[Música] Kristus, Kristus, V. Christus, Chrus. [Música] Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós. São Mento e São Maulo, rogai por nós. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Muito bem! Bom, a aula de hoje eu vou tratar sobre o Dogma da
infalibilidade papal e, naturalmente, para tratar deste Dogma eu tenho que falar um pouco sobre o Concílio Vaticano Primeiro, no qual o Dogma da infalibilidade foi definido. Então, eu poderia dar uma aula só sobre o Dogma da infalibilidade, que é um tema bastante vasto, mas a gente vai fazer aqui um resumo do Concílio para que a gente possa se ater mais à questão do Dogma da infalibilidade papal. Muito bem, então, para que vocês saibam o que vamos tratar um pouco, vou explicar a importância do tema, porque é relevante conhecermos um pouco mais aprofundadamente o Dogma da
infalibilidade papal. O que é dogma? O que é revelação? A relação entre o Dogma e a revelação? O Papa e um pouco sobre o Papa que definiu este Dogma, que foi Pio IX, e o contexto da Igreja no século XIX. E aí trataremos um pouco sobre o Concílio Vaticano Primeiro. Vou falar alguma coisa sobre Dom Bosco. Dom Bosco exerceu um papel importante ao ajudar bispos que estavam participando do Concílio. A propaganda contrária à definição do Dogma era muito grande e ele, Dom Bosco, acabou ajudando a convencer bispos a apoiarem a definição do Dogma no Concílio.
E então, sim, trataremos do tema que nos interessa hoje: o Dogma da infalibilidade papal e o que ele significa, o que ele quer dizer. Tá bom? Então, a importância do tema. O Dogma da infalibilidade papal é muitas vezes mal compreendido e, como toda má compreensão de um princípio, acaba exagerando para um lado ou para outro e distorcendo o que o Dogma quer propriamente dizer. Coloquei aqui que da incorreta compreensão da infalibilidade decorrem dois erros aparentemente opostos. Porque é curioso: aqueles que negam o Dogma ou aqueles que exageram o Dogma caem em erros semelhantes. E a
gente precisa estar atentos à importância de compreender o que é este Dogma para que não caiamos em nenhum dos erros. O primeiro erro é uma justificativa cega de absolutamente tudo que o Papa diz, tudo que o Papa faz, tudo que o Papa escreve, tudo que o Papa realiza. Por que isso é uma incorreta compreensão do Dogma? Porque a pessoa parte da seguinte ideia: "O Papa é infalível." Ora, se o Papa é infalível, tudo que ele faz está certo. Então, se aquilo que o Papa está dizendo me parece errado, me parece que destoa do que os
outros Papas ensinaram, que destoa daquilo que a Igreja sempre ensinou, eu estou compreendendo mal. Eu preciso dar um jeito de justificar isso. Eu preciso, como dizem, dar um nó em Pingo d'Água, porque o Papa é infalível. E aí a pessoa acaba aposentando seu senso de análise e até seus sentidos fide para justificar tudo que o Papa disse. E não é assim, né? São Pedro é o primeiro Papa da História. Cristo disse a São Pedro: "Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." Se continuarmos lendo
as Escrituras, na passagem seguinte, Deus Nosso Senhor disse a São Pedro: "Retira-te de mim, Satanás," dizendo que São Pedro era Satanás, ou seja, tentador, porque estava tentando a Cristo. Porque São Pedro não queria que Cristo passasse pelo que Ele permitiu. Assim como permitiu que São Pedro o negasse três vezes, para mostrar que o Papa é infalível, mas ele é infalível em circunstâncias muito claras e muito definidas. Então, tentar justificar tudo porque foi o Papa que disse não é essa a posição do Dogma, não é essa a posição católica. Depois, o outro oposto parte do mesmo
erro: "O Papa é infalível; logo, tudo que ele diz tem que ser certo." Se aquilo que estou ouvindo ele dizer não está certo, então ele não é Papa. Porque se ele fosse Papa, ele não erraria. Esse aqui vai dar no sedevacantismo. Então, vejam que são erros opostos. Uma espécie de papolatria e o sedevacantismo, que são aparentemente erros opostos, partem da mesma premissa: "O Papa é infalível em tudo, custe o que custar." Então, ele vai estar certo sempre. Não interessa. Então, quando São Pedro negou Cristo, se São João fosse uma pessoa que compreendesse mal o primado,
quando viu São Pedro negar a Cristo três vezes, ele concluiria que negar Cristo é algo muito bom, ou diria que São Pedro não é mais Papa. Ele não fez nem um nem outro. Ele não elogiou e não apoiou o que fez São Pedro, e também não ficou sedevacantista. Prova disso é que, no domingo de Páscoa, quando ambos correram... Até o sepulcro para constatar a ressurreição de Cristo. São João, que era mais moço, chegou antes e não entrou; deixou São Pedro entrar primeiro porque sabia que São Pedro era o papa e o relato de São Pedro
constatando a ressurreição teria mais peso do que os dos outros. Claro que os outros relatos tinham peso, mas o de São Pedro teria mais, né? Então não ficou sed vacante. Daqui vem a importância de compreendermos o que é o dogma da infalibilidade papal. Tá bom? Então essa compreensão, modestamente, é um dos objetivos aqui da nossa aula. Muito bem! E o que é, então, o dogma? Se houver protestantes, não aqui na plateia, mas na internet assistindo a essa aula, peço que analisem friamente os argumentos que nós daremos, sem paixão, porque é através disso que conseguimos ter
a correta compreensão. Deus, nosso Senhor, nos revelou verdades. O homem, com a sua inteligência, consegue compreender algo sobre Deus analisando a criação. Toda vez que analisamos a obra de um determinado autor, conseguimos conhecer um pouco como é o autor. Claro, né? Por exemplo, se o professor recebe as lições dos alunos todas sem nome e não conhece a letra deles para poder identificar a lição, quando ele analisar aquelas lições, muito bem bonitinhas, limpas, com letra caprichada, etc., ele concluirá que foi um menino que fez aquilo, né? Porque se vier um rancho, impossível de decifrar, é óbvio
que foi uma menina que escreveu. E se o professor conhece bem a turma, ele vai saber até qual é o menino que escreveu ali, porque tirou 10, foi tão bem, né? Ele saberá qual foi o gênio que está por trás daquilo. Isso vale para tudo. Por exemplo, na música: quando estamos acostumados a ouvir as obras de um determinado autor, como Vivaldi, Händel, se escutamos uma obra que não conhecemos, podemos dizer: "Isso aqui é Händel, tá na cara." Conhecendo a obra, vamos sabendo como é o autor. Assim, na análise do universo, podemos conhecer alguns aspectos sobre
Deus. Essa compreensão é ainda limitada, superficial; a obtemos pelo uso da razão, e todos podem, mesmo os pagãos, mesmo os infiéis, todos aqueles que analisam com honestidade e reta razão a realidade. Mas Deus quis nos revelar mais, nos ensinar mais a respeito dele. Então, Ele também nos revelou verdades que Ele contou diretamente, pois são verdades referentes a Deus que nós só com a razão não conseguiríamos atingir. Se Deus não tivesse dito que Ele é unitrino, nós jamais saberíamos. O conhecimento que temos de que Deus é unitrino vem da revelação, porque Deus disse; não dava para
a gente saber isso apenas analisando a realidade. Essa revelação se completará no céu. No céu, teremos um conhecimento mais profundo de Deus, porque nós o veremos face a face. Mas ainda assim não conseguiremos abarcar todo o ser de Deus; isso é impossível para um ser limitado como nós. Por isso, nós passaremos toda a eternidade sempre aprendendo algo e contemplando algo novo sobre Deus ou um novo aspecto daquelas verdades que já conhecemos. Então, o que é essa revelação? Essa revelação que aqui vai nos interessar mais para o dogma é um conjunto de verdades ensinadas por Deus,
que é transcendente; ou seja, Deus não está no mundo, não está no universo. Deus está fora do universo; Ele transcende o universo. Não é uma parte do universo. Por isso, antes de existir o universo, não existia o universo, mas existia Deus, porque Ele está fora do universo, Ele transcende o universo. E Ele nos revelou essas verdades através de alguns homens eleitos, inspirados pelo Espírito Santo. Essas verdades são sobrenaturais e versam particularmente sobre Cristo, sobre Deus, sobre o Espírito Santo, sobre a Trindade. O Espírito Santo foi quem inspirou, por exemplo, os autores sagrados. Por isso, as
