Olá, meus queridos irmãos, minhas queridas irmãs. É uma grande alegria estarmos juntos mais uma vez no nosso programa "Testemunho de Fé". Aqui é o Padre Paulo Ricardo e quero acolher você para juntos refletirmos a respeito da palavra de Deus que a Igreja nos propõe neste domingo.
Nós estamos no sexto domingo do tempo comum, neste ano em que lemos o Evangelho de São Lucas, e o Evangelho é belíssimo. É o Evangelho que nos fala das bem-aventuranças. Vejam, para meditarmos sobre esse Evangelho, nós temos que realmente entrar dentro daquilo que São Lucas, no seu Evangelho, está narrando.
Nós estamos acostumados a ouvir o Evangelho das bem-aventuranças no Sermão da Montanha, lá em São Mateus. Portanto, não é o Evangelho desse domingo. Lá em São Mateus, Jesus sobe a uma montanha, por isso é chamado "Evangelho da Montanha".
Ele, então, fala aos seus discípulos no Sermão da Montanha, que são os capítulos 5, 6 e 7. São Mateus é dirigido aos discípulos, portanto, para pessoas que já têm fé. Por isso, Jesus olha para eles e diz: "Vocês são o sal da terra.
Vocês são a luz do mundo. " São cristãos. Isso era lá naquela ocasião.
São Lucas está narrando outra coisa. São Lucas está contando pra gente uma outra ocasião, um outro ensinamento de Jesus com um público diferente. É importante a gente enxergar isso porque, senão, a gente não vai saber ler o Evangelho desse domingo.
Olha o versículo inicial do Evangelho: ele diz assim: "Naquele tempo, Jesus desceu da montanha com os discípulos. " Portanto, nós não estamos falando aqui do Sermão da Montanha, onde Jesus subiu à montanha e disse: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino do céu. " Não!
Aqui é outra ocasião, é outro negócio, é outra situação. Jesus desceu da montanha com os discípulos e o Evangelho nos diz que lá embaixo, num lugar plano, portanto numa planície, tinha muitos discípulos, mas tinha também uma grande multidão. Olha só: uma grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia estava lá.
E Jesus levantou os olhos para os discípulos e disse. Veja, o público é diferente. Jesus aqui está falando sim para os seus discípulos, mas está falando também para uma multidão.
Portanto, aqui Jesus, como grande pedagogo, está falando para pessoas que ainda não têm fé o suficiente, que ainda não são discípulos seus. E Jesus ali está jogando uma isca, como grande pescador de homens que ele é. Jesus está tentando trazer essa grande multidão para a verdadeira fé.
Portanto, Jesus viu essa grande multidão de toda a Judeia, Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia e dirige a elas umas palavras. E é por isso, vejam só, que as bem-aventuranças em São Lucas dão uma impressão de menor profundidade. É sempre a palavra de Deus, a palavra de Deus sempre profunda.
Claro, lá em São Mateus são oito bem-aventuranças e Jesus está ensinando aos discípulos. São Lucas não, são só quatro bem-aventuranças seguidas de quatro, deixem-me usar essa palavra, malaventuranças, ou seja, de quatro ais. Jesus diz: "Bem-aventurados vós, os pobres.
" Aí depois ele diz: "Ai de vós, ricos! " Então, existe ali um público misturado: tem uns que são pobres e uns que são ricos. Os pobres são os discípulos que já têm fé; os ricos são aqueles curiosos que estão lá na multidão.
Então, Jesus está aqui tentando mostrar o quê? Tentando mostrar que as pessoas mundanas têm uma vida muito triste e muito infeliz e que os seus discípulos, aqueles que abraçaram a fé, têm a verdadeira felicidade. Se a gente não enxergar isso, se a gente não enxergar essa situação diferente, nós não vamos entender o que Jesus está dizendo.
Está lá em São Mateus. Jesus está falando com discípulos e fala de forma sublime para esses discípulos: oito bem-aventuranças. Aqui não!
Aqui Jesus tem uma pretensão menor porque ele sabe que o público ao qual ele está se dirigindo tem gente com fé e tem gente que não tem fé. E Jesus, então, usa aquilo que são as duas formas mais comuns que Deus usa para converter uma pessoa. Como é que Deus faz para converter uma pessoa?
