Lucas apertou o violão contra o corpo pequeno sentindo as cordas ásperas sob os dedos finos era uma tarde quente com o sol brilhando forte sobre a praça central da cidade mas ele não ligava para o calor que grudava a camiseta em suas costas tinha um propósito maior a mãe Marina estava em casa acamada e cada vez mais fraca o pouco que restava de sua força vinha das palavras encorajadoras que dizia ao filho sempre que ele saía para tocar você você vai conseguir Lucas eu sei que vai ele sentou-se no banquinho de madeira desgastado pelo tempo
e começou a afinar o violão ao redor as pessoas iam e vinham apressadas focadas em seus próprios problemas o som das cordas foi ficando mais nítido à medida que ele as ajustava até que uma melodia suave começou a emergir de suas mãos Ei garoto toca alguma coisa aí para animar disse um homem de terno que passava sem parar para ouvir a resposta Lucas respirou fundo e deixou os dedos correrem pelas cordas extraindo uma melodia simples mas carregada de emoção ele havia aprendido a tocar com o pai antes de sua morte e agora a música era
sua única ferramenta sua Única Esperança para conseguir dinheiro para o tratamento da mãe as notas ecoaram pela praça entre as árvores e os bancos de cimento alguns poucos transeúntes jogavam moedas em um copo plástico à sua frente sem prestar muita atenção ao garoto franzino que tocava outros olhavam com indiferença ou apenas passavam apressados mal notando sua presença Ei garoto Você toca muito bem disse uma senhora de cabelos brancos parando em frente ao banco aqui pegue essas moedas você merece obrigado senhora disse Lucas levantando os olhos por um segundo Antes de Voltar a tocar a mulher
sorriu e foi embora deixando Lucas novamente sozinho com sua música e seus pensamentos ele sabia que aquilo não seria o bastante as poucas moedas que arrecadava em uma tarde não chegavam nem perto do necessário para salvar sua mãe mas ele não tinha escolha tinha que continuar perto dali Raul um homem de barba grisalha e olhar Sagaz o observava há algum tempo ele conhecia o olhar de desespero por trás das notas que tocava Raul um velho músico de rua tinha visto de tudo em seus anos vivendo nas esquinas da cidade e Naquela tarde decidiu que era
hora de falar com o garoto ei menino disse Raul aproximando-se devagar apoiando-se em uma bengala você toca bem mas está faltando algo Lucas parou de tocar surpreso com a interrupção olhou para o homem sem entender o que ele queria dizer faltando algo perguntou Lucas confuso sim garoto alma você toca bonito mas não sente o que está tocando a música precisa vir daqui Raul apontou para o peito o olhar penetrante o que te traz aqui todos os dias Lucas abaixou os olhos para o violão não gostava de falar sobre sua mãe para estranhos mas algo no
tom daquele homem fez com que ele confiasse minha mãe está doente eu estou tentando conseguir dinheiro para o tratamento dela disse Lucas Raul assentiu compreendendo imediatamente é por isso que você tem que tocar com mais sentimento as pessoas precisam sentir o que você sente garoto só assim elas vão parar e ouvir de verdade Lucas olhou para as mãos os dedos tremendo levemente ele sabia que o homem estava certo mas como ele faria isso como colocaria toda a dor e o medo que sentia nas notas que saíam de suas mãos Raul se inclinou dando um leve
sorriso vou te ensinar uma coisa ou outra se você quiser mas você precisa estar disposto a aprender garoto o que acha Lucas hesitou por um momento mas algo dentro dele o impulsionou a aceitar Eu quero aprender disse Lucas firme mas com uma ponta de dúvida em seus olhos Raul assentiu e se levantou devagar ajeitando a Bengala amanhã mesmo lugar mesmo horário vou te ensinar a tocar de verdade Lucas observou o homem se afastar e um estranho sentimento de esperança misturado com medo brotou dentro dele ele voltou a tocar mas agora com uma sensação diferente como
se as cordas do violão carregassem um peso maior do que antes no dia seguinte Lucas chegou à Praça um pouco mais cedo que o habitual a noite passada havia sido difícil com a saúde de Marina oscilando entre a dor e o cansaço ele saiu de casa sem que ela percebesse deixando um beijo silencioso em sua testa antes de correr para a praça o violão parecia mais pesado em suas mãos naquela manhã havia uma tensão em seu corpo que ele não conseguia explicar uma mistura de esperança e ansiedade pelo que Raul lhe ensinaria quando chegou ao
banco onde sempre tocava Raul já estava lá sentado de maneira despreocupada como se aquele fosse seu lugar no mundo o o velho sorriu ao vê-lo se aproximar mas não disse nada ele apenas observou Lucas enquanto o garoto tirava o violão da capa e se ajeitava no banco está pronto perguntou Raul com a voz grave mas sem pressa estou disse Lucas nervoso ajustando o violão no colo Raul olhou em volta certificando-se de que não havia ninguém prestando muita atenção a praça ainda estava vazia naquele horário apenas alguns corredores e pessoas seus cachorros ele se aproximou mais
de Lucas e falou em um tom baixo quase conspiratório a primeira coisa que você precisa entender garoto é que tocar violão não é só técnica não é só sobre fazer os dedos se moverem nas cordas a música ela vem de dentro cada vez que você toca você precisa pensar em por está fazendo isso para quem você toca Lucas hesitante olhou para o violão em seu colo ele toca sua mãe claro mas não sabia como transformar esse sentimento em som eu toco para minha mãe para ajudar ela disse Lucas sem muita convicção Raul Balançou a cabeça
quase como se tivesse esperado aquela resposta Isso é o que você acha que está fazendo Mas ainda não é o suficiente Raul encostou-se no banco cruzando os braços você está tocando porque precisa de dinheiro porque acha que as pessoas vão jogar moedas no seu copo e isso vai resolver todos os seus problemas mas não é assim que funciona Lucas franziu a testa sem entender aonde Raul queria chegar então o que eu devo fazer perguntou Lucas quase em um sussurro Raul sorriu de novo mas desta vez o sorriso Parecia um pouco mais sombrio toca o que
você sente pensa em tudo o que está te machucando agora a dor da sua mãe o medo de perdê-la coloca isso nas cordas faz a as pessoas sentirem o que você sente Lucas respirou fundo apertando o violão mais forte seus dedos correram pelas cordas produzindo uma melodia triste uma canção que ele nem sabia que conhecia as notas fluíram com uma leveza que ele nunca havia experimentado antes mas a cada acorde o peso no peito aumentava ele tocava não por obrigação mas porque precisava expressar o que não conseguia colocar em palavras Raul ficou em silêncio apenas