Sagradas Escrituras são uma fonte da revelação, porque essa revelação Deus colocou ali escrita por homens. Por isso, se você ler a Sagrada Escritura, verá que não todos os livros têm o mesmo estilo, porque o estilo do autor sagrado foi preservado. Deus não ditava como uma professora faz em um ditado na escola; Ele inspirava o autor sagrado e ele escrevia com suas palavras, com seu modo de escrever, etc. Por isso, não é tudo igualzinho; não tem todo um estilo no mesmo estilo. Então, essas verdades reveladas por Deus estão fora de nós. Conhecemos essas verdades quando elas
nos são ensinadas. Portanto, as verdades de fé que estão contidas na revelação não estão dentro do homem. Não é olhando para mim que vou conhecer as verdades sobre Deus, mas aprendendo com outro que me ensina. Por isso, São Paulo diz que a fé vem pelos ouvidos. Isso é bem importante sabermos, porque o modernismo vai dizer o contrário: que a fé vem de dentro, é uma manifestação de um Deus imanente dentro de nós. Em última análise, a fé será o conhecimento da própria divindade do homem. Então, vejam que os teólogos, quando escrevem, usam termos católicos, usam
termos muitas vezes escolásticos com sentidos. Diversos é preciso saber o que eles querem dizer quando falam em revelação. Revelação, revelação não está falando da revelação católica; a revelação católica, então, é um conjunto de verdades referentes a Deus que Deus nos ensinou. Essas verdades estão fora de nós; precisamos, então, aprendê-las. Não só a verdade da revelação está fora de nós, toda a verdade está fora de nós. A gente apreende a verdade; não só a verdade é verdade, o bem e a beleza a gente aprende, né? Então, também é assim com a beleza. A beleza, então, não
é o que eu acho; ela está fora de mim e eu aprendo. Isso aqui é importante sabermos, então, o que é o Dogma. O Dogma, então, está contido na revelação. Nem tudo que Deus revelou está na Bíblia; há verdades que Deus não revelou, mas há um conjunto de verdades, como expliquei, que Deus revelou. Esse conjunto de verdades é chamado de revelação. Onde está a revelação? Na Bíblia e na tradição; não está só na Bíblia. Se estivesse só na Bíblia, ninguém acreditaria na Bíblia, porque ninguém viu a Bíblia ser escrita. Nós acreditamos na Bíblia porque a
tradição — que é a revelação não escrita — confirma que a Bíblia foi escrita por pessoas inspiradas por Deus. Então, esse conjunto de verdades da revelação está na Bíblia e está na tradição. Muito bem, os dogmas, então, são verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja, porque tudo aquilo que está na Bíblia, muitas das verdades que estão ali, algumas estão implícitas e vão ser desenvolvidas pela Igreja no decorrer dos séculos. Por isso que muitas verdades, os dogmas, vão sendo definidos com o passar do tempo, quando aquela verdade está ali contida e vai ficando mais clara.
Não é que o Dogma é uma verdade que o Papa inventou, uma verdade que a Igreja acabou de criar e obriga todo mundo a acreditar. "Ó, agora criamos aqui que Nossa Senhora é Assunta ao Céu em corpo e alma; a partir de agora isso é verdade!" Não. Tanto que a Igreja demora para definir um dogma, por isso, porque ela analisa isso com muito cuidado para se certificar de que aquilo está contido na revelação. E atrás, por trás de toda definição dogmática, há muitos argumentos, há muito debate, há muito estudo. O Dogma, então, faz parte da
revelação; estava implícito nas Escrituras. A Igreja, então, com os teólogos, torna isso explícito no decorrer dos tempos. Isso é muito fácil de se perceber depois que o Dogma foi definido. Os dogmas, eles seguem as definições dogmáticas; elas seguem uma lógica. Vejam, por exemplo, os dogmas marianos. O primeiro Dogma de Nossa Senhora é o da Maternidade Divina, não é o da Assunção. Porque o fato de Nossa Senhora ser mãe de Deus é o que vai ajudar a embasar sua função. Aí vem, então, maternidade divina, virgindade perpétua, porque se ela é mãe de Deus, né, ela concebeu
de uma forma milagrosa. E aí, então, maternidade divina, virgindade perpétua, Imaculada Conceição, porque, se ela é mãe de Deus, ela é Imaculada. E depois a Assunção, depois que vai ser definido que Nossa Senhora é Medianeira de todas as graças, porque depende do dogma, por assim dizer, da definição anterior. Tudo isso aqui é feito de uma forma muito lógica, tá bem? E depois, no final, se Deus quiser, o Dogma da Nossa Senhora Corredentora. Então, os dogmas são verdades e sempre foram verdades; são verdades reveladas por Deus, portanto, obrigam à aceitação. Nós temos a obrigação de um
dogma da mesma maneira que temos a obrigação de aceitar que Cristo nasceu da sempre Virgem Maria, que Cristo morreu na cruz e ressuscitou. A mesma Bíblia que revela que Cristo ressuscitou revela que o Papa é infalível. A mesma Bíblia, uma verdade está mais explícita; a ressurreição está descrita na Bíblia, a infalibilidade papal está implícita, como veremos, mas está lá. Toda a verdade, todo dogma, está na revelação, sempre esteve. Tá bom. Então, eu não posso negar um dogma. Por isso que todo católico, quando ele nega um dogma, nega uma verdade de fé, e negar uma verdade
de fé significa negar toda a fé. A fé é um conjunto único de verdades; não dá para dividir. Se eu tiro uma parte do conjunto da fé, eu desmontei a fé inteira. "Não, mas eu acredito em todo o resto." Não acredita, não, senhor! Se eu nego uma verdade de fé, eu perdi toda a fé. E a pessoa, quando renega uma verdade de fé, acaba perdendo toda a fé. Como eu disse, é um pecado gravíssimo; é um pecado de heresia, por exemplo, que a pessoa nega uma verdade de fé, que é um dos pecados que vai
excluir a pessoa da Igreja. É um pecado gravíssimo; dos pecados mais graves que existem, são os pecados contra a fé. Muito bem, vamos agora, então, um pouco de história. O Dogma da infalibilidade papal foi definido no Concílio de Vaticano I, em 1870, pelo Papa Pio IX, que não é beato; está em processo de canonização. O processo dele, acho que vai demorar muito, mas um dia ele vai ser, se Deus quiser, vai ser canonizado. E Pio IX tem uma história muito interessante. A família de Pio IX é uma família liberal. O século XIX é um século
marcado pelo liberalismo. O liberalismo é a doutrina da Revolução Francesa, que vai, então, realçar o individualismo: cada indivíduo tem a sua verdade, cada indivíduo vai ter a sua beleza. Romantismo, né? Cada indivíduo, então, vai ter o seu certo e o seu errado. Então, para o liberalismo, cada um tem sua verdade, cada um vai ter sua religião, então tem que ter liberdade religiosa. Liberdade de... Culto, liberdade de expressão, liberdade de ensino, né? A verdade e o erro, em outras palavras, vão ter o mesmo peso, porque se todo mundo quisesse liberdade de ensino, o professor ensinaria a
verdade muito bem. Isso sempre houve, isso sempre houve. O que é a liberdade de ensino e a liberdade de expressão? É para ensinar o erro, que agora, com a questão das fake news, parece que despertaram, né? Porque há coisas que não podem ser ditas e alguém tem que censurar, né? Muito bem. O Papa, então. Giovan O Cardeal Giovan Mastai Ferretti era liberal, foi eleito em 1846 com festa da Maçonaria. A Maçonaria mandava gritar "Viva Pio Nonno!" É nessa ocasião que São João Bosco vai mandar os alunos do Oratório gritarem "Viva o Papa!" e não "Viva
Pio Nonno!" porque o Pio Nonno era o Papa que a Maçonaria estava festejando. Ele vai, então, dar um indulto para todos os liberais que estavam presos, todos os liberais, os revolucionários. Vai todo mundo para Roma. Nessa época, havia os Estados Pontifícios. Então, o reino da Igreja, que pegava tudo da bota, era governado pelo Papa. O Papa era rei daquele território e o Papa, então, nomeia um desses indultados para ser o primeiro-ministro e faz uma constituição pros Estados Pontifícios, não pra Igreja, né? Faz uma constituição para os estados, então o reino, os Estados do Papa, que
era um reino, passam a ter uma constituição liberal. Aqui, a Maçonaria que atuava muito era a Maçonaria Carbonara, que era terrorista e queria trabalhar pela unificação da Itália. O processo de unificação da Itália foi relativamente longo, que vai para unificar a Itália, para unir todos os reinos da bota, também o do Papa, né? Então, precisaria deixar de existir os Estados Pontifícios e, em dado momento, sugeriram os revolucionários que o Papa seria o rei da Itália. Haveria um reino na bota inteira, a Itália, cujo Rei seria o Papa. Pio era simpático a esse pessoal... o caldo
vai entornar quando eles exigem do Papa, em 1848, que o Papa declare guerra à Áustria. A Áustria era a grande protetora dos Estados Pontifícios, a grande inimiga dos maçons carbonários que queriam destruir os Estados Pontifícios e implementar o reino da Itália. Então, a Maçonaria exige que o Papa declare guerra à Áustria. O Papa falou: "Isso aqui eu não posso fazer, eles são católicos, são meus filhos", né? Isso foi em 1848, então eles invadem o palácio do Papa, ameaçam o Papa. O Papa, então, tem que fugir, ele põe uma batina de padre normal e foge à
