é que aqui, por exemplo, o que eles queriam simplesmente era ter a missa. O que eles queriam era ter a missa; a missa tinha sido proibida, mandavam um padre que era um padre juramentado. O padre juramentado eles não queriam, então quando nascia uma criança, eles não levavam para batizar, esperavam passar o padre que fosse um padre
refratário, fiel ao Papa, e correndo risco de vida, hein, correndo risco de vida. As missas eram escondidas, cada domingo em um lugar diferente; os padres ficavam escondidos, avisavam alguns garotos que passavam nas casas informando: "A missa, no domingo, vai ser tal hora, em tal lugar." E o povo se reunia, tinha a missa e dispersava rápido, né? Numa ocasião, o padre, rezando a missa, ele já tinha feito a consagração. Quando ele percebe que os revolucionários, ele estava numa espécie de era uma espécie de granja, né? Então, era um lugar coberto, mas ele percebe os vultos passando
na janela. E os revolucionários entraram rápido; ele não teve tempo de avisar os homens, como tinha tido a consagração. Estava todo mundo de joelhos e cabeça baixa. Então, o padre tentou consumir as hóstias, mas não conseguiu. Eles pegaram as hóstias e, aí então, foram saindo um por um do lugar. E eles iam matar um de cada vez. Alguns conseguiram fugir para chamar socorro. O padre ficou por último; pegaram o padre, as hóstias, e jogaram num chiqueiro com porcos. Jogaram lá dentro, bateram nele; ele tentava pegar as hóstias para salvá-las. Então, deram um golpe, deceparam os
dedos da mão dele, e aí ele se fingiu de morto. Os revolucionários foram embora. Quando chegou o socorro, esse aqui é até comovente: ele estava lutando com os porcos para evitar que eles consumissem as hóstias. Quer dizer, isso aqui é uma coisa tremenda. Isso aqui acontecia aos montes, viu? Se uma pessoa era pega com uma medalha de Nossa Senhora, toda a família era morta. Uma vez, chegaram os revolucionários numa casa e pegaram o catecismo. Então, chamaram o pai de família e falaram: “Você tem que queimar esse catecismo.” Ele falou: “Eu não queimo.” Pegaram o fogo,
colocaram a mão dele para queimar a mão dele, e a esposa dele vendo e falando: “Não ceda, deixa queimar sua mão.” Era gente assim. Então, eles eram gente que, no começo, não tinham armas; eles usavam foice, usavam enxada. Aos poucos, à medida que foram vencendo, eles iam conquistando as armas dos revolucionários. E eles também tinham vários lemas, né? Por exemplo, não podiam matar um soldado revolucionário que se entregasse. Então, eles eram ingênuos até; pediam: “Me dá sua palavra que você não vai voltar mais.” Aí ele falava: “Eu na hora, né? Ia embora.” E depois começaram
a descobrir que estavam pegando os mesmos soldados. Aí, ainda assim, não matavam; eles raspavam o cabelo, ficavam carecas. Quer dizer, mas foram, depois de alguns meses, voltar a ter cabelo, né? Mas pelo menos, naquele período, se pegassem um careca, eles matavam. Mas os revolucionários, não; quando pegavam os católicos, matavam. Eles fechavam a igreja, atacavam fogo na igreja, matavam todo mundo: homens, mulheres, velhos, crianças, etc. E os católicos não cederam. Eles conseguiram conquistar, foram até Nantes, tiveram vitórias enormes. Na convenção, os deputados desesperados, eles desesperados, falavam: “E agora, o que a gente faz?” Então, mandavam generais.
Mandaram um tal de Westerman; tentaram mandar um general, agora me fugiu o nome dele. Ele foi, depois, General de Napoleão; é um nome curto, agora me fugiu o nome dele. Ele negou; ele falou: “Eu sou general, não sou açougueiro.” Esse teve honra, né? Mas o Westerman foi. E aí, Marcelo, era morto. Eles pensavam: “Como é que a gente vai fazer? Porque precisava matar a Vandia inteira. Se formos matar fuzilando, nós teremos um gasto enorme com balas de fuzil. Olha o cálculo, hein?” Então, tiveram a ideia de envenenar as águas. Contrataram farmacêuticos para jogar veneno nas
águas. Só que o rio corria e, do outro lado, chegava numa área onde estavam os revolucionários que iam beber d'água. Então, eles viram que era o mesmo problema do gás na Primeira Guerra, né? Então, não dá para envenenar água. Então, vamos afogar. Então, eles faziam barcaças e, com o fundo móvel, só a lateral que era firme, enchiam de padres. Quando chegavam no meio do rio Loá, eles abriam o fundo. Os soldados ficavam na lateral, abriam o fundo do barco e os padres caíam. Os que não morriam, os soldados iam acertando com baionetas. E aí, eles
escreviam para Paris falando que, “ontem, afogamos não sei quantos padres no rio Loá. Os vandeanos reclamam que nós estamos fazendo eles morrerem de fome; pelo menos não vão poder dizer que estão morrendo de sede.” É uma coisa de uma crueldade, é uma crueldade brutal, né? E em Lyon, só para falar o modo como a Revolução matava, né? Tinham que matar tantas pessoas, reuniam as pessoas em praças, cercavam de canhões e atiravam com os canhões. E depois vinham com a baioneta para terminar de matar. Tinham que construir uma vala que ia até o rio para escorrer
o sangue. De tanto sangue, a Revolução Francesa matou gente a mais não poder. Qualquer pessoa que se opunha era morta. E na Vandia, então, que teve essa mortandade enorme, né? Eu falei do Westerman, né? Teve um outro general, agora me fugiu o nome dele, se eu lembrar, eu falo. Mas teve um que ficou louco; ele foi tão sanguinário que ficou louco, né? E mas não conseguiam vencer. E aí, então, vem a ordem de fazer as Colunas Infernais, que era, eles dividiam as tropas em colunas que vinham no sentido horizontal e vertical para varrer todo o
território da Vandia. Tudo tinha que matar todo mundo: os animais, as plantações, tinha que queimar, queimar os vilarejos, queimar tudo. Tudo que vivesse, salgar a terra para que nada nascesse, só deixar escolher um outro lugar, que deixar o pasto para os cavalos dos soldados revolucionários, mas tinha que acabar com tudo. Eles eram mais ou menos como Cartago, né? Chegar a salgar igual Cartago. Exato. Destruíram tudo. E, aí, depois, para encurtar a história, os vandeanos vão começar a ser derrotados aqui ou ali; não dava para vencer isso tudo, né? Ah, e aí o Charret vai entrar
em cena já nessa fase, numa fase em que os bandanos vão logo passar a... Ser derrotados, né? O Charret era uma pessoa de uma personalidade única. Quando houve a invasão das Tuileries, em Paris, ele, que era da Guarda do Rei Luiz XV, estava nas Tuileries. Hum... ele conseguiu escapar porque pegou o braço de um guarda suíço que tinha sido cortado; colocou o braço no ombro e saiu gritando como um louco. As pessoas ficavam espantadas com aquela cena, foram abrindo espaço, ele saiu e foi para Vendia. Ele provavelmente pensou: "Agora acabou, o rei acabou, acabou tudo."