ouvindo conforme a música avançava algumas pessoas começaram a se aproximar elas paravam intrigadas algumas comovidas outras simplesmente curiosas uma jovem mãe que empurrava um carrinho de bebê parou e tirou algumas moedas do bolso colocando-as no copo com cuidado é disso que estou falando disse Raul com um sorriso satisfeito você fez ela sentir garoto Lucas parou de tocar o como se o esforço emocional tivesse drenado sua energia Ele olhou para Raul sem entender completamente o que acabara de acontecer mas sentindo que algo tinha mudado dentro de si eu não sei como fiz isso admitiu Lucas Isso
é o que chamam de tocar com o coração disse Raul levantando-se devagar agora que você sabe como a questão é continuar Não se preocupe com o dinheiro as pessoas vão dar mais quando perceberem o que você tem a oferecer elas só precisam acreditar em você Lucas olhou para o copo que agora tinha algumas moedas a mais do que o normal ele não estava perto de conseguir o que precisava mas algo em sua mente mudou pela primeira vez ele sentiu que talvez pudesse ter uma chance talvez pudesse realmente salvar sua mãe mas havia algo mais que
o incomodava uma dúvida que se instalava no fundo de sua mente Por que Raul estava ajudando antes que pudesse perguntar Raul já estava se afastando com um aceno despreocupado volto amanhã garoto vamos continuar de onde paramos Lucas assentiu ainda processando tudo olhou para o violão em suas mãos e depois para a praça ao seu redor ele ainda tinha muito a aprender mas estava disposto a continuar Lucas chegou à Praça no dia seguinte sentindo um misto de entusiasmo e apreensão o que Raul havia mostrado no dia anterior mexeu profundamente com ele mas havia algo no velho
que o deixava inquieto Quem era Raul de verdade e por que estava tão interessado em ajudá-lo Lucas se sentou no mesmo banco de sempre ajustou o violão no colo e aguardou a chegada do homem a praça estava mais movimentada que o normal pessoas passavam com pressa alguns paravam brevemente para olhar a estátua no centro mas ninguém prestava muita atenção no garoto com o violão Raul apareceu pontual como sempre mas algo parecia diferente nele naquela manhã o semblante fechado e a postura relaxada sugeriam que ele trazia algo pesado nos ombros Lucas sentio que talvez fosse o
momento de tentar entender mais sobre aquele homem que apesar de misterioso estava se tornando essencial para sua jornada pronto para mais um dia garoto disse Raul sentando-se ao lado de Lucas no banco sim mas posso te perguntar uma coisa disse Lucas hesitante Raul levantou uma sobrancelha claramente curioso pode o que você quer saber Lucas hesitou por um instante mexendo nervosamente nas cordas do violão antes de perguntar por que você está me ajudando o velho sorriu Mas desta vez havia Algo amargo naquele sorriso ele encostou-se no banco e olhou para o céu como se procurasse uma
resposta entre as nuvens sabe garoto Eu já estive no seu lugar antes Raul olhou para Lucas com seriedade tinha alguém que eu queria salvar mas não consegui agora vejo em você a chance de fazer diferente Talvez seja uma forma de me redimir não sei mas não se engane Lucas estou te ajudando porque acredito no que você pode fazer não porque espero algo em troca Lucas ficou em silêncio surpreso com a sinceridade de Raul nunca imaginou que o homem que parecia tão confiante e experiente carregava seu próprio fardo de arrependimentos quem você tentou salvar Lucas perguntou
sentindo que estava invadindo algo pessoal mas não conseguindo conter a curiosidade Raul suspirou como se estivesse decidindo se falaria mais ou não minha filha ela tinha uma doença que ninguém conseguia curar fiz o possível e o impossível mas no fim não deu certo eu tocava assim como você para arrecadar dinheiro mas ele parou o olhar distante como se revivesse aquele momento doloroso Nem sempre a vida é justa garoto e às vezes mesmo quando você dá tudo de si As coisas não acontecem como deveriam o peso daquelas palavras caiu sobre Lucas com uma força que ele
não esperava sentiu um aperto no peito ao pensar que talvez estivesse seguindo o mesmo caminho de Raul lutando Contra o Tempo contra as probabilidades sem garantias de sucesso Mas isso não significa que você deve desistir disse Raul voltando a encarar Lucas com uma firmeza que o garoto não tinha visto antes o que eu te disse antes continua valendo se você tocar com verdade as pessoas vão sentir elas vão te ajudar mas você precisa acreditar que Ainda há Tempo Lucas assentiu absorvendo cada palavra ele estava prestes a dizer algo quando foi interrompido por uma voz familiar
Ei garoto hoje vai tocar pra gente ou só vai bater papo disse um homem corpulento que se aproximava do banco acompanhado por uma mulher loira que segurava um café o homem se chamava Jorge um dos figurões que sempre passava pela praça em seu caminho para o trabalho ele já tinha jogado algumas moedas para Lucas em outras ocasiões mas sempre com um ar de superioridade Vou tocar sim senhor responde Lucas ajeitando o violão e se preparando para começar Jorge deu um riso abafado e olhou para a mulher ao seu lado como se aquilo fosse uma piada
privada ela deu de ombros tomando um gole de café e os dois continuaram observando de maneira indiferente Lucas Começou a tocar Mas desta vez o que saiu de suas mãos foi mais forte mais intenso as palavras de Raul ainda ecoavam em sua mente e ele colocou toda a sua emoção nas cordas do violão à medida que a música fluía mais pessoas paravam para ouvir o ar parecia pesado de sentimentos e até Jorge que geralmente não se impressionava com nada ficou quieto com os braços cruzados ouvindo com atenção a mulher loira que parecia distante no início
agora olhava fixamente para Lucas seus olhos azuis cintilando com algo que ele não conseguia decifrar quando terminou um silêncio estranho tomou conta da praça as pessoas que estavam ao redor pareciam processar o que tinham acabado de ouvir então lentamente aplausos começaram a surgir tímidos no começo mas ganhando força à medida que mais pessoas se juntavam você é realmente bom garoto disse Jorge jogando uma nota alta no copo de moedas continue assim Lucas sorriu timidamente sentindo um misto de a seu lado apenas acenou com a cabeça em aprovação está começando a entender o que te disse
não está disse Raul Lucas assentiu mas ainda havia algo que o incomodava Raul e se se eu não conseguir E se o tempo acabar antes que eu consiga arrecadar o suficiente Raul olhou para ele o olhar Sério Então você saber que fez tudo o que podia garoto e noo realmente importa Lucas engoliu em Seco não sabia se aquela resposta o confortava ou o deixava ainda mais ansioso tudo o que ele queria era salvar sua mãe e naquele momento a única coisa que podia fazer era continuar tocando na esperança de que cada nota o levasse um