noite para o sul, para o Reino de Nápoles, para uma cidade chamada Gaeta, para se proteger. Ele vai ficar em Gaeta até, se eu não me engano, 1850 ou 1851. E quando ele volta, ele tem a garantia - quem faz isso? Expulsos, os revolucionários de Roma são os franceses, e a França, então, mantém exércitos em Roma para proteger o Papa. O Papa, então, volta e volta mudado, volta convertido. Em outras palavras, era uma vantagem enorme para a Igreja, porque agora havia no trono de São Pedro um Papa que fora liberal. Ele conhecia todos os planos
da Maçonaria, tanto que ele mandou publicar os planos da Maçonaria. Ele pediu para um jornalista católico, o Retino Joli, para publicar todos os planos da Maçonaria. E a Maçonaria, então, ficou uma fera com Pio, né? E Pio, então, vai estar em Roma e ele vai, por exemplo, declarar... definir o dogma da Imaculada Conceição. O dogma da Imaculada Conceição vai ter uma importância, em 1854, enorme, porque se o liberalismo diz que todos os homens nascem iguais, são iguais perante a lei, o Papa, definindo um dogma, diz que houve uma mulher que não só não é igual,
como ela nasceu desigual, foi concebida desigual, e a lei, que é a lei do castigo do pecado original, não chegou até ela. Então, não nascemos todos iguais, não somos concebidos todos iguais, não somos todos iguais perante a lei. Então, era um dogma que, além de honrar com justiça Nossa Senhora, ainda combatia o erro na moda, que era o liberalismo, tá? Quando o Papa definiu o dogma da Imaculada Conceição, alguns bispos e cardeais pediram pro Papa também publicar, que já era um plano do Papa, uma síntese dos erros da época, condenando o socialismo, o comunismo, a
Maçonaria, o liberalismo, etc. O Papa pensou em fazer isso. Ele vai fazer isso dez anos depois, é o Sílabo. Mas o Papa, quando se aconselhou e ele recebeu um conselho que me parece muito acertado: "Vossa Santidade, se o senhor define o dogma e publica uma compilação dos erros modernos ao mesmo tempo, o dogma perde força, né? É preciso concentrar o golpe num único ponto." Então, ele fez isso, e ele vai então definir o dogma e vai publicar o Sílabo só em 1864, dez anos depois, tá? O Sílabo é um apêndice de um documento de Pio
chamado "Quanta Cura", que eu recomendo muito que leiam. O Sílabo é um conjunto de frases, são frases condenadas. Então, pode-se ao menos ter esperança da salvação eterna daqueles que estão fora da Igreja, essa é uma frase condenada pelo Sílabo, que muitos doutores dizem que é infalível, o Sílabo, né? O último dos erros que ele condena é que o Papa deve se conciliar com o mundo moderno, frase condenada, né? Então, eu recomendo muito que leiam o Sílabo. Enquanto isso tudo acontece, a unificação italiana está em curso, né? Então, Vítor Emanuel, que foi quem... Fez a unificação
italiana e ficou rei da Itália. Ele vai então aglutinando aqueles reinos que havia na Itália e, quando é 1860, ele vence o exército do Papa e toma todos os Estados Pontifícios, exceto Roma. Então, o Papa ficou só com Roma e perdeu todos os Estados Pontifícios. Em 20 de setembro de 1870, eles tomam Roma; eles invadem Roma, pela famosa invasão pela Porta Pia, que é uma das portas da cidade. Então, as tropas do Papa eram tropas relativamente fracas, pequenas, e foram derrotadas. Havia, nos exércitos do Papa, pessoas do mundo inteiro, era chamado dos Exércitos Pontifícios. Havia
brasileiros também; alguns brasileiros foram daqui até lá para poder lutar pelo Papa. E o Papa, então, perdeu; a Igreja perdeu todos os territórios. O Estado da Itália tomou todas as propriedades da Igreja. O rei fez, então, a Lei das Garantias, dando ao Papa uma certa soma em dinheiro, havia uma certa renda e uma liberdade. Enquanto monarca, ele não tinha territórios, mas continuava sendo o monarca. O Papa nunca quis saber disso. Então, isso aqui é o que vai dar origem à chamada "Questão Romana". O que Pio fez foi se fechar no Vaticano e disse que ele
era prisioneiro agora no Vaticano. Essa situação vai durar até 1929, quando o Papa Pio XI assina com Mussolini o Acordo de Latrão, que é a partir daqui que surge, então, o Vaticano, que é uma nação, o menor país do mundo. São poucos quarteirões, mas é um país. Então, de 1870 até 1929, o Papa e todos os sucessores de Pio se declaravam prisioneiros em Roma. Quando, em 8 de dezembro, ele define o Dogma da Imaculada Conceição, já disse em 64 cânones, condenando panteísmo, naturalismo, racionalismo, socialismo e maçonaria. Ele é um dos Papas, senão o mais odiado,
um dos mais odiados pela maçonaria. E ele vai fazer, então, convocar o Concílio Vaticano I, que vai durar pouco tempo; o Concílio precisou ser suspenso em 1870 porque, em 1870, começou uma guerra da França contra a Alemanha. A Alemanha também estava em processo de unificação; ela vai ser unificada em 1870 e Napoleão III, Imperador da França, surge ali, depois do reinado, como uma nação forte, militarista e poderosa. A Alemanha, antes, eram vários estados e reinos independentes e ela se consolidou por causa dessa ideia de liberalismo, que vai produzir o nacionalismo que vai produzir a Primeira
e a Segunda Guerra Mundial. Isso aqui eu já tratei: a Revolução Francesa é o avô da Primeira e da Segunda Guerra, ela é pai do liberalismo, que é pai da Primeira e da Segunda Guerra Mundial. Então, quando a França entra em guerra contra a Alemanha, chamada Guerra Franco-Prussiana, Napoleão III leva as tropas francesas que estavam em Roma, garantindo lá o Papa, para a França, para lutar pela França. É nessa ocasião, então, que Roma é invadida. Os revolucionários aproveitam que agora os soldados franceses que protegiam o Papa foram embora e invadem Roma, tomando o Vaticano. É
nessa circunstância, então, que o Papa é obrigado a suspender o Concílio, porque isso vai ser em julho de 1870, porque não havia condições de manter o Concílio em funcionamento. Então, ele não foi encerrado, ele foi suspenso. Muitos dos temas que seriam discutidos no Concílio não chegaram a ser discutidos. Esse Papa Pio era muito amigo de Dom Bosco. Aqueles que leram a vida de Dom Bosco certamente viram isso; Dom Bosco era recebido facilmente por Pio, toda vez que ele ia a Roma, Pio o recebia e perguntava: "Dom Bosco, como é que estão os seus meninos? Conta
para mim." Uma vez, Pio falou para Dom Bosco: "Olha que bonito." Ele pediu para Dom Bosco escrever sobre a infalibilidade papal e Dom Bosco, então, que era tão ocupado, escreveu no mesmo ano um capítulo do livro da História da Igreja que ele já tinha publicado, mas fez um adendo e mandou para todos os assinantes das Leituras Católicas, explicando sobre a infalibilidade papal. Uma vez, ele foi visitar Pio e mandou encadernar a coleção completa das Leituras Católicas, levando de presente para o Papa. O Papa ficou encantado e todo mundo, então, conversou com Dom Bosco, etc. Quando
Dom Bosco foi embora, todo mundo que ia visitar o Papa, ele mostrava: "Olha isso aqui, que bom! Dom Bosco, o que ele está fazendo e tal." No final do dia, ele chamou o secretário e disse: "Precisamos guardar isso aqui, eu quero deixar na estante bem visível." Olha como ele gostava de Dom Bosco, hein! E aí, então, ele pegou a escada, o Papa subiu na escada e começou a guardar. E aí o secretário falou assim: "Santidade, acho que isso aqui... tome cuidado, isso aqui não era para o senhor estar fazendo." Então, na minha casa, ele arrumou
tudo; depois achou que não estava bom, mexeu de novo, etc. Eu gostava muito de São Dom Bosco. Quando ele morreu em 1878, Dom Bosco, coincidentemente, estava em Roma e teve ocasião de entrar nos aposentos papais para ver o Papa, que já estava morto. Dom Bosco escreve para o Oratório, dizendo: "Eu fiquei impressionado! A cama onde o Papa dorme é mais pobre que a cama dos meninos no Oratório." E olha que no Oratório, pobreza era o que não faltava, hein! Então, vejam o que é um Papa Santo. Era um grande amigo de Dom Bosco. Nós vamos
falar de Dom Bosco mais daqui a pouco. Então agora vamos falar sobre o Concílio propriamente dito. O que eu quero aqui com essa explicação sobre o Concílio... Não, ele é acusado de ter convocado no primeiro para, como que, impor um dogma da infalibilidade papal, que ele criou essa história de concílio, para que no Concílio fosse definido dogma e que o que os bispos ali queriam, além de ter claro desejo do Papa, era definir o dogma da infalibilidade, poder colocar o Papa como uma espécie de divindade inerrante como Deus, né? Então essa é a acusação. Vamos
