Um médico muito amigo meu, ele fala assim: Izabela, se você morrer, você vai ser substituída em 24 horas. E aí, quando eu fui substituída em oito minutos, eu mandei mensagem para ele e falei assim: doutor, você errou. Se você adoecer, a ponto de não conseguir trabalhar, você pode ser substituído em menos tempo.
Emprego você pode ter vários crachá, você pode ter vários, mas a vida é uma só. Eu morava no sítio, interior do Paraná e vi um banner de miss brotinho. Ai do Miss Brotinho, eu participei do Miss da cidade, que era o Miss Cambira, depois do Miss Cambira, eu fui para o Miss Paraná, depois do Miss Paraná, eu fui para o Miss Brasil, fiquei em segundo lugar, isso em 1997 e vim para São Paulo dar uma entrevista no SBT.
Eu participei de toda a seleção do Fantasia para integrar o time de 50 mulheres. Aí eu falei: Vou fazer jornalismo. Olha que loucura!
Então não é que eu pensei, Ai, vou para São Paulo trabalhar na televisão. Imagina, não fazia ideia disso. Aí é onde tudo muda, porque aí é quando eu entro de fato para o hard news.
Que é isso? Noticiário que foca apenas em notícias do dia a dia. A minha história que vem, vem, vem, vem, vem, vem, vem, teve um freio.
E aconteceu uma coisa que pode acontecer com qualquer pessoa estando na Globo ou não, sendo jornalista, ou não, que é a síndrome de burnout, que é o esgotamento físico e mental associado ao ambiente de trabalho. Vivi um burnout enquanto eu estava ao vivo, eu estava falando da previsão do tempo. Aí eu passei daqui, né, gente?
E enquanto faz a previsão do tempo, você sabe de cor o lugar de cada estado, claro. As capitais, então, estava Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste, Sul. Quando cheguei no Sul e vi em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, no Paraná, a visão ficou turva.
O coração acelerou, faltou ar, vontade de vomitar. Aí o apresentador estava comigo: Curitiba, Curitiba. Eu esqueci o nome da capital do meu estado.
Não é que eu esqueci o nome da capital de um Estado que eu nunca fui. Ou que eu falava, às vezes, não, esqueci o nome da capital do meu estado. Quando acabou o meu expediente, aí eu fui ao psiquiatra.
O dia que eu tive o apagão, eu cheguei no psiquiatra sob risco de convulsão. Eu parava no farol, fechava o olho porque era um cansaço tão absurdo. Era um mal estar tão generalizado que quando parava, quando o farol fechava, eu ficava feliz porque eu fechava o olho.
Para eu poder, assim, sabe? A vamos, seguia, por três vezes, eu quase bati o carro. Ele falou assim pra mim: Izabella você está vivendo burnout.
Eu: impossível, doutor. Eu amo o que eu faço. Aí ele falou: Por isso mesmo.
É choro misturado com angústia, misturado com tristeza, misturado com desespero, misturado com culpa, misturado com medo. Então eu fiquei dois meses e 15 dias afastada. Quando eu volto nesse dia, no mesmo dia em que eu voltei para o meu trabalho, feliz da vida, que eu teria uma adaptação, provavelmente, porque eu estava voltando com a questão da adaptação.
Eu fui demitida. Eu trabalho, gente, há 25 anos com rádio e TV. Eu só conheço duas pessoas que trabalham de madrugada e não adoeceram.
Eu já estava tratando por dois anos problemas muito sérios de saúde, que as minhas bactérias do estômago e intestino estavam tão desreguladas que nenhum antibiótico fazia efeito. Ai eu já ouvi dizer que o intestino é o segundo cérebro. Pra você vê como é que a mente é inteligente, né?
Ela vai te dando sinais em várias partes do corpo até que meu médico falou assim, Izabella, Só pode ser o estresse que você vive por trabalhar na madrugada. Aí comecei a ter problemas de circulação, comecei a ter problema de pele, queda de cabelo, taquicardia. Fui para o melhor cardiologista do Brasil.