Ele foi para o castelo dele e ficou lá escondido, escondido no seguinte sentido: ficou levando a vida dele. Quando os vendanos vão chamá-lo para liderá-los, ele nem sai. Eles começam a chamá-lo de Charret; ele fica quieto. Aí invadem a casa dele, ele se esconde embaixo da cama e encontram ele, exigindo que ele vá liderá-los. Aí ele sai e fala: "Mas tem uma condição, vocês têm que me obedecer." Ele era militar, tinha noção de estratégia, etc., e aí eles foram obedecê-lo. Na primeira batalha, todo mundo sai correndo porque os vendanos eram camponeses, não tinham técnica; o
barulho das armas já os deixava em pavor, né? E ele, então, não sabia o que fazer porque, quando decidiu ir para a guerra, falou: "Eu só volto para casa quando o rei estiver restabelecido." Ele dava muita importância a isso, por isso ficou até o fim. Uma hora ele falou assim: "Quem quiser ir embora, vá. Eu vou continuar porque eu dei minha palavra." Então ele não voltou atrás. Quando viu aquele desastre, ele falou: "Vou ensinar esse povo a lutar." E ele foi; de fato, ele virou uma lenda, Marcelo, porque começou a ganhar todas as batalhas. Os
soldados não perdiam uma; ele era muito corajoso e ágil, aparecia em vários lugares, desaparecia, etc. Nunca conseguia. Surgiam notícias de que ele havia sido preso, mas ele nunca era preso, andava quilômetros, indo para cá e para lá, etc. A cabeça dele era premium, hein? Ele chega a assinar um acordo, propõe um acordo, negocia e assina um acordo com os revolucionários. Depois, os revolucionários traíram o acordo. Ele dizia, né: "Enquanto a Charret tiver uma roda, ela vai rodar." E ele tinha um lema muito bonito que eu gosto muito. O lema dele dizia: "Combati, bati, por fim,
abati. Combati, sempre ser atingido, né? Ser batido algumas vezes, abatido nunca." E aí, depois, quando ele já estava ficando muito sozinho, com poucos homens, ele é ferido e ainda consegue fugir. Ele se esconde numa casa; dão um abrigo para ele, mas depois os revolucionários chegam e ameaçam a família, começam a torturar. Aí ele ouve e fala: "Não, não, tá certo isso aí", e se entrega. Aliás, estou confundindo. Ele foi ferido, ele foi pego em campo de batalha; o soldado que o prendeu não acreditava: "Você é um Charret?" Ele tirou o chapéu e falou: "Sou eu
mesmo." E aí ele vai ser preso, vai ficar preso em Nantes um tempo. Queria muito se confessar e fala: "Tá bom, você quer se confessar? Vai vir um padre juramentado." Ele falou: "Não, eu queria um padre fiel." "Não, não." Ele resistiu, resistiu, mas depois, como não tinha jeito, veio um padre juramentado. Ele se confessou com o padre. Lamentado, a irmã dele um dia veio visitá-lo e falou: "Olha, o padre tal, que é nosso amigo e não é juramentado, quando você sair daqui, você vai ser executado em tal praça; o cortejo vai passar por tal rua.
