Documentário | Gravidez na adolescência, drama que persiste no Brasil

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Vitória tem 17 anos e está grávida pela segunda vez. Mães adolescentes fazem parte do cotidiano no B...
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Vitória tem 17 anos e está grávida pela segunda vez. Mães adolescentes fazem parte do cotidiano no Brasil – principalmente nas áreas mais pobres. Com frequência, sofrem preconceito.
Ouvem que está tudo acabado, que não tem mais chances de ter uma vida, uma carreira. Doía muito, né! Porque qual é a pessoa que quer escutar que seu mundo acabou?
Quase meio milhão de adolescentes brasileiras dão à luz todos os anos. Isso faz do Brasil um dos países com mais mães adolescentes do mundo. Está linda?
Vai pra creche, vai? Em poucos dias, Vitória dará à luz seu segundo filho. Quase um em cada sete bebês no Brasil nasce de uma mãe adolescente.
Em áreas pobres, a taxa costuma ser ainda maior. Vitória não quer ser rotulada. Todo mundo fala assim: 'Nossa, vai ter filho de novo?
! ' Todo mundo tem um palpite. Eles falaram que eu não ia conseguir terminar os estudos e minha vida acabou, que eu não ia conseguir fazer nada, que só ia ficar em casa segurando o filho.
Vitória mora com o namorado, Eduardo, e a filha, Larah, em uma favela do Rio de Janeiro. O jovem de 22 anos tenta terminar a escola, enquanto trabalha em um bar nos fins de semana. De manhã, ele leva a filha de dois anos para a creche.
No caminho, passa por alguns traficantes que controlam o bairro. Por isso, filma é proibido. Vitória tinha 12 anos quando conheceu o namorado.
Engravidou pela primeira vez aos 14. Eles não usavam contraceptivos. Mesmo assim, ela diz que não esperava engravidar.
O tema contracepção ainda é um tabu em algumas comunidades e famílias do Brasil. O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro tentou até restringir a educação sexual nas escolas, defendendo que a melhor saída seria a abstinência: nada de sexo antes do casamento. É isso que algumas Igrejas também pregam.
A família de Vitória, como muitas aqui na favela, é bastante religiosa. Ela escondeu a gravidez até o fim. Fiquei muito assustada porque era uma experiência minha que eu, meu Deus, eu com 14 anos ser mãe e isso para mim.
. . eu tomei um choque!
Eu ficava chorando e ficava bem, bem deprimida. Na segunda vez, ela pensou em abortar, o que é proibido no Brasil. Muitas mulheres morrem durante procedimentos clandestinos, já que não têm acesso a clínicas profissionais.
Cheguei! Com bicos, Eduardo muitas vezes não chega a receber 500 reais por mês. Eles contam ainda com cerca de 750 reais de benefícios sociais, mas quase metade desse valor vai para o aluguel.
A cômoda do novo bebê mal cabe na casa de um cômodo. E em breve serão quatro vivendo aqui. Vitória também tenta ganhar algum dinheiro extra.
Vai a casa de outras meninas da favela e faz a maquiagem delas. Ela fez um curso de maquiagem. Você quer alguma maquiagem específica?
Eu quero algo leve. Leve? Está bom.
É muito importante, que cada maquiagem que eu faço já é um dinheirinho, já me ajuda muito. O meu sonho é abrir um salão, né, e atender no meu salão. Mas a carreira está em segundo plano por enquanto.
Assim como terminar a escola. Agora é a reta final da gestação. Vitória é uma das cerca de 400 mil adolescentes que se tornam mães no Brasil todos os anos.
Mesmo que esse número esteja diminuindo lentamente, a taxa ainda é mais que o dobro do índice internacional. Aqui, onde quase um terço da população vive na pobreza. Depois do primeiro parto, a jovem, então com 15 anos, foi encaminhada diretamente do hospital para uma ONG.
O Instituto Dara apoia mães necessitadas, inclusive as adolescentes. Bom dia. Bom dia.
Como você está? Bom dia Eduardo! Oi Larah, você está rindo pra tia?
! Junto com a assistente social Cátia Bauer, eles estabelecem metas de curto e longo prazo para suas vidas. Para que a educação não seja deixada de lado e as perspectivas de emprego se fechem.
Como é o caso da maioria das mães adolescentes, que, por isso, não conseguem escapar da espiral da pobreza. Ela está com dois anos e o outro bebezinho está vindo, certo? É mais difícil com dois filhos!
O Eduardo falou: ‘Quero crescer! Eu quero fazer diferente com a minha filha, que eu não tive. Então é o momento de vocês realmente repensarem essa dinâmica familiar de vocês e pensarem em estar usando um método contraceptivo.
Depois, a família vai direto para a mesa da médica. Como a maioria das pessoas, Vitoria não tem plano de saúde e é atendida pelo SUS. Por vergonha, ela só compareceu às consultas no final da gravidez.