Ele faz duas coisas: ele usa a palavra e ele usa a desgraça. É interessante a gente notar isso: as duas coisas que o Espírito Santo, que Deus, mais usa na nossa vida para nos converter são essas duas realidades: a pregação da palavra, a pregação positiva, que é o fato de que Deus chama a atenção para a felicidade que está nele. A gente enxerga a verdade de Deus e vai.
É algo positivo, é a graça que toca o nosso coração. Mas o problema é o seguinte: Deus está querendo falar para nós o tempo todo; ele está querendo falar a sua palavra, mas a humanidade boba não ouve. A humanidade não está ouvindo.
Então, o que é que Deus faz? Deus então faz com que a humanidade boba caia em si na desgraça. É como o filho pródigo: o filho pródigo caiu na desgraça.
Ele foi lá, procurou ser feliz no mundo e, de repente, viu que a vida dele estava perdida e caiu em si. Então, o que é que Jesus está ensinando nesse Evangelho? Vamos lá, onde é que o mundo procura a felicidade?
Primeira coisa, bem atual isso aqui: no dinheiro. O mundo procura a felicidade no dinheiro. Jesus diz: "Ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação.
" E diz: "Bem-aventurados vós, pobres, porque vosso é o reino de Deus. " Veja as duas coisas: Jesus está tentando abrir os olhos dos ricos para que eles enxerguem a sua miséria e a sua desgraça. E aí depois ele prega a palavra positivamente para que as pessoas enxerguem onde está a felicidade, que é no reino dos céus.
É a palavra e a. . .
Desgraça! A desgraça é a palavra. Por que é que a felicidade não pode estar no dinheiro?
Vamos parar para refletir nisso. Jesus está chamando a atenção: a felicidade não pode estar no dinheiro, gente, porque o dinheiro não pode ser a finalidade. O dinheiro, por definição, é meio.
Ninguém quer dinheiro por si mesmo; a gente quer sempre dinheiro para alguma coisa. Ninguém é aquela pessoa que senta em cima de uma pilha de ouro e fica ali chocando o ouro como um Tio Patinhas, né? Não é isso.
Todo mundo quer dinheiro para alguma coisa. Você quer dinheiro porque o dinheiro compra prazer; você quer dinheiro porque o dinheiro compra fama; você quer dinheiro porque o dinheiro te dá segurança para alguma coisa que você quer. Mas o dinheiro não pode ser a finalidade da sua vida.
Ele é sempre um meio. Portanto, não está aí a felicidade: no dinheiro não; pode ter outra coisa, mas no dinheiro não. Então, essa é a primeira coisa que Jesus ensina: você não vive para o dinheiro.
Não é aí que está a felicidade! Ai de vós, coitados, vocês miseráveis, vocês que vivem atrás do dinheiro! Segundo ponto: "Ah, mas o dinheiro, padre!
Com dinheiro eu compro muita coisa gostosa". O dinheiro dá prazer. O prazer físico: dinheiro compra comida, dinheiro compra bebida, dinheiro compra droga, dinheiro compra cama confortável, ar condicionado.
. . Prazeres físicos, ok?
Mas Jesus diz: a felicidade não está aí. Ele diz: "Ai de vós que agora tendes fartura, porque passareis fome". Jesus está chamando a atenção que "bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis saciados".
Jesus está mostrando que essa coisa de fome aqui é para resumir tudo aquilo que são os prazeres físicos e carnais que nós temos; ali não está a felicidade da sua vida. E por que não está a felicidade da sua vida? Porque, gente, a característica básica daquilo que faz o homem verdadeiramente feliz é o seguinte: você pode desfrutar sem limite daquilo que realmente faz você feliz.
E os prazeres físicos e carnais você não pode desfrutar de forma ilimitada. Esse negócio tem limite! Comer tem limite.
Se você quiser desfrutar da comida sem limite, chega uma hora em que aquilo prejudica sua saúde; só gera tristeza, tédio, náusea. Sexo sem limite também causa tristeza. Ninguém é capaz de desfrutar sexo sem limite, ninguém é capaz de desfrutar droga sem limite.