pouco mais perto do que precisava ele voltou a tocar mas agora com um novo propósito e as pessoas ao redor começaram a se aglomerar novamente atraídas pela música e pela história que ainda não sabiam que estava sendo escrita na manhã seguinte o céu estava Cinzento prenunciando uma tempestade Lucas chegou à Praça como de costume mas dessa vez seu coração estava mais pesado as palavras de Raul ainda ecoavam em sua mente especialmente a dor em sua voz ao falar da filha era uma lembrança constante de que apesar de todo o esforço as coisas poderiam não terminar
bem Lucas montou o violão sobre o colo suas mãos os hesitantes Ele olhou ao redor vendo as mesmas pessoas apressadas de sempre o mesmo vai e vem ininterrupto mas havia algo diferente naquele dia um olhar uma mulher de aparência elegante de cabelo castanho preso em um coque perfeito estava encostada em uma árvore não muito distante observando Lucas era a mesma mulher que ele já havia notado várias vezes antes sempre de longe sempre em silêncio ela nunca jogava uma moeda nunca dizia uma palavra mas estava sempre lá Lucas nunca dera muita importância a ela mas agora
com a crescente ansiedade sobre o futuro de sua mãe e as palavras sombrias de Raul ainda frescas em sua mente a presença daquela mulher começou a incomodá-lo Ei garoto o que foi Tá com medo da chuva disse uma voz ríspida interrompendo seus pensamentos Lucas olhou para o lado e viu um um homem idoso com um boné desbotado e um casaco Grosso demais para a temperatura atual ele o conhecia de vista um dos moradores de rua que viviam pela praça o homem parou por um momento para olhar o céu nublado como se fizesse um comentário casual
mas o Tom desdenhoso não passou despercebido não só estava pensando respondeu Lucas voltando o olhar para o violão pensar não vai encher seu copo de moedas menino o homem antes de seguir seu caminho rindo de maneira Rude Lucas deu um meio sorriso mas as palavras o atingiram com mais força do que ele gostaria de admitir ele precisava de mais do que pensamento precisava de ação ajustou o violão e começou a tocar a música que saiu de suas mãos era mais melancólica do que nos dias anteriores havia um peso nas notas uma tristeza que parecia refletir
o céu escuro acima deles as pessoas que começaram a desacelerar a melodia capturando sua atenção de forma Sutil mas eficaz de canto de olho Lucas viu que a mulher de cabelo preso continuava lá imutável observando ela se movia de maneira discreta mas sempre mantendo uma distância segura havia algo em sua postura que o fazia sentir-se desconfortável como se ela soubesse mais do que aparentava Raul que sempre Chegava à Praça no meio da manhã apareceu pouco depois com seu habitual passo lento e olhar atento vejo que está se soltando mais garoto Gostei do Tom hoje bem
mais profundo disse Raul sentando-se ao lado de Lucas Eu só não sei se é o suficiente disse Lucas Sem Parar de tocar cada vez que toco parece que falta algo sinto que estou correndo contra o tempo Raul assentiu olhando para o céu que agora estava ainda mais carregado de nuvens escuras Essa é a sensação de quem tem muito a perder mas o que você está fazendo já é mais do que a maioria faz continue garoto cada nota que você toca aproxima você do que precisa Lucas olhou para Raul tentando encontrar algum conforto em suas palavras
mas foi então que ele percebeu a mulher de cabelos presos ainda estava lá observando agora ela estava um pouco mais perto quase perto demais para ser mera coincidência Raul Você já viu aquela mulher perguntou Lucas gesticulando com a cabeça na direção dela Raul seguiu o olhar de Lucas e fixou os olhos na mulher por alguns segundos ele ficou em silêncio o semblante se fechando em uma expressão que Lucas não reconhecia após um momento Raul Balançou a cabeça já ela está aqui alguns dias não crescente ela Seme fica me observando mas nunca diz nada você acha
que ela quer alguma coisa Raul suspirou desviando o olhar da mulher as pessoas observam por muitos motivos garoto talvez ela só esteja curiosa mas Fique atento nem todo mundo que se aproxima está aqui para ajudar as palavras de Raul pairaram no ar carregadas de uma gravidade que Lucas não conseguia ignorar ele tocando su estava inquieta Quem era aquela mulher o que ela queria E por que parecia tão interessada nele você quer que eu vá falar com ela perguntou Raul com uma voz séria quase paternal Lucas pensou por um momento mas acabou balançando a cabeça não
ainda não talvez seja só coisa da minha cabeça ele tentou parecer mais confiante do que realmente estava Raul assentiu mas seus olhos ainda seguiam a mulher agora um pouco mais distante mas sempre presente como uma sombra quando a chuva Começou a cair fina e suave no início Lucas guardou o violão ele e Raul se levantaram prontos para se abrigar mas Antes de irem Lucas deu uma última olhada para onde a mulher estava ela ainda estava lá imóvel observando e então pela primeira vez ela acenou para ele um gesto simples mas carregado de algo que Lucas
não conseguia definir a chuva que começara suave agora caía em rajadas grossas forçando todos a correrem em busca de abrigo Lucas e Raul se apressaram abrigando-se sob a Marquise de uma loja fechada as gotas de água escorrendo pelo rosto de Lucas misturando-se ao suor de seu esforço o violão estava seguro protegido pela capa mas sua mente estava longe de estar tranquila o olhar silencioso daquela mulher continuava a perturbá-lo agora ainda mais após o aceno algo naquele gesto parecia dizer que ela o conhecia que havia uma intenção por trás de sua presença mas Lucas não conseguia
entender Qual era Raul por outro lado parecia inquieto de uma forma que Lucas nunca tinha visto antes ele normalmente tão calmo e seguro de si agora mantinha os olhos fixos na direção de onde haviam vindo como se Esperasse algo acontecer você acha que ela vai voltar amanhã pergun Lucas enxugando a testa com a manga da camisa Raul demorou um momento para responder os olhos ainda atentos ao movimento da rua não sei garoto mas algo naquela mulher não me cheira bem cuidado com quem você deixa se aproximar disse Raul com uma voz mais séria do que
o habitual Lucas engoliu em seco mas assentiu ele sabia que Raul estava certo mas havia algo mais que ele não queria admitir uma parte de si queria saber mais sobre aquela mulher por ela estava ali todos os dias o que ela sabia sobre ele e mais importante como aquilo poderia estar relacionado à sua mãe no dia seguinte a chuva tinha parado mas o céu continuava nublado como se a tempestade estivesse esperando para retornar a qualquer momento Lucas chegou à praça mais cedo que o habitual Ainda sentindo o peso da última conversa com Raul quando ele
