A confusão, a raiva, a depressão, a violência e os conflitos surgem quando os seres humanos esquecem quem eles são. No entanto, é tão simples lembrar a verdade e dessa forma voltar às origens: Eu não sou os meus pensamentos, não sou minhas emoções, minhas percepções sensoriais e minhas experiências. Não sou o conteúdo da minha vida.
Sou o espaço no qual todas as coisas acontecem. Eu sou a consciência. Sou o Agora.
Eu Sou. A Iluminação Espiritual. Eckhart Tolle.
Existe uma Vida Única, eterna e sempre presente, além das inúmeras formas de vida sujeitas ao nascimento e à morte. Muitas pessoas empregam a palavra Deus para descrevê-la, mas eu costumo chamá-la de Ser. O Ser não está apenas além, mas também dentro de todas as formas, como a mais profunda, invisível e indestrutível essência interior.
Isso significa que ele está ao seu alcance agora, sob a forma de um eu interior mais profundo, que é a verdadeira natureza dentro de você. Mas não procure apreendê-lo com a mente. Não tente entendê-lo.
Só é possível conhecê-lo quando a mente está serena. Se estiver alerta, com toda a sua atenção voltada para o Agora, você até poderá sentir o Ser, mas jamais conseguirá compreendê-lo mentalmente. Recuperar a consciência do Ser e submeter-se a esse estado de “percepção dos sentidos” é o que se chama iluminação.
A palavra iluminação transmite a ideia de uma conquista sobre-humana - e isso agrada ao ego -, mas é simplesmente o estado natural de sentir-se em unidade com o Ser. A iluminação consiste em encontrar a verdadeira natureza por trás do nome e da forma. Não se trata de “fazer” e sim de “ver” com atenção.
Não há nada que possamos fazer para nos libertar do ego. Quando essa mudança acontece, ou seja, quando passamos do pensamento para a consciência, uma inteligência muito maior do que a esperteza do ego começa a agir na nossa vida. “Um dia vou me libertar do ego”.
Quem está falando? O ego. Ninguém se torna bom tentando ser bom, e sim encontrando a bondade que já existe dentro de si mesmo e permitindo que ela sobressaia.
No entanto, essa qualidade só se distingue quando algo fundamental muda no estado de consciência de cada um. No zen se costuma dizer: “Não busque a verdade. Apenas pare de cultivar opiniões”.
O que isso significa? Deixe de lado a identificação com a mente. Assim, quem você é além da mente emergirá por si mesmo.
Você não pode lutar contra o ego e vencer, assim como não consegue combater a escuridão. A luz da consciência é tudo o que é necessário. Você é essa luz.
O filósofo do século XVII René Descartes, considerado o fundador da filosofia moderna, deu expressão ao erro fundamental com sua máxima “Penso, logo existo”. Essa foi a resposta que ele encontrou para a pergunta: “Há alguma coisa que eu possa saber com certeza absoluta? ” Descartes compreendeu que o fato de estar sempre pensando estava além da dúvida, assim igualou o pensamento ao Ser, isto é: a identidade - o “eu sou” - ao pensamento.
Em vez da verdade suprema, ele havia detectado a origem do ego, mas não sabia disso Jean-Paul Sartre refletiu muito sobre a afirmação de Descartes, e compreendeu algo. Em suas próprias palavras: “A consciência que afirma ‘eu sou’ não é a consciência que pensa”. O que ele quis dizer com isso?
Quando estamos conscientes de que estamos pensando, essa consciência não faz parte do pensamento. É uma dimensão diferente da consciência. E é essa consciência que diz “eu sou”.
Se não houvesse nada além do pensamento em nós, nem sequer saberíamos que pensamos. Seríamos como alguém que está sonhando e não sabe que está fazendo isso. Estaríamos identificados com cada pensamento assim como aquele que sonha está vinculado a cada imagem no sonho.
Muitas pessoas vivem desse jeito, como se andassem nas nuvens, presas a antigos modelos mentais anormais que recriam continuamente a mesma realidade de pesadelo. Quando sabemos que estamos sonhando, é porque estamos despertos no sonho – outra dimensão da consciência se estabeleceu. A implicação da percepção de Sartre é profunda, mas ele próprio ainda estava identificado demais com o pensamento para reconhecer o pleno significado do que descobrira: uma nova dimensão emergente da consciência.
