INTRODUÇÃO AO ECLESIÁSTICO – Homilia – II Feira – VII TC (2025)

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Padre José Eduardo
Video Transcript:
Queridos irmãos e irmãs, hoje nós iniciamos a leitura do livro do Eclesiástico. É um livro muito profundo do Velho Testamento, tem como título em latim "Eclesiástico" pelo fato de que ele era muito lido nos primeiros séculos na Igreja e, em hebraico, "Sabedoria de Jesus". [Música] Bac, ou seja, este Senhor chamado Jesus, ou Josué, como quisermos, era filho de um rabino chamado Benac, e por isso esse título do livro muitas vezes aparece em algumas Bíblias com o nome de "Sirácida", justamente porque é o filho de Bem de ou o filho de Sirak, Yosua.
Esse livro é um dos últimos escritos do Velho Testamento, cronologicamente, e ele foi escrito num período que nós chamamos de período helenista, ou seja, depois que Alexandre Magno conquistou o império e subjugou regiões, inclusive a Terra Santa. A cultura judaica estava em perigo; os próprios judeus queriam imitar os costumes dos povos pagãos, conforme lemos no início dos dois livros de Macabeus. Então, alguns sábios em Israel, para dissuadir o povo de copiar a sabedoria pagã, começaram a explicar a profundidade da sabedoria contida na Sagrada Escritura, e o livro do Eclesiástico é um desses livros que cumpre essa função.
Então, ele começa com um grande elogio à sabedoria, depois ele mostra a sabedoria de Deus nas obras da criação; daí também extrai alguns preceitos morais, ou seja, princípios de sabedoria prática para reger a nossa conduta, e o livro termina com o elogio dos grandes heróis, dos grandes sábios da história de Israel. Na liturgia nós lemos apenas alguns trechos; nós leremos esta semana e até metade da semana que vem, porque aí já começa o tempo da Quaresma. O livro começa com um prólogo; esse prólogo não é lido na liturgia porque não é considerado divinamente inspirado.
É o prólogo escrito pelo neto do autor do livro, e ele diz: "Muitas importantes lições nos foram transmitidas pela Lei, pelos Profetas e pelos outros escritos que o seguiram. É graças a eles que se deve louvar Israel por sua instrução e sabedoria. Mas não basta que somente aqueles que os leem se tornem instruídos; os que se dedicam à sabedoria devem também ser úteis, tanto pela palavra como por escrito, para os estrangeiros.
Eis porque meu avô Jesus, depois de entregar-se com afinco à leitura da Lei, dos Profetas e dos outros livros de nossos pais, e tendo-se feito bastante versado neles, quis também escrever alguma coisa do que se refere à instrução e à sabedoria. E isto para que, tendo-se instruído nestas coisas, os que desejam aprender sintam-se cada vez mais atraídos e se confirmem na vida segundo a Lei. Por isso, vos exorto a que procureis fazer sua leitura com benevolência e atenção, mostrando também indulgência se, apesar do nosso esforço na interpretação, tivermos falhado em algumas palavras, pois já não têm a mesma força os vocábulos hebraicos quando vertidos para outra língua.
E não é só neste escrito; a própria Lei e os Profetas, e o conteúdo dos outros livros, apresentam não pequena diferença quando lidos no original. Foi no ano 38 do rei Ptolemeu Verges que eu, tendo chegado ao Egito e ali permanecendo bastante tempo, encontrei um exemplar valioso de instrução não desprezível. Por isso, achei bom e necessário, também da minha parte, empregar algum esforço e dedicação para traduzir este livro.
Muitas vigílias e conhecimento empreguei nesse espaço de tempo até poder terminar e publicar o volume, oferecendo-o também àqueles que, em terra estranha, desejam instruir-se e adequar os seus costumes, vivendo segundo a lei. Um belo prólogo esse do livro do Eclesiástico. O autor diz que escreveu no Egito; o livro realmente foi traduzido para o grego em Alexandria, traduzido pelo neto do autor, Jesus, ben-Sirac.
Ora, o livro começa com um grande elogio da sabedoria. Ele diz: "Toda a sabedoria vem do Senhor Deus e com Ele esteve sempre, existindo antes do mundo. " Isso é algo realmente grandioso, pois quando nós olhamos para o universo e percebemos que o universo é cheio de proporções, é cheio de harmonia, portanto, o universo tem, por assim dizer, uma razão até matemática por trás dele.
Razão tão perfeita que os químicos e os físicos se espantam ao ver a sua perfeição. Tudo isso nos faz entender que essas fórmulas matemáticas existiram antes que o mundo fosse formado, pois elas já eram válidas antes mesmo que o mundo fosse criado. A nossa inteligência foi capaz de decifrá-las em parte, mas elas existiram sempre e desde todo sempre, e são válidas para sempre, de tal modo que o ajuste fino que existe no universo para que haja vida neste planeta é algo tão [Aplausos] especial que nós não poderemos simplesmente dizer que isso surgiu do acaso.
Uma visão inteligente do universo nos fará compreender que tal ajuste fino só pode ser obra de um artífice, de alguém que o concebeu, de alguém cuja sabedoria tem prioridade e não apenas isso, eternidade, sobre a criação. Quem pode contar a areia do mar, as gotas da chuva, os dias do tempo? Até hoje são mistérios insondáveis.