começou a tocar Algo diferente aconteceu as notas que saíam do violão pareciam mais pesadas mais carregadas de emoção do que nunca Lucas fechou os olhos enquanto tocava tentando Focar apenas na Melodia mas sua mente estava longe entrelaçada com a figura enigmática daquela mulher as pessoas começaram a parar como sempre jogando algumas moedas no copo à sua frente um grupo de adolescentes passou rindo e conversando mas um deles parou por um momento e olhou para Lucas com uma expressão séria antes de seguir o caminho um casal de idosos parou um pouco mais à frente observando com
olhares atentos ele tem talento não acha disse o senhor jogando uma moeda de R 5 no copo sim tem algo diferente nele respondeu a mulher observando o garoto com curiosidade Lucas mal notou os comentários ao redor ele estava imerso demais na música na confusão de seus próprios sentimentos quando finalmente abriu os olhos quase deixou o violão cair de seu colo a mulher de cabelo preso estava lá novamente desta vez mais perto quase na frente dele ela o observava sem dizer uma palavra mas agora havia algo mais seus olhos frios e penetrantes não carregavam mais apenas
curiosidade havia uma intensidade neles que Lucas não conseguia decifrar como se ela estivesse esperando que ele fizesse algo como se a cada nota que ele tocava estivesse medindo suas habilidades Oi posso te ajudar perguntou Lucas hesitante a mulher não respondeu de imediato ela apenas o observou por mais um momento antes de falar a voz baixa e quase calma demais você toca muito bem garoto quase me lembra alguém que conheci há muito tempo Lucas franziu o senho Confuso com o comentário quem a mulher sorriu de leve um sorriso que não chegava aos olhos alguém que já
não está mais aqui Lucas sentiu um arrepio subir pela espinha ele não sabia se era o tom de voz dela ou o estranho significado por trás daquelas palavras mas algo parecia errado Ele olhou ao redor procurando Raul mas o velho não estava em lugar nenhum o que você quer perguntou Lucas tentando parecer mais confiante do que realmente estava a mulher deu um passo à frente o olhar fixo no dele quero ver a até onde você consegue ir com essa música Lucas quero ver se você é capaz de salvar quem você ama ela inclinou a cabeça
levemente como se estivesse avaliando cada uma de suas reações Mas saiba de uma coisa nem sempre a música é suficiente o coração de Lucas disparou ela sabia sobre sua mãe mas como ele nunca havia falado sobre isso com ninguém além de Raul como você Como sabe disso Lucas tentou manter a calma mas sua voz tremeu um pouco a mulher deu de ombros sem responder diretamente ela apenas olhou para ele por mais alguns segundos antes de virar-se e desaparecer na multidão como se nunca tivesse estado ali Lucas ficou sentado por um momento o violão esquecido no
colo sua mente estava girando com perguntas Quem era aquela mulher o que ela sabia sobre sua mãe e o que ela quis dizer com Nem sempre a música é Raul apareceu pouco tempo depois ofegante e com um semblante preocupado ela estava aqui de novo não estava perguntou Raul Sem Rodeios Lucas assentiu Ainda tentando processar tudo o que havia acontecido ela disse algumas coisas estranhas confessou Lucas Raul olhou para ele com uma intensidade que Lucas não tinha visto antes garoto fique longe dela eu não sei o que ela quer mas não gosto disso tem algo errado
aqui e você precisa se concentrar no que importa sua música sua mãe Esqueça essa mulher Lucas queria esquecer mas agora que ela havia falado com ele parecia impossível algo nela o puxava como se houvesse mais por trás daquela presença silenciosa do que ele era capaz de entender naquele momento Ele olhou para Raul incerto mas o velho homem apenas assentiu com firmeza como se não houvesse espaço para mais dúvidas na manhã seguinte o céu estava Limpo mas a mente de Lucas permanecia sombria ele caminhava em direção à praça com passos pesados sentindo que de alguma forma
estava mais próximo do que nunca de descobrir algo importante mas ao mesmo tempo com medo do que poderia vir a seguir as palavras da mulher ainda ecoavam em sua mente nem sempre a música é suficiente o que isso significava ela sabia sobre sua mãe mas como e por que parecia tão interessada nele quando chegou ao banco Raul já estava lá como sempre O homem parecia mais tenso do que o habitual seu olhar preocupado fixo no garoto assim que ele se aproximou você está pronto para continuar garoto perguntou Raul a voz mais grave que o normal
sim disse Lucas hesitante mas eu não consigo parar de pensar naquela mulher ela sabe sobre minha mãe como ela sabe Raul ficou em silêncio por um momento os olhos sombrios encarando Lucas era como se o velho estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras antes de falar algumas pessoas sabem mais do que deveriam Lucas e nem sempre saber muito é uma coisa boa eu já te disse fique longe dela concentre-se na música e no que você pode controlar o resto o resto não importa Lucas queria acreditar nisso mas algo o incomodava profundamente ele não podia simplesmente ignorar a
presença daquela mulher ela sabia algo e ele precisava entender o que era mas antes que pudesse argumentar com Raul um som de passos rápidos chamou sua atenção a mulher estava de volta ela caminhava diretamente para eles sem a menor hesitação como se aquele encontro já estivesse marcado desde o início Raul se levantou imediatamente posicionando-se de forma protetora ao lado de Lucas a havia uma tensão visível em seus ombros como se ele estivesse pronto para afastar aquela mulher à força Se necessário o que você quer disse Raul a voz carregada de desconfiança a mulher parou a
alguns metros deles o rosto calmo e impassível ela ignorou Raul completamente seus olhos fixos em Lucas não vim aqui para causar problemas disse ela com um tom frio e controlado vim para conversar com o garoto ele merece saber a verdade Lucas sentiu o sangue gelar nas veias a verdade ele trocou um olhar rápido com Raul que parecia ainda mais tenso agora que verdade Lucas perguntou a voz saindo mais alta do que pretendia a mulher suspirou como se estivesse prestes a dizer algo que vinha guardando há muito tempo sua mãe Marina ela não é exatamente quem
você pensa que é as palavras dela caíram como uma bomba no peito de Lucas ele sentiu a garganta secar e por um momento não conseguiu falar Raul deu um passo à frente sua expressão endurecida Não faça isso mulher ele é só um garoto ele tem o direito de saber retrucou ela o olhar ainda cravado em Lucas você pode ter conseguido escondê-lo por um tempo mas a verdade sempre aparece Raul Lucas olhou para Raul confuso e incrédulo ele não entendia o que estava cendo mas sentia que algo estava prestes a explodir o que ela está falando