ver se ela procede, tá bom? Ah, o último Concílio ecumênico que ocorrera na Igreja foi o Concílio de Trento, no século 16. Aqui, o Concílio de Trento já tinha terminado há mais de 300 anos. A Igreja, desde a sua fundação, tem o costume de, por vezes, reunir em Concílio os bispos. Isso aqui sempre ocorreu, né? Se a gente ler o Ato dos Apóstolos, a gente vê que no primeiro século houve um Concílio, lá pelo ano 49-50, quando São Paulo volta da sua primeira viagem apostólica. Havia uma confusão em Jerusalém e em outros lugares, alguns dizendo
que as leis mosaicas obrigam que, então, todo católico, todo pagão, quando vai se converter ao catolicismo, ele primeiro tem que ficar judeu, e ele tem que manter as práticas judaicas. Depois é que ele vai ser batizado, entendeu? Então seria necessário que a pessoa continuasse sendo judeu e aquele que é judeu e se converteu não vai abandonar as práticas judaicas. A prática judaica não era, então, uma devoção ou um costume; era obrigação. Por exemplo, não podia comer as carnes proibidas. Isso aqui tinha uma força entre os judeus, particularmente os de Jerusalém, porque Jerusalém, por ser a
cidade do templo, era onde isso aqui tinha mais peso. Basta lembrarmos quando São Pedro tem o sonho que desce do céu, com as carnes proibidas, e Deus fala para ele: "Toma, pega, mata e come." E ele diz que não vai fazer isso. "Deus me livre, Senhor! Eu nunca pus em minha boca as carnes proibidas." Era Deus mandando, aí a coisa sobe, né? Tava numa espécie de lençol, e Deus, de novo, ordena. Ele diz que não vai fazer isso e, aí, sobe e não vem mais. Então isso aqui tinha muito peso. Alguns, por São Paulo, que
estava em Antioquia, e São Barnabé, compreenderam rapidamente que as práticas judaicas não importavam mais. Mas havia essa divisão. E quando São Paulo, então, volta da primeira viagem, isso aqui estava pegando fogo e os apóstolos reúnem-se em Jerusalém. Os apóstolos eram todos vivos, hein? Reúnem a Igreja em Concílio. São Pedro fala: "Ó, vocês aí que acham que as práticas judaicas são obrigatórias, quais são seus argumentos?" E eles deram os argumentos. Agora, vocês que acham que não obriga mais, quais são os argumentos? Eles deram os argumentos. São Pedro define: "Então não obriga mais. Quem quiser continuar frequentando
o templo, não comendo as carnes proibidas, é livre, mas não é obrigatório. Quem é pagão e vai ser batizado, não precisa ficar judeu antes." Então isso aqui foi um Concílio. Alguns concílios têm uma importância maior, são chamados os concílios ecumênicos. Por que ecumênicos? Porque vem da palavra grega "ecúmenos", que quer dizer regiões habitadas. Um Concílio ecumênico, então, é aquele que convoca os bispos da Igreja de todas as regiões do mundo, todas as regiões habitadas, todos os ecúmenos. Então, esses concílios ecumênicos, eles têm um peso maior do que um Concílio regional. Por exemplo, o primeiro Concílio
ecumênico foi o Concílio de Niceia, em 325, onde a Igreja condenou o arianismo. Esse Concílio foi importante por vários aspectos, sobretudo pelo arianismo que foi condenado. Mas, por exemplo, aqui que o cálculo da data da Páscoa foi definido no Concílio de Niceia. Então, o Concílio ecumênico é um acontecimento que acontece de vez em quando, né? Então, o Concílio de Trento foi o 19º Concílio ecumênico da Igreja. Agora haveria o Vaticano I e o Vaticano II; foi o 2º. Então, vocês vejam a média: um Concílio ecumênico por século, né? Mas, ainda assim, houve séculos e séculos
sem ter concílios ecumênicos e outros foram próximos uns dos outros, tá? Então o Concílio de Trento foi um Concílio que governou, por assim dizer, foi suficiente para governar a Igreja por mais de 300 anos. Então, claro e preciso, ele era, tá bom? Porque, quando ele é claro e preciso, e quando ele é certeiro, ele não gera confusão de interpretação. A letra e o Espírito, como é que vão fazer, etc., etc., né? Toda vez que se ensina, tem que se ensinar com clareza. Quanto mais é importante aquilo que é ensinado, mais clareza tem que ter, né?
Então, se eu estou ensinando o meu filho a lavar louça, isso exige um certo grau de clareza. Se eu sou professor de medicina e estou ensinando o meu aluno a fazer cirurgia cardíaca, exige um grau maior de clareza. Se eu vou tratar de assuntos de fé, eu vou ensinar para toda a Igreja; o nível de clareza tem que ser ainda maior. Então, um Concílio ecumênico não pode ser dúbio, né? Não pode ter letra e espírito, não pode ter interpretações posteriores. As conclusões que nós tiraremos depois têm que ser claras, tá? E o Concílio de Trento
era claro. Muito bem, então o Pio IX decidiu. Como é que ele decidiu convocar o Concílio, né? Isso aqui é bem interessante. Pio IX, deixa eu pegar aqui algumas datas, né? Pela primeira vez que ele expressou o desejo de convocar um Concílio foi em 1864, portanto, 5 anos antes do Concílio. Ele teve uma reunião, uma reunião de trabalho em Roma, com cardeais e secretários. No final, ele pediu para o secretário sair e ficou... A só com cardeais, os cardeais falaram: "Olha, eu tô pensando em convocar um concílio para condenar os erros da época, porque essa
aqui é uma outra característica do Concílio Ecumênico. Com exceção do Vaticano I, todos os concílios ecumênicos da história condenaram os erros de sua época. Então, aqui, o papa queria condenar o liberalismo, o socialismo, o naturalismo, etc. Primeiro, ele só esboçou, perguntou para os cardeais: 'Pensem a respeito e depois me digam o que vocês acham, mas pensem sozinhos, até para um não influenciar o outro, né?' Depois, me entreguem por escrito. Após isso, ele estabeleceu que todos os cardeais de Roma deveriam ser consultados. Então, vejam a prudência do papa: se eles achavam que era conveniente o papa
convocar um Concílio Ecumênico. Vinte e um cardeais responderam e deram um parecer para o papa. Nesse parecer, estava dividido nas seguintes partes: quatro partes. Primeiro, a situação do mundo naquela época; segundo, a questão sobre se o estado do mundo requer ou não um supremo remédio de um Concílio, porque a situação do mundo é essa e essa, mas para resolver não precisa de um Concílio ou precisa; terceiro, as dificuldades de se empreender um Concílio Ecumênico naquela circunstância; quarto, os assuntos que esse Concílio deveria abordar. Então, olha que interessante isso na resposta: no primeiro ponto, que era
sobre a presente situação do mundo, os cardeais não escreveram: 'O mundo está em grande progresso, nós agora temos máquina a vapor, eletricidade...' Olha só como agora nós temos o telégrafo! Não se falou nada sobre a ciência, sobre o progresso, sobre nada disso. Falou-se só sobre aquilo que tocava à salvação das almas. Nenhum otimismo com o mundo moderno, tá? Só trataram de assuntos estritamente relacionados à finalidade eterna da nossa existência. Nada de entusiasmo pelo mundo moderno. E elencaram os erros que tinham que ser condenados. Depois, na segunda questão, se a questão sobre o estado, se todo
mundo requer um remédio do Concílio, os cardeais disseram que sim, que esse remédio era necessário. É verdade que os papas já tinham condenado esses erros, mas que, havendo uma condenação de um Concílio, isso daria maior peso, porque também os papas do século X tinham condenado o protestantismo, e ainda assim Trento condenou, e o Concílio, condenando, dá maior peso à condenação. Então, tinha que condenar. Desses 21 cardeais, 19 consideravam que o Concílio tinha que ser convocado; dois não. É importante que esses dois que disseram que não, porque mostra que havia liberdade e que eles podiam, de
fato, opinar livremente. Depois, sobre a terceira questão, se naquela situação atual dava para ter um Concílio, comentaram que a situação de fato era bastante difícil. E vocês vão ver que os governos da Europa se movimentaram bastante para proibir, para impedir que houvesse um Concílio. E, depois, quarto ponto: do que esse Concílio tem que tratar. Agora vamos ver se estavam impondo, de fato, a infalibilidade. A primeira coisa que eles disseram era que tinha que condenar os erros modernos, isso que eles disseram. Fazer a exposição da doutrina católica, a observância da disciplina, a sua adaptação às necessidades