Há uma casa de esquina; na janela, em tal andar, vai estar uma pessoa com um lenço branco. Esse é o padre. Olhe para ele, que ele vai te dar a absolvição." E então o Charret dormiu bem à noite, na noite que precedeu a execução, dormiu tranquilamente, acordou com fome, pediu comida, comeu. Depois ele saiu, preocupado, ele estava com o braço ferido, né, desse ferimento, então tinha uma tipoia. Ele procurou ainda o padre, viu o padre, recebeu a absolvição. Quando chegou na praça, eram muitos soldados formando uma espécie de "u", com os oficiais no centro e
o local à distância onde ele devia ir para ser fuzilado. Marcelo, parecia que ia, ó, daqui a pouco você viu um jantar. Ele estava tranquilo, levantou-se, foi até os oficiais, ficou conversando com eles abundantemente; estavam fumando. Ele pediu para fumar, fumou, ficou conversando o tempo que quis. Depois indicaram onde ele tinha que ir, ele foi até o local. Aí iam vendo, né, o que faz com ele, falou: "Não, não." E aí ele falou para o soldado: "Olha, eu queria dar a ordem de fogo aos soldados." O oficial não sabia o que fazer, foi falar com
o oficial. O oficial falou: "Deixa ele." Então, tirou a tipoia, deixou o braço, estendeu o peito. E aí o padre estava lá; ele ainda conversou alguma coisa com o padre, acho que ainda se confessou. Aí, depois, se viu que ele estava rezando. E aí deu a ordem de fogo. Então estava um silêncio enorme e, de repente, vários tiros, né? Quando passaram os tiros, ele estava de pé, ele vai tateando. Tateando, tateando, e deita no chão. Aí chega o oficial, chega o soldado para ver se precisa de um tiro de misericórdia. Não precisava, ele estava morto;
quer dizer, um homem que morreu com uma grandeza única. Aí foi, depois, jogado em uma vala. Chamaram um profissional para tirar a máscara mortuária dele, né? E jogaram ele em uma vala comum. Imagina, Marcelo! E jogaram numa vala comum. Dois dias depois, os soldados batem na casa do fulano que fez a máscara mortuária e falam assim: "Cadê o corpo do charrete? Vocês roubaram o corpo dele." Ele falou assim: "Imagina, foi jogar na vala comum." "Não, não! Vocês pegaram o corpo dele!" "Sim, falou então. Aí, fala para... Escuta aqui, você vai ter que descer lá na
vala e pegar o corpo dele. Se não tiver lá, você tá morto!" Tiveram que descer. Estavam lá há dois dias, já tinham outros corpos por cima. Marcelo, ele teve que remover cadáveres para encontrar o charrete. E aí conseguiu escapar vivo! Olha que brutalidade a revolução! Eu não sei quanto tempo a gente ainda tem, mas eu, porque tudo isso aqui vai ter um fim, né? Afinal de contas, a Revolução Francesa venceu, né? A sociedade atual vem da Revolução Francesa. É isso, é tão forte que até a roupa que usamos, a calça pantalona, é dos sans-culottes. Aqui,
nós temos constituição, deputados... Esse regime mesmo republicano por causa da Revolução Francesa, né? Então, isso aqui não é uma história de 200 anos atrás, da França, que não nos toca. Então, isso aqui... como é que isso tudo aconteceu? Porque depois da Convenção, quando vem o Diretório, etc., a revolução foi perdendo o prestígio, porque era muito sangue, era muita corrupção. Então, houve uma reação dos monarquistas. Os monarquistas andavam na rua com um porrete para bater nos revolucionários, e esse porrete chamava de Poder Executivo. Então, quer dizer, a revolução estava perdendo. Estava no... né? Estava perdendo. E
aí, Napoleão, que salvou a revolução. Que salvou a revolução! Sabido, né? Ele tinha ido para o Egito; ele não sujou as mãos de sangue francês. Quando foi ter o sangue, ele foi embora, ficou no Egito. Quando ele volta... e aí ele vai! Ele era um general como acho que nunca houve na história, e então ele vai fazer guerra. O Napoleão tem um prestígio na França até hoje, né? Entre todos, é exatamente assim: ele tá lá no panteão, ele é, de fato, uma pessoa que os franceses admiram. E ele vai, então, fazer uma guerra contra toda
a Europa. E, por incrível que pareça, a França enfraquecida, depois de 10 anos de revolução, dividida, vai conseguir ter vitórias estupendas, né? Vitórias contra os austríacos, vitória contra os prussianos, vitórias... vitórias uma atrás da outra, uma mais espetacular que a outra. Ele teve a ideia de invadir a Inglaterra, não conseguiu, mas ele fez o bloqueio continental. E vai até a Espanha, né? E vai até Portugal, né? No caso, a família real, Dom João VI, vem para cá por conta disso. Aliás, o que ele dizia: "O único rei que me vencer é o..." né? João deu
um olé em Napoleão. E então, esse homem, que era um baita controlador, ele dizia: "Se eu olhar para o meu relógio, se a lição de Latim que tá sendo dada em todas as escolas da França..." né? Ele começa sendo cônsul. Aliás, o poder era um triunvirato, né? Eram três cônsules, um era o padre, seis, que depois os dois vão abdicar, e Napoleão fica sendo o único cônsul da França. E depois vai fazer o império, vai ficar imperador, né? Ele tinha muita liderança. Uma vez, ele estava voltando da campanha fracassada da Rússia, no inverno tremendo, né?
Morreram... o rio Berezina, acho que dez anos depois ainda tiravam cadáveres do fundo do rio. Então era uma coisa brutal. E ele... ele estava no cavalo. Ele olha para um dos soldados que vem no frio e ele fala assim, conversando: "Vocês têm frio?" Falou assim: "Meu General, só em olhar para o Senhor eu já me aqueço." Ele tinha um prestígio. A volta dele foi inacreditável, inacreditável! Parece coisa de ficção, né? E ele era a revolução a cavalo! Era ele. Ele fez o Código Napoleônico. O Código Napoleônico que ele implementava era a revolução, e a revolução
