O chocolate está presente nos lares de milhões de brasileiros, mas será que o que a população está comprando é mesmo chocolate? É o que está escrito na embalagem, e, pra Anvisa, pra que algo possa ser chamado de chocolate aqui no Brasil, basta ter 25% de sólidos de cacau em sua composição – deixando as fabricantes livres pra determinar os 75% restantes. Isso abre brecha pra uma indústria que há anos está fazendo nós, consumidores, de trouxas.
Além de também estar acabando lentamente com a nossa saúde. E isso não é um fenômeno apenas do chocolate – tudo o que pode ser manipulado, acaba sendo transformado em um verdadeiro Frankenstein de ingredientes de baixa qualidade e sabor ensebado; enquanto o que é verdadeiro está se tornando cada vez mais caro e inacessível pra a maioria dos brasileiros. Mas, o que é que tem de errado com o chocolate brasileiro?
Será que esse problema afeta apenas os chocólatras, ou mais gente também deveria se preocupar? Um hábito muito importante, mas que infelizmente muitas pessoas ainda não cultivaram, é o de sempre checar os rótulos nos produtos de supermercado. Mais do que indicar as calorias de uma porção, o que é essencial pra quem quer ganhar ou perder peso, é o rótulo que revela os ingredientes e as proporções de cada um na fórmula final de um produto – e é através dele que você pode descobrir se está consumindo algo autêntico ou uma imitação que apenas tenta parecer ser uma mercadoria de boa qualidade.
Pra saber se você está consumindo um produto de qualidade, basta analisar os primeiros itens listados na fórmula de cada produto: o que está em maior quantidade é o que vem primeiro. Ou seja, no queijo por exemplo, o primeiro item deve ser o leite. Mas infelizmente, o que você acabará encontrando, na maior parte dos casos, é bem diferente.
Pegamos o sorvete, por exemplo. A receita original de sorvete é leite ou creme de leite e os ingredientes responsáveis pelo sabor, como chocolate, massa de pistache, massa de extrato ou favas de baunilha ou frutas. Por se tratar de uma mercadoria industrializada, no fim você também veria conservantes e talvez a adição de açúcar ou corante pra torná-lo ainda mais atrativo e duradouro.
No entanto, sabe qual costuma ser o primeiro ingrediente das fórmulas de sorvete, desses vendidos no mercado? Água. Logo em seguida vem o açúcar e a gordura hidrogenada – que é o verdadeiro vilão da saúde de muitas pessoas.
Quando combinados, a água, o açúcar e a gordura hidrogenada formam um xarope extremamente doce que ajuda a encorpar o sorvete e dar sabor, mas de brinde, também aumentam as chances de doenças cardiovasculares e diabetes. O leite, que deveria ser o principal ingrediente, costuma aparecer só depois desse trio — mostrando que dá pra chamar aquilo de qualquer coisa, menos de sorvete. E o sabor?
Traços. Vestígios. Um cheirinho.
Essa troca de matéria-prima acontece porque adicionar a gordura hidrogenada é uma forma de baratear o produto, já que se trata de um ingrediente menos nobre e de origem industrial; portanto, muito mais fácil de ser produzido e armazenado. Ao mesmo tempo, um paladar menos exigente, ou que simplesmente não conhece um produto de qualidade melhor, não vai conseguir identificar a diferença entre um sorvete autêntico, e esse entupido de produtos químicos – ou seja, são as indústrias enganando o seu paladar, enquanto te fazem sacrificar sua saúde no caminho. E se você já está pronto pra abandonar o sorvete, saiba que no chocolate isso é ainda pior.
No processo de fabricação do chocolate – de um chocolate autêntico – se emprega a gordura, ou como é mais conhecida, a manteiga de cacau. Contudo, a manteiga de cacau é um material nobre, caro e de difícil transporte. Além disso, ela também tem uma composição única na natureza, o que torna quase impossível de ser imitada pela indústria.
Ainda não foi possível imitar a consistência, o derretimento em contato com a temperatura da boca e o sabor da manteiga de cacau, juntos. Até hoje, as indústrias só conseguiram plagiar uma coisa ou outra, mas nunca essas três características ao mesmo tempo – e não pense que eles não estão tentando, e muito. Existem processos que vêm sendo empregados pra alterar óleos e gorduras, os transformando em versões mais parecidas com a manteiga de cacau.
O mais famoso deles é a hidrogenação parcial, que basicamente transforma um óleo, líquido, em uma gordura, sólida ou pastosa; através da adição de moléculas de hidrogênio. O ponto negativo é que esse processo também gera como resíduo moléculas de gordura trans – conhecidas por serem grandes inimigas da saúde e do colesterol. Um caso bem famoso desse processo são aqueles chocolates vendidos em formato de guarda-chuva, muito populares durante os anos 90 e 2000, e conhecidos por serem bem gordurosos.
Como ninguém quer comer gordura pura, eles caíram em desuso, e a indústria modernizou esse processo, dando origem ao CBE – Cocoa Butter Equivalent – que é uma gordura da mesma classe hidrogenada, embora um pouco mais compatível com a manteiga de cacau. Isto é, elas se misturam mais facilmente, o que facilita manter as propriedades de um chocolate autêntico, embora grande parte do sabor seja perdido no processo. Em muitos países seu uso é extremamente limitado, mas aqui no Brasil isso não existe.
A única barreira legal pra gente não consumir gordura hidrogenada sabor chocolate são os meros 25% de sólidos de cacau exigidos pela agência reguladora de alimentos brasileira. Portanto, tendo esse mínimo de ¼ de chocolate verdadeiro, os fabricantes estão livres pra usar gordura industrializada e enganar quem não tem condições de comprar um chocolate com maior concentração de cacau. Em 2019, a Resolução 332 da Anvisa até estipulou a eliminação de gorduras trans industrializadas dos alimentos, com data limite em 2023, o que por conseguinte também teria extinguido o CBE dos chocolates, mas na prática, uma simples ida ao supermercado mostra que chocolates, sorvetes, biscoitos e a campeã dentre todos eles, a margarina, ainda possuem essas e outras gorduras, que ameaçam a saúde do consumidor desinformado ou que não tem condições de comprar algo de melhor qualidade.
Mas então, como fica o consumidor? E como era de se esperar, esse não é um fenômeno visto lá fora, onde existem regulações mais firmes ou onde os consumidores são capazes de se revoltar contra uma mudança como essa. O Chef Davi Laranjeira fez uma série de vídeos curtos no Instagram expondo justamente esse caso, usando como comparação os chocolates vendidos na Bélgica e aqui no Brasil.
Ele mostra que a textura, a aparência, a composição – tudo é diferente quando é produzido em solo europeu. Ele explica que preferir um chocolate feito lá fora não é síndrome de vira-lata como algumas pessoas logo diriam, mas sim ter preferência por uma mercadoria superior, já que ninguém quer comer o chocolate brasileiro, e talvez seja hora até mesmo de nós deixarmos de comprar. E se você quer ir até a Bélgica pra ver essa diferença toda e experimentar um dos melhores chocolates do mundo, já sabe com quem contar, a Nomad, a patrocinadora desse vídeo.
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Uma resolução de 1978 exigia que o chocolate tivesse ao menos 32% de cacau. No fim dos anos 80, uma doença, chamada vassoura-de-bruxa, dizimou plantações e fez a produção cair. Essa doença destrói o fruto e é causada por um fungo.
Em 2005, o percentual mudou para os atuais 25%. Mas, embora hoje o país seja o sétimo produtor mundial de cacau, a legislação não acompanhou a indústria agrícola, e o aumento desse percentual mínimo, de 25% para 35% de cacau no chocolate ainda está em discussão no Senado. Só que essa discussão não trata só de uma escolha por uma mercadoria mais gostosa, mas também de cuidar melhor da saúde.
Diversos estudos já mostraram que gorduras hidrogenadas estão diretamente relacionadas com vários problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, derrames e condições crônicas, como a pressão alta. Além disso, publicações também já mapearam o efeito contrário: os benefícios que deixar de consumir gorduras industrializadas trazem pra a nossa saúde. O Jornal de Medicina da Nova Inglaterra mostrou, em estudo publicado em 2015, que a eliminação desse tipo de alimento poderia prevenir milhares de doenças cardíacas todos os anos.
Em contrapartida, o Jornal da Sociedade Americana de Medicina também já mostrou que as gorduras trans são responsáveis diretas pelo aumento de mortes prematuras – com o consumo estando diretamente associado ao aumento de fatores de risco. Ou seja, na tentativa de conseguir preços mais atrativos, a indústria alimentícia, além de estar enganando os consumidores, também está os envenenando, criando problemas que cada vez mais pessoas estão tendo que enfrentar. Talvez seja a hora de nós, como consumidores, demonstrarmos nossa insatisfação com esse tipo de atitude, e mais do que isso, nos conscientizarmos.
Ler o rótulo não deveria ser uma preocupação apenas para quem quer perder peso, mas para todos nós. Afinal, como diz o ditado: 'você é o que você come' – e quem quer consumir algo que não tem nada de bom a oferecer? Você concorda com isso?
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No Brasil, nos últimos meses, diversos itens foram recolhidos e proibidos devido à contaminação, presença de materiais estranhos e outras irregularidades. Pra entender a fundo isso, confere esse vídeo aqui que tá na tela. Então aperta nele aí que eu te vejo lá em alguns segundos.
Por esse vídeo é isso, um grande abraço e até mais.