do tempo presente e a elevação do estado dos clérigos, da ordem religiosa, etc. Só dois cardeais falaram de infalibilidade; esse assunto eles nem estavam tratando. É mentira que o Concílio foi imposto. Olha como o papa não convocou nada até aqui. Ele estava só perguntando o que vocês acham, depois o que vocês acham que tem que tratar. O papa não falou de infalibilidade coisa nenhuma. Muito bem, depois em março de 1865, o papa então pede para alguns cardeais se reunirem de vez em quando para discutir se um Concílio deveria ou não ser convocado. Isso em 1865,
hein? Então, esses cardeais, em número de 13, 12 deles disseram que o Concílio tinha que ser convocado; um disse que não. Ele disse que não, mas que achava que não tinha que ser convocado. Porém, ele se submeteu ao Soberano Pontífice: se o papa disser que acha que tem que convocar, vamos convocar. Aí, então, se submeteu o compêndio, o resultado dessa reunião, a um novo exame sobre se deveria haver necessidade de convocar o concílio. E olha aqui o argumento, que interessante: "não há necessidade absoluta de se convocar um Concílio; a necessidade é relativa", quer dizer, eles
estavam dando só argumentos por não convocar. Muito bem. E aí então, se comentou do Concílio de Trento, se comentou de 300 anos que não tinha Concílio, e disseram o seguinte: "Olha, a Igreja é infalível, perdão, a Igreja é infalível, mas ela não é infalível em relação aos concílios; pelo contrário, os concílios é que são infalíveis em razão da Igreja." Então, para o papa condenar infalivelmente erros modernos, não precisa do rigor de um Concílio Ecumênico. Tudo isso aqui para dizer o quê? Para a gente poder comparar, né? Porque na história se estuda comparando. O Concílio vai
começar em 1869, o papa, aqui, cinco anos antes, cheio de prudência, convoca ou não convoca, e as consultas do papa ainda não acabaram. Como vocês vão ver, como é que foi convocado o Vaticano I. João XXIII foi eleito em 1958, em outubro de 1958. Quando, em janeiro de 1959, três meses depois, no dia 25 de janeiro, que é a festa de São Paulo, ele estava na Basílica de São Paulo, fora dos muros, porque era a festa de São Paulo, e ele então, do nada, disse que..." Convocaria o Concílio. Depois, ele disse que teve uma inspiração
para fazer e disse que ele mesmo, João XXIII, ficou espantado com aquilo que ele fizera: convocar um Concílio. Então, vejam aqui: Pio IX e o Concílio Vaticano I são acusados de terem convocado um Concílio irrefletidamente, né? Porque o intuito era definir um dogma de infalibilidade papal. A gente está vendo que não foi assim. E por que não se acusa o Vaticano I? Aliás, o Concílio de Trento é interessantíssimo; a convocação dele, viu? Depois vou tratar um pouco disso, tá? Resultado: aqui, o Papa Pio IX mandou consultar os bispos, não os bispos do mundo todo, mas
mandou fazer uma comissão. E essa comissão, então, você vê que fez várias consultas. Nin vai dizer para o Papa o seguinte: o que eles tinham que analisar? Primeiro, se convocar um Concílio ecumênico era relativamente necessário e oportuno. Resposta afirmativa: sim. Segundo, se uma prévia comunicação deveria ser feita aos Príncipes católicos. Não. Isso aqui sempre foi um costume; a Igreja sempre que convocava um Concílio ecumênico convocava os Príncipes católicos para que eles viessem com os prelados dos seus territórios. Paulo I, que convocou o Concílio de Trento, teve problemas com isso porque ele convocava e os monarcas
estavam colocando em dificuldade. Aí, Paulo III, então, ele escreve um documento dizendo que, confiando somente em Deus, ele vai convocar o Concílio. Ele convoca o Concílio. Aqui, então, a situação era muito mais difícil, difícil do que no século XVI. A oposição, para vocês terem uma ideia, em 62, o Papa fez a canonização dos Mártires do Japão. O governo da Itália proibiu os bispos italianos de irem para Roma participar da canonização. Na Itália, então, a situação estava mil vezes pior. Pior. Então, aqui ele falou: não adianta convidar os monarcas católicos, que não vai funcionar. Terceira pergunta:
se, antes de publicar a bula de convocação do Concílio, o Sacro Colégio, os cardeais, deveriam ser consultados e como isso poderia ser feito. Como é que vai convocar os bispos? Vai consultar os bispos. Resposta afirmativa, mas o Papa decide como é que vai fazer. Quarta questão: se era oportuno formar uma congregação extraordinária que se ocupasse com a direção das matérias do Concílio. Claro, para preparar o Concílio. Resposta afirmativa. Última: se a congregação acima mencionada, para preparar o Concílio, fazer os documentos, os esquemas etc., deveria, após a publicação da bula, depois que o Papa convoca o
Concílio através de uma bula, consultar alguns bispos do mundo de várias nações para que eles pudessem, resumidamente, mandar questões de doutrina ou disciplina que achassem importante serem tratadas no Concílio. Resposta afirmativa. Quando entregaram isso aqui para o Papa Pio IX, viu tudo que eles decidiram. Ok, mas fez uma mudança. Opa, aqui no quinto ponto: vocês estão dizendo que, depois que o Papa publica a bula, os bispos do mundo vão ser consultados? Alguns bispos? Não, não. Eu quero que se consulte antes. Ele quis que se consultasse antes de convocar o Concílio. Quer dizer, como é que
esse Papa quis impor um Concílio? Impossível acreditar numa coisa dessa, né? Muito bem. Então, o Papa convoca o Concílio. Ele já tinha... ele ficou na dúvida que data ia fazer, porque pensou em fazer em 67, que era a comemoração do martírio de São Pedro, mas disseram que aquela ocasião não era oportuna. Então, ele não vai convocar o Concílio para 67, vai ficar para 69. Aqui, já fui, já falei tudo. Notem que não se falava de infalibilidade, hein? Quando a comissão preparatória foi tratar dos temas que iam ser tratados no Concílio, quando chegou a hora de
falar de infalibilidade, a comissão preparatória falou assim: "Isso aqui não pode, esse tema partir de Roma. Se os bispos do mundo, reunidos em Concílio, quiserem tratar deste tema, o Concílio trata. Nós não vamos nem pôr nos esquemas." E pararam. Resultado: o Concílio começou sem ter esquema, tratando da infalibilidade, tanto que, durante o Concílio, quando os bispos decidiram que tinha que tratar da infalibilidade, eles tiveram que então retomar o estudo, porque não tinha um estudo, o esquema não estava pronto. Quer dizer, não havia plano para impor infalibilidade a ninguém. Tá bem, muito bem. Ah, falei que
o Concílio de Trento foi também uma confusão para ser convocado, né? Isso aqui foi um argumento que também Roma usou: "Confusão por confusão, não vai ser pior que na época de Trento." Né? Que em 18 anos teve aqui três anos de Concílio, teve suspensões que duraram 10 anos. Hein? O Concílio era para ser em Mantua, não nem para ser em Trento. Teve que mudar de lugar. Uma confusão. O Papa mandou os prelados para chegar lá, não aparecia bispo porque estava tendo a guerra com os turcos; eles não conseguiam viajar. Então, confusão por confusão, tem que
fazer o Concílio, tá? Muito bem. Já comentei aqui sobre esses assuntos, então passo rápido. Em 65, o Papa, então, manda uma carta para os núncios, que são as embaixadas de Roma na Europa, falando da convocação de um Concílio, perguntando se era prudente ou não convocar o Concílio. Quando é em 26 de junho de 67, o Papa... que aí vai ter um concílio com 500 bispos. Aqui, 500 bispos, na época, era mais ou menos metade dos bispos do mundo. Até então, nunca tinha tido uma reunião com o Papa de tantos bispos. Isso aqui... Eles foram para
Roma para comemorar os 1800 anos da morte de São Pedro, né? Que foi em 67. Então, anuncia para os bispos a intenção dele de realizar o Concílio. Ele só vai convocar o Concílio pela comulata eterna e patriarca em junho de 68, para o Concílio começar em 8 de dezembro, na festa de Nossa Senhora de 69. Tá, então vê que não teve nada de pressa, nada de imposição. O Concílio, e ele foi bem. Só em 69 que eu tive católica, que era um jornal dos Jesuítas, uma revista dos Jesuítas que atacava uma revista de brigas e
polêmicas contra a Maçonaria, contra o liberalismo, que falou que o Concílio estava para definir o dogma da infalibilidade papal. E como eram os debates no Concílio? No Concílio, todo mundo podia falar. Então, era colocado o tema. Todo bispo que queria falar pedia a palavra. Quando mais ninguém queria falar, aí parava tudo. Aquilo que foi dito era recolhido, impresso e depois distribuído aos bispos. E aí eles se reuniam de novo para discutir. Só quando todo mundo tinha falado e ninguém mais queria falar é que se votava e se aprovava alguma coisa. Então, vejam agora como era