Mas nós somos capazes de aspirar ao amor sem limite, à verdade sem limite, porque somos chamados a conhecer a verdade que é Deus e amá-lo sem limite no céu. Portanto, Jesus diz: "Vós que agora tendes fome, vocês que não ficam procurando a felicidade nos prazeres carnais, vós sereis saciados". Saciados como?
Com a felicidade do céu! Ali estão as coisas sem limite, os verdadeiros bens. Os verdadeiros bens podem ser fruídos, gozados, utilizados sem limites.
Essa coisa de prazer carnal, o mundo vive para um prazer carnal. Você vê claramente que aquilo lá é coisa que, para um animal, pode até estar bem, mas animal não tem alma, e portanto, o animal não quer uma felicidade sem limites. O ser humano quer.
O bem que o coração humano quer é algo que não tem limite. E é por isso que as pessoas morrem de overdose: porque elas querem a felicidade sem limite. É por isso que as pessoas fazem sexo até se matar: porque elas querem uma felicidade sem limites.
Nenhum animal faz isso, mas nós, seres humanos, fazemos. Então, sinal de que nós somos diferentes dos animais. É sinal de que a nossa felicidade não está lá.
E Jesus diz: "Ai de vós, coitados, vocês que estão procurando a felicidade aí no prazer carnal. Não está aí! " Vejam como Jesus está falando ao mesmo tempo para os seus discípulos, que já enxergaram que a felicidade está no céu, e ao mesmo tempo falando para uma multidão que ainda não enxergou isso.
"Ai de vós, pobrezinhos, vocês miseráveis! Vocês não estão vendo que estão caindo na desgraça? Vocês não estão vendo que estão no caminho da maldição?
" Pois bem, então a finalidade da vida humana não é o dinheiro. Primeira bem-aventurança: a finalidade da vida humana não é prazer carnal. Mas a finalidade da vida humana também não é o bem-estar afetivo somente, as consolações afetivas.
Jesus diz: "Ai de vós que agora rides, porque tereis luto e lágrimas". Jesus diz: "Bem-aventurados vós que agora chorais, porque havereis de rir". Então, muitas pessoas vivem com uma carência afetiva, procurando ser felizes em alguma coisa que vá completá-las.
Essas pessoas até se acham um pouco mais virtuosas, porque, claro, você vê: quem acha que a finalidade da sua vida é dinheiro, o metal frio, é fácil você chamar aquela pessoa de ganancioso, de avarento, de perdulário, de materialista. Uma pessoa que procura felicidade nos prazeres carnais é fácil você dizer para aquela pessoa: "Ah, você é um devasso, um depravado, um promíscuo, um glutão, um beberrão, um prostituto". Mas a pessoa que quer alguém que complemente a sua carência afetiva, as pessoas acham isso muito justo: "Ah, eu quero me casar porque eu quero uma pessoa que me complete".
Aí, depois que eu caso e vejo que a pessoa não me completa, eu jogo as minhas esperanças nos meus filhos, porque quem sabe os meus filhos vão me completar afetivamente. Aí, os filhos não completam afetivamente; você começa a procurar onde é que está o defeito. "Ah, eu acho que casei com a pessoa errada.
" Não, gente, nada disso! Você não vai ser completado afetivamente neste mundo, porque não está aí a finalidade da sua vida. A sua esposa, o seu esposo, é um companheiro, uma companheira, para vocês irem juntos, caminharem juntos para a felicidade do céu.
E é lá que nós iremos rir. Aqui, nós passamos no vale. De lágrimas e vamos chorando, como diz o salmista.
Uns vão chorando e semeando, outros vêm sorrindo e colhendo. O tempo de sorrir e de colher é um céu. Pois bem, vá junto com a sua esposa, com seu esposo, com seus filhos, nesse Vale de lágrimas.
É claro que não tem somente lágrimas; nesse mundo, tem também alegrias. Mas o que acontece é o seguinte: as alegrias deste mundo são passageiras, elas são efêmeras. Não sei se vocês já ouviram, e essa é uma espécie de ditado, né?
