Sombra barulho, poeira. Assim é a vida dessas pessoas sob essas hélices gigantes. Nós estamos no sertão nordestino na região do Seridó entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba.
Uma das regiões mais atrativas pra geração desse tipo de energia. O Brasil é hoje o sexto maior produtor mundial de energia eólica e o semiárido atrai cada vez mais renováveis em busca de vento e sol abundante. Sua chegada porém conflita com a população local que há séculos vive lá e hoje tem seu ambiente e vida impactados para defesa do clima.
“Isso é muito horrível" “Parece que tá aqui, ó, bem pertinho” (…) “Quando não tem vento até ficam parada, mas quando vem aí…" Ao contrário de países como a Alemanha, o Brasil não possui regulamentação sobre a distância mínima dos aerogeradores para residências. Isso criou situações como de Maria do Socorro e a família dela que vivem a 100 m de uma turbina. A associação do setor recusa a imposição de uma distância mínima, mas reconhece que há problemas e coloca as reparações como prioridade.
Algo que é pedido por moradores do Quilombo do Talhado, na Paraíba, onde todas as cisternas se romperam em meio à construção do parque que éolico vizinho. “Olha, quando começou a construção dessas eólicas aqui, era cada tiro que, se eu sofresse do coração, eu caia para trás, de tão grande eram os estrondos aqui. Nós tinha medo até de derrubar a casa.
Chega aqui em cima do tanque que você vê as antenas tudo pertinho daqui" Em uma das regiões mais secas da Caatinga, os reservatório são itens indispensáveis. Diante disso, Maria de Fátima tirou do próprio bolso o conserto do seu, enquanto aguarda alguma reparação pela empresa espanhola neoenergia. “No momento que minha cisterna quebrou eu sofri muito sem água; Houve semanas que a gente não tomou água porque não tinha onde buscar” Onde não falta água, sobra poeira.
O trânsito de veículos pesados na Serra de Santana, no Rio Grande do Norte, onde cinco parques estão em construção, com 42 novos aerogeradores, pinta de vermelho as casas das comunidades “Eu tento ao máximo manter minha casa limpa, mas eu não posso, não tem como. ” "Eu já fiz duas cirurgias do coração, vou fazer a terceira cirurgia. Aqui também.
É difícil. " Para esta vizinha a solução foi fugir, enquanto tenta isolar a casa o máximo possível. “Antes era tudo aberto e hoje a gente está numa situação dessas, tudo fechado, como se estivesse em uma prisão.
As camas de dormir são 24 horas por dia com plástico, porque a poeira entranha no colchão. A gente cobre a cama porque a noite não tem condição da dormir. " Aguardando as reparações, resta aos moradores do Seridó fechar portas e janelas para os transtornos da energia verde.