Raul perguntou Lucas a voz tremendo Raul abaixou a cabeça suspirando profundamente como se estivesse carregando um peso imenso eu tentei proteger você garoto disse Raul finalmente mas parece que ela decidiu que é hora de você saber a mulher deu um passo à frente aproximando-se de Lucas Marina ela não é sua mãe biológica ela foi uma amiga minha eu a pedi para cuidar de você o olhar da mulher suavizou por um momento eu sou sua mãe Lucas as palavras atingiram Lucas como um soco ele deu um passo para trás o coração disparando no peito o quê
sussurrou Lucas sua mente se recusando a acreditar no que acabara de ouvir Raul olhou para o garoto a dor estampada em seu rosto é verdade Lucas sua mãe biológica Verônica Raul fez uma pausa olhando para a mulher com desdém ela te deixou aos cuidados de Marina quando você ainda era um bebê ela achava que não podia cuidar de você mas eu sempre soube que esse dia chegaria o dia em que ela viria atrás de você Lucas sentiu as pernas fraquejarem tudo o que ele sabia tudo o que ele acreditava ser verdade sobre sua vida parecia
desmoronar Em um instante Por que você nunca me contou perguntou Lucas a voz trêmula encarando Raul Raul desviou o olhar incapaz de encarar o garoto por muito tempo porque eu não queria que você sofresse Marina te amava como se fosse o próprio fil ela foi a mãe que você precisava eu não queria que essa Muler bagasse sua vida verica a mulher que agora alegava ser sua mãe observava tudo com uma expressão impassível eu não vim aqui para causar dor Lucas eu vim para te dar a escolha que nunca te dei antes ela deu um passo
à frente mais perto de Lucas você pode continuar sua vida como está ou você pode me conhecer de verdade você pode saber porque eu te deixei e por eu estou aqui agora Lucas não sabia o que pensar Ele olhou para Verônica para Raul para o violão em suas mãos sua mente estava em caos tudo o que ele queria era sua mãe mas agora nem sabia mais quem sua mãe realmente era a tempestade que se formava dentro dele parecia muito maior do que qualquer nuvem cinzenta no céu Lucas ficou parado o olhar perdido entre Verônica e
Raul o silêncio ao redor deles parecia ensurdecedor o vento frio da manhã fazia as folhas secas dançarem ao redor da praça mas ele mal notava tudo o que sabia toda a sua vida havia sido virada de cabeça para baixo as palavras de Verônica ainda ecoavam em sua mente Você pode me conhecer de verdade mas o que isso significava ele sempre achou que sua mãe era Marina a mulher que o criou que estava agora lutando pela vida em um quarto de hospital como ela podia não ser sua mãe Raul permaneceu imóvel ao lado de Lucas sua
expressão fechada ele sabia que não havia mais como evitar o confronto pronto com a verdade aquela verdade que ele havia tentado esconder do garoto por tanto tempo mas agora não havia mais como voltar atrás Verônica por outro lado parecia calma quase Serena ela deu um passo à frente mantendo o olhar fixo em Lucas eu sei que é muita coisa para processar Lucas e sei que você tem muitas perguntas a voz dela era suave quase Maternal Mas eu só vim aqui para te dar a chance de entender tudo a chance de me conhecer e de saber
a verdade sobre o que aconteceu Lucas olhou para Raul buscando algum tipo de resposta mas o velho músico parecia abatido como se estivesse carregando um peso ainda maior do que o de Lucas ele sabia que não poderia depender de Raul para essa decisão era algo que só ele poderia fazer por que você me deixou a pergunta de Lucas saiu quase como um sussurro mas a dor em sua voz era palpável Verônica suspirou olhando para o chão por um momento antes de responder eu era muito jovem quando você nasceu Lucas Jovem Demais para entender o que
significava ser mãe seu pai ele não estava pronto para ser pai também ela olhou nos olhos de Lucas o semblante sério então quando você nasceu eu te deixei aos cuidados de Marina minha melhor amiga sabia que ela te daria o que eu não podia dar na época estabilidade segurança amor e por que agora por que você está aparecendo agora quando minha mãe está doente Lucas perguntou sua voz ganhando força à medida que a Raiva crescia dentro dele Verônica mordeu o Lábio lutando para manter a compostura porque eu me arrependi Lucas todos esses anos eu me
arrependi mas eu sabia que Marina estava te dando tudo o que eu não poderia dar e agora eu só quero uma chance de corrigir que fiz Raul finalmente quebrou o silêncio a voz rouca ela te abandonou garoto não esqueça disso não deixe que ela bagunce sua cabeça agora Marina foi sua mãe desde o primeiro dia ela te criou ela te amou ele se virou para Verônica o olhar frio e você simplesmente decidiu que agora de repente é a hora de reaparecer Verônica Manteve a calma embora seu olhar tenha se endurecido levemente Eu não espero que
você entenda Raul e não espero que Lucas me aceite de imediato ela olhou para o garoto com uma expressão que misturava arrependimento e esperança eu só estou aqui porque achei que ele merecia saber a verdade e agora Lucas A escolha é sua Lucas sentiu o chão desmoronar sob seus pés como ele poderia fazer uma escolha dessas como ele poderia decidir entre a mulher que o criou e a mulher que lhe deu a vida Ele olhou para o violão em suas mãos como se de repente ele fosse a única coisa estável em sua vida tudo o
que ele queria era salvar Marina sua mãe a mulher que o amou incondicionalmente mas agora havia outra realidade diante dele outra mãe que ele mal conhecia eu não sei o que fazer confessou Lucas a voz embargada tudo o que eu queria era salvar minha mãe e agora você me diz que minha vida inteira foi uma mentira Verônica deu um passo à frente mas Raul colocou a mão no ombro de Lucas como se quisesse protegê-lo daquela dor nada foi uma mentira garoto disse Raul a voz firme Marina te amou mais do que qualquer coisa no mundo
e isso ninguém pode tirar de você ela é sua mãe quer essa mulher aqui goste ou não Verônica respirou fundo controlando a raiva que estava começando a borbulhar so sua fachada Calma eu não estou aqui para tirar o lugar de Marina só quero estar presente quero que você saiba quem eu sou ela estendeu a mão um gesto de conciliação mas Lucas hesitou Ele olhou para aquela mão estendida sentindo o peso de tudo o que aquilo representava era uma nova vida que ele nunca pediu uma verdade que ele nunca quis ele sabia que qualquer decisão que
tomasse mudaria tudo e no fundo ele ainda era só um garoto que queria salvar sua mãe Raul se afastou um pouco dando espaço para Lucas pensar mas mantendo-se próximo o suficiente para que o garoto soubesse que não estava sozinho o silêncio entre eles ficou pesado quase sufocante finalmente Lucas tomou uma decisão eu preciso de tempo disse ele a voz fraca mas decidida não posso lidar com isso agora eu só quero salvar Marina ela é minha mãe e agora mais do que nunca ela precisa de mim verica como se já Esperasse aquela resposta eu entendo não