aí vai pegar na Europa toda por causa de Napoleão. E Napoleão, então, soube unir a direita. O padre Mori e o padre Seis ficaram favoráveis; o padre Mori ficou contra, o padre Vio contra o Papa, quando o Papa estava brigando com Napoleão e apoiou Napoleão. Então, Napoleão, que era muito sabido, quando ele subiu ao poder, ele mandou voltar à missa. Claro, os revolucionários não entendiam. Ele falava pros revolucionários: "Vocês não entendem nada!" Mandou limpar as igrejas, chamar os padres. Quando ele foi visitar a Espanha, na volta da Espanha, ele quis voltar pela Vendée e ele
dizia: "Quando eu passar pelas aldeias, a partir do momento que o meu cortejo entrar na aldeia até a hora que nós saímos do outro lado, eu quero que os sinos toquem continuamente." Ora, os sinos foram proibidos durante toda a revolução. Napoleão volta, vista volta, sino, etc. Ele chegou na Vendée e ele chamava os moços que tinham lutado contra a revolução e falava: "Me conta a sua história!" Olha isso aqui, Marcelo, os moços ficavam encantados. E aí ele ouvia as histórias e ele fala: depois ele pegou desse conjunto de histórias as dez mais relevantes e falou:
"A França precisa conhecer essa história. Venham comigo para Paris." Chegou lá na Câmara dos Deputados e fez os dez contar. A história deles depois de Napoleão criou uma unidade no Exército napoleão de Vandeano com o comandante vandeano, e ele dizia: “eles deram a vida para combater a revolução, agora eles dão a vida para difundir a Revolução”. Nas minhas linhas, nas minhas tropas, quer dizer, é um homem genial, genial do mal, mas genial do mal. Ele fez uma concordata com o Papa; essa concordata que Napoleão fez com o Papa vigorou até o começo do século XX,
quando a França ficou Estado laico. Ele impôs ao Papa, não é que ele negociou uma concordata, ele impôs. Ele tratava o Papa Pio XII brutalmente, pois raptou o Papa, né? E foi castigado por isso, né? Foi excomungado e foi castigado. A derrota dele na Rússia se deve a isso, mas era um homem genial que passou a perna em todo mundo. Depois, quando ele foi para Santa Helena, Marcelo, ele dava aula de catecismo para as crianças. Ele tinha uma preocupação com a biografia; ele não acreditava em coisa nenhuma, não acreditava em nada, mas ele dava aula
de catecismo para as crianças. Quer dizer, um homem preocupado em 200, 300 anos depois da morte dele e fez a Revolução triunfar. A Revolução Francesa triunfou em boa parte por conta de Napoleão Bonaparte, sem dúvida. Então, a Revolução Francesa foi uma coisa, de fato, importantíssima e, infelizmente, tão pouco divulgada. Marcelo, se tem um fato histórico que é divulgado à avessas, é a Revolução Francesa. É mesmo uma coisa assim. Você começou perguntando o que me ensinaram quando era garoto; a ideia que eu tinha de Revolução Francesa, como eu tenho ideia que muitos que nunca estudaram a
revolução seriamente têm, é exatamente isso: era o rei e a nobreza cheios de privilégios, riquezas e ociosidade, e o povo sofrendo. Isso nunca existiu, né? Havia, claro, uma crise na nobreza, né? Porque estamos falando aqui do absolutismo. Não era Idade Média; depois, Luís XIV acabou com a nobreza. Aliás, parte da nobreza ficou revolucionária, ficou favorável às ideias da Revolução por conta disso, porque os nobres foram transformados em meros bibelos, não tinham função alguma, exatamente. Então, isso aqui para eles era uma vida de ócio e uma vida sem nenhum propósito. Então, eles vão ficar contrários ao
absolutismo, vão ficar contrários ao Rei por conta disso, né? Há muitos nobres; falamos aqui do Duque de Orleans; eles eram revolucionários, né? Então, a revolução não é uma coisa que veio do povo; muito pelo contrário. Foi uma coisa muito cuidadosamente planejada. Só para você ter uma ideia, na enciclopédia, muitos assinantes da enciclopédia, que era a lista dos assinantes, eram padres. Os padres liam, né? Pois havia uma organização maçônica enorme pela França. Quando vai ter os Estados Gerais, o povo foi consultado; eles tinham que mandar sugestões para os Estados Gerais. Então, se reuniam em todas as
cidades e aldeias da França, o povo se reunia para escrever sugestões para mandar para o rei. Então, o Duque de Orleans pagou o padre para escrever uns cadernos com o modelo do que devia pedir para o rei, para ajudar. Então, os cadernos já vinham pré-fabricados. Mas quem ia escrever isso? Muitos daqueles camponeses não estavam habituados a esse tipo de reunião, né? Ou muitos não sabiam escrever, etc. Então, o maçom da aldeia era o advogado que tinha lá, o médico, e falava: "Poxa, estou acostumado a esse tipo de coisa por causa das reuniões das lojas maçônicas.
Vocês não querem que eu escreva?" Então, ficava ainda bem que tinha quem escrevesse. Alguns desses cadernos de consulta aos camponeses tinham citações latinas, tinham citações de filósofos; imagina que aquilo foi feito pelo povo, nunca. Alguns eram autênticos, mas o que eles pediam? Pediam a reforma da estrada que passava, uma ponte, e alguns pediam para ter menos impostos, né? Pediam a questão tributária. Ninguém pediu para derrubar o rei, parar as leis, mas aqui nem de longe eram monarquistas. Eles eram monarquistas. Imaginem, quando o rei foi morto, teve gente que morreu do coração com a notícia, quando
soube que o rei havia sido morto. Então, o rei tinha uma popularidade enorme na França. Ninguém queria o fim da monarquia. O que se fez ali foi se aproveitar de uma situação circunstancial, que era um problema administrativo na França: um rei fraco, que era Luís XV, ainda assim com más ideias, etc. Mas se o Luís XV tivesse um pouquinho mais de pulso, não teria tido Revolução Francesa; ele teria liquidado aquilo ali. Porque, quando começaram os Estados Gerais, Necker sugeriu que a quantidade de deputados do Terceiro Estado fosse o dobro dos demais, como o voto era
