Cidade de Leitores trata do "homem cordial" de Raízes do Brasil - Parte 1

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Conceito formulado por Sérgio Buarque de Holanda em seu clássico livro, o programa fala do "homem co...
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cor cordes coração o domínio dos afetos a relação entre o público e o privado a família patriarcal e a herança Rural o homem cordial é o assunto de hoje em cidade de leitores a companhia do latão é um grupo teatral Paulista com foco na reflexão crítica sobre a sociedade contemporânea seu trabalho mais recente é o espetáculo o patrão cordial uma adaptação da peça o Senor puntila e seu criado Mat do dramaturgo alemão bertold brest feita a partir do conceito de homem cordial formulado por Sérgio boar de Holanda no clássico Raízes do Brasil a dramaturgia a
direção do espetáculo são assinadas por Sérgio de Carvalho nosso entrevistado no programa de hoje Brasil não foi formado indivíduo moderno mas só quando existe diálogo entre indivíduos é que a desigualdade apare como resultado da dominação de classe que vida tua bebo cach CDO na rinha que vida tua cacha c o tema da cor deidade sistematizado por Sérgio boar de Holanda em Raízes do Brasil é tratado em dois livros de João César de Castro Rocha o exílio do homem cordial e literatura e cordialidade o público e o privado na cultura brasileira João César de Castro Rocha
é professor de Literatura comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Doutor em Literatura comparada pela Universidade de Stanford com pós-doutorado na universidade de Berlim na Alemanha ele é o nosso convidado de hoje João César Antes de tudo eu gostaria que você nos falasse um pouco sobre Sérgio arque de Holanda e esse livro Raízes do Brasil a importância dele para o nosso conhecimento da formação social do Brasil o Sérgio Barque de Holanda é um dos intelectuais definitivos do Brasil no século XX é um dos inventores do Brasil nessa expressão que recentemente o ex-presidente
e sociólogo Fernando Henrique Cardoso analisou os criadores da imagem da ideia de Brasil Ele nasceu em 1902 faleceu 80 anos depois e participou nesse século XX de todos os momentos decisivos da cultura brasileira muito jovem com 22 anos de idade Ele começou a editar uma revista chamada estética que foi muito importante para o modernismo brasileiro vivenciou a crise de 1929 na Europa ele estava na Alemanha retorna ao Brasil vivencia no Brasil a Revolução de 30 a ditadura do estado novo a redemocratização de 1945 é fundamental a participação do Sérgio bar Holanda no fortalecimento do projeto
da Universidade de São Paulo posteriormente ele será catedrático da Universidade de São Paulo foi diretor do Museu Paulista ou seja foi um intelectual completo e um homem de ação e próximo já aos anos 80 ele foi um dos fundadores do partido dos trabalhadores Portanto o Sérgio bque de Holanda é um dos Grandes Homens do Brasil do século XX Olha você falou quando ele morou na Alemanha a gente sabe que lá foi que tudo começou em relação à Raízes do Brasil né exatamente que ele começou a escrever artigos tentando explicar o Brasil para os alemães e
reuniu em livro que nunca foi publicado mas parece que dois artigos saíram diretamente dessa desse projeto de livro para Raízes do Brasil né aí o conceito de o homem cordial já havia sido elaborado Sim já estava presente hum ele morou na Alemanha esse período como correspondente como jornalista e ele mantinha um caderno de anotações em que justamente ele pensava a cultura brasileira a partir da distância e pensava a cultura brasileira para o estrangeiro quando ele volta ao Brasil ele publica numa revista do Rio de Janeiro um ensaio que se chamava ensaio de psicologia social corpo
e alma do Brasil este ensaio é o princípio da escrita de raízes do Brasil e quem é esse homem cordial o que realmente é importante compreender é que o homem cordial é um homem dominado pelo coração então não é alguém afável é alguém muito afável não é uma pessoa hospitaleira é a pessoa que abre as portas da casa de um lado de outro lado precisamente porque é dominado pelo coração e pelo impulso o homem cordial é muito doce é muito hospitaleiro mas também é muito violento e nós sabemos disso não sabemos nós estamos no trânsito