vou forçar nada estarei por perto caso decida me procurar ela deu um último olhar para Lucas o olhar carregado de emoções que ela não expressou em palavras e se afastou sumindo na multidão da praça Lucas respirou fundo sentindo o alívio e o peso daquela decisão o envolvendo ao mesmo tempo Ele olhou para Raul esperando algum tipo de reação mas o velho apen assentiu como se estivesse dizendo que Lucas tinha feito a escolha certa pelo menos por enquanto agora garoto disse Raul com Um meio sorriso cansado vamos voltar à música os dias seguintes passaram como um
borrão para Lucas a revelação de Verônica ainda o assombrava Mas ele tentou seguir o conselho de Raul focar na música e em salvar Marina ele chegou à Praça todos os dias tocando com mais emoção do que nunca como se cada nota fosse uma maneira de extravazar a confusão e a dor que o consumiam as pessoas paravam mais do que antes jogavam mais dinheiro no copo mas nada disso parecia suficiente para preencher o vazio que havia se instalado dentro dele Raul continuava ao seu lado sempre presente mas mais silencioso do que o habitual parecia que desde
o encontro com Verônica o velho músico também carregava um peso maior suas palavras de incentivo eram mais Breves como se ele estivesse deixando que Lucas encontrasse suas próprias respostas sem interferir demais você está tocando como nunca garoto disse Raul em uma tarde nublada observando Lucas enquanto ele terminava uma canção melancólica que atraía a atenção de uma pequena multidão mas ainda vejo que algo te incomoda Lucas guardou o violão os ombros tensos ele sabia que Raul tinha razão não não importava o quanto tentasse se concentrar na música o olhar de Verônica ainda o assombrava a verdade
que ela havia revelado pesava em cada acorde que ele tocava eu não consigo parar de pensar nela Raul confessou Lucas à voz baixa quase como se estivesse admitindo uma fraqueza como ela pôde me deixar e agora voltar esperando que eu simplesmente aceite Raul suspirou ajeitando a Bengala com a qual sempre andava e olhou para a Praça movimentada onde as pessoas passavam sem prestar atenção neles Às vezes as pessoas fazem coisas que nem elas conseguem explicar Lucas não estou dizendo que o que ela fez foi certo mas ela está aqui agora só você pode decidir o
que fazer com isso Lucas Balançou a cabeça frustrado mas eu já tomei minha decisão eu disse que não queria saber minha prioridade é Marina e ela está ficando pior eu só quero salvá-la assentiu mas havia algo em seu olhar que Lucas não conseguia decifrar como se o velho soubesse mais do que estava dizendo Então continue tocando continue lutando mas lembre-se garoto Às vezes as coisas não saem como planejamos por mais que a gente tente antes que Lucas pudesse responder ele notou uma presença familiar se aproximando Verônica estava de volta mas dessa vez ela não parecia
ter a intenção de confrontá-lo seu olhar era calmo resign como se já soubesse o que estava prestes a acontecer eu vim dizer adeus Lucas disse Verônica a voz Suave eu sei que isso foi um choque para você e eu não quero forçar nada só queria que você soubesse a verdade agora Cabe a você decidir o que fazer com ela Lucas olhou para ela confuso e aliviado ao mesmo tempo você vai embora verica assentiu vou por perto caso você queira saber mais não vou desaparecer de novo ela se virou para partir mas antes que desse mais
do que alguns passos Lucas sentiu algo dentro dele se agitar uma dúvida que o incomodava desde o momento em que ela revelou a verdade Verônica chamou Lucas e ela parou olhando para trás Por que agora por que você apareceu justamente agora quando minha mãe está doente Verônica ficou em silêncio por um momento os olhos vagando entre Lucas e Raul como se pesasse suas palavras com cuidado porque eu sabia que você precisaria de ajuda disse ela por fim eu não podia mais ficar à margem vendo você lutar sozinho eu te deixei uma vez mas não vou
te deixar de novo mesmo que você não queira me aceitar como sua mãe Lucas sentiu uma onda de Emoções conflitantes o invadir parte de si queria gritar queria que ela sumisse de sua vida e o deixasse focar no que importava mas outra parte uma parte menor mas presente começava a se perguntar se não deveria conhecê-la afinal ela era sua mãe biológica e por mais que tentasse ignorar isso tinha um peso Raul observava tudo de longe em silêncio mas Lucas sentia que o velho homem estava pronto para interferir caso a situação fugisse do controle Verônica deu
um último olhar a Lucas um olhar que parecia carregar anos de arrependimento e esperança e então partiu sumindo na multidão da praça Lucas se sentou no banco o violão ainda em suas mãos mas ele não tinha mais vontade de tocar seu coração estava pesado demais Ele olhou para Raul esperando que o velho dissesse algo que trouxesse algum alívio mas Raul apenas suspirou apoiando-se na bengala às vezes garoto o silêncio é a melhor resposta que podemos dar Raul olhou para o horizonte o semblante pensativo agora você tem que decidir o que quer fazer com isso tudo
Lucas assentiu ainda processando as palavras Ele olhou para o violão em suas mãos e pela primeira vez sentiu que a música que sempre fora sua salvação não seria suficiente para responder às perguntas que o atormentavam Lucas mal conseguiu dormir naquela noite as palavras de vernica se repe em sua cabeça e por mais que tentasse ignorá-las elas não desapareciam ele olhava para o teto do quarto ouvindo o barulho distante do tráfego da cidade mas sua mente estava longe a verdade que Verônica havia revelado parecia uma ferida aberta e quanto mais ele tentava pensar em Marina mais
sentia o peso da dúvida na manhã seguinte Lucas pegou seu violão Mas desta vez ele não foi diretamente para a praça em vez disso foi ao Hospital onde Marina estava internada o cheiro estéril e o barulho das máquinas o fizeram sentir um nó no estômago mas ele precisava vê-la precisava estar ao lado de sua mãe sua verdadeira mãe como ele sempre acreditou quando entrou no quarto Marina estava deitada pálida mas sorriu ao vê-lo ela sempre tentava sorrir mesmo nos dias mais difíceis o coração de Lucas apertou ao pensar que ela estava lutando por ele por
eles mas não sabia da Tempestade que estava dentro dele como está meu garoto Marina perguntou com uma voz Suave mas cansada Lucas se sentou ao lado dela segurando sua mão ele tentou esconder o tumulto de emoções que o assombrava mas era difícil tá estou bem ele mentiu forçando um sorriso só vim te ver antes de ir tocar na Praça Marina assentiu os olhos ainda brilhando com o amor incondicional que sempre demonstrou mas Lucas sabia que ela podia sentir algo diferente em seu comportamento as Mães sempre sabem Lucas O que aconteceu perguntou ela apertando levemente sua