Na primeira gestação, houve complicações – algo que não é raro entre as adolescentes. A filha teve que nascer por cesárea. Teve sofrimento fetal, por causa da sua pressão alta.
Se chama pré-eclampsia. O coração dela estava parando. Então realmente você continua como gestação de risco.
O objetivo da gente é que eles tenham autonomia, que eles tenham protagonismo e que eles possam dar continuidade a vida deles. O nosso desejo é que eles não precisem de nenhuma outra instituição. O Instituto Dara apoia mães em vulnerabilidade social e financeira.
Como pai presente, Eduardo é uma exceção. Muitas mulheres são mães solteiras. Por isso, a ONG também oferece cursos profissionalizantes compatíveis com o cuidado dos filhos: culinária, maquiagem, corte de cabelo.
Vitória também aproveitou esse benefício. Palestras e discussões em grupo também têm o objetivo de fornecer orientação e apoio social. É um aconchego mesmo, porque cada pessoa vai falando o que passa, né.
E a gente acaba se encontrando na mesma situação. Aí vai uma dando suporte pra outra. Já realizei o meu sonho: um casal está ótimo.
Igual a gente. Vamos ter um casal também. Enquanto isso, eles podem aguardar ansiosamente o nascimento do segundo filho.
Sem orientação externa, eles provavelmente não estariam mais juntos como um casal - como a maioria dos adolescentes que se tornam pais. Vitória! Vitória!
É muita e muita briga, muito desaforo. Então tem que chegar o momento que você tem que se entender, sentar e conversar. E também não é só pro bem para nós, pro bem pelas crianças também.
Porque a gente tem que pensar, que a gente tem dois filhos agora. No final da visita, eles recebem uma sacola com leite infantil e fraldas, além de um vale alimentação no valor de cerca de 200 reais. Uma contribuição fundamental para o orçamento doméstico do mês.
De volta à favela do Morro do Dendê, no norte do Rio de Janeiro. Eu não sabia de nada. Ela que me ensinou várias coisas, porque mãe nova assim, é uma experiência, né!
É ela que me ensinou a ser assim forte, cuidar dela assim, ser uma mãe boa para ela. Está bonita? Está?
É domingo - dia de visitar a família. Elas vão para a casa da avó de Vitória, que mora a apenas algumas casas de distância. Não é possível acompanhá-las na rua com a câmera - os traficantes armados em frente à porta não querem ser filmados.
Vitória cresceu com a avó. Quando tinha três meses, a mãe a abandonou e desapareceu com um parceiro. Essa experiência de abandono deixou uma marca em Vitória.
Ela mesma vê isso como uma razão oculta para ter se tornado mãe tão cedo. É a mamãe? É a mamãe!
Eu senti falta do amor de mãe. De verdade, assim ter uma mãe. Eu sei que minha vó parece ser minha mãe, mas meio que eu senti falta sim.
Eu queria sim mostrar que eu poderia ser uma mãe melhor do que minha mãe foi pra mim, entendeu. A gravidez de Vitória antes de ela terminar a escola foi uma decepção para toda a família. Mas a avó, Sônia Oliveira, não se afastou dela - como costuma acontecer em muitas famílias.
Tem gente que fala: 'Não, mas tem que botar para fora! Não, tem que apoiar! ' Falei: 'Não, eu apoio sim!
' Enquanto a gente estiver vivo, a gente vai ajudar ela. Agora vai depender dela, se ela quiser estudar. De alguma forma, a família se mantém unida, apesar dos conflitos e do dinheiro escasso.
Até a mãe de Vitória reapareceu. O nascimento dos netos fez com que as duas se reaproximassem. Larissa também faz parte da família.
O recém-nascido é seu segundo filho. As roupinhas que ele ganhou, que a menina deu, a maioria já era pequenininha. Aí eu vou trazer.
Larissa também se tornou mãe na adolescência. A primeira filha dela agora tem seis anos. A família ora por um futuro melhor.
Vitória sabe que a saída da pobreza é por meio da educação e do trabalho. Quero ter minha faculdade, quero fazer medicina, quero terminar meus estudos que ainda não terminei. Quero trabalhar bastante e sair desse morro, também pra dar um lugar melhor para eles.
Ter um salãozinho pra mim ficar atendendo também, que eu acho que é válido também, porque é uma coisa que eu gosto. Vitória e Eduardo não querem se deixar abater pelas estatísticas geralmente sombrias sobre o futuro. Estamos na luta e na correria: ela fazendo os trabalhos dela, eu fazendo os meus trabalhos.
Para conseguir um futuro melhor para nossos filhos daqui alguns anos mais pra frente. Dar uma vida melhor pra eles, né. Trabalhar muito para poder dar o melhor para eles.
A família diz que não pensa em ter um terceiro filho. E a decisão foi tomada mesmo antes do aniversário de 18 anos de vitória. Todo o resto vem depois - mesmo que o caminho não seja fácil.
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