por Estado. Então, cada Estado deliberava e tinha um voto; a votação era sempre 2 a 1 ou 3 a 0, exato. Tanto faz a quantidade de deputados. Só que essa sugestão dele dava a ideia de que a votação ia ser por deputado e não por Estado, né? E, de fato, quando começa a revolução, quando começam os Estados Gerais, melhor dizendo, muitos deputados do Terceiro Estado começam a pedir as reuniões em conjunto. Falam: "não, tem que reunir o primeiro, o segundo e o terceiro todo mundo junto". E começa, então, uma adesão de nobres e do clero,
indo abandonando a reunião do seu Estado, indo para o Terceiro Estado. Luís XVI, que devia ter feito alguma coisa, não fez. E no dia em que tomou uma medida, que já era um pouquinho depois, ele diz: "olha, as reuniões têm que ser em separado". Ele disse claramente: “Então, na hora que os deputados foram embora, saíram os deputados do clero e ficaram alguns deputados do terceiro estado. Ficaram alguns nobres que se recusavam a ir embora. E aí vieram alguns outros nobres para tirá-los dali. Eles tiraram espada e, aí, quando viu que ia ter derramamento de sangue,
ele tinha horror a derramamento de sangue e falou: ‘Não, não, por favor! Se eles querem ficar, deixa eles aí. Se quer ter reunião junto, não dá.’ Aí, reunião. Ele foi capitulando. Foi aqui que o Mirabeau falou: ‘É assim que se decapitam os reis!’ Porque ele foi só. E aqui é uma coisa engraçada, que é uma lição que a gente tem que ter pra vida. Toda vez que se cede a uma pressão, aquele que exige nunca fica satisfeito, ele vai querer mais. É preciso dar um basta. E Luís XVI, ele tinha completa condição de dar um
basta, tinha muito prestígio, etc., mas ele não fez isso. Necker tinha aí a sua influência, né? Ele vai demitir, que até aqui, até a queda da Bastilha, que é que até se comemorou ontem, né? 14 de julho. A queda da Bastilha vai ter uma relação com isso, né? Que tinha demitido De Breteuil no dia 11 de julho, quando a notícia corre no dia 12, né? Que começa a ter as convulsões no Palácio Real. E aí, no dia 14, eles vão... Aliás, a cara da Bastilha foi uma piada, uma piada. Marcelo, a Bastilha não era, do
total de presos da Bastilha, a cada um, dois ou três, eram presos políticos. Era uma prisão familiar. Quem mandava, normal, ali. Por que existia a Bastilha? Porque alguns crimes de família, para evitar que a pessoa que era presa ficasse difamada ou difamasse a família, havia uma prisão para esse tipo de situação. Quem pedia a prisão era o pai de família, e a pessoa era tratada como um hóspede do Rei. Quando se olha na Bastilha, o que se comia? A pessoa tinha livros, comida, tudo pago pelo Rei. Dava prestígio ficar na Bastilha. Então, tem a lista,
ela tem o cardápio: vinho, borgonha, sobremesa. Então quer dizer, a Bastilha não era nada disso, era só um símbolo que eles quiseram para poder enfraquecer o rei, né? Isso logo no começo da Revolução, dia 14 de julho, que tinha sete pessoas lá. Sete pessoas: quatro doidos e três falsos. É exato, então, preso político não havia, não havia. E então, a questão da Bastilha é uma outra falácia. Quando eles foram invadir a Bastilha, o comandante lá da prisão, já um bem idoso, ele recebeu os revolucionários, serviu um jantar, conversaram, etc., porque ele viu que eles queriam
de fato invadir. Ele pensou em incendiar o paiol onde ficavam as munições. E aí, um era um, não sei se era um tenente ou um coronel, impediu e falou: ‘Não, não faça isso!’ E aí os revolucionários invadiram. Quando eles invadiram, um dos primeiros que eles mataram foi esse tenente e pegaram o comandante e levaram pra prefeitura de Paris e trucidaram ele, trucidaram, né? E aí à noite, no Palácio Real, eles levaram o coração das pessoas em lanças, as vísceras, eles penduravam em árvores e eles cantavam uma canção dizendo: ‘Só H! Só H! Verdadeira Alegria quando
o coração está presente!’ Com corações humanos em lanças, quer dizer, uma coisa selvagem, selvagem, cois selvagem, exato, coisa brutal de selvagem, né? E então, a Revolução Francesa é uma história de sangue, de sangue, de trapaças e, como sempre, ideias muito ruins, né? Sempre com ideias muito ruins e que os livros atuais tentam salvar de toda maneira. Tem perguntas? Tem duas, então vamos lá. E João Soares mandou 10,90. Obrigado! Seria a Revolução Francesa a grande revolução gnóstica? Pode responder! Mas em grande medida, sim, né? Em grande medida, sim, porque a Revolução Francesa vai ter... E aqui
até o elemento gnóstico na Revolução Francesa é o que está mais oculto. O que mais se percebe na Revolução Francesa é a atuação da ala materialista, racionalista, né? Mas a gente falou aqui sobre o Rousseau, né? Rousseau vai ter uma importância enorme na Revolução, enquanto ideário, né? Claro que ele não estava vivo mais nessa época, mas ele vai ter uma influência grande nos revolucionários e ele era um romântico, e o romantismo é gnóstico. Agora, foi a revolução mais importante da história, aquela que mudou os tempos para sempre, né? Ele é o avô de todas as
guerras modernas, porque é da Revolução Francesa que vem o liberalismo, do qual veio o nacionalismo. O nacionalismo é o que vai dar o nazismo, é o que vai dar a Primeira Guerra, a Segunda Guerra, tudo é culpa da Revolução. O Estado moderno, Revolução Francesa, das corporações de ofício... Ah, isso é importantíssimo! Ela aboliu, em 1791, as corporações de ofício. Isso é o direito positivo também, embora já tinha alguma coisa antes, mas foi o grande centro difusor, foi a Revolução Francesa. Depois, Napoleão... Napoleão vai dizer: ‘Vão esquecer das minhas batalhas, mas o meu código vai permanecer!’