mão ele hesitou não queria preocupá-la mas também não podia mentir para ela não depois de tudo mãe Verônica apareceu ela me contou a verdade as palavras saíram com dificuldade como se estivessem presas em sua garganta Marina ficou em silêncio os olhos piscando lentamente absorvendo o que ele acabara de dizer ela respirou fundo antes de falar sua voz mais frágil do que de costume eu sabia que esse dia chegaria eu tentei te proteger Lucas eu tentei te amar o máximo que pude para que você nunca sentisse falta dela Lucas sentiu as lágrimas ameaçarem escorrer mas ele
ass segurou você me deu tudo mãe ele segurou a mão dela com mais força a voz tremendo Você é a única mãe que eu preciso eu só eu só não sei o que fazer agora ela quer que eu a conheça Mas eu não quero te magoar Marina sorriu de leve embora seus olhos estivessem cheios de tristeza Lucas meu amor você tem o direito de conhecê-la ela é sua mãe biológica e eu sempre soube que um dia você teria que lidar com isso ela fez uma pausa o cansaço Evidente em seu rosto Mas saiba de uma
coisa isso não muda nada entre nós eu sempre vou ser sua mãe não importa o que aconteça as palavras de Marina trouxeram algum alívio a Lucas mas a dor ainda estava lá latente misturada com a culpa ele se sentia dividido entre dois mundos sem saber para onde ir eu só quero te salvar disse Lucas com a voz embargada tudo o que eu fao é por você Marina tocou o rosto dele com carinho os dedos fracos mas cheios de amor eu sei meu filho mas não carregue o peso do mundo sozinho Faça o que for certo
para você se conhecer Verônica é algo que você precisa faça isso mas faça sem culpa eu sempre vou estar com você Lucas assentiu embora a decisão ainda pesasse em seu coração ele se inclinou e beijou a testa de Marina sentindo o calor suave de sua pele antes de se levantar para sair quando chegou à Praça O sol estava alto no céu mas Lucas não sentia o mesmo calor de antes ele encontrou Raul já sentado no banco observando o movimento da cidade com seu olhar Sábio e cansado ao ver Lucas se aproximando Raul levantou uma sobrancelha
percebendo imediatamente que algo havia mudado foi ver Marina não foi perguntou Raul Sem Rodeios Lucas a sentando-se ao lado do velho músico ele colocou o violão no colo mas não o tocou apenas Ficou ali em silêncio tentando organizar os pensamentos ela disse que entende se eu quiser conhecer Verônica as palavras saíram lentamente como se Lucas estivesse falando mais para si mesmo do que para Raul Raul suspirou ajustando a posição na bengala e o que você quer fazer perguntou Raul a voz baixa sem forçar uma resposta Lucas Balançou a cabeça os olhos fixos nas cordas do
violão eu não sei eu amo Marina ela é minha mãe não importa o que a Biologia diga mas parte de mim quer saber quem é Verônica Por que ela me deixou o que ela pensa de mim Raul ficou em silêncio por um momento antes de dar um leve sorriso triste garoto não há respostas fáceis nessa vida o que importa é o que está aqui disse Raul apontando para o peito de Lucas se você sente que precisa conhecera faça isso mas faça com o coração aberto não carregue essa culpa nas costas Lucas respirou fundo sentindo a
tão diminuir levemente com as palavras de Raul acho que vou falar com ela disse Lucas finalmente preciso de respostas Raul assentiu sem julgamento Então faça isso e quando voltar essa música com você porque no final das contas a música é o que vai te manter inteiro Lucas olhou para o velho com um sentimento de gratidão sabendo que apesar de toda a confusão ele não estava sozinho e com aquela decisão tomada Lucas sabia que o próximo passo seria crucial Lucas acordou com uma sensação estranha no estômago o peso da decisão que havia tomado na noite anterior
ainda pairava sobre ele mas havia também um estranho alívio ele sabia que por mais dolorosa que fosse precisava encarar a verdade precisava conhecer Verônica não para abandoná-la não para rejeitá-la mas para entender com essa certeza Lucas pegou o violão e foi para a praça quando chegou Raul já estava lá como sempre o velho levantou os olhos captando imediatamente a mudança no semblante de Lucas então hoje é o dia perguntou Raul sua voz baixa e Lucas assentiu sentando-se no banco ao lado de Raul ele não precisou dizer mais nada pois Raul já sabia o que estava
acontecendo ambos ficaram em silêncio o som distante do tráfego da cidade misturando-se com os ecos das conversas das pessoas ao redor Depois de alguns minutos Lucas respirou fundo e se levantou eu vou agora preciso acabar com isso de uma vez disse ele ajeitando o violão nas costas Raul assentiu sua expressão carregada de apoio mas também de cautela boa sorte garoto e lembre-se você está fazendo isso por você não por ninguém mais Lucas sorriu de leve apreciando as palavras de Raul ele se despediu com um aceno e se afastou sentindo o coração acelerar com cada passo
ele sabia onde encontrar Verônica ela havia deixado um número de telefone e o endereço de onde estava hosped Lucas tinha tudo anotado e agora não havia mais volta quando chegou ao local um pequeno café na esquina de uma rua movimentada viu Verônica sentada sozinha em uma mesa perto da janela ela parecia mais vulnerável do que antes os olhos fixos em um ponto distante como se estivesse perdida em seus próprios pensamentos Lucas sentiu um nó no estômago mas entrou no café e se aproximou da mesa disse Lucas hesitante ela levantou os olhos imediatamente e um sorriso
suave e triste apareceu em seu rosto Lucas eu estava esperando que você viesse a voz dela era calma mas cheia de expectativa Lucas sentou-se sem saber por onde começar as mãos estavam inquietas em seu colo e ele tentava manter a calma eu vim porque preciso de respostas não consigo seguir em frente sem entender por de tudo isso disse ele tentando controlar a mistura de raiva e confusão que o acompanhava desde o início Verônica assentiu compreendendo perfeitamente O que ele queria dizer eu entendo e você merece essas respostas Lucas eu nunca quis te magoar nunca quis
te abandonar mas naquela época eu não tinha condições de cuidar de você era uma escolha que me assombra até hoje mas eu sabia que Marina seria capaz de te dar o que eu não não podia Lucas olhou para ela sentindo as emoções se acumularem mas você me deixou eu cresci acreditando que minha mãe era Marina e agora você aparece esperando que eu entenda tudo isso a voz dele tremia o peso da frustração finalmente vindo à tona Verônica abaixou os olhos lutando para manter a compostura Eu não espero que você me perdoe Lucas não agora talvez
nem nunca mas eu queria te dar a chance de saber quem eu sou de te contar a minha parte da história eu te amei desde o momento em que você nasceu mas eu não era capaz de ser a mãe que você precisava foi por isso que confiei em Marina ela foi tudo o que eu não consegui ser houve um silêncio pesado entre eles e Lucas lutava para processar tudo o que estava ouvindo parte dele queria entender mas outra parte estava magoada demais para aceitar de imediato Marina é minha mãe disse Lucas firme como se estivesse