Quem pode medir a altura do céu, a extensão da terra e a profundidade do abismo? Apesar de termos tantos instrumentos, existem partes do mundo ainda inexploradas: o profundo dos oceanos, o fundo de tantas cavernas e cordilheiras montanhosas. Quem investigou a sabedoria divina que precede todas as coisas?
Antes de todas as coisas foi criada a sabedoria. A inteligência prudente existe desde a eternidade; ou seja, em Deus, a sabedoria é o primeiro princípio originado dele, é a primeira processão, é Deus mesmo se enxergando e formando um conceito eterno de si. Fonte da sabedoria é a palavra de Deus nas alturas, e o acesso a ela são os mandamentos eternos.
Ou seja, a sabedoria não é fruto da arrogância do intelecto humano; ao contrário, a sabedoria só pode ser acessada quando, na humildade, o homem percebe que a sua inteligência é alimentada desde uma fonte que o transcende infinitamente. Existem dois. .
. Modos de lidar com a sabedoria e com a inteligência: um é o que a filosofia moderna escolheu para si, que é o de limitar-se àquilo que os olhos veem, as mãos tocam e que o raciocínio humano pode elaborar a partir dos sentidos, ignorando todo o resto e até tendo pelo resto ódio. A alternativa é sermos conscientes de que tudo nos excede, de que tantas coisas nos superam e nos transcendem.
Ao invés de nos encerrarmos numa concepção fechada, devemos abrir a nossa alma para aquilo que nos ultrapassa, para percebermos que a nossa inteligência é uma luz interior, mas é uma luz iluminada desde uma fonte muito mais profunda: a da sabedoria e suas sutilezas. Quem as conheceu, ou seja, o Eclesiástico, explica que a sabedoria precisa ser revelada; ela é um dom. Exatamente porque o nosso intelecto se move dentro de um intelecto muito maior, ele diz, e a ciência da sabedoria a quem foi revelada e manifestada, quem compreendeu sua grande experiência.
Vejam, o homem sábio olha para o universo e descobre toda a sabedoria que está impregnada na sua constituição e se deixa ensinar por ela. Ele não é um interventor soberbo que chega simplesmente impondo a sua vontade, mas é um observador contemplativo que se deixa invadir e possuir pela realidade, uma realidade que encontra a sua última justificativa em um Deus inteligente. O que fica a quem disso nos confina numa visão sem sentido do universo e da existência.
E é por isso que ele conclui no texto que lemos hoje: só um é o Altíssimo, criador potente, Rei poderoso, e a quem muito se deve temer, assentado em seu trono e dominando tudo. Deus é quem a criou; a sabedoria, com seu santo espírito, ele a viu, a enumerou e mediu. Ele derramou sobre todas as suas obras e sobre cada ser humano, segundo a sua bondade.
Ele a concede àqueles que o amam. O temor do Senhor é glória e honra, alegria e coroa de exultação. O temor, a reverência do Senhor alegra o coração, dá contentamento, gozo, vida longa.
Para quem teme o Senhor, tudo acabará bem e será abençoado no dia de sua morte. O amor de Deus é sabedoria digna de honra; aqueles a quem se manifesta Deus a distribuirá para que o vejam e proclamem suas grandes obras. Benac está aqui nos exortando, portanto, a que nos coloquemos diante do Senhor com toda reverência, com toda a humildade, entendendo que, se Deus derramou a sua sabedoria no universo inteiro e os nossos olhos podem vê-lo, por que ele a negaria a nós?
Se ele, antes de todo o tempo, gerou a sabedoria e, com a sua sabedoria, ornou todas as suas obras, as encheu de ordem, proporção, harmonia e beleza. Por que ele a negaria àqueles que lhe respeitam, que inclinam o seu coração e que querem ser instruídos por ele, que querem tornar-se dóceis à sua lei? É essa sabedoria divina que depois se encarna para nos salvar, a quem nós devemos buscar com todo o nosso coração.
É muito interessante que, hoje em dia, se fala bastante da consagração a Maria Santíssima pelo método de São Luís Maria Grignion de Montfort. Fala-se bastante do tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, mas as pessoas esquecem que a consagração a Nossa Senhora começa com essa expressão tão maravilhosa de São Luís Maria: "Ó sabedoria eterna encarnada". Ele escreveu, de fato, um outro opúsculo chamado "O Amor da Sabedoria Eterna".
A finalidade da consagração à Santíssima Virgem é nos levar a um mergulho na sabedoria de Deus, para que nós possamos nos encher completamente dela e abrir a nossa alma, para que, na oração, possamos ser elevados à contemplação das alturas celestiais. Peçamos, portanto, ao Senhor que ele derrame sobre nós a sua sabedoria, que nós possamos desfrutar, saborear, experimentar a doçura do Senhor, a riqueza do Senhor, a soberania, a grandeza em todas as suas obras. Ver o Senhor como que refletido.
E deste modo, nada tirará do nosso coração a alegria de nos depararmos com Deus através da sua sabedoria espalhada em todas as suas obras.
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