Eu ouvia da minha avó. A minha avó, quando via que a gente estava lá brincando, dando gargalhadas, né? Eu e minhas irmãs, divertindo e rindo, rindo de uma piada, rindo bastante, ela dizia: "Ih, vocês vão passar uma raiva hoje, hein!
Seja quando você ri de manhã, ri demais à tarde, você tá com raiva, você tá mal-humorado. " Por quê? A sabedoria popular é para dizer que as consolações afetivas deste mundo são muito efêmeras, elas evaporam.
Então, não pode estar aí a felicidade. Jesus está nos apontando para o céu, e é lá que está a felicidade. E finalmente, Jesus diz que a felicidade não está na vanglória, no aplauso popular, no ser aprovado pelas pessoas, no agradar os seres humanos.
Ele diz: "Ai de vós quando todos vos elogiam! " Era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas. Ao contrário, Jesus chega e diz assim: "Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem, amaldiçoarem o vosso nome por causa do Filho do Homem.
Alegrai-vos nesse dia e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu, porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. " Jesus está dizendo aqui, gente: vamos agradar a Deus! Não quero agradar aos homens, porque essa é a realidade.
Não é que nós temos que estar felizes por sofrer; não é isso. Existe uma felicidade em nós no meio do sofrimento, sofrermos por aquilo que verdadeiramente vale a pena ser amado. E o que vale a pena ser amado é Deus.
Os santos nos atestam, nos falam, né? Os bem-aventurados são os santos. Os santos nos mostram a felicidade que tem em você ficar preocupado em agradar os homens e querer agradar a Deus, coração de Deus e amá-lo, amá-lo sem medida.
Que tolice é nós querermos agradar os seres humanos! Essa não pode ser a felicidade do ser humano; essa não pode ser a finalidade de nossa vida. Veja então que Jesus, no evangelho deste domingo, através de São Lucas, aponta para a verdadeira finalidade de nossa vida que está no céu.
E, me permitam o trocadilho bobo, mas Jesus desaponta; ou seja, Jesus diz que não é nos bens deste mundo, nos bens temporais, nos bens dos prazeres. Então, quais são os quatro bens falsos, finalidades falsas da vida humana que Jesus desmascara? Você não nasceu para dinheiro, você não nasceu para prazeres, você não nasceu para consolações afetivas terrenas, você não nasceu para a vanglória.
E aqui a gente vê aquelas doenças espirituais básicas, das quais a gente tem que se curar logo desde o início da nossa conversão. Não procure a felicidade onde ela não se encontra. Essa é a realidade; ou seja, Jesus está advertindo, está dizendo: "Gente, por este caminho vocês vão se dar mal.
" Então, isso se encontra também de forma maravilhosa nas outras leituras. A segunda leitura, de São Paulo aos Coríntios, diz isso: "Se é para esta vida que nós pusemos a nossa esperança em Cristo. .
. " Ou seja, adaptando ao evangelho, se a gente procura Jesus porque Jesus vai nos dar dinheiro, porque Jesus vai nos dar prazer, vai nos dar consolação afetiva ou vai nos dar fama e vanglória neste mundo, São Paulo diz: "Nós somos de todos os homens os mais dignos de compaixão. Você não é para esta vida, pusemos nossa esperança em Cristo.
" E a primeira leitura do profeta Jeremias ecoa o famoso Salmo primeiro, que inclusive é o Salmo responsorial: "Maldito homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto seu coração se afasta do Senhor. " Ou seja, que maldição, que infelicidade, que desgraça é você ficar na carne! E "Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor; ele é como a árvore plantada junto às águas.
" Então, vamos florescer! Vamos seguir o caminho dos bem-aventurados, dos santos. Eles são felizes!
Eles são felizes! Se a sua vida é uma vida que está atribulada, uma vida que está sofrida, onde tudo que você procurou como felicidade terminou decepcionando você, olhe para o alto! Olhe para os santos!
Eles são felizes! No céu, existe uma felicidade imensa esperando por nós! Bem-aventurados, bem-aventurados!
É isso que nós somos chamados a ser. Deus abençoe você, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.