reafirmando algo que não queria perder Verônica sorriu levemente assentindo Sim ela é e sempre será Eu sei disso Verônica olhou para ele com um misto de Orgulho e tristeza eu não estou aqui para tirar o lugar dela só quero estar presente Se você permitir Lucas não sabia como responder ele ainda estava Processando o fato de que aquela mulher à sua frente era sua mãe biológica a mesma pessoa que o havia deixado nas mãos de outra mulher para ser criado mas ao mesmo tempo ele sabia que a raiva não o levaria a lugar nenhum ele precisava
seguir em frente eu não sei se estou pronto para isso confessou Lucas com a voz fraca não sei se consigo simplesmente te aceitar Verônica assentiu a expressão compreensiva eu sei e não vou te forçar você precisa de tempo e eu vou dar esse tempo ela respirou fundo Como se quisesse aliviar o peso da conversa mas Lucas Saiba que estou aqui sempre estarei o silêncio entre eles foi quebrado pelo som do café se enchendo de pessoas mas para Lucas parecia que o mundo estava longe Ele olhou para Verônica para a mulher que de certa forma o
trouxe ao mundo e percebeu que embora ainda houvesse muita dor havia também uma possibilidade de cura talvez um dia eu possa te conhecer melhor disse Lucas finalmente deixando a porta entreaberta sem se comprometer totalmente Verônica sorriu dessa vez com mais sinceridade eu ficaria feliz com isso Lucas quando você estiver pronto eles trocaram um olhar de entendimento e Lucas soube que aquele era o fim de uma parte de sua vida mas também o começo de outra ao sair do café ele sentiu o sol aquecer seu rosto como se estivesse acordando de um longo inverno ele sabia
que ainda tinha muito para resolver dentro de si mas agora com Verônica e Marina Ele começava a perceber que talvez houvesse mais espaço em seu coração do que ele imaginava ele pegou o violão e voltou para a praça onde Raul já o esperava Quando Raul o viu deu um meio sorriso como se soubesse que Lucas havia dado um passo importante e então garoto como foi perguntou Raul sem tirar os olhos da praça Lucas sorriu de volta sentando-se ao lado dele e tirando o violão da capa foi difícil mas necessário eu acho que agora posso continuar
Raul a sentiu satisfeito bom então toque garoto toque como você nunca tocou antes Lucas sorriu sentindo que pela primeira vez em muito tempo estava em paz ele começou a tocar as notas indo de maneira natural como se a música fosse a resposta para todas as suas perguntas a praça se encheu de som e pela primeira vez Lucas sentiu que estava no controle de sua vida pronto para enfrentar o que viesse a seguir a música que saía das mãos de Lucas era diferente de tudo o que ele já havia tocado não era apenas uma melodia triste
nem uma canção de desespero era uma mistura de todas as emoções que ele havia acumulado durante aqueles dias em intensos o amor por Marina a confusão sobre Verônica o medo de perder a necessidade de perdoar e acima de tudo o desejo de seguir em frente as notas fluíam como se tivessem vida própria envolvendo a praça e fazendo com que cada pessoa que passasse ali parasse para ouvir Raul sentado ao lado observava em silêncio o rosto marcado pela vida dura e pelas escolhas que fizera ele sabia que Lucas havia finalmente encontrado a sua própria voz o
velho músico havia visto muitos jovens passarem por situações difíceis mas havia algo em Lucas algo especial que o fez acreditar que o garoto poderia superar tudo agora vendo o garoto tocar com uma alma tão cheia de dor e esperança Raul sabia que havia cumprido seu papel à medida que a música de Lucas enchia a praça Verônica apareceu caminhando lentamente até parar ao longe observando o filho ela não disse nada não tentou se aproximar apenas ouviu as notas que Lucas tocava contavam uma história a história de um garoto que lutou para salvar a mãe que enfrentou
verdades difíceis mas que no fim descobriu que a vida assim como a música é cheia de camadas Verônica Sabia que não havia espaço imediato para ela no coração de Lucas mas só de vê-lo tocar sentia que havia uma esperança de que que com o tempo ele pudesse aceitá-la Marina ainda no hospital também sentia a música de Lucas embora fisicamente distante ela sabia que o filho estava encontrando o caminho que tanto procurava ela havia lutado toda a vida para garantir que Lucas tivesse amor e agora mesmo enfraquecida pela doença sentia que esse amor estava florescendo de
maneiras que ela jamais imaginou a cada acorde que Lucas tocava ele deixava para trás parte do peso que carregava ele percebeu que sua jornada não era apenas sobre salvar Marina mas sobre se salvar também a música O conectava a tudo o que ele mais amava e de certa forma permitia que ele curasse as feridas abertas nos últimos dias quando terminou de tocar a praça estava em silêncio o pequeno grupo de pessoas que se reuniu para ouvi-lo aplaudiu algumas com lágrimas nos olhos toc pela emoção crua que ele transmitia através da música Raul deu um tapinha
no ombro de Lucas um gesto que dizia mais do que qualquer palavra poderia você conseguiu garoto disse Raul com um sorriso satisfeito essa foi sua melhor performance Lucas sorriu mas não era um sorriso de Triunfo e sim de paz pela primeira vez ele sentiu que estava em sintonia com o que realmente importava ele havia aceitado a verdade sobre sua vida mas também soube que o amor que Marina lhe deu sempre seria seu alicerce Verônica poderia ser parte de sua história mas nunca tomaria o lugar de Marina enquanto guardava o violão na capa viu Verônica à
distância e ela acenou para ele um aceno discreto quase imperceptível ele retribuiu o gesto e naquele simples movimento ambos souberam que havia espaço para o perdão mesmo que levasse tempo Raul se levantou apoiando-se na bengala e olhou para Lucas com um brilho orgulhoso nos olhos e agora o que você vai fazer garoto Lucas respirou fundo sentindo o sol aquecer seu rosto e a brisa suave passar pela praça Ele olhou para o violão e depois para o horizonte vou continuar tocando para mim para minha mãe e para quem quiser ouvir Raul assentiu satisfeito com a resposta
Lucas estava pronto para o que viesse a seguir com o coração mais leve e a música como sua companheira inseparável enquanto o som dos aplausos se dissipava Lucas caminhou para longe da praça com a certeza de que não importa o que o futuro trouxesse ele enfrentaria tudo de cabeça erguida a música Afinal sempre estaria lá para guiá-lo e em algum lugar tanto Marina quanto Verônica sabiam que Lucas havia encontrado sua verdadeira força