O maior obstáculo para se experimentar esta realidade é a identificação com sua mente, o que faz com que o pensamento se torne compulsivo. Este ruído mental incessante o impede de encontrar esse domínio de quietude interna que é inseparável do Ser. Isto também cria um falso “eu” - fabricado pela mente -, que estende uma sombra de temor e sofrimento.
O pensador compulsivo - e quase todo o mundo o é - vive em um estado de aparente separação, em um insanamente complexo mundo de problemas e conflitos contínuos, um mundo que reflete a crescente fragmentação da mente. Quando você se percebe, consciente ou inconscientemente, como um fragmento isolado, o medo e os conflitos internos e externos tomam conta da sua vida. Identificar-se com a sua mente gera uma cortina opaca de conceitos, etiquetas, imagens, palavras, julgamentos e definições que impedem toda relação verdadeira.
A cortina se interpõe entre você e você mesmo, entre você e os demais homens e mulheres, entre você e a natureza, entre você e Deus. É esta cortina de pensamento que cria a ilusão da separação, a ilusão de que há um você e um “outro” inteiramente separado. Você esquece então a realidade essencial de que, sob o nível das aparências físicas e das formas separadas, você é um com tudo o que existe.
A iluminação é um estado de “plenitude”, de ser um e, portanto, se está em paz. Você é um com a vida em seu aspecto manifesto - o mundo - assim como com seu eu mais profundo e a vida não manifesta - um com o Ser. A iluminação não é só o fim do sofrimento e do contínuo conflito interno e externo, mas também o fim da horrível escravidão do pensamento incessante.
Os pensamentos, as emoções, as percepções sensoriais e tudo o que você sente formam o conteúdo da sua vida. Você acredita que sua identidade vem do que você chama de “minha vida” e confunde “minha vida” com o conteúdo dela. Você sempre ignora o fato mais óbvio: o seu sentido mais profundo de ser não tem nada a ver com o que acontece na sua vida, nada a ver com o conteúdo de sua vida.
Apenas o Todo é verdadeiro, porém, não pode ser expresso em palavras nem em pensamentos. De uma perspectiva distante das limitações dos pensamentos e, portanto, incompreensível à mente humana, tudo está acontecendo agora. Tudo é que sempre foi ou que será, existe agora, fora do tempo, que também é uma construção mental.
O sentido de ser, de Eu Sou, está intimamente ligado ao Agora. Ele sempre permanece o mesmo. Na infância e na velhice, na saúde ou na doença, no sucesso ou no fracasso, o Eu Sou - o espaço do Agora - permanece imutável no nível mais profundo.
Aqui, e agora. Somente a presença é capaz de nos libertar, pois só podemos estar presentes agora - e não ontem nem amanhã. Apenas ela consegue desfazer o passado em nós e assim transformar nosso estado de consciência.
Temos de aprender a sempre dirigir a atenção para o momento presente – puro e atemporal - em vez de nos deixarmos atrair por histórias produzidas pela mente. Assim, a própria presença se torna nossa identidade, e não nossos pensamentos e emoções. Fique alerta.
O que permanece é a luz da consciência, sob a qual percepções, sensações, pensamentos e sentimentos vêm e vão. Isso é o Ser, o mais profundo e verdadeiro eu. Quando sabemos que somos isso, qualquer coisa que ocorra na nossa vida deixa de ter importância absoluta para adquirir uma importância apenas relativa.
Respeitamos os acontecimentos, mas eles perdem sua seriedade plena, seu peso. Quando as formas com as quais nos identificamos, que nos dão a percepção do eu, desmoronam ou são removidas, o ego entra em colapso, uma vez que ele é a identificação com a forma. No momento em que não há mais nada com que possamos nos identificar, quem somos nós?
Passamos a compreender nossa identidade essencial como uma presença onipresente do Ser, antes de todas as formas, de todas as identificações. Entendemos nossa verdadeira identidade como a consciência. Essa é a paz de Deus.