Exato, ele era sabidíssimo, exato! Então, claro, o direito positivo vem disso, vem dele. E aqui, o Padre Seis vai ter uma importância enorme com o livro dele, e é exatamente isso, Marcelo. O mundo depois da Revolução Francesa nunca mais foi o mesmo, nunca foi. O Cardal Hercle comparou isso ao Dilúvio, né? Olha que interessante! Ele falou: ‘Teve um antes e um depois, um tempo de dó, um ano depois!’ Exato! E isso é bem interessante. E depois, assim, veja, pra trazer aqui um pouco pra nossa realidade, a independência do Brasil e todos esses países aqui, os
nossos vizinhos, vem da Revolução Francesa.” São as ideias revolucionárias que vão levar à Independência e, depois, é o Napoleão que é consequência da Revolução Francesa. Acabou com o Império Sacro-Romano Germânico, preparando espaço para a unificação é alemã, sim, e também preparou espaço para a unificação italiana. Também, também, exato; acabou com Veneza. A Independência de Veneza é em Veneza independente; não tinha unificação italiana, só para dar um exemplo. Acabou com a República de Ragusa; ele desorganizou completamente as nações da Europa. Acabou com a Espanha, que ficou empobrecida, sem capacidade de se defender nas colônias, pois humilhou
muito os prussianos. Isso vai gerar uma rivalidade com a França muito grande e aí quem vai surgir como potência é a Inglaterra, que vai surgir como uma grande potência liberal e protestante, que vai fazer um grande trabalho exatamente de errado no século XIX. Qual a próxima pergunta, Marcelo? Antes da próxima pergunta, o Gabriel falou aqui que a promoção dos livros vai entrar somente amanhã e para falar um pouco dos livros acar amh. Oi, não vai entrar somente amanhã! Qual dos livros aí? Eu não tô sabendo, não. Ah, não. Que a promoção vai acabar amanhã. Vai
acabar amanhã. Então, desculpa, desculpa. Lembrando que a promoção dos livros vai acabar amanhã, dia 16 de julho. Isso, a promoção vai até amanhã. Agora o Gabriel de Paula comenta sobre a relação da recusa da França em se consagrar ao Sagrado Coração e a Revolução Francesa. Ah, esse é um fato importante. Quando nosso Senhor apareceu para Santa Margarida Maria, instituindo a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, foi uma aparição, aliás, para combater o jansenismo, né? Que o jansenismo era contra a misericórdia de Deus e contra a comunhão. Nossa Senhora aparece para Santa Margarida Maria com a
devoção ao Coração de Jesus, que é a devoção à misericórdia de Deus, né? E acabou tendo, hoje, uma questão muito sentimentalista, mas não é a devoção ao Sagrado Coração; é a devoção à misericórdia de Deus. É onde nosso Senhor pede para comungar nove primeiras sextas-feiras seguidas, não para evitar comungar, né? E aí, nosso Senhor também pede que o Rei da França deveria pintar o seu brasão no Sagrado Coração, nos escudos, no emblema da França. O rei não faz isso, né? E depois só Luiz XVI, já na prisão, vai fazer uma consagração da França ao Sagrado
Coração de Jesus. E essa consagração, embora tardia, foi aceita por Deus. Mas aqui claro que Deus é o centro da história e muito disso aqui podia ter sido evitado se Luiz XVI tivesse atendido o pedido de Nosso Senhor, né? Então, aqui a França foi castigada, foi castigada por não atender um pedido de Nosso Senhor, né? Isso é uma grande verdade. Tem outra do PEP: o convidado poderia falar sobre o Marquês de Sade e a sua influência sobre obras subversivas na Revolução Francesa. Agora me pegou. Fala aí você, Mar. Porque eu não sei. Nunca tinha… até
uma lenda que o Marquês de Sade estaria na Bastilha no dia 14, mas ele não estava. Ele tinha sido preso lá na Bastilha; ele saiu uma semana antes, né? Mas aí ficou um tempo uma lenda que ele estaria na Bastilha, mas não estaria. Na verdade, ele era um pervertido, um fulano horroroso, né? E de fato ele ajudou... não sei qual o grau de perversão que ele era, o maior pervertido da França ele era, mas eu não sei qual o grau de influência que ele teve naquele momento, com as pessoas que ele teve contato. Mas que
ele era um fulano horroroso, asqueroso, ele era. Agora, o grau de difusão das ideias e do comportamento dele eu não sei. É também uma coisa... detalhes, eu não sei. Achei muito horrível a vida dele. Não é? Fico devendo. Ficamos devendo. Tem uma do Augusto César: qual será o próximo curto circuito que poderá resultar em uma revolução no futuro? Caso essa revolução futura ocorrer, ela será pior que a Revolução Francesa? Bom, não tenho bola de cristal, né? Essa é uma típica pergunta difícil de responder sobre o futuro. É muito difícil dizer, né? Ah, as revoluções, né?
Portanto, os curtos circuitos sempre tinham como grande mote a igualdade e o ápice dessa igualdade foi atingido com o Concílio Vaticano II, com o ecumenismo, né? Que vai dizer que todas as religiões são iguais, todas são, de alguma forma, embora eles digam que umas mais, outras menos, mas todas elas têm as sementes do verbo, todas elas têm os seus elementos de verdade. O elemento igualitário aí, né? Então, fica difícil imaginar um outro curto circuito. Se a revolução já chegou ao próprio âmago da Igreja, fica difícil imaginar onde mais poderia chegar, né? A gente tem aí,
claro, que muitas outras... por exemplo, agora essa questão de ideologia de gênero, de igualdade, etc. Mas acho que a ponto de ter um curto circuito, pelo menos eu não vejo. Mas enfim, o que eu quero dizer é que às vezes o professor An falava dos três grandes curtos circuitos: o Renascimento, a Revolução Francesa e a Revolução Russa, né? Mas teve uns mini ao longo da história. Então, a década de 60 é um exemplo, tinha o elemento racionalista presente no eletrodoméstico, na corrida espacial, no sucesso material, típica coisa do American Way of Life e, de outro