somos pessoas amabilíssimo não somos sorrimos para todo mundo alguém fecha o nosso carro É verdade de imediato sem nenhuma transição sem nenhuma mediação nós passamos do caráter amável pro caráter o mais violento possível não é verdade é verdade então o importante para compreender é que o homem cordial como ele é dominado pelos impulsos pela emoção e pelo coração ele tem que ser as duas coisas ao mesmo tempo e porque o senso comum acredita que o brasileiro é afável é doce e e atribui a essa característica de cordialidade uma coisa bem diferente eu creio que isso
ocorre porque em alguma medida ainda hoje nós resistimos a enfrentar as verdadeiras mazelas da sociedade brasileira e as mazelas da sociedade brasileira são muito complexas porque é como se você tivesse uma estrutura em que há um lado solar e um lado obscuro e naturalmente nós nos concentramos no lado solar o lado Solar da nossa forma de sociabilidade no Brasil é a proximidade física essa proximidade física está por exemplo nos nossos bairros quem for ao Leblon que é o metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro se se der o trabalho de olhar para um morro
que está próximo tem a maior v a maior favela da América Latina A rocinha não é verdade é verdade essa proximidade dos contrários é uma marca da cordialidade é uma marca da sociedade brasileira o que nós precisamos fazer é abrir os olhos para o lado não tão solar o lado não tão solar do homem cordial é que essa afabilidade essa doçura Pode esconder uma grande diferença para as nossas desigualdades sociais agora segundo Sérgio Buarque esse homem cordial que tem origem na família patriarcal de herança Rural estaria fadado a desaparecer né com o processo todo de
urbanização do Brasil até que ponto o João César ele acertou esse prognóstico Essa é digamos a divergência que eu tenho em relação ao Sérgio boque mas pensemos juntos o Sérgio boar escreve o livro em 1936 ele escreve o livro para pensar o passado brasileiro mas sobretudo para projetar um futuro que para ele deveria ser um futuro de radicalização da democracia e de inclusão social o homem cordial Na expressão do Sérgio Barque de Holanda é realmente uma herança da família Rural é a família patriarcal onde há o o direito do Pater famílias e o pai tem
direito de vida morte sobre todos e a sua autoridade é inquestionável para o Sérgio Barque de Holanda a urbanização levaria um colapso dessas relações de caráter pessoal porque precisamente o que caracteriza as grandes cidades é O Anonimato e o Sérgio barco de Holanda via neste Anonimato das massas urbanas na capacidade de mobilidade social das grandes cidades ele via com muita esperança uma possibilidade de transformação da sociedade brasileira que para ele só seria transformada se o homem cordial literalmente desaparecesse do Horizonte pois olha só João César a partir da perspectiva teórica de Sérgio Buarque de Holanda
inspirado na personagem do sor puntila de bertold brest um fazendeiro do Vale do Paraíba que se comporta como o típico homem cordial é o protagonista da peça o patrão cordial ensenada pela CIA do latão a montagem tem dramaturgia e direção de Sérgio de Carvalho vamos ver o que ele diz sobre o espetáculo o patrão cordial novo espetáculo da companhia do latão é a história de um fazendeiro do Vale do Paraíba que sofre de mudança brusca de comportamento quando alcoolizado quando sóbrio é arrogante e egocêntrico em estado de embriaguez é fraternal e compassivo inspirado no Senhor
puntila de bertold brest o tipo clássico se torna brasileiro a partir da perspectiva teórica de Sérgio Buarque de Holanda e da dramaturgia de Sérgio de Carvalho diretor do espetáculo seu corné tem três dias que eu estou aí fora no carro quem é você você é motorista eu não te conheço não colou na minha cara um mês e meio que eu trabalho pro senhor e o que quer de mim só ven avisar que eu não espero mais não se pode tratar um homem assim Ah você falou um homem agora mesmo disse motorista Admita que eu te