no Vaticano I. No Vaticano II, havia temas proibidos, por exemplo, o comunismo. Se alguém fosse falar do comunismo, os microfones eram cortados. Fizeram isso aqui com o Cardeal Ottaviani, secretário de Estado. Ottaviani era meio cego, ele já era bem velho. Ele estava falando, cortaram o microfone, ele continuou gesticulando e ninguém ouvia. Ficou num papel ridículo, ele ficou tão humilhado que depois ficou dias sem aparecer no Concílio. O secretário de Estado foi falado que não podia. No Vaticano II, cortaram o microfone. No Vaticano I, todo mundo falava à vontade. Então, vamos comparar. Já que é para
comparar, por que um Concílio é atacado? O Vaticano I é muito atacado. Viu por que um é atacado e o outro não? Muito bem. Está aqui os esquemas que o Concílio ia tratar. Como eu disse, ele não tratou de todos, porque o Concílio foi interrompido. Depois, sobre a infalibilidade, olha isso aqui: a decisão da Comissão Preparatória de que esse assunto, a infalibilidade, não seja proposto pela Santa Apostólica a menos que haja petição dos bispos. Ponto. E não se discutiu isso. Então, dessa maneira, o capítulo referente à infalibilidade não foi concluído. O Concílio começou sem o
assunto infalibilidade em pauta. Depois, aqui, num Concílio, como é natural, há muitos debates. Depois que não se discutiu também a infalibilidade, havia muitos argumentos. Quem era contra a infalibilidade podia argumentar à vontade, e havia aqui de fato um número grande. Quando eu falo contra a infalibilidade, não estou sendo preciso. Esses bispos, eles eram na verdade contrários à definição do dogma. Eles diziam que o Papa era infalível, mas que este dogma não precisava ser definido, ou que não convinha que esse dogma fosse definido agora. Diziam que todo mundo sempre disse isso. Nunca se discutiu tanto que
nunca nem foi definido que a Igreja é infalível. A Igreja nunca se preocupou em definir o dogma da infalibilidade da Igreja porque isso nunca foi discutido, né? A Igreja define um dogma quando ele é discutido e diziam que já era suficiente o fato de se reconhecer e se aceitar que a Igreja é infalível. Não precisava definir que o Papa era infalível. Tá bem, isso aqui. Então, há um elenco de argumentos que eu não vou dar todos para poupá-los, mas são argumentos muito interessantes. Muitos argumentos contrários à definição, depois, todos eles foram rebatidos um por um.
Tá, e depois eu coloquei aqui um exemplo, né? Então, eu vou até pegar aqui no meu resumo porque vai estar mais detalhado, tá? Olha isso aqui, que interessante: os argumentos que se opunham à definição do dogma. Não havia nenhuma necessidade ou urgência para tal definição porque todo o episcopado, todos os sacerdotes da Igreja e todo o corpo de fiéis, com poucas exceções, sempre acolheram e neste momento ainda acolhem com veneração e docilidade as decisões doutrinais dos pontífices, e recentemente aquelas de Pio X, que é o Papa reinante. Resposta: se o episcopado, os sacerdotes e as
pessoas são, com poucas exceções, unânimes em acolher com submissão e assentimento os atos pontifícios, não haveria nenhum risco em promulgar tal definição. Todo mundo aceita, então não tem nenhum perigo, né? Vamos definir, né? Não tem por que não definir. Depois, ele também fala o seguinte: se essa é uma verdade que Deus revelou, como se aceita? Por que não definir uma verdade que Deus revelou? E assim são vários argumentos bem interessantes. E depois desses argumentos, né? Havia também as razões positivas, ou seja, por que tem que definir. Então, isso aqui também é bastante interessante. Porque então,
450 bispos enviaram à comissão dos postulados uma petição solicitando que a doutrina da infalibilidade fosse discutida no Concílio. Então, é aqui que ela vai ser discutida, é aqui que eles vão, então, escrever o esquema daquilo que vai ser tratado no Concílio. Tá bem? Depois, se alguém me quiser, eu tenho todas essas argumentações aqui já. É só dar um Ctrl+V que eu mando para vocês, tá bom? Eu não vou passar em todos, mas o que eu quero deixar claro é que não houve argumento contrário à definição que não pôde ser dado, assim como não houve nenhum
que deixou de ser rebatido. E depois foram dados muitos argumentos favoráveis à definição do dogma da infalibilidade naquela circunstância presente. Tá bem, pois isso que estou falando foi só referente à promulgação, não os argumentos para isso. Exatamente porque quem se opunha, Ângelo se opunha à definição, falava: olha, não convém definir agora esse dogma, não é necessário fazer isso agora, etc. Então, quem se opunha se opunha à definição do dogma e não ao... Dogma, tá bom? Ah, agora vamos tratar um pouco sobre o Dogma propriamente dito, que é pra gente compreender, né? Eh, o que quer
dizer infalibilidade papal? Primeiro, é importante distinguirmos bem a pessoa de ofício: a pessoa do Papa, do ofício de pastor da Igreja Universal, ou a pessoa de Bergoglio, porque ele é uma pessoa, né? Da do sumo pontífice, enquanto agindo como sumo pontífice. E o agir como sumo pontífice não é só vestir a batina branca, hein? É agir como sumo pontífice mesmo. Há algumas condições que ele precisa preencher, tá? Então, é preciso distinguir: nem tudo que o Papa faz ele faz usando a infalibilidade. Isso aqui é bem importante. Se a gente compreender isso aqui, todas as tentações
que a pessoa pode ter de "ai, será que o Papa é Papa?", tudo isso aqui acaba, tá? Depois, infalibilidade não é impecabilidade. O Papa peca. Porque se todos os filhos de Adão pecam, não é? Com exceção de Nossa Senhora, os santos pecam, não é? Cometem pecados veniais, mas cometem. O Papa não tem o seu confessor. O Cardeal Be, não era o confessor de Pio XII? Quando teve o Ano da Misericórdia, eu me lembro bem da cena. Quando teve o Ano da Misericórdia, o Papa Francisco, que o Ano da Misericórdia foi em 2016, agora se eu
não me lembro, ele incentivou todos os católicos do mundo a se confessarem. Ele desceu lá dos aposentos papais, foi na Basílica de São Pedro, foi no confessionário, se ajoelhou, confessou. Tiraram uma foto. Mas aqui, então, se o Papa se confessa, qual é a matéria do sacramento da confissão? Uma das matérias é o pecado, né? O pecado e o arrependimento. Então, o Papa peca, embora seja infalível. Então, enquanto ele tá pecando, ele não é infalível. Portanto, ele é infalível em algumas circunstâncias e em outras, não, tá bom? A infalibilidade se relaciona ao ofício de Papa. Ele
tá exercendo o ofício, muito bem. A infalibilidade está unida ao primado de Pedro. Isso aqui tem que ser, e aqui, de novo, eu me dirijo ao protestante que esteja assistindo a essa aula. Deus nunca vai nos pedir algo, nunca vai nos dar uma incumbência, sem nos dar os meios de cumprirmos aquilo que ele nos pede. Vocês imaginem que um patrão de uma empresa, quando ele montou lá a empresa, o escritório, ele não comprou impressoras pro escritório? E aí, um dia, ele chega para o funcionário dele e fala: "Meu amigo, me imprima esse relatório aqui. Eu
quero isso aqui em 15 minutos em cima da minha mesa. Se vira! Eu sou o chefe aqui, se você não fizer isso, você perde o emprego!". Entendeu bem? Isso é um contrassenso. Porque se ele não deu os meios, se ele não colocou impressoras no escritório, o funcionário não tem como imprimir o documento que ele pede. O exemplo é um exemplo banal, mas é um exemplo para ilustrar: Deus não vai pedir nada que nós não possamos cumprir. Ora, quando Cristo define o primado de São Pedro, ele diz: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela". Como é que São Pedro vai agora, sendo pescador, fazer com que as portas do inferno não prevaleçam sobre a Igreja? Depois, quando nosso Senhor ressuscitou, aparece a São Pedro e diz: "Pedro, tu me amas?" Senhor, "sabei que vos amo". "Apascenta as minhas ovelhas". Quer dizer, deu três vezes, né? "Apascenta as minhas ovelhas". O que é apascentar as ovelhas? É ser um pastor. O que faz o pastor? É quem guia. O pastor vai na frente, levando. É ele que cura a ovelha que está ferida, é
ele que protege a ovelha do lobo, é ele que leva para um local seguro, que leva para o local onde há alimento. Pera aí, se ele deu a incumbência dele, apascentar o rebanho católico, proteger do erro, proteger do inimigo, levar para um abrigo seguro, tudo isso aqui, como é que São Pedro ia fazer, sendo pescador? Deus tinha que dar os meios. Então, fica tranquilo que eu vou te ajudar. Então, em matéria de fé e de moral, você vai ter a assistência do Espírito Santo, porque senão, que confiança a gente ia ter no que Pedro disse?