lado, tinha a questão dos hippies, do misticismo, do orientalismo, da astrologia, e provocou uma pequena revolução, que é o famoso 1968. Então, pode-se dizer que no futuro tem alguma coisa ligada a isso, parecida com o 68, já que a sociedade no mundo inteiro tá se polarizando, né? Uma esquerda e uma direita. Pode ser que tenha aí uma nova... mas são duas correntes que... Sempre existiram, né? Então, aí, a hora tem um contato, a hora sai exato. É, há pequenos curtos-circuitos, esses curtos-circuitos também na arte, né? Nós tivemos as três evoluções na arte etc. E, enfim,
a gente mesmo na igreja se vê, né? Uma maior teologia da libertação, como era duas décadas atrás, e depois vem uma corrente mais mística, irracionalista, que seria o pentecostalismo, a Renovação Carismática etc. Uma união dessas duas correntes produziria um curto-circuito. Não sei, hoje parece que a teologia da libertação tá muito enfraquecida. Mas isso é muito difícil dizer. Futurologia é uma coisa difícil, já é difícil falar da história, né? Que é o passado. Futuro, Carolina: Revolução Francesa e os “founding fathers” têm alguma ligação? “Founding fathers”, Marcela. Aí fala Estados Unidos, tem? Não! Então, os “founding fathers”,
que seriam aqueles que deram ensejo à independência americana, influenciaram sim, sem dúvida, a Revolução Francesa, inclusive Benjamin Franklin se aproximou dos iluministas, se aproximou do Voltaire e frequentou a mesma lógica maçônica do Voltaire. Isso, inclusive, o Voltaire teria “abençoado” entre aspas o neto do Benjamin Franklin. Abençoou – eu coloquei entre aspas “abençoar” porque só um padre poderia fazer. Então, teve sim, em 1776, e influenciou 1789, sim, muito. E depois, os nobres franceses foram para os Estados Unidos lutar pela independência americana, o que é uma contradição enorme. A França tinha sido derrotada pela Inglaterra. Então, de
uma maneira, na Guerra dos Sete Anos, para se vingar da Inglaterra, eles foram apoiar os Estados Unidos na guerra de independência. Então, Lafayette, que foi um revolucionário moderado, né? O Lafayette foi para os Estados Unidos, lutou e voltou dos Estados Unidos com uma mentalidade igualitária, uma mentalidade liberal. Então, aqui, a relação dos “founding fathers”, quer dizer, na relação dessa mentalidade americana, produziu a Revolução Francesa. Isso, sem dúvida, houve. Sem dúvida. E é uma contradição a nobreza francesa para ver como a nobreza estava decadente, né? E ir lutar por uma democracia contra a nobreza, contra a
monarquia, é um absurdo. A França e a Espanha lutaram. Se não fosse a ajuda deles, não teria independência americana, não teria independência americana, e toda essa influência, a história poderia ter sido outra, né? Adalberto, o fato da história da Revolução Francesa ser mal divulgada no Brasil se dá apenas por um fator ideológico ou também entra no mau ensino público do país? Aqui é uma questão mais ideológica, né? Porque quem decide as coisas sabe muito bem o que tá fazendo. Então isso aqui, quem define o que vai ser ensinado ou não nas escolas, sabe muito bem
o que tá fazendo. Agora, claro que a decadência no ensino vai só incentivar isso. Você pega por qual é a formação que têm os professores hoje que dão aula de história no ensino público, né? O que eles aprenderam de história? Eles aprenderam exatamente os slogans. Eles vão repetir os slogans. Eu me lembro, há muitos anos atrás, quando eu fazia cursinho, na aula de história, o professor falando de Revolução Francesa. Isso era cursinho, não era escola pública, hein? Então fiz uma pergunta, foi professor, mas se o povo era tão favorável à revolução, por que na Vandiá,
onde os campos japoneses eram gente humilde, eles tomaram em armas contra a revolução? Ele deu uma volta enorme, ficou o resto da aula dando voltas. Tocou o sinal. Ele foi embora, não respondeu. Eu saí da aula, quando ele saiu, eu saí atrás dele, fui conversar um pouco mais e ele falou: "Imagina, ali eu não que eu saiba muito, mas ali eu sabia bem menos". E ele falou: "Não, eu tô vendo que você é um grande conhecedor da Revolução Francesa.” Eu era um garoto de sei lá quantos anos, então quer dizer, não sabia nada. Ele repetia
slogans, né? Eu me lembro porque esses professores, o que eles leram, o que ensinaram para eles, né? Depois, se eles tiverem ideias, a história como ela é, eles vão ser contratados. Mas lembro que esse ensino de história não é só no Brasil que é ruim. Não, na França, inclusive, se você quiser contar a história daquele, esqueci o nome do autor, que chegou nos arquivos da Vandiá e foi perseguido. Não é isso? Foi perseguido, ele não pode dar aula na França. Eu também esqueci o nome dele. Ele que vai falar em genocídio, Marcelo. Ele usa a
palavra genocídio. Ele que vai falar que a guerra na Vandiá foi o primeiro genocídio da história. Ele tem obras publicadas, etc., um grande estudioso da Revolução Francesa. Mas não é uma pessoa que vai poder ensinar, né? Ensinar na própria França, a própria França, supostamente, o lugar intelectualizado e tal. Quem chegou nos arquivos, provou o que aconteceu, foi perseguido lá e não pode dar aula. Então, não é só no Brasil que essas coisas acontecem, né? Em todo lugar, porque, francamente, o controle da educação é muito importante. Então, eles perceberam isso, né? E não é só no
Brasil que isso acontece. Por isso que se faz tanta questão de controlar a educação, porque para conquistar as pessoas já na sua infância, colando slogans etc., a pessoa já cresce com aquela mentalidade de que a igualdade é um bem, de que somos todos iguais, de que a igreja só é ruim, que os portugueses nos exploraram, que a Revolução Francesa foi muito boa, que a monarquia é péssima. Eles criticam a monarquia com argumentos contrários ao absolutismo. Quer ver, o absolutismo é a corrupção, é a decadência da monarquia. É claro que o absolutismo é mau, mas o