Aí, mais uma pessoa que falou: Izabela só pode ser o estresse. Só que quando você não dorme o suficiente por muitos anos, não há fim de semana que sustente uma vida insustentável. Um dia puxado.
todo mundo tem. Uma vida puxada, é diferente. A gente precisa entender a diferença entre cansaço e exaustão.
Se você está cansada, cansado, você dorme, descansa e retoma a sua energia original. Se você está exausto, você descansa e continua cansada. Sai de férias e volta irritada.
Então, quando você está cansada, cansado, você precisa descansar. Quando você está vivendo a exaustão, você precisa mudar o seu estilo de vida. O burnout, gente, é o esgotamento causado por longos períodos de stress.
Para ter burnout você, provavelmente, é uma pessoa que entrega, comprometida, responsável, características positivas, não é? Mas em um ambiente que os recursos não são suficientes as demandas. É como se eu quisesse lavar toda essa louça aqui com um pingo de detergente.
Mas todo dia viver essa pressão de muito resultado, com poucos recursos, vai sobrecarregando o seu ‘’corpitcho’’. As doenças não são punição. Um problema de saúde está querendo te devolver o equilíbrio.
O seu corpo já tentou te chamar a atenção de várias vezes, porque as dores, para mim, são mensageiras. Quanto mais você normaliza o anormal, mais você está abrindo a porta para problemas de saúde. Não é normal trabalhar com dor de cabeça todo dia.
Não é normal ficar enjoado depois de certas situações. Trabalhar com dor não é normal, porque se o lugar que você trabalha não ouvir e não for empático com uma situação que você está vivendo, cara, você está trocando suas horas de vida por dinheiro. Ninguém está te fazendo favor nenhum.
Outro dia me perguntaram o que você poderia ter feito para não ter burnout diante daquela situação? Pedido demissão! Ah, mas por que você não pediu demissão?
Porque a gente mora num país com 15 milhões de desempregados. Então é medo de não vai conseguir pagar as contas. Então você vai ficando em situações insustentáveis.
Só que aí você perde a saúde. Se você perde a saúde, gente, acabou. Acabou!
Crachá você pode ter vários, empregos você pode ter vários, mas a vida é uma só. Aí alguém vai falar: mas eu preciso pagar a conta. Eu tenho minha escola, minha filha, não sei o quê.
Emprego, você pode ter vários, crachá você pode ter vários, mas a vida é uma só. Sabe quantas escolhas a gente faz por dia? Trinta e cinco mil.
Da hora que você acorda até a hora que você dorme, o tempo inteiro está escolhendo. Será que eu coloco mais detergente aqui na esponja? Será que eu esfreguo mais o corpo?
Será que eu abro a torneira? Será que eu pego . .
O tempo inteiro você está escolhendo. E aí, se você não se conhece, por isso, que a terapia como ferramenta de autoconhecimento para a recuperação do burnout é fundamental porque ai, tem muita coisa pra fazer, não dá tempo, eu falo bom, você tem que escolher. Eu, às vezes eu escolho o cabelo limpo ao invés de louça limpa.
Eu vou ter que escolher lembra? São trinta e cinco mil escolhas para escolher. Ah, mas a pia está cheia de louça.
Ok, ja já, eu lavo, mas agora eu preciso me cuidar primeiro porque senão gente você vai ter que abrir mão da sua agenda para cancelar todos os compromissos se você não se incluir nela. Então, hoje eu defendo com unhas e dentes o meu sono. Faço escolhas coerentes.
Então ah, mas a casa está suja. Foda-se. Hoje sei que é melhor ficar com a casa suja, mas com a cabeça limpa.
Se você não tiver dormindo o que você precisa, se você não tiver tendo tempo para lavar o cabelo no caso específico das meninas, se você não tem tempo para parar, para comer, para almoçar, tá comendo na frente do computador. Se você não se inclui na própria agenda, isso não é sustentável. Ok, aconteceu.
Então, o que eu vou aprender com isso, e mais, como eu posso ajudar as pessoas a não viverem o que eu vivi e é o que eu faço hoje, com muita alegria. Hoje eu trabalho bastante, trabalho bastante. Eu chego à noite cansada, cansada, mas feliz e realizada, valorizada e não exausta.