E Pedro é o Papa. Se ele não tem uma segurança de que ele tem algo que eu não posso ter, senão, eu estudo em casa, né? São Tomás de Aquino provavelmente era muito mais inteligente que o Papa da sua época, mas, no entanto, ele não era infalível, ele não tinha essa assistência do Espírito Santo. Compreenderam? Se Deus deu uma missão, Deus vai dar os meios. Deus tem que dar um modo pra pessoa cumprir aquilo que ele pede: "Apascenta as minhas ovelhas, sob esta pedra edificarei a minha Igreja". Então, São Pedro, eu te darei as chaves
do Reino do Céu. Entendeu? Deus... Ah, bem-aventurados és tu, Pedro. E... como é que é? Que não foi a carne nem o sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está no céu. Deus falou pela boca de São Pedro. Deus fala pela boca do Papa. Então, isso aqui tá nas Sagradas Escrituras. E se não fosse assim, como é que nós poderíamos ter certeza? Os protestantes dizem que o Espírito Santo ilumina. Que certeza eles têm disso? Isso é puro palpite que eles inventaram. Porque se fosse assim, todos nós teríamos uma grande unidade. E essa unidade
não existe nem entre os protestantes. Ora, se o Espírito Santo é o mesmo, ou o Espírito Santo tá soprando "A" aqui e o contrário de "A" ali, que Espírito Santo é esse? É óbvio que não tem essa inspiração. Então, muito bem, não é uma qualidade. Inerente à pessoa e sim uma assistência inseparável do Ofício, por isso que ela é exc. cátedra, quer dizer, ex cátedra, né? Da cátedra, né, do Trono. A partir do Trono, porque quando a pessoa se senta no trono, é que ele vai agir com autoridade que aquele trono representa. Isso quer dizer
o ex cátedra. O ex cátedra agora; ele falou com o Papa, hein? Agora tá falando ex cátedra. O Papa, ele tem que falar como Papa; aquele vai ser infalível. Não é um discurso, não é uma saudação, não é o Angelus, não é uma entrevista no avião, não é quando ele se dirige a todos os bispos do Brasil em Aparecida do Norte. Não, aqui não é ex cátedra. Isso tudo tem importância, porque é o Papa dizendo, mas não é ex cátedra. É quando ele se senta. Veja só: Pilatos, quando foi condenar Cristo, ele se sentou no
lugar, né? Sentou na cadeira de juiz, porque agora ele ia pronunciar uma sentença. Quando o Papa se senta no trono de São Pedro, agora ele vai falar como o Papa; isso que é ex cátedra. Então, não quer dizer que o Papa para ser infalível tem que estar sentado no trono. Não é uma coisa, não é isso que eu tô dizendo. Tô dizendo que ele tem que falar com a autoridade de Papa. Compreenderam? Isso aqui é bem importante a entender, porque a gente vai saber distinguir uma coisa da outra depois. Não é uma descoberta de novas
verdades. O Papa não é: "Olha, agora que eu sou infalível, eu vou começar a falar coisas que nunca ninguém imaginou." Precisam ver o que o Espírito Santo tá aqui me dizendo, né? As últimas novidades do céu, né? Não é isso; é para preservar as antigas verdades que foram reveladas. Não é para trazer novidade, é para dar segurança daquilo que já é conhecido. Depois, é uma graça dada para o bem dos outros. A infalibilidade não é certeza de que o Papa é santo. Não. O Papa é infalível, então ele é santo? Não. Aqui há dois tipos
de graças quanto à questão da santificação, né? Uma que Deus dá para a santificação pessoal e uma que Deus dá para a santificação do outro. Então, a graça da profecia, da santificação do outro. C era Profeta, profetizou a morte de Cristo, mas não para dizer que ele era santo. Não preciso provar que ele não era santo. A gente vai ver isso agora na Semana Santa. Ele condenou Cristo depois de ter profetizado, então ele não era santo. A infalibilidade é um desses tipos de graça que é para o benefício de outro e não para a santidade
própria. Ele é infalível, pode ser santo depois. Alguns, para combater, para argumentar contra a infalibilidade papal, dizem: "Escrevi aqui, meu caro, porque isso aqui é ataque direto." Hein? Tô dando bem resumidamente aqui, mas pra vocês terem uma ideia. O primeiro-ministro da Baviera tentou organizar um colúio dos Príncipes da Europa para impedir o Concílio, hein? Escreveu para eles, etc. Então, um dos argumentos que ele dava era o seguinte: "Olha, dizer que o Papa é infalível é atribuir ao Papa um poder que é de Deus; só Deus não erra." Resposta do Concílio: "Sim, é verdade; só Deus
não erra. Também só Deus perdoa os pecados." Os judeus, quando acusaram Cristo, disseram: "Esse homem pensa que é só Deus quem pode perdoar os pecados." Eles estavam errados na acusação, mas o argumento deles tinha razão; só Deus pode perdoar os pecados, claro. E, no entanto, o que Cristo disse para os Apóstolos no domingo de Páscoa? "Recebei o Senhor Profeta". Ele desejou a paz e disse: "Recebei o Espírito Santo; o pecado a quem perdoardes será perdoado, e o pecado de quem retiverdes será retido." Claro que é um poder de Deus que Deus confere a outro, como
confere de perdoar os pecados. Pode conferir também o da infalibilidade. Qual o problema? Depois aqui eu falo rápido de Dom Bosco; a aula já tá acabando, né? Mas é que falar de Dom Bosco é divertido. A gente tem aí alguns jovens assistindo à aula. Dom Bosco ia muito a Roma, né? E Dom Bosco ele teve também uma visão, teve um sonho sobre infalibilidade. E ele vai escrever pro Papa. Eu não vou ler o texto aqui, mas ele escreve pro Papa, né? Ele começa dizendo: "Agora, a voz do céu ao pastor dos pastores." E vai tratar
sobre a infalibilidade. Depois, em Roma, ele começa a frequentar as reuniões, os círculos dos bispos. Imagina, durante o Concílio, imagina que tem reunião de chatos internacionais, né, dos bispos conversando, que a gente vai tratar amanhã. Fala: "Você, eu vou te apoiar; ataca isso; ataca aquilo." Porque vocês lembram aquele exemplo do bispo no Vaticano? Primeiro, que era surdo. Tão lembrados que ele era um bispo já muito velho, era surdo em todos os debates que tinha. Ele vaiava muito e aplaudia muito; ele era muito vibrante. E os bispos ficavam perplexos: "Puxa, ele não escuta nada do que
está sendo dito; como é que ele aplaude tanto, vai a tanto?" Fora esse, não, etc. E um dia foram perguntar para ele: "Escuta, Monsenhor, nós vemos que o senhor aqui participa com muita empolgação dos debates, mas o senhor tem tanta dificuldade para escutar; como é que o senhor aplaude tanto e vai a tanto?" Ele fala: "É simples. Eu fico observando Monsenhor de Panlu, que era contrário à definição do dogma, né? Quando Monsenhor de Panu aplaude, eu vaio. Quando ele vai, eu aplaudo. Claro, os inimigos nunca erram de alvo. Se os inimigos estão elogiando, atenção. Se
os inimigos estão criticando, atenção. Né? Quando a imprensa elogia muito alguém, observe bem. Né? Os maus nunca erram de alvo!" Então, esse bispo era muito, muito... Sabido então, havia muitos debates, e Dom Bosco não participava do Concílio, né? Ele não era bispo, mas ele ia conversar com os bispos para tratar dessa questão da infalibilidade. Ele foi, então, uma vez, falar com o Monsenhor Gastal, que, por influência de Monsenhor de Panu, começou a defender que não era para definir o Dogma da infalibilidade papal. E Dom Bosco, então, foi conversar com ele. Ele tinha muito respeito, como
todos tinham ali, por São João Bosco, que já tinha uma fama de santo enorme. Dom Bosco vai explicar para Monsenhor Gastal que o Dogma tem que ser definido, né? E vai dar vários argumentos para ele. E ele vai, então, falar: "Dom Bosco, tô convencido. A partir de agora, eu vou defender a definição do Dogma." E Dom Bosco fala para ele: "Senhor, então, quando tiver na reunião do Concílio, diga isso da tribuna, porque o senhor vai fazer um grande serviço pro Papa." Havia um outro, um tal de Monoral Dio, que também estava muito contra, e ele
ficou sabendo que bispos que eram contrários à definição do Dogma, depois de falar com Dom Bosco, mudavam de opinião. Ele falou: "Como é que pode isso? Vou eu falar com Dom Bosco!" Ele vai lá, Dom Bosco tinha uma agenda muito ocupada, ele ficou esperando, não conseguiu, foi embora. Voltou outro dia, ficou esperando um tempão, não conseguiu. Na terceira vez, ele falou: "Não, hoje eu falo com Dom Bosco." Ficou esperando lá um tempão e, quando deu uma brechinha, ele entrou e foi falar com Dom Bosco. Dom Bosco estava com bispos, padres, etc. E ele falou assim:
"O senhor, como é que é essa história que o senhor está defendendo, que tem que definir o Dogma? Eu acho que não tem que definir o Dogma da infalibilidade." Dom Bosco disse: "Olha, eu não sou a pessoa aqui mais autorizada a falar do tema." Imagina, ele estava diante de bispos, né? Então, Dom Bosco, muito humilde, falou assim: "Não, Dom Bosco quer ver por..." E ele, então, começa a dar todos os argumentos. Ficou uma hora falando que não deviam definir o Dogma da infalibilidade papal. Dom Bosco ouviu educadamente. Bom, então agora eu tenho que falar, né?
Ele não falou: "Agora é minha vez", como o professor falou no debate lá. Agora é minha vez. Ele esperou o senhor falar e, aí, então, ele falou assim: "Olha, Monsenhor, eu vou lhe dar argumentos de muita autoridade. Eu peço que o senhor preste atenção, mas eu tenho certeza que, quando o senhor escutar os argumentos que eu lhe der e o senhor souber quem esses argumentos... É uma pessoa de tanta autoridade que o senhor vai aceitar. Muito bem, quem é? Eu peço ao senhor paciência para ouvir." E aí Dom Bosco vai até a estante, pega um
livro. "O que é, livro? Calma, por favor!" E aí Dom Bosco lê calmamente, vai lendo calmamente os argumentos do livro. E aí, ele já entendeu, né? Começou a levantar a mão: "Deixa eu ver que livro é esse aí, né?" E Dom Bosco não queria que ele visse. Aí ele vai ver que era um livro do próprio Monsenhor Audízio! Dom Bosco estava citando o oponente dele, e ele falou: "Deu risada e falou: 'Tá bom, Dom Bosco, vamos deixar isso aqui pra lá.'" Então, Dom Bosco trabalhou muito e tem uma frase de Pio Nono que eu nunca
li nada que tinha a mão de Dom Bosco aqui, mas eu desconfio. Quando as coisas estavam muito difíceis e a oposição à definição do Dogma era muito grande, Pio Nono falou uma frase que eu acho que pode ser, né? Eu acho que pode ser que tenha a mão de Dom Bosco. Ele disse: "A Virgem está comigo, eu vou em frente." Não sei se Dom Bosco não falou para ele alguma coisa, viu, para ele ter essa certeza de que Nossa Senhora estava com ele, né? Muito bem, então o Dogma, quando foi ser debatido no Concílio, ficou
patente que ele ia ser definido. Alguns bispos, cerca de 100 bispos, não eram poucos, hein? Avisaram o Papa que, então, eles iam se ausentar de Roma, iam embora no dia da votação. E, de fato, eles fizeram isso; muitos bispos não votaram. O Dogma foi definido. Depois que o Dogma foi definido, esses bispos aderiram ao Dogma e, desses, ainda que votaram, dois votaram pela não definição do Dogma, o que mostra que os que ficaram tinham liberdade. Mas, claro, apesar da maioria do Concílio ter votado pela definição do Dogma, o Papa então vai definir o Dogma no
dia 18 de julho de 1870, e o Concílio depois é suspenso. Para terminar a aula, né? Para a gente sair daqui com isso bem claramente: O que é, então, o Dogma da infalibilidade papal? O que é infalibilidade? Em outras palavras, é a impossibilidade de erro. Então, infalibilidade é a impossibilidade que o Papa tem de cair em erro em um pronunciamento. Ele é infalível; é aquele incapaz de erro ou engano. Vai estar sempre certo, porque é Deus falando pela boca do Papa. E as condições, então, para um pronunciamento ser infalível são quatro. Primeiro, como já disse,
tem que ser a cátedra. O Papa deve estar usando o seu munus oficial de pastor e doutor de todos os cristãos. Tem que falar, então, da cátedra de Pedro. Segundo, tratar de assuntos de fé ou moral. Se o Papa trata de política, ele não é infalível. Se o Papa trata da guerra da Ucrânia, ele não é infalível. Se o Papa trata de, sei lá, de futebol, não é infalível. Ele só vai ser... Infalível nesses dois campos: fé e moral. Depois, a decisão tem que obrigar a Igreja inteira. Então, se o Papa vem ao Brasil, em
Aparecida, ele trata de assuntos de fé e moral para todos os bispos do Brasil, a não ser que ele deixe claro que aquilo que ele está dizendo vale para toda a Igreja. Não vai ter infalibilidade porque ele está falando para uma parte da Igreja e não para toda a Igreja. Então, porque se o que ele vai dizer, vamos lá pessoal, isso aqui é puro bom senso. Se o que ele vai dizer é uma verdade revelada, claro que tem que ser para toda a Igreja. Não existe uma verdade revelada que é para o Brasil ou que
é para a Europa ou que é para os bispos da África. Toda a verdade é para o mundo inteiro. E, por fim, o Papa tem que expressar essa intenção, né, de obrigar toda a Igreja. Mas como é que é isso? Normalmente, o que é usual é o Papa condenar a posição contrária, excomungando aqui ele que, e todo aquele que negar, seja anátema, né? A fórmula normalmente usada para expressar essa obrigação de toda a Igreja é assim. E por que o Papa tem que expressar isso aqui? Porque todo católico tem direito de saber que o Papa
está usando infalibilidade. A infalibilidade é algo tão extraordinário que, quando o Papa usa, não pode ficar dúvida. Então, todo católico tem direito de saber quando o Papa está usando a infalibilidade, né? Então, aqui deve estar manifesto, pois o fiel tem direito de estar certo de que o ensinamento em questão é definitivo, de que a intenção da suprema autoridade é definir essa questão para sempre. Ter essas quatro condições para ser infalível. Então, vejam vocês que fácil! Ah, bu, vida! Mas as FAs se metem com sedevacantismo. De graça! O Dogma da infalibilidade papal não leva ao sedevacantismo;
ao contrário, ele preserva do sedevacantismo, assim como preserva do erro de querer dar nó em pingo d'água para querer justificar tudo que o Papa disse, porque foi o Papa que disse. Tá bem? Alguma dúvida, alguma pergunta? Vamos então rezar para terminar. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. Nossa Senhora do Carmo, São
Bento e São Mauro, rogai por nós. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. [Música]