absolutismo não é a monarquia, né? E então tem uma série de coisas aí que... A controle e a decadência da educação acabam propiciando mais alguma. É a último, né? Gabriel Portugal mandou 2790. Obrigado, Prof. Fico enlutado sempre que ouço sobre a Revolução Francesa. Que tristeza! Hoje, os judeus tiveram participação nela. Ah, boa pergunta! Teve um sabatista que participou, né? Esqueci o nome dele. Como é que ele chamava? Ele era adepto do Sabat de Sevi. Como é que ele chamava? Deu um branco. Depois, os judeus interpretaram — os judeus, não os cabalistas — interpretaram a Revolução
Francesa como uma coisa positiva, provando a tese da destruição e construção, né, que muitos gnósticos acabaram incorporando. Mas ele foi um... ele trabalhou na Revolução, sim. Quer dizer, ele era... ele era adepto do Sabat de Sevi. Mas, assim, um grande movimento, eu não me lembro. Não, você lembra? Eu também não me lembro. Lembro da participação pontual dele. É, naquele livro lá, "As Origens Religiosas da Revolução", talvez trate disso. Porque os judeus tinham sido expulsos da França no século 14, se não me falha a memória, e depois Napoleão chamou ele pra França. Teve um fluxo migratório
de judeus pra França no tempo do Napoleão. Então, eu imagino que, nas vésperas da Revolução, eles tinham pouca expressão na França, com exceção desse discípulo do Sabat Cevi, cujo nome acabei esquecendo completamente. É, também não saberia. Gabriel, peço ao André para falar um pouco da história. Aqui, Voltaire dizia que acabaria com Deus em tal ano e acabou morto no mesmo ano. É isso? Voltaire morreu, se não me engano, em 1788 ou '78, alguma coisa assim. Foi um pouco antes da Revolução. 20 anos antes de morrer, ele tinha dito... Ele tinha muito prestígio, né? De fato,
era uma pessoa muito inteligente, escrevia muito bem, muito sarcástico, e os escritos dele sempre terminavam: "É preciso esmagar o infame" ou "a infame", né? Que é Cristo, a Igreja... Então, foi enciclopedista, etc. E ele, 20 anos antes de morrer, ele profetizou, né? Falou: "Dentro de 20 anos, não existirá mais Deus." Ele tinha certeza que Deus... E ele, 20 anos depois, morreu. E a morte de Voltaire era uma coisa tremenda, né? Ele ficou mal e pediu um padre. Pediu um padre. Foi uma, assim, uma... pros aliados dele foi uma derrota, né? E ele se confessou tudo,
mas depois ele recuperou a saúde e voltou a atacar a Igreja, etc. E nesse ínterim teve a apresentação em Paris da peça "Irene", a peça que ele era autor. Ah, que ele vai ser ovacionado, né? Nessa ocasião, quando fecham-se as cortinas, depois reabrem, tem o busto de Voltaire no centro do palco. Vêm todos os atores, beijam o busto de Voltaire. Depois, eles saem em triunfo, as pessoas beijavam a roupa dele, beijava o cavalo. Nossa, até o cavalo, né? Que é engraçado porque eles zombavam dos católicos pelo culto às relíquias e aos santos. Voltaire foi cultuado
em vida e beijaram até o cavalo dele. E aí, pouco tempo depois, ele fica mal de novo. E aí ele pede um padre, só que aí os amigos dele não deixam, né? Não deixam nenhum padre, fecham a casa e ficam de prontidão. Então, ele morre sem os sacramentos. Morreu de uma forma bem humilhante, coitado. Assim, bem, morreu sem os sacramentos. Então, existe um costume romântico de que todo mundo se salva no final da história. E isso não é assim, não, né? O que a Igreja ensina, o que os santos ensinam... É, Talita, morte, Zita, né?
A vida é como é a morte. A pessoa passa a vida longe de Deus, normalmente morrerá longe de Deus. E Voltaire passou a vida combatendo a Deus, né? Queria Deus que ele estivesse salvo, eu não quero que ele esteja condenado, mas não é desesperar! Não é desesperar! Você que dá o último? Ou não? Acabou! Então, a último. Então, Natália Farias, como refutar os esquerdistas que alegam que a Igreja era contra a Revolução apenas para manter seus privilégios de primeiro estado? Então, primeiro que a Igreja... Vamos lá, quais privilégios a Igreja tinha? A Igreja tinha alguns
privilégios tributários, né? Porque ela... alguns impostos a Igreja não pagava, não todos. Havia impostos que a Igreja pagava. Depois, a Igreja recebia o dízimo, que, como vimos, é uma coisa baseada no costume. Então, a Igreja não tinha esses privilégios todos do ponto de vista econômico-financeiro. Depois, a Igreja mantinha as escolas, os hospitais, os orfanatos, os asilos, tudo gratuitamente. Quer dizer, a Igreja não estava recebendo nenhum benefício material. O que as freiras... Eu falei que eram 35.000 freiras cuidando de 3.500 hospitais, ou 2.500. Agora não tenho o número, não me recordo o número exato, mas eram
alguma coisa nessa ordem. Quer dizer, a Igreja fazia tudo isso por amor de Deus. Aquilo não era um emprego das freiras. Aquilo era a vida delas, de segunda a segunda, porque a vida delas era cuidar daqueles doentes, assim como dos padres e freiras que eram professores, ensinando aqueles alunos. Então, como é que a Igreja vai ser contrária à Revolução só porque vai tirar os seus privilégios? Quais privilégios eram esses? O que a Igreja fazia... Até os revolucionários que não eram bons, quando tiraram os bens da Igreja, se viram obrigados a dar alguma recompensa à Igreja,
porque a Igreja sempre mantivera tudo aquilo gratuitamente e agora tiraram todo o patrimônio da Igreja. Era cerca de 15% das terras da França. Veja que, por dentro, não era muito, né? E aí, os padres iam viver de quê? E aí, então, começaram a pagar salário para os padres. O que foi um erro! Deviam ter deixado como era. Mas então, quer dizer, o que a Igreja... Ela dava pra... França era sacrifício; ela dava vida, ela não recebia benefícios ou privilégios. Muito bom! Então, é, obrigado, André, por sua participação. A conversa é muito boa sobre a revolução.
Muito obrigado! Eu que agradeço ao Marcelo. Parabéns, aí, pelo lançamento dos livros, e espero poder voltar aqui de novo para defender a verdade e combater o erro. Ótimo! Então, agradeço a todos que nos acompanharam até o nosso próximo podcast. Obrigado, até mais!
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