peguei numa contradição Sérgio o patrão cordial tem como ponto de partida duas obras literárias não é é o ensaio Raízes do Brasil do Sérgio Buarque de Holanda e o Senor puntila e seu criado do Mate do dramaturgo alemão bertold brash que ideia Vocês tiveram Da onde veio a ideia de cruzar essas duas obras como é que isso foi feito e o quanto de cada uma tem no espetáculo né A há muitos anos o latão pensa em fazer esse texto do brest chamado senhor puntila primeira vez que olh eu já achei que era uma peça que
tinha a ver com o Brasil depois na verdade eu pensei na história do homem cordial do Sérgio boar que tem a ver exatamente com isso Sérgio bque fala no livro de uma do que ele chama de um horror as distâncias que estaria na base do caráter brasileiro aquilo que gera o que ele chama de uma ética emotiva ora ética de uma coisa que você tem padrão né Você sabe o o que é certo o que é errado mas na ética emotiva as coisas se embaralham a regra M emoção as gosto de gente cordial capaz de
bondade eu sou assim sabia que eu devolvo as tilápias pequenininhas para elas crescerem bonzinho mas eu tenho um problema eu sou um homem doente s para uns ataques uma vez por mês eu acordo e estou sóbrio lúcido completamente responsável pelos meus atos capaz de qualquer coisa menos de afeto Vocês trouxeram a ação da Finlândia pro Brasil agora por que pros anos 70 por que ass na época do milagre econômico Por que esse período porque eu sentia que eh mudou a figura do do do latifundiário brasileiro essa figura de alguém ainda humanista Sentimental Eu sinto que
tá desaparecendo num outro sentido porque tem uma Persona a gente criou muitas personagens eh ligadas a trabalhadores da peça e uma delas era um era um um camponês politizado com simpatias comunistas ali que até a gente batizou de luí Carlos imaginando que o pai dele era fã do Prestes alguma coisa assim e eu sinto que também ele era uma figura dos anos 70 ali então foi também para mostrar uma diferença histórica em relação a hoje né é uma estratégia que vem do próprio brest de você recuar um pouco para olhar o próprio tempo Car Por
que diabos eu te demiti o senhor disse que foi ordem do capitão do quartel do juiz e do prefeito tudo por causa do presidente n fala para esses milicos fazerem cafuné nos outros você é o trabalhador de primeira agora o trabalho com Teatro Épico de brest requer uma maneira de interpretar muito especial né diferente como é que é o processo a condução dos ensaios paraa peça pro trabalho de vocês no latão no nosso grupo a gente tem uma coisa assim quase obsessiva com a atuação assim é a coisa mais importante pra gente no trabalho diário
né a procura de uma eh vitalidade na atuação eu gosto em teatro quando o ator trata com cuidado do mundo da ficção que ele tá fazendo quando ele ele acredita naquele Universo no sentido de eles conseguem convocar o espectador para participar disso para colaborar com com o Imaginário dele ele vem colabora com isso E aí se cria esse espaço da ficção que você falou exatamente no nosso teatro eh o que você imagina é tão ou mais importante do que o que você vê tudo queera sólido estável se desmancha noar tudo que é sagrado é profanado
os homens obrigados sujeitados finalmente a encarar queria que você falasse um pouco desses atores e dos respectivos papéis né que eles desempenham na peça assim um pouquinho rapidamente mas eu tenho quer dizer eu tenho a sorte de trabalhar com um grupo excelente Fantástico de atores não só de os atores os músicos que trabalham no latão enfim toda a equipe mas assim eu tenho dois dos atores mais antigos do latão que são a Helena Albergaria e o nep assim que fazem a filha do desse fazendeiro e o fazendeiro Cornélio são atores que são dramaturgos também né
a Helena é uma várias das cenas da peça Helena inventou a cena que ela vem dançando é o Nei também criou pesquisa trabalha obsessivamente na peça no sentido de tentar trazer contribuições també é perfeito né a gente é vê o personag posso prever toda a cena que vai acontecer papai arranca e corre para lá e para cá os empregados atrás rindo todos querem jogar um balde de água gelada na cabeça dele no próximo bloco ainda hoje a política brasileira é regida pela cordialidade e ainda representar é tomar ponto de